Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

10 anos
editorial
Um olhar psicológico 
sobre o câncer
Gláucia Viola, editora
“Uma cama de hospital é um táxi 
estacionado com o taxímetro a correr.”
 Groucho Marx
A 
relação do câncer com o sofrimento e a morte precoce faz com que a grande maioria das pessoas 
não saiba lidar com tudo que envolve essa doença. O surgimento da Psicologia Oncológica serviu 
PARA�DESMISTIlCAR�OS�MEDOS�E�CRIAR�NOVOS�PARÊMETROS�EM�RELA¥ÎO�A�QUESTÜES�COMO�DIAGNØSTICO��
MEDIDAS�DE�ENFRENTAMENTO��COMPREENSÎO�DAS�CHANCES�DE�CURA�E�ENTENDIMENTO�DO�QUE�PODE�REPRE-
sentar qualidade de vida.
O câncer deve ser enfrentado e encarado como um problema verdadeiramente de 
SAÞDE�PÞBLICA��QUE�ATINGE�PESSOAS�DE�TODAS�AS�IDADES�E�EM�TODOS�OS�LUGARES�DO�MUNDO��
sendo a segunda causa principal de morte por doença no planeta. Todas essas 
CARACTERÓSTICAS�EXIGIRAM�A�NECESSIDADE�DE�OS�PROlSSIONAIS� ENTENDEREM�O�PROBLEMA�
ALÏM�DA�VISÎO�CLÓNICA�MÏDICA��!�0SICO
ONCOLOGIA�ASSUME�ESSE�PAPEL��RECONHECENDO�
QUE�O�DESENVOLVIMENTO�DO�CÊNCER�E�SEU�PROCESSO�DE�TRATAMENTO��SEM�DÞVIDA��SOFREM�
INTENSA�INmUÐNCIA�DE�VARIÉVEIS�SOCIAIS�E�AFETIVAS��
!LÏM� DOS� PROBLEMAS� CAUSADOS� PELA� DOEN¥A�� O� DESGASTE� PSÓQUICO� SOFRIDO� PELO�
PACIENTE�E�POR�SEUS� FAMILIARES�E�AMIGOS�DURANTE�O�PROCESSO�DE�TRATAMENTO�OCORRE��
PRINCIPALMENTE��EM�FUN¥ÎO�DE�A�DOEN¥A�SER�ASSOCIADA�A�DOR��SOFRIMENTO��DEGRADA¥ÎO�
HUMANA��OU�SEJA��O�DIAGNØSTICO�Ï�ENCARADO�COMO�UMA�SENTEN¥A�DE�MORTE��%STA�EDI¥ÎO�
da Psique Ciência & Vida�MOSTRA�COMO�A�0SICOLOGIA�/NCOLØGICA�AJUDA�NA�CONDU¥ÎO�
DESSE� PROCESSO�� BUSCANDO� AMENIZAR�MITOS� E� AT�MESMO� FANTASIAS� PROVOCADAS� POR�
ELA��/� AMBIENTE� HOSPITALAR�� POR� EXEMPLO�� � UM� FATOR� ESTRESSANTE� CHEIO� DE� ESTIGMAS�� APESAR� DE� DESPERTAR�
SENTIMENTOS� AMBÓGUOS�� 0OIS�� ALÏM� DE� TRAZER� ALÓVIO� A� QUEM� CHEGA� A� SUAS� INSTALA¥ÜES� EM� MOMENTOS� DE�
SOFRIMENTO��CAUSA�GRANDE�REJEI¥ÎO��0ARA�VALIDAR�ESSES�SENTIMENTOS��A�0SICOLOGIA�GANHA�IMPORTÊNCIA�NO�SENTIDO�
DE� ATUAR�� JUSTAMENTE��NO�CAMPO�DAS� VARIÉVEIS� EMOCIONAIS��/�CÊNCER�� EM�CONJUNTO� COM�A�HOSPITALIZA¥ÎO��
CARREGA�ESSAS�SENSA¥ÜES��ESPECIALMENTE�NO�QUE�DIZ�RESPEITO�Ì�MORTE�
A verdade incontestável e difícil de aceitar é que o sofrimento está intimamente ligado ao câncer. Por 
ISSO��CABE�AO�PROlSSIONAL�DE�SAÞDE�MENTAL�COMPARTILHAR��DIVIDIR�E�MOBILIZAR�TODOS�OS�RECURSOS�DISPONÓVEIS�
para que as pessoas tenham mais possibilidades de elaborar a situação da melhor maneira possível e para 
QUE�POSSAM�SE�ANCORAR�NA�REALIDADE�DE�FORMA�SAUDÉVEL��!TÏ�PORQUE�A�DOEN¥A�GUARDA�EM�SI�A�CONSCIÐNCIA�DA�
possibilidade da morte e essa constatação é acompanhada de angústias que seguirão o paciente durante o 
PERCURSO�DO�TRATAMENTO��%�CADA�PACIENTE�ENXERGA�UM�SENTIDO�PARTICULAR�NA�MORTE��DE�ACORDO�COM�A�FASE�EM�
QUE�SE�ENCONTRA�NO�PROCESSO�DE�EVOLU¥ÎO�VITAL��%SSA�OBSERVA¥ÎO�DE�lNITUDE��VIVÐNCIAS�E�CONDI¥ÜES� FÓSICA��
PSICOLØGICA��SOCIAL�E�CULTURAL�DEPENDE��TAMBÏM��DE�UM�ACOMPANHAMENTO�EMOCIONAL�ADEQUADO��LEVANDO�A�
uma intersecção entre todos os fatores no desenrolar da vida.
Boa leitura! 
Gláucia Viola
psique@escala.com.br
www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida
CAPA
DOSSIÊ: PSICOLOGIA 
NO ESPORTE 
A preparação psicológica 
pode ser o diferencial nos 
resultados expressivos de 
ATLETAS��RATIlCANDO�SEU�PAPEL�
central no universo esportivo
sumário
3510 anos
MATÉRIAS
ENTREVISTA
Neurologista Marcela Amaral Avelino 
destaca a heterogeneidade dos quadros 
CLÓNICOS�COMO�DESAlO�CIENTÓlCO� 
para a obtenção de diagnósticos 
dos transtornos mentais
SEÇÕES
05 EM CAMPO
16 IN FOCO 
18 PSICOPOSITIVA
20 PSICOPEDAGOGIA
22 SEXUALIDADE 
24 SUPERVISÃO 
32 COACHING
34 LIVROS
50 CYBERPSICOLOGIA 
52 NEUROCIÊNCIA
54 RECURSOS HUMANOS
64 DIVÃ LITERÁRIO
66 CINEMA
70 PERFIL
78 UTILIDADE PÚBLICA
80 EM CONTATO
82 PSIQUIATRIA FORENSE
Apoio fundamental
!S�DIlCULDADES�EM�LIDAR�COM�
o câncer, suas consequências 
e a proximidade da morte 
fazem com que a Psicologia 
Oncológica seja fundamental 
na atuação hospitalar
A Ética do psicólogo
!TUA¥ÎO�DO�PROlSSIONAL�
na Perícia Psicológica, 
no âmbito judicial e 
principalmente nas Varas 
de Família apresenta 
inúmeras diferenças do que 
é exigido na área clínica
Uma nova ordem
Counseling organizacional 
é uma ferramenta que usa 
o conhecimento técnico 
de uma pessoa para 
ORIENTAR�UM�PROlSSIONAL�A�
tomar decisões assertivas
26
72
08
56
IM
AG
EM
 D
A 
CA
PA
: S
HU
TT
ER
ST
OC
K
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5
em campo 
TRABALHO E FELICIDADE
Enquanto as mais diversas vertentes 
organizacionais discutem um modelo 
de liderança, um estudo realizado por 
pesquisadores das universidades de 
Greenwich e Sussex mostra que propor-
cionar uma percepção de propósito no 
trabalho entre os seus liderados não é 
uma habilidade dos gestores. Muito pelo 
CONTRÉRIO��ELES�DESTROEM�ESSE�SIGNIlCADO��
A pesquisa ouviu 135 pessoas trabalhan-
do em 10 ocupações muito diferentes, 
desde sacerdotes até coletores de lixo, 
para perguntar sobre incidentes ou 
momentos em que os trabalhadores pen-
saram que o seu trabalho era algo signi-
lCATIVO�E��POR�OUTRO�LADO��MOMENTOS�EM�
que eles se perguntaram: “Por que estou 
trabalhando com isso?”. A despeito das 
lideranças, a autora do estudo, Katie 
Bailey, diz que para as organizações que 
BUSCAM�NUTRIR�ESSE�SIGNIlCADO��OPERAR�
“com responsabilidade ética e moral é 
uma boa alternativa, uma vez que são 
qualidades que fazem a ponte entre o 
trabalho e a vida pessoal”.
