Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REFORMA TRABALHISTA Direito material André Araújo Molina aamolina@bol.com.br www.facebook.com/professorandremolina Direito material intertemporal ➢ Qual o direito material aplicável aos contratos ainda em execução na data de vigência da reforma trabalhista? • CF/88, art. 5, XXXVI – Direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada • CF/88, art. 7º, VI – Irredutibilidade salarial • LINDB, art. 6º - Efeito imediato e geral da lei Princípio da retroatividade mínima (Primeira fase da jurisprudência do STF) “[…] Se a lei alcançar os efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai interferir na causa, que é um ato ou fato ocorrido no passado. O disposto no artigo 5, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva.” (STF – Pleno - ADI 493-DF - Min. Moreira Alves - DJ 04.09.1992) “No sistema constitucional brasileiro, a eficácia retroativa das leis - (a) que é sempre excepcional, (b) que jamais se presume e (c) que deve necessariamente emanar de disposição legal expressa - não pode gerar lesão ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada. - A lei nova não pode reger os efeitos futuros gerados por contratos a ela anteriormente celebrados, sob pena de afetar a própria causa - ato ou fato ocorrido no passado - que lhes deu origem. Essa projeção retroativa da lei nova, mesmo tratando-se de retroatividade mínima, incide na vedação constitucional que protege a incolumidade do ato jurídico perfeito. - A cláusula de salvaguarda do ato jurídico perfeito, inscrita no art. 5º, XXXVI, da Constituição, aplica-se a qualquer lei editada pelo Poder Público, ainda que se trate de lei de ordem pública.” (STF – AI 251.533 – Rel. Min. Celso de Mello – DJU 23.11.1999) Código Civil de 2002 Art. 2.035 - A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. Nova posição do STF (direito adquirido X expectativa de direito) “CONSTITUCIONAL. TRABALHISTA. SALÁRIOS: REAJUSTE: ACORDO COLETIVO HOMOLOGADO PELA JUSTIÇA DO TRABALHO. NORMA LEGAL SUPERVENIENTE. INOCORRÊNCIA DE OFENSA. I. - Reajuste salarial decorrente de acordo coletivo homologado pela Justiça do Trabalho. Norma superveniente alteradora da política salarial - Lei 7.730/89: inocorrência de ofensa a direito adquirido, ato jurídico perfeito e à coisa julgada.” (STF – 2ª Turma - RE 212.136 AgR - Rel. Min. Carlos Velloso - DJ 21.02.2003) Posição do STJ “2. In casu, inobstante o ingresso no curso de medicina no Instituto Superior de Ciências Médicas de Camagüey, em Cuba, tenha se dado em 1998 (fl. 03), sob a égide do Decreto Presidencial 80.419/77, que assegurava o reconhecimento automático de diploma obtido no exterior, a diplomação efetivou-se em 16.07.2004 (fl. 30), portanto, na vigência do Decreto nº 3.007, de 30.03.99, o qual revogou o mencionado decreto, exigindo prévio processo de revalidação, à luz da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (art. 48, § 2º, da Lei 9.394/96), fato que, evidentemente, conduz à ausência de direito adquirido à pretendida revalidação automática 3. O direito adquirido, consoante cediço, configura-se no ordenamento jurídico pátrio quando incorporado definitivamente ao patrimônio do seu titular. 