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DA LESÃO CORPORAL

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Lesão corporal
	O artigo 129 do CP tutela a saúde e a integridade corporal: estes são os bens jurídicos ali protegidos. Serão abordados todos os aspectos e modalidades de lesão.
	Lesão corporal é qualquer dano, interno ou externo, à normalidade funcional do corpo humano, sob o ponto de vista anatômico (forma e estrutura corporal), fisiológico (funções biológicas), ou mental (choques, convulsões, ou quaisquer formas de desestabilização mental).
O que pune o art. 129, de modo geral? Pune “ofender a incolumidade pessoal de outrem.” Vão acostumando: não falem em incolumidade física porque não é o único bem jurídico. É ofender a incolumidade pessoal de outrem.
	A lesão corporal é um crime de dano, material, sendo necessária sua comprovação por meio do laudo pericial, direto ou indireto. A simples inflição de dor não configura o crime de lesões corporais. Pode até configurar outro crime, como a tortura, ou a contravenção de vias de fato, do artigo 21 da Lei das Contravenções Penais, mas lesão corporal não é.
ART 21 DL 3.688/41
Pelo ensejo, vale desde logo traçar a diferença entre lesão corporal e vias de fato, eis que esta contravenção pode até mesmo, eventualmente, deixar vestígios danosos, sem configurar lesão. Veja o artigo 21 do DL 3.688/41:
“Art. 21. Praticar vias de fato contra alguem: 
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não constitue crime. 
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003).”
A contravenção se configura quando existe uma violência, mas não há dolo de causar lesão, ou seja, não se pretende, com a violência, ferir a integridade física ou a saúde da vítima. Se há a lesão, decorrente das vias de fato, pode até mesmo haver a imputação por lesão culposa, em concurso com a contravenção. A diferença é puramente no dolo: na lesão corporal, há o animus laedende, enquanto nas vias de fato o dolo não é de lesionar – há dolo de empregar violência sem causar qualquer lesão.
ART 140, § 2°, do CP:
Da mesma forma, não se confundem, a lesão corporal ou as vias de fato, com o crime de injúria real, do artigo 140, § 2°, do CP:
“Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
(...)
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.”
Novamente, a diferença está no dolo: o agente que pratica a violência ou vias de fato, aqui, não quer meramente usar de violência, tampouco causar lesão. Seu ânimo é de humilhar, causar avilte vexaminoso à vítima.
Repare que o ato físico, a execução, pode ser a mesma em todos as três infrações: um tapa no rosto pode ser qualquer das três tipificações, a depender do ânimo do agente. E pode, inclusive, haver concurso na ação do agente.
Cortar cabelos da vítima, sem autorização dela, é lesão corporal? É crime ou não é crime? 
1ª Corrente:	Pode configurar lesão corporal se a conduta provocar uma alteração desfavorável no aspecto exterior do indivíduo. 
2ª Corrente:	Pode configurar injúria real.
3ª Corrente (minoritária):Pode configurar vias de fato.
	Vocês vão até encontrar jurisprudência dizendo que o cabelo pode ser objeto de furto. Particularmente, eu fico com as duas primeiras correntes porque elas se complementam. Tudo depende do dolo do agente. Pode ser um ou outro, a depender do dolo do agente.
ART. 129: GENERALIDADES
	Sujeito ativo – Quem é o potencial sujeito ativo? Quem pode praticar lesão corporal? Exige-se alguma qualidade ou condição especial do agente? 
	“Trata-se de crime comum, não se exigindo qualidade especial do agente.” Qualquer pessoa pode praticar lesão corporal em outra. 
	
	Sujeito passivo – Quem pode ser sujeito passivo da lesão corporal? Olha a resposta do seu concorrente: “qualquer pessoa”. Vocês vão dizer o seguinte: “em regra, qualquer pessoa pode ser vítima de lesão corporal porque nós temos duas hipóteses claras de vítimas especiais.”
	Cuidado! Nós temos duas hipóteses de sujeitos especiais. Primeira hipótese? Art. 129, § 1º, IV, onde a vítima, necessariamente é gestante. E o art. 129, § 2º, V, onde a vítima, também, necessariamente é gestante. O inciso IV fala da aceleração do parto, quando a lesão provoca a aceleração do parto. E o inciso V fala da lesão que resulta aborto. Nessas duas hipóteses, a vítima é personagem principal. Nessas duas hipóteses, a vítima deve ser gestante. Só vocês vão anotar isso. A maioria vai colocar que qualquer pessoa pode ser vítima de lesão corporal. Concordo, mas em regra porque há duas hipóteses de lesão em que a vítima é especial.
	Vocês já estão cansados de saber que o direito penal não pune a autolesão. Você não tem como ser sujeito ativo e passivo ao mesmo tempo. 
Eu quero saber: que crime pratica uma pessoa que convence um inimputável (seja um doente mental, seja um ébrio) a praticar lesão corporal em si mesmo? 
Eu convenci um doente mental a ferir o braço. Que crime eu pratiquei? Respondo por algum crime? Qual é a resposta? Já caiu isso em concurso. Que crime pratiquei eu, que me vali da sua incapacidade para feri-lo? Eu respondo por lesão corporal na condição de autor mediato. O meu instrumento? A incapacidade dele.
Mais uma questão interessante: imaginem uma pessoa se dirigindo para dar um soco em outra. Essa vítima desvia do soco, porém, se desequilibra, cai e fratura o braço. Quem deu o soco vai responder pela fratura do braço ou vai responder por tentativa de lesão? 
O examinador perguntou a resposta e mandou fundamentar. Ele vai responder pela fratura do braço. Por quê? Porque a queda da vítima é uma concausa relativamente independente superveniente que não por si só produziu o resultado. Logo, quem começou responde pelo resultado final.“O agressor responde pela fratura do braço da vítima pois a sua queda é uma concausa relativamente independente superveniente que não por si só produziu o resultado. Embasamento legal: art. 13. § 1º, do CP, a contrário sensu. ”. Eis o fundamento para ele responder pela fratura do braço.
	
	Agora, prestem atenção: trata-se de crime de execução livre. Pode ser praticado por ação ou omissão. O crime pode ser causar a enfermidade ou agravar a enfermidade que já existe. Responde por lesão corporal aquele que causa a enfermidade, bem como aquele que agravou uma enfermidade que já existe. Pratica lesão quem cria ferimento ou quem agrava o ferimento que já existe. Tudo isso é lesão. 
	Vocês acham dispensável ou indispensável a dor? A vítima tem que sentir dor? Não. A dor é dispensável. É circunstancia que será analisada pelo juiz na fixação da pena. Cuidado! Esse crime não precisa produzir dor. Desmaio pode ser lesão corporal.
Eu quero saber o seguinte: num abriga, a pluralidade de ferimentos na vítima, gera pluralidade de crimes? A vítima fica com hematomas no corpo, perna esfolada, maxilar quebrado, cada um gera um crime? Anotem:
	“A pluralidade de ferimentos no mesmo contexto fático não desnatura a unidade do crime, isto é, o crime continua um só. Porém, será considerada na fixação da pena.”
Eu quero saber o seguinte: a incolumidade pessoal é um bem disponível ou indisponível? A vítima consente que você ofenda o corpo dela, você praticou algum crime? Para você saber se o consentimento da vítima exclui ou não a ilicitude, você tem que saber, primeiro, se o bem jurídico lesado é disponível ou indisponível. A incolumidade pessoal do indivíduo é bem disponível ou indisponível? Você pode me pedir para te dar um soco? Se eu dou, eu dou o soco, eu pratiquei algum crime?
Se você acha que é indisponível (e é o que pensa a doutrina tradicional), imaginem só aquela jovem que vai até o local adequado e pede para colocar um piercing no umbigo. O homem
perfura e na hora que ele vai cobrar, ela diz: “ah, não. Você está preso em flagrante, lesão corporal”. “Ah, mas a senhora concordou.” “F*-se, incolumidade é indisponível, o senhor está preso. Vou chamar a polícia.” É isso? 