POR OUTRO LADO...
Um novo estudo, desta vez da Univer-
sidade de Split, Croácia, relacionou a 
satisfação no trabalho ao sucesso da 
empresa. A pesquisa comparou desempe-
nho empresarial de 40 grandes e médias 
companhias com a avaliação dos funcio-
nários sobre 10 diferentes aspectos de seu 
trabalho, totalizando 6 mil avaliações. 
(Fonte: ScienceDaily.com)
por Jussara Goyano
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K
AÇÃO X HÁBITO
MECANISMOS DE AÇÃO DIRIGIDA E 
ESTRUTURAS DE AÇÃO HABITUAL COMPETEM 
NA TOMADA DE DECISÃO
Com um modelo de experiência com ratos, uma equipe internacional de 
pesquisadores, sediada na Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), 
demonstra o que acontece no cérebro para que os hábitos controlem o nosso 
comportamento.
O estudo, publicado na revista Neuron, fornece a evidência mais forte até 
hoje, segundo seus autores, de que os circuitos do cérebro designados tanto 
para a ação habitual quanto para a ação dirigida competem pelo controle no 
córtex orbitofrontal, uma área do cérebro responsável pela tomada de decisão. 
.EUROQUÓMICOS�CHAMADOS�ENDOCANABINOIDES��ENVOLVIDO�EM�VÉRIOS�PROCESSOS�l-
siológicos, incluindo apetite, sensação de dor e humor, são os mecanismos que 
permitem ao hábito assumir o controle, agindo como uma espécie de freio no 
circuito da ação dirigida.
Os resultados sugerem, segundo os autores da pesquisa, um novo alvo tera-
pêutico para pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo ou vícios, 
para interromper a dependência excessiva do hábito e restaurar a capacidade de 
mudar das ações habituais para as ações dirigidas por objetivos; Pode ser útil 
para tratar o sistema endocanabinóide do cérebro e assim reduzir o controle das 
ações habituais sobre o comportamento do indivíduo. 
(Fonte: ScienceDaily.com) 
6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ESTRESSE
COMO OS NEURÔNIOS CEREBRAIS 
COMANDAM REAÇÕES FISIOLÓGICAS 
Ao experienciar o estresse, o nosso corpo desvia re-
cursos metabólicos para sua resposta de emergência. Pen-
sava-se que o sistema nervoso simpático - sistema instinti-
vo do corpo para reagir ao estresse - dirigia essa atividade, 
mas uma pesquisa recente do Weizmann Institute of Science, 
em Israel, agora mostraque os neurônios no cérebro têm 
um papel surpreendente nessa atividade. As descobertas, 
que apareceram recentemente na Cell Metabolism, pode-
rão, no futuro, ajudar no desenvolvimento de melhores 
medicamentos para patologias relacionadas com o estres-
se, tais como os transtornos alimentares.
Quando somos expostos a situações estressantes, o hipo-
TÉLAMO�INTENSIlCA�A�ATIVA¥ÎO�DE�UM�RECEPTOR�EM�SUAS�PARE-
des exteriores, o CRFR1. Sabe-se que esse receptor contribui 
para a rápida ativação da rede nervo simpática - aumentando 
o ritmo cardíaco, por exemplo. Como essa área do cérebro 
também regula o equilí-
brio de energia do corpo, 
os cientistas partiram 
RESOLVERAM�VERIlCAR� SE�O�
CRFR1 poderia desem-
penhar um papel nisso. 
Eles descobriram que é 
o receptor que desem-
penha efeito inibitório 
sobre as células nervosas, 
e isso é o que ativa o sis-
tema nervoso simpático. 
A descoberta, entre 
outros detalhes revela-
dos pela pesquisa, pode auxiliar no desenvolvimento de 
tratamentos psicofarmacêuticos que atuem no hipotála-
mo, o que já está sendo feito por algumas empresas, em 
busca de um possível tratamento para os transtornos de 
ansiedade ou depressão. Os cientistas alertam, no entanto, 
que, como as células estão envolvidas no equilíbrio ener-
gético, bloquear os receptores poderá ter efeitos colate-
rais, como ganho de peso.
PARA SABER MAIS:
Yael Kuperman, Meira Weiss, Julien Dine, Katy Staikin, 
Ofra Golani, Assaf Ramot, Tali Nahum, Claudia Kühne, 
Yair Shemesh, Wolfgang Wurst, Alon Harmelin, Jan M. 
Deussing, Matthias Eder, Alon Chen. CRFR1 in AgRP 
Neurons Modulates Sympathetic Nervous System Activ-
ity to Adapt to Cold Stress and Fasting. Cell Metabolism, 
2016; DOI: 10.1016/j.cmet.2016.04.017
AR
Q
UI
VO
 P
ES
SO
AL
Jussara Goyano é jornalista. Estuda Psicologia, Medicina 
Comportamental e Neurociências, com foco em 
������È�I�G9�H��¢���G�����������G�I�:�U�I�GI��I����‚IG
G�
pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento.
COMPORTAMENTO 
E INTELIGÊNCIA
SABEDORIA VARIA DE ACORDO 
COM A SITUAÇÃO
Estudo mostra que não existe pessoa sábia, mas ati-
tude, sim. Pesquisadores da Universidade de Waterloo, 
nos Estados Unidos, observaram a reação de indivíduos 
em resposta a diversas situações cotidianas para estudar 
a sabedoria humana. Entre seus achados está a percepção 
de que raciocínio sábio é aquele que põe em prática uma 
combinação de habilidades, tais como a humildade in-
telectual, a consideração da perspectiva dos outros e a 
procura por compromisso. E não depende exclusivamente 
de personalidade, tendo essas características postas em 
prática de acordo com a circunstância. 
