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ESTÁGIO SETORIAL DE MONITORES - SCMB Teorias de Aprendizagem 2017 DEPA 2 ESTÁGIO SETORIAL DE MONITORES DO SCMB TEORIAS DE APRENDIZAGEM 3 ____________________________Teorias de Aprendizagem INTRODUÇÃO Tomando como ponto de partida o fato de que este projeto visa à capacitação, em serviço, dos agentes de ensino que cuidam dos nossos alunos, os monitores, inicialmente, buscaremos contextualizá-los ao ambiente escolar, principalmente ao da nossa Instituição e às peculiaridades da família militar, alvo da criação dos Colégios Militares. É importante destacar que os Colégios Militares foram criados para prestar apoio à família militar; principalmente, aos filhos dos militares movimentados e órfãos. Este detalhamento é importante para delinear o perfil de aluno que constitui a maioria dos alunos do SCMB. Em 2010, quando do início do Projeto Letramento, foi realizada junto aos alunos do 6º e 7º anos dos CMF, CMPA, CMCG e CMRJ, uma pesquisa psicopedagógica institucional para conhecer o perfil de aluno que estava ingressando no CM naquele ano. Para isso, as Seções Psicopedagógicas solicitaram o preenchimento de um questionário e os alunos foram submetidos à escritura de uma redação. A pesquisa contemplava perguntas que tocavam nas dimensões afetivas, cognitivas e sociais dos alunos. Após a compilação dos dados, chegou-se ao seguinte perfil com relação ao aspecto cognitivo – aqui observado por meio dos níveis de letramento na escrita (FEITOSA, 2012). Observando a produção escrita dos alunos, atestou-se, por meio de uma análise criteriosa de dados linguísticos, que o texto produzido pelos alunos estava aquém do que a expectativa projetava para o 6º ano. As redações foram divididas em cinco níveis, o nível 5 correspondia à escrita de alunos com nível de letramento mais afeito ao ano de escolaridade em questão. Os níveis decrescentes que ocupam os índices mais altos, conforme se observa no gráfico abaixo, poderiam remeter às características cognitivas 4 ____________________________Teorias de Aprendizagem dos anos de escolaridade anteriores, o que nos permite visualizar um ano escolar com uma maioria de alunos cujas competências leitoras e escritoras estavam aquém do esperado para o ano de escolaridade. Também foram alvo de questionamento: a conclusão de todas as etapas da pré- escola, o método de ensino nas escolas onde realizou o ensino fundamental 1 e a troca de localidade, dentre outras perguntas. Destacamos, abaixo, o percentual obtido nas respostas que também nos remetem para o aspecto social e afetivo da vida dos alunos: 1- 60% dos alunos não concluíram todas as etapas da pré-escola. 2- Aproximadamente 90% dos alunos trocaram de escola mais de 3 vezes. 3- Aproximadamente 80% dos alunos trocaram de localidade mais de 2 vezes. Esses últimos dados são pontuais para o quadro que foi elaborado acima, pois nos permite entender que os alunos que chegam ao SCMB, além de necessidades cognitivas, também podem chegar com necessidades afetivas, muitas vezes decorrentes, dentre outros fatores, dessas trocas de localidade. Fonte:Projeto Letramento:DEPA,2010 5 ____________________________Teorias de Aprendizagem Essa ressalva foi elaborada para ratificar a importância de se conhecer o aluno dentro de um contexto que leve em conta os diversos aspectos de sua vida. Como monitor, você estará envolvido como ator e como coadjuvante do processo de ensino- aprendizagem do aluno. Muitas vezes, um gesto, uma palavra, um sorriso, uma ajuda, uma reação será uma forma de participar da educação de nossos alunos. Nesta disciplina compreenderemos como se processa o ensino-aprendizagem. As teorias e as ações que estão por trás desta prática que está presente desde o nosso nascimento, afinal, somos aprendizes por natureza. Para reflexão, leia a citação de Bateson: “...Todo conhecimento é como se fosse um tricô ou uma malha, como se fosse um tecido em que cada peça do conhecimento só faz sentido ou é útil em função das outras peças.” Bons Estudos! 