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Unidade II ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Profa. Eliana Delchiaro Para começar a reflexão... Ler e escrever é mais que codificar e decodificar textos. Conteúdo da Unidade II O fim das cartilhas em sala de aula. A concepção piagetiana de criança. Comunicação e linguagem. Sondagem da escrita infantil. Ao desenhar, a criança escreve. Concepções que a criança adquire sobre os símbolos linguísticos antes da alfabetização. A novidade na alfabetização com Emilia Ferreiro. A linguagem escrita. Textos e jogos. O fim das cartilhas em sala de aula Os primeiros trabalhos escolares de alfabetização, na época do Brasil Colônia, foram realizados com cartilha, quando ainda se aprendia latim na escola (influência religiosa). No século XIX, as cartilhas vinham de Portugal, pois no Brasil não havia permissão para publicação. Como era Em torno da década de 1950, os professores tinham o hábito de produzir seus próprios materiais para suas aulas de alfabetização (surgimento dos testes ABC) com o método alfabético: era utilizado o processo de soletração para decifrar a palavra – bola: be-o-bo, l-a-la. O método fônico enfatizava a menor unidade da fala – o fonema – e sua representação na escrita, ensinando as formas e os sons das vogais, depois as consoantes e vogais, estabelecendo relação entre estas. Como era Lembramos, assim, que tempos atrás era normal alfabetizar-se a partir da memorização das sílabas “ba – be – bi – bo – bu”, e só quando os alunos conseguiam memorizar todas as sílabas dava-se início à leitura de pequenas frases como: “Ivo viu a uva.” “A baba e o bebê.” Frases que nem sempre tinham sentido, mas que comprovavam a memorização das sílabas e entendia-se, a partir disso, que a criança já estava alfabetizada. Você reconhece esses materiais? Método Castilho Antonio Feliciano de Castilho. 2ª edição. Lisboa: Imprensa Nacional, 1853. A 1ª edição é, provavelmente, de 1850. Em 1855, Antonio de Castilho veio ao Brasil divulgar seu “método” de alfabetização. Fonte: http://temposescolares.blogspot.com.br/2010/05/o-poder-na-alfabetizacao.html Você reconhece esses materiais? Caminho suave: 1º livro. Branca Alves de Lima. Leitura intermediária. Ilustrações de Flavius. Fonte: https://muzeez.com.br/historias/cartilha-caminho-suave/gdXfvb8MrSbd7zPLM 1948 – 1ª ed. 1965 – 68ª ed. 1980 foi modificada. Fenômeno de vendas no Brasil – 40 milhões de exemplares. Você reconhece esses materiais? No reino da alegria. Doracy de Almeida. São Paulo: IBEP (Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas), 1974. Ela tem formato bem maior que suas antecessoras. Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/350027/2/images/28/No+Reino+da+Alegria+Doracy+de +Almeida.+S%C3%A3o+Paulo:+IBEP,+s.d..jpg Recordemos O macaco e vovô vovô é o macaco de boneca. A boneca menina: - Vovô, menina a boneca. O macaco vovô a boneca. Menina dá boneca a vovô. (de uma aluna da 1ª série, São Paulo) (GERALDI, J. W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 2003) Antes É importante entender que, se a concepção de criança era de que ela não pensava, não tinha nenhum saber sobre escrita no período anterior à alfabetização... era simplesmente o treino de habilidades, pois se acreditava na necessidade de prepará-la para a escrita, a famosa prontidão. Atualmente, o conceito de criança mudou, e também os livros O Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) mostra que os professores ainda escolhem os livros tradicionais para uso em sala (são encaminhados por editoras e, depois de votados, são adquiridos pelo governo para entregar às crianças). Fato explicado pela realidade de que muitos professores esperam encontrar nos livros de alfabetização a permanência de procedimentos sistemáticos (sílabas) para ensinar a ler e escrever. Pense um pouco sobre... A cartilha é o ideal para ensinar uma criança nos dias de hoje? Quais práticas são possíveis? Qual é a verdadeira finalidade da escola hoje? Quais formas de acesso as crianças têm ao mundo letrado em nossa cultura? Sugestão: listas que fazem a diferença Uma forma de criar um ambiente que estimule a