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AT 1 2 32 S U M Á R IO 3 INTRODUÇÃO 5 UNIDADE 1 - O crescimento das cidades – causas e consequências 8 UNIDADE 2 - Resíduos sólidos urbanos – RSU 8 2.1 Definição 8 2.2 Classificação 11 2.3 Acondicionamento 11 2.4 Recolhimento 12 2.5 Coleta Seletiva e os “R’s” 13 2.6 Tratamento 16 UNIDADE 3 - Resíduos dos serviços de saúde – RSS 17 3.1 Coleta, tratamento e destinação 19 UNIDADE 4 - Resíduos sólidos industriais – RSI e resíduos das construções civis 19 4.1 Geração, classificação, tratamento e disposição 21 UNIDADE 5 - Resíduos Líquidos 24 UNIDADE 6 - Poluição Sonora 25 UNIDADE 7 - A legislação e o plano de Gestão Integrado E Sustentável De Resíduos Sólidos Urbanos – GISRSU 33 UNIDADE 8 - Os aspectos epidemiológicos, sociais, econômicos e ambientais dos resíduos urbanos 39 REFERÊNCIAS 2 33 INTRODUÇÃO A globalização, por um lado facilitou a vida das pessoas, já por outro ângulo, pro- porciona, a cada dia, o consumo exagerado dos mais variados produtos aliada ao au- mento da população e aglomerações nos núcleos urbanos, ou seja, nas cidades, trou- xe problemas ambientais e consequências diretas para a vida das pessoas, tais como carência de saneamento básico, poluição nas suas mais diversas formas, conflitos de uso do solo, inadequação na localização de atividades especializadas, etc. Todos esses fatores levam a gestão ur- bana a ser complexa, exigindo entre outras posturas, respostas técnicas a partir de pla- nejamentos urbanos pensados com muito critério e seriedade, integrando os aspec- tos ecológicos, econômicos e sócio-cultu- rais, além, é claro, de incorporar a dimensão política no enfrentamento dos problemas do meio ambiente e do desenvolvimento urbano. Dentre os problemas mais graves surgi- dos e enfrentados pela sociedade contem- porânea, encontramos a crescente produ- ção de lixo urbano, quer seja ele sólido ou líquido, proveniente das residências, das indústrias, das construções ou dos servi- ços de saúde. É preciso entender toda a di- nâmica dessa produção para desenvolver medidas cabíveis na solução dos problemas, caracterizando os resíduos e seu acondicio- namento, coleta, transporte, tratamento e destinação final, enfatizando, obviamente, os aspectos sanitários e ambientais envol- vidos. Segundo Cunha e Caixeta Filho (2002) o próprio significado da palavra transmite a impressão de que lixo é algo sem valor, sem importância e que deve ser jogado fora. Ain- da hoje, muitas vezes, o lixo é tratado com a mesma indiferença da época das cavernas, quando o lixo não era verdadeiramente um problema, seja pela menor quantidade ge- rada, seja pela maior facilidade da natureza em reciclá-lo. Entretanto, em tempos mais recentes, a quantidade de lixo gerada no mundo tem sido grande e seu mau geren- ciamento, além de provocar gastos finan- ceiros significativos, pode provocar graves danos ao meio ambiente e comprometer a saúde e o bem-estar da população. É por isso que o interesse em estudar re- síduos sólidos tem se mostrado crescente. O assunto tem se tornado tópico de deba- tes em diversas áreas do conhecimento e sua importância crescente se deve a três fatores principais: 1. Grande quantidade de lixo gerada – de acordo com dados de Brown (1993), a pro- dução de lixo pode variar de aproximada- mente 0,46 kg/hab./dia, em Kano (Nigéria), a 2,27 kg/hab./dia, em Chicago (Estados Unidos). Segundo Caixeta Filho (1999), o índice per capita brasileiro está em torno de 0,50 a 1,00 kg/hab./dia; 2. Gastos financeiros relacionados ao ge- renciamento de resíduos sólidos urbanos, de acordo com Brasil (2000), no Brasil, em média, os serviços de limpeza demandam de 7% a 15% do orçamento dos municípios; 3. Segundo Cunha e caixeta Filho (2002), impactos ao meio ambiente e à saúde da população, a destinação final, inadequada, dos resíduos, pode levar à contaminação do 4 54 ar, da água, do solo e à proliferação de veto- res nocivos à saúde humana. A literatura sobre os resíduos urbanos e toda a problemática urbana é enorme, ex- tensa e até mesmo um pouco controver- sa. Esta apostila pretende compilar os re- sultados de alguns estudos sobre o tema, apresentando os conceitos pertinentes, mostrando as causas e consequências do crescimento das cidades, a legislação e o plano integrado e sustentável de resíduos sólidos urbanos e os aspectos epidemioló- gicos, sociais, econômicos e ambientais de- correntes da grande produção de lixo. Salientamos que o assunto não se esgo- ta e que as referências ao final da apostila têm muito a acrescentar. Boa leitura! 4 55 UNIDADE 1 - O crescimento das cidades – causas e consequências Quando o assunto é planejamento urba- no, principalmente planejar pensando em um futuro melhor, precisamos levar em con- sideração o poder ou a grande capacidade que o ser humano tem em construir e des- truir tudo aquilo que a sociedade constitui. Neste sentido, a cidade tanto se cons- titui em condição para o desenvolvimento econômico, como também é resultado do desenvolvimento, que tanto pode caminhar num sentido positivo quanto negativo, con- centrando riquezas e pobrezas. Especificamente no caso do Brasil, e dos países em desenvolvimento, essa questão da geração de resíduos em ambientes ur- banos atinge contornos muito graves, quer sejam os resíduos sólidos ou líquidos. De acordo com Ambiente Brasil (2008), o desenvolvimento das cidades sem um cor- reto planejamento ambiental resulta em prejuízos significativos para a sociedade. Uma das consequências do crescimento ur- bano foi o acréscimo da poluição doméstica e industrial, criando condições ambientais inadequadas e propiciando o desenvolvi- mento de doenças, poluição do ar e sonora, aumento da temperatura, contaminação da água subterrânea, entre outros problemas. O desenvolvimento urbano brasileiro concentra-se em regiões metropolitanas, na capital dos estados e nas cidades pólos regionais. Os efeitos desta realidade são possíveis verificarmos sobre todo aparelha- mento urbano relativo a recursos hídricos, ao abastecimento de água, ao transporte e ao tratamento de esgotos cloacal e pluvial. No entanto, segundo Ambiente Brasil (2008), atualmente, muitos fatores inter- ferem nesse ciclo, comprometendo a qua- lidade das águas urbanas, pois desenvolvi- mento e o crescimento das cidades geram o acréscimo da poluição doméstica e indus- trial, propiciando o aumento de sedimentos e material sólido, bem como a contaminação de mananciais e das águas subterrâneas. De modo geral, os problemas ecológicos são mais intensos nas grandes cidades do que nas pequenas ou no meio rural. Além da poluição atmosférica, as metrópoles apre- sentam outros problemas graves: Acúmulo de lixo e de esgotos, boa parte dos detritos pode ser recuperada para a produção de gás (biogás) ou adubos, mas isso dificilmente acontece. Normal- mente, esgotos e resíduos de indústrias são despejados nos rios. Com frequência esses rios perdem toda sua fauna característica e tornam-se imundos e malcheirosos. Em algumas cidades, amontoa-se o lixo em ter- renos baldios, o que provoca a multiplicação de ratos e insetos. Congestionamentos frequentes, especialmente nas áreas em que os auto- móveis particulares são muito mais impor- tantes que os transportes coletivos, muitos moradores da periferia das grandes cidades dos países em desenvolvimento, em sua maioria de baixa renda, gastam três ou qua- tro horas por dia só no caminho para o tra- balho. Poluição sonora, provocada pelo excesso de barulho (dos veículos automoti- vos, fábricas, obras nas ruas, grande movi- mento de pessoas e propaganda comercial 6 7 ruidosa). Isso pode ocasionar neuroses na população, além de uma progressiva dimi- nuiçãoda capacidade auditiva. Carência de áreas verdes (parques, reservas florestais, áreas de lazer e recrea- ção, etc.). Em decorrência da falta de áreas verdes, agrava-se a poluição atmosférica, já que as plantas através da fotossíntese contribuem para a renovação do oxigênio no ar. Além disso, tal carência limita as opor- tunidades de lazer da população, o que faz com que muitas pessoas acabem passando seu tempo livre na frente da televisão, ou assistindo a jogos praticados por esportis- tas profissionais (ao invés de eles mesmos praticarem esportes). Poluição visual, ocasionada pelo grande número de cartazes publicitários, pelos edifícios que escondem a paisagem natural, etc. Na realidade, é nos grandes centros ur- banos que o espaço construído pelo ho- mem, a segunda natureza, alcança seu grau máximo. Quase tudo aí é artificial e, quando é algo natural, sempre acaba apresentando variações, modificações provocadas pela ação humana. O próprio clima das metrópo- les – o chamado clima urbano – constitui um exemplo disso. Nas grandes aglomerações urbanas, normalmente faz mais calor e cho- ve um pouco mais que nas áreas rurais vizi- nhas, além disso, nessas áreas são também mais comuns as enchentes, após algumas chuvas. As elevações nos índices térmicos do ar são fáceis de entender: o asfaltamento das ruas e avenidas, as imensas massas de concreto, a carência de áreas verdes, a pre- sença de grandes quantidades de gás car- bônico na atmosfera (que provoca o efeito estufa), o grande consumo de energia devi- do à queima de gasolina, óleo diesel quero- sene, carvão, etc., nas fábricas, residências e veículos são responsáveis pelo aumento de temperatura do ar. Já o aumento dos ín- dices de pluviosidade se deve principalmen- te à grande quantidade de micropartículas (poeira, fuligem) no ar, que desempenham um papel de núcleos higroscópicos