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1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Ciências Econômicas Introdução à Economia II 1º. semestre 2014 Nota de aula 13 – Política macroeconômica Honorio Kume 1. Política monetária versus inflação O gráfico 1 mostra que a economia está em equilíbrio de longo prazo no ponto A, com uma taxa de inflação e uma expectativa de inflação π3 e o PIB real efetivo é igual ao PIB potencial, isto é, o desvio ou hiato do produto é zero. Lembrando que hiato do produto nulo significa que a taxa de desemprego é igual à taxa de desemprego natural. Gráfico 1 – Política monetária pra reduzir a taxa de inflação No entanto, este equilíbrio de longo prazo proporciona uma taxa de inflação π3 considerada elevada demais pelos condutores de política econômica. Em aula posterior, veremos os custos de uma inflação elevada. PIB real OACP1 0 3 OALP DA1 A OACP0 2 B H < 0 0 DA2 A 1 2 2 Para combater a inflação, o Bacen altera a regra de política monetária, isto é, a taxa de juros nominal passa a ser mais elevada a cada nível de inflação, gerando também uma maior taxa de juros real. Por exemplo, no gráfico 2, com a regra monetária 1, se a inflação atinge 10% ao ano, o Bacen fixava uma taxa de juros nominal de 14% ao ano, produzindo uma taxa de juros real de 4%. Com a regra monetária 2, com a mesma taxa de inflação de 10% ao ano, o Bacen fixa uma taxa de juros nominal de 16% ao ano, produzindo uma taxa de juros real de 6%. Gráfico 2 – Mudança na regra de política monetária: restritiva A nova regra monetária desloca a curva de demanda agregada de DA2 para DA1. A economia passará do ponto A para B em equilíbrio de curto prazo, com uma inflação menor π2 e um hiato do produto negativo. A taxa de desemprego é maior do que a taxa natural. Assim, no curto prazo, a política monetária conseguiu reduzir a inflação de π3 para π2, mas com custo de desemprego maior. O resultado final da política monetária restritiva aparece somente no longo prazo. A inflação de π2 está abaixo da inflação esperada de π3. Assim, as famílias e as empresas reduzem a expectativa de inflação deslocando a curva de oferta agregada de OACP1 para OACP2. Quando isso ocorre a inflação cai mais ainda e o Bacen segue a nova regra monetária reduzindo a taxa de juros nominal e, consequentemente, a taxa de juros real cai, elevando o dispêndio agregado. No final, a economia se desloca do ponto B para C, com taxa de inflação de π1 e hiato do produto nulo, isto é, a taxa de desemprego é igual a taxa natural. (%) Regra de política monetária 1 ir, in (%) 6 Taxa de juro real 1 10 14 4 16 Regra de política monetária 2 Taxa de juro real 2 3 Portanto, no longo prazo, a política monetária atinge o objetivo de reduzir a taxa de inflação, mas ao custo de um desemprego temporário. Neste período de transição para reduzir a taxa de inflação, a taxa de juros real fica mais alta. Vale a pena arcar com estes custos? Não há uma resposta precisa, mas a maioria dos países busca manter uma taxa de inflação reduzida, entre 2% a 3%. Há alguma forma de diminuir a inflação sem custo? Infelizmente não. Assim, a melhor política é evitar que a inflação se acelere evitando o custo de reduzi-la. 2. Política monetária versus choques na demanda agregada Inicialmente, a economia está em equilíbrio de longo prazo no ponto A, com uma taxa de inflação e uma expectativa de inflação π0 e o PIB real efetivo é igual ao PIB potencial, isto é, o desvio ou hiato do produto é zero (gráfico 2). Gráfico 2 – Política monetária de acomodação frente ao dispêndio agregado excessivo Agora, suponha há um choque deslocando a curva de demanda agregada DA1 para DA2. Isto pode ser decorrente de uma onda de otimismo sobre o futuro da economia que eleve o consumo PIB real OACP1 0 2 OALP DA2 C OACP0 1 B H1 0 DA1 A 4 das famílias e/ou o investimento das empresas ou decorrente de um aumento