Por isso, a doutrina moderna vem dizendo o seguinte: a incolumidade pessoal é um bem relativamente disponível. 
“Será disponível quando se tratar de lesão leve e não contrariar a moral e os bons costumes.”
	
	Cezar Roberto Bittencourt. E o legislador seguiu essa tendência. Quem me dá uma prova de que a lei seguiu essa tendência? É só lembrar da Lei 9.099/95 que diz que nessas hipóteses, a ação penal fica condicionada à representação da vítima. É a maior prova de que a lei também acha que a incolumidade pessoal é um bem disponível quando leve e não contrariar a moral e os bons costumes.
	
Conduta médica e cirurgia de emergência ou reparadora – Por que o médico não responde pelo crime de lesão? Eu sei que ele não responde. Mas eu quero saber a razão. Esse médico, quando corta a sua carne de maneira drástica não responde por lesão por quê? Adivinha a pergunta da prova no domingo? Intervenção médica sob a luz da teoria geral do delito. Vocês acreditam nisso? 
	Por que o médico não responde por lesão corporal? 
É hipótese de atipicidade – Bento de Faria defende isso. Não defende ajuste do comportamento dele ao tipo penal.
Ausência de dolo – Francisco de Assis Toledo. Ele diz que quando o médico intervém, ele não tem o dolo de ofender, mas o dolo de curar, o que é diferente.
No caso de lesão leve, não podemos esquecer do consentimento do ofendido nos termos da lição de Bittencourt.
Exercício regular de um direito.
Tipicidade Conglobante – se você adota a tipicidade conglobante, vocês sabem que exercício regular de direito é hipótese de atipicidade. E, para excluir o comportamento criminoso do médico.
	Era isso que o examinador queria na segunda fase. Ele queria que você explicasse, principalmente essas correntes modernas: tipicidade conglobante . Vocês tem seis maneiras de justificar o comportamento médico nessas hipóteses.
	Consumação – O crime de lesão corporal se consuma com a efetiva ofensa à incolumidade pessoal. Trata-se de crime material. 
	Tentativa – Admite tentativa nas modalidades dolosas.
Vejamos, então, pontualmente, todos os conceitos insertos no tipo genérico da lesão corporal.
1.1. Lesão corporal leve
	O conceito de lesão leve é extraído por exclusão: é leve a lesão que não for tipificada como mais grave, enquadrada nos §§ 1°, 2° ou 3° do artigo 129 do CP.
O bem jurídico protegido na lesão pode ser considerado relativamente disponível, como diz parte da doutrina, porque na lesão leve, mas nunca na grave, se considera que o consentimento do seu titular como excludente da tipicidade. Não se preenche o tipo, sequer formalmente, nas atividades que violam leve e consentidamente a integridade física do agente, porque não se preenche o verbo “ofender”, elementar do tipo.
 O furo da orelha para inserção do brinco requerido pela pessoa que se tem perfurada, por exemplo, simplesmente não é ofensa ao bem jurídico.
Repare que, tecnicamente, não se trata sequer de disponibilidade do bem jurídico para a lesão leve. Como não há ofensa, não precisou haver disposição da integridade para que aquela atividade fosse atípica: ela é atípica por não haver ofensa ao bem jurídico, na essência, e não porque o consentimento excluiu a tipicidade.
E há ainda a assertiva que o bem jurídico só será disponível, mesmo na lesão leve, se não se ofender, com esta disposição, a moral e os costumes, o que só torna a defesa da disponibilidade ainda mais estranha, ante a atecnia desta separação do que é ou não disponível. Como diz Zaffaroni, não cabe ao Direito Penal traçar conceitos de moral e bons costumes. É por isso que a lesão leve consentida, praticada no ato sexual, não pode ser considerada típica� (se praticada em público, pode até levar a outra capitulação, como ato obsceno, mas em nada pertinente à lesão).
A lesão leve é um crime de dano, material, que se consuma na efetiva causação da lesão. Por ser plurissubsistente, admite a tentativa, em nada se confundindo, a lesão leve tentada, com a contravenção das vias de fato, porque o dolo difere, como dito.
É um crime de forma livre, podendo ser executado com qualquer meio hábil.
Arrancar os cabelos ou as unhas pode ou não configurar lesão, a depender do caso concreto, por conta da aplicação do princípio da insignificância, que é perfeitamente cabível. A análise é casuística.
1.2. Lesão corporal qualificada
	Os §§ 1° a 3° do artigo 129 trazem dez possíveis resultados qualificadores da lesão corporal. Destes, apenas três são necessariamente culposos, ou seja, o crime que os resulta é preterdoloso: o resultado morte, do § 3°; o aborto, do § 2°, V; e o perigo de vida, do § 1°, II. Estes resultados só podem ser imputados a título de culpa, enquanto nos demais resultados, qualifica-se o crime com dolo ou culpa do agente.
A diferença é clara: se o agente pratica a lesão, e busca o resultado deformidade permanente, com dolo, está incurso no § 2°, IV, do artigo 129; se a lesão causada acarreta esta deformidade sem que fosse dolo do agente, o enquadramento é o mesmo. Pelo outro lado, se a intenção do agente, ao praticar a lesão, é a morte da vítima, está claro que o enquadramento é no homicídio. Por isso, este resultado só será qualificador da lesão se for culposo.
	É perfeitamente possível a tentativa de lesão corporal qualificada, quando se tratar de um dos resultados que não são preterdolosos, ou seja, se o agente tem dolo de lesão qualificada, dolo de alcançar um resultado que torne a lesão grave. Só não será possível a tentativa de lesão corporal qualificada se o resultado fosse culposo – aborto, morte ou perigo de vida –, porque a sua inocorrência simplesmente descaracteriza a qualificadora, que depende do resultado para ser constatada. Se o agente desejava o resultado qualificador, e não conseguiu alcançá-lo, está clara a tentativa da lesão qualificada pelo resultado doloso.
	Os §§ do artigo 129 apresentam uma gradação em gravidade dos resultados qualificadores, ou seja, há um resultado que torna a lesão grave e outro que, um pouco mais severo, torna-a gravíssima. Por exemplo, a debilidade permanente de membro, sentido ou função (§ 1°, III) é lesão grave; a perda ou inutilização do membro, sentido ou função (§ 2°, III), por seu turno, é gravíssima. Havendo concurso aparente destes enquadramentos, prepondera o mais severo.
	Vejamos cada um dos resultados qualificadores da lesão.
1.2.1. Lesões corporais graves
1.2.1.1. Incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias
	As ocupações habituais da vítima, para importarem nesta qualificadora do crime, precisam ser lícitas: não pode o agente ter a pena agravada porque a vítima de seu ato de lesão ficou sem poder praticar atos ilícitos por mais de trinta dias. Se a atividade habitual da vítima for imoral, mas lícita, a qualificadora se aplica: o que a afasta é a ilicitude da ocupação habitual. Como exemplo, a prostituição: a vítima, prostituta, que é obstada de praticar tal atividade por mais de trinta dias implica qualificação do crime de lesão contra si cometido.
“Ocupação habitual é qualquer atividade corporal rotineira, não necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser lícita, ainda que imoral.”
	É considerada ocupação habitual toda aquela que o agente desempenha rotineiramente, cotidianamente, não necessariamente relacionada a atividades laborativas. Freqüentar aulas, ir à academia, cuidar dos afazeres domésticos, tudo isto se presta a qualificar o delito de lesão, se impedida a vítima de desempenhar tais ocupações. A habitualidade é outro elemento relativo, eis que pode a vítima desempenhá-la diariamente, ou de forma um pouco mais esparsa – a verificação é casuística.
	Como a qualificadora impõe uma questão temporal objetiva
– incapacitação por mais de trinta dias –, o laudo pericial complementar, destinado a demonstrar justamente este elemento objetivo, é geralmente necessário. O laudo complementar para prova do tempo só será dispensado quando o prognóstico da lesão, já na realização do laudo inicial, puder indicar que tal incapacidade perdurará por mais de trinta dias. Entenda: se o perito que realiza o exame inicial do corpo de delito puder afirmar desde logo, sem qualquer dúvida, que determinada lesão acarretará afastamento das atividades habituais por mais de trinta dias, o laudo pericial complementar não é necessário. Se o perito disser, no exame inicial, que não há como prever este afastamento, aí então o laudo complementar é imperativo, ou a qualificadora não se comprova. Em síntese, o laudo complementar é necessário, desde que não seja possível um prognóstico seguro da duração da incapacitação.
