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ALFABETIZAÇÃO X LETRAMENTO: UMA FALHA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM?   
Marta Toschi Oliveira*  
RESUMO: Esse trabalho se propõe a discutir os conflitos existentes no processo educacional na área de alfabetização do ensino fundamental. Para isso, promove uma reflexão sobre como são vistos o letramento e a alfabetização pelos educadores no contexto educacional.   
RESUMEM: Este trabajo vá proponer el debate de conflictos que hayan en el sistema educativo em la área de alfabetización del curso de educación primaria obligatoria. Por lo tanto promueve uma reflexión de la manera como es mirada la enseñanza de las palabras y la alfabetización por los maestros en el contexto de educación.   
PALAVRAS-CHAVE: Educação – Alfabetização – Educadores   
PALAVRAS-MAYORES: Educación – Alfabetización - Maestros   
INTRODUÇÃO 
Este trabalho de pesquisa tem como objetivo distinguir alfabetização de letramento, conceitos geralmente confundidos pelos professores alfabetizadores. 
A missão de alfabetizar letrando exige um trabalho árduo por parte dos professores e de toda a equipe escolar. Assim, verificarei como se dá o processo ensino-aprendizagem nas escolas estaduais e municipais. 
Embora nossos alunos leiam razoavelmente bem, percebe-se que sentem dificuldades para interpretar textos diversos. Isso me preocupa, uma vez que o índice de analfabetismo é considerado baixo no Brasil. 
1- LETRAMENTO 
Esse termo, considerado polissêmico (Kleiman,1995), tem feito com que educadores saiam em busca de significados, pois, para muitos deles, até bem pouco tempo era totalmente desconhecido. Esse termo gera polêmica entre o educador que pretende expandir seus conhecimentos e o educador passivo, ou seja, aquele que não está comprometido com a educação. Quando falo em educação, é no sentido amplo, é no sentido de querer alterar de alguma forma o aprendizado irreal para o aprendizado significativo. 
Segundo Kleiman (1995), a metáfora do analfabetismo como elemento cerceador da liberdade e sobrevivência é comum nas campanhas públicas ou privadas em prol da alfabetização universal. 
São perceptíveis as falhas existentes no processo educacional e essas falhas necessitam ser reparadas, e para isso, é preciso ousar, é preciso construir e procurar caminhos que, amenizem a distância entre o real e o ideal. 
É necessário um trabalho árduo da parte dos professores e de toda a equipe escolar, para que haja compreensão da prática da leitura e escrita, dentro e fora da sala de aula. Assim pode-se perceber que no contexto textual e num mundo em transformação, de uma cultura produzida pelas novas tecnologias, é de fundamental importância que educadores alterem suas metodologias em sala de aula. 
Não há dúvida sobre a importância da oralidade e do letramento no cotidiano das pessoas, porém, antes de identificar a importância do letramento e oralidade é mais relevante esclarecer a natureza das práticas sociais que envolvem o uso da língua (escrita e falada) de modo geral. 
Street (1995) apud Marcuschi (2003, p. 19), afirma que o letramento não é o equivalente à aquisição da escrita. Existem “letramento sociais” que surgem e se desenvolvem à margem da escola não precisando por isso serem depreciados. 
Paralelamente à oralidade, os contextos sociais básicos em que a escrita está inserida na vida das pessoas são, entre outros: o trabalho, a escola, o dia-a-dia, a família, a vida burocrática, a atividade intelectual, que possuem objetivos diferenciados. 
Há uma distinção nítida entre a apropriação da escrita e leitura (alfabetização) e os usos/papéis da escrita e leitura (letramento) mas até hoje sabe-se pouco sobre letramento. 
É possível fazermos indagações a respeito dos tipos de leituras e escritas feitas em casa, porém é impossível aferir com exatidão como esse exercício doméstico interage nos diversos tipos de atividades comunicativas. 
As perplexidades nesse campo são imensas, pois todo conjunto de práticas, seja em contextos formais e ou informais, contribuem para o processo de aprendizagem. 
A alfabetização tem alguns aspectos contraditórios, ora úteis ora preocupantes aos governantes, que controlam e supervisionam o estudo de tal forma que detêm o poder para que tenham seus próprios objetivos realizados. 
O letramento envolve as mais diversas práticas da escrita, nas mais variadas formas, na sociedade. 