leitura e escrita é ter dispostas na sala de aula listas com o nome dos alunos ou, ainda, mostrar títulos de várias histórias e depois de contá-las e também criar cartazes que tenham essas listas dispostas na classe. Vamos criar um ambiente alfabetizador? A escola e as práticas sociais As práticas escolares devem ter enfoque no desenvolvimento e na construção da linguagem, do gesto, de sons, da imagem, da fala e da escrita, por meio de jogos e atividades que permitam à criança pensar e dialogar sobre essa linguagem. A criança precisa ser entendida como ser humano, que tem direito a um espaço para aprender e entender, para ampliar seu universo de descobertas, despertar seus interesses, conhecer o mundo e os caminhos a fim de buscar informações na construção do seu conhecimento. Desenvolvimento e aprendizagem Piaget elucidou duas situações: a do desenvolvimento e a da aprendizagem. O desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo, diz respeito ao desenvolvimento do corpo, ao desenvolvimento do sistema nervoso e das funções mentais. A partir desse ponto de vista, quando se fala em desenvolvimento, não se trata, somente, do aumento quantitativo das qualidades humanas que estariam dadas como potenciais em cada criança, mas também da formação e desenvolvimento das qualidades humanas (valores, atitudes e comportamentos), que não são inerentes ao nascimento das crianças e que precisam ser aprendidas nas relações que as crianças estabelecem. Desenvolvimento e aprendizagem A aprendizagem deve ser provocada por situações, ou seja, por um experimentador psicológico, um educador, aliado a uma situação externa. Ela é provocada. Assim, não acontece naturalmente, é oposta ao que é espontâneo. 1stcousinswithpuppy.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/> Interatividade Qual será uma das razões por se condenar o uso da cartilha nos dias de hoje? a) Sua linguagem é irreal. b) Sua abordagem é didática. c) Suas letras mudaram no alfabeto. d) Seus textos são expressivos. e) Sua lógica é muito infantil. A concepção piagetiana de criança A criança inicia seu processo de alfabetização/letramento desde o nascimento. Desde então, pode-se dizer que tem vida e, portanto, história, nome e significado social. Nas etapas iniciais do seu desenvolvimento, desenvolve sua coordenação da visão, movimento de mãos, agarra seus brinquedos e os mantêm presos entre os dedos por algum tempo. A concepção piagetiana de criança Os progressos nas coordenações intersensoriais vão lhe permitir balançar brinquedos dependurados no berço, levar a chupeta até a boca. Essas coordenações demonstram um aspecto interno ligado à organização intelectual e a um aspecto externo, que se observa no plano das condutas, enquanto possibilidade de combinar sistemas. A concepção piagetiana de criança A criança começa a alfabetizar-se a partir do nascimento. Embubbles.jpg. Disponível em:<http://www.morguefile.com/archive/display/89760>. A concepção piagetiana de criança No segundo ano de vida, a criança é capaz de executar uma série de ações que evidenciam seu progresso ao controlar movimentos; com uma organização interna mais ampla, é capaz de empilhar objetos, encaixá-los, deslocar-se para pegar brinquedos, fingir realizar ações do mundo adulto, como pentear cabelo, embalar aboneca como um bebê, “dar comidinha”. Porém, esse desenvolvimento motor ainda não lhe permite o domínio das relações entre lápis e papel. A concepção piagetiana de criança As relações evoluem no decorrer do terceiro ano de vida. No início da atividade de escrita, seu prazer se dá no ato puro e simples de rabiscar, de exercitar motoramente marcas no papel. Pouco a pouco, o controle dos movimentos do braço e mãos aumenta. A criança atribui significado ao que produz. Keeping the book.