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Por questões geomorfológicas( solo fértil e água abundante) e por uestões políticas, durante os séculos XVI e X VII, a produção 
açucareira concentrou-se nas capitanias do nordeste da colônia, princi´palmente na Bahia de todos os Santos e em 
Pernambuco.Nos primeiros anos da poduçaõ, os diferentes grupos indigenas compuseram parte significativa da mão de obra 
escrava dos engenhos açucareiros.Na realidade, o intervalo entre os ano s de 1540 e 1570 marcou o apogeu da escravização 
indigena nesses engenhos. 
No entanto a descorberta de uma nova humanidade criou debates filosoficos extremamnte profundos em toda a Europa.Os 
missionarios católicos e protestantes que haviam entrado em contato com os diferentes grupos indigenas das amércas, lideram 
discussões acerca da natureza desses homens e mulheres recem-descorbertos que marcaram o cenário intelectual do século 
XVI. 
Seguindo as determinações tomadas pela própria igraja catóica, em 1570, a coroa portuguesa sancionou a lei que proibia \ 
escravidão dos gentio – cujo fragmento vimos no inicio da aula.Com exceçãofeita aos aimorés – que se recusavam 
militarmente à conversção catolica, os indios ficavam sob a t utela da companhia de Jesus, não podendo mais servir como 
escravos noa engenhos de açúcar. 
No caso das capitanias do Sul, é possível afirmar que a Lei de Liberdade do Gentio (sancionada em 1570) foi letra m orta. De 
acordo com Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII era cada vez mais frequente o número de expedições q ue assaltavam 
aldeias ind ígenas, transformando seus habitantes em braços para o “serviço obrigatório” ( MONTEIRO: 1994, 57). Isso ocorreu 
porque, diferentemente do que ocorria na r egião açucareira da colônia, os paulistas não se inseriram no circuito comercial 
Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam tr abalhar em suas lavouras. Ao invés de se lançarem ao mar, os 
paulistas se embrenharam sertão adentro. 
Os colonos que rumaram para outras capitanias, sobretudo aquelas localizadas ao sul da colônia, não respeitaram a lei de rei 
D. Filipe II. Se para a Coroa portuguesa e para os missionários jesuítas os índios passaram a ser vistos como g entios (ou seja, 
eram passíveis de salvação), para os colonos que viviam nas capitanias de São Tomé e São Vicente os grupos autóctones 
rapidamente passaram a ser vistos como negros da terra. Nessas localidades, os indígenas foram escravizados 
sistematicamente e serviram como mão de obra fundamental na expansão territorial levada a cabo pelos colonos paulistas. 
As Expedições 
O sonho do El Dorado que havia povoado a mente dos primeiros eu ropeus que se lançaram ao mar no século XV, e que em 
parte havia se materializado em algumas regiões conquistadas pelos espanhóis (como Potosí), ainda acalentava o desejo de 
muitos colonos portugueses. Foi a procura por ouro e prata que fomentou as primeir as expedições para as r egiões interioranas 
da colônia port uguesa. Entre os anos de 1591 e 1601, o governador -geral D. Francisco de Souza armou uma série de 
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Por questões geomorfológicas( solo fértil e água abundante) e por uestões políticas, durante os séculos XVI e X VII, a produção 
açucareira concentrou-se nas capitanias do nordeste da colônia, princi´palmente na Bahia de todos os Santos e em 
Pernambuco.Nos primeiros anos da poduçaõ, os diferentes grupos indigenas compuseram parte significativa da mão de obra 
escrava dos engenhos açucareiros.Na realidade, o intervalo entre os ano s de 1540 e 1570 marcou o apogeu da escravização 
indigena nesses engenhos. 
No entanto a descorberta de uma nova humanidade criou debates filosoficos extremamnte profundos em toda a Europa.Os 
missionarios católicos e protestantes que haviam entrado em contato com os diferentes grupos indigenas das amércas, lideram 
discussões acerca da natureza desses homens e mulheres recem-descorbertos que marcaram o cenário intelectual do século 
XVI. 
Seguindo as determinações tomadas pela própria igraja catóica, em 1570, a coroa portuguesa sancionou a lei que proibia \ 
escravidão dos gentio – cujo fragmento vimos no inicio da aula.Com exceçãofeita aos aimorés – que se recusavam 
militarmente à conversção catolica, os indios ficavam sob a t utela da companhia de Jesus, não podendo mais servir como 
escravos noa engenhos de açúcar. 
No caso das capitanias do Sul, é possível afirmar que a Lei de Liberdade do Gentio (sancionada em 1570) foi letra m orta. De 
acordo com Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII era cada vez mais frequente o número de expedições q ue assaltavam 
aldeias ind ígenas, transformando seus habitantes em braços para o “serviço obrigatório” ( MONTEIRO: 1994, 57). Isso ocorreu 
porque, diferentemente do que ocorria na r egião açucareira da colônia, os paulistas não se inseriram no circuito comercial 
Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam tr abalhar em suas lavouras. Ao invés de se lançarem ao mar, os 
paulistas se embrenharam sertão adentro. 
Os colonos que rumaram para outras capitanias, sobretudo aquelas localizadas ao sul da colônia, não respeitaram a lei de rei 
D. Filipe II. Se para a Coroa portuguesa e para os missionários jesuítas os índios passaram a ser vistos como g entios (ou seja, 
eram passíveis de salvação), para os colonos que viviam nas capitanias de São Tomé e São Vicente os grupos autóctones 
rapidamente passaram a ser vistos como negros da terra. Nessas localidades, os indígenas foram escravizados 
sistematicamente e serviram como mão de obra fundamental na expansão territorial levada a cabo pelos colonos paulistas. 
As Expedições 
O sonho do El Dorado que havia povoado a mente dos primeiros eu ropeus que se lançaram ao mar no século XV, e que em 
parte havia se materializado em algumas regiões conquistadas pelos espanhóis (como Potosí), ainda acalentava o desejo de 
muitos colonos portugueses. Foi a procura por ouro e prata que fomentou as primeir as expedições para as r egiões interioranas 
da colônia port uguesa. Entre os anos de 1591 e 1601, o governador -geral D. Francisco de Souza armou uma série de 
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Por questões geomorfológicas( solo fértil e água abundante) e por uestões políticas, durante os séculos XVI e X VII, a produção 
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Pernambuco.Nos primeiros anos da poduçaõ, os diferentes grupos indigenas compuseram parte significativa da mão de obra 
escrava dos engenhos açucareiros.Na realidade, o intervalo entre os ano s de 1540 e 1570 marcou o apogeu da escravização 
indigena nesses engenhos. 
No entanto a descorberta de uma nova humanidade criou debates filosoficos extremamnte profundos em toda a Europa.Os 
missionarios católicos e protestantes que haviam entrado em contato com os diferentes grupos indigenas das amércas, lideram 
discussões acerca da natureza desses homens e mulheres recem-descorbertos que marcaram o cenário intelectual do século 
XVI. 
Seguindo as determinações tomadas pela própria igraja catóica, em 1570, a coroa portuguesa sancionou a lei que proibia \ 
escravidão dos gentio – cujo fragmento vimos no inicio da aula.Com exceçãofeita aos aimorés – que se recusavam 
militarmente à conversção catolica, os indios ficavam sob a t utela da companhia de Jesus, não podendo mais servir como 
escravos noa engenhos de açúcar. 
No caso das capitanias do Sul, é possível afirmar que a Lei de Liberdade do Gentio (sancionada em 1570) foi letra m orta. De 
acordo com Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII era cada vez mais frequente o número de expedições q ue assaltavam 
aldeias ind ígenas, transformando seus habitantes em braços para o “serviço obrigatório” ( MONTEIRO: 1994, 57). Isso ocorreu 
porque, diferentemente do que ocorria na r egião açucareira da colônia, os paulistas não se inseriram no circuito comercial
Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam tr abalhar em suas lavouras. Ao invés de se lançarem ao mar, os 
paulistas se embrenharam sertão adentro. 
Os colonos que rumaram para outras capitanias, sobretudo aquelas localizadas ao sul da colônia, não respeitaram a lei de rei 
D. Filipe II. Se para a Coroa portuguesa e para os missionários jesuítas os índios passaram a ser vistos como g entios (ou seja, 
eram passíveis de salvação), para os colonos que viviam nas capitanias de São Tomé e São Vicente os grupos autóctones 
rapidamente passaram a ser vistos como negros da terra. Nessas localidades, os indígenas foram escravizados 
sistematicamente e serviram como mão de obra fundamental na expansão territorial levada a cabo pelos colonos paulistas. 