6 ____________________________Teorias de Aprendizagem 1- Compreendendo os conceitos ligados às teorias de Aprendizagem Neste capítulo serão especificados os conceitos que mais recorrem nos estudos pedagógicos, principalmente, os que se referem à teoria da aprendizagem. Inicialmente é necessário refletirmos sobre a palavra EDUCAÇÂO. Hoje o exercício de suas atividades profissionais está voltado, com prioridade, para a área da educação. Por isso torna-se muito importante refletir sobre este conceito. As definições variam de autor para autor, conforme as fundamentações filosóficas, ontológicas e epistemológicas que embasam a visão do pesquisador. Em algum momento – aliás, em muitos! – VOCÊ, certamente, já se deparou com uma situação atinente ao processo de educação, quer seja em ambientes formais (escolas em geral), quer seja em ambientes informais (relações familiares), não é verdade? Sente-se capaz de apresentar uma definição para Educação? Por que a sociedade em geral reconhece a educação como um fenômeno relevante? Para que serve a educação? Quem pratica educação? Quais as relações entre as teorias da aprendizagem e a educação? Educação e ensino constituem um mesmo fenômeno? O que os diferencia? Por que as pessoas preocupam-se com a educação dos filhos? Neste contexto, qual o papel do agente de ensino em um ambiente escolar (Colégio Militar)? Para atender à necessidade de propor uma definição, escolheu-se esta: a educação é um fenômeno exclusivo dos seres humanos, ou seja, é o fator que nos difere dos demais animais; ao mesmo tempo em que é resultado da necessidade de adaptação do homem para viver em sociedade. 7 ____________________________Teorias de Aprendizagem Essa adaptação pode ser considerada numa perspectiva ampla de somatório de influências e de relações que o homem estabelece com o meio e com o próprio homem. Essas influências convergem para a formação de traços do sujeito no que se refere à personalidade, aos valores e aos conhecimentos. Nesta interação, percebem-se, pois, a influência de várias instituições: escola, família, igreja, meio ambiente, amigos, meios de comunicação, dentre outros... e ocorre, também, uma troca entre o homem e as ‘instituições’ que o cercam. Durante essa troca, o homem apreende elementos que lhe modificam o comportamento e alteram, por consequência o seu modo de viver. Essa alteração é o aprendizado. Segundo Robbins (1996), a aprendizagem é conceituada como qualquer mudança relativamente permanente que ocorre como resultado da experiência. Igreja Escola Meio Ambiente Meios de comunicação Família Amigos 8 ____________________________Teorias de Aprendizagem A aprendizagem ocorre, portanto, desde o nascimento. Estamos sempre aprendendo, ou melhor, construindo nossa aprendizagem porque ela não pode ser encarada como um produto acabado. O mundo evolui, a ciência evoluiu, a tecnologia evolui, e o conhecimento se altera, fazendo o homem se readaptar a todo esse contexto. Nesse sentido, ao falarmos de aprendizagem, vamos entendê-la sob a égide da construção, sob o entendimento de que é renovável. Nesse entendimento, dependendo da influência do meio ou da instituição, essa aprendizagem terá componentes e uma tipologia pré-determinada,que desencadeará as diferentes teorias que tentaram descrever o processo de ensino-aprendizagem. Robbins (1996) apresenta quatro componentes para a aprendizagem: Esses componentes vinculam-se diretamente à Instituição que está mediando a interação. Assim sendo, a mudança, a permanência, o comportamento e a experiência, que integrarão a formação do indivíduo, serão diferentes para cada instância dessa que ele frequenta. 9 ____________________________Teorias de Aprendizagem Para que uma pessoa possa construir seu conhecimento de forma competente, é possível lançar mão de ações intencionais (ensino) segundo um processo social mais amplo (Educação). A figura abaixo recupera esses conceitos para prosseguirmos: A escola, principal responsável pela construção do saber sistematizado, seleciona, conforme a sua proposta pedagógica, a teoria de aprendizagem que oferece maior interface para o desenvolvimento de sua prática pedagógica. 