Assim, letrado é o indivíduo que participa de forma significativa de eventos de letramento e não apenas aquele que faz uso formal da escrita. 
A sociedade brasileira é heterogênea em relação ao letramento, uma vez que não existe “sociedade letrada” e sim, “grupos de letrados”. 
A língua falada é muito mais analisada do que a língua escrita, porém, as observações são feitas geralmente segundo a ótica da última, no entanto desconhecemos as características de ambas, evidenciando que o que conhecemos são as características de um sistema normativo da língua. 
A escrita, por sua vez, não serve como fator de identidade individual ou grupal, não esquematiza o ser nem o identifica individualmente numa feitura de texto jornalístico; uma vez que, se compararmos textos sobre o mesmo tema redigidos por diversos autores, teremos opiniões unificadas, porém escritas diversificadas. 
2- FORMAÇÃO DO LEITOR: IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO DO PROFESSOR 
Reclama-se que os alunos não se interessam por ler (não têm o hábito de leitura) ou só lêem quando são obrigados e pressionados pelo professor e que não entendem os textos, pois apresentam dificuldades de compreensão e interpretação dos textos, o que os prejudica em matérias como: história, geografia, ciências, etc; já que são baseadas em textos didáticos. 
Os pais dizem que em casa os filhos não lêem e passam o tempo em frente à TV, internet e vídeo-game. Além disso, dizem que não sabem como fazer para que os filhos se interessem pela leitura, mas como saber se, na escola, que era para se estimular a leitura, já que é nela que se forma o cidadão crítico e ativo, os professores não sabem como fazê-lo? 
Para se formar um leitor, temos que distinguir entre formação e leitura, formar e ler; pensar e refletir sobre o que se leu e se modificar, absorver o que será útil e necessário para o seu crescimento, e não apenas passar para o outro o que acaba de ler sem qualquer reflexão ou questionamento. 
O texto possibilita o diálogo do autor (expressa sua idéia no texto) com o leitor (que lê, questiona-se sobre o que leu e tira suas conclusões). 
Assim, as diferenças entre fala e escrita podem ser vistas e analisadas na perspectiva do uso e não do sistema e o ser humano é capaz de enriquecer o processo da escrita num processo interativo e construtivo, que sabemos, traz a marca da oralidade. 
Um sujeito pode ser alfabetizado sem ser letrado, uma vez que os textos aplicados em sala de aula não lhe dão condições para resolver questões que o mundo lhe propõe. 
Um sujeito pode ser letrado sem ter sido alfabetizado, e esta, é uma situação encontrada no comportamento de não-escolarizados que desenvolveram formas variadas de leitura transformando seu dia-a-dia num cenário informativo. 
É letrada a pessoa que consegue tanto ler quanto escrever com compreensão uma frase simples e curta sobre sua vida cotidiana. É iletrada a pessoa que não consegue ler nem escrever com compreensão uma frase simples e curta sobre sua vida cotidiana. (UNESCO apud SOARES, 2001, p. 71). 
O educador do novo milênio precisa criar um ambiente escolar de letramento, trazendo para a escola variados portadores de textos, ou seja, revistas, rótulos, embalagens, documentos, cédulas, talões de cheque, notas fiscais, passagens de transportes, entre outros. 
A leitura diária de variados textos sejam eles de informação ou de humor, tem por finalidade contribuir com o nível de letramento. 
Quando nós, professores, favorecemos discussões e debates sobre textos lidos em classe, não nos limitando às tradicionais perguntas didáticas, obtemos resultados surpreendentes. Embora o debate seja uma atividade essencialmente argumentativa, comexigências cognitivas de raciocínio, isso permite que quanto mais cedo isso for trabalhado mais cedo se dará o nível de letramento; pois quando dominamos o assunto, então a escrita se dará com mais facilidade. 
O processo de alfabetização continua sendo um desafio na área da educação, porém, ela é fundamental e necessária para construir cidadãos ativos na sociedade, e esse aprendizado deve ocorrer na escola de forma planejada e sistematizada.
Sabe-se que a escola dá continuidade ao processo de alfabetização da criança que já vem sendo alfabetizada em casa. Esses processos devem ser vistos pelo professor que deverá trabalhar com esses conhecimentos trazidos pelo aluno, utilizando textos voltados para a formação de cidadão crítico, que posteriormente venha a exercer a cidadania. 