que fa- cilitam a condensação do vapor de água da atmosfera. E as enchentes decorrem da di- ficuldade da água das chuvas de se infiltrar no subsolo, pois há muito asfalto e obras, o que compacta o solo e aumenta sua imper- meabilização. Nesse contexto, de acordo com Brasil (1995), os dados levantados no Censo de 1991 apontaram que menos de 64% dos domicílios brasileiros possuíam algum sis- tema de destinação do esgoto sanitário, sendo que, do esgoto coletado nos 49% dos domicílios que são atendidos pela rede pública de coleta, 80% não recebem qual- quer tipo de tratamento, sendo despejado diretamente no solo ou nos corpos d’água, gerando sérios impactos aos ambientes de vida. O mesmo Censo aponta que quase 79% dos domicílios têm seus resíduos do- miciliares coletados, mas que 76% desse material é depositado a céu aberto, sem qualquer tipo de tratamento ou controle. Segundo a Pesquisa Nacional de Sane- amento Básico (PNSB), realizada pelo Ins- tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002), citada por Pinto (1999), a po- pulação brasileira é de aproximadamen- te 170 milhões de habitantes, produzindo diariamente cerca de 126 mil toneladas de resíduos sólidos. Quanto à destinação final, os dados relativos às formas de disposição final de resíduos sólidos distribuídos de acordo com a população dos municípios, ob- tidos com a PNSB, indicam que 63,6% dos 6 7 municípios brasileiros depositam seus re- síduos sólidos em “lixões”, somente 13,8% informam que utilizam aterros sanitários e 18,4% dispõem seus resíduos em aterros controlados, totalizando 32,2 %. Os 5% dos entrevistados restantes não declaram o destino de seus resíduos. Essas estatísticas afirmam a grave situa- ção dos resíduos e suas consequências que decorrem da concentração populacional e do processo de industrialização que acon- tece a partir do século XX, aumentando a quantidade de lixo e também mudanças na sua composição. Ao lixo, que até então era formado por restos de alimentos, cascas e sobras de vegetais e papéis, foram sendo incorporados novos materiais como vidro, plásticos, isopor, borracha, alumínios entre outros de difícil decomposição. Para se ter uma ideia, enquanto que os restos de comi- da se deterioram rapidamente, o papel de- mora entre 3 a 6 meses para se decompor, o plástico dura mais de cem anos e o vidro cerca de 1 milhão de anos quando jogados na natureza. Segundo Alberguini (2008) o impacto desse volume de lixo no meio ambiente das cidades é grande. A quantidade de dejetos só tende a aumentar e pode ocasionar es- cassez e esgotamento de recursos natu- rais, poluição do ar, da água, do solo, além de problemas de saúde pública, devido à proli- feração de parasitas e surgimento de do- enças. Nessa esteira, o crescente número de catadores, que garantem o sustento de suas famílias com a venda do que é encon- trado nos depósitos de lixo, é outro desafio para muitas prefeituras. Diversos municí- pios tentam reverter essa situação, incor- porando esses trabalhadores ao processo produtivo, criando cooperativas de catado- res a partir da instalação de programas de reciclagem na cidade. Alguns organismos governamentais e não-governamentais, nacionais e do exte- rior, têm se preocupado com pessoas, in- clusive crianças, sobrevivendo dos lixões, como veremos no último capítulo. Alberguini (2008) cita três medidas ur- gentes para diminuir a quantidade de lixo e o impacto dos resíduos no meio ambiente que são a coleta seletiva, a reciclagem de materiais e a compostagem, que devem ser realizados de forma integrada, dentro de um programa contínuo, com apoio do poder público municipal, de empresas e conscien- tização da população. Enfim, adensamento populacional nas grandes cidades, falta de uma política que incentive as práticas agrícolas levando as pessoas do campo para as cidades na ilusão de melhores condições de vida, igualmen- te falta de planejamento urbano, levam as cidades a se tornarem um imenso cantei- ro onde são encontrados todos os tipos de “lixo” e que, a priori, ou seja, a curto prazo não tem solução. É preciso conscientização imediata da população em relação aos pro- blemas decorrentes dos resíduos para que as futuras gerações tenham alguma condi- ção de sobrevivência. 8 98 UNIDADE 2 - Resíduos sólidos urbanos – RSU 2.1 Definição De acordo com o Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, “lixo é tudo aquilo que não se quer mais e se joga fora; coisas inúteis, velhas e sem valor.” Já a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – define o lixo como os “restos das atividades humanas, consi- derados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo-se apresentar no estado sólido, semi-sólido ou líquido, desde que não seja passível de tratamento convencional.” Normalmente, os autores de publica- ções sobre resíduos sólidos se utilizam indistintamente dos termos “lixo” e “resí- duos sólidos”. Para Monteiro et al (2001), resíduo sólido ou simplesmente “lixo” é todo material sólido ou semi-sólido inde- sejável e que necessita ser removido por ter sido considerado inútil, por quem o descarta em qualquer recipiente destina- do a este ato. Segundo a classificação para resíduos sólidos que consta na norma brasileira NBR 10004, de 1987, resíduos sólidos são: Aqueles resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de ativida- des da comunidade de origem indus- trial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Fi- cam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamen- to de água, aqueles gerados em equi- pamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pú- blica de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em facea melhor tecnologia disponível. (ABNT. NBR-10.004, 1987) 2.2 Classificação Dentre as várias maneiras de se clas- sificar os resíduos sólidos, temos: em relação aos riscos potenciais de contami- nação do meio ambiente e quanto à na- tureza ou origem, ou seja, se baseiam em determinadas características ou proprie- dades identificadas. A classificação é relevante para a es- colha da estratégia de gerenciamento mais viável. A NBR 10.004/87 trata da classificação de resíduos sólidos quanto a sua periculosidade, ou seja, caracterís- tica apresentada pelo resíduo em função de suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, que podem repre- sentar potencial de risco à saúde pública e ao meio ambiente. De acordo com sua periculosidade os resíduos sólidos podem ser enqua- drados como: Classe I – resíduos perigosos São aqueles que apresentam pericu- losidade ou uma das características se- guintes: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicida- de. 8 99 Classe II – Não-inertes São aqueles que não se enquadram na classe I ou III. Os resíduos classe II podem ter as seguintes propriedades: combusti- bilidade, biodegradabilidade ou solubili- dade em água. Classe III - inertes Segundo Zanta e Ferreira (2006), são aqueles que, por suas características in- trínsecas, não oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente. Além disso, quando amostrados de forma representativa, segundo a norma NBR 10.007, e subme- tidos a um contato estático ou dinâmi- co com água destilada ou deionizada, a temperatura ambiente, conforme teste de solubilização segundo a norma NBR 10.006, não têm nenhum de seus cons- tituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água, conforme listagem nº 8, cons- tante do Anexo H da NBR 10.004, exce- tuando-se os padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor. De acordo com Monteiro et al (2001), a origem é o principal elemento para a caracterização dos resíduos sólidos. Se- gundo este critério, os diferentes tipos de lixo podem ser agrupados em cinco classes, a saber: 1. Lixo doméstico ou residencial; 2. Lixo comercial; 3. Lixo público; 4. Lixo domiciliar especial: entulho de obras, pilhas e baterias, lâmpadas fluo- rescentes, pneus; 5. Lixo de fontes especiais: industrial, radioativo, de portos, aeroportos e ter- minais rodoferroviários, agrícola e resí- duos dos serviços de saúde. Quanto aos componentes do lixo, eles podem ser diferenciados nas seguintes categorias: matéria orgânica putrescí- vel; plástico; papel/papelão; vidro; metal ferroso; metal não ferroso; pano, trapo, couro e borracha; madeira; contaminan- te biológico e contaminante químico; pe- dra, terra e cerâmica; e diversos. Deve-se sempre explicitar o teor de umidade pre- sente, uma vez que o peso dos resíduos orgânicos é determinado em condição úmida. No Quadro 1 abaixo, apresentam- -se exemplos de materiais que podem compor cada categoria, observando-se a grande diversidade de materiais. 1 – Exemplos básicos de cada categoria de resíduos sólidos urbanos Fonte: Zanta e Ferreira (2006, p. 8) adaptado de Pessin et al (2002). 