Art. 168, §2º do CPP:
	CPP, art. 168, § 2º - Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no Art. 129, § 1º, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 (trinta) dias, contado da data do crime.
Respondam se o laudo complementar é válido ou inválido: vamos supor que no dia 10/10/08, a pessoa sofreu uma lesão. O médico já percebe que essa lesão aparenta ser grave. Então, ele vai determinar o retorno para o exame complementar. A partir de que dia esse exame complementar pode ser realizado? O prazo é penal? Se o prazo é penal, você computa o dia do início e exclui o dia do fim. Então, o 30º dia, se o prazo é penal, é o dia 09/11, significando que o exame complementar só pode ser realizado no dia 10 e seguintes. Agora, se você entende que o prazo é processual penal, aí você exclui o dia do início e inclui o dia do fim. O 30º dia será o dia 10/11. Isso significa que o exame complementar só pode ser realizado a partir do dia 11. Quando eu posso realizar o exame complementar? Esses 30 dias configuram prazo penal ou processual penal? É só você pensar: o prazo está ligado ao direito de perseguir, ou ao direito de punir e tipificar o delito? Está ligado à tipificação do delito? Então é um prazo penal. O exame complementar já pode ser realizado dia 10. Isso está escrito no art. 168, do CPP (“contado da data do crime” – o prazo é penal).
Olha que caiu no MP/SP quando a 1ª fase era escrita (era o que hoje é a segunda): bebê de 2 meses pode ser vítima de lesão corporal de natureza grave pelo inciso I? Ele só mama e dorme. Se ele não conseguir mamar por mais de 30 dias, que é a atividade rotineira dele, lesão corporal de natureza grave. “Professora, mas se ele não mamar por mais de 30 dias, ele morre. ” Não, vai ser alimentado por outros modos, meu deus!rsrs...”
Pergunta que vai cair no seu concurso: a mulher ficou com o olho roxo e falou: “enquanto esse olho não voltar ao normal, eu não saio de casa.” Ela ficou por mais de 30 dias, por vergonha, sem sair de casa, logo, sem exercer suas ocupações habituais. Incide esta qualificadora ou não? Se ela, por vergonha, ficar em casa por mais de trinta dias? Cuidado! A lesão tem que incapacitá-la, não a vergonha da lesão. Então, a simples vergonha não autoriza esta qualificadora. Ela tem que ficar incapacitada em face da lesão. Tem jurisprudência nesse sentido. O que tem que incapacitar é a lesão, não a vergonha da lesão.
1.2.1.2. Perigo de vida
	
	Perigo de vida se trata da probabilidade real e concreta de morte. A questão é empírica e estatística: deve ser comprovado que a lesão causada, medicamente, tem potencial para causar a morte.
	Como dito, é uma qualificadora preterdolosa, porque se a intenção do agente era atentar contra a vida da vítima, a tipificação é no homicídio. O perigo de morte, aqui, só pode ser culposo.
Extremamente importante o que vou falar agora. Já dá para perceber que o simples local da lesão não presume essa qualificadora. Ela tem que ser comprovada por perícia. Não é porque a pessoa sofreu uma lesão no pescoço que você vai concluir por perigo de vida. Tem que haver perícia nesse sentido. Não é porque uma pessoa sofreu lesão perto do coração que você vai presumir essa qualificadora. Não. Tem que ter uma perícia que vai avaliar, inclusive, a probabilidade séria dessa lesão ocasionar o êxito letal. Então, cuidado! Tem que haver perícia. A simples região da lesão não permite presunções.
	Vocês estão lembrados que bem no comecinho da aula eu falei que o § 1º é doloso, mas também pode ser preterdoloso? O inciso I pode ser doloso se você agride, querendo incapacitar a pessoa por mais de trinta dias e pode ser preterdoloso: você agride e, culposamente, deixou a pessoa incapacidade por mais de trinta dias para as suas ocupações. O inciso II, necessariamente, é preterdoloso. E agora vocês nunca mais vão pensar que o preterdolo só está no § 3º. 
	Vou repetir porque é importante: o preterdolo na lesão corporal não está só no § 3º. Você tem preterdolo no § 1º e no § 2º. O § 1º, inciso I, por exemplo, pode ser preterdoloso. Você, dolosamente, quer incapacitar a pessoa por mais de 30 dias para as suas ocupações habituais ou, culposamente, você provoca esse resultado. Agora, o inciso II, não. O inciso II, necessariamente, é preterdoloso. O inciso II não pode ser doloso! Você não pode assumir o risco de vida, pois, do contrário, você responderá por tentativa de homicídio. Então, no inciso II você age com dolo na lesão e culpa no perigo de vida. Se você assume o risco de ceifar a vida da pessoa, você vai responder por tentativa de homicídio. Então, cuidado! O inciso II, necessariamente, é preterdoloso.
1.2.1.3. Debilidade permanente de membro, sentido ou função
	São membros do corpo humano apenas os braços e as pernas. Sentidos, todas aquelas funções que nos permitem perceber o mundo exterior. E funções, todas as atividades do corpo humano que refletem seu funcionamento pleno (função digestiva, excretora, reprodutora, mastigatória, renal, pinça ou guindaste, etc).
	A debilidade do membro deve ser permanente, o que não se confunde com perpétua. Segundo Nelson Hungria, a debilidade é permanente quando não se consegue vislumbrar seu final, mesmo que este seja eventualmente possível. Não necessariamente, então, será a debilidade permanente irreversível: basta que não seja possível afirmar que a cura existirá. Sendo impossível afirmar a cura, a debilidade se considera permanente.
	Quanto aos sentidos ou funções, a debilidade representa uma redução de sua capacidade funcional, e não perda – pois se há perda, a lesão é gravíssima, qualificando-se pelo § 2°, III, do artigo 129, e não no § 1°, III.
	A perda da mão inteira configura-se inutilização do braço, e não na mera debilidade do membro, incidindo na lesão gravíssima, portanto. Isto porque a função do braço é justamente estender o alcance da mão, e sem esta o braço perde sua utilidade principal.
	Um golpe que resulte em perda de dentes é considerado lesão grave, porque gera debilidade permanente da função mastigatória (havendo que se ter cuidado com a posição de Nelson Hungria, que estranhamente entende que somente se restarem poucos dentes esta situação se configura). 
A perda de um unico dente gera essa qualificadora? O que vocês acham? Você levou um soco e perdeu um dente. O que acha? Gera ou não gera a qualificadora? Ou depende? Você levou um soco, pulou o dente do siso. Gera essa qualificadora? Para quê serve o dente do siso? E se você perdesse o dente da frente? A resposta é: depende do dente. Só vai gerar esta qualificadora aquele dente que, perdido, compromete o órgão de mastigação. O que a perícia vai fazer? Vai relacionar o dente perdido com o órgão de mastigação e vai falar: qual era a função desse dente? Sem esse dente há uma redução no órgão? Se houver, gera qualificadora. Se não houver interferência alguma, não gera qualificadora.
	E a perda do dedo? Concurso cai bastante isso. Você perdeu o dedão do pé. Não fiquem pensando na parte estética! Vamos pensar na sua capacidade motora, na função que
desempenha o dedão do pé. E aí? É lesão grave? A mesma coisa: vai depender de perícia. A perícia vai analisar a função daquele dedo no órgão a que ele está ligado. Da mesma forma se há a perda de um dedo da mão, a perícia pode determinar que ocorreu a debilidade da função pinça, ou guindaste, exercida pelas mãos�
	
Havendo órgãos duplos, como os rins, olhos, ouvidos os pulmões, a perda de um significa debilidade da função ou sentido correspondente. A perda de ambos, se não for fatal (pois então será resultado morte, do § 3° do artigo 129), consiste em perda da função ou sentido, por óbvio, e não mera debilidade.