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/ archive/display/622652> A concepção piagetiana de criança Aos quatro anos, a criança atribui significado a tudo que registra no papel. Sua pressão sobre um papel deixa marcas, com traçados diferentes e em todas as direções. Essa conquista se dá porque seu pensamento está evoluindo, de modo que suas primeiras figuras apareçam. O desenho e a escrita evolvem a capacidade de representação, e assim também é com a oralidade, o faz de conta, a modelagem, o movimento etc. Concepção linguística de alfabetização – Vygotsky A criança precisa da intervenção do adulto para buscar semelhanças entre o que produz e o objeto representado e de ser estimulada a desenvolver de maneira criativa formas distintas para registrar o que deseja. JGS_mF_CurrentEvents.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/150538>. A criança aprende a refletir sobre o que faz e diz Aos seis anos os avanços na capacidade representativa são grandes. O objeto internamente representado tem certa correspondência com o real, o que facilita ao adulto identificar a intenção da criança que, neste momento de sua vida, apresenta maior capacidade de manter a interpretação. Schoolsign.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/16178> Concepção linguística de alfabetização O educador deve incitar as crianças com questões formuladas a partir de suas respostas, para que elas aprendam a refletir sobre o que fazem e dizem, sobre suas próprias ações. À medida que suas reflexões avançam, as respostas infantis se modificam. Como consequência, a abordagem do educador se transforma e este propõe desafios maiores, o que faz com que desenvolvimento da criança avance. Cabe ao educador aproveitar essas situações de conflitos e interpretações para ajudar a criança a elaborar conceitos sobre a escrita. Vivemos numa cultura letrada Placas, jornais, revistas, rótulos, tudo o que, aos poucos, transforma a escrita em objeto de reflexão e questionamentos para a criança. É preciso pensar sobre o modo como a criança pensa. As palavras escritas apresentam contrastes que vão desde o formato de letras, combinações entre letras e sílabas, até o modo como as sílabas se ordenam, significados distintos, formas e sons. Aprender a compreender o mundo é um processo lento e gradual, no qual a criança tenta integrar novas observações àquilo que já sabe ou àquilo que pensa compreender sobre a realidade. Aprender a compreender o mundo é um processo lento e gradual A escola precisa apoiar a criança por meio: da organização de um ambiente e de rotinas destinadas à aprendizagem pela ação; do estabelecimento de um clima de interação social positivo; do encorajamento de ações intencionais, de resolução de problemas e da reflexão verbal por parte das crianças; do planejamento de experiências que tenham alicerce nas ações e interesses da criança; de assegurar o primeiro contato com a escola, que deve se constituir em uma combinação de atividades prazerosas e estimulantes. Comunicação e linguagem Para falar sobre o letramento, vamos usar como referência a teórica Magda Soares. Você conhece a pesquisa dessa autora sobre letramento? Letramento O resultado da ação de ensinar é aprender as práticas sociais de leitura e de escrita. É o estado ou a condição que adquire um grupo social, ou um indivíduo, como consequência de ter se apropriado da escrita e de suas práticas sociais. Apropriar-se da escrita é torná-la própria, ou seja, assumi-la como propriedade. Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado, pois ser letrado implica usar socialmente a leitura e a escritura e responder às demandas sociais de leitura e de escrita. Letramento Letramento envolve leitura. Ler é um conjunto de habilidades, de comportamentos e conhecimentos. Escrever também é um conjunto de habilidades e de comportamentos, de conhecimentos que compõem o processo de produção do conhecimento. Nessa perspectiva, há diferentes tipos e níveis de letramento, dependendo das necessidades, das demandas, do indivíduo, do seu meio, do contexto social e cultural. Práticas pedagógicas que favorecem a alfabetização Promover práticas de oralidade e de escrita integradas, favorecendo a identificação das relações estabelecidas entre a fala e a escrita. Desenvolver habilidades de uso da língua escrita em situações discursivas, estimulando a leitura de textos de diferentes tipos e funções. Produzir textos para diferentes interlocutores, em diferentes situações e condições de produção. Desenvolver habilidades de ouvir textos orais e de diferentes gêneros, com diferentes funções. Sondagem da escrita infantil O percurso que a criança faz quando é alfabetizada é o mesmo do homem ao longo da história da humanidade: Pictórico: desenho. U_005a.