As Expedições 
O sonho do El Dorado que havia povoado a mente dos primeiros eu ropeus que se lançaram ao mar no século XV, e que em 
parte havia se materializado em algumas regiões conquistadas pelos espanhóis (como Potosí), ainda acalentava o desejo de 
muitos colonos portugueses. Foi a procura por ouro e prata que fomentou as primeir as expedições para as r egiões interioranas 
da colônia port uguesa. Entre os anos de 1591 e 1601, o governador -geral D. Francisco de Souza armou uma série de 
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 Grandes propriedades da terra; 
 Clima quente; 
 Chuvas constantes; 
 Solo fértil; 
 Abundância de rios ; 
 As arvores da mata atlântica – ideais para a construçaõ das moendas;e 
 A localização das capitanias do nordeste, que estavam mais próximas ao mercado 
consumidor do produto a Europa. 
Veja também as diferentes partes do engenho ( unidade produtiva do açúcar): 
 Canavial – onde a cana era cultivada; 
 A casa de moenda – onde era extrído o caldo de cana; 
 A casa de purgar – onde o caldo era transformado em melaço; 
 A residência do senhor – conhecida como casa grande; e 
 A residência dos demais trabalhadores. 
Todavia, para que todo esse empreendimento desse lucro de fato sobretudo frent e ao monopólio 
de exportação exercido pela coroa portuguesa – era necessário que a produção fosse mais barata 
possível. 
A escravização 
Foi no contexto da lógica mrcantilista q ue a escravidaõ apareceu como melhor opção para a 
produçaõ do açúcar. Além disso, o uso de escravos vinha coroar uma série de q uestões filosóficas 
colocadas pelos europeus desde o inicio das navegações( no século Xv), quando a Europa entrou 
em contato com sociedades da África- subsaariana e das Américas. 
A nova humanidade q ue se aprsentava para os uropeus seria classificada e ordenada por eles.A 
escravidaõ f oi uma instituição que ordenou boa parte das dinamicas da sociedade da América 
portuguesa. 
Na obra Cultura e opulência do Brasil, o padre André Antonil(1649 – 1716) pontuou bem a 
importância que a escravidão tinha no funcionamento dos engenhos açucareiros. 
Segundo ele: 
Os escravos são as mãos os pés do senhor do engenho, porque sem eles no Brasil não é 
possivel f azer conservar e aumentar f azenda,nem ter engenho corrente.E do modo como se há 
com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço.Por isso, é necessário comprar cada ano 
algumas peças e repartí-la pelos partidos, roças, serraria e barcas. 
A escravização no Brasil 
Durante muitos anos a escravidÃO no Brasil foi vista de forma sistêmica.De um lado estavam os 
índios escravizados, utilizados em sua grande maioria em pequenas e médias produ~]oes, quase 
todas voltadas para a subsistência da colônia.Do outro estavamos africanos escravizados e seus 
descendentes utilizados nas atividades nvolvidas com o mercado externo, como a produção de 
açúcar e a mineração. 
Ainda q ue essa sistematização esteja pautada em uma série de análises qualitativas da 
economia colonial, é importante que tal assertiva não se aplica a todo o período d f abrico de 
açúcar. 
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Aula 1 
O IMPACTO CULTURAL DO CONTATO ENTRE EUROPEUS E ÍNDIOS. O SÉCULO XVI 
Quando os portugueses chegaram ao que hoje se conhece como Brasil, não encontraram o ouro e a prata tão sonhados no Velho Continente, nem reinos perdidos habitados por ciclopes e figuras que assinalavam a força que o paganismo ainda exercia na mentalidade dos povos fervorosamente cristãos da Península Ibérica. Mas assim como os espanhóis - oito anos antes - a frota comandada por Pedro Álvares Cabral encontrou um Novo Mundo. Assim c omo testemunhado por Pero Vaz de 
Caminha, esse Novo Mundo era habitando por homens e mulheres pardos, que andavam nus e q ue não se importavam em cobrir suas vergonhas. Os indígenas que habitavam a “ recém descoberta portuguesa” e eram muito mais diversos do que os lusitanos haviam imaginado. Após os contatos iniciais, os colonos portugueses acabaram fazendo uma distinção da população indígena em dois grandes grupos. O primeiro, conhecido como tupi-guarani graças às semelhanças linguísticas observadas abarcava uma série de sociedades que vivia na extensa região litorânea desde São Vicente ( no sul) até o Maranhão. Tupinambás, tupiniquins, tupinaê e guaranis são exemplos de sociedades indígenas que faziam parte da família linguística tupi-guarani. No outro grupo, estavam os tapuias (palavra tupi que significa os “fugidos da aldeia”, ou “aqueles de língua enrolada”) que ocupavam regiões mais interioranas. Ao que tudo indica, os portugueses acabaram se apropriando da diferenciação que os tupis-guaranis faziam em relação aos grupos que não faziam parte da sua matriz linguística, colocando sob a mesma nomenclatura sociedades indígenas extremamente diversas como os cariris, jês e os caraíbas. 
Ao descrever os aimorés (um dos tantos povos classificados como tapuias), o português Gabriel Soares de Souza disse: 
“Descendem estes aimorés de outros gentios a que chamam tapuias, dos q uais nos tempos de atrás se ausentaram certos casais, e foram-se para umas serras mui ásperas, fugindo a um desbarate, em que os puseram seus contrários, onde residiram muitos anos sem verem outra g ente; e os q ue destes descenderam, vieram a perder a linguagem e fizeram outra nova que se 
não entende de nenhuma outra nação do gentio de todo este Estado do Brasil.” 
Gabriel Soares de Souza, Tratado descritivo do Brasil (1587, pp.78-79). 
Dentre os tupis-guaranis, a sociedade tupinambá acabou tornando-se uma das mais conhecidas, graças ao intenso contato com os portugueses durante os séculos XVI e XVII. O historiador Stuart Schwartz salientou que os tupinambás viviam em aldeias que possuíam d e quatrocentos a oitocentos indivíduos. Tais aldeias eram divididas em unidades familiares que viviam em até oito malocas. As unidades familiares, por sua vez, estavam estruturadas pelo parentesco familiar e obedeciam à divisão sexual do trabalho: grosso modo, aos homens cabiam às atividades de caça, pesca e de guerra, e às mulheres o cuidado com a agricultura e com a casa. 
A agricultura era uma prática que diferenciava os tupinambás dos demais povos tupis -guaranis. Para preparar o solo para a semeadura, os tupinambás desenvolveram uma técnica que rapidamente foi incorporada pelos colonos portugueses: a coivara. 
Essa técnica consistia na abertura de clareiras em determinadas áreas florestais, que em seguida eram queimada s. As cinzas resultantes desse processo eram utilizadas como fertilizantes do solo que, em seguida, era semeado pelas mulheres da aldeia. Dentre os gêneros cultivados estavam: o feijão, milho, abóbora, algumas frutas e, principalmente, a mandioca - base da alimentação tupinambá e, mais tarde, de toda a colônia. Outra característica marcante dos tupinambás era seu ímpeto guerreiro. A guerra tinha funções econômicas e simbólicas para esse povo, na medida em que viabilizava a obtenção de prisioneiros de guerra e a ampliação territorial, além de criar uma intricada rede de status que definia diversos aspectos da vida em sociedade, sobretudo os matrimônios. Junto
com a guerra, os tupinambás praticavam o canibalismo ritual q ue causou horror e curiosidade aos colonos portugueses. 
Baseado na cosmogonia tupinambá, o canibalismo era um ritual antropofágico, no q ual o inimigo prisioneiro de guerra era (depois de uma iniciação), morto pela sociedade vitoriosa, e tinha suas partes distribuídas dentre os indivíduos do grupo vencedor. A ideia era se alimentar (simbolicamente) das características do oponente. 
Antropofagia no Brasil em 1557, segundo descrição de Hans Staden. 