!�OBSERVA¥ÎO�DE�QUE�O�RACIOCÓNIO�SÉBIO�VARIA�SIGNIl-
cativamente entre as situações na vida cotidiana sugere 
que ele não é raro. Além disso, para indivíduos diferentes, 
apenas determinadas situações promovem esta qualidade.
Para a próxima etapa do trabalho, os cientistas prepa-
ram uma ferramenta para avaliar a sabedoria de acordo 
com a situação. Eles têm planos de realizar o primeiro 
estudo longitudinal com o objetivo de ensinar as pessoas 
a raciocinar sabiamente em suas próprias vidas. 
O novo mapa da sabedoria foi publicado recentemente 
na revista Social Psychological and Personality Science.
(Fonte: ScienceDaily.com) 
em campo 
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7
ENTENDENDO A CRISE
REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 64
giro escala
POLÍTICA EM XEQUE
REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 119
O Brasil passa por um grave momen-
to em sua trajetória, no qual se observa 
que as instituições não demonstram es-
tar tão consolidadas quanto a sociedade 
esperava. Por isso, é fundamental enten-
der a crise da democracia nacional e a 
Sociologia assume um papel central en-
quanto instrumento teórico-metodoló-
gico, no sentido de promover uma leitu-
RA�E�UMA�COMPREENSÎO�MAIS�QUALIlCADAS�
DA� REALIDADE�� SUPERANDO� SUPERlCIALIDA-
des, subjetividades e estereótipos. Por 
meio da Sociologia entende-se o com-
promisso com a pluralidade e o desejo 
que o debate sociológico contribua para 
uma visão mais objetiva, a partir das 
formas de linguagem e saberes socioló-
gicos. A Sociologia, reconhecida como 
“ciência social que estuda a sociedade, 
ou, mais precisamente, conhecimento 
CIENTIlCO�DOS�FATOS�E�FENÙMENOS�SOCIAIS�
como realidades que ocorrem dentro 
da sociedade”, se insere no debate, cada 
vez mais atual e necessário, em torno de 
temas como o processo politico brasi-
LEIRO��CONTRIBUINDO�DE�MODO�QUALIlCADO�
para a descrição, compreensão, inter-
PRETA¥ÎO�E�EXPLICA¥ÎO�CIENTÓlCA�
Nesses tempos de inquietações, de 
atitudes que afrontam a democracia e o 
Estado, com o país em transe, e passan-
do por um momento curioso do ponto 
de vista sociológico, a Sociologia realça 
suas possibilidades na formação do pen-
samento inteligente, criativo e de ideias. 
Existem vários aspectos que podem jus-
TIlCAR� A� IMPORTÊNCIA� E� AS� RAZÜES� PARA�
estudar Sociologia. Atualmente, em 
um ambiente convulsionado por mani-
festações, crise política, torna-se cada 
vez mais importante aprimorar, quali-
lCAR�� COMPREENDER� A� REALIDADE� SOCIAL� E�
POLÓTICA�E�OS�FATORES�QUE�INmUENCIAM�OS�
FENÙMENOS��O�mUXO�DE� INFORMA¥ÜES�E�A�
comunicação. Mais informações na edi-
ção 64 da revista Sociologia.
A política, mais do que nunca, é 
parte do cotidiano. Está nos meios 
de comunicação, nas rodas de con-
versa, na universidade e nas ruas. No 
cotidiano, o termo “política” é usado 
em diferentes acepções. Há aque-
les que associam a certa habilidade 
nas relações sociais e para realizar 
conciliações, como, por exemplo, a 
pessoa chamada de muito política, 
quando, na verdade, é um indivíduo 
comunicativo e conciliador. Existe 
outro uso para a expressão política, 
que a relaciona a disputas partidá-
rias, ou a reduz aos pleitos eleitorais. 
Frases como “este é um ano de po-
lítica”, referindo-se aos anos em que 
há eleições, são análises restritas. 
Algumas pessoas dizem não gostar 
da atividade política e consideram-se 
indiferentes, desiludidas. Geralmen-
te, limitam a política à corrupção, à 
roubalheira e aos desvios de conduta 
cometidos por aqueles que exercem 
cargos públicos eletivos. Contudo, 
etimologicamente, política designa, 
desde a Antiguidade, o campo da ati-
vidade humana relativa à cidade, ao 
Estado, à gestão do espaço público, 
ao conjunto de cidadãos e às ações 
destes nessa esfera. Por isso, é um 
tema que deveria interessar a todos.
Na Grécia Antiga, cidadãos guia-
vam a cidade. Todavia, cabe ressaltar 
que no paradigma grego nem todos 
podiam ser considerados cidadãos. 
Mulheres, crianças, escravos e estran-
geiros não participavam da vida na pó-
lis. No entanto, todos os que gozavam 
de “cidadania” participavam politica-
mente. Em contrapartida, a partir da 
Modernidade, as questões privadas 
passaram a ocupar espaço maior na 
vida das pessoas. Uma das consequên-
cias é que a atividade política nas so-
ciedades atuais, em termos gerais, caiu 
em descrédito. O resultado é que nas 
DEMOCRACIAS� CONTEMPORÊNEAS� HOUVE�
avanços em relação aos direitos civis, 
mas retrocessos na participação polí-
tica. Mais detalhes na edição 119 da 
revista &ILOSOlA.
RENATO JANINE RIBEIRO
Ser de esquerda é um estilo de vida 
e não apenas uma posição política
ENTREVISTA
Edimar Brígido aborda Ética e Estética 
no pensamento de Wittgenstein
ENCAR
TE DO PR
OFESS
ORReflex
ão
e práti
ca 108
Com c
urador
ia de C
arolin
a Deso
ti Fern
andes 
e 
Tiago
 Brent
am Pe
rencin
i
Carol
ina De
soti Fe
rnand
es���GRAD
UADA�EM
�&ILOSOl�
A�
PELA�05#
#AMPIN
AS��0ESQU
ISA�A�INm�
UÐNCIA�A
FRICANA�N
A�FORMA¥Î
O�DA�IDEN
TIDADE�C
ULTURAL�B
RASILEIRA
��¡�EDITO
RA��
REDATORA
�E�PRODU
TORA�CULT
URAL��
Tiago
 Brent
am Pe
rencin
i �LICEN
CIADO�E�
BACHARE
L�EM�
&ILOSOl�A
��-ESTRE
�EM�%NS
INO�DE�&
ILOSOl�A�
PELA�5N
ESP�E�
PROFESSO
R�DE�&ILO
SOl�A�#O
NTEMPOR
ÊNEA�NA�
&ACULDA
DE�
*OÎO�0AU
LO�))�DE�-
ARÓLIA�
A busca p
elo conhe
cimento
Uma discu
ssão sobre 
a responsa
bilidade do
 desenvolv
imento 
científico p
ela estrutu
ração e mo
dificações 
culturais n
as sociedad
es
Da Filoso
fia à Ciên
cia
Pela inters
ecção entre
 diferentes
 domínios 
do saber
dd 35
5/19/1
6 2:5
9 PM
REFLEXÃO E PRÁTICA: Pode existir Ciência sem Filosofia? 
