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FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

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FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
A questão do conhecimento: senso comum e pensamento científico.
O conhecimento como característica do ser humano
O homem é o único animal que vive no mundo e pensa sobre o mundo em que vive. Ao pensar, ele formula explicações acerca da realidade e dos fenômenos que o cerca. Portanto, é no ato de pensar que o homem conhece a si e o mundo, manifestando isso através da linguagem. Pensamento: capacidade de, ao articular acontecimentos, coisas e fatos, instaurar um sentido. Linguagem: capacidade de tornar esse sentido manifesto. Pode-se dizer, então, que as coisas não têm um sentido em si, os homens é que lhes dão sentido, através do pensamento e da palavra, que, sistematizados de alguma maneira, formam o CONHECIMENTO.
Senso comum e pensamento científico
Senso comum
[...] é algum sentido dado coletivamente às coisas vividas. Para se orientar no mundo, o ser humano assume como certas e seguras diversas coisas, situações e relações entre fatos, coisas e situações. Estabelece, assim, sistemas de discursos sobre o que tem vivido, sobre nossas experiências concretas.
Pensamento Científico
A ciência é uma forma de conhecimento, ou seja, é refere a algo bastante especificado. Não se faz ciência sobre a vida em geral ou o mundo em geral. Faz-se ciência quando se delimita aquilo que se quer estudar, o objeto de que se quer tratar. O objeto não é apenas delimitado, é construído, pois trata-se de algo ideal, de uma representação.
(Complemente a sua preparação examinando outras formas de conhecimento, tais como o mito, o conhecimento religioso e o conhecimento filosófico, constantes do Plano de aula 1.)
As assim chamadas Ciências Sociais.
Por Ciências Sociais entende-se o conjunto de saberes relativos às áreas da Antropologia, Sociologia e Ciência Política. Assim, o objeto de estudo das Ciências Sociais é a sociedade em suas dimensões sociológicas, antropológicas e políticas. As Ciências Sociais fazem parte do grupo de saberes intitulado Ciências Humanas, e apresentam métodos próprios de investigação dos fenômenos que analisam. Neste sentido, em geral, são postas em contraste com as Ciências Naturais e Exatas, já que essas podem ser avaliadas e quantificadas pelo método científico e na área social os métodos utilizados são outros.
As Ciências Sociais nos ajudam a "limpar a lente" para enxergarmos melhor as diferentes realidades com que convivemos.
A Sociologia analisa as inter-relações entre os diversos fenômenos sociais. Neste campo de conhecimento, a vida social é analisada a partir de diferentes perspectivas teóricas, notadamente as que têm como base conceitual os estudos desenvolvidos por Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. A partir dessas matrizes teóricas, estudam-se os fatos sociais, as ações sociais, as classes sociais, as relações sociais, as relações de trabalho, as relações econômicas, as instituições religiosas, os movimentos sociais etc.
Na Antropologia privilegiam-se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades. Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo, relativismo cultural são tratadas por essa ciência, que, em seus primórdios estudava povos e grupos geográfica e culturalmente distantes dos povos ocidentais. Assim, em sua história, a Antropologia revelou estudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco, cosmologias etc.
A Antropologia também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos, enfatizando a diferenciação entre seus indivíduos, com base em critérios de raça, cor, etnia, gênero, orientação sexual, nacionalidade, regionalidade, afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças e valores, estilos de vida etc.
Na Ciência Política analisam-se as questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, autoridade, dominação, entre outros, são estudados por essa ciência. Analisam-se também as diferenças entre povo, população, nação e governo, bem como o papel do Estado como instituição legitimamente reconhecia como a detentora do monopólio da dominação e do controle de determinado território.
Agora que você consolidou a sua percepção que as Ciências Sociais constituem ferramenta importante para o desenvolvimento de compreensão crítico-reflexivo da realidade, pense nas possíveis contribuições para o exame das questões que lhe serão submetidas no Direito e em outras áreas do conhecimento. (Complemente a sua preparação examinando temas “Problemas sociais e sociológicos” e “Indivíduo e sociedade”, constantes do Plano de aula 2)
A análise antropológica da cultura.