Como sugerido há pouco, traçar padrões culturais e sociais dos tapuias é uma tarefa muito difícil, pois eles não formavam um grupo que se identificava como tal. Estudos recentes apontam que os tapuias pertenciam a diferentes troncos linguísticos, ou seja: eles eram os “não-tupis”, o que significa que eles eram muitas coisas. Um dos povos tapuias mais estudados é o aimoré devido à frequente resistência imposta ao aldeamento e catequese portuguesa. Pertencentes ao grupo etnográfico jê, os aimorés, também conhecidos como botocudos, habitavam o que hoje é o Estado do Espírito Santo e o Sul da Bahia. Eram seminômades, não praticavam a agricultura e tinham uma vida bélica muito desenvolvida; o q ue só se intensificou com a chegada dos portugueses. A relação entre colonos e aimorés foi tão estremecida que, além de protagonizarem uma das mais importantes rebeliões indígenas da história brasileira (a Confederação dos Tamoios), os aimorés foram os únicos que estavam excluídos da proteção contra a escravização do gentio, promulgada pela Coroa portuguesa em 1570. Todavia, durante muitos anos, a diversidade indígena e a própria I lha de Vera Cruz, pareciam não ter despertado o interesse da Coroa portuguesa. Como apontou Manuela Carneiro da Cunha: “todo o interesse, todo o imaginário português se concentra, à época, nas índias, enquanto espanhóis, franceses, holandeses, ingleses estão fascinados pelo Novo Mundo” (CUNHA, 1990, p.92). Foi justamente esse encantamento que fundamentou a construção das primeiras imagens europeias sobre a nova humanidade que se apresentava. Foi justamente esse encantamento que fundamentou a construção das primeiras imagens europeias sobre a nova humanidade que se apresentava. A inocência e a ausência de elementos fundamentais que – na perspectiva europeia – balizavam a noção de civilização marcaram os primeiros escritos sobre os índios. A despreocupação com a nudez f oi reiterada diversas vezes na Carta de Pero Vaz de Caminha, indicando que esses homens e mulheres andavam nus por lhes faltarem a ideia de vergonha. O mesmo Caminha, assim como Vespucci e, mais tarde, Gândavo e Gabriel Soares de Souza f icou surpreso com o fato dos tupis não terem em seu alfabeto as letras F, L e R. Segundo esses homens, essa ausência era a comprovação de que os índios viviam sem Justiça e na maior desordem, pois “se não tem F, é porque não t em f é em nenhuma coisa que ador em (...). Se não t em L 
na sua pronunciação, é porque não tem lei alguma que guardar, nem preceitos para se governarem; e cada um f az a lei a seu modo ( ...). E se não tem esta letra R na sua pronunciação, é porque não t em rei que os reja, e a quem obedeçam. ” (SOUSA, 1971 (1587), p.302) 
A CATEQUIZAÇÃO DOS ÍNDIOS 
As constatações apontadas na tela anterior serviram como norte para a atuação dos religiosos europeus. Se por um lado a Coroa portuguesa só passou a se importar efetivamente com sua colônia americana a partir de 1530, desde os primeiros anos de contato, diversos religiosos, sobretudo os jesuítas, iniciaram um intenso trabalho com os grupos indígenas, conhecido como catequese. Em um primeiro momento, os jesuítas visitavam as aldeias a fim de conhecer um pouco mais sobre cultura, hábitos e língua dos índios, aproveitando a oportunidade para fazer pregações e alguns batismos. Feito o contato inicial, os jesuíta passaram para o segundo estágio da catequese: a conversão, propriamente dita, dos índios. Para tanto, os missionários organizaram os povos indígenas em aldeamentos. O objetivo principal era incutir nesses índios valores e práticas europeias. Desse modo, os índios aldeados eram batizados, também recebiam os primeiros ensinamentos católicos, além de aprender a ler e escrever. Segundo os jesuítas, o aldeamento era fundamental, pois apenas essa estrutura permitia que os índios, de fato, tivessem um canto sistemático com os preceitos cristãos. O padre Manoel da Nóbrega foi um dos que defendeu abertamente os aldeamentos, pois, segundo ele, os índios eram tão instáveis que, com a mesma facilidade que eram convertidos, voltavam para “ sua rudeza e bestialidade”. Para facilitar a aprendizagem, muitos jesuítas recorreram às encenações teatrais, o que deu origem a um dos primeiro gêneros literários do Brasil. Nos aldeamentos, os índios ainda eram treinados para exercer ofícios, como tecelões, carpinteiros e ferreiros. Depois do treino, muitos iam trabalhar para os colonos sob a tutela dos jesuítas - que eram responsáveis, inclusive, pela definição do pagamento dos índios aldeados. Em muitos casos, os aldeamentos acabavam se transformando em pequenas unidades econômicas, cuja principal mão-de-obra era a indígena. Após a missa, muitos índios iam trabalhar na lavoura que garantia a subsistência de todos. Os aldeamentos também tinham como objetivo acabar com a poligamia indígena e com a liberdade sexual que existia em diferentes sociedades, incutindo o modelo cristão de família. 
Como a preocupação maior era a conversão dos índios, os aldeamentos recebiam indivíduos d os mais diferentes grupos e sociedades. Dessa convivência surgiu a l íngua geral (baseada no tupi) que, durante muitos anos, f oi a mais f alada em toda a colônia. Esse convívio mais intenso também possibilitou um conhecimento mais aprofundado dos povos indígenas. As diferenças sociais e culturais existentes entre os grupos indígenas - ilustradas com os exemplos dos tupinambás e dos aimorés - exerceram grande influência nas relações que esses grupos estabeleceram com os portugueses durante os primeiros anos de contato, e foram fundamentais na construção da tipologia indígena pelos mesmos colonos. 
Essas obras, feitas pelo pintor neerlandês Albert Eckhout (1610-1666), são documentos que ajudam a analisar de forma eficiente as duas imagens de índio criadas pelos europeus durante os séculos XVI e XVII. As duas imagens retratam índios “brasileiros”, possivelmente guerreiros, já que ambos estão armados com arcos e f lechas. No entanto, a composição das obras aponta que se tratavam de “tipos” distintos de índios. De um lado, está o tapuia, representado por um homem nu, com brincos e cocares que, em tese, seriam típicos desse povo. Do outro, vê-se um índio tupi, que já tem suas vergonhas escondidas e não utiliza nenhum adorno. Observa-se então, que o tapuia representa o índio selvagem, que nu e enfeitados com plumas e penas, vive no meio da selva. Já o tupi aparece como o índio domesticado, aquele que é passível de salvação e que por isso mesmo, vive em outra “selva”; em uma floresta mais civilizada, na q ual é possível (ao fundo) ver outros índios trabalhando. Como bem apontado por Manuela Carneiro da Cunha “Em 1500, Caminha viu “gente” em Vera Cruz. Falava -se então de homens e mulheres. O escambo povoou a terra de “brasis” e “brasileiros”. O s engenhos distinguiram o “gentio” insubmisso do “índio” e do “negro da terra” que trabalhavam. [...] Pelo fim do século, estão consolidadas, na realidade, duas imagens de índios que só muito tenuamente se recobrem...” (Cunha, 1990, p.109) 
Aula 2 
O IMPACTO CULTURAL DO CONTATO ENTRE EUROPEUS E ÍNDIOS: O APRESAMENTO INDÍGENA 
EXTRAÇÃO DE PAU-BRASIL NO SÉCULO XVI 
Detalhe do mapa "Terra Brasilis" (Atlas Miller,1519). Biblioteca Nacional da França. 
Como bem se sabe, Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500. No entanto, durante os primeiro anos do século XVI, os portugueses estavam mais preocupados em participar do comércio f eito no Oceano Índico, no qual produtos de grande valor como ouro, prata,
seda e especiarias eram negociados. A Coroa portuguesa só foi se preocupar, de fato, com suas terras americanas a partir de 1530. Dessa feita, os primeiros anos da presença portuguesa no Novo Mundo f oram marcados pela atuação dos jesuítas na conversão dos grupos indígenas (por meio da catequese e do aldeamento) e de ações particulares de colonos portugueses que estavam interessados, sobretudo, na extração do pau-brasil, obtido por meio do trabalho indígena. 
