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Módulo 2 Princípios do Direito Contratual

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Disciplina: Direito Civil III – Contratos
Módulo 2. Princípios do Direito Contratual
2. Considerações iniciais
2.1. A importância do tema
A presente aula versa sobre tema de extrema importância, servindo de diretriz de hermenêutica contratual, especialmente em face das inovações do Código Civil brasileiro no campo das obrigações e dos contratos.
2.2. Conceito de contrato e princípio
Para a doutrina moderna, contrato corresponde a declarações de vontades concordantes, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com vistas à criação, modificação, extinção ou conservação de relações jurídicas. 
Constituindo fonte mediata de obrigação e o mais expressivo modelo de negócio jurídico bilateral, e deve ser utilizado como um mecanismo de conciliação entre as partes e não de opressão, de pacificação social e de desenvolvimento econômico.
Os princípios contratuais são as normas que ordenam que as partes que voluntariamente expressa vontades concordantes com um determinado fim de criação, modificação, extinção ou conservação de determinada relação jurídica, realizem algo, ou observem algo em conformidade com as possibilidades jurídicas e do caso contrato.
2.3. Os princípios e a Nova Teoria Geral dos Contratos
Tendo em vista o conceito de contrato dentro da nova teoria geral dos contratos, percebe-se que não há mais que se falar em contrato como junção de vontades antagônicas, visa-se a colaboração visando o alcance de objetivos comuns, mais ou menos consensuais.
3. Dos Princípios Contratuais
3.1. Princípio da Autonomia Privada
Obs. Art. 421 e 425 CC.
Corresponde a autorização do sistema jurídico para que nas relações de direito privado qualquer pessoa possa regulamentar os próprios interesses por meio da declaração de vontade, nos limites, entretanto, da lei e dos bons costumes.
Ressalte-se que a nomenclatura autonomia privada é dada por parte da doutrina moderna, permanecendo os manuais de direito civil a utilizar a nomenclatura autonomia da vontade a despeito de não mais apresentar-se adequada. 
Ocorre que, referido princípio deve ser visto em harmonia com o princípio da supremacia da ordem pública e em razão deste princípio e do princípio da função social do contrato, a autonomia privada vem sofrendo relativizações, senão vejamos:
- liberdade de escolher se contrata ou não: esta liberdade possui exceções como os contratos obrigatórios do CDC, ou o contrato de seguro obrigatório, exceções estas derivadas de outros princípios, como por ex. função social.
- liberdade de escolha do sujeito com quem contratar: existem contratos que forçosamente você é obrigado a fazer com pessoa determinada. Ex. o contrato de transporte com companhia x., percebendo-se que com a realidade moderna escapa cada vez mais esta liberdade ao indivíduol.
- liberdade de constituir o conteúdo do contrato: quanto ao conteúdo do contrato a liberdade vem sendo cada vez mais suprimida. Em alguns setores os consumidores são conduzidos as partes não participares de sua formação, p. ex. contratos de adesão. (obs. Dirigismo contratual. Restringe autonomia privada de escolha do conteúdo contratual)
3.2. Princípio da Supremacia da Ordem Pública
Princípio segundo o qual a atuação Estatal pode mitigar o princípio da autonomia privada, reduzindo a liberdade de contratar, já que impede o contrato de trazer preceitos que colimam com a moral, com as normas de ordem pública e com os bons costumes.
Ex. art. 426 CC pacto de Corvina. Herança de pessoa viva. 
O princípio da supremacia da ordem pública é resultado da constatação no século XX de que a ampla liberdade de contratar provoca desequilíbrios e a exploração do economicamente mais fraco, fazendo-se necessária a intervenção do Estado em alguns setores para restabelecer e assegurar a igualdade dos contratantes em prol dos interesses sociais.
Ressalte-se que a intervenção estatal na vida contratual é hoje tão intensa em determinados campos, como o da telecomunicação, seguros, sistema financeiro, etc, que se configura um verdadeiro dirigismo contratual, ou seja, a intervenção incomum do Estado nas relações entre particulares no direito privado.
Obs. Art. 173 parágrafo 4º. Da CF.
3.3. Princípio do Consensualismo
Segundo este princípio o contrato considera-se celebrado com o acordo de vontades, ou seja, o contrato resulta do consenso, independente da entrega da coisa. Ex. A compra e venda de bem móvel, por exemplo, é um acordo de vontades, sendo a tradição e o pagamento apenas o meio de transferência da propriedade, apresentando-se como uma segunda fase, a do cumprimento das obrigações assumidas pelos contratantes.
Há alguns contratos, no entanto, que exigem, para se aperfeiçoarem, além do acordo de vontades, a tradição. São chamados contratos reais. Exemplos: mútuo (empréstimo de coisa fungível), comodato (empréstimo de coisa infungível), depósito. 
Formalismo = exceção. Art. 107 CC.
3.4. Princípio da relatividade dos efeitos do contrato
Funda-se na idéia de que os efeitos dos contratos só se produzem em reação às partes contratantes, a aqueles que manifestaram a vontade, não afetando, “a priori” terceiros, salvo exceções consignadas na lei.