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/>. 114302007017.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/> Simbólico: reconstrução do código linguístico Ao longo de muitos anos, os sinais passaram a representar sons e, assim, foram sendo criados alfabetos. Alfabeto é um conjunto de letras usadas para escrever palavras que exprimem significado. Fonte: CÓCCO, M. F.; HAILER, M. A. Didática de alfabetização: decifrar o mundo – alfabetização e socioconstrutivismo. São Paulo: FTD, 1996, p. 18. Ao desenhar, a criança escreve Primeiramente, a criança faz isso de memória: não desenha o que vê, mas o que conhece de sua realidade. Ela percebe que alguns traços podem até lembrar o objeto que desenhou, mas não o percebe como símbolo. Com o tempo, a criança desenha a sua realidade, representa suas observações e expressões por meio de representações de sinais simbólicos abstratos. Toda essa vivência contribui para o desenvolvimento da escrita da criança. Segundo Cócco e Hailer (1996), o desenho acompanha a frase, e a fala permeia o desenho. Atenção às hipóteses das crianças – veja aqui as concepções de Ferreiro A criança percorre o mesmo caminho que a humanidade ao desenvolver seu conhecimento da escrita. Inicialmente, desenha de memória, depois substitui traços que lembram o objeto desenhado por sinais indicativos ou figuras e, por último, utiliza os signos. Como a humanidade, parte do desenho (pictórico) para a simbologia (alfabeto). Antes de passar pela alfabetização propriamente dita, a criança apresenta hipóteses sobre a leitura, observa, pensa e adquire concepções individuais acerca dos símbolos linguísticos. Interatividade Uma prática pedagógica que seja relevante para assegurar o processo de ensino/aprendizagem deve: a) trabalhar somente com livro didático, já que este traz leituras pertinentes à faixa etária trabalhada. b) estar focado apenas na leitura escolhida pelo professor, já que este é o detentor do saber. c) proporcionar à criança o contato com diversos portadores textuais, tais como: livros literários, revistas, jogos, jornais, internet e textos variados. d) apresentar textos pequenos, que identifiquemsímbolos, palavras e letras. e) apresentar textos curtos, com palavras simples e que não causem conflito para a criança. Consciência fonológica Quando o aluno faz uso das habilidades metalinguísticas, busca compreender a palavra como um todo, fazendo associações com conhecimentos prévios que já tem da língua escrita. Da mesma maneira acontece com a reflexão fonológica, em que se busca semelhanças com sons iniciais ou finais, por exemplo, e se permite que ele compreenda o uso repetido dos grafemas para a representação também repetida de um fonema. Consciência fonológica A reflexão fonológica pode acontecer de maneira lúdica, cognitiva, induzida ou natural, de acordo com os autores citados, mas o fato é que todos concordam com a necessidade dessa reflexão para que o processo de leitura seja satisfatório ao final do processo de ensino-aprendizagem. Algumas atividades em sala de aula podem promover a reflexão sobre as partes orais e partes escritas das palavras. Morais (2012) nos apresenta duas possibilidades: os textos da tradição oral e os jogos. Consciência fonológica A exploração de textos poéticos da tradição oral (cantigas, parlendas, quadrinhas etc.) são propostas que as crianças aprendem com facilidade e fazem parte da cultura infantil do brincar, favorecem a exploração dos efeitos sonoros acompanhada da escrita das palavras. Os jogos com palavras e situações lúdicas permitem a ludicidade, a exploração com a sonoridade e o texto escrito, provocando reflexões sem conduzir os alfabetizandos a treinos cansativos. Jogos que contribuem para compreender o SEA Disponível em: <http://oficinasdealfabetizacao.blogspot.com.br/2010/11/caixa-letrada.html> Concepções que a criança adquire sobre os símbolos linguísticos antes da alfabetização (Cócco e