10 11 Segundo Monteiro et al (2001), em consonância com a NBR 10.004/87, os re- síduos sólidos podem ser classificados de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas. Características Físicas A “geração per capita” que relaciona a quantidade de resíduos urbanos gerada diariamente e o número de habitantes de determinada região. Muitos técnicos con- sideram de 0,5 a 0,8kg/hab./dia como a faixa de variação média para o Brasil. A composição gravimétrica que tra- duz o percentual de cada componente em relação ao peso total da amostra de lixo analisada. O Peso específico aparente que é o peso do lixo solto em função do volume ocupado livremente, sem qualquer com- pactação, expresso em kg/m3. Sua deter- minação é fundamental para o dimensio- namento de equipamentos e instalações. Na ausência de dados mais precisos, po- dem-se utilizar os valores de 230kg/m3 para o peso específico do lixo domiciliar, de 280kg/m3 para o peso específico dos re- síduos de serviços de saúde e de 1.300kg/ m3 para o peso específico de entulho de obras. O Teor de umidade que representa a quantidade de água presente no lixo, me- dida em percentual do seu peso. Este pa- râmetro se altera em função das estações do ano e da incidência de chuvas, poden- do-se estimar um teor de umidade varian- do em torno de 40 a 60%. A Compressividade que é o grau de compactação ou a redução do volume que uma massa de lixo pode sofrer quando compactada. Submetido a uma pressão de 4kg/cm², o volume do lixo pode ser reduzi- do de um terço (1/3) a um quarto (1/4) do seu volume original. Características Químicas O poder calorífico indica a capacida- de potencial de um material desprender determinada quantidade de calor quando submetido à queima. O poder calorífico médio do lixo domiciliar se situa na faixa de 5.000kcal/kg. Potencial hidrogeniônico (pH) indica o teor de acidez ou alcalinidade dos resí- duos. Em geral, situa-se na faixa de 5 a 7. A composição química que consiste na determinação dos teores de cinzas, matéria orgânica, carbono, nitrogênio, potássio, cálcio, fósforo, resíduo mineral total, resíduo mineral solúvel e gorduras. A Relação carbono/nitrogênio (C:N) indica o grau de decomposição da maté- ria orgânica do lixo nos processos de tra- tamento/disposição final. Em geral, essa relação encontra-se na ordem de 35/1 a 20/1. Características Biológicas As características biológicas do lixo são aquelas determinadas pela população mi- crobiana e dos agentes patogênicos pre- sentes no lixo que, ao lado das suas carac- terísticas químicas, permitem que sejam selecionados os métodos de tratamento e disposição final mais adequados. O conhecimento das características biológicas dos resíduos tem sido muito utilizado no desenvolvimento de inibido- res de cheiro e de retardadores/acelera- dores da decomposição da matéria orgâ- nica, normalmente aplicados no interior 10 11 de veículos de coleta para evitar ou mini- mizar problemas com a população ao lon- go do percurso dos veículos. Da mesma forma, estão em desenvol- vimento processos de destinação final e de recuperação de áreas degradadas com base nas características biológicas dos re- síduos. 2.3 Acondicionamento De acordo com Cunha e Caixeta (2002), a primeira etapa do processo de remo- ção dos resíduos sólidos corresponde à atividade de acondicionamento do lixo. Podem ser utilizados diversos tipos de vasilhames, como: vasilhas domiciliares, tambores, sacos plásticos, sacos de papel, contêineres comuns, contêineres bascu- lantes, entre outros. No Brasil, percebe- -se grande utilização de sacos plásticos. O lixo mal acondicionado significa poluição ambiental e risco à segurança da popula- ção, pois pode levar ao aparecimento de doenças. O lixo bem acondicionado facilita o processo de coleta. Ainda segundo os autores acima, acon- dicionar os resíduos sólidos domiciliares significa prepará-los para a coleta de for- ma sanitariamente adequada, como ainda compatível com o tipo e a quantidade de resíduos. A qualidade da operação de co- leta e transporte de lixo depende da for- ma adequada do seu acondicionamento, armazenamento e da disposição dos reci- pientes no local, dia e horários estabele- cidos pelo órgão de limpeza urbana para a coleta. A população tem, portanto, parti- cipação decisiva nesta operação. A importância do acondicionamento adequado está em: evitar acidentes; evitar a proliferação de vetores; minimizar o impacto visual e olfativo; reduzir a heterogeneidade dos resí- duos (no caso de haver coletaseletiva); facilitar a realização da etapa da co- leta. De acordo com Monteiro et al (2001), infelizmente, o que se verifica em muitas cidades é o surgimento espontâneo de pontos de acumulação de lixo domiciliar a céu aberto, expostos indevidamente ou espalhados nos logradouros, prejudican- do o ambiente e arriscando a saúde públi- ca. 2.4 Recolhimento Coletar o lixo significa recolher o lixo acondicionado por quem o produz para encaminhá-lo, mediante transporte ade- quado, a uma possível estação de trans- ferência, a um eventual tratamento e à disposição final. A coleta e o transporte do lixo domici- liar produzido em imóveis residenciais, em estabelecimentos públicos e no pequeno comércio são, em geral, efetuados pelo órgão municipal encarregado da limpeza urbana. Para esses serviços, podem ser usados recursos próprios da prefeitura, de empresas sob contrato de terceiriza- ção ou sistemas mistos, como o aluguel de viaturas e a utilização de mão-de-obra da prefeitura. De acordo com Monteiro et al (2001), o lixo dos “grandes geradores” (estabeleci- mentos que produzem mais que 120 litros de lixo por dia) deve ser coletado por em- presas particulares, cadastradas e autori- 12 13 zadas pela prefeitura. 2.5 Coleta Seletiva e os “R’s” A operação de coleta engloba, desde a partida do veículo de sua garagem, com- preendendo todo o percurso gasto na via- gem para remoção dos resíduos dos locais onde foram acondicionados aos locais de descarga, até o retorno ao ponto de par- tida. A coleta normalmente pode ser classi- ficada em dois tipos de sistemas: sistema especial de coleta (resíduos contamina- dos) e sistema de coleta de resíduos não contaminados. Nesse último, a coleta pode ser realizada de maneira conven- cional (resíduos são encaminhados para o destino final) ou seletiva (resíduos reci- cláveis que são encaminhados para locais de tratamento e/ou recuperação). Os tipos de veículos coletores são os mais diversos. Uma primeira grande clas- sificação seria dividi-los em motorizados e não-motorizados (os que utilizam a tra- ção animal como força motriz). Os motori- zados podem ser divididos em compacta- dores, que, segundo Roth et al citado por Cunha e Caixeta Filho (2002), podem re- duzir a 1/3 o volume inicial dos resíduos, e comuns (tratores, coletor de caçamba aberta e coletor com carrocerias tipo pre- feitura ou baú). Há também os caminhões multi-caçamba utilizados na coleta sele- tiva de recicláveis, em que os materiais coletados são alocados, separadamente dentro da carroceria do caminhão. Para Cunha e Caixeta Filho (2002), no Brasil, a escolha do veículo coletor é, ain- da, bastante empírica. Os resíduos cole- tados poderão ser transportados para estações de transferência, para locais de processamento e recuperação (incinera- ção ou usinas de triagem e compostagem) ou para seu destino final (aterros e lixões). A reciclagem, uma das etapas da cole- ta seletiva, consiste de uma série de pro- cessos industriais que permitem separar, recuperar e transformar os componentes dos resíduos sólidos do lixo urbano (domi- ciliar/comercial). A necessidade de poupar e preservar os recursos naturais não-renováveis vem motivando cada vez mais o aproveitamen- to de resíduos, visto que crescem expo- nencialmente a população e o consumo, o que não acontece com as reservas natu- rais. Segundo Dias ( 2008), outro fato agra- vante é a disposição final dos resíduos produzidos nos centros urbanos, de for- ma desordenada e sem um planejamento técnico, pois áreas são ocupadas com a deposição de lixo sem tratamento, áreas estas que, a curto e médio prazo, invia- bilizam a sua utilização para outros fins, agredindo de forma drástica o meio am- biente e tornando vulneráveis à contami- nação, os mananciais de água, sem contar que geralmente são áreas o mais próximo possível dos centros produtores de lixo, no sentido de diminuir os custos operacio- nais de transporte, e se caracterizam em pouco tempo em áreas nobres (em função da proximidade dos centros urbanos), com o rápido esgotamento de seu uso. Assim, segundo o mesmo autor, de modo a evitar estes problemas, o papel da reciclagem está em desenvolver ao con- sumo da população, dentro do possível, as substâncias e a energia contida nos resí- duos do lixo, de modo que se extraiam da 12 13 natureza as quantidades de matérias-pri- mas mínimas, de forma racional e organi- zada, protegendo de maneira prática os recursos naturais disponíveis, preservan- do efetivamente o meio ambiente. Segundo UFV/Lesa (2008), para ajudar a diminuir o lixo temos a fórmula dos RE’s que consiste numa apresentação suges- tiva de como se pode atingir o objetivo de conscientização para a prática de rea- proveitamento de materiais em busca da qualidade de vida e preservação do meio ambiente. 1. RE duzir a geração de lixo - é o pri- meiro passo e a medida mais racional, que traduz a essência da luta contra o desper- dício. São inúmeros os exemplos domés- ticos e industriais para a minimização dos resíduos. Sempre que for possível, é me- lhor reduzir o consumo de materiais, ener- gia e água, a fim de produzir o mínimo de resíduos e economizar energia. 2. RE utilizar os bens de consumo - significa dar vida mais longa aos objetos, aumentando sua durabilidade e reparabi- lidade ou dando-lhes nova personalidade ou uso, muito comum com as embalagens retornáveis, rascunhos, roupas, e nas ofi- cinas de Arte com Sucatas. Após a utili- zação de um produto ou material (sólido, líquido, energia, etc.) deve-se recorrer a todos os meios para reutilizá-lo. 3. RE cuperar os materiais - as usinas de compostagem são unidades recupera- doras de matéria orgânica. Os catadores recuperam as sucatas, antes delas vira- rem lixo. 4. RE ciclar - é devolver o material usa- do ao ciclo da produção, poupando todo o percurso dos insumos virgens, com enor- mes vantagens econômicas e ambientais. A agricultura e a indústria absorvem gran- des quantidades de resíduos, aliviando a “lata de lixo” das cidades. A reciclagem deve ser aplicada somente para mate- riais não reutilizáveis. Embora a recicla- gem ajude a conservar recursos naturais, existem custos econômicos e ambientais associados à coleta de resíduos e ao pro- cesso de reciclagem. 