10 ____________________________Teorias de Aprendizagem Para que se conheça um pouco das teorias de aprendizagem, será apresentado um resumo das principais teorias, com ênfase, pois, para as teorias que norteiam, atualmente, a proposta pedagógica do SCMB, qual seja, o ensino por competências. 2- Principais Teorias de Aprendizagem As teorias da aprendizagem constituem-se num agrupamento de conceitos e de teorias relacionados à prática pedagógica. Essas teorias referem-se a uma forma de transmitir conhecimento, um método específico e que se reflete diretamente na relação professor–aluno. Na verdade, as teorias tentam explicar a relação existente entre o conhecimento pré-existente e o novo conhecimento. Para isso, as teorias apresentarão visões diversificadas sobre: - o processo de aprendizagem; - a relação professor-aluno; - as circunstâncias em que a aprendizagem ocorre; - os resultados da aprendizagem. Dentre as teorias de aprendizagem, nesta disciplina, serão abordadas as principais, com ênfase para a teoria adotada pelo Sistema de Ensino do DECEx para as suas escolas. 1- Comportamentalista 2- Cognitivista 3- Construtivista 11 ____________________________Teorias de Aprendizagem 2.1- Teorias comportamentalistas Estas teorias analisam o processo de aprendizagem, desconsiderando os aspectos internos que ocorrem na mente do agente social, detendo-se no lado observável do comportamento. Essa abordagem teve como precursor o americano John B. Watson, e foi difundida e conhecida como behaviorismo. Esta teoria alcançou o ápice porque caracterizava o comportamento humano como objeto de análise, uma perspectiva demandada, na época pela Psicologia, que queria alcançar o status de ciência. Com isso, a abordagem comportamentalista absorve influências do lado cientificista do Positivismo e assume um olhar observável, experimental e mensurável. Para isso, buscou-se estabelecer como unidades essenciais para uma análise descritiva os conceitos de Estímulo e Resposta. Partindo dessa base conceitual, o ser humano passou a ser estudado como produto das associações estabelecidas durante a sua vida entre os estímulos do meio e as respostas manifestadas pelo seu comportamento. Apesar de Watson ter sido o grande precursor do Behaviorismo, B. F. Skinner foi um dos psicólogos behavioristas que teve seus estudos amplamente divulgados, inclusive no Brasil, havendo um grau de aplicabilidade muito forte na educação. A experiência da caixa de Skinner é ratificada por um outro teórico desta mesma abordagem chamado de Pavlov. Os teóricos trabalhavam com o que se chamou de condicionamento. Segundo eles, a aprendizagem ocorre por meio de sucessivos estímulos até se chegar ao comportamento que se quer obter. Os autores afirmam que o comportamento humano é aprendido e a aprendizagem passa, então, a ter grande importância. Devido às experiências realizadas, o ambiente adquire um status diferenciado com o poder de determinar o homem. A frase tão conhecida “O Homem é o produto do meio” é oriunda desta teoria de aprendizagem. O condicionamento operante é o tipo de condicionamento que o comportamento voluntário desejado leva a uma recompensa ou a uma punição. São os chamados reforços. Se o comportamento é bom, é agradável, ele recebe uma recompensa positiva; se após a repetição de determinado 12 ____________________________Teorias de Aprendizagem comportamento, o produto obtido ainda não é bom, reforça-se negativamente. O reforço negativo não é o castigo. Para os autores, o castigo é a provocação de algo desagradável com a finalidade de extinguir o comportamento indesejado. Esse tipo de mecanismo ainda é muito observado em determinadas escolas tradicionais que buscam trabalhar a aprendizagem numa perspectiva de repetição e estímulo. 1. Por ser produto do meio, os teóricos acreditam que, manipulando os elementos do ambiente (os estímulos) pode-se controlar o comportamento. 2. O comportamento é visto como algo que pode ser medido e reproduzido em diferentes condições e em diferentes sujeitos. O homem passa a ser visto numa condição de igualdade de ações, desconsiderando as demais interferências. 