Hoje, visa-se à formação de leitores e produtores de textos, nas mais diversas situações de interação social. O desafio é alfabetizar letrando, lembrando que é possível que haja um indivíduo alfabetizado e mal letrado, pois esses caminham juntos. 
O objetivo é que o aluno decifre o código, domine a escrita e a leitura e aplique-as na sua vida social. 
A aprendizagem depende das diversas áreas do conhecimento, e hoje ela não é mais um processo vertical (professor sabe, aluno não) e sim um processo horizontal (sujeito aluno; objeto de conhecimento (no caso a escrita); intermediado pelo principal (mas não único): o professor). 
Se antigamente se via a alfabetização como produto (sintético e analítico), hoje se vê como um processo de formação de cidadãos críticos e ativos. Por isso não se restringe apenas aos professores; antes, estende-se a todos que estão à volta do aluno que lhe auxiliam em sua formação. 
Antigamente, a escola só tinha que se preocupar com bons professores para alfabetizar de primeira a sétima séries, já que eles só tinham que ensinar as crianças a decodificar os códigos oral e escrito. 
Hoje com as propostas do (MEC – PCN –1997) temos que formar bons leitores e produtores de textos, sujeitos hábeis nos diferentes usos lingüísticos, oral e todas as formas de textos. 
Por isso, é tarefa de toda a equipe escolar, (especialmente dos professores da língua portuguesa), pois isso depende de formas efetivas de organização e funcionamento do corpo docente da instituição. 
Para tanto é necessário que a escola desenvolva um projeto de alfabetização (ensino da língua portuguesa) que se estenda por dois aspectos: 
a- é necessário que os professores de língua portuguesa planejem e desenvolvam seus trabalhos a partir de diretrizes teóricas, pedagógicas, pois sem isso dificilmente serão formados bons leitores e produtores de textos; cada professor elaborará seu trabalho específico da primeira até a última série com textos como partida e chegada, além de que assumir as atividades epilinguísticas (reflexões sobre a língua). 
b- criar condições para o funcionamento e realização desse processo na instituição, para os professores trabalharem continuamente esse sistema de ação-reflexão, fornecer alternativas para tais práticas. 
Essa interação dos docentes não ocorrerá, no entanto, ao acaso; é necessário que a coordenação pedagógica da escola (diretor ou coordenador – pedagógico) atue efetivamente nesse campo, e que crie esse vínculo com o corpo docente, e particularmente com os ligados à língua portuguesa. Só assim poderemos criar cidadãos conscientes e ativos na sociedade por meio do processo de alfabetização escolar (porém não é suficiente somente isso). 
O letramento tem níveis altos e baixos, dependendo do grau de escolarização e da prática de ler e escrever e decodificar códigos no seu cotidiano. 
É na escola que se aprende de forma sistematizada o uso da escrita e leitura, mas é em casa que a criança começa a desenvolver o letramento; na escola isso é aprimorado e ampliado. Para se tornar letrado não basta apenas o convívio com a escrita no meio familiar; é preciso que a escola contextualize a escrita a partir do cotidiano da criança. 
Apesar de a diferença sócio-econômica-culturais influenciarem e diferenciarem letramento, cabe aos pais, ouvir e orientar as crianças; e à escola, de construir a escrita no aluno, na estrutura e o funcionamento da língua materna. 
Para alfabetizar letrando o professor deve usar o cotidiano da criança, coisas do seu meio, para ela se familiarizar e entender a importância do letramento. Para que esse aprendizado fique fácil para ela, o professor deve propor atividades que envolvam leitura e escrita em suas práticas do dia-a-dia como uma ida a um supermercado, ou à elaboração de uma lista de compras. 
Alfabetizar, antigamente, consistia apenas em o professor transmitir conhecimento. O aluno era formado num nível individual, desvinculado de seus usos sociais; hoje, alfabetizar é, além de conduzir o aluno a reter conhecimentos, proporcionar condições para que ele os use cotidianamente em suas atividades. 
Nesse processo, o professor tem que dar base e estrutura para a criança passar da consciência ingênua para a crítica e que se sinta capaz de transformar o meio em que vive. 