Submissão e violência contra 
a mulher: a necessidade de 
desnaturalizar elementos comuns 
desde a Grécia Antiga e que 
persistem na atualidade
EXISTÊNCIA 
E DUALISMO
Vida como experiência 
subjetiva radical que está 
fora do alcance 
da razão
À ESPERA 
DE UM MILAGRE
HANNAH ARENDT: 
a capacidade humana de 
agir impulsiona novos 
inícios na vida política
ANO IX No 119 – www.portalcienciaevida.com.br
A VOZ DO
 EDIÇÃO 119 - PREÇO R$ 9,80
FEMINISMO
RICARDO DELLO BUONO VÊ A SOCIOLOGIA COMO FERRAMENTA DE LIBERTAÇÃO 
em sala de aula: apresente o Anarquismo, suas vertentes e seus personagens
www.portalcienciaevida.com.br
Game of 
Thrones
Artigo analisa 
arquétipos 
políticos de 
uma das séries 
mais populares 
da televisão
Estudo de caso
A agricultura 
familiar e a 
qualidade 
de vida do 
trabalhador 
rural
Mundo laboral
Mudanças nas 
DPOm�HVSBªFT�
do trabalho 
não alteraram 
radicalmente 
a lógica da 
exploração
Friedrich 
Engels 
Resenha de 
Anti-Dühring, 
um dos 
trabalhos mais 
importantes 
do pensador
Como a esquerda nacional 
encarou essa ideologia, 
confundindo-a com puro populismo
TRABALHISMO
Uma reflexão sobre o 
8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
MARCELA AMARAL AVELINO JACOBINA
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9
A neurologista Marcela Amaral Avelino ressalta o grande 
DESAlO�DA�COMUNIDADE�CIENTÓlCA�PARA�CONSEGUIR�DIAGNOSTICAR�
TRANSTORNOS�MENTAIS��EM�FUN¥ÎO�DA�HETEROGENEIDADE�DE�QUADROS�
CLÓNICOS�QUE�OCORREM�EM�RELA¥ÎO�A�ESSES�DISTÞRBIOS
E N T R E V I S T A
O
S�INÞMEROS�MISTÏRIOS�QUE�ENVOLVEM�A�
MENTE�DAS�CRIAN¥AS�E�DOS�ADOLESCENTES�
SÎO�CADA�VEZ�MAIS�INTENSAMENTE�ALVO�
DE�PROFUNDO�ESTUDO�POR�PARTE�DA�
.EUROLOGIA�0EDIÉTRICA��4EMAS�COMO�DISTÞRBIOS�
DO�DESENVOLVIMENTO�E�DOS�TRANSTORNOS�MENTAIS�
E�COMPORTAMENTAIS��DESENVOLVIMENTO�INFANTIL��
SUICÓDIO�ENTRE�ADOLESCENTES��DELINQUÐNCIA��DROGAS��
USO�ABUSIVO�DA�INTERNET��ENTRE�OUTROS��DESAlAM�AS�
PESQUISAS�DOS�PROlSSIONAIS�QUE�ATUAM�NA�ÉREA�
3EGUNDO�-ARCELA�!MARAL�!VELINO�*ACOBINA��NEU-
ROLOGISTA�DO�!MATO�)NSTITUTO�DE�-EDICINA�!VAN¥ADA��
NEM�SEMPRE�DIFERENCIAR�O�QUE�Ï�PRØPRIO�DO�DESEN-
VOLVIMENTO�HUMANO�DO�PATOLØGICO�Ï�SIMPLES��h%��NA�
MAIORIA�DAS�VEZES��OS�EXAMES�DIAGNØSTICOS�ACESSÓVEIS�
NÎO�SÎO�CAPAZES�DE�ESTABELECER�UM�DIAGNØSTICO�DE�
CERTEZA��.O�ÊMBITO�DOS�DISTÞRBIOS�DO�DESENVOLVI-
MENTO�E�DOS�TRANSTORNOS�MENTAIS�E�COMPORTAMENTAIS�
NA�INFÊNCIA�E�ADOLESCÐNCIA��FECHAR�DIAGNØSTICOS�E�
ESTABELECER�TRATAMENTOS�SÎO�SITUA¥ÜES�BEM�MAIS�
COMPLEXAS�DO�QUE�APARENTAMv��REVELA�
-ARCELA�POSSUI�GRADUA¥ÎO�EM�-EDICINA�PELA�
5NIVERSIDADE�&EDERAL�DO�0IAUÓ������	�E�TÓTULO�DE�
ESPECIALISTA�EM�.EUROLOGIA�E�.EUROLOGIA�0EDIÉTRICA�
PELA�%SCOLA�0AULISTA�DE�-EDICINA��%0-�5NIFESP	��
Neurologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira 
DE�0EDIATRIA��3"0	�E�.EUROLOGIA�PELA�!CADEMIA�
"RASILEIRA�DE�.EUROLOGIA��!".	��2EALIZOU�MESTRADO�
PELA�5NIFESP��!TUALMENTE��ALÏM�DE�NEUROLOGISTA�
E�NEUROPEDIATRA�NA�#LÓNICA�!MATO�)NSTITUTO�DE�
-EDICINA�!VAN¥ADA��EM�3ÎO�0AULO��Ï�PRECEPTORA�
DA�RESIDÐNCIA�MÏDICA�DE�.EUROLOGIA�0EDIÉTRICA�DA�
5NIFESP��NEUROLOGISTA�E�NEUROPEDIATRA�DO�)NSTITUTO�
DE�!SSISTÐNCIA�-ÏDICA�AO�3ERVIDOR�0ÞBLICO�%STADUAL�
n�)AMSPE�E�NEUROLOGISTA�DO�(OSPITAL�DO�3ERVIDOR�
0ÞBLICO�-UNICIPAL�n�(30-�DE�3ÎO�0AULO�
Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.
NÃO É NADA 
SIMPLES 
IDENTIFICAR O QUE É 
PATOLÓGICO 
Por Lucas Vasques
AR
QU
IV
O 
PE
SS
OA
L
�� psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
No âmbito dos distúrbios do desenvolvimento 
e dos transtornos mentais e comportamentais 
na infância e adolescência, fechar diagnósticos 
e estabelecer tratamentos são situações 
mais complexas do que aparentam
O SUICÍDIO, AINDA SEGUNDO A OMS, 
É A TERCEIRA CAUSA DE MORTE ENTRE 
ADOLESCENTES. COMO A NEUROLOGIA 
OU A NEUROCIÊNCIA PODEM CONTRIBUIR 
PARA MINIMIZAR ESSE CENÁRIO?
MARCELA:�.A�FAIXA�ETÉRIA�ADOLESCEN-
TE��OS�PRINCIPAIS�FATORES�ASSOCIADOS�AO�
RISCO�DE�SUICÓDIO�ESTÎO�RELACIONADOS�A�
TRANSTORNOS�DE�PERSONALIDADE�OU�HU-
MOR��QUE� INCLUEM�SINTOMAS�DEPRESSI-
VOS��AUTO�E�HETEROAGRESSIVIDADE��PRE-
DISPOSI¥ÎO�AO�ABUSO�DE�SUBSTÊNCIAS�E�
COMPORTAMENTO� ANTISSOCIAL�� 'ERAL-
MENTE�� OS� INDÓCIOS� DE� UM� DESFECHO�
SUICIDA� APARECEM� EM� TEMPO� HÉBIL�
para se evitar essa trágica consequ-
ÐNCIA�� 3EJA� ATRAVÏS� DE� PEQUENAS�MU-
DAN¥AS�NO�COMPORTAMENTO�OU�MESMO�
DROGADI¥ÎO�� ESSES� ADOLESCENTES� MUI-
TAS�VEZES�NOS�MOSTRAM�QUE�PRECISAM�
de ajuda. É nesse ponto que a ciência 
DEVE� INTERVIR�� FAZENDO� DIAGNØSTICO� E�
TRATANDO�ANTES�QUE�O�PIOR�ACONTE¥A�
COMO DETECTAR SE CONDUTAS ANTIS-
SOCIAIS, DELINQUÊNCIA E USO DE DRO-
GAS, POR EXEMPLO, SÃO APENAS MANI-
FESTAÇÕES INERENTES À ADOLESCÊNCIA, 
E POR ISSO PASSAGEIRAS, OU ESTÃO AS-
SOCIADOS A DISTÚRBIOS DE COMPORTA-
MENTO MAIS GRAVES?