Ademais, quando o contrato era trabalhado longe da função social, princípio posteriormente trabalhado, o contrato era visto como instrumento cuja eficácia era apenas interna, terceiro jamais poderia sofrer os efeitos do contrato. Quando se fala na função social do contrato, pensa-se que apesar de vê-la por interesses de pessoas pré-determinadas, faz com que as determinações do contrato projetem com relação a terceiros irremediavelmente. 
Exceção. Art. 436 – 438 CC e art. 467-471 CC
Obs. Tutela externa de Crédito. Caso Zeca Pagodinho – relação com princípio da boa-fé objetiva.
3.5. Princípio da força obrigatória dos contratos ou princípio da obrigatoriedade da convenção ou de Princípio do Pacta Sunt Servanda
Este princípio decorre da convicção de que o acordo de vontades (contrato) faz lei entre as partes, não podendo ser alterado nem mesmo pelo juiz. Representa a força vinculante das convenções.
Segundo o princípio da autonomia privada ninguém é obrigado a contratar, mas quando o fizerem, porém sendo o contrato válido e eficaz, devem cumpri-lo conforme pactuado. 
Aplica-se não apenas no ato inicial de conclusão da avença, mas vale ao logo de sua interpretação e aplicação. 
Com o Novo CC, referido princípio perdeu o seu caráter absoluto, intransponível, passando a ter uma força relativa, já que poderá ser suavizado, quando oprimir uma das partes, colocando-a em uma espécie de prisão, tornando-o instrumento de injustiças que não se atenta para o respeito à dignidade da pessoa humana.
Exceção. Caso fortuito ou coisa maior. Art. 389 CC;
3.6. Princípio da revisão dos contratos ou da Onerosidade Excessiva. Rebus Sic stantibus
Este princípio opõe-se ao princípio da obrigatoriedade, pois permite que os contratantes em hipóteses excepcionais possam recorrer ao Judiciário para obter alteração da convenção e condições. Faz presumir a existência implícita de uma cláusula segundo a qual a obrigatoriedade do cumprimento do contrato pressupõe inalterabilidade da situação de fato.
Traz este princípio como requisito de sua aplicação:
- contratos comutativo, de execução continuada.
- fato extraordinário, imprevisível e geral; Imprevisível é aquilo que está fora do campo de previsão das partes, é aquilo que não pode ser legitimamente esperado pelas partes, de acordo com a justa expectativa que deve ser analisada no momento da conclusão do contrato
- considerável alteração da condição de fato existente no momento da execução do contrato;
- onerosidade excessiva.
a) Art. 317 – permissão para revisão dos contratos. Prestação desproporcional. 
B) art. 478 à 480 CC. Revisão e resolução dos contratos. Onerosidade Excessiva.
3.7. Princípio da Boa-Fé 
Segundo o princípio da boa-fé, exige-se que aspartes se comportem de forma correta, a se conduzirem de modo colaborativo, e dentro dos critérios da confiança e da lealdade, não só durante as tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato.
A confiança é a matriz deste princípio hermenêutico que importa em interpretar e integrar os contratos segundo os valores d crença e da conduta proba, correta e leal.
BOA BÉ OBJETIVA – decorrência direta – ETICIDADE (Judith Martins Costa e Miguel Reale)
Art. 422 do CC. – Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da probidade e da boa-fé.
Obs. Enunciados 24 e 26 das Jornadas de Direito Civil do STJ.
a) espécies
A boa-fé biparte-se em Objetiva e Subjetiva. A subjetiva é a boa-fé psicológica, e a objetiva, apresenta-se como uma cláusula geral que impõe norma de conduta, fundada em um princípio geral do direito, segundo o qual todos devem comportar-se de boa-fé nas relações recíprocas, é a denominada concepção ética da boa-fé. 
Para Maria Helena Diniz, “ a boa-fé objetiva é alusiva a um padrão comportamental a ser seguido com base na lealdade, impedindo o exercício abusivo de direito por parte dos contratantes, no cumprimento não só da obrigação principal, mas também das acessórias, inclusive do dever de informar, de colaborar e de atuação diligente.
Enunciado. 24 do CJustiçaFederal: “em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.
Assim esse deveres anexos trariam mais valores a serem considerados.TRANSPARÊNCIA. VERACIDADE. ASSISTÊNCIA E INFORMAÇÃO. COLABORAÇÃO – CONFIANÇA – LEALDADE – HONESTIDADE – RETIDÃO – CONSIDERAÇÃO – 
3.8. Princípio da Função Social do Contrato 
Trata-se de diretriz que impõe às partes o dever/encargo a constituírem relações contratuais que respeitem as circunstâncias sociais para as quais aquela relação se destina ou nas quais, esta relação se forma/ se realiza.
É o contrato em que as cláusulas estabelecidas pelas partes atendam aos interesses comuns sem desatender os interesses sociais relevantes que circundam o contrato. Ex. interesses difusos coletivos, da ordem econômica.
Está positivado no artigo 421 do CC, segundo o qual: “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”.
A função social do contrato é o retrato do princípio da socialidade, que representa a junção de vários direitos coletivos, objetivando buscar uma socialização do direito, rompendo com o individualismo do Código de 1916, “Código Beviláqua”, apresentando-se como um retrato da interpretação constitucional do direito civil.
Obs. Enunciado 23 das Jornadas de Direito Civil do STJ.
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