3. A base de toda a teoria repousa no planejamento das experiências. 1. A Educação assume uma visão pragmática e objetiva a mera transmissão do conhecimento. 2. A aprendizagem é vista como um processo mecânico de associação de estímulos e respostas, provocado e determinado pelas condições externas, Principais aspectos desta abordagem Repercussão para a Educação 13 ____________________________Teorias de Aprendizagem ignorando as internas. O aluno é levado a aprender pelo condicionamento desenvolvido por meio de reforços positivos e negativos. 3. O ensino é realizado por meio de esquemas e tipos de condutas desejadas. Despreza-se o conhecimento anterior. A Escola deve formar o padrão de sujeito que ela espera e quer formar. 4. Os alunos são passivos e estão sujeitos às ações e intervenções dos agentes controladores e do ambiente. 5. O conteúdo é ordenado por meio de objetivos escritos de forma direcionada. 6. O professor é planejador, transmissor de conhecimentos e arranjador dos reforços a serem aplicados no aluno para condicionar a aprendizagem. 7. A metodologia de aprendizagem é baseada em ensino dirigido e instrução programada. 8. A avaliação é classificatória e observa aspectos mensuráveis e observáveis. 2.2- Teorias Mediacionais Como o próprio nome indica, em estabelecendo um contraponto com as teorias anteriores, esta abordagem destaca a importância da mediação, ou seja, passa a assumir um lugar de importância a interação do sujeito com outros sujeitos e com a sua realidade. Este não é mais visto como um ser passivo, mas como um ser agente. Nesta abordagem encontramos os autores como Piaget, Vygotsky, Rogers. Aqui serão destacados os pontos mais importantes da teoria de Piaget, para isso, apoiaremos um pouco nas discussões apresentadas na Disciplina anterior: Introdução à 14 ____________________________Teorias de Aprendizagem Psicologia da Criança e do adolescente, fazendo, pois, as leituras importantes para a aprendizagem. As teorias mediacionais apoiam-se no desenvolvimento da cognição. A cognição é o processo por meio do qual o mundo de significados tem origem. Os significados não devem ser entendidos como entidades estáticas, mas como pontos de partida para a atribuição de outras significações que possibilitam a origem da estrutura cognitiva sendoas primeiras equivalências utilizadas como uma ponte para a aquisição de novos significados. Esses novos significados surgem por meio das interações e dos usos que se fazem desses conhecimentos ‘cognitivos’. 2.2.1- Piaget Jean Piaget notabilizou-se por seus estudos e centenas de publicações sobre a gênese do pensamento na criança. Durante mais de 4 anos de pesquisa várias foram as abordagens para explicar como se inicia e como se estrutura o pensamento humano. As análises de Piaget abrangem as áreas de linguagem, moralidade e lógicomatemática, sendo esta última a mais divulgada e debatida, pelo próprio Piaget e por seus discípulos. Nesses estudos o referido autor dedica-se à compreensão do pensamento da criança em determinadas fases da vida e ao estudo das diferenças entre crianças de idades diversas. Piaget, orientado pela abordagem kantiana sobre interação, observou que durante a aquisição do conhecimento, a criança, ao interagir com o seu meio utiliza-se de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio que ocorre via assimilação e acomodação. Esses processos constituem o modo de 15 ____________________________Teorias de Aprendizagem funcionamento intelectual considerados por Piaget como invariantes funcionais, pois permanecem por toda vida. As constantes funcionais são inerentes ao aspecto hereditário e tornam possível o aparecimento das estruturas cognitivas do indivíduo a partir das interações organismo/ambiente resultante das ações humanas. A adaptação, oriunda de tal interação, exprime-se por dois mecanismos: assimilação e acomodação. O primeiro consiste na modificação dos elementos do meio de modo a incorporá-los à estrutura do organismo. O segundo implica na acomodação pelo indivíduo das características específicas do objeto que está tentando assimilar. A ação adaptativa sempre pressupõe uma assimilação