MARCELA:� %SSA� � UMA� PERGUNTA� MUI-
TAS� VEZES� DIFÓCIL� DE� SER� RESPONDIDA��
-AS�PARA�MINIMIZAR�A�CHANCE�DE�ERRO�
E�DISTINGUIR�O�NORMAL�DO�PATOLØGICO�Ï�
FUNDAMENTAL� UMA� AVALIA¥ÎO� GLOBAL� DO�
ADOLESCENTE�� ¡� PRECISO� DETERMINAR� O�
IMPACTO� DO� COMPORTAMENTO� NA� VIDA�
DO� PRØPRIO� INDIVÓDUO� E� NA� DAQUELES�
COM�QUEM�ELE�SE�RELACIONA��E�SE�ELE�TEM�
CIÐNCIA� DISSO�� !LÏM� DO� SOMATØRIO� DE�
OUTRAS� CARACTERÓSTICAS�� EMPATIA� �COLO-
CAR
SE�NO�LUGAR�DO�OUTRO	�COSTUMA�SER�
UMA�CARACTERÓSTICA�AUSENTE�NOS�FRANCA-
MENTE�PATOLØGICOS�
VIVEMOS NA ERA DE MUITA INFOR-
MAÇÃO SIMULTÂNEA E COSTUMA-SE, 
INCLUSIVE, DIZER QUE A CRIANÇA SÓ 
FALTA NASCER FALANDO, POIS OS BEBÊS 
SÃO TOTALMENTE DIFERENTES DOS DA 
GERAÇÃO PASSADA. COMO A NEUROLO-
GIA EXPLICA ESSE DESENVOLVIMENTO 
DO CÉREBRO INFANTIL?
MARCELA: %STE��MAIS�UM�EXEMPLO�DE�
QUE� OS� NOSSOS� GENES� E� CROMOSSOMOS�
NÎO� SÎO� OS� ÞNICOS� DETERMINANTES� DO�
QUE� SOMOS�� !S� CRIAN¥AS�� ATUALMENTE��
SÎO�PRECOCEMENTE�EXPOSTAS� A�UMA�GI-
GANTESCA�MASSA�DE�ESTÓMULOS��DESDE�O�
INTRAÞTERO��/�ESTILO�DE�VIDA�CONTEMPO-
RÊNEO�Ï�EXTREMAMENTE�DIFERENTE�E�MAIS�
ACELERADO� QUE� NA� ÏPOCA� DOS� NOSSOS� IMA
GE
NS
: S
HU
TT
ER
ST
OC
K
DADOS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA 
SAÚDE (OMS) INDICAM QUE A PREVA-
LÊNCIA MUNDIAL DE DISTÚRBIOS DO DE-
SENVOLVIMENTO E DOS TRANSTORNOS 
MENTAIS E COMPORTAMENTAIS NA IN-
FÂNCIA E ADOLESCÊNCIA CHEGA A 20%. 
A HETEROGENEIDADE DOS QUADROS CLÍ-
NICOS E AS PECULIARIDADES DIAGNÓSTI-
CAS REPRESENTAM UM DESAFIO PARA A 
PRÁTICA CLÍNICA?
MARCELA:� 3IM�� !� HETEROGENEIDADE�
DAS� MANIFESTA¥ÜES� CLÓNICAS� E� POSSÓ-
veis etiologias desses transtornos nos 
DESAlAM� DIARIAMENTE�� ,IDAMOS� COM�
ALTERA¥ÜES� TÎO�DIVERSAS� COMO�UM� LEVE�
TIQUE�PRØPRIO�DA�INFÊNCIA�ATÏ�ALTERA¥ÜES�
COMPORTAMENTAIS�MAIS� RARAS�� QUE� EN-
VOLVEM� QUADROS� DEGENERATIVOS� E� PRO-
GRESSIVOS�� .EM� SEMPRE� DIFERENCIAR� O�
QUE�Ï�PRØPRIO�DO�DESENVOLVIMENTO�HU-
MANO�DO�PATOLØGICO� Ï� TÎO� SIMPLES��%��
NA�MAIORIA�DAS�VEZES��OS�EXAMES�DIAG-
NØSTICOS�ACESSÓVEIS�NÎO�SÎO�CAPAZES�DE�
ESTABELECER�UM�DIAGNØSTICO�DE�CERTEZA��
.O� ÊMBITO� DOS� DISTÞRBIOS� DO� DESEN-
VOLVIMENTO�E�DOS� TRANSTORNOS�MENTAIS�
E�COMPORTAMENTAIS�NA�INFÊNCIA�E�ADO-LESCÐNCIA�� FECHAR� DIAGNØSTICOS� E� ESTA-
BELECER�TRATAMENTOS�SÎO�SITUA¥ÜES�BEM�
MAIS�COMPLEXAS�DO�QUE�APARENTAM�
��
�‚I��
G
�����
�G��`���I��\��������G��������
�G���G���
G�I�����b���G��G����Gh€��9�
��
����������
��������`�����
G����Ë�I�G�G�\��G�G��G����Gh€���I������G����G��
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11
Vários estudos na 
literatura médica 
comprovam que, nos 
transtornos mentais 
e comportamentais, 
a genética não é a 
única responsável 
pelas manifestações 
clínicas. Fatores 
ambientais e sociais 
SÎO�MODIlCADORES�
e causadores de 
psicopatologias
A MICROCEFALIA, RECENTEMENTE, SE 
TRANSFORMOU EM UM FANTASMA PARA 
NOSSA SAÚDE PÚBLICA. É CORRETO DIZER 
QUE O ZIKA VÍRUS, AO ATINGIR O CÉRE-
BRO DO FETO, PROVOCA UMA REAÇÃO 
INFLAMATÓRIA QUE PREJUDICA A MUL-
TIPLICAÇÃO DAS CÉLULAS QUE ORIGINAM 
OS NEURÔNIOS E POR CONTA DESSA IN-
FLAMAÇÃO O CÉREBRO NÃO ATINGE SEU 
TAMANHO NATURAL?