5. RE pensar os hábitos de consumo e de descarte, pois para a maior parte das pessoas tais atos são compulsivos e, mui- tas vezes, poluentes. É preciso também desmistificar a ação de jogar fora, porque, na maioria dos casos, o “fora” não existe. O lixo não desaparece depois da coleta e acaba sendo destinado a aterros, incine- radores ou usinas, localizados próximos à nossa residência. A educação ambiental é básica para que os esforços em prol dos 5 RE’s sejam vistos com seriedade pela po- pulação. 2.6 Tratamento Monteiro et al (2001), define trata- mento como uma série de procedimentos destinados a reduzir a quantidade ou o po- tencial poluidor dos resíduos sólidos, seja impedindo descarte de lixo em ambiente ou local inadequado, seja transforman- do-o em material inerte ou biologicamen- te estável. O tratamento mais eficaz é o prestado pela própria população, quando está empenhada em reduzir a quantidade de lixo, evitando o desperdício, reapro- veitando os materiais, separando os re- cicláveis em casa ou na própria fonte e se desfazendo do lixo que produz de maneira correta, que acaba por fazer parte da co- leta seletiva. 14 15 Além desses procedimentos, o mesmo autor diz que existem processos físicos e biológicos que objetivam estimular a ati- vidade dos micoorganismos que atacam o lixo, decompondo a matéria orgânica e causando poluição. As usinas de incine- ração ou de reciclagem e compostagem interferem sobre essaatividade biológi- ca até que ela cesse, tornando o resíduo inerte e não mais poluidor, pois a incinera- ção do lixo é também um tratamento efi- caz para reduzir o seu volume, tornando o resíduo absolutamente inerte em pouco tempo, se realizada de forma adequada. Mas sua instalação e funcionamento são geralmente dispendiosos, principalmente em razão da necessidade de filtros e im- plementos tecnológicos sofisticados para diminuir ou eliminar a poluição do ar pro- vocada por gases produzidos durante a queima do lixo. As usinas de reciclagem e composta- gem geram emprego e renda e podem reduzir a quantidade de resíduos que de- verão ser dispostos no solo, em aterros sanitários. De acordo com Monteiro et al (2001), a economia da energia que seria gasta na transformação da matéria-prima, já contida no reciclado, e a transformação do material orgânico do lixo em compos- to orgânico adequado para nutrir o solo destinado à agricultura representam van- tagens ambientais e econômicas impor- tantes, proporcionadas pelas usinas de reciclagem e compostagem. Um aterro sanitário é uma forma para a deposição final de resíduos sólidos gera- dos pela atividade humana. Nele são dis- postos resíduos domésticos, comerciais, de serviços de saúde, da indústria de construção, ou dejetos sólidos retirados do esgoto. Segundo Monteiro et al (2001), a base do aterro sanitário deve ser constituída por um sistema de drenagem de efluen- tes líquidos percolados (chorume 1) acima de uma camada impermeável de polietile- no de alta densidade - PEAD, sobre uma camada de solo compactado para evitar o vazamento de material líquido para o solo, evitando assim a contaminação de lençóis freáticos. O chorume deve ser tratado e/ ou recirculado (reinserido ao aterro) cau- sando assim uma menor poluição ao meio ambiente. Para o mesmo autor, o seu interior deve possuir um sistema de drenagem de ga- ses que possibilite a coleta do biogás, que é constituído por metano, gás carbôni- co(CO2) e água (vapor), entre outros, e é formado pela decomposição dos resíduos. Este efluente deve ser queimado ou be- neficiado. Estes gases podem ser queima- dos na atmosfera ou aproveitados para geração de energia. No caso de países em desenvolvimento, como o Brasil, a utiliza- ção do biogás pode ter como recompensa financeira a compensação por créditos de carbono ou CERs do Mecanismo de Desen- volvimento Limpo, conforme previsto no Protocolo de Quioto, como já é feito por diversos aterros sanitários no Brasil: ater- ro de Nova Iguaçu, aterro dos Bandeiran- tes e São João em São Paulo, Embralixo-A- rauna em Bragança Paulista, entre outros. Sua cobertura é constituída por um sis- 1- É o Líquido malcheiroso e escuro produzido a partir da composição da matéria orgânica contida no lixo. É ácido e apresenta alto potencial contaminante, podendo poluir o solo e os lençóis de água subterrâneos, principalmente em locais de deposição não controlada de lixo, onde a grande quantidade desse líquido se infiltra facilmente no solo. 14 15 tema de drenagem de águas pluviais, que não permita a infiltração de águas de chu- va para o interior do aterro. Quando atinge o limite de capacidade de armazenagem, o aterro pode ser alvo de um processo de monitorização espe- cifico, e se reunidas as condições, pode albergar um espaço verde ou mesmo um parque de lazer, eliminando assim o efei- to estético negativo. Uma das principais vantages é o fato de poder ser deslocado de um lugar para outro sem prejudicar a vida animal. A Associação Brasileira de Normas Téc- nicas (ABNT) define da seguinte forma os aterros sanitários: Aterros sanitários de resíduos só- lidos urbanos, consiste na técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimi- zando os impactos ambientais, mé- todo este que utiliza os princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de traba- lho ou à intervalos menores se for ne- cessário. (ABNT, 1992) De acordo com monteiro et al (2001), além do aterro sanitário, temos o aterro controlado, sendo que este prescinde de uma coleta e tratamento do chorume, as- sim como da drenagem e queima do bio- gás. Um aterro sanitário conta necessa- riamente com as seguintes unidades: Unidades operacionais: células de lixo domiciliar; células de lixo hospita- lar (caso o Município não disponha de pro- cesso mais efetivo para dar destino final a esse tipo de lixo); impermeabilização de fundo (obrigatória) e superior (opcional); sistema de coleta e tratamento dos líqui- dos percolados (chorume); sistema de co- leta e queima (ou beneficiamento) do bio- gás; sistema de drenagem e afastamento das águas pluviais; sistemas de monitora- mento ambiental, topográfico e geotécni- co; pátio de estocagem de materiais. Unidades de apoio: cerca e barreira vegetal; estradas de acesso e de serviço; balança rodoviária e sistema de controle de resíduos; guarita de entrada e prédio administrativo; oficina e borracharia. O Aterro controlado, por não possuir sistema de coleta de chorume, esse líqui- do fica retido no interior do aterro. Assim, é conveniente que o volume de água de chuva que entre no aterro seja o menor possível, para minimizar a quantidade de chorume gerado. Isso pode ser consegui- do empregando-se material argiloso para efetuar a camada de cobertura provisória e executando-se uma camada de imper- meabilização superior quando o aterro atinge sua cota máxima operacional. Também, é conveniente que a área de implantação do aterro controlado tenha um lençol freático profundo, a mais de três metros do nível do terreno. Normalmente, um aterro controlado é utilizado para cidades que coletem até 50t/dia de resíduos urbanos, sendo desa- conselhável para cidades maiores. 16 1716 UNIDADE 3 - Resíduos dos serviços de saúde – RSS Os resíduos dos serviços de saúde com- preendem todos os resíduos gerados nas instituições destinadas à preservação da saúde da população. Segundo a NBR 12.808 da ABNT, os resíduos de serviços de saúde seguem a classificação apresen- tada no Quadro 2, abaixo: TIPO NOME CARACTERÍSTICA Classe A – Resíduos Infectantes A.1 Biológicos Cultural, inoculo, mistura de microorganismos e meio de cultura inoculado provenientes de laboratório clínico ou de pesquisa, vacina vencida ou inutilizada, filtro de gases aspira- dos de áreas contaminadas por agente infectantes e qualquer resíduo contaminado por estes materiais. A.2 Sangue e hemoderivados Sangue e hemoderivados com prazo de validade vencido ou sorologia positiva, bolsa de sangue para análise, soro, plasma e outros subprodutos. A.3 Cirúrgicos, anatomopatoló- gicos e exsudato Tecido, órgão, feto, peça anatômica, sangue e outros líquidos orgânicos resultantes de cirurgia, necropsia e resíduos conta- minados por estes materiais A.4 Perfurantes e cortantes Agulha, ampola, pipeta, lâmina de bisturi e vidro. A.5 Animais contaminados Carcaça ou parte de animal inoculado, exposto a microorganis- mos patogênicos ou portador de doenças infecto-contagio- sas, bem como resíduos que tenham estado em contato com eles. A.6 Assistência a pacientes Secreção e demais líquidos orgânicos procedentes de pacien- tes bem como os resíduos contaminados por estes materiais, inclusive restos de refeições. Classe B – Resíduos Especiais B.1 Rejeitos radioativos Material radioativo ou contaminado com radionuclídeos, proveniente de laboratório de análises clínicas, serviços de medicina nuclear e radioterapia. B.2 Resíduos farmacêuticos Medicamento vencido, contaminado, interditado ou não utili- zado. B.3 Resíduos químicosperigo- sos Resíduo tóxico, corrosivo, inflamável, explosivo, reativo, ge- notóxico ou mutagênico. Classe C – Resíduos Comuns C Resíduos comuns São aqueles que não se enquadram nos tipos A e B, por sua semelhança aos resíduos domésticos, não oferecem risco adicional à saúde pública. 