subjacente que a segunda invariante funcional. Para Piaget, a organização é inseparável da adaptação, pois só ocorre a adaptação quando o indivíduo organiza a sua ação em um sistema de totalidade. Essa totalidade de ações forma esquemas, estruturas cognitivas que se referem a uma classe de sequência de ações semelhantes. Conforme essa abordagem quando uma criança entra em contato com um novo objeto, ela utiliza esquemas que fazem parte da sua organização cognitiva (olha, toca) que são assimilações do objeto desconhecido e tal ação', ao mesmo tempo, acomodações dos esquemas. Durante a interação – assimilação/ acomodação) ocorre uma reorganização e complexificação dos esquemas iniciais. 16 ____________________________Teorias de Aprendizagem Ao lado dessas constantes funcionais é preciso distinguir, na teoria de Piaget, as estruturas variáveis que são resultantes da organização e adaptação na busca pelo equilíbrio das ações. Foi a partir da compreensão das estruturas que marcam as diferenças ou oposições de um nível de conduta para outro, que Piaget dividiu os seus estágios de desenvolvimento da vida humana. Estes evoluem como um espiral de modo que cada estágio engloba o anterior e o amplia. Piaget não definiu idades rígidas para os estágios, mas considera que se apresentam em uma sequência constante, a saber: sensório-motor, pré-operacional, operatório concreto e operatório formal. 1- Epistemologia Genética: estudo dos mecanismos de formação do conhecimento lógico – noções de tempo, objeto, causalidade, espaço. 2- Aprendizagem: ocorre por meio da adaptação a situações novas e se dá mediante o desenvolvimento da inteligência, conforme etapas ou estágios sucessivos, com complexidades crescentes, onde um estágio é resultante de outro anterior. 3- Estágios do desenvolvimento Genético-Cognitivo: patamares de desenvolvimento que se dá pela sucessão, pela organização de ações e pensamentos característicos de cada fase do desenvolvimento do indivíduo. 2.2.2- Gestalt – Kofka A importância de se conhecer um pouco sobre a Gestalt está relacionada diretamente com a questão da forma. A Gestalt surgiu entre 1930 e 1940, na Alemanha e afirma que as partes nunca podem proporcionar uma real compreensão do todo. A As contribuições de Piaget 17 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem aprendizagem é vista como algo a mais do que a justaposição das partes, ou como um crescendo. Segundo a Gestalt os conceitos de aprendizagem enfatizam a percepção ao invés da resposta, como ocorre nas teorias vistas em geral. A resposta é considerada como um sinal de que a aprendizagem ocorreu e não como uma parte integral do processo. Ela não enfatiza a sequência estímulo-resposta, mas o contexto ou campo no qual o estímulo ocorre; e o insight derivado da relação entre estímulo e o campo percebido pelo aprendiz. Alguns procedimentos de alfabetização se dão pela gestalt. Os americanos alfabetizam seus alunos pela gestalt. 2.3- Aprendizagem Construtivista e Aprendizagem Significativa A abordagem cognitivista, apesar de ter surgido quase no mesmo período que o behaviorismo, teve grande efervescência nos anos de 1990, resgatando estudos teóricos da Psicologia Cognitiva como os desenvolvidos por Piaget, e que serão observados aqui neste capítulo, e por Vygotsky. Estes teóricos não desenvolveram propriamente uma teoria da aprendizagem, mas seus estudos serviram de pressuposto para teóricos do campo educacional, que se apropriando desse referencial elaboraram e desenvolveram a teoria da aprendizagem denominada de Construtivismo. Segundo Ana Lúcia Santana (2012), o Construtivismo parte da crença de que o saber não é algo que está concluído, terminado, e sim um processo em incessante construção e criação. Assim, o conhecimento é um edifício erguido por meio da ação, da elaboração e da geração de um aprendizado que é produto da conexão do ser com o contexto material e social em que vive, com os símbolos produzidos pelo indivíduo e o universo das interações vivenciadas na sociedade. 