Edward Tylor sintetizou os termos Kultur e Civilization no vocábulo inglês Culture, que “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.
Mas de onde surge a preocupação com o tema da cultura?
Toda construção científica nasce na Europa. A reflexão teórico-científica sobre a humanidade se iniciou neste ambiente e nesta perspectiva. Logo, a noção de ser humano de referência para todas as Ciências Humanas e Sociais é a do homem europeu e da sociedade europeia.
O olhar eurocêntrico sobre a cultura
A partir dos esforços de conquista de outros continentes, os europeus encontraram-se com seres diferentes o suficiente para causarem estranhamento, mas parecidos o suficiente para produzirem o seguinte incômodo: serão estes seres humanos?
Etnocentrismo
Segundo Everardo Rocha, em O que é Etnocentrismo, tratasse da visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença.
Relativismo cultural
É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea, de buscar compreender a lógica da vida do outro. Ainda segundo Roberto da Matta, antes de cogitar se aceitamos ou não está outra forma de ver o mundo, a antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito outra vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes (...) pois cada sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa própria existência se reflete.
“Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais.” Exemplifica-se: se uma criança brasileira for criada na África, ela crescerá como uma criança africana, aprendendo a língua, os hábitos, crenças e valores dos africanos. Por outro lado, se uma criança africana for criada no Brasil, ela crescerá como uma criança brasileira, aprendendo a língua, os hábitos, crenças e valores dos brasileiros. Complemente a sua preparação examinando o método etnográfico com o Plano de aula 3.
Diversidade cultural, globalização e multiculturalismo.
Em todas as sociedades humanas percebemos a existência de diversos hábitos, costumes, linguagem, estilos de vida. Essa multiplicidade de formas de ver, sentir e se inserir no mundo denomina-se diversidade cultural. Como consequência das grandes transformações verificadas com a expansão do processo de globalização nas últimas décadas, o mundo tornou-se, cada vez mais, marcado pela diversidade cultural e a convivência de diferentes formas de agir, de padrões culturais, de estilos de vida.
Multiculturalismo
Preconiza a interação entre as diferentes culturas, sem hierarquização de saberes e modos de vida.
Você pode refletir sobre a relação existente entre o tema multiculturalismo e o desenvolvimento de políticas públicas na área educacional voltadas para a efetivação da universalização do acesso ao ensino superior, por exemplo, bem como a inclusão do estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena nos currículos da Educação básica brasileira, demonstrama importância para o ensino da diversidade cultural no Brasil. Complemente a sua preparação com o Plano de aula 4.
O contexto histórico da formação da Sociologia.
Iluminismo
Século XVIII - Europa (começou na Inglaterra e na França) Ideia de valorizar a ciência e a racionalidade no entendimento da vida social tornou-se ainda mais forte. Combate ao Estado absoluto, ou absolutismo (que começou a surgir na Europa ainda no final da Idade Média, no século XV, em que o rei concentrava todo o poder em suas mãos e governava sendo considerado um representante divino na terra, uma voz de Deus, a qual até a igreja, não raramente, se sujeitava).
A influência do Iluminismo para o surgimento da Sociologia pode ser a partir das teorias sobre a sociedade que surgiram no período Iluminista, contribuindo para a ideia da existência de uma ciência que pudesse ajudar a interpretar os movimentos da própria sociedade.
Revolução Francesa e Revolução Industrial
A influência da Revolução Francesa (França, 1789) e da Revolução Industrial (Inglaterra, 1780 a 1860) para o surgimento da Sociologia guardam relação com a mesma ideia já apontada em relação ao Iluminismo, ou seja, a importância da existência de uma ciência que pudesse ajudar a interpretar os movimentos da própria sociedade.