16 1717 O lixo de serviços de saúde e hospita- lar se constitui dos resíduos sépticos, ou seja, que contêm ou potencialmente po- dem conter germes patogênicos; ou de resíduos assépticos destes locais, cons- tituídos por papéis, restos da preparação de alimentos, resíduos de limpezas gerais (pós, cinzas etc.), e outros materiais que não entram em contato direto com pa- cientes ou com os resíduos sépticos, an- teriormente descritos, que são conside- rados como domiciliares. Há, no Brasil, mais de 30 mil unidades de saúde, produzindo resíduos e, na maio- ria das cidades, a questão da destinação final dos resíduos urbanos não está re- solvida. Predominam os vazadouros a céu aberto. Segundo Ferreira (1995), da mesma forma que para os resíduos sólidos, em geral, as propostas de gerenciamento para os resíduos hospitalares têm-se fun- damentado em padrões do Primeiro Mun- do. A questão central que se coloca é sobre a periculosidade ou não dos resíduos hos- pitalares. Embora esta seja uma questão não-resolvida, os países desenvolvidos adotam uma política cautelosa e conside- ram tais resíduos como resíduos que exi- gem tratamento especial. De acordo com Ferreira (1995), a recomendação de inci- neração dos resíduos, ou de parte deles, é uma constante. As prefeituras brasileiras precisam estruturar-se para resolver com maestria os seus problemas, principal- mente pelo fato de termos unidades de saúde em todas elas, ajudando a maximi- zar o problema destes resíduos. 3.1 Coleta, tratamento e destinação De acordo com Monteiro et al (2001), a higiene ambiental dos Estabelecimentos Assistenciais à Saúde – EAS ou simples- mente Serviços de Saúde (hospitais, clíni- cas, postos de saúde, clínicas veterinárias etc.), é fundamental para a redução de in- fecções, pois remove a poeira, os fluidos corporais e qualquer resíduo dos diversos equipamentos, dos pisos, paredes, tetos e mobiliário por ação mecânica e com so- luções germicidas. O transporte interno dos resíduos, o correto armazenamento e a posterior coleta e transporte comple- tam as providências para a redução das infecções. Sobre as áreas hospitalares, o mes- mo autor, mencionado anteriormente, as classificam em três categorias: 1. Áreas críticas: que apresentam maior risco de infecção, como salas de operação e parto, isolamento de doenças transmissíveis, laboratórios etc.; 2. Áreas semicríticas: que apresen- tam menor risco de contaminação, como áreas ocupadas por pacientes de doenças não-infecciosas ou não-transmissíveis, enfermarias, lavanderias, copa, cozinha etc.; 3. Áreas não-críticas: que teorica- mente não apresentam riscos de trans- missão de infecções, como salas de admi- nistração, depósitos etc. Existem regras a seguir em relação à segregação (separação) de resíduos in- fectantes do lixo comum, nas unidades de serviços de saúde, quais sejam: 18 1918 Todo resíduo infectante, no momen- to de sua geração, tem que ser disposto em recipiente próximo ao local de sua ge- ração; Os resíduos infectantes devem ser acondicionados em sacos plásticos bran- cos leitosos, em conformidade com as normas técnicas da ABNT, devidamente fechados; Os resíduos perfurocortantes (agu- lhas, vidros etc.) devem ser acondiciona- dos em recipientes especiais para este fim; Os resíduos procedentes de análises clínicas, hemoterapia e pesquisa micro- biológica têm que ser submetidos à este- rilização no próprio local de geração; Os resíduos infectantes compostos por membros, órgãos e tecidos de origem humana têm que ser dispostos, em sepa- rado, em sacos plásticos brancos leitosos, devidamente fechados; Os resíduos infectantes e especiais devem ser coletados separadamente dos resíduos comuns; Os resíduos radioativos devem ser gerenciados em concordância com reso- luções da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN; Os resíduos infectantes e parte dos resíduos especiais devem ser acondicio- nados em sacos plásticos brancos leitosos e colocados em contêineres basculáveis mecanicamente em caminhões especiais para coleta de resíduos de serviços de saúde. Tais resíduos representam no má- ximo 30% do total gerado. Para Monteiro et al (2001), são muitas as tecnologias para tratamento de resídu- os de serviços de saúde. Até pouco tempo, a disputa no mercado de tratamento de resíduos de serviços de saúde era entre a incineração e a autoclavagem, já que, em muitos países, a disposição em valas sép- ticas não é aceita. Recentemente, com os avanços da pesquisa no campo ambiental e a maior conscientização das pessoas, os riscos de poluição atmosférica advindos do processo de incineração fizeram com que este processo tivesse sérias restri- ções técnicas e econômicas de aplicação, devido à exigência de tratamentos muito caros para os gases e efluentes líquidos gerados, acarretando uma sensível perda na sua parcela de mercado. Os processos comerciais disponíveis que atendem às premissas fundamen- tais são: a incineração (de grelha fixa ou de leito móvel), fornos rotativos, pirólise, autoclavagem, microondas, radiação ioni- zante, desativação eletrotérmica e trata- mento químico. O único processo de disposição final para esse tipo de resíduo é a vala séptica, método muito questionado por grande número de técnicos, mas que, pelo seu baixo custo de investimento e de opera- ção, é o mais utilizado no Brasil. De acor- do com Monteiro et al (2001), a rigor, uma vala séptica é um aterro industrial Clas- se II, com cobertura diária dos resíduos e impermeabilização superior obrigatória, onde não se processa a coleta do percola- do. 18 1919 UNIDADE 4 - Resíduos sólidos industriais – RSI e resíduos das construções civis Segundo Monteiro et al (2001) a indús- tria da construção civil é a que mais explora recursos naturais. Além disso, a construção civil também é a indústria que mais gera re- síduos. No Brasil, a tecnologia construtiva, normalmente aplicada, favorece o desper- dício na execução das novas edificações. Enquanto em países desenvolvidos a média de resíduos proveniente de novas edificações encontra-se abaixo de 100kg/ m2, no Brasil este índice gira em torno de 300kg/m2 edificado. Em termos quantitativos, esse material corresponde a algo em torno de 50% da quantidade em peso de resíduos sólidos urbanos coletados em cidades com mais de 500 mil habitantes de diferentes países, in- clusive o Brasil. Segundo Monteiro et al (2001), em ter- mos de composição, os resíduos da cons- trução civil são uma mistura de materiais inertes, tais como concreto, argamassa, madeira, plásticos, papelão, vidros, me- tais, cerâmica e terra, não recebem solução adequada, impactam o ambiente urbano e constituem local propício à proliferação de vetores de doenças, aspectos que aumen- tam os problemas de saneamento nas áreas urbanas. De acordo com Pinto (1999) e Montei- ro et al (2001), os resíduos de construção e demolição (RCD) são partes dos resíduos sólidos urbanos que incluem também os resíduos domiciliares com todos os proble- mas anteriormente relatados. Porém, para os resíduos de construção e demolição há agravantes: o profundo desconhecimen- to dos volumes gerados, dos impactos que eles causam, dos custos sociais envolvidos e, inclusive, das possibilidades de seu rea- proveitamento, fazem com que os gesto- res dos resíduos se apercebam da gravida- de da situação unicamente nos momentos em que, acuados, vêem a ineficácia de suas açõescorretivas. 4.1 Geração, classificação, tratamento e disposição Segundo Swana citado por Pinto (1999), a classificação da origem dos RCD proposta pela The Solid Waste Association of North America, é bastante útil para a quantifica- ção de sua geração: Material de obras viárias; Material de escavação; Demolição de edificações; Construção e renovação de edifícios; Limpeza de terrenos. A composição dos RCD originados em cada uma dessas atividades é diferente em cada país, em função da diversidade de tec- nologias construtivas utilizadas. De acordo com Pinto (1999), a madeira é muito presente na construção americana e japonesa, tendo presença menos significa- tiva na construção européia e na brasileira; o gesso é fartamente encontrado na cons- trução americana e européia e só recente- mente vem sendo utilizado de forma mais significativa nos maiores centros urbanos brasileiros. Da mesma forma acontece com as obras de infra-estrutura viária, havendo 20 2120 preponderância do uso de pavimentos rígi- dos em concreto nas regiões de clima frio. Segundo o mesmo autor, além de se tornarem resíduos, acontece um grande desperdício que implica em custos maiores, sendo considerada como perda a quantida- de de material sobre-utilizada em relação às especificações técnicas ou às especifica- ções de um projeto, podendo ficar incorpo- rada ao serviço ou transformar-se em resí- duo. O quadro mais comumente encontrado nos municípios de médio e grande porte é a adequada disposição dos grandes volu- mes de RCD em aterros de inertes, também denominados de “bota-foras”. Constitui o problema mais significativo na destinação dessa parcela dos resíduos o inexorável e rápido esgotamento das áreas designadas para disposição. De acordo com Pinto (1999), os “bota-fo- ras” são áreas de pequeno e grande porte, privadas ou públicas, que vão sendo desig- nadas oficial ou oficiosamente para a re- cepção dos RCD e outros resíduos sólidos inertes. A designação dessas áreas pela ad- ministração pública se faz necessária pelo fato de a ampla maioria das Leis Orgânicas Municipais prever como