4. Sobrevindo novel legislação, o direito adquirido restará caracterizado acaso a situação jurídica já esteja definitivamente constituída na vigência da norma anterior, não podendo ser obstado o exercício do direito pelo seu titular, que poderá, inclusive, recorrer à via judicial.” (STJ – 1ª Turma – AgRg no REsp 966.876 – Rel. Min. Luiz Fux – DJU 15.12.2008) (gn) “A aplicação da cláusula constitucional que assegura, em face da lei nova, a preservação do direito adquirido e do ato jurídico perfeito (CF, art. 5º, XXXVI) impõe distinguir duas diferentes espécies de situações jurídicas: (a) as situações jurídicas individuais, que são formadas por ato de vontade (especialmente os contratos), cuja celebração, quando legítima, já lhes outorga a condição de ato jurídico perfeito, inibindo, desde então, a incidência de modificações legislativas supervenientes; e (b) as situações jurídicas institucionais ou estatutárias, que são formadas segundo normas gerais e abstratas, de natureza cogente, em cujo âmbito os direitos somente podem ser considerados adquiridos quando inteiramente formado o suporte fático previsto na lei como necessário à sua incidência. Nessas situações, as normas supervenientes, embora não comportem aplicação retroativa, podem ter aplicação imediata.” (STF – Pleno - RE 211.304 – Red. p/ ac. Min. Teori Zavascki – DJE 03.08.2015) Posição da doutrina “Forçoso é reconhecer, outrossim, na linha do raciocínio exposto, a aplicação imediata da lei nova às relações jurídicas continuativas – isto é, as relações jurídicas iniciadas na vigência da lei anterior e que se protraem no tempo, mantendo-se após o advento da lei nova. No que concerne às relações continuativas (também chamadas de relações de trato sucessivo), a sua existência e a sua validade ficam submetidas à norma vigente ao tempo de seu início. No entanto, a sua eficácia estará, inarredavelmente, submetida á nova norma jurídica.” (Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, 2017, p. 151) Posição do TST “De acordo com jurisprudência uníssona da SbDI-1 do TST, o empregado eletricitário, admitido sob a égide da Lei nº 7.369/85, faz jus ao pagamento de adicional de periculosidade calculado sobre todas as parcelas de natureza salarial, e não apenas sobre o salário- base. 2. As disposições da Lei nº 12.740/2012, no tocante à alteração da base de cálculo do adicional de periculosidade assegurado aos eletricitários, aplicam- se apenas aos contratos de trabalho celebrados após o início de sua vigência.” (TST – SDI-1 - E-ED-ARR 2372-84.2013.5.03.0024 - Rel. Min. João Oreste Dalazen - DEJT 20.05.2016) Princípio da vedação do retrocesso • Eficácia negativa dos direitos fundamentais • Proteção contra a revogação de direitos já efetivados • Imunização do núcleo essencial (dignidade humana) • Possibilidade de ajustes legislativos posteriores “A se reconhecer o princípio da vedação do retrocesso como um mecanismo do modelo pós-positivista – flexível, adaptável e ponderável com outros princípios – ele cumprirá importante função na dogmática dos direitos fundamentais. Preservará uma pauta constitucional mínima, criando moldura à atuação legislativa, mas possibilitará ao legislador futuro adaptações e revisões das modulações dos direitos fundamentais. E isso se dará reconhecendo que viola o princípio da proibição do retrocesso a revogação de uma legislação implementadora de direitos fundamentais, mas não o violará a sua substituição por outra legislação, por uma nova conformação momentânea dos direitos que atenda minimamente a pauta constituinte.” (Molina, Teoria dos princípios trabalhista, p. 128) “Com efeito, dizer que a ação estatal deva caminhar no sentido da ampliação dos direitos fundamentais e de assegurar-lhes a máxima efetividade possível, por certo, não significa afirmar que seja terminantemente vedada qualquer forma de alteração restritiva na legislação infraconstitucional, desde que, é claro, não se desfigure o núcleo essencial do direito tutelado, como seria o caso, se fôssemos adotar a tese de que os valores devidos a título de seguro DPVAT são imodificáveis ou irredutíveis. Essa postulação de que se conceda ultratividadeà lei revogada, na verdade, vai de encontro à própria realidade dos fatos, na medida em que os direitos sociais – como, de resto, qualquer dos direitos fundamentais – demandam ações positivas e têm custos que não podem ser ignorados pelo poder público, tampouco pelos tribunais. Enfim, por todas essa razões, não parece que o princípio da dignidade humana, tampouco o da vedação do retrocesso tenham efetivamente o conteúdo ou o sentido que o recorrente lhes deseja conferir, ao postular a aplicação de legislação já revogada ao tempo da ocorrência do sinistro. Posta a questão nesses termos, penso, na verdade, a controvérsia dos autos pode ser compreendida e discutida na linha da jurisprudência tradicional deste Tribunal, que rejeita o reconhecimento de direito adquirido a regime jurídico. Na essência, a questão de fundo parece ser similar. (STF – Pleno – ARE 704.520 – Rel. Min. Gilmar Mendes – DJE 02.12.2014 – Repercussão Geral – Tema 771) Conclusões • Contratos extintos – Lei trabalhista antiga • Contratos futuros – Eficácia da reforma trabalhista • Contratos em execução – “tempus regit actum“ (aplicação da lei nova desde a sua vigência para o futuro) • Defeitos do negócio jurídico não serão convalidados ✓ Inexistência de direito adquirido à regime jurídico (tese do STF) ✓ Irredutibilidade do valor nominal do salário (tese do STF) ✓ Não há violação ao princípio da violação do retrocesso (tese do STF) ✓ Contrato de trabalho – natureza jurídica híbrida (contratual e institucional – cláusulas negociadas e cláusulas cogentes) ✓ Lei dos motoristas (12.619/2012) ✓ Lei dos domésticos (LC 150/2015) Teoria do Direito Art. 8º (...) § 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho. § 2º Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão restringir direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam previstas em lei. § 3º No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva. Art. 8º, p. único. O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste. (redação atual) Art. 8º, § 1º. O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho. (redação da reforma) • Fim do requisito da compatibilidade principiológica • Omissão legislativa própria autoriza a incidência subsidiária Exemplo: CC, art. 940 – repetição em dobro da cobrança abusiva “APLICABILIDADE DO ARTIGO 940 DO CÓDIGO CIVIL E LITIGAÇÃO DE MÁ-FÉ. A referida norma inserida no mencionado artigo 940 do Código Civil não se coaduna com os princípios norteadores do Direito do Trabalho e do Processo do Trabalho.” (TRT 3ª Região – 9ª Turma – RO 0108800-53.2008.5.03.0093 – Relª. Desª. Maria Lucia Cardoso Magalhães – DEJT 10.08.2010) Direito do Trabalho (?!) Constituição Federal Tratados Internacionais CLT Código Civil Normas Coletivas Regulamentos de empresa Precedentes Judiciais Contrato de Trabalho Legislação extravagante NR’s do MTE Características • Complexidade social (heterogeneidade relações) • Transconstitucionalismo (legislação transversal) • Microssistemas normativos especializados • Normas processuais flexíveis (adaptabilidade - NCPC) • Atividade interpretativa (construtiva) dos Tribunais • Segurança jurídica dinâmica (precedentes etc.) Teoria do direito contemporânea • Fato social X Fato jurídico X Norma jurídica Função do interprete (construção da norma) Dado fato F, deve-ser (obrigatório, proibido ou permitido) a conduta C; se não-C, deve-ser a consequência jurídica S Norma jurídica – Atividade (adscritiva) compartilhada Legislador Doutrina Judiciário Filosofia analítica (giro linguístico) • Positivismo lógico (aspecto semântico da linguagem) • O sentido da linguagem está no texto (basta revelar) • Kelsen – Teoria Pura do Direito (1934) ➢ Organização e aplicação do direito • Giro linguístico (aspecto pragmático da linguagem) • Wittgenstein – Investigações filosóficas (1953) “Deixa que as aplicações das palavras te ensinem qual é o seu sentido.” • Interpretação (Auslegung): reprodução