Capitanias Hereditárias 
A partir de 1530, a concorrência do comércio do Índico tr o uxe inúmeros prejuízos aos portugueses, que também começavam a ter suas terras americanas invadidas por outras nações europeias. Era preciso efetivar a presença da Coroa lusitana no outro lado do Atlântico, a fim de garantir a posse de suas terras e de conseguir tirar mais proveito da recente aquisição. A primeira medida tomada pela Coroa Portuguesa data de 1534. Nesse ano, a América Portuguesa foi dividia em dezesseis grandes faixas de terra chamadas de capitanias hereditárias. Cada uma dessas capitanias seria doada pelo rei a um nobre português (chamado de donatário), que deveria construir vilas, arrecadar impostos e, principalmente, redistribuir a t erra para quem pudesse cultivá -la. Muitos donatários não cumpriram suas obrigações, sendo que alguns chegaram a nunca colocar seus pés em terras brasileiras. A ineficiência do sistema de capitanias fez com que o rei português tentasse outra forma de administração. Assim em 1548 foi instituído o governo-geral, uma tentativa de centralizar a administração da América portuguesa. 
O PRIMEIRO GOVERNADOR GERAL 
A fim de consolidar o domínio português no litoral, tomé de Souza foi nomeado como primeiro governador-geral do Brasil. O primeiro goverandor-geral, Tomé de Souza,ficou responsável pela construção da cidade de Salvador, na capitania da Bahia, que seria a sede do governo-geral. Além de ser um ponto relativamente ,mais próximo da metrópole, a capital colonial estava localizada em um ponto estratégico, perto das principais regiões produtoras de açúcar – produto que anos mais tarde seria 
considerado o “ ouro branco” da colonia. Essa localização facilitava o controle da produção e exportação do açúcar, garantindo, 
assim , o exclusivismo da coroa portuguesa. 
A MÃO –DE- OBRA ESCRAVA NOS ENGENHOS AÇUCAREIROS 
Por questões geomorfológicas( solo fértil e água abundante) e por questões políticas, durante os séculos XVI e X VII, a produção açucareira concentrou-se nas capitanias do nordeste da colônia, principalmente na Bahia de todos os Santos e em Pernambuco. Nos primeiros anos da produção, os diferentes grupos indígenas compuseram parte significativa da mão de obra escrava dos engenhos açucareiros. Na realidade, o intervalo entre os ano s de 1540 e 1570 marcou o apogeu da escravização indígena nesses engenhos. 
No entanto a descoberta de uma nova humanidade criou debates filosóficos extremamente profundos em toda a Europa. Os missionários católicos e protestantes que haviam entrado em contato com os diferentes grupos indígenas das Américas, lideram discussões acerca da natureza desses homens e mulheres recém-descobertos que marcaram o cenário intelectual do século XVI. 
Seguindo as determinações tomadas pela própria igreja católica, em 1570, a coroa portuguesa sancionou a lei que proibia escravidão dos gentio – cujo fragmento vimos no inicio da aula. Com exceção feita aos aimorés – que se recusavam militarmente à conversação católica, os índios ficavam sob a tutela da companhia de Jesus, não podendo mais servir como escravos noa engenhos de açúcar. No caso das capitanias do Sul, é possível afirmar que a Lei de Liberdade do Gentio (sancionada em 1570) foi letra m orta. De acordo com Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII era cada vez mais frequente o número de expedições que assaltavam aldeias indígenas, transformando seus habitantes em braços para o “serviço obrigatório” ( MONTEIRO: 1994, 57). Isso ocorreu porque, diferentemente do que ocorria na região açucareira da colônia, os paulistas não se inseriram no circuito comercial Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam trabalhar em suas lavouras. Ao invés de se lançarem ao mar, os paulistas se embrenharam sertão adentro. Os colonos que rumaram para outras capitanias, sobretudo aquelas localizadas ao sul da colônia, não respeitaram a lei de rei D. Filipe II. Se para a Coroa portuguesa e para os missionários jesuítas os índios passaram a ser vistos como gentios (ou seja, eram passíveis de salvação), para os colonos que viviam nas capitanias de São Tomé e São Vicente os grupos autóctones rapidamente passaram a ser vistos como negros da terra. Nessas localidades, os indígenas foram escravizados sistematicamente e serviram como mão de obra fundamental na expansão territorial levada a cabo pelos colonos paulistas. 
As Expedições 
O sonho do El Dorado que havia povoado a mente dos primeiros eu ropeus que se lançaram ao mar no século XV, e que em parte havia se materializado em algumas regiões conquistadas pelos espanhóis (como Potosí), ainda acalentava o desejo de muitos colonos portugueses. Foi a procura por ouro e prata que fomentou as primeiras expedições para as regiões interioranas da colônia portuguesa. Entre os anos de 1591 e 1601, o governador -geral D. Francisco de Souza armou uma série de expedições em busca de metais preciosos. A vertente paulista, chefiada por João Pereira Botafogo, conseguiu encontrar algumas minas próximas à cidade de São Paulo, reacendendo o sonho português. No entanto, as expedições subsequentes não corresponderam às expectativas criadas pelos colonos. A Escravidão Indígena Contudo, nem tudo estava perdido. Ainda que o ouro e a prata não tenham sido encontrados em abundância, a experiência das expedições apresentou um produto extremamente interessante para os colonos: os escravos indígenas. Após terminar seu governo, D. Francisco voltou a Portugal com o intuito de co locar em prática um projeto que visava promover a economia das capitanias sulistas da colônia. Com inspiração no modelo da América espanhola, o objetivo er a articular diferentes setores econômicos (mineração, agricultura e indústria), tendo como base o us o da mão de obra indígena (MONTEIRO: 1994, 59). 
Uma vez mais, os colonos portugueses não lograram êxito em suas investidas. Porém a proposta do antigo governador acabou redimensionando os objetivos das expedições para o interior. A busca por ouro deu lugar ao aprisionamento de índios. Embora os colonos utilizassem a procura por metais preciosos frente à Coroa portuguesa - que baixava inúmeras leis proibindo a escravização de indígenas – as expedições organizadas pelos colonos de São Paulo se transformaram em verdadeiras empreitadas escravizadoras. A rentabilidade da venda dos indígenas escravizados era tamanha que rapidamente criou-se uma intricada rede de negociações nas capitanias do sul. Praticamente, toda mão de obra dessa localidade era formada por índios escravizados. Os lucros eram tantos que pagavam os custos e riscos de expedições cada vez mais interioranas. 
Colonos x Jesuítas 
Além das sociedade indigenas, os maiores opositores das expedições f oram missionários e demais religiosos responsáveis pela evangelização dos indios. Apesar dos indígenas trabalharem em condições muito ruins nas missões e aldeamentos, ali não havia o discurso nem a prática efetiva da escravização. Nessas organizações,os indios recebiam instruções religiosas para que 
se convertessem ao cristianismo e passassem a seguir um padrão europeu de vida e de relação com o trabalho.Nenhuma dessas preocupações pautou a organizações das expedições nos sèculos XVII e XVIII. 
Centenas de aldeias foram destruidas, e milhares de indios foram reduzidos ao cativeiro.segundo Monteiro, o padre Montoya 
afirmava q ue as expedições destruiram 11 missões, o que siginificava o apresamento de praticamente 50 mil índios.Ao 
descrever as expedições no rio de Janeiro, o padreLourenço de Mendonça apontou que 60 m il guaranis f oram escravizados
e 
levados para São Pau lo(MONTEIRO:1994, 73-74).Tais índios eram utilizados, sobretudo, na reposiçaõ da f orça de trabalho da 
região sendo poucos os que seguiam para as lavouras de cana. 
Graças às bandeiras que identif icavam as expedições, as campanhas organizadas pir colonos paulistas em busca de índios 
ficaram conhecidas como Movimento Bandeirante. O auge desse movimento em q ue bandeirantes como Antonio Raposo
Tavares e Domingos Jorge Velho ganhavam reconhecimento em t oda a colõnia.Jorge Velho foi, incluvise, convocado pela 
coroa portuguesa para sufocar a rebelião chefiada por Canindé (no Rio Grande),Além de ter sido um dos responsáveis pela 
desartirculação do Quilombo dos Palmares. 