Essa jurisprudência sempre cai em concurso: vamos supor que uma pessoa ficou debilitada na sua capacidade motora, mas essa capacidade motora pode ser, atenuada ou mesmo suprida com o auxílio de próteses. Incide essa qualificadora? Isso é jurisprudência tranquila. Anotem:
	“Não importa que o enfraquecimento possa se atenuar ou se reduzir com o aparelho de prótese.” 
Vejam que aparelhos de prótese não excluem essa qualificadora.
1.2.1.4. Aceleração de parto
	O legislador deveria ter empregado o termo “antecipação”, ao invés de “aceleração” do parto, porque acelerar dá a entender que o parto já teve início, sendo a conduta do agente apenas um evento precipitador. Na verdade, o que ocorre, nesta qualificadora, é oi início prematuro do parto, ou seja, não havia parto em curso, para ser acelerado.
	Se a lesão corporal que induz ao parto prematuro causar seqüelas na criança, o agente responderá tanto pela lesão qualificada da gestante, apenas, mas as seqüelas serão computadas no cálculo da pena-base, como consequências anormais do delito.
O inciso IV qualifica o crime de lesão corporal se da conduta do agente advém na vítima aceleração de parto. Pode ser uma qualificadora dolosa ou preterdolosa. Ele pode querer acelerar o parto ou, culposamente, acelerar o parto na vítima. 
	Vejam! Eu falei em aceleração de parto. Não falei em aborto. O feto nasce com vida. Aqui se quer agredir a vítima, aceitando ou querendo a aceleração do parto. Eu agredi a vítima culposamente, acelerando o parto, jamais assumindo o risco do aborto. 
	É imprescindível que o agente saiba ou pudesse saber que a vítima é gestante. Por quê? Porque pode ser preterdoloso. Com isso, você evita a responsabilidade penal objetiva
1.2.2. Lesões corporais gravíssimas
§ 2º - Se resulta:
	I - incapacidade permanente para o trabalho;
	II - enfermidade incurável;
	III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
	IV - deformidade permanente;
	V - aborto.
	Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
	
	O § 2º também traz qualificadoras. Olha o que diz o final: reclusão de 2 a 8 anos. Significa o quê? Não admite mais suspensão condicional do processo. Mas admite só sursis. Então, o § 2º também é qualificadora, a pena mínima de 1 foi para 2, a máxima de 5 foi para 8, não admite mais suspensão condicional do processo, mas agora admite o sursis. 
	Agora prestem atenção: eu falei para vocês que o § 2º trazia lesão corporal de natureza gravíssima. Onde está escrito isso? Vejam que o § 1º o CP chamou de lesão de natureza grave. E no § 2º não disse nada sobre lesão corporal de natureza gravíssima. É criação doutrinária que a jurisprudência aceitou. A expressão lesão corporal de natureza gravíssima é criação doutrinária. O Código Penal, quando fala em lesão grave está se referindo ao § 1º e ao § 2º. Ele não conhece a expressão “gravíssima”. Caiu para delegado de polícia em SP essa questão. Agora, a doutrina é que diferencia. Diz: lesão grave é o § 1º. Lesão gravíssima é o § 2º. Vejam, então, que há uma criação da doutrina que a jurisprudência aceitou. Quando o CP fala em lesão grave, abrange os dois parágrafos. A doutrina, não. Quando ela fala em lesão grave, só quer o parágrafo 1º. Quando ela quer o parágrafo 2º, ela fala em lesão gravíssima.
1.2.2.1. Incapacidade permanente para o trabalho
Comparando o inciso I do § 1º, com o inciso I do § 2º, dá para ver que este aqui é mais grave. Lá você fica incapacitado para as atividades habituais por mais de 30 dias. Aqui você fica incapacitado para o trabalho! E de forma permanente. O que se entende por permanente?
	“Permanente é duradouro no tempo e sem previsibilidade de cessação.”
	A doutrina se divide na análise desta qualificadora.
Uma primeira corrente, de Nelson Hungria, defende que a incapacidade deve ser constatada para qualquer trabalho, o que acaba, de fato, por inviabilizar praticamente a aplicação deste inciso I do § 2° do artigo 129 do CP, porque não há quem não possa desempenhar qualquer atividade laborativa: mesmo um tetraplégico pode desempenhar atividades intelectuais, por exemplo.
Por isso, há uma segunda corrente que é mais coerente, da qual comungam Greco, Nucci e Bitencourt, que defende que a incapacidade permanente deve ser referente ao trabalho que a vitima era apta a realizar.
1.2.2.2. Enfermidade incurável
	É enfermidade incurável aquele resultado crônico de uma lesão. Por exemplo, uma osteopatia, ou um reumatismo, que resulte da lesão e não tenha cura. É considerada incurável a enfermidade que não tem tratamento curativo consolidado na doutrina médica (não podendo ser considerada cura aquela terapia não comprovada cientificamente, por métodos experimentais).
O inciso II qualifica a lesão corporal como sendo de natureza gravíssima, se resulta na vítima enfermidade incurável. 
	“Enfermidade incurável é alteração permanente da saúde em geral por processo patológico, ou seja, a transmissão intencional de uma doença para a qual não existe cura no estágio atual da medicina.”
	A jurisprudência já entendeu como exemplo a vítima ficar manca. Vejam, o fato de ela ter ficado manca não é uma debilidade de função. Ela continua se movimentando, mas o fato de ficar manca, é uma enfermidade que a medicina não cura. Já temos jurisprudência nesse sentido. 
AIDS: UM CASO ESPECIAL:
- Para a 5ª Turma do STJ, trata-se de lesão corporal grave a transmissão consciente da síndrome da imunodeficiência adquirida (vírus HIV).
A decisão foi unânime, acompanhando o voto da Min. Laurita Vaz, de acordo com quem a AIDS enquadra-se perfeitamente no conceito de doença incurável, como previsto no artigo 129, § 2º, II, do CP. Não havendo, assim, que se cogitar de tipificar a conduta como sendo crime de perigo de contágio venéreo (art. 130, CP) ou perigo de contágio de moléstia grave (art. 131, CP).
A Ministra ainda acrescentou que o fato de a vítima ainda não ter manifestado sintomas não exclui o delito, pois é notório que a doença requer constante tratamento com remédios específicos para aumentar a expectativa de vida, mas não para cura.
- Para Mirabete, “há dolo eventual de homicídio na conduta do agente que pratica o coito ou doa sangue quando sabe ou suspeita ser portador do vírus da AIDS (Síndrome de Deficiência Imunológica Adquirida), causando, assim, a morte do parceiro sexual ou receptor. Enquanto não ocorre a morte, ao agente pode ser imputada a prática do crime de lesão corporal grave (art. 129, § 2º., II), já que é inadmissível a tentativa de homicídio com tal espécie de dolo. Entretanto, nada impede que o agente deseje a morte da vítima em decorrência da contaminação, revelando-se então a tentativa de homicídio”. 
Portanto, para o autor sob enfoque, haveria em regra dolo eventual de homicídio, mas enquanto a vítima não morre haveria crime de lesão grave por enfermidade incurável. Já se comprovado o dolo direto voltado para a morte, haveria tentativa de homicídio enquanto a vítima permanece viva e homicídio consumado com sua morte.
- Greco manifesta-se pela caracterização da tentativa de homicídio sempre que a vítima ainda está viva e homicídio consumado com o evento morte, pois que embora o coquetel medicamentoso possa ampliar em muito a sobrevida, permanece a moléstia sendo letal. [4] Outro não é o pensamento de Capez, arrolando
dentre os “meios patogênicos” de prática do homicídio a transmissão do vírus da AIDS ou outros de caráter letal. 
- Poder-se-ia levantar a hipótese de que o agente deveria responder por “Perigo de Contágio Venéreo” nos termos do artigo 130, CP. Não obstante, tal pensamento não se pode sustentar por inferência do Princípio da Legalidade, vez que a AIDS não é uma doença venérea, embora sexualmente transmissível. Além disso, presente o dolo de lesão, haveria crimes mais graves em concorrência, tais como a tentativa de homicídio e as lesões gravíssimas, de modo que o crime do artigo 130, CP, que é de perigo e subsidiário, seria naturalmente afastado. 