18 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem Esta construção é realizada através da ação e não por dons concedidos anteriormente ao sujeito, presentes na constituição dos genes ou no ambiente em que ele cresceu. Assim, este método pressupõe que é a partir da atitude que se instituem a mente e a consciência, assim como os nossos pensamentos. Não existe um manual pronto com o método alinhavado. Na verdade, existem teóricos que, partindo dessa abordagem, buscam aprimorar a aprendizagem para ensinar o aluno a aprender e a construir seu próprio conhecimento. No Brasil, as marcas desta proposta podem ser percebidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e vêm sob influência das mudanças ocasionadas nos países da Europa e EUA, a chamada “Pedagogia das Competências”. Na França o maior representante é Phillip Perrenoud e na Espanha, Antoni Zabala. Segundo os PCN (1998), Conceber o processo de aprendizagem como prioridade do sujeito implica valorizar o papel determinante da interação com o meio social e, particularmente, com a escola. Situações escolares de ensino aprendizagem são situações comunicativas, nas quais os alunos e professores coparticipam, ambos com uma influência decisiva para o êxito do processo. A abordagem construtivista de ensino e aprendizagem, a relação cooperativa entre professor e aluno, os questionamentos e as controvérsias conceituais, influenciam o processo de construção de significado e o sentido que alunosatribuem aos conteúdos escolares. (BRASIL, 1998, p. 761). Foi a partir do Relatório Dellors, no Comitê Internacional para a Educação no Século XXI, em 1996, que, de certo modo, a abordagem construtivista ganhou impulso. 19 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem Segundo os estudiosos é de consenso internacional que a Educação, ao longo da vida, esteja fundada sobre quatro pilares, que se desdobram em outras ações importantíssimas. Essas ações são contempladas na abordagem de educação por competências, cujo propósito visa à “faculdade de mobilização de um conjunto de recursos cognitivos como saberes, habilidades e informações para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações” ( Perrenoud, 2004). Os termos competências e habilidades constam nos PCNs desde 1998, com o propósito de inverter a ação pedagógica da escola tradicional, com seu ensino propedêutico e conteudista que levava os alunos à memorização dos conteúdos. Nesta abordagem, a ação recebe mais ênfase, na medida em que se leva os alunos a encontrarem um significado nos conteúdos ao passo em que a escola vai partir de suas motivações e conhecimentos prévios, em detrimento de conceitos previamente estabelecidos. A aplicabilidade do conhecimento fica mais clara para o aluno que passa a se sentir mais motivado ao identificar a finalidade do que está aprendendo. APRENDER A CONHECER Cultura Geral Espírito Investigativo Visão crítica Aprender a aprender APRENDER A FAZER Relacionar em grupo Resolver problemas Qualificarse profissionalmente APRENDER A VIVER COM OS OUTROS Saber compreender o outro Saber resolver conflitos Respeito ao outro APRENDER A SER Agir com autonomia Expressar opiniões Assumir responsabilidades pessoais 20 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem 2.3.1- O ensino por competências no SCMB. O ensino por competências tem seus alicerces na concepção de ensino construtivista. Como concepção de ensino, o construtivismo procura enfatizar o papel central do sujeito na produção do saber (LOCH, 1995); ao mesmo tempo em que não apresenta metodologia ou sugestões de técnicas de como ensinar; a preocupação científica é com a aprendizagem – como o indivíduo aprende. Para que esse processo seja desencadeado, a aprendizagem começa com uma dificuldade, com o problema e com a necessidade de resolvê-lo. Diante dessa dificuldade, o indivíduo precisará acionar conhecimentos e elaborar um movimento de busca de soluções. Ao se posicionar efetivamente como o centro do processo, com esse reposicionamento alguns eixos precisam ser ajustados. Um desses é o da avaliação. A preocupação técnica de como medir o rendimento discente perde o foco e, em seu lugar, passa a ser o centro das atenções as condições em