Nem a escrita e nem a imprensa podem fazer nada sozinhos, mas, quem os lê e os interpreta, sim. O professor tem que ser um cidadão crítico e ativo, e dar base para que seus alunos também sejam. Para isso, o professor propicia reflexões e trabalha com o cotidiano do aluno. O professor também tem de ser reflexivo em suas avaliações de profissional e cidadão. 
O professor deve estabelecer relação de confiança e respeito pelo que o aluno sabe e é, para participar das reflexões por meio do diálogo. 
Além disso, deve colocar-se na posição de aprendiz com o aluno, de modo que este perceba-se atuante no próprio processo de aprendizagem. Tudo deve basear-se na troca de experiência, em boas táticas e na conversa informal, como o que eles fizeram no final de semana ou como resolveram tais exercícios. 
Deve-se respeitar a criança e sua variedade lingüística, já que esta, muda de acordo com cada grupo social. Importante saber que não existe um grupo certo ou errado, e que o professor deverá mostrar a importância da norma culta e ensiná-los a usá-la sem discriminar ou desvalorizar o dialeto utilizado no meio social em que a criança vive. 
No processo de alfabetização, o aluno tem que ter em mente a clareza do porquê e para quê aprender a ler e escrever, uma vez que a leitura pode ser definida como um pensamento estimulado pela linguagem escrita (cf. Smith, apud Kleiman, 1995). 
Nesse processo, a criança deve aprender que existem diferentes interlocutores, além das variações e gêneros de textos. Portanto, o aluno deve saber antes de tudo a quem ele quer escrever e que gênero aplicar. E, ao escolher sobre o que escrever, é melhor sugerir coisas do cotidiano da criança, pois à medida que ela vai crescendo e refletindo sobre a sociedade e seu meio, vai se tornando reflexiva e crítica nas questões sociais. 
3- ALFABETIZAR LETRANDO...UM DESAFIO PARA O PROFESSOR! 
A proposta inovadora tem como foco principal a organização curricular, baseada até então numa visão curricular tradicional, centrada nas disciplinas e que pouco tem a ver com a realidade do aluno e, por isso, não possibilita a formação crítica. Na verdade, tem que ser elaborada a partir da realidade vivenciada na escola e da comunidade para haver a interdisciplinaridade e total entendimento no ensino. 
É importante que o professor esteja ciente de seu papel na hora da aprendizagem escrita e que leve em consideração a relação do som com a escrita e trabalhe sobre isso. É importante o professor trabalhar com textos para ensinar a importância de se saber escrever. 
Um outro aspecto, é achar que as atividades para apropriação da escrita devem ser feitas em silêncio, já foi comprovado que ao falar (produzir som),a criança se intera e percebe a relação com a escrita, e mais, trocar idéias com os colegas ajuda na construção de mais conhecimento. Também é importante falar com o professor enquanto se fazem as atividades, já que ensinar é trocar experiências. 
Mesmoconsiderando a enorme e inegável importância que a escrita tem nos povos e nas civilizações “letradas”, continuamos como observou Ong (1982): 
a oralidade jamais desaparecerá e sempre será, ao lado da escrita, o grande meio de expressão e de atividade comunicativa. A oralidade enquanto prática social é inerente ao ser humano e não será substituída por nenhuma outra tecnologia. Ela será sempre a porta de nossa iniciação à racionalidade e fator de identidade social, regional, grupal dos indivíduos. (ONG, 1982 apud MARCUSCHI, 2003, p. 36). 
A leitura e sua compreensão se diferenciam com as experiências pessoais e a vivência de cada em relação ao conhecimento da língua, portanto quem escreve deve dar o máximo de pistas, para que se absorva o que ele quer dizer e expressar. 
É interessante começar a dar textos simples aos alunos, com frases que comecem e terminem na mesma linha, sem palavras difíceis, para que a criança vá pegando o gosto pela leitura, também não podemos dar os textos e fazer apenas perguntas óbvias de compreensão do texto ou limitarmo-nos ao ensino da gramática, pois estaremos ocultando o sentido real da leitura, que é modificar nosso modo de ser, agir e pensar. 
Como o novo mundo exige o “novo homem” para seu mercado de trabalho; as escolas acabam formando-os apenas para isso e esquecem de formar verdadeiros cidadãos. Vale ressaltar que as críticas contidas nos livros, textos manuscritos, não devem ser encarada como verdadeira e absoluta, mas passíveis de reflexão e críticas. 