À m edida que as bandeiras aumentavam, crescia t ambém o movimento de oposição, chefiado pelos missionários . Amparados 
pela letra da lei, esses r eligiosos recorreram diversas vezes ao rei português a fim de denunciar os abusos cometidos pelos 
colonos paulistas. Outro Fator que começou a dificultar o m ovimento f oi o aumento das distâncias.O sertão era cada vez mais 
distante, fato que encarecia muito a organização das expedições(que necessitavam de pólvora,chumbo,correntes e íncios 
escravizados). 
Conforme será trabalhado nas próximas aulas, outro fator levou à dimiuição siginificativa das expedições de apresamento( que 
praticamente deixaram de existir a part ir do século XVIII): os diferentes movimentos da ristE^ncia dos g rupos índigenas. Como 
veremos, revoltas individuais, migrações para regiõesaiunda mais distantes e até mesmo rebeliões coletivas despontaram 
nesse contexto. 
Aula 3: MÃO-DE-OBRA INDÍGENA E AFRICANA E A FORMAÇÃO DO SISTEMA ESCRAVISTA 
Ouro branco : f oi assi m que muit os colonos passaram a chamar o pr oduto advindo do processamento do caldo da cana -de 
açúcar, sendo o primeiro gênero produzido em larga escala na Amércia portuguesa. 
A esvolha do açúcar teve duas razões principais: 
Em oprimeiro lugar, o açúcar produzido da cana era um gênero tropical e pro isso mesmo teria grande emanda na Europa; 
Em segundo lugar, os portugueses já possuíam conhecimento do f abrico d e açúcar de cana graças á colonização das ilhas 
Canárias, Madeira, Cabo verde, todas localizadas no atlântico norte. 
Ainda no século X VI, iniciaram-se a s construções dos primeiros engenhos de açúcar em diferentes localidades da América 
portuguesa. Contudo, a região nordeste da colônia acabou se tornando a princiapl produtora de açúcar devido ás suas 
condições naturais. 
Veja algumas delas: 
 Grandes propriedades da terra; 
 Clima quente; 
 Chuvas constantes; 
 Solo fértil; 
 Abundância de rios ; 
 As arvores da mata atlântica – ideais para a construçaõ das moendas;e 
 A localização das capitanias do nordeste, que estavam mais próximas ao mercado 
consumidor do produto a Europa. 
Veja também as diferentes partes do engenho ( unidade produtiva do açúcar): 
 Canavial – onde a cana era cultivada; 
 A casa de moenda – onde era extrído o caldo de cana; 
 A casa de purgar – onde o caldo era transformado em melaço; 
 A residência do senhor – conhecida como casa grande; e 
 A residência dos demais trabalhadores. 
Todavia, para que todo esse empreendimento desse lucro de fato sobretudo frent e ao monopólio 
de exportação exercido pela coroa portuguesa – era necessário que a produção fosse mais barata 
possível. 
A escravização 
Foi no contexto da lógica mrcantilista q ue a escravidaõ apareceu como melhor opção para a 
produçaõ do açúcar. Além disso, o uso de escravos vinha coroar uma série de q uestões filosóficas 
colocadas pelos europeus desde o inicio das navegações( no século Xv), quando a Europa entrou 
em contato com sociedades da África- subsaariana e das Américas. 
A nova humanidade q ue se aprsentava para os uropeus seria classificada e ordenada por eles.A 
escravidaõ f oi uma instituição que ordenou boa parte das dinamicas da sociedade da América 
portuguesa. 
Na obra Cultura e opulência do Brasil, o padre André Antonil(1649 – 1716) pontuou bem a 
importância que a escravidão tinha no funcionamento dos engenhos açucareiros. 
Segundo ele: 
Os escravos são as mãos os pés do senhor do engenho, porque sem eles no Brasil não é 
possivel f azer conservar e aumentar f azenda,nem ter engenho corrente.E do modo como se há 
com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço.Por isso, é necessário comprar cada ano 
algumas peças e repartí-la pelos partidos, roças, serraria e barcas. 
A escravização no Brasil 
Durante muitos anos a escravidÃO no Brasil foi vista de forma sistêmica.De um lado estavam os 
índios escravizados, utilizados em sua grande maioria em pequenas e médias produ~]oes, quase 
todas voltadas para a subsistência da colônia.Do outro estavamos africanos escravizados e seus 
descendentes utilizados nas atividades nvolvidas com o mercado externo, como a produção de 
açúcar e a mineração. 
Ainda q ue essa sistematização esteja pautada em uma série de análises qualitativas da 
economia colonial, é importante que tal assertiva não se aplica a todo o período d f abrico de 
açúcar. 
Ao analisar o inicio da produçaõ açucareira, Stuart Schwartz chamou a atenção para um 
fenomêno pouco estudado: o massivo de índigenas escravizados nos engenhos.Grande parte 
desses índios tinha origem tupi, embora alguns povos tapuias tenham sido encontados nos 
registros. 
A análise se Schwartz se circunscreve á província da Bahia que durante os séculos XVI e XVII, foi 
uma das maiores produtoras de açúcar da América portuguesa. 
Baseado em r egistros paroquiais e inventários, o autor apontou que a lógica que regeu a 
escravidão índigena na produção açucareira foi m uito semelhante àquela q ue ditaria o ritmo de 
trabalho de africanos escravizados anos mais tarde. 
Graças a preferência senhorial, 60% dos escravos eram homens adultos e jovens. Todavia, as 
práticas religiosas incentivaram o casamento de muitos desses homens ,fazendo com que famílias 
escravas tivesse, siginficativa presença nesses engenhos. 
Tendo q ue se adaptar áas condições de trabalho impostos pelos colonos, os índios escravizados 
deveriam r ealizar o cultivo e xtensivo de cana e depois processar seu caldo a fim de obter o 
açúcar. 
A partir do ultimo q uartel do século XVI, a escravidaõ passou a ser, em parte substituída pelos 
africanos escravizados. 
Tal substituiçaõ tinha duas razóes principais: 
A primeira era a relativa f ragilidade dos grupos índigenas em relaçaõ ás inúmeras epidemias qu 
assolaram os engenhos açucareiros; 
A outra razão consistia na gran de circulaçao de dinheiro promovida pelo t ráfico transatlâmntico de 
africannos escravizados. 
Além disso, em meados do século X VI, o valor do escravo africano era relativamente 
baixo, o que o tornava acessível para muitas pessoas. E, mais do que uma propri edade, o escravo 
africano representava um investimento, pois, depois de t rês ou quatro anos, o senhor conseguia 
recuperar, por meio do trabalho do escravo, o que havia pagado por ele e continuava usufruindo 
do seu trabalho por muito mais tempo. 
Não podemos esquecer que o fato de trabalharem em uma terra totalmente desconhecida 
também dificultava fugas e possíveis revoltas dos africanos escravizados. 
O TRABALHO COMPULSÓRIO DOS AFRICANOS 
Esses aspectos foram fundamentais na hora de escolher o trabalho compulsório de africanos em 
detrimento dos indígenas – embora muitos índios tenham trabalhado como escravos na América 
portuguesa, só que em menor escala. 
Fora isso, existiam ainda argumentos religiosos. Na época, a Ig reja católica acreditava que os 
negros africanos não tinham alma. Por isso, o trabalho como escravo seria uma espécie de 
purgatório em vida para q ue depois da morte esses homens e m ulheres pudessem subir ao reino 
dos céus. 
O fato é que a partir de 1580, africanos de diversas localidades do continente passaram a 
desembarcar em peso na América portuguesa para trabalhar como escravos em diferentes
atividades econômicas. 
Os africanos q ue vieram escravizados para o Brasil tinham origens diversas. O mapa abaixo 
mostra as diferentes rotas do tráfico de escravos do continente africano para terras brasileiras. Se 
olharmos o mapa com atenção veremos que existem quatro grandes rotas de comércio. 
ROTA DO TRÁFICO NEGREIRO PARA O BRASIL 
Após a longa travessia, q uando finalmente desembarcavam nos portos da América portuguesa, a 
situação de boa parte dos africanos era péssima. Aqueles que tinham conseguido ag uentar a 
viagem passavam por um breve exame médico e eram rapidamente vendidos. 
Os africanos mais fragilizados, principalmente aq ueles que haviam contraído escorbuto, 
passavam por um processo de quarentena em galpões localizados na região portuária 
Nesses locais eles recebiam uma alimentação especial para recuperar suas forças o mais rápido 
possível. 