MARCELA:� !S� ANÉLISES� DE� AUTØPSIAS�
SUGEREM� QUE� O� VÓRUS� PROVOCA� INTENSA�
DESTRUI¥ÎO� CELULAR� DIRETA�� RESULTAN-
DO� EM�MORTE� NEURONAL�� CALCIF ICA¥ÜES��
GLIOSE� �CICATRIZES	�E�DEGENERA¥ÎO�WAL-
LERIANA� �DEGENERA¥ÎO� SECUNDÉRIA� DOS�
TRATOS�NEURONAIS	�� QUE�EXPLICAM�O�DÏ-
F ICIT� DE� CRESCIMENTO� CEREBRAL�� (OUVE�
INF ILTRADO� INF LAMATØRIO� NAS� AMOSTRAS��
PORÏM�MAIS�DISPERSO�
MAS EXISTEM CAUSAS MAIS FREQUENTES 
PARA A MICROCEFALIA DO QUE O ZIKA VÍ-
RUS. QUAIS SERIAM ESSAS CAUSAS E QUAIS 
AS FORMAS DE TERAPIA, UMA VEZ QUE SE 
TRATA DE UMA DOENÇA INCURÁVEL?
MARCELA: !� MICROCEFALIA� PODE� RE-
SULTAR� DE� INÞMERAS� CAUSAS� GENÏTICAS� E�
AMBIENTAIS��OU�ATÏ�DA�COMBINA¥ÎO�DE-
LAS�� %NTRE� ELAS�� ESTÎO� AS� SÓNDROMES� DE�
2ETT�� DE� #ORNELIA� DE� ,ANGE�� DE� #RI-
DU
#HAT�� DE� $OWN�� DE� 3ECKEL� E� DE�
AVØS��4UDO�ISSO�REmETE�NA�EVOLU¥ÎO�DAS�
NOSSAS� CRIAN¥AS�� ALTERA¥ÜES� HORMONAIS�
E� MODIlCA¥ÜES� DO� AMBIENTE� UTERINO�
EM�FUN¥ÎO�DA�VIDA�DA�MÎE��ADAPTA¥ÎO�Ì�
MULTIPLICIDADE�DE�ESTÓMULOS�AMBIENTAIS�
�DA�LUMINOSIDADE�AT�O�INGRESSO�PRECO-
CE�EM�ESCOLAS�E�CRECHES	�ETC�
EXISTEM CRIANÇAS CRUÉIS, OU SEJA, PO-
DEMOS DIZER QUE UMA CRIANÇA PODE 
APRESENTAR TRAÇOS DE PSICOPATIA DES-
DE MUITO PEQUENA? O QUE A NEUROLO-
GIA FALA SOBRE ISSO?
MARCELA:�3IM��0SICOPATIA��UM�TRANS-
TORNO� PSIQUIÉTRICO� QUE� SE� CARACTERIZA�
PELA� AUSÐNCIA� DE� CONSCIÐNCIA� MORAL��
ÏTICA� E� HUMANA�� EVIDENCIADA� POR� ATI-
TUDES�DESCOMPROMISSADAS�PARA�COM�O�
OUTRO�E�COM�AS�REGRAS�SOCIAIS��ALÏM�DE�
DEF ICIÐNCIA� SIGNIF ICATIVA� DE� EMPATIA��
0ODE� ACONTECER� EM� QUALQUER� IDADE��
-UITAS�VEZES��OS�SINTOMAS�SÎO�IGNORA-
DOS�PELO�TEMOR�DE�SE�ASSUMIR�UM�DIAG-
NØSTICO�TÎO�PRECOCEMENTE��%NTRETANTO��
DIVERSOS� SINAIS� SÎO� VISÓVEIS� JÉ� DESDE�
MUITO� CEDO�� COMO� MALTRATAR� ANIMAIS�
SEM� QUALQUER� REMORSO� OU� SENTIDO��
COMPORTAMENTO�EXTREMAMENTE�OPOSI-
TOR�E� IMPULSIVIDADE�EXAGERADA��!TUAL-
MENTE�� JÉ�SÎO�RECONHECIDAS�ALTERA¥ÜES�
CEREBRAIS�EM�PSICOPATAS�QUE�JUSTIF ICAM�
A�F ISIOPATOLOGIA�DA�PSICOPATIA�
É MUITO DIFÍCIL DIAGNOSTICAR UMA 
PSICOSE INFANTIL, UMA VEZ QUE A 
CRIANÇA VIVE EM UM MUNDO NO QUAL 
A IMAGINAÇÃO NÃO TEM LIMITES, O QUE 
PODE SER CONFUNDIDO COM ALGUMA 
PSICOPATOLOGIA?
MARCELA: #OMO� CITADO� ANTERIORMEN-
TE�� MALTRATAR� ANIMAIS� PODE� SER� UMA�
CARACTERÓSTICA� PRECOCE� DE� PSICOPATIA��
-AS� TORTURAR� UM� ANIMALZINHO� E� CHO-
RAR�APØS�SER�ESCLARECIDO�DO�FEITO�Ï�UM�
sinal de que esse ato pode ser apenas 
FRUTO�DA� INCAPACIDADE� INFANTIL�DE�PRE-
VER�CONSEQUÐNCIAS��!TÏ�O�PERÓODO�PRÏ-
ESCOLAR�� A� CRIAN¥A� GERALMENTE� TEM�
PENSAMENTOS� CONCRETOS� E� POUCA� OU�
NENHUMA�NO¥ÎO�DO�PERIGO��!SSIM��NÎO�
� INCOMUM� ACREDITAREM� QUE� PODEM�
VOAR�OU�QUE�ALGUÏM�Ï�UM�SUPER
HERØI�
E� TEM� PODERES� MÉGICOS�� -AS� ESSES�
PENSAMENTOS�SÎO�CONSTRUÓDOS�E�PODEM�
SER� DESCONTRUÓDOS�� O� QUE� NÎO� OCORRE�
DE� MANEIRA� TÎO� SIMPLES� NOS� QUADROS�
DE� PSICOSE�� .ESSES� ÞLTIMOS�� AS� IDEIAS�
DELIRANTES�SÎO�F IXAS�E�CONVENCÐ
LOS�DA�
IRREALIDADE�DE�ALGUMAS�COISAS��TAREFA�
PRATICAMENTE�IMPOSSÓVEL�
*�
���������������
G�I��G�hG�
����
�G��G��G�����
������
�����IG
��������G���
����G�����
���I�I�������������G�G���G�
�����G��G��G�
�����^�����9�
��
��������Gb�����
�� psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
3MITH
,EMLI
/PTIZ�� A� FENILCETONÞRIA�
MATERNA�� O� CONSUMO�DE� CIGARRO�� ÉLCO-
OL��DROGAS�OU�DE�ALGUNS�MEDICAMENTOS�
DURANTE� A� GESTA¥ÎO�� DOEN¥AS� INFECCIO-
SAS� �RUBÏOLA�� TOXOPLASMOSE�� CITOMEGA-
LOVÓRUS�� VARICELA�� HERPES� ZOSTER�� ENTRE�
OUTRAS	�� INTOXICA¥ÎO� POR� METILMERCÞ-
RIO�� EXPOSI¥ÎO� Ì� RADIA¥ÎO�� DESNUTRI¥ÎO�
MATERNA�� MÉ
FORMA¥ÎO� DA� PLACENTA��
TRAUMATISMO�CRANIOENCEFÉLICO�� E�HIPØ-
XIA� GRAVE� PERINATAL�� /� OBJETIVO� MAIOR�
DO� TRATAMENTO� Ï� A� REABILITA¥ÎO� �ESTI-
MULAR� O� MAIOR� DESENVOLVIMENTO� POS-
SÓVEL	�E�CONTROLAR�AS�COMPLICA¥ÜES��!S-
SIM�� A� TERAPIA� DEVE� SER� CONDUZIDA� POR�
UMA�EQUIPE�MULTIDISCIPLINAR�COMPOSTA�
POR�MÏDICOS�DE�DIFERENTES�ESPECIALIDA-
DES� �NEUROPEDIATRAS�� OFTALMOLOGISTAS��
PEDIATRAS��lSIATRAS�ETC�	��lSIOTERAPEUTAS��
FONOAUDIØLOGOS�� TERAPEUTAS� OCUPACIO-
NAIS�E�PSICØLOGOS��/�USO�DE�MEDICA¥ÜES�
TAMBÏM� Ï� FREQUENTEMENTE� NECESSÉRIO�
PARA�O�CONTROLE�DE�CRISES�EPILÏPTICAS�E�
DAS�ALTERA¥ÜES�DE�COMPORTAMENTO�
EM QUE MEDIDA AS DESCOBERTAS NO 
CAMPO DA NEUROLOGIA PEDIÁTRICA 
AVANÇARAM NO DIAGNÓSTICO E NO TRA-
TAMENTO DOS TRANSTORNOS DE DÉFICIT 
DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE?