nos gastos do governo ou combinação de todas elas. No curto prazo, a economia passa do ponto A para B, com uma taxa de inflação maior π1 > π0 e um hiato de produto positivo, isto é, o PIB efetivo é superior ao PIB potencial. Neste contexto, o Bacen tem que optar em alterar ou não a política monetária. a) “não fazer nada” – manter a regra política monetária Diante do aumento da inflação de π0 para π1, o Bacen aplica a regra monetária vigente e eleva a taxa de juros nominal e, consequentemente, a taxa de juros real se eleva reduzindo o consumo das famílias e as compras de máquinas e equipamentos das empresas. Ao mesmo tempo, o aumento da taxa de inflação eleva a expectativa de inflação dos trabalhadores e dos empresários, deslocando a curva de oferta agregada de curto prazo de OACP1 para OACP2. No equilíbrio de longo prazo, a economia atingirá o ponto C, onde o hiato do produto será nulo e a inflação será π3. Este procedimento é denominado política monetária de “acomodação”. Em outras palavras, o Bacen sanciona o choque de demanda favorável. Em resumo, esta política proporciona no curto prazo um período de rápido crescimento da produção e uma inflação mais alta. No longo prazo, a produção retorna ao produto potencial, mas com inflação ainda maior. b) política monetária restritiva O objetivo desta política é reduzir a taxa de inflação π2 de volta para o nível inicial π1. Para alcançar esta meta, o Bacen altera a regra de política monetária, fixando uma taxa de juros nominal mais elevada para qualquer nível de inflação, o que aumenta a taxa de juros real. Assim, a curva de demanda agregada se desloca de DA2 para DA1 e a economia retorna ao ponto A (gráfico 3). Com esta política monetária, o Bacen evita que as famílias e os empresários elevem a expectativa de inflação, o que deslocaria a curva de oferta agregada de curto prazo para cima. 5 Gráfico 3 – Política monetária restritiva frente ao dispêndio agregado excessivo 3. Política monetária frente a choque de oferta agregada A economia está em equilíbrio de longo prazo no ponto A, com uma taxa de inflação e uma expectativa de inflação π0 e o PIB real efetivo é igual ao PIB potencial, isto é, o desvio ou hiato do produto é zero (gráfico 4). Gráfico 4 – Política monetária de acomodação frente ao dispêndio agregado PIB real 0 OALP DA2 OACP0 1 B H1 0 DA1 A 1 2 PIB real OACP1 0 2 OALP DA2 C OACP0 1 B H1 0 DA1 A 1 2 6 Um choque de oferta agregada desloca a curva de OACP1 para OACP2 e a economia passa, no curto prazo, do ponto A para B, com uma taxa de inflação maior π1 > π0 e um hiato de produto recessivo. Neste contexto, o Bacen tem que optar entre alterar ou não a política monetária. Se adota uma politica de acomodação e muda a regra de política monetária e desloca curva de demanda agregada de DA1 para DA2. No equilíbrio de longo prazo, a economia passará do ponto B para C, com uma taxa de inflação π3, mas com hiato do produto nulo. Se mantém a regra de política monetária, isto é, garante que a meta de inflação continuará sendo π1, a taxa de juro real aumenta e o dispêndio agregado se reduzirá. O Bacen precisa manter esta política o tempo que for necessário para convencer os trabalhadores e os empresários que a inflação será π1. Quando esteconvencimento ocorre, a curva de oferta de curto prazo se deslocará de OACP2 para OACP1. No longo prazo, a economia retornará ao ponto A, com a taxa de inflação inicial. Dilema do Bacen: a) política monetária de acomodação elimina rapidamente o desemprego às custas de uma inflação mais elevada; b) política de não acomodação: o desemprego persistirá até convencer os agentes econômicas que o Bacen não abrirá mão de manter a taxa de inflação em π1, ainda que as custas de um desemprego temporário. Quanto tempo durará o desemprego temporário? O tempo dependerá de como as pessoas esperam que o Bacen se comportará. Se as pessoas acreditam que, o Bacen manterá a meta de inflação inicial de π1, considerarão a inflação π2 temporária e manterão as suas expectativas de inflação em π1. Quando isso ocorre, afirmamos que a inflação está ancorada em π1. Portanto, os aumentos de salários e preços continuarão sendo baseadas na taxa de inflação π1, e a curva de oferta agregada de curto prazo OACP2 voltará rapidamente para OACP1 (gráfico 5). 