e atribuição de sentido aos objetos – interação objeto/interprete EROS ROBERTO GRAU: Há dois tipos de arte: as alográficas e as autográficas. Nas primeiras – alográficas (música e teatro) – a obra apenas se completa com o concurso de dois personagens, o autor e o intérprete; nas artes autográficas (pintura e romance) o autor contribui sozinho para a realização da obra. Em ambas há interpretação, mas são distintas, uma e outra. O direito é alográfico. E alográfico é porque o texto normativo não se completa no sentido nele impresso pelo legislador. A “completude” do texto somente é atingida quando o sentido por ele expressado é produzido, como a nova forma de expressão, pelo intérprete. Mas o “sentido expressado pelo texto” já é algo novo, distinto do texto. É a norma. Exemplo prático • CF/88, art. 7º, I – Proteção contra despedida arbitrária • ADCT – Garantia provisória da gestante e CIPA • Legislação ordinária – Dirigente sindical, acidentado etc. • Lei n. 9.029 de 1995 – Tratamento discriminatório ✓ Estado de saúde trabalhador – Proteção contra dispensa? Súmula 443/TST: DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA GRAVE. ESTIGMA OU PRECONCEITO. DIREITO À REINTEGRAÇÃO. Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à reintegração no emprego. Eficácia horizontal dos direitos humanos e fundamentais • Direito Romano: Direito privado X Direito público ➢ Constituição (organização do Estado) ➢ Código Civil (organização social) Miguel Reale: “Em um País há duas leis fundamentais, a Constituição e o Código Civil: a primeira estabelece a estrutura e as atribuições do Estado em função do ser humano e da sociedade civil; a segunda se refere à pessoa humana e à sociedade civil como tais, abrangendo suas atividades essenciais. (...) É a razão pela qual costumo declarar que o Código Civil é a constituição do homem comum” ✓ Constituição mexicana de 1917 (direitos sociais) • Constitucionalização do direito privado ➢ Princípio da unidade do ordenamento ➢ Centralidade da Constituição ➢ Controle de constitucionalidade ➢ Interpretação conforme à Constituição • Constituição portuguesa de 1976, art. 18º. 1. Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias são directamente aplicáveis e vinculam as entidades públicas e privadas. Gomes Canotilho ➢ Direitos fundamentais (oponibilidade erga omnes) ➢ Eficácia direta e imediata ➢ Aplicabilidade em todas as relações privadas • Constituição brasileira de 1988, art. 5º (...) § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata; § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Posição do STF • STF – RE 161.243 (caso Air France) Igualdade nas relações de trabalho • STF – RE 201.819 Devido processo nas relações privadas REINTEGRAÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DO VÍRUS HIV. DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. 1. Caracteriza atitude discriminatória ato de Empresa que, a pretexto de motivaçãode ordem técnica, dispensa empregado portador do vírus HIV sem a ocorrência de justa causa e já ciente, à época, do estado de saúde em que se encontrava o empregado. 2. O repúdio à atitude discriminatória, objetivo fundamental da República Federativa do Brasil (artigo 3º, inciso IV), e o próprio respeito à dignidade da pessoa humana, fundamento basilar do Estado Democrático de Direito (artigo 1º, inciso III), sobrepõem-se à própria inexistência de dispositivo legal que assegure ao trabalhador portador do vírus HIV estabilidade no emprego. 3. Afronta aos artigos 1º, inciso III, 5º, caput e inciso II, e 7º, inciso I, da Constituição Federal não reconhecida na decisão de Turma do TST que conclui pela reintegração do Reclamante no emprego. 