MARCELA: !TUALMENTE�� O� DIAGNØSTICO�
DOS�4$!(� TEM� SIDO� FEITO� DE�MANEIRA�
CADA� VEZ� MAIS� PRECOCE�� /� ESTUDO� DO�
COMPORTAMENTO� E� DESENVOLVIMENTO�
NORMAL�DA�CRIAN¥A��ALÏM�DOS�ESTUDOS�DE�
IMAGEM� FUNCIONAIS�� AUMENTOU� EXPO-
NENCIALMENTE� NOSSO� CONHECIMENTO� NA�
ÉREA�� PERMITINDO� DIFERENCIAR� O� NORMAL�
DO�PATOLØGICO�COM�MAIS�SEGURAN¥A��%��
UMA� VEZ� DISTINGUINDO
OS�� Ï� POSSÓVEL�
TRATAR� OS� CASOS� NECESSÉRIOS�� !LÏM� DAS�
TERAPIAS� MEDICAMENTOSAS�� PODEMOS�
CONTAR�COM�O�TRATAMENTO�NEUROPSICOLØ-
GICO�DESSAS�CRIAN¥AS��QUE�CADA�DIA�MAIS�
ENGLOBA�NOVAS�TÏCNICAS��%NTRE�AS�MEDI-
CA¥ÜES�� ATUALMENTE� DISPOMOS� DE� UMA�
DIVERSIDADE�AMPLA�DE�CLASSES�DE�DROGAS�
E� FORMULA¥ÜES�COM�DIFERENTE� FARMACO-
CINÏTICA� E� DIFERENTE� FARMACODINÊMICA��
QUE� PERMITEM� OTIMIZAR� O� BENEFÓCIO� E�
MINIMIZAR�OS�EFEITOS�COLATERAIS�
O CÉREBRO DAS PESSOAS QUE SOFREM 
DE TDAH FUNCIONA DE MANEIRA DIFE-
RENTE? APRESENTA DIFERENÇAS MORFO-
LÓGICAS?
MARCELA:� 3ABE
SE� QUE� O� 4$!(� TEM�
UM� FORTE� COMPONENTE� HEREDITÉRIO�� !�
PROBABILIDADE� DE� UMA� CRIAN¥A� TER� O�
DISTÞRBIO� AUMENTA� EM� ATÏ� OITO� VEZES�
SE� OS� PAIS� TAMBÏM� FOREM� ACOMETIDOS��
%NTRETANTO�� A� CAUSA� DO�4$!(� �MUL-
TIFATORIAL�� COM�COMPONENTES� GENÏTICOS�
E� AMBIENTAIS�� %STUDOS� DEMONSTRAM�
REDU¥ÎO� DO� VOLUME� DE� CERTAS� ESTRUTU-
RAS� CEREBRAIS�� COM� PROPORCIONALMENTE�
MAIOR�DIMINUI¥ÎO�DO�CØRTEX�PRÏ
FRONTAL�
ESQUERDO�NOS�ACOMETIDOS��/S�CIRCUITOS�
PRÏ
FRONTAIS
ESTRIATO
CEREBELAR� E� PRÏ-
FRONTAIS
ESTRIATO
TÉLAMO�TAMBÏM�DIFE-
REM�ENTRE�PESSOAS� COM�E� SEM�4$!(��
3ABE
SE�� AINDA�� QUE�HÉ� ALTERA¥ÜES� FUN-
CIONAIS� ENVOLVIDAS�� EM� ESPECIAL� NAS�
VIAS�DOPAMINÏRGICA�MESOCORTICOLÓMBI-
CA�E�NORADRENÏRGICA�DO�locus ceruleus.
A SUPERMEDICALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS 
EM CASOS DE TDAH PODE NÃO SER A 
MELHOR SAÍDA?
MARCELA: #OM�CERTEZAå�-UITOS�CASOS�
PODEM�SER�RESOLVIDOS��INCLUSIVE��SEM�O�
USO�DE�QUALQUER�MEDICA¥ÎO��/�4$!(�
TEM� VÉRIOS� GRAUS� E� TAMBÏM� TEM� SIDO�
ASSOCIADO� COM� DÏF ICITS� MOTIVACIONAIS�
EM�ALGUMAS� CRIAN¥AS��%SSAS� TÐM�DIF I-
CULDADE�PARA�MANTER�A�CONCENTRA¥ÎO�E�
EXIBEM�COMPORTAMENTO�IMPULSIVO�POR�
RECOMPENSAS� DE� CURTO� PRAZO�� .ESSES� SHU
TT
ER
ST
OC
K
O estilo de vida 
contemporâneo é 
mais acelerado que 
na época de nossos 
AVØS��)SSO�REmETE�NA�
evolução das crianças: 
alterações hormonais 
E�MODIlCA¥ÜES�DO�
ambiente uterino 
em função da vida 
da mãe, adaptação 
à multiplicidade de 
estímulos ambientais
$�b���������G���
�����I��G��G�������^�������
��I�
�9�I�����G���G�G��G���G�����������������������
�9�
I������G��������������������������
G
����G���G
G
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13
INDIVÓDUOS��O�REFOR¥O�POSITIVO�MELHORA�
EFETIVAMENTE�O�DESEMPENHO�� SEM�USO�
DE� QUALQUER� MEDICA¥ÎO�� %NTRETANTO��
EM� MUITOS� CASOS�� OS� PSICOESTIMULAN-
TES� PODEM� SE� FAZER� NECESSÉRIOS� PARA�
AUMENTAR� A� PERSISTÐNCIA� E� A� ATEN¥ÎO��
ALÏM� DE� MELHORAR� O� COMPORTAMENTO�
TAMBÏM��#ONTUDO�� CADA� CRIAN¥A� Ï�DI-
FERENTE� DA� OUTRA�� .UNCA� DEVE� SER� ES-
QUECIDO� QUE� NEM� TODA� DESATEN¥ÎO� E�
OU� HIPERATIVIDADE� � 4$!(�� MUITAS�
VEZES� FALTAM� APENAS� ESTÓMULO� E� ORGA-
NIZA¥ÎO�FAMILIAR�
EXISTEM INÚMEROS MITOS A RESPEITO 
DO FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO DO 
ADOLESCENTE, COMO A BUSCA PELO PRA-
ZER IMEDIATO, NECESSIDADE DE RECOM-
PENSAS POR MÉRITO, DIFICULDADE EM 
RESPEITAR LIMITES E REGRAS, POR EXEM-
PLO. COMO A NEUROLOGIA ENXERGA 
EM QUE MEDIDA ESSAS CARACTERÍSTICAS 
DEVEM SER CONSIDERADAS NATURAIS OU 
INDÍCIOS DE PATOLOGIAS OU DISTÚRBIOS?