Assim q ue estivessem mais f ortes, eram levados para os mercados onde seriam comprados. A 
partir de então, o destino desses africanos estava atrelado a de seu senhor e, em muitos casos, 
eles tinham que continuar a viagem, só que agora pelo interior do Brasil. 
Nem todos os africanos recém-chegados resistiam ao período da quarentena. Por isso, era 
comum encontrar cemitérios nas proximidades do porto. Além dos maus tratos e das doenças 
adquiridas durante a travessia, muitos escravos boçais, isto é africanos recém-chegados, sofriam 
de banzo –, uma doença que parecia atacar a alma de alguns afr icanos q ue, tomados por uma 
tristeza profunda, se deixavam morrer. 
Para muitos deles era preferível morrer a t rabalhar como escravo, pois acreditavam que a m orte 
significava o retorno à sua terra natal, junto a seus ancestrais. 
No entanto, a maior parte dos africanos sobrevivia à travessia do atlântico. Dessa f orma, o 
escravo boçal rapidamente era introduzido à sua nova sociedade. 
Em seguida, ele recebia ensinamentos básicos do catolicismo, como deveriam se port ar perante 
seu senhor, bem como algumas palavras em português. A partir de então o escravo boçal se 
juntava ao ladino e ao crioulo na execução das mais variadas tarefas. 
A JORNADA DE TRABALHO DOS ESCRAVOS 
Para conseguir cumprir a demanda da produção em larga escala, os escravos enfrentavam 
jornadas de trabalho que variavam de doze a dezoito horas e eram constantemente vigiados por 
feitores e capatazes para que otimizassem seu tempo de trabalho. 
As péssimas condições que viviam os escravos 
Apesar de cuidados com alimentação, moradia e vestimenta serem de responsabilidade senhorial, 
a f ácil reposição dos escravos ajuda a explicar as péssimas condições de vida que os 
proprietários ofereciam a seus cativos. 
A alimentação que os escravos recebiam costumava ser composta apenas por f arinha de 
mandioca ou de milho, uma porção de carne salgada e, por vezes, um pouco de feijão: o básico 
para o sustento humano. As roupas desses cativos eram feitas de panos de algodão simples e 
deveriam durar ao menos um ano. 
Muitos escravos que adoeciam eram deixados à própria sorte, pois, como vimos, muitas vezes era 
mais vantajoso comprar um novo cativo do que cuidar do enfermo. 
Aula 4: A RESISTÊNCIA À ESCRAVIDÃO - RELIGIOSIDADE 
Festa de Nossa Senhora do Rosário – patrona dos negros 
A imag em ao lado é uma litogravura pintada pelo viajante alemão Johan Moritz Rugendas, q ue 
viajou pelo Brasil entre os anos de 1822e 1825.Nela o viajante r egistrou um evento comum na 
história do Brasil escravista: as festas das irmandades negras. 
Tais festividades reuniam negros e mestiços, escravos e libertos, na comemoração do Santo 
Pdroeiro.Era um dos poucos momentos em que esses homens e mulheres podiam se reunir e 
festejar, pois essas festividades tinham o aval da Igraja para ocorrer. 
A igr eja Ctólica f oi uma das mais importantes instituições da história do Brasil.È possivelç afirmar 
que ela foi uma das responsáveis pela chegada dos portuguese no Novo Mundo, bem como por 
parte das políticas coloniais adotadas pela metrópole. 
Dito de outra forma, a colonização das Américas também era um movimento de conversão, de 
catequese dos autóctones do continente e, mais tarde, dos africanos escravizados que aqui 
chegavam. O f ervor religioso chegou, inclusive, a colocar Ig reja Católica e coroa portuguesa em 
posições antagônicas(como no uso de índigenas como escravos). 
Dessa f orma, todos os q ue habitassem a América portuguesa - índios, africanos, portugueses, 
escravos e livres – deveriam ser católicos. As intervenções da inquisição durante o período 
colonial apontam que a igreja levaca a sério a obrigação de cuidar de seu rebanho e de assegurar 
que ninguém desviaria dos propósitos divinos. 
Diferentes grupos índigenas passaram ( muitas vezes, á f orça) pelo processo de catauqese. Já os 
africanos recém – chegados eram batizados e recebiam um nome q ue deveriam levar até a morte 
e , quando comprados por senhores religiosos, recebiam os primeiros ensinamentos católicos. No 
entanto, se a Igreja tinha propósitos, africanos e índigenas soberam ler nas entrelinhas o que era 
dito e pregado, dando outro significado às práticas religiosas como formas de resistência. 
Em alguns casos ( como nas irmandades negras), tais práticas pareciam conviver com o sistema 
escravista, mas, em outros, a escolha religiosa transformou –se em f erramenta efetiva de luta e 
resistência. 
Resistência 
A resistência foi uma constante na vida de índios e africanos escravizados. Ainda que as formas, 
tidas como clássicas, de resistir à escravidão passem pela luta aberta ― que muitas vezes 
levavam ao embate físico. 
A instauração do sistema escravista na colonização da América portuguesa (e sua manutenção no 
Império do Brasil) acabou abrindo f lanco para outras f ormas de resistências; formas essas que, 
muitas vezes, utilizavam as instituições coloniais como muleta. 
Para a grande maioria, a resistência ao cativeiro se f azia dia a dia, da hora em q ue se levantava 
para trabalhar até o m omento de se recolher para dormir. Onde quer que tenha existido 
escravidão também houve r esistência escrava. E t al r esistência f oi experimentada em diferentes 
níveis durante toda a história da escravidão no Brasil.
No caso indígena, uma das formas mais frequentes de resistência f oi o isolamento. Depois dos 
primeiros anos de contato, das mortes volumosas por epidemias vindas do Velho Continente, da 
catequização e da escravização, muitas sociedades indígenas decidiram rumar para regiões de 
difícil acesso, g uiando-se pelos cursos dos rios. Contudo, conforme anunciado, muitos índios 
resolveram ir para a luta aberta e fizeram da religião uma importante arma. 
Religiosidade 
Antes do contato com os portugueses, a maior parte dos povos indígenas tinha um homem 
responsável pelos cultos religiosos. 
Tal homem recebia o título de pajé ou de xamã e, g raças à sua relação com forças sobrenaturais, 
ele g ozava de posição de prestígio entre os seus, o que fazia deles um dos principais inimigos do 
movimento de catequese. 
Ainda que os missionários tentassem acabar com os poderes (simbólicos e políticos) que os pajés 
tinham, eles não conseguiram desconstruir o panteão e os rituais religiosos de muitas sociedades 
indígenas com as quais entraram em contato. 
Do sincretismo entre os dizeres e propósitos cristãos com as crenças e práticas religiosas 
indígenas originou-se a “Santidade” (nome dado pelos portugueses). Esse f enômeno era um culto 
sincrético e messiânico, no qual os índios questionavam o Deus católico e posicionavam-se contra 
os senhores brancos. 
Segundo Schwartz e Vainf as, esse movimento era uma combinação de crenças dos tupinambás 
no paraíso terrestre, com a hierarquia e os símbolos do cristianismo. Havia o culto em ídolos com 
poderes sagrados feitos de cabaça e pedra que, segundo os seguidores, dotariam os fiéis de força 
para lutar contra os brancos. 
Esses “santos” teriam ainda poder de vitalizar os idosos ou
fazer as enxadas trabalhares 
sozinhas. Para tanto, era necessário ent oar cantos e r ealizar cerimônias q ue podiam durar dias 
seguidos (regados do alto consumo de bebidas alcóolicas e infusão de taba co), muitas vezes 
levando os fieis ao estado de transe. 
O mais interessante é reconhecer as contribuições católicas deste movimento. 
Além dos ídolos receberem o nome de santos, os líderes do movimento proclamavam-se como 
“papas”, chegando a nomear bispos e organizar os “ missionários”, que t inham a incumbência de 
difundir o culto em outras localidades. Houve até m esmo um caso no qual os seguidores da 
Santidade criaram uma igreja destinada ao culto de “Maria”. 
(SCHW ARCTZ:1993, 54-55) 
A “ Santidade” foi muito comum durante o século XVI, demonstrando como os índios que entraram 
em contato com os portugueses souberam reler os interesses e crenças cristãos sob uma nova 
ótica. Visão que lhes f avorecia e que q uestionava as bases do sistema colonial q ue estava sendo 
montado. 