Desse modo, o professor deve trabalhar desde cedo com a leitura reflexiva, levando textos que interessem aos alunos e abrindo debates sobre o que leram, o que aprenderam e suas críticas. 
Pesquisas feitas em sala de aula deixam clara a importância da relação afetiva entre os membros da classe, com a qualidade de aprendizagem. 
As crianças relatam a importância dos carinhos da professora enquanto eles realizam as atividades em sala de aula. Elas dizem que se sentem seguras e amadas com os carinhos e com o modo pelo que professoras falam com ela. Dizem que se sentem confortáveis para a realização das atividades, destacam também a importância da professora aos incentivá-los a fazer as atividades que não conseguem e as pistas que ela oferece. Sem dúvida, a relação que se estabelece entre professor e aluno marca a relação entre o aluno e a escrita. 
Várias pesquisas mostraram a importância da brincadeira como parte fundamental do desenvolvimento humano. Assim, as escolas têm adotado as brincadeiras como parte de seus projetos didáticos. A escola tem que ter estrutura para tais realizações, pois é pelas brincadeiras que as crianças conseguem desenvolver-se, relacionar-se e manifestar suas visões de mundo, seus aprendizados. 
Eles falam também nas atividades lúdicas e diversas que aprendem, falam que é bom, é gostoso fazê-las e se torna mais fácil e prazeroso aprender. Enfim, fica evidente que a afetividade anda lado a lado, entrelaçada com a aprendizagem cognitiva. 
Como já vimos, alfabetizar não é apenas codificar e decodificar, mas saber usar e refletir, questionar os códigos e particularmente usá-los no cotidiano, mas é necessário um trabalho amplo e profundo e de longo prazo para alcançar objetivo. 
A instituição deve, portanto, estar apta e preparada para isto. Para se formar cidadãos capazes de ler e de interpretar todo e qualquer tipo de texto, tem que haver um trabalho contínuo e coletivo dos educadores para montarem seus projetos, pois o fracasso dos alunos não está necessariamente no próprio aluno, mas em toda a instituição escolar. 
É evidente que para se atingir o objetivo de letramento, tem que haver um trabalho coletivo de toda a instituição escolar, para se fazer um trabalho reflexivo. 
Argumenta Magda Soares (1997), que: 
... o mais importante, porém, é que, numa escola transformadora, a articulação de conhecimentos produzidos por diferentes teorias se faz a partir de uma concepção política da escola, vista como espaço de atuação de forças que podem leva-la a contribuir na luta por transformações sociais. (SOARES, 1997). 
A escrita é indispensável para a vida social, ela surgiu há mais de cinco mil anos (antes da era cristã), e é também uma das causas principais do surgimento da civilização moderna. 
O conceito de letramento, por sua vez, surgiu na metade dos anos 80, e é visto de duas perspectivas: 
a- revolucionária ou radical: isto é, relacionado com o processo de transformação social. 
b- perspectiva progressista ou liberal : necessário para se adequar no contexto social ou adaptação social. 
O letramento também é sócio-histórico, pois a escrita se determina dependendo da condição social em que foi inserida. 
O letramento tem níveis altos e baixos, dependendo do grau da escolarização e formação da melhor prática de ler e escrever e decodificar no cotidiano. 
4- O TEXTO E A PRODUÇÃO DA LEITURA NA ESCOLA: NOVOS RUMOS E DESAFIOS 
O professor não precisa de ajudas extras para desenvolver a leitura em seus alunos, basta compreender as necessidades específicas de cada aluno e, a partir daí desenvolver os métodos e materiais a serem usados na aula. 
Antes, porém, temos que saber a importância de ser um bom leitor, pois na globalização necessita-se de profissionais que saibam interpretar textos e elaborá-los também. 
Com essa exigência do mercado, a escola tem que se adaptar às propostas e atingir essas metas na formação de cidadãos capazes de mudar a realidade e desenvolver técnicas de aprimoramento. 
Hoje, o conceito de alfabetização não é só o processo de ler, escrever e aritmética, mas a libertação do homem em seu pleno desenvolvimento. 