Hailer,1996) Tem consciência da diferença entre a leitura silenciosa e a leitura em voz alta. Reconhece que a leitura de histórias é feita em livros e as notícias são lidas em jornais. Percebe que a leitura de uma bula tem a função de orientar o uso do remédio. Sabe que as receitas podem ser lidas, compreendidas e utilizadas em algo concreto. Concepções que a criança adquire sobre os símbolos linguísticos antes da alfabetização (Cócco e Hailer,1996) Compreende que os manuais de brinquedos e jogos servem para orientar o modo como estes devem ser montados e usados. Verifica que as palavras têm quantidade, que apresentam letras diferentes umas das outras. Percebe que a leitura pode ser feita de cima para baixo e da esquerda para a direita. Realismo nominal Sapo ou Formiga E quem tem o maior nome???? Disponível em: <http://www.edupic.net/sci_gr.htm#new>. Quais seriam as intervenções frente ao realismo nominal? Situações como brincadeiras de “faz de conta”, em que um brinquedo representa determinado objeto. Atividades de adivinhação que utilizem mímica, desenhos, para representar o que pensamos. Registros de atividades planejadas com o intuito de não esquecermos compromissos agendados. Anotações por representações da rotina da sala etc. Leitura por preditibilidade Fonte: http://www.aerotexextintores.com.br/advertencia-e-proibicoes/44-placa-proibido-fumar-14cm-x-19cm-p1-ps215 https://corporativo.nestle.com.br/asset-library/PublishingImages/logo%20nescau%2021.09.png Lembre-se O professor deve conhecer seus alunos, saber o que eles trazem de conhecimento. Ele pode utilizar-se da sondagem de seus alunos, a fim de refletir, planejar atividades e intervir em suas vidas. A novidade na alfabetização com Emilia Ferreiro Segundo Ferreiro (1996), leitura e escrita são sistemas que podem ser paulatinamente construídos pela criança: “O desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em um ambiente social. Mas as práticas sociais, assim como as informações sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças” (FERREIRO, 1996, p. 24). A novidade na alfabetização com Emilia Ferreiro O entendimento das fases da escrita da teoria da psicogênese devem desencadear uma didática da alfabetização, ou seja, o como intervir, como propor desafios à criança. Soares (2003) afirma que, dentre as falsas inferências ou os equívocos cometidos com a adoção da perspectiva cognitivista da psicogênese da escrita, podem ser destacadas duas: o obscurecimento da faceta linguística fonológica da alfabetização e o sentido negativo atribuído à adoção de métodos de alfabetização. A novidade na alfabetização com Emilia Ferreiro 1. A faceta linguística fonológica da alfabetização a escrita, enquanto objeto de conhecimento em construção, é um objeto linguístico constituído por relações convencionais e arbitrárias entre fonemas e grafemas. 2. A concepção cognitivista transformou os problemas da aprendizagem da leitura e da escrita em problemas sobretudo metodológicos. De acordo com Soares (2003, p.16), “para a prática de alfabetização, tinha-se, anteriormente, um método e nenhuma teoria; com a mudança de concepção sobre o processo de aprendizagem da língua escrita, passou-se a ter uma teoria, e nenhum método”. Língua é cultura Para Ferreiro (1996), a língua é um patrimônio de uma cultura, e sua representação gráfica faz parte dessa cultura. Por outro lado, não se deve partir do princípio que todas as crianças, desde a pré-escola, podem produzir e interpretar a escrita. A interpretação está diretamente relacionada ao desenvolvimento da compreensão do mundo da criança, e isto é um processo individual no desenvolvimento. Ler e escrever fazem parte de um processo É necessário que se permita e se estimule que a criança tenha interação com a língua escrita, nos mais variados contextos, permitindo, assim, junto com a alfabetização, um processo de letramento, ou seja, de familiaridade com a própria escrita. Ferreiro (1999, p. 47) afirma que “a alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é, na maioria dos casos, anterior à escola e que não termina ao finalizar a escola primária”. Aprendizagem O desenvolvimento linguístico