-Também não prospera a tese de imputação do “Perigo de Contágio de Moléstia Grave”, de acordo com o artigo 131, CP. Embora seja indubitável que a AIDS é uma moléstia grave, quando o agente pretende contaminar alguém, age com dolo de dano, de modo a afastar a incidência do crime de perigo subsidiário, havendo novamente hipóteses de crimes mais graves tais como a tentativa de homicídio ou a lesão corporal gravíssima. 
Como se vê a transmissão doloso da AIDS gravita entre a tentativa de homicídio e o crime de lesões gravíssimas por enfermidade incurável. Tem havido decisões jurisprudenciais em ambos sentidos, inclusive no STJ: 
“Se alguém pratica ato capaz de transmitir não apenas moléstia grave, mas moléstia eminentemente mortal e o faz dolosamente, incide em tentativa de homicídio (TJSP, RT 784/587)”.
“Em havendo dolo de matar, a relação sexual forçada e dirigida à transmissão do vírus da AIDS é idônea para a caracterização da tentativa de homicídio (STJ, HC 9.378, j. 18.10.99, vu, DJU 23.10.2000)”.
O atual “decisum” da E. 5ª. Turma do STJ inclina-se pela configuração do crime de lesões corporais de natureza gravíssima por enfermidade incurável (artigo 129, § 2º.,II, CP) e não tentativa de homicídio.
Entende-se que a decisão ora em análise mantém a polêmica sobre a correta tipificação da transmissão da dolosa da AIDS, gravitando, como já se disse, entre as lesões gravíssimas e a tentativa de homicídio. A verdade é que não será a questão da tipificação resolvida jamais somente no meio jurídico. A medicina e o desenvolvimento de tratamentos da AIDS farão com que a tipificação venha a modificar-se com o tempo, podendo mesmo firmar-se como mera doença incurável e não letal. Mas, no atual estágio, o que se verifica é um simples aumento de sobrevida, permanecendo a AIDS como uma moléstia mortal, de modo que se discorda da interpretação dada pela Corte Superior, entendendo-se que a melhor solução é a da tentativa de homicídio que se pode transmudar de acordo com a ocorrência do resultado morte, em homicídio consumado. Note-se que sendo considerada a transmissão da AIDS de forma dolosa mero crime de lesão corporal gravíssima por enfermidade incurável, eventual morte transmudaria o crime em lesões corporais seguidas de morte e não em homicídio (artigo 129, § 3º., CP). Afirmar que o crime perpetrado por aquele que transmite dolosamente o vírus da AIDS é de lesão corporal, ainda que gravíssima, corresponde a fugir da realidade, pretendendo fazer crer que a referida doença é somente incurável, mas não letal. No atual estágio da medicina isso não é verdadeiro, de modo que num futuro próximo poderia realmente tal postura ser aceita, mas não neste momento e de acordo com a realidade.
Ressalte-se que, em qualquer caso, o consentimento do ofendido em assumir o risco é indiferente, por serem a vida e saúde bens indisponíveis.Na hipótese de agente contaminado que, agindo com culpa, transmitiu a Aids, igualmente não se configurará o art. 131 (que exige dolo direto), mas, sim, lesão corporal culposa (art. 129, § 6º) ou homicídio culposo (art. 121, § 3º).
Tratando-se de agente não contaminado (que não pode ser sujeito ativo do crime do art. 131) e havendo efetiva transmissão da Aids, há que se distinguir se ele agiu com culpa ou dolo, bem como, no último caso, se houve animus necandi, para então verificar se a tipificação será a de lesão corporal culposa, homicídio culposo, lesão corporal gravíssima, lesão corporal seguida de morte ou homicídio doloso, consumado ou tentado.
1.2.2.3. Perda ou inutilização de membro, sentido ou função
	
O § 1º falava em perda ou inutilização de membro sentido ou função? Não. Falava em debilidade. No §1º, o seu membro, o seu sentido, a sua função ficou enfraquecida. Aqui, não. Você perdeu ou foi inutilizada. É situação bem mais grave.
	
Perda: amputação ou mutilação.
Inutilização: membro, sentido ou função inoperante.
	
	Você sabe a diferença entre amputação e mutilação? Caiu para delegado de polícia. Quem amputa? O médico? Quem mutila? O agressor. Se na agressão, ele arrancou o seu braço, ele mutilou o seu braço. Se o médico, na cirurgia, teve que tirar o seu braço para salvar a sua vida, ele amputou. Caiu isso em concurso!
	Na inutilização, o seu membro continua no corpo, mas sem utilidade alguma.
Como já se antecipou, a perda ou inutilização difere da debilidade pela sua completitude: a perda da função renal se dá pela perda dos dois rins, por exemplo; a inutilização do membro se dá pela perda da mão, ou dos movimentos do braço inteiro, por secção dos nervos; a perda da função reprodutora ocorre pela perda da fertilidade; a amputação de uma perna é perda do membro, etc.
Se uma lesão acarreta a perda dos globos oculares de uma pessoa que já era cega, há a qualificadora? Veja que o sentido da visão já não existia, pelo que a perda dos globos oculares não é perda de sentido, mas é claramente um caso de deformidade permanente, qualificando-se a lesão pelo inciso IV do § 2° do artigo 129 do CP.
A cirurgia de mudança de sexo é uma questão peculiar. O Conselho Federal de Medicina, na Resolução 1.652/02, especificou as condições para que tal cirurgia seja feita no Brasil.
	
	O médico que fizer esta cirurgia em desacordo com as especificações do CFM estará incurso no inciso III, porque certamente implicará em perda ou inutilização de funções. Há, porém, que se considerar que mesmo que haja a cirurgia sem observância da resolução, o dolo do médico não é de lesionar; ao contrário, é de diminuir o sofrimento da pessoa que está sob as circunstâncias do transexualismo.
	Há inda outra tese defensiva que, por reputar a sexualidade como bem disponível, e como a forma de expressão da sexualidade é feita mormente pelo aparelho sexual, a sua alteração estaria abarcada nesta esfera de disponibilidade.
O mesmo raciocínio se repete nas cirurgias de esterilização, que devem observar as regulamentação da Lei 9.263/96. Aqui, porém, há uma diferença: se a cirurgia não for legalmente realizada, a tipificação recai no artigo 15 desta lei:
“Art. 15. Realizar esterilização cirúrgica em desacordo com o estabelecido no art. 10 desta Lei. (Artigo vetado e mantido pelo Congresso Nacional)   Mensagem nº 928, de 19.8.1997
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, se a prática não constitui crime mais grave.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço se a esterilização for praticada:
I - durante os períodos de parto ou aborto, salvo o disposto no inciso II do art. 10 desta Lei.
II - com manifestação da vontade do esterilizado expressa durante a ocorrência de alterações na capacidade de discernimento por influência de álcool, drogas, estados emocionais alterados ou incapacidade mental temporária ou permanente;
III - através de histerectomia e ooforectomia;
IV - em pessoa absolutamente incapaz, sem autorização judicial;
V - através de cesária indicada para fim exclusivo de esterilização.”
A perda do hímen é lesão qualificada por perda da função, para a melhor corrente. Mirabete e Hungria entendem que se trata de lesão simples, porque o hímen não teria função; contudo, sua função existe: serve para a proteção do canal vaginal da mulher virgem, que não tem a flora deste canal desenvolvida, estando mais suscetível a infecções, se o hímen for rompido�.
TJ/RS (2009): em razão da lesão corporal, a vítima perdeu um rim. Foi vítima de qual crime? Lesão corporal gravíssima ou não? Vocês não podem esquecer que, para ser gravíssima, tratando de órgãos duplos, os dois têm que ficar inutilizados ou perdidos. Não basta perder ou inutilizar um. Tratando-se de órgãos duplos tem que perder os dois. Essa pergunta também caiu em concurso falando de testículo. Para ser gravíssima, você tem que perder os dois testículos. Dois rins, perdeu um? Debilidade, parágrafo 1º! Para ser parágrafo 2º tem que perder os dois. Perdeu um rim? Debilidade e não inutilização. 