Alfabetizar é, em síntese, dar condições para o exercício pleno da cidadania. Torna-se evidente que, nos países desenvolvidos, a alfabetização é feita por meio do letramento, já que alfabetizar refere-se ao domínio do código e o letramento diz respeito aos efeitos desse processo. 
5- A AFETIVIDADE E O PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA 
Os fenômenos afetivos têm influência sobre nós e também sobre nossa aprendizagem, pois caracterizam nosso processo de conhecimento e nos ajudam ou atrapalham; os fenômenos afetivos representam a maneira como os acontecimentos e situações repercutem em nós. 
Por isso, o aprendizado ocorre com a interação de outras pessoas, por meio da inserção social que vivemos, com a ligação que temos com os outros; é só assim que a aprendizagem ganha significado e sentido. Diz-se que para o conhecer do ser humano são necessários três elementos: quem vai aprender, objeto a ser aprendido e o mediador . 
Assim, é importante o tipo de relação existente dentro da sala de aula entre os alunos e o professor, pois tal relação de afetividade poderá ajudar ou prejudicar os conhecimentos dos alunos. 
Isso é tão óbvio que a criança desde que nasce já estabelece sua aprendizagem com a relação afetiva, por meio do choro e movimentos corporais, e tal aprendizagem à medida em que vai sendo aprimorada, permite que a relação afetiva vá ganhando vias de escoamento mais complexa. 
6- O ERRO E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: UMA ANÁLISE SÓCIO-INTERACIONISTA 
Várias teorias foram desenvolvidas a respeito da aprendizagem, muitas até divergiam entre si; mas chega-se à conclusão que o erro é uma etapa do caminho da aprendizagem e é fundamental para o desenvolvimento do aluno, e cabe ao mediador “professor” ajudá-lo a construir seu desenvolvimento por meio do erro, pois é com o auxílio de um mediador que a criança vai aprimorar seus conhecimentos sanando os erros cometidos como parte do processo cognitivo. 
Sendo tão importante a figura do mediador, este precisa, observar três categorias de mediação adequadas. 
Primeiro, a “intervenção motivacional adequada”: é necessário que os exercícios, sejam selecionados e adequados para chamar a atenção e despertar o interesse do aluno, é interessante fazer que os alunos troquem idéias e pontos de vistas para ampliarem seus conhecimentos. 
Segundo, a “intervenção adequada de correção”: que se dá,quando a correção faz o aluno perceber e corrigir seus erros, e que este compreenda e reelabore adequadamente seu erro. Lembramos que a função do mediador é aprimorar as habilidades dos alunos e capacitá-los diante de suas dificuldades, sem causar lhes constrangimentos. Cada atividade tem sua melhor maneira de ser corrigida: individualmente, coletivamente, em grupos; é função do professor decifrar a que mais se adequa a cada situação. 
Terceiro, a “intervenção que proporciona autonomia”: só ocorre quando o aluno percebe seu sucesso de desenvolvimento e controle de suas atividades causadas intencionalmente ou não pela professora. Cabe a cada professor, dar estrutura e base para os alunos realizarem suas tarefas sem medo de errar e de tomar iniciativas nas atividades, deixando-os livres para errar e realizar suas atividades. 
CONCLUSÃO 
Com as leituras e pesquisas feitas, concluí que letramento é o contrário de analfabetismo e que alfabetização e letramento se somam. Ou melhor, a alfabetização é um componente do letramento e, se alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar significa leva-la ao exercício das práticas sociais da leitura e da escrita. 
Uma criança alfabetizada é uma criança que sabe ler e escrever; uma criança letrada é a que tem o hábito, as habilidades e até mesmo o prazer de leitura e escrita de diferentes gêneros de textos, em diferentes contextos e circunstâncias. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
KLEIMAN, Angela B. O que é letramento : uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita . Campinas: Mercado de Letras, 1995. 
KLEIMAN, Angela B. Os significados do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 1995. 
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita : atividades de retextualização. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003. 
SOARES, Magda. Letramento : um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. 
SOARES, Magda. Linguagem e escola : uma perspectiva social. 15. ed. São Paulo: Ática, 1997. 
SOARES, Magda. O que é letramento e alfabetização. Disponível em: www.moderna.com.br/artigos/pedagogia/0009 , acesso em 20/07/2003. 
_________________________  
* Professora do Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do 
Magistério (CEFAM) - Tupi Paulista/SP.

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