7 Gráfico 4 – Política monetária sem acomodação frente ao dispêndio ao choque de oferta agregada A decisão do Bacen pode depender de quanto tempo demorará para a economia retornar do ponto B para o ponto A. Se o desemprego temporário for prolongado pode tender a optar por política de acomodação. Se for curto, pela não acomodação. 4. Política monetária e o núcleo da inflação Considere uma economia com 5 bens cujos os preços são: P1, P2, P3, P4, P5 inflação = variação no preço médio P1 sofre um grande aumento aumento no preço médio (inflação) Se o Bacen quer evitar a inflação, será preciso provocar uma recessão para que os demais tenham redução de modo que o preço médio fique constante. Esta política terá um custo social alto. Ao invés desta política, o Bacen pode aceitar o aumento no preço médio (efeito de primeira ordem) , mas evitar que o aumento na taxa de inflação eleve a expectativa de inflação e se propague para os outros bens (efeito de segunda ordem). Então, a questão fundamental é como evitar que o efeito de primeira ordem não altere as expectativas de inflação. PIB real OACP1 0 OALP OACP0 2 B H1 1 DA1 A 1 2 8 Para alcançar este objetivo, o Bacen pode focar o núcleo da inflação, isto é, o preço médio dos bens, exclusive o bem 1. Esta decisão não é feita a posteriori, mas anunciada antecipadamente. O Bacen avisa que medida de inflação relevante corresponde ao núcleo da inflação. Por exemplo, nos EUA, o núcleo da inflação corresponde ao aumento dos preços de todos os bens da cesta de consumo, exceto energia e alimentos. Assim, mesmo que ocorra um aumento no preço do bem 1, o Bacen mudará sua política monetária apenas se perceber que os demais preços também estão aumentando. 5. Expectativas de inflação e credibilidade Como evitar que o aumento no preço do bem 1 contamine os preços dos demais bens? Isto significa que apesar do aumento do preço do bem 1, a elevação do preço dos demais bens se baseia em outro fator que é denominado âncora nominal. Por que os produtores seguiriam esta âncora nominal ignorando que o aumento no preço do bem 1 e evitando as elevações generalizadas nos preços dos demais bens? Muitos economistas acreditam que depende da credibilidade da política monetária, isto é, o grau no qual as pessoas confiam na promessas do Bacen de manter a inflação baixa, mesmo que esta decisão talvez imponha custos sociais no curto prazo. Como o Bacen conquista esta credibilidade como garantidor de inflação baixa? Alguns requisitos: a) Banco Central independente do executivo A diretoria do Banco Central é nomeada pelo executivo por um mandato definido com a missão de manter uma inflação reduzida e não pode ser demitida, a não ser em casos justificados. Por exemplo, na ocorrência de um choque inflacionário, o executivo não pode ordenar ao Banco Central que adote uma política de acomodação. b) Anunciando uma meta de inflação O Bacen recebe como meta manter a inflação dentro de certos limites. Por exemplo, no Brasil, entre 2,5% e 6,5%, com centro em 4,5%. 