E se em razão da lesão, você ficou impotente para gerar vida. Impotência instrumental ou não? É lesão gravíssima? Impotência generandi é lesão gravíssima? Sim. E tem até um exemplo. O médico, sem avisar a paciente, realizou a laqueadura. Sem avisar o paciente, realizou vasectomia. São exemplos de lesão corporal de natureza gravíssima.
1.2.2.4. Deformidade permanente
	O inciso IV fala da deformidade permanente como hipótese de lesão gravíssima. O que é sofrer deformidade permanente?
	“Deformidade permanente é dano estético, aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória.” 
	O que é impressão vexatória? “Desconforto para quem olha, humilhação para a vítima.”
	Pergunta que caiu em concurso: “o que é vitriolagem?” “É lesão corporal gravíssima em razão do emprego de ácidos.” Você provoca na vítima uma deformidade permanente. 
	Cuidado! Nós temos países, como Itália e Argentina que só consideram a deformidade permanente se ela estiver no rosto da vítima. No Brasil, não. Não importa a região. Abrange todo o corpo, desde que passível de exposição, ainda que essa exposição seja num momento mais íntimo.
A deformidade permanente, assim como a debilidade permanente, não é necessariamente perpétua. Inclusive, mesmo sendo possível sua reversão com cirurgias plásticas, ninguém é obrigado a realizar um procedimento cirúrgico, e a deformidade ainda será considerada permanente, se a vítima não o fizer.
	Note que se a vítima efetuar cirurgia corretiva, sanando a deformidade, a qualificadora se desconfigura. Se antes da condenação, haverá a desclassificação do crime para lesão leve. Se a cirurgia corrige a deformidade após o trânsito em julgado da condenação por lesão qualificada, pode-se até mesmo falar em revisão criminal, na forma do artigo 621, III, do CPP:
“Art. 621.  A revisão dos processos findos será admitida:
(...)
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.”
	É deformidade qualificadora toda marca ou cicatriz vexatória decorrente da lesão, tendo nuance eminentemente estético. Veja que o critério de mensuração do potencial vexaminoso é objetivo, não podendo ser medido pelo índice de vaidade de cada um. O constrangimento deve ser considerado evidente ao meio social, e não apenas ao senso interno de vaidade da pessoa.
1º corr - Da mesma forma, não se pode tomar em conta a maior ou menor importância da estética para cada pessoa, para fins penais. Não é porque a vítima é uma modelo que um pequeno corte no rosto será considerado deformidade permanente, se não o seria em pessoa de outra profissão. Pode até reverberar na esfera cível, esta diferença pessoal de relevância da estética, mas não para fins penais. 
2º corr - Debalde, há quem entenda que esta cogitação pessoal é cabível, como o faz Nelson Hungria – o que revela até mesmo um certo preconceito, ao se atribuir mais importância ao mesmo bem jurídico de uma pessoa do que de outra.
Olha como é legal estudar por Nelson Hungria (você lê um parágrafo e demora 5 horas para entender o que ele fala)! Olha o que ele diz: “ninguém pode duvidar que devem ser diversamente apreciadas uma cicatriz no rosto de uma bela mulher e outra na carantonha de um quasímodo; uma funda marca torneado pescoço feminino e outra no perigalho de um septuagenário; um sinuoso gilvaz no braço roliço de uma jovem e outro no braço cabeludo de um cavouqueiro.” Em síntese, ele quis dizer o seguinte: a idade, o sexo, a condição social interferem na deformidade. Pronto.
	A deformidade, por óbvio, deve ser visível, nas situações normais da vida. Por isso, é claro que a deformidade em partes íntimas preenche esta qualificação, mesmo que estas partes só sejam visíveis em situações de intimidade, mas que são normais da vida.
1.2.2.5. Aborto
Aqui também, é uma qualificadora necessariamente preterdolosa. Dolo na lesão, culpa no aborto. Se ele assumiu o risco do aborto, vai responder pelos dois crimes. Esta qualificadora é, necessariamente, preterdolosa. E, a exemplo do inciso IV do §1º, ele aqui também tem que saber ou ter condições de saber que a vítima é gestante, para evitar a responsabilidade penal objetiva.
	Cuidado! Vocês já viram isso comigo, mas vamos ver novamente!
	É possível a coexistência de qualificadoras do § 1º com qualificadoras do § 2º? 
É perfeitamente possível. Você ficar com debilidade permanente + deformidade permanente. Então, é perfeitamente o art. 129, § 1º + o art. 129, § 2º. E aí? Você juiz faz o quê? Lembrando que no § 1º a pena é de 1 a 5 e no § 2º a pena é de 2 a 8? O que você, juiz, faz? Você vai usar o § 2º como qualificadora e o § 1º como circunstancia judicial desfavorável. A circunstância do § 2º vai qualificar o crime e a do § 1º vai servir na pena-base.
	Como o aborto já foi exaustivamente abordado, basta aqui reiterar a assertiva de que o aborto que qualifica a lesão é sempre culposo, pois se trata de resultado necessariamente preterdoloso, eis que se for doloso o crime é o próprio aborto.
1.2.3. Lesão corporal seguida de morte
	O § 3° do artigo 129 dispõe que se da lesão resultou morte, sem dolo direto ou dolo eventual na aquisição deste resultado, se preenche esta qualificadora. É o resultado morte, atribuído ao agente a título de culpa, como consequência de uma lesão dolosa. Havendo dolo, o crime é o homicídio.
	Para a qualificadora ser incidente, a morte tem que decorrer da lesão: a lesão dolosa evolui para a morte culposa. Se a conduta que leva à morte culposa não for a prática de uma lesão dolosa, o crime que se preenche é o homicídio culposos. 
Veja: se o agente, irritado com a vítima, dá-lhe um empurrão com o único intento de tirá-la de sua frente (e não causar lesão alguma, o que configura vias de fato), mas deste empurrão a vítima escorrega, cai e bate a cabeça fatalmente, não se trata de lesão corporal dolosa seguida de morte culposa, porque lesão nunca houve: trata-se de homicídio culposo.
	É claro que a morte só será imputável se houver culpa, ou seja, se se apresentar a quebra de dever de cuidado com a previsibilidade deste resultado morte. Do contrário, se a morte era imprevisível, não se pode imputar o agente, sob pena de configurar responsabilização penal objetiva. 
O mesmo raciocínio se dá quando se verifica que causas externas à lesão levaram à morte, como a falta de cuidado da vítima com sua própria vida: um arranhão, lesão leve, que evolua para quadro fatal de septicemia por desídia da vítima em tratar-se não pode fazer o autor da lesão responsável pela morte da vítima. A ampliação do risco foi causada pela própria vítima.
	Como qualquer crime preterdoloso, este não admite tentativa, eis que o resultado culposo não pode ser tentado, por essência.
	O ferimento culposo também pode resultar em morte culposa, mas neste caso não se fala em lesão corporal culposa seguida de morte culposa: se trata puramente de homicídio culposo, pois é claro que a leitura que deve ser feita é que a quebra do cuidado gerou a morte, e não que gerou a lesão seguida da morte. 
	
Exige-se a comprovação da relação de causalidade entre a lesão corporal e a morte. Com efeito, se esta originar-se de motivo diverso da agressão, não poderá ser imputada ao agente.