competência das municipalidades a definição do destino dos resíduos municipais. A oferta dessas áre- as por agentes privados se faz em função principalmente do interesse de planificá-las e, com isso, conquistar valorização no mo- mento da sua comercialização. Dentre os impactos, que muitas vezes são extremamente visíveis, causados pe- los resíduos das construções, temos: ex- tenso comprometimento da qualidade do ambiente e da paisagem local; prejuízos às condições de tráfego de pedestres e veícu- los; obstrução de córregos; dentre outros. A presença dos RCD e outros resíduos cria um ambiente propício para a prolifera- ção de vetores prejudiciais às condições de saneamento e à saúde humana; é comum nos “bota-foras” e locais de deposições ir- regulares a presença de roedores, insetos peçonhentos (aranhas e escorpiões) e inse- tos transmissores de endemias perigosas (como a dengue). Para Pinto (1999), não há dúvidas de que a elevada geração de resíduos sólidos, de- terminada pelo acelerado desenvolvimento da economia neste século, coloca como ine- vitável a adesão às políticas de valorização dos resíduos e sua reciclagem, nos países desenvolvidos e em amplas regiões dos pa- íses em desenvolvimento. Os processos de gestão dos resíduos em canteiro, de sofisti- cação dos procedimentos de demolição, de especialização no tratamento e reutilização dos RCD, vão conformando um respeitável e sólido ramo da engenharia civil, atento à necessidade de usar parcimoniosamente recursos que são finitos e à necessidade de não sobrecarregar a natureza com dejetos evitáveis. A reciclagem dos resíduos de construção e demolição no Brasil é bastante recente, mas vem chamando a atenção dos gestores urbanos pelas possibilidades que apresenta enquanto solução de destinação dos RCD e solução para a geração de produtos a baixo custo. Segundo Pinto (1999), os primeiros es- tudos sistemáticos foram realizados a par- tir de 1983, PINTO (1986), ocorrendo na sequência os estudos de SILVEIRA (1993), ZORDAN (1997), LEVY (1997), LATTERZA (1998) e LIMA (1999), além de uma série de outros estudos pontuais. 20 2121 UNIDADE 5 - Resíduos Líquidos Os resíduos líquidos ou esgotos sanitá- rios segundo a NORMA NBR 9648/86 são definidos como: “o despejo líquido cons- tituído de esgoto doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuição para- sitária”. - esgoto doméstico: é o despejo líquido resultante do uso da água para higiene e necessidade fisiológicas humanas. - esgoto industrial é o despejo líquido resultante dos processos industriais, res- peitados os padrões de lançamento. - água de infiltração é toda água pro- veniente do subsolo, indesejável ao sistema separador e que penetra nas canalizações. - contribuição parasitária é a parcela do deflúvio superficial inevitavelmente ab- sorvida pela rede de esgoto sanitário. Como exemplo, temos a penetração direta nos tampões de poços de visita, ou outras even- tuais aberturas, ou ainda pelas áreas inter- nas das edificações e escoam para a rede coletora, ocorrendo por ocasião das chuvas mais intensas com expressivo escoamento superficial. De acordo com UNESP (2008), a coleta e o movimento da drenagem superficial de águas pluviais, esgotos sanitários e despe- jos industriais exige a solução de proble- mas de natureza diferente dos existentes no sistema de abastecimento de água. Os esgotos domésticos, por exemplo, que se constituem das águas servidas, provenien- tes da utilização da água potável em zonas residenciais e comerciais, devem ser cole- tados e removidos para suas áreas de dis- posição final ou tratamento, o mais rápido possível, a fim de que se possa evitar o de- senvolvimento de suas condições sépticas. Os despejos industriais são constituí- dos pelas águas servidas provenientes das indústrias que podem, em muitos casos, apresentar produtos químicos que impossi- bilitam a sua coleta no mesmo sistema em- pregado para os aspectos sanitários. Assim, os sistemas de coleta e remoção de resíduos líquidos (também chamado de esgoto ou águas servidas) podem ser clas- sificados de acordo com a composição ou espécies das águas a esgotar, tomando de- signações especiais, como: sanitário (água usada para fins higiênicos e industriais); sépticos (em fase de putrefação); pluviais (águas pluviais); combinado (sanitário + plu- vial); cru (sem tratamento); fresco (recente, ainda com oxigênio livre). Existem soluções para a retirada do esgoto e dos dejetos, ha- vendo ou não água encanada. Segundo UNESP (2008), existem três tipos de sistemas de esgotos: 1. Sistema unitário: é a coleta dos es- gotos pluviais, domésticos e industriais em um único coletor. Tem custo de implantação elevado, assim como o tratamento também é caro. 2. Sistema separador: o esgoto do- méstico e industrial ficam separados do es- goto pluvial. É o usado no Brasil. O custo de implantação é menor, pois as águas pluviais não são tão prejudiciais quanto o esgoto do- méstico, que tem prioridade por necessitar tratamento. 3. Sistema misto: a rede recebe o esgo- 22 23 to sanitário e uma parte de águas pluviais. Todos esses sistemas são constituídos de canalizações enterradas, geralmente as- sentadas com declividades suficientes para o escoamento livre por gravidade. Nesse contexto, o saneamento é o con- junto de medidas, visando a preservar ou modificar as condições do ambiente com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde. Saneamento básico se restringe ao abastecimento de água e disposição de esgotos, mas há quem inclua o lixo nesta ca- tegoria. Outras atividades de saneamentosão: controle de animais e insetos, sanea- mento de alimentos, escolas, locais de tra- balho e de lazer e habitações. Normalmente, qualquer atividade de saneamento tem os seguintes objetivos: controlar e prevenir doenças, melhorar a qualidade de vida da população, melhorar a produtividade do indivíduo e facilitar a ativi- dade econômica. Investimentos em saneamento, princi- palmente no tratamento de esgotos, dimi- nui a incidência de doenças e internações hospitalares e evita o comprometimento dos recursos hídricos do município. A percepção de que a maior parte das do- enças é transmitida, principalmente, atra- vés do contato com a água poluída e esgo- tos não tratados, levou os especialistas a procurarem soluções integrando várias áre- as da administração pública. Atualmente, emprega-se o conceito mais adequado de saneamento ambiental. Com o crescimento desordenado das cidades, no entanto, as obras de saneamento têm se restringido ao atendimento de emer- gências, como: evitar o aumento do núme- ro de vítimas de desabamento, contornar o problema de enchentes ou controlar epide- mias. O saneamento é de responsabilidade do município. No entanto, em virtude dos custos envolvidos, algumas das principais obras sempre foram administradas por ór- gãos estaduais ou federais e quase sempre restritas a soluções para o problema, como enchentes. Esgotos, Coleta e Trata- mento Ainda que só 0,1% do esgoto de origem doméstica seja constituído de impurezas de natureza física, química e biológica, e o restante seja água, o contato com esses efluentes e a sua ingestão é responsável por cerca de 80% das doenças e 65% das internações hospitalares. Atualmente, ape- nas 10% do total de esgotos produzido re- cebem algum tipo de tratamento, os outros 90% são despejados “in natura” nos solos, rios, córregos e nascentes, constituindo-se na maior fonte de degradação do meio am- biente e de proliferação de doenças. Investir no saneamento do município me- lhora a qualidade de vida da população, bem como a proteção ao meio ambiente urbano. Combinado com políticas de saúde e habi- tação, o saneamento ambiental diminui a incidência de doenças e internações hospi- talares. Por evitar comprometer os recursos hídricos disponíveis na região, o saneamen- to ambiental garante o abastecimento e a qualidade da água. Além disso, melhorando a qualidade ambiental, o município torna-se atrativo para investimentos externos. Nas obras de instalação da rede de coleta de esgotos poderão ser empregados os mo- 22 23 radores locais, gerando emprego e renda para a população beneficiada, que também pode colaborar na manutenção e operação dos equipamentos. De acordo com Ambiente Brasil (2008), conduzido pela administração pública mu- nicipal, o saneamento ambiental é uma excelente oportunidade para desenvolver instrumentos de educação sanitária e am- biental, o que aumenta sua eficácia e efi- ciência. Por meio da participação popular, ampliam-se os mecanismos de controle ex- terno da administração pública, concorren- do também para a garantia da continuidade na prestação dos serviços e para o exercício da cidadania. Ainda segundo Ambiente Brasil (2008), apesar de requerem investimentos para as obras iniciais, as empresas de saneamento municipais são financiadas pela cobrança de tarifas (água e esgoto) o que garante a amortização das dívidas contraídas e a sustentabilidade a médio prazo. Como a co- brança é realizada em função do consumo (o total de esgoto produzido por domicílio é calculado em função do consumo de água), os administradores públicos podem imple- mentar políticas educativas de economia em épocas de escassez de água e praticar uma cobrança justa e escalonada. 