Com o passar dos anos, a morte crescente por epidemias e a entrada cada vez mais volumosa de 
africanos escravizados, a “Santidade” foi perdendo parte de seus seguidores, dando lugar a outras 
formas de resistência indígena, que serão abordadas na próxima aula. 
As Irmandades Religiosas
Não f oram apenas os índios q ue souberam usar preceitos do catolicismo na luta contra a 
escravidão e a catequese. O s africanos escravizados e seus descendentes também criaram uma 
série de práticas, aparentemente inofensivas ao sistema escravista, que visava resistir à 
escravidão por meio de releituras religiosas. 
Uma alternativa que muitos escravos encontraram não só para construir suas famílias extensas, 
mas também para lutar pela liberdade, se deu através da f iliação às Irmandades Negr as criadas 
no Brasil. 
A história das Irmandades Religiosas remonta à Idade Média ― período no qual devotos de 
determinados santos criaram, com o aval da Igreja Católica, organizações, cujo principal objetivo 
era fazer caridade e ampliar a fé cristã. 
As irmandades negras, criadas desde o período colonial, seg uiam os mesmos preceitos religiosos 
das demais: todos os membros deveriam efetuar o pagamento da t axa anual ― dinheiro que seria 
revertido em festas, rituais fúnebres e missas das igrejas. 
A grande diferença dessas irmandades estava na condição de seus membros (a maioria eram 
escravos e/ou libertos) e o f ato delas adorarem santos negros, como Nossa Senhora do Rosário, 
Santos Elesbão, Santa Ifigênia e São Benedito. 
Muitos senhores e a própria Igreja Católica viam com bons olhos a f ormação das irmandades 
negras, pois acreditavam que essa era m ais uma forma de controlar a população escrava e 
liberta, já que esses homens negros passariam a compartilhar a mesma religião que seus 
proprietários ou ex-senhores ― religião que defendia a escravização de negros crioulos ou 
escravos. 
Negras novas a caminho da Igreja para o batismo 
Contudo, embora tivessem a mesma f é religiosa q ue seus senhores, as irmandades negras foram 
importantes espaços de sociabilidade para negros cativos e alforriados. 
Os membros de uma mesma irmandade criavam laços de amizade, parentesco e, sobretudo, 
solidariedade: muitas vezes, o padrinho de um recém-nascido era escolhido dentro da irmandade 
que os pais da criança faziam parte. 
Casamentos entre escravos ou de cativos com libertos também ocorriam nessas organizações. As 
irmandades negras ainda garantiam enterro e cortejo fúnebre digno para todos os seus membros. 
Além disso, em alguns casos, as irmandades negras ou irmandades de “homens pretos” eram 
formadas por africanos escravizados da mesma origem. Escravos e libertos angola ou congo se 
reuniam e formavam uma irmandade, reforçando, assim, identidades oriundas do outro lado do 
Atlântico. 
Em det erminadas situações, esses escravos também cultuavam entidades religiosas africanas ou 
atribuíam as mesmas características de deuses da sua terra de origem a santos católicos, como a 
forte relação estabelecida entre São Jorge e o orixá Ogum. 
Mais do que ampliar as redes de parentesco, as irmandades negras tiveram papel importante na 
luta pela liberdade de muitos escravos. Diversos escravos africanos e crioulos conseguiram obter 
sua liberdade graças à poupança f eita por seus “irmãos” de credo. Assim que comprava a alforria 
de um membro, a irmandade começava uma nova poupança para ajudar outra pessoa.
Anualmente, cada irmandade fazia a festa para seu santo padroeiro. Esse era o momento mais 
importante de cada irmandade. Tal comemoração era composta por uma longa procissão, missa 
solene e grande festa com muita música, dança e batuque. 
Também era nessa festa que a irmandade coroava seu rei e sua rainha. Para os escolhidos, esse 
era um momento de grande prestígio frente a seus companheiros. 
A devoção de escravos e libertos fez com q ue algumas irmandades negras ganhassem muito 
prestígio e se transformassem em organizações com muito dinheiro. Um exemplo disto está no 
fato de q ue, no Rio de Janeiro, tanto a Igreja de Nossa Senhora do Rosário como a Igreja de São 
Elesbão e Santa Efigênia terem sido construídas na região central da cidade. 
Famílias 
Mais do que a formação segundo o modelo acidental (ou a família nuclear composta pelo casal e 
seus filhos), os africanos e crioulos escravizados conseguiram desenvolver uma ideia de f amilia 
muito próxima daquela encontrada em diferentes regiões africanas: a família extensa. 
Já que os laços de parentesco originais haviam sido r ompidos pelo processo de escravização, 
muitos cativos encontraram no apadrinhamento uma forma eficaz e legitima (frente o s olhos dos 
senhores, da igreja Católica e do Estado) de reconstruírem suas redes de parentesco. 
Escravos e libertos batizavam os filhos de seus companheiros sob o juramento de se 
responsabilizar pela criança caso algum incidente ocorresse com seus pais. O compadrio também 
foi utilizado como uma das estratégias na luta pela liberdade, tendo que os padrinhos e 
madrinhas, principalmente os alforriados e livres, se comprometiam em empenhar-se pela 
obtenção da liberdade de seus afilhados. 
Diferentes deuses e entidades africanas 
As f amílias e xtensas também estiveram presentes em muitas das r eligiões de matriz africana 
criadas em solo brasileiro. Africanos que vinham de regiões islamizadas da África, como o Golfo 
da G uiné, continuaram acreditando em Alá e, q uando chegaram em solo brasileiro, fizeram o 
possível para encontrar outros muçulmanos e cultivar suas tradições e costumes. 
Os escravos e libertos islamizados criaram verdadeiras redes de contato e, em diversas situações 
eles, aqui no Brasil, sabiam de episódios importantes que estavam acontecendo em território 
africano ou em outras colônias e países da América. 
Religiões q ue cultuassem diferentes deuses e entidades africanas também foram comuns ao 
longo da história brasileira, embora os senhores, a Igreja católica e as autoridades 
governamentais tentassem proibir essas práticas. 
No Maranhão, africanos minas iniciaram o cult o dos voduns; na Bahia, africanos jejes e nagôs 
reverenciavam os orixás. T anto os voduns como os orixás eram deuses ancestraisou heróis de 
diferentes sociedades africanas. 
Conforme ocorria na religião de diversos povos africanos, cada pessoa tinha um orixá q ue lhe 
acompanhava durante toda a vida e, para entrar em contato com seu orixá, a pessoa deveria 
passar por um ritual de possessão que era acompanhado de música e dança. 
Durante o período em que estava em transe, a pessoa entrava em contato com a força divina e, 
muitas vezes, conseguia resolver os problemas que lhe afligiam. Muitos escravos e libertos f aziam 
isso. 
Aos poucos, a crença nos orixás f oi se desenvolvendo e, no século XIX, deu origem ao 
Candomblé. Essa religião era formada por “irmãos de fé” ― pessoas q ue acreditavam nos orixás 
e que se reuniam em torno a uma mesma casa ou terreiro.
Nesse espaço, comandado por uma mãe de sant o ou um pai de santo, além de r ealizar suas 
cerimônias religiosas, entrar em contato com seus deuses e buscar repostas por meio de jogos de 
adivinhação (como o jogo de búzios), muitos escravos e libertos conseguiram formar outra família, 
que muito se assemelhava com as grandes linhagens existentes em diversas localidades 
africanas. 
Aula 5: FORMAS DE RESISTÊNCIA AO PODER ESCRAVISTA 
Formas de resistência 
Conforme visto na aula anterior, onde quer que tenha existido escravidão, houve resistência.Na 
história brasileira, isso não foi diferente: grupos indígenas, africanos escravizados e crioulos ( 
descendentes de africanos nascidos na América) criaram diferentes formas de resistir à 
escravidão e, em alguns momentos, ao sistema escravista que ditava o ritmo de suas vidas. 
Fugas 
A fuga foi uma das formas mais utilizadas par a resistir à escravidão, sendo uma estratégia de 
resistência t ão frequente q ue os senhores utilizaram diferentes formas de lutar contra ela. Nas 
regiões rurais era comum q ue os senhores contrat assem os capitães do mato – homens 
especializados em recapturar escravos fugidos. 