Como já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça:
O recorrente foi denunciado pela prática do crime de lesão corporal qualificada pelo resultado morte (art. 129, § 3.º, do CP), porque, durante um baile de carnaval, sob efeito de álcool e por motivo de ciúmes de sua namorada, agrediu a vítima com chutes e joelhadas na região abdominal, ocasionando sua queda contra o meio-fio da calçada, onde bateu a cabeça, vindo a óbito. Ocorre que, segundo o laudo pericial, a causa da morte foi hemorragia encefálica decorrente da ruptura de um aneurisma cerebral congênito, situação clínica desconhecida pela vítima e seus familiares. (…) Conforme observou a Min. Maria Thereza de Assis Moura em seu voto-vista, está-se a tratar dos crimes preterdolosos, nos quais, como cediço, há dolo no comportamento do agente, que vem a ser notabilizado por resultado punível a título de culpa. Ademais, salientou que, nesse tipo penal, a conduta precedente que constitui o delito-base e o resultado mais grave deve estar em uma relação de causalidade, de modo que o resultado mais grave decorra sempre
da ação precedente, e não de outras circunstâncias. Entretanto, asseverou que o tratamento da causalidade, estabelecido no art. 13 do CP, deve ser emoldurado pelas disposições do art. 18 do mesmo codex, a determinar que a responsabilidade somente se cristalize quando o resultado puder ser atribuível ao menos culposamente. Ressaltou que, embora alguém que desfira golpes contra uma vítima bêbada que venha a cair e bater a cabeça no meio-fio pudesse ter a previsibilidade objetiva do advento da morte, na hipótese, o próprio laudo afasta a vinculação da causa mortis do choque craniano, porquanto não aponta haver liame entre o choque da cabeça contra o meio-fio e o evento letal. In casu, a causa da morte foi hemorragia encefálica decorrente da ruptura de um aneurisma cerebral congênito, situação clínica de que sequer a vítima tinha conhecimento. Ademais, não houve golpes perpetrados pelo recorrente na região do crânio da vítima. Portanto, não se mostra razoável reconhecer como típico o resultado morte, imantando-o de caráter culposo.
1.3. Lesão corporal privilegiada
O § 4° do artigo 129 do CP determina que se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
Trata-se, aqui, da lesão corporal privilegiada, e o raciocínio para sua configuração é exatamente o mesmo tecido acerca do homicídio privilegiado, o estas causas de privilégio, todas elas, circunstâncias subjetivas do crime. Por isso, remete-se ao estudo do artigo 121, § 1°, do CP, anteriormente registrado.
1.4. Substituição da pena
	O § 5° do artigo 129 do CP deixa ao critério do juiz a substituição da pena privativa de liberdade pela pena de multa, nos casos de lesão leve, em duas situações: 
quando se tratar de lesão leve privilegiada, na forma do § 4° do mesmo artigo; ou
 quando o caso revele lesões leves recíprocas.
	A lesão recíproca não se confunde com a legítima defesa: ao revide animado por dolo de lesionar se atribui a imputação de lesão, porque o ânimo da legítima defesa é justamente o de defender-se, fazendo cessar o ataque, e não o dolo de também atacar, em contrapartida.
Lesões recíprocas são as que ocorrem quando duas pessoas injustamente se agridem. O agressor ataca a vítima, e é simultaneamente por ela agredido. É o que ocorre, por exemplo, quando dois colegas de trabalho começam a lutar após uma leviana discussão.
Também incide a substituição da pena quando uma pessoa agride outra, e depois, já cessada a agressão, ocorre a retorsão. Exemplo: “A” desfere pontapés em “B”. Quando a situação já estava normalizada, inclusive com a intervenção de terceiros, “B” dirige-se contra “A” e lhe golpeia com socos. Cumpre destacar que essa situação não se confunde com a legítima defesa, pois, se a vítima ferir o ofensor apenas para se defender, não cometerá crime nenhum. Sua conduta nada mais será do que uma reação legítima contra uma agressão injusta, na forma delineada pelo art. 25 do Código Penal.
	Não há qualquer aplicabilidade desta substituição em lesões graves ou gravíssimas, ou naquelas seguidas de morte.
1.5. Lesão corporal culposa
	A lesão corporal culposa, prevista no artigo 129, § 6°, do CP, segue a mesma linha de raciocínio do homicídio culposo, pelo que se remete ao estudo deste delito anteriormente realizado.
	Vale apenas consignar que na lesão culposa, a gravidade dos ferimentos é irrelevante: se for percebido qualquer resultado gravoso, daqueles arrolados nos §§ 1° e 2° deste artigo 129, este não tem qualquer efeito sobre a capitulação. A lesão culposa é sempre tipificada no § 6° do artigo 129, e as consequências do resultado gravoso poderão, no máximo, repercutir na pena-base do agente.
	Se o resultado da lesão culposa for a morte, não se fala em lesão culposa seguida de morte, como dito: o crime é o homicídio culposo, se a lesão causada normalmente acarretar tais resultados. Por exemplo, um tiro culposo, disparado ao limpar a arma: é homicídio culposo, se a vítima morre, e não lesão corporal culposa. Se sobrevive, é lesão corporal culposa. Ocorre que se a lesão causada não tenha o resultado morte sequer previsível, não pode a morte ser imputada ao agente, sequer a título de culpa. Um corte leve no braço da vítima, não intencional, por exemplo: se esta vem a óbito, por qualquer causa extraordinária, o crime ainda será o de lesão corporal culposa.
DESPROPORCIONALIDADE COM O CTB:
O art. 129, § 6º, do CP, traz a lesão culposa, com pena de 2 meses a 1 ano. O art. 303, do CTB também traz a lesão culposa na direção de veículo automotor. Qual é a pena? 6 meses a 2 anos. E agora? Nós já vimos isso no homicídio. No homicídio aconteceu uma coisa parecida, ou seja, 2 resultados idênticos com penas claramente desiguais. Isso é inconstitucional? Lá no homicídio, como nós defendemos a constitucionalidade? Fizemos o seguinte: o crime tem o desvalor da conduta e tem o desvalor do resultado. Apesar do resultado ser o mesmo (lesão culposa e lesão culposa), a conduta no trânsito é mais perigosa, merecendo uma pena maior. Então, aqueles que limitarem o ângulo do desvalor do resultado vão dizer que isso é inconstitucional. Agora, aqueles que lembrarem que crime é conduta e resultado e lembrarem do desvalor da conduta vão defender a constitucionalidade. 
	Mas aqui tem um problema. Aqui fica difícil defender a constitucionalidade mesmo assim. Por quê? Porque se ele tivesse agindo dolosamente no transito, a pena dele seria de 3 meses a 1 ano. Se ele tivesse com o carro, agindo dolosamente e praticado uma lesão leve, por exemplo, a pena da lesão culposa é o dobro. Por isso, fica difícil não reconhecer a desproporcionalidade. Olha: eu, com meu carro, dei marcha-ré e, sem querer, acertei a sua coxa, ferindo-a. A minha pena é de 6 meses a 2 anos. Mas se eu tivesse feito de propósito, a minha pena seria de 3 meses a 1 ano. Então, aqui fica difícil defender a constitucionalidade. Quando você lembra que a lesão dolosa leve tem a metade da pena na lesão culposa no trânsito fica difícil não reconhecer a desproporcionalidade. É punir o mais com o menos e o menos com o mais. Perde o sentido. Então, na lesão corporal, fica difícil defender a constitucionalidade. 
1.6. Lesão corporal agravada
 § 7o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código.        (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
	O § 7° do artigo 129 do CP determina que às lesões corporais se aplica a majorante prevista no § 4° do artigo 121 do CP. Assim, a lesão corporal culposa terá a pena aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou
foge para evitar prisão em flagrante. 
Se a lesão corporal for dolosa, a pena é aumentada de um terço se o crime é praticado contra pessoa menor de quatorze ou maior de sessenta anos. ( VIDE AULA DE HOMICIDIO). Ou então se for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio
1.7. Perdão judicial
	O § 8° do artigo 129 do CP diz que à lesão corporal culposa é aplicável o § 5° do artigo 121 do CP, ou seja, torna possível o perdão judicial. Destarte, na hipótese de lesão culposa, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
1.8. Violência doméstica
Violência Doméstica
	§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Acrescentado pela L-010.886-2004) (Alterado pela L-011.340-2006)
	Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
	§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Acrescentado pela L-010.886-2004)
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Acrescentado pela L-011.340-2006).