4. Embargos de que não se conhece. (TST – SBDI-1 – E-RR 439041-20.1998.5.02.5555 – Rel. Min. João Oreste Dalazen – DJ 23.05.2003) RECURSO DE REVISTA – MOTORISTA DE CAMINHÃO DE LIXO – INTERVALO INTRAJORNADA – USUFRUTO EM LOCAL DESPROVIDO DE INSTALAÇÕES SANITÁRIAS E PRÓXIMO AO VEÍCULO CONDUZIDO PELO AUTOR – IMPOSIÇÃO DO EMPREGADOR (...) a Carta Magna tem como um dos seus fundamentos o valor social do trabalho (art. 1º, IV), labor este que se presta ao sustento do empregado e ao progresso da sociedade, por meio da produção dos bens necessários à satisfação dos seus interesses, imperioso concluir que a preservação da saúde obreira deve ser garantida (por meio de todas as medidas que tornem o seu local de trabalho isento de riscos à integridade física e psicológica do laborante), sob pena de se tornar ineficaz (e, portanto, carente de força normativa) o postulado previsto no primeiro artigo da Carta Republicana, o que não se coaduna com a eficácia horizontal dos direitos fundamentais reconhecida pela doutrina e pela jurisprudência majoritárias de nosso País. Nessa senda, menospreza os mencionados comandos normativos o empregador que exige de seu empregado (motorista de caminhão de lixo) que usufrua do seu intervalo intrajornada próximo ao veículo utilizado para o desempenho de suas atividades (fonte, portanto, de incontáveis moléstias passíveis de serem contraídas pelo ser humano), em local desprovido de sanitário destinado à higienização pessoal e à satisfação das necessidades fisiológicas do trabalhador. (TST – 1ª Turma – RR-458400- 06.2003.5.09.0019 – Rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho – DEJT 18.03.2011) Saliente-se que a pretensão abstrata de estender seu poder empregatício para além das prescrições sobre a organização do trabalho, alcançando a vida, a autonomia e o corpo das trabalhadoras, revela desrespeito grave à dignidade da pessoa humana, que não se despe de sua condição de sujeito, nem da titularidade das decisões fundamentais a respeito da sua própria vida, ao contratar sua força de trabalho em favor de outrem. Está caracterizada, satisfatoriamente, a conduta ilícita e antijurídica do empregador, capaz de ofender a dignidade obreira, de forma culposa. Ao se preocupar exclusivamente com o atendimento de suas necessidades produtivas, constrangendo as decisões reprodutivas das trabalhadoras, a reclamada instrumentaliza a vida das suas empregadas, concebendo-as como meio para a obtenção do lucro, e não como fim em si mesmas. Constatada violação dos arts. 5º, V e X, da Constituição Federal; 373-A e 391, parágrafo único, da CLT; e 186 do Código Civil. Indenização por danos morais que se arbitra no valor de R$ 50.000,00 (TST – 7ª Turma – RR 755-28.2010.5.03.0143 – Rel. Min. Vieira de Mello Filho – DEJT 19.09.2014) Conclusões • Judiciário aplica direitos humanos e fundamentais • CLT, art. 8º, § 2º c/c CF/88, art. 5º, §§ 1º, 2º e 3º • Interpretação conforme à Constituição • “Previstas em lei” = Ordenamento jurídico ✓ Eficácia dos direitos fundamentais ✓ Eficácia dos tratados internacionais ✓ Tarefa interpretativa da jurisprudência ✓ Sentido da norma – Atividade compartilhada ✓ Vedação da atividade normativa primária Princípio da intervenção mínima • Prestígio da negociação coletiva (STF – RE 590.415) • Possibilidade de redução de direitos (concessão outros benefícios) • Norma coletiva enquanto fonte formal do direito ✓ Suscetível controle de constitucionalidade e convencionalidade ✓ Análise dos aspectos formais (CC, art. 104 e CLT, arts. 612 e 614) ✓ Aspectos materiais (CF, Tratados, CLT, arts. 611-B e 613) ✓ Procedimento especial de anulação (CLT, art. 611-A, §§) ✓ Participação dos sindicatos convenentes (litisconsortes) ✓ Ampliação do diálogo antes de declarar a nulidade da cláusula ✓ Redução dos benefícios concorrentes (teoria do conglobamento)
Compartilhar