Já nos grandes centros urbanos, a captura de escravos ficava sob incumbência da polícia.Os 
jornais das vilas e cidades eram repletos de anúncios f eitos pelos senhores que não só 
denunciavam as escapadas dos escravos, como ofereciam a descrição física do f ugitivo e muitas 
vezes algum tipo de recompensa para quem o encontrasse. 
Quando a captura do escravo fugido ocorria, os senhores costumavam aplicar castigos físicos 
violentos e obrigar o escravo a usar uma gargalheira que servia como símbolo de escravo f ugido. 
No entanto, a despeito das punições, a fuga f oi uma estratégia amplamente praticada por aqueles 
que vivam no cativeiro. 
Anuncio de fuga escrava no jornal 
De forma geral, é possível af irmar que existiram dois tipos de fuga na história da escravidão no 
Brasil: 
- No primeiro caso, encontram-se as fugas que tinha como objetivo a reivindicação escrava por 
melhores condições de vida. Escravos que estivessem trabalhando mais do qual o habitual 
poderiam realizar pequenas escapadas e só retornar à propriedade de seu senhor mediante 
algum tipo de negociação. Cativos que eram impedidos de f estejar ou de visitar sua família 
também a esse tipo de fuga para conseguir estabelecer acordos com seus senhores; 
- O segundo t ipo de f uga era aquele q ue pretendia negar a escravidão. Nessas circunstâncias, os 
escravos abandonaram a propriedade senhorial e , individualmente o u em grupo, iam buscar 
formas alternativas de viver fora do cativeiro.Muitos cativos se embrenhavam no meio de mato e 
lá construíam pequenas comunidades que ficaram conhecidas como quilombos ou mocambos. 
Outros preferiam tentar a vida em lugares mais distantes, principalmente nas grandes cidades, 
pois nesses espaços o escravo fugido poderia se passar por um negro liberto.
Os quilombos 
Em muitos casos, as fugas coletivas acabam transformando -se em outra f orma de resistência à 
escravidão: os quilombos também conhecidos como mocambos – comunidades formadas por 
escravos f ugidos. Nessas comunidades, os escravos refaziam suas vidas a margem do cativeiro. 
Lá, construíam f amílias, estabeleciam laços de amizade, plantavam, criavam animais e chegavam 
a comercializar com povos indígenas q ue habitavam as redondezas ou, então, com os v ilarejos 
próximos. 
Apesar de ser uma organização q ue f oi duramente combatida pelos senhores e pelas autoridades 
governamentais, os quilombos não eram comunidades isoladas. Os documentos de época 
mostram que muitos quilombolas f aziam trocas comerciais clandestinas com os engenhos, 
fazendas e cidades próximas. 
Em alguns casos, os quilombolas aproveitaram o cair da noite para visitar familiares e amigos que 
viviam sob o cativeiro. Em outras situações era o inverso q ue ocorria: os escravos realizavam 
pequenas fugas e passavam algumas horas, ou até mesmo dias, nas festas que aconteciam no 
mocambo. 
Grande parte dos quilombos que foram identificados estavam localizados próximos das regiões 
com grande concentração d escravos. Palmares, o mais conhecido quilombo da h istória brasileira, 
se formou durante o século XVII nas adjac^ncias da zona da m ata pernambucana, localde intensa 
produção de açúcar e, consequentemente, significativa concentração de cativos. 
A região das m inas, que possuía a maior concentração de escravos no século XVIII, também foi 
palco da formação de muitos quilombos. Além do controle da tributação sobre o ouro e diamante 
que era extraído da província, as autoridades coloniais ainda se viram obrigadas a combater a 
criação dessas comunidades que, na maior parte dos casos, estavam muito próximas. 
Os q uilombos mineiros não só expunham a fragilidade do controle de escravos na região,mas 
também causavam grandes transtornos para as vilas e cidades.As autoridades de Vila Rica ( q ue 
mais tarde seria a cidade de Ouro preto) recebiam constantes queixas de que quilombolas haviam 
roubado propriedades ou então estavam impedindo a passagem em alguma estrada que ligava o 
perímetro urbano às fazendas produtoras de gêneros alimentícios. 
Esses mesmos quilombolas também f aziam incursões ás fazendas e pequenas propriedades para 
resgatar f amiliares e amigos, e nesse vai e vem construíram redes de comércio com pequenos 
negociantes e produtores. 
Na tentativa de destruir essas comunidades, as autoridades praticamente instituíram o capitão do 
mato como figura de poder, armaram milícias compostas por homens livres e libertos, e proibiram 
que comerciantes negociassem com os quilombolas. Em momentos de crise, chegou a ser 
autorizado que todo quilombola encontrado tivesse uma de suas mãos decepadas. 
Relações estreitas entre quilombolas e pequenos negociantes também foram f requentes nos 
mocambos e q uilombos que se formaram nos arredores do rio de janeiro, no período em que a 
cidade era capital do Império. A região q ue hoje é conhecida como baixada fluminense foi um dos 
locais de maior concentração dessas comunidades. Era para lá que muitos escravos que 
trabalhavam no perímetro urbano da Corte fugiam, pois, ao mesmo tempo em que a região estava 
afastada do grande centro, sua localidade ainda permitia um contato frequente com a cidade. 
Na realidade, essa proximidade f oi uma espécie de estratégia de sobrevivência para muitos 
desses mocambos, pois permitiu q ue os q uilombolas co nseguissem negociar alimentos e
cestarias que produziam garantindo assim seu sustento. Junto à região que era banhada pelo rio 
Iguaçu, muitos cativos também se refugiaram nas matas da floreta da Tijuca. 
Planta baixa do quilombo São Gonçalo (1786) 
Grande produtora de açúcar e tabaco, a capitania, e mais tarde província da Bahia, também tinha 
uma g rande concentração de escravos. Por isso, nas redondezas se salvador e do Recôncavo, 
inúmeros quilombos foram encontrados. 
Revoltas e conspirações 
Tal rebelião começou anos antes, quando o colono João Ramalho – amigo de Brás Cubas, na 
época, era governador da capitania de São Vicente – casou – se com Bartira, a filha de Tibiriçá, 
cacique dos Guainazes da região. Conforme os costumes dos guaianazes, o casamento de 
Bartira foi tomado como uma aliança do grupo com os portugueses, a ponto dos guaianazes 
colaborarem com os colonos no processo de aprisionamento e escravização dos tupinambás que 
viviam no litoral, entre os atuais Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. 
Apesar de menos fr equentes do que as f ugas e a criação de com unidades q uilombolas, as 
revoltas também foram estratégias de luta utilizadas pelos escravos. Na realidade, mais as 
conspirações de possíveis revotas escravas do que as r evoltas propriamente ditas inquietaram 
senhores e autoridades de todo Brasil, pois elas representavam a possibilidade do f im total da 
escravidão. 
O contato e o processo de aldeamento indígena
foram responsáveis por diversas revoltas no 
período colonial. Ocorr ida ente os anos de 1554 e 1567, a Confeder ação dos Tamoios foi uma 
revolta dos tupinambás contra a tentativa de escravização levada a cabo pelos colonos 
portugueses. 
As investidas dos portugueses e seus aliados obrigou a resistência dos Tupinambá que liderados 
por Aimberê, organizaram –se e formaram a Confederação dos tamoios ( que em tupinambá, 
significa “mais velho”). A primeira batalha foi vencida pelso tamoios, resultando na morte de 
Tibiriçá. 
Os conflitos foram interrompidos por um ano de paz, resultante ddas ações dos padres Manoel da 
Nobrega e José de Anchieta, que estavam receosos da onda de violência criada pelos confrontos. 
Todavia, durante esse ano de trégua, os colonos portugueses se armaram e reiniciaram o 
processo de escravização dos índios tupinambás. 
Nesse segundo momento de confronto, os tamoios contaram com a Judá dos franceses 
desembarcados no rio de janeiro, em 1555, e que, comandados por Villegaignon. Tionham o 
intuito de fundar uma frança antártica. As batalhas duraram quase um ano e os portuguese s só 
conseguiram vencer depois do reforço oferecido por Men de Sá, governador-geral do Brasil. 
A rebelião teve fim em 20 de janeiro de 1567, quando o líder Aimberê foi morto.

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