que é oferecido o ensino: a cultura da sala de aula, as interações professor- aluno. Nesse eixo, o professor assume o papel de mediador da aprendizagem e as interações demandam uma postura contextualizada e interdisciplinar. Por isso, pode-se afirmar que os eixos norteadores do construtivismo baseiam-se na exploração da contextualização, mediação e interdisciplinaridade. Para lidar com esses eixos, o professor, cujo trabalho cresce de importância, precisará ter um olhar diferenciado, ter uma postura diferenciada para cada grupo social com que lida. Essa postura favorece a aprendizagem significativa (SAVIANI, 1999). Segundo o autor, o conhecimento do grupo permite-lhe selecionar procedimentos e estratégicas cognitivas que potencializem a aprendizagem e conduzam o aluno à sua 21 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem própria construção do conhecimento (FONTES, 2006), em vez de se restringir a conceitos culturais e conteúdos como unidades fechadas. Zabala (1998) esclarece que para que a aprendizagem seja realmente significativa, é necessário que o docente sempre se questione: - quem são meus alunos? - o que eles sabem em relação ao que eu quero ensinar? - que experiências tiveram? - o que são capazes de aprender? - quais são os seus interesses? - quais são seus estilos de aprendizagem? - o que ensinar? - qual a relevância social e cognitiva do aluno para definir o que vai se tornar material a ser aprendido? A fim de potencializar a aprendizagem e favorecer o processo de construção do conhecimento, surgem, no cenário educacional, as metodologias ativas: ensino por competências, pedagogia de projetos, entre outros. O Exército se apropriou do ensino por competências como uma metodologia que desse conta do novo processo de formação da construção do conhecimento do militar de carreira, alinhando-se com a política de formação de grandes nações. A Instituição adotou como definição de “Competência” o seguinte conceito: “É a capacidade de mobilizar, ao mesmo tempo e de maneira interrelacionada, conhecimentos, habilidades, valores, atitudes e experiências, para decidir e atuar em situações diversas.” 22 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem Para o Sistema Colégio Militar, essa apropriação favoreceu o alinhamento com as legislações de ensino vigentes e com a documentação legal existente. Assim sendo, a cavaleiro da definição Institucional, no Sistema Colégio Militar, o conceito de competências com o que se trabalha didaticamente é o proposto por Perrenoud (2004): “A faculdade de mobilização de um conjunto de recursos cognitivos como saberes, habilidades e informações para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações.” Segundo o autor, as competências articulam: • Conhecimentos • Procedimentos • Habilidades • Atitudes • Valores O aluno desenvolve as habilidades através dos conteúdos e exercitando as habilidades adquire a competência. As habilidades são os meios pelos quais se pretende atingir os objetivos, ou seja, devem ser desenvolvidas em busca das competências. Estão associadas ao saber fazer: ação física ou mental que indica a capacidade adquirida, exemplos: - Identificar variáveis; - Compreender fenômenos; - Relacionar informações; 23 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem - Analisar situações-problema; - Sintetizar; - Julgar; - Correlacionar, dentre outras. Nesta abordagem, a principal mudança, portanto, reside na forma de ensinar. Partindo da premissa que o aluno necessita de um conhecimento interdisciplinar, domínio das linguagens que modelam cada disciplina e da capacidade de resolver situações-problema cujas resoluções dependam do enredar do conhecimento, as metodologias empregadas, o currículo e as avaliações precisam estar condizentes com esse enfoque. Assim sendo, o conhecimento prévio do aluno é altamente valorizado e a aprendizagem deve ser, constantemente focada sob a perspectiva da resolução de situações problemas, contextualizada e interdisciplinar. Nesta perspectiva o aluno deve ser instado a aprender a aprender, a construir seu conhecimento sabendo para quê ele aprende determinado conteúdo. Não basta mais ensinar muito, mas ensinar bem o que se propõe a ensinar. Nesta abordagem de aprendizagem, três eixos sustentam a aprendizagem: a interdisciplinaridade, a contextualização e o letramento (o trabalho com textos numa perspectiva discursiva). A concepção de contextualização deveser entendida como uma forma de se re-enraizar o texto / o conhecimento, ao seu local de origem ou a outro contexto que lhe forneça significado e construa sentido. É nessa acepção que a Educação por Competências evoca o conceito de contextualização como um de seus pressupostos fundamentais. 