E quem são esses personagens? O art. 129, § 9º tem como envolvidos:
	a)	Lesão praticada contra ascendente, descendente, irmão.
	b)	Lesão praticada contra cônjuge ou companheiro
	c)	Lesão praticada contra quem o agente conviva ou tenha convivido.
Eu quero saber o seguinte: este terceiro grupo (letra c) é um terceiro grupo de vítimas ou, na verdade, é um complemento dos dois anteriores, exigindo uma convivência presente ou pretérita? 
1º ENTD - Guilherme de Souza Nucci entende que não se trata de um terceiro grupo, mas um complemento dos grupos anteriores. Isso significa que Nucci exige que ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro convivam ou tenham convivido. Se você jamais conviveu com seu ascendente, com o seu descendente, não incide o parágrafo 9º. Então, Nucci não enxerga esse “com quem convida ou tenha convivido” como um 3º grupo. Para ele, estamos diante de um complemento indispensável para configurar os outros dois.
 2º ENTD - Não dá para concordar com ele porque existe a expressão “ou com quem conviva ou tenha convivido” demonstrando que se trata sim, de um terceiro grupo não relacionado à ascendência, descendência, cônjuge, companheiro, irmão. É um terceiro grupo, de pessoa que você convive ou tenha convivido. Exemplo: namorado, amantes, república de estudantes. Sabe o que significa isso? Que o § 9º dispensa coabitação. Se você concorda com a maioria, e não com Nucci, é assim. Dispensa coabitação presente ou pretérita.
O § 9º relaciona ainda, “prevalecendo-se o agente das relações domésticas de coabitação ou hospitalidade.” Na relação de hospitalidade, o que o legislador olhou? Olhou para a visita. Alguém aqui já bateu numa visita? Hospitalidade abrange visita. 
Relações domésticas são as criadas entre os membros de uma família, podendo ou não existir ligações de parentesco (exemplo: patrão e babá de seu filho).
Coabitação é a moradia sob o mesmo teto, ainda que por breve período (exemplo: moradores de uma república). Deve ser lícita e conhecida dos coabitantes.
Hospitalidade é a recepção eventual, durante a estadia provisória na residência de alguém, sem necessidade de pernoite (exemplo: receber amigos para um jantar).
Em todos os casos, a relação doméstica, a coabitação ou a hospitalidade devem existir ao tempo do crime, pouco importando tenha sido o delito praticado fora do âmbito da relação doméstica, ou do local que ensejou a coabitação ou a hospitalidade. Incide a figura qualificada, exemplificativamente, quando o morador de uma república agride um colega que com ele divide a residência no momento em que estavam no interior de um ônibus, no transporte da faculdade.
Esse rol é taxativo ou exemplificativo? É taxativo. Então, não abrange os parentes colaterais, a não ser que entrem “conviva ou tenha convivido”. Eu comentei que a sogra está protegida pela LMP mas vejam que o espectro de proteção da Lei Maria da Penha é bem maior do que o do § 9º. Ela abrange os parentes por afinidade. O § 9º, não, a não ser que se encaixem no “convivam ou tenham convivido”, a não ser que a sogra esteja visitando. Mas o simples fato de ser afim não está abrangido pelo § 9º.
O § 9° do artigo 129 do CP foi inscrito pela Lei Maria da Penha, Lei 11.340/06. Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, trata-se de mais uma qualificadora autônoma da lesão leve.
Veja que se já se tratar de lesão qualificada, não se aplica a pena prevista no § 9°: se aplica a pena da lesão qualificada correspondente, aumentada de um terço, na forma do § 10 do mesmo artigo.
O legislador quis, aqui, reprimir a violência no âmbito doméstico e familiar, e não apenas a violência contra a mulher. Por isso, a vítima, aqui, pode ser qualquer pessoa que se encontre nas circunstâncias mencionadas no § 9°, e não só a mulher.
O § 11 deste artigo 129 comina ainda mais uma causa de aumento de pena em caso de lesão corporal praticada no âmbito doméstico e familiar: a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência, se esta lesão se der nas situações de convívio ou parentesco que o § 9° menciona. A deficiência, para ser considerada, deve ser a efetiva redução da capacidade da vítima.
Primeira pergunta que eu quero que vocês me respondam: esse § 11 é um aumento que se aplica para o § 10 e para o § 9º, ou é um aumento exclusivo do § 9º? Vocês viram que haverá o aumento de 1/3 se a vítima, além de ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro ou prevalecendo-se das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, além desses predicados é ainda portadora de deficiência. Eu quero saber: esse aumento é só para o § 9º, quando a lesão é leve, ou esse aumento é para qualquer um dos parágrafos anteriores, 9º e 10? Só para o 9º!! Ele fala em “na hipótese do § 9º” e só haverá o aumento no caso de lesão cometida contra pessoa portadora de deficiência se a lesão for leve. “PROFESSORA, e se a lesão for grave, gravíssima ou seguida de morte?” o juiz que considere isso na pena-base.
	Então, cuidado! O art. 129, § 11, trata da vítima portadora de deficiência. Nesse caso, a pena é aumentada de 1/3 nas hipóteses do § 9º e o fato de ela ser portadora de deficiência é circunstância judicial a ser considerada nos demais parágrafos. O fato da vítima ser portadora de deficiência é aumento de 1/3 só para o § 9º. Nos demais parágrafos, é mera circunstância judicial.
Causa de aumento de pena nas lesões graves, gravíssimas e seguidas de morte: §10
Se a lesão corporal for grave, gravíssima ou seguida de morte, e o crime for praticado com violência doméstica, incidirá sobre as penas respectivas (art. 129, §§ 1.º, 2.º e 3.º) o aumento de 1/3 imposto pelo § 10 do art. 129 do Código Penal, com a redação conferida pela Lei 10.886/2004.
Inaplicabilidade das agravantes genéricas previstas no art. 61, inciso II, “e” e “f”, do Código Penal
Se a lesão corporal dolosa (leve, grave, gravíssima ou seguida de morte) for cometida com violência doméstica, não se aplicam as agravantes genéricas previstas no art. 61, inciso II, alínea “e” e “f”, do Código Penal, afastando-se o bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato).
1.9. Lesão corporal para fins de transplante de órgãos
A lesão provocada com o intuito de remoção de órgãos ou tecidos do corpo humano,
para fins de transplante, não é tipificada no CP, mas sim na Lei 9.434/97, no artigo 14, § 2°:
“Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições desta Lei:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa.
§ 1.º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa.
§ 2.º Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa
§ 3.º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta para o ofendido:
I - Incapacidade para o trabalho;
II - Enfermidade incurável ;
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.
§ 4.º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta morte:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, e multa de 200 a 360 dias-multa.”
Veja que o artigo supra reproduz bastante do artigo 129 do CP, mas com as penas incrementadas, ante a finalidade normalmente espúria do agente que pratica tal crime.
� As lesões causadas nos esportes violentos são praticadas em exercício regular do direito, e por isso são justificadas, no nosso sistema, e não atípicas. Em sendo adotada a teoria da tipicidade conglobante, porém, o exercício regular do direito será excludente da tipicidade, eis que a conduta não será antinormativa. Como exemplo, a conduta do boxeador ao ferir o adversário em conformidade com as regras do esporte (normatividade do esporte, portanto), é atípica, assim como a do médico que segue o protocolo da cirurgia necessária à cura – não há lesão corporal por atipicidade, nos dois casos.
� Curiosa situação que se pode cogitar é a da perda de um dos dedos por pessoa que possui anomalia física consistente na presença de seis dedos por mão: se a lesão toma-lhe um dedo, estará configurada a qualificadora da mesma forma, porque a função pinça, para esta pessoa, era composta por seis dedos, e não cinco – e a perda de um debilitou a função como esta pessoa conhecia. Esta reflexão leva a concluir que qualquer análise das qualificadoras deve ser feita de um ponto de vista subjetivo, tendo como foco a vítima e suas condições pessoais, sob pena de se cometer injustiças, deixando de se computar uma qualificadora porque uma vítima padece de alguma forma de anomalia qualquer.
� Há tese estranha que fala em função social do hímen, porque atribui a virgindade à mulher. É tese inacatável.
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