avança à medida que a criança apreende a forma como a linguagem escrita é elaborada. Os princípios relacionais são aprendidos à medida que a criança resolve o problema de como a linguagem escrita é significativa para esta cultura. Assim, a criança começa a compreender, com a linguagem escrita, a representação das ideias e os conceitos que as pessoas, os objetos no mundo real e a linguagem oral possuem. Nenhuma prática pedagógica é neutra Segundo Ferreiro (2000, p. 30), um método nada mais é do que a forma de se conhecer um sistema, pois a conexão entre as informações, além dos próprios elementos formadores das informações, precisam ser aprendidas porque, de outra forma, não será transformada em conhecimento operante. Isto quer dizer que temos de aceitar métodos para conhecer as coisas, pois são sugestões que indicam um caminho para se alcançar um objetivo. Interatividade O termo consciência fonológica refere-se a: a) um conjunto de habilidades relacionadas à capacidade de a criança refletir e analisar a língua oral, capacidade essa que será desenvolvida ao longo do processo de aquisição do sistema de escrita. b) como uma novidade em nossa língua, e surgiu com a autora Mary Kato em 1986, sendo em seguida usado em diversos livros, muitos de educação. c) a uma interpretação literal do termo para abarcar valores e sentidos das palavras. d) ao resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e de escrita. e) a operarcom signos e significados dentro de um mundo pleno de valores, e é dessa experiência que decorre a autonomia de ler. Entenda a representação A escrita é uma representação da linguagem, que opera como um sistema notacional para a transcrição gráfica das unidades sonoras. Quando a escrita é simplesmente apresentada como um código de transição entre fonemas e sinais, sua aquisição se organiza enquanto técnica. Por outro lado, se ela é aprendida enquanto um sistema de representação, ela se torna instrumento de representação e interpretação do mundo. Neste momento, o conhecimento deixa de ser apenas um objeto externo à criança e passa a ser uma forma de perceber a realidade. As mudanças continuam A invenção da escrita foi um processo histórico no qual foram experimentados muitos sistemas de representação da oralidade até que chegamos ao nosso atual alfabeto. Nada assegura que este sistema de representação não evolua e venha ser substituído no futuro. Portanto, considerar a escrita uma codificação imutável se constitui num erro de percepção. A criança cria seus significados Nossa escrita alfabética, enquanto representação grafonômica, tem como motivo primeiro representar as diferenças entre os significantes. Dsc01889_c.jpg. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/200657> Assim, a criança: opera com signos e significados dentro de um mundo pleno de valores, sentidos e significados socialmente marcados, e é dessa experiência que decorre a autonomia de ler e grafar; antecipar o ensino das letras, em vez de trazer o debate da cultura escrita no cotidiano, é inverter o processo e aumentar a diferença. Alfabetização, um processo complexo Se pensamos a língua escrita como uma práxis de compreensão de um modo de construção de um sistema de representação, muda-se a forma de ensinar. O importante passa a ser controlar as discriminações perceptivas (ver, ouvir e falar), que são necessárias, mas que precisam articular-se para que a criança aprenda a se expressar e a buscar formas de expressão da realidade. A partir daí, temos de compreender a natureza deste complexo sistema de representação do mundo. Alfabetização Longo processo circunscrito entre duas vertentes indissociáveis: a aquisição do sistema de escrita e a efetiva possibilidade de uso no contexto social. “Mais do que conhecer as letras, as regras ortográficas, sintáticas ou gramaticais, o ensino da língua escrita requer a assimilação das práticas sociais de uso, contribuindo assim para a conquista de um novo status na sociedade” (SOARES, 1998). A linguagem escrita Cócco e Hailer (1996) propõem dois eixos no trabalho de alfabetização da criança: 1. o trabalho textual, porque permite à criança compreender como funciona