9 Se o Bacen sempre procura manter a inflação em torno do centro da meta, não importa o custo social das medidas a serem adotadas, as pessoas passarão a ter a expectativa de inflação igual ao centro da meta. Assim, eventuais choques de oferta ou de demanda não serão capazes de alterar a expectativa de inflação, por que as pessoas sabem antecipadamente que o Bacen atuará para que a taxa de inflação retorne rapidamente ao centro da meta. Por que a meta de inflação não é zero? Algumas justificativas: a) como nunca o resultado é preciso, se a meta de inflação for zero, há o risco de uma inflação negativa, isto é, deflação que pode se acentuar. A experiência mostra que uma deflação pode causar mais danos ao produto do que a inflação; b) em situações excepcionais, a política monetária pode exigir uma taxa de juros real negativa. Como a taxa de juros nominal pode chegar no limite inferior a zero, se a inflação for nula nunca a taxa de juros real será negativa; c) medidas usuais de inflação superestimam a verdadeira inflação, portanto, uma inflação de 1% pode significar na realidade uma inflação de 0%; d) mudanças setoriais podem exigir menos salários reais em alguns setores. Como é difícil reduzir o salário nominal é necessária uma inflação para diminuir o salário real. 6. Política fiscal versus inflação A política fiscal pode ser utilizada para combater um aumento no dispêndio agregado? Sim, se a curva de demanda agregada se desloca para a direita devido a maior confiança das famílias e das empresas sobre o futuro da economia, o governo pode compensar o aumento no consumo e no investimento, reduzindo os seus gastos. Na realidade, reduzir gastos do governo é uma tarefa politicamente difícil. Um grupo pequeno de economistas acredita que a política fiscal de redução dos impostos pode ter efeitos do lado da demanda e também do lado da oferta. 10 Por exemplo, se o governo reduz o imposto sobre o trabalho a demanda, a renda disponível se eleva e a oferta também por meio da maior disponibilidade para o trabalho, o que eleva o produto potencial (gráfico 6). Gráfico 6 – Impacto de uma redução no imposto sobre o trabalho Neste caso, o deslocamento das curvas de demanda agregada e da oferta agregada são iguais e a inflação se mantém constante. 7. Execução da política monetária: arte ou ciência? A elaboração de uma política monetária perfeita exigiria o conhecimento dos seguintes elementos. a) Conhecimento preciso do estado atual da economia. As informações sobre o PIB e o nível de desemprego são obtidas com atraso e ainda estão sujeitas a revisão. b) Conhecimento do caminho futuro da economia se as mudanças políticas não forem implementadas. Se a economia alcançará o pleno emprego em tempo aceitável, não é prudente a adoção de medidas para estimular a economia. c) conhecimento preciso do produto potencial para calcular o hiato do produto. PIB real 0 OALP 1 A 0 DA1 B 1 2 DA2 11 Não se conhece com precisão o nível de produto potencial e da taxa de desemprego natural. d) controle completo e imediato das ferramentas da política fiscal e monetária. Há defasagens no tempo no manuseio das políticas fiscal e monetária. Por exemplo, entre elevar os gastos do governo e aumentar efetivamente os gastos demora um tempo. Os cálculos de qual é o aumento nos gastos necessário depende do multiplicadorque por sua vez depende da propensão marginal a consumir e importar. A política monetária é de aplicação mais imediata. Em casos de urgência, o Bacen pode realizar reuniões extraordinárias para acelerar a decisão. e) conhecimento de como e quando a economia responderá as mudanças na política. Após a execução da nova política fiscal e monetária, a resposta da economia ocorre com defasagens no tempo. Em resumo, respondendo a questão, parece ser tanto ciência como arte. A melhoria dos modelos econômicos permite simular os resultados das mudanças de política com mais precisão e novas estimativas ajudam a fornecer informações mais corretas. Mas, a avaliação humana com base na longa experiência – o que é chamado “arte” da política macroeconômica – desempenha um papel crucial na elaboração de políticas macroeconômicas bem sucedidas. Referências bibliográficas Frank, R. H. e Bernanke, B. S. Princípios de Macroeconomia. Porto Alegre: AMGH Editora, 2012 (4ª. edição), cap. 25, p. 741-767.
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