24 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem A ideia de construir uma aprendizagem significativa parte da consideração de se relacionar diferentes contextos aos objetos de saber. Uma vez que os fazeres visam à resolução de situações-problema, é imprescindível que o conteúdo que está sendo mediado seja colocado dentro de um contexto conhecido ou articulado. A interdisciplinaridade é uma estratégia que visa a uma comunicação efetiva entre as disciplinas / objetos de saber que possibilite a construção do conhecimento pelo educando de forma integrada. Por isso, constitui-se num pressuposto fundamental para que a educação por competências ocorra de forma plena. Aspectos importantes sobre a interdisciplinaridade: a) engloba mais de uma disciplina; b) adota uma abordagem teórico-metodológica comum às disciplinas; c) promove a integração dos resultados obtidos; d) busca a resolução das situações-problema por intermédio das disciplinas envolvidas; e) mantém preservados os interesses peculiares de cada disciplina. Para poder elaborar sua aula, o professor precisará selecionar de seu conteúdo a parte mais importante e realizar a transposição didática, ou seja, tornar didático e ajustável ao nível de escolaridade e ao nível linguístico dos alunos o referencial temático, teórico e disciplinar que precisa ensinar. As situações problemas constituem-se de desafios que devem ser propostos para as turmas e devem ter, segundo Perrenoud (2000), as seguintes características: 25 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem (i) constituir um obstáculo para a turma. (ii) estudo de uma situação concreta, hipóteses. (iii) um verdadeiro enigma para ser resolvido. (iv) necessidade de usar instrumentos com vista à resolução. (v) oferecer resistência suficiente. (vi) situar-se na zona de desenvolvimento proximal (Vygotsky). (vii) antecipação dos resultados precede a busca (viii) debate científico dentro da classe. (ix) a validação da solução é feita conjuntamente (não pelo professor). (x) reexame coletivo do caminho percorrido à consolidação dos procedimentos para projetos futuros. 26 ____________________________________________Teorias de Aprendizagem 3. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC-SEF, 1998. FONTES, C. Modelos organizativos de escolas e métodos pedagógicos. Disponível em <http:// www.educar.no.sapo.pt/metapedagog.htm > acesso em 02/10/2012. LOCH,V.V. O construtivismo e o planejamento pedagógico. Curitiba: Renascer, 1995. MOREIRA, M. A. Teorias da aprendizagem. São Paulo: E. P. U, 1999. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Barcelona: Grão, 2000. ______________. Avaliação. Da excelência à regulação das aprendizagens entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed,2004. PIAGET, J. Epistemologia Genética. São Paulo: Martins Fontes, 1994. REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 8. ed. Petrópolis,RJ: Vozes, 1999. SAVIANI, D. Escola e Democracia. 32ª ed. Campinas: Autores Associados, 1999. SILVA, T. T. Identidades terminais: as transformações na política da pedagogia e na pedagogia da política. Petrópolis: Vozes, 1999. ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Tradução de ROSA, Ernani F.da F. Porto Alegre: Artmed, 1998. 2.1- Teorias comportamentalistas 2.2- Teorias Mediacionais Aspectos importantes sobre a interdisciplinaridade: (i) constituir um obstáculo para a turma. (vii) antecipação dos resultados precede a busca 3. BIBLIOGRAFIA
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