a escrita e como pode ser empregada socialmente; 2. a análise linguística, porque embasa a aquisição do valor sonoro convencional à criança e a ajuda na reconstrução do código linguístico. Escrita e conhecimento O que deve estar em foco, na ação pedagógica, é a ideia de que o conhecimento da escrita não se faz pela codificação e decodificação de mensagens. O princípio que orienta a ação educativa é o da vivência no universo cultural, incluindo a oralidade espontânea e as expressões características do discurso de escrita. Morais (2012, p.51) traz as propriedades do SEA que o aprendiz deverá reconstruir para se tornar alfabetizado: 1. escreve-se com letras que não podem ser inventadas, que têm repertório finito e que são diferentes de números e de outros símbolos; 2. as letras têm formatos fixos e pequenas variações produzem mudanças em sua identidade (p, q, b, d), embora uma letra possa assumir formatos variados (P, p, P, p); 3. a ordem das letras no interior das palavras não pode ser mudada; 4. uma letra pode se repetir no interior de uma palavra e em diferentes palavras, ao mesmo tempo que palavras distintas compartilham as mesmas letras; Morais (2012, p.51) traz as propriedades do SEA que o aprendiz deverá reconstruir para se tornar alfabetizado: 5. nem todas as letras podem ocupar certas posições no interior das palavras e nem todas as letras podem vir juntas de quaisquer outras; 6. as letras notam ou substituem a pauta sonora das palavras que pronunciamos e nunca levam em conta as características físicas ou funcionais dos referentes que os substituem; 7. as letras notam segmentos sonoros menores que as sílabas orais que pronunciamos; Morais (2012, p.51) traz as propriedades do SEA que o aprendiz deverá reconstruir para se tornar alfabetizado: 8. as letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas terem mais de um valor sonoro e certos sons poderem ser notados com mais de uma letra; 9. além de letras, na escrita de palavras são usadas, também, algumas marcas (acentos) que podem modificar a tonicidade ou o som das letras ou sílabas onde aparecem; 10. as sílabas podem variar quanto às combinações entre consoantes e vogais (CV, CCV, CVV, CVC, V, VCC, CCVCC...), mas a estrutura predominante no português é a sílaba CV (consoante – vogal), e todas as sílabas do português contêm, ao menos, uma vogal. Para Morais (2012) O conjunto de regras sobre o sistema alfabético é automático para o adulto alfabetizado, uma vez que ele nem pensa sobre o sistema, é um conhecimento apreendido de tal forma que se torna automático. Mas para a criança esse conjunto de regras somente será internalizada se ela tiver a oportunidade de refletir sobre ele por meio de situações planejadas para isto. Textos e jogos A maioria das crianças chega à escola com pouca experiência em leitura de textos diversos. Portanto, podemos dizer, sem dúvida, que esse trabalho é ponto central de uma proposta alfabetizadora. A sala de aula deve conter grande quantidade e variedade de material escrito, como livros, jornais, gibis, revistas e cartazes que estimulem a leitura da criança. Projetos nota 10 Nome do projeto: Placas novas para o hortifrúti do bairro. Etapas 1. Escrever uma autorização. 2. Listar os alimentos. 3. Pesquisar as qualidades. 4. Escrever em duplas. 5. Montar as placas. Fonte: Revista Nova Escola. Ed. dez/2013 – jan/2014. Práticas significativas RANA, Débora. AUGUSTO, Silvana. Língua Portuguesa: soluções para dez desafios do professor – 1º ao 3º ano do ensino fundamental. São Paulo: Ática Educadores, 2011. Interatividade Por que a leitura e a escrita são considerados os conteúdos centrais da escola? a) Porque têm a função de incorporar a criança à cultura do grupo em que ela vive. b) Porque são considerados assuntos a serem abordados por todos os parentes das crianças. c) Porque os professores vivem discutindo essas questões e nunca conseguem chegar a um objetivo. d) Porque não há em nenhuma escola brasileira uma ideia formada a esse respeito. e) Porque nós, alunos, precisamos saber o que não devemos falar em uma situação escolar. ATÉ A PRÓXIMA!
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