24 2524 UNIDADE 6 - Poluição Sonora Segundo Pereira Jr (2002) a emissão de sons e ruídos em níveis que causam incô- modos às pessoas e animais e que preju- dicam, assim, a saúde e as atividades hu- manas, enquadram-se perfeitamente no conceito de poluição legalmente aceito no Brasil, o qual é, também, de consenso do meio técnico. Como a poluição sonora pode causar danos à saúde humana, afe- tando os sistemas auditivo e nervoso das pessoas, pode aquele que a provocar, ser enquadrado pela lei, sujeitando-se a pe- nas de reclusão de um a quatro anos, além de multa. Para Pereira Jr (2002), está entre as competências da União, portanto, a de es- tabelecer normas gerais sobre o contro- le da poluição, entendida esta de forma ampla, bem como nos planos urbanísticos municipais, onde, por exemplo, as ativi- dades urbanas devem ser distribuídas de modo a não haver incompatibilidades, tais como a localização de uma grande meta- lúrgica no meio de uma área residencial ou, pior ainda, ao lado de um hospital. São também decisões municipais que deter- minam outras medidas mitigadoras da poluição sonora, como: a restrição ao uso de buzinas em determinadas áreas; e os horários e locais em que podem funcio- nar atividades naturalmente barulhentas, como espetáculos musicais e esportivos, bares, boates, obras civis, etc. De acordo com o caput do art. 18 da Constituição Federal, o disciplinamento do uso do solo e das atividades urbanas é estabelecido por meio das leis municipais de ordenamento urbano e pelos códigos municipais de obras e de posturas. Se, em determinado Município, essas leis – ou a ausência delas – permitem a poluição sonora, nada pode ser feito em termos de legislação federal ou estadual, pois o “Pacto Federativo” garante a autonomia administrativa dos entes federados, res- peitando-se as competências constitucio- nais de cada um deles. De acordo com Pereira Jr (2002), para controlar a poluição sonora, os Municípios e os órgãos ambientais e de trânsito se valem de normas técnicas editadas pela Associação Brasileira de Normas Técni- cas – ABNT e pelo Instituto Brasileiro de Normatização e Metrologia – INMETRO, as quais definem os limites de ruído acima dos quais se caracteriza a poluição. Como normas técnicas, esses instrumentos são periodicamente atualizados, de acordo com a evolução tecnológica, o que não po- deria ocorrer – ou seria muito mais difícil de ocorrer – se fossem leis. Isto sem se le- var em conta que as normas técnicas tra- tam de assuntos altamente complexos, de natureza especializada e, portanto, impossíveis de serem tratados pelos po- deres legislativos. 24 2525 UNIDADE 7 - A legislação e o plano de Gestão Integrado E Sustentável De Resíduos Sólidos Urbanos – GISRSU Observamos, ainda nos dias de hoje, principalmente em municípios pequenos, o depósito de resíduos sólidos a céu aberto ou lixão que é uma forma de deposição de- sordenada sem compactação ou cobertura dos resíduos, o que propicia a poluição do solo, ar e água, bem como a proliferação de vetores de doenças. Por sua vez, o aterro controlado é outra forma de deposição de resíduo, tendo como único cuidado a cober- tura dos resíduos com uma camada de solo ao final da jornada diária de trabalho com o objetivo de reduzir a proliferação de veto- res de doenças. Segundo Zanta e Ferreira (2006), a pre- dominância dessas formas de destinação final pode ser explicada por vários fatores, tais como: falta de capacitação técnico-ad- ministrativa, baixa dotação orçamentária, pouca conscientização da população quan- to aos problemas ambientais ou mesmo falta de estrutura organizacional das insti- tuições públicas envolvidas com a questão nos municípios, o que acaba refletindo na inexistência ou inadequação de planos de GIRSU. Para reverter essa situação, uma das ações possíveis é a busca de alternativas tecnológicas de disposição final sustentá- vel, entendida como aquela que atente para as condições peculiares dos municípios de pequeno portequanto às dimensões am- biental, sócio-cultural, política, econômica e financeira, e que, simultaneamente, seja integrada às demais etapas do Gerencia- mento Integrado e Sustentável dos Resídu- os Sólidos Urbanos (GISRSU). Nesse sentido, de acordo com Zanta e Ferreira (2006), o aterro sustentável é uma tecnologia para municípios pequenos que pode ser alternativa para o GISRSU aten- dendo vários objetivos, dentre eles: O manejo ambientalmente adequado de resíduos sólidos urbanos; A capacitação técnica das equipes responsáveis pelo projeto, operação, moni- toramento e encerramento do aterro; A geração de emprego e renda; Custos adequados à realidade sócio- -econômica dos municípios; O efetivo envolvimento dos atores políticos e institucionais e da população lo- cal. Para Zaneti e Sá (2004) a gestão inte- grada dos resíduos sólidos urbanos deveria implicar na necessidade de compreender a complexidade da questão socioambiental, ou seja, da ecologia urbana que é alvo do sistema de gestão proposto, o que inclui co- nhecer a natureza das fontes geradoras de resíduos, seus impactos na população e am- biente urbanos, estudando-se a realidade local em seus aspectos sócio-econômicos, políticos, e pessoais/coletivos, além de arti- culá-los com os impactos da dimensão glo- bal, para que se obtenha uma visão real da complexidade da questão. Essa integração exige a criação de redes relacionais de sustentação da comunicação entre os atores, que, no caso dos resíduos sólidos urbanos, são os produtores, catado- res, o poder público, os serviços privados, os intermediários e as empresas que utilizam os resíduos como matéria prima. 26 27 As instituições responsáveis pelo sistema de GISRSU devem contar com a existência de uma estrutura organiza- cional que forneça o suporte necessário ao desenvolvimento das atividades do sistema de gerenciamento. A concepção desse sistema abrange vários subsis- temas com funções diversas, como de planejamento estratégico, técnico, ope- racional, gerencial, recursos humanos, entre outros. Esta concepção é condicionada pela disponibilidade de recursos financeiros e humanos, como também pelo grau de mobilização e participação social. Para municípios de pequeno porte, observa- -se muitas vezes uma organização hie- rárquica construída com base no princí- pio da especialização funcional, no qual a cadeia de comando flui do topo para a base da organização, como ilustrado pela figura abaixo: Exemplo de estrutura organiza- cional do sistema de gerenciamento integrado de RSU para um município de pequeno porte. Fonte: Zanta e Ferreira (2006, p. 11). Nesse exemplo, observa-se que o sis- tema de GIRSU constitui-se em uma das gerências da Secretaria de Saneamento Ambiental da Prefeitura Municipal, as- sistida pelo Conselho de Saneamento Ambiental, formado por segmentos representativos da comunidade com função de contribuir com a proposição e o controle do GIRSU. A essa gerência de resíduos sóli- dos urbanos, com atribuição técnica de planejamento, projeto e operação, está subordinado o setor de fiscaliza- ção e atendimento, ao qual compete a fiscalização do desempenho das ati- vidades e a comunicação com a popu- lação quanto às demandas e esclare- cimentos, não possuindo estruturas próprias de suporte jurídico, financeiro e administrativo. Alguns aspectos do arranjo institu- cional, como normas municipais para a limpeza urbana, a capacitação técni- ca continuada dos profissionais e sua motivação para o melhor desempe- nho de suas atribuições e a existência de um canal de comunicação a fim de possibilitar a participação social nos processos decisórios, ouvir e atender demandas, divulgar os serviços pres- tados, bem como permitir a formação de consciência coletiva sobre a impor- tância da limpeza pública por meio da educação ambiental, quando imple- mentados, favorecem a melhoria dos serviços prestados. As diretrizes das estratégias de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos buscam atender aos objetivos do conceito de prevenção da poluição, evitando-se ou reduzindo a geração de resíduos e poluentes pre- judiciais ao meio ambiente e à saúde pública. Desse modo, busca-se priori- zar, em ordem decrescente de aplica- ção: a redução na fonte, o reaproveita- 26 27 mento, o tratamento e a disposição final. No entanto, cabe mencionar que a hie- rarquização dessas estratégias é função das condições legais, sociais, econômicas, culturais e tecnológicas existentes no mu- nicípio, bem como das especificidades de cada tipo de resíduo. A redução na fonte pode ocorrer por meio de mudanças no produto, pelo uso de boas práticas operacionais e/ou pelas mudanças tecnológicas e/ou de insumos do processo. De acordo com Valle citado por Zanta e Ferreira (2006), a estratégia de reaproveitamento engloba as ações de reutilização, a reciclagem e a recupe- ração. Observa-se que no reuso, o resí- duo está pronto para ser reutilizado, en- quanto a reciclagem exige um processo transformador com emprego de recursos naturais e possibilidade de geração de re- síduos, embora possa produzir um bem de maior valor agregado. Por último, têm-se as ações de tratamento e disposição fi- nal que buscam assegurar características mais adequadas ao lançamento dos resí- duos no ambiente. As ações de gerenciamento podem ser promovidas por meio de instrumentos presentes em políticas de gestão. Se- gundo Milanez citado por Zanta e Ferrei- ra (2006), os instrumentos econômicos compreendem os tributos, subsídios ou incentivos fiscais; os instrumentos volun- tários, as iniciativas individuais; e os ins- trumentos de comando e controle, as leis, normas e punições. O sistema de GIRSU pode ser compos- to por atividades relacionadas às etapas de geração, acondicionamento, coleta e transporte, reaproveitamento, tratamento e destinação final. Na etapa de geração de resíduos sólidos, alteração