 Tais acontecimentos históricos resultaram em grandes mudanças na vida das pessoas, com grande impacto social, por conta do processo de industrialização e urbanização da sociedade Capitalista que ali se implantava. Interpretar cientificamente tais mudanças sociais era o desafio que se apresentava.
NEOCOLoNIALISMO E DARWINISMO SOCIAL
O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e pelo Neocolonialismo, cujas consequências se projetaram para os séculos XX e XXI. O desenvolvimento industrial se fez acompanhar pelo desenvolvimento científico, que por sua vez impulsionou ainda mais a indústria em função de descobertas e invenções. Nos centros urbanos europeus respirava-se desenvolvimento e acreditava-se que a tecnologia e a máquina resolveriam todos os problemas do homem. A indústria cresceu e com esse crescimento vieram as crises de produção porque a superprodução não era acompanhada pelo consumo. A solução para a crise de consumo foi encontrada no neocolonialismo, ou imperialismo do século XIX.
Esse colonialismo se direcionou para a África e a Ásia, que foi partilhada entre as nações europeias. A América escapou desse colonialismo porque se tornara independente pouco antes. Todas as tentativas de reação por parte das nações dominadas pelos impérios europeus foram enfrentadas com o uso das armas por parte das nações europeias. Foi neste cenário de expansão imperialista que surgem inéditas tentativas de explicação da realidade social. A primeira delas, como vermos a seguir, foi o chamado darwinismo social.
Por outro lado, as sociedades foram divididas em raças superiores e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, consequentemente, aos mais desenvolvidos levar o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria ser levada a todos os homens. É claro que o Darwinismo Social serviu para justificar a ação imperialista das nações europeias. Foi nesse cenário de constantes conflitos sociais, políticos, econômicos e religiosos, cenário marcado pela industrialização e pelo cientificismo, que nasceu a Sociologia.
O positivismo de Auguste Comte.
O pensador francês Augusto Comte (1798-1857) sistematizou a primeira corrente teórica do pensamento sociológico: o positivismo. 
Essa corrente teórica foi a primeira a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação. Além disso, o positivismo, ao definir a especificidade do estudo científico da sociedade, conseguiu distinguir-se de outras ciências estabelecendo um espaço próprio à ciência da sociedade.
Comte acreditava que sua principal contribuição foi a teoria de que a humanidade passou por três estágios de evolução histórica e cultural e de desenvolvimento intelectual, a que chamou de “Lei dos três estados”. Para ele, as ideias conduzem e transformam o mundo e é a evolução da inteligência humana que comanda o desenrolar da história.
O espírito humano, em seu esforço para explicar o universo, passa sucessivamente por três estados:
Teológico ou religioso: em que se explicam os fatos por meio de entidades sobrenaturais. Este estado evolui do fetichismo, ao politeísmo e, por fim, ao monoteísmo.
Metafísico: substitui os deuses por princípios abstratos como “o horror do vazio” por longo tempo atribuído à natureza. A tempestade, p.e., será explicada pela virtude dinâmica do ar
São igualmente metafísicas as tentativas de explicação dos fatos biológicos que partem do “princípio vital”, assim como as explicações das condutas humanas que partem da noção de “alma”.
Positivo: é aquele em que o espírito renuncia a procurar os fins últimos e procura responder aos últimos “porquês”. Busca-se descrever como os fatos se passam, em descobrir as leis segundo as quais os fenômenos se encadeiam uns aos outros. Há a predominância das explicações científicas.
Tal concepção influencia diretamente na técnica: o conhecimento das leis positivas da natureza nos permite, com efeito, quando um fenômeno é dado, prever o fenômeno que se seguirá e, eventualmente agindo sobre o primeiro, transformar o segundo.
Os traços mais marcantes do Positivismo são certamente a excessiva valorização das ciências e dos métodos científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da humanidade.
Amplie sua performance na AV1 examinando a distinção feita por Comte entre a sociologia estática e a sociologia dinâmica. Veja também a influência do positivismo no Brasil, “Ordem e Progresso”, complementando seus estudos com o Plano de aula 6.

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