no padrão de consumo da sociedade que promova a não geração, incentivar o consumo de produ- tos mais apropriados ambientalmente ou mesmo o compartilhamento de bens, con- tribui para melhoria da condição de vida da comunidade. Ainda nessa etapa, a ação de segregar os resíduos com base em suas características possibilitará a valorização dos resíduos e maior eficiência das demais etapas subsequentes de gerenciamento por evitar a contaminação de quantidades significativas de materiais reaproveitá- veis em decorrência da mistura de resídu- os. Segundo Zanta e Ferreira (2006), o acondicionamento dos resíduos sólidos, por sua vez, deve ser compatível com suas características quali-quantitativas, faci- litando a identificação e possibilitando o manuseio seguro dos resíduos, durante as etapas de coleta, transporte e armaze- namento. A coleta e transporte consistem nas operações de remoção e transferên- cia dos resíduos sólidos urbanos para um local de armazenamento, processamento ou destinação final. Essa atividade pode ser realizada de forma seletiva ou por co- leta dos resíduos misturados. A coleta dos resíduos misturados, denominada de re- gular ou convencional, é realizada, em ge- ral, no sistema de porta em porta ou ain- da, em áreas de difícil acesso, por meio de pontos de coleta onde são colocados con- têineres basculantes ou intercambiáveis. A coleta seletiva é a coleta de materiais segregados na fonte de geração passíveis de serem reutilizados, reciclados ou recu- perados. Pode ser realizada de porta em porta com veículos coletores apropriados ou por meio de Postos de Entrega Volun- tária (PEVs) dos materiais segregados. 28 29 Para Zanta e Ferreira (2006), o dimen- sionamento da frota de veículos coleto- res empregados para o transporte é es- tabelecido com base nas característicasquali-quantitativas dos resíduos a serem coletados e da área de coleta, como, por exemplo, o tipo de sistema viário, pavi- mentação, topografia, iluminação e ou- tras. Vários tipos de veículos coletores podem ser utilizados, como caminhões compactadores, caminhões basculantes, caminhões com carroceria de madeira aberta, veículos utilitários de médio porte, caminhões-baú ou carroças. Independen- temente do tipo de coleta a ser adotado, a educação ambiental é peça fundamental para a aceitação confiabilidade nos servi- ços prestados, motivando a participação da comunidade. O reaproveitamento e o tratamento dos resíduos são ações corretivas cujos benefícios podem ser a valorização de re- síduos, ganhos ambientais com a redução do uso de recursos naturais e da poluição, geração de emprego e renda e aumento da vida útil dos sistemas de disposição fi- nal. Essas ações devem ser precedidas de estudos de viabilidade técnica e econômi- ca, uma vez que fatores como qualidade do produto e mercado consumidor podem ser restritivos ao uso de algumas dessas alternativas. Essas ações, quando associadas à co- leta seletiva, ganham maior eficiência por utilizarem como matéria prima, resíduos de melhor qualidade. Os resíduos coleta- dos também podem ter maior valor agre- gado se beneficiados por meio de proce- dimentos como segregação por tipo de materiais constituintes, lavagem, tritura- ção, peneiramento, prensagem e enfar- damento, de acordo com as exigências do mercado consumidor. Segundo Zanta e Ferreira (2006), para municípios de pequeno porte, a disposição final dos RSU deve ser realizada segundo técnicas de engenharia de modo não pre- judicar o meio ambiente e a saúde pública. Algumas técnicas recomendadas na lite- ratura para municípios de pequeno por- te são: aterros em valas (Cetesb, 1997), aterro simplificado (Fiuza et al., 2002) e aterro manual (Jaramillo, 1991). Temos, abaixo, algumas das atividades operacionais de GISRSU relativas aos RSU domésticos e àqueles oriundos dos ser- viços de limpeza pública que abrangem, neste exemplo, atividades de varrição, capina, raspagem, poda, limpeza de feiras e limpeza de boca-de-lobo. Atividades operacionais relaciona- das aos resíduos sólidos domésticos e de limpeza pública. Fonte: Zanta e Ferreira (2006, p. 14). De acordo com o Ministério do Meio Am- biente (2001): O plano de gerenciamento é um do- cumento que apresenta a situação atu- al do sistema de limpeza urbana, com a pré-seleção das alternativas mais viáveis, 28 29 com o estabelecimento de ações integra- das e diretrizes sob os aspectos ambien- tais, econômicos, financeiros, adminis- trativos, técnicos, sociais e legais para todas as fases de gestão dos resíduos sólidos, desde a sua geração até a des- tinação final. (MINISTÉRIO DO MEIO AM- BIENTE, BRASIL, 2001). Considerando essa definição, no plano de gerenciamento deve haver um diagnóstico da situação atual que apresente os aspec- tos institucionais, legais, administrativos, financeiros, sociais, educacionais, opera- cionais e ambientais do sistema de limpeza pública, como também, informações gerais sobre o município. As informações relativas ao município abrangem: a coleta de dados sobre os aspectos geográficos, sócio-eco- nômicos, de infra-estrutura urbana e da população atual, flutuante e prevista. Em relação ao sistema de limpeza pública são informações de interesse: Características quantitativas e qualita- tivas dos resíduos sólidos urbanos; Identificação e análise das disposições legais existentes, incluindo contratos de execução de serviços de limpeza urbana municipal por terceiros; Identificação e descrição da estrutura administrativa (organização e alocação de recursos humanos); Identificação, levantamento e caracte- rização da estrutura operacional dos servi- ços prestados (infra-estrutura física, proce- dimentos e rotinas de trabalho); Identificação dos aspectos sociais (presença de catadores na disposição final, coleta informal, existência de cooperativas ou associações); Identificação, levantamento e carac- terização da estrutura financeira do serviço de limpeza urbana (remuneração e custeio, investimentos, controle de custos); Identificação e caracterização de ações ou programas de educação ambiental. Depois da obtenção e da sistematização de dados e informações, é possível realizar um diagnóstico em que sejam identificados os problemas, as deficiências e as lacunas existentes e suas prováveis causas. Esta primeira fase subsidiará a elaboração do prognóstico contendo a concepção e o de- senvolvimento do plano de gerenciamento. A concepção, as proposições e as alternati- vas apresentadas no plano fundamentam- -se em princípios e diretrizes de políticas públicas existentes ou a serem propostas que precisam estar claramente menciona- das no texto do plano. O plano de gerencia- mento deve contemplar: O modelo tecnológico, sua estrutura operacional e estratégia de implantação com as devidas justificativas e com defini- ção de metas e prazos; A estrutura financeira e estudos econômicos com a definição das fontes de captação dos recursos necessários à im- plantação e operacionalização do sistema previsto pelo plano (organograma, remune- ração e custeio); A proposição de uma estrutura organi- zacional e jurídica necessária ou a adequa- ção da estrutura existente, com a inserção da participação e do controle social; Planos que promovam a inserção so- cial para os grupos sociais envolvidos; 30 31 Programas e ações de atividades de educação ambiental. Monitoramento dos programas de ges- tão, empregando-se como ferramentas, indicadores que resumem de forma inteligí- vel e comparável uma série de informações, tais como, os de desempenho, os econômi- co-financeiros e sócio-econômicos e am- bientais. De acordo com Zanta e Ferreira (2006), além da Constituição Federal, o Brasil já dis- põe de uma legislação ampla (leis, decretos, portarias, etc.) mas que, por si só, não tem conseguido equacionar o problema do GIR- SU. A falta de diretrizes claras, de sincronis- mo entre as fases que compõem o sistema de gerenciamento e de integração dos di- versos órgãos envolvidos com a elaboração e aplicação das leis possibilitam a existência de algumas lacunas e ambiguidades, dificul- tando o seu cumprimento. Nas diferentes esferas governamentais, ainda são iniciativas recentes ou inexistem leis específicas de Políticas de Gestão de Re- síduos Sólidos que estabeleçam objetivos, diretrizes e instrumentos em consonância com as características sociais, econômicas e culturais de Estados e municípios. Alguns dos principais instrumentos legais e norma- tivos de interesse para o tema são citados e comentados brevemente. Segundo IPT/Cempre citado por Zanta e Ferreira (2006), a Constituição Federal, promulgada em 1988, estabelece em seu artigo 23, inciso VI, que “compete à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni- cípios proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer das suas formas”. No artigo 24, estabelece a competência da União, dos Estados e do Distrito Federal em legislar concorrentemente sobre “[...] pro- teção do meio ambiente e controle da polui- ção” (inciso VI) e, no artigo 30, incisos I e II, estabelece que cabe, ainda, ao poder públi- co municipal “legislar sobre os assuntos de interesse local e suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”. A Lei Federal n. 6.938, de 31/8/81, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, institui a sistemática de Avaliação de Impac- to Ambiental para atividades modificadoras ou potencialmente modificadoras da quali- dade ambiental, com a criação da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). A AIA é forma-
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