MARCELA: !� ESTRUTURA� CEREBRAL� SOFRE�
VISÓVEIS� MUDAN¥AS� DURANTE� A� ADOLES-
CÐNCIA�� COMO� JÉ� COMENTADO� ANTERIOR-
MENTE�� 0ROVA� DISSO� � QUE� A� ESPESSURA�
DA� SUBSTÊNCIA� CINZENTA� VARIA� NESSE�
PERÓODO�� REF LETINDO� AS� ALTERA¥ÜES� QUE�
OCORREM�EM�NÓVEL�MICROSCØPICO��!LÏM�
DISSO��O�AMADURECIMENTO�DAS�CONEXÜES�
CEREBRAIS� OCORRE� DE� MANEIRA� PROGRES-
SIVA��MAS�EM�TEMPOS�DIFERENTES��£REAS�
ENVOLVIDAS� EM� FUN¥ÜES� MAIS� BÉSICAS�
AMADURECEM� PRIMEIRO�� AQUELAS� RELA-
CIONADAS�� POR� EXEMPLO�� AO� PROCESSA-
MENTO� DE� INFORMA¥ÎO� DOS� SENTIDOS�
�TATO��VISÎO��AUDI¥ÎO�ETC�	�E�NO�CONTROLE�
DOS�MOVIMENTOS��!S�PARTES�DO�CÏREBRO�
RESPONSÉVEIS�PELO�CONTROLE�DOS� IMPUL-
SOS�E�PLANEJAMENTO�DO�FUTURO��ATIVIDA-
DES� MAIS� COMPLEXAS� E� CARACTERÓSTICAS�
DO�COMPORTAMENTO�ADULTO	�ESTÎO�ENTRE�
AS� ÞLTIMAS� A� AMADURECER�� /UTRA� EVI-
DÐNCIA�DE�DIFEREN¥A�NO�FUNCIONAMENTO�
CEREBRAL�ADOLESCENTE��QUE�AS�PARTES�DO�
CÏREBRO�ENVOLVIDAS�EM�RESPOSTAS�EMO-
CIONAIS�SÎO�TOTALMENTE�ATIVAS��OU�MES-
MO�MAIS�ATIVAS�DO�QUE�EM�ADULTOS��EN-
quanto aquelas envolvidas no controle 
Para minimizar as 
sequelas da microcefalia, 
a reabilitação 
MULTIPROlSSIONAL�
precoce é fundamental. 
Ainda não temos 
MEDICA¥ÜES�ESPECÓlCAS�
neuroprotetoras ou que 
possam estimular a 
regeneração neuronal
DOS� IMPULSOS� AINDA� ESTÎO� CHEGANDO� Ì�
MATURIDADE��4AL�MUDAN¥A�DE�EQUILÓBRIO�
PODE�FORNECER�PISTAS�PARA�A�EXPLICA¥ÎO�
ENTRE� UM� APETITE� JOVEM� POR� NOVIDADE�
E� UMA� TENDÐNCIA� A� AGIR� POR� IMPULSO��
SEM�LEVAR�EM�CONTA�O�RISCO��%NTRETAN-
TO��APESAR�DESSA�IMPULSIVIDADE�NATURAL��
EXISTE� UMA� LINHA� TÐNUE� QUE� SEPARA� O�
NORMAL�DO�PATOLØGICO��MAS�ESSA�DIVISØ-
RIA�NEM�SEMPRE�Ï�TÎO�NÓTIDA��DEPENDEN-
DO� DA� REPERCUSSÎO� QUE� ESSAS� ATITUDES�
DITAS�JUVENIS�TÐM�NA�VIDA�DO�INDIVÓDUO�
O USO EXCESSIVO DA INTERNET PODE 
ALTERAR O FUNCIONAMENTO CEREBRAL 
DA CRIANÇA?
MARCELA: 6ÉRIOS�ESTUDOS�TÐM�MOSTRA-
DO� MODIF ICA¥ÜES� ESTRUTURAIS� �ATROF IA�
NA� SUBSTÊNCIA� CINZENTA	� E� FUNCIONAIS�
�ALTERA¥ÜES� NAS� VIAS� NEURONAIS� DE� DO-
PAMINA	�EM�ADICTOS�EM�INTERNET�OU�JO-
gos. !S�ÉREAS�AFETADAS�INCLUEM�O�LOBO�
FRONTAL�� QUE� REGULA� AS� FUN¥ÜES� EXECU-
TIVAS�� COMO� PLANEJAMENTO�� ORGANIZA-
¥ÎO� E� CONTROLE� DE� IMPULSOS�� 0ERDA� DE�
VOLUME�CORTICAL�TAMBÏM�FOI�OBSERVADA�
no striatum��QUE�EST�ENVOLVIDO�NAS�VIAS�
DE� RECOMPENSA�E� SUPRESSÎO�DE� IMPUL-
SOS�SOCIALMENTE�INACEITÉVEIS��4AMBÏM�
HÉ�POSSÓVEIS� ALTERA¥ÜES�NA� ÓNSULA�� QUE�
EST� LIGADA��NOSSA�CAPACIDADE�DE�DE-
SENVOLVER� EMPATIA� E� COMPAIXÎO� PARA�
COM� OS� OUTROS�� E� DE� INTEGRAR� SINAIS�
F ÓSICOS� DE� EMO¥ÎO�� %M� SUMA�� O� USO�
EXCESSIVO� DA� INTERNET� PARECE� PREJUDI-
CAR� A� ESTRUTURA� E� FUN¥ÎO� DO� CÏREBRO��
COM� GRANDE� PARTE� DOS� DANOS� OCOR-
RENDO� NO� LOBO� FRONTAL�� QUE� PASSA� POR�
GRANDES�MUDAN¥AS�DESDE�A�PUBERDADE�
AT� MEADOS� DOS� ��� ANOS�� %M� GRANDE�
PARTE�� DESDE� A� SENSA¥ÎO�DE�BEM
ESTAR�
AO� SUCESSO� ACADÐMICO�PROF ISSIONAL� E�
HABILIDADES�DE�RELACIONAMENTO��EMPA-
(�������G��������
����IG����G��G���I��I��G��G9�I�����^�
������
������9�
��	���9�
���������G�
��'G���9�
�����¢
�¢��G�9�
��-�I������
��-����¢'����¢*����9�����������G�
14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
TIA�OU�COMPORTAMENTO�ANTISSOCIAL	�DE-
PENDEM�DO�BOM�FUNCIONAMENTO�DESSA�
ÉREA�CEREBRAL�
PROCEDE A AFIRMAÇÃO QUE AS MENINAS 
AMADURECEM MAIS CEDO DO QUE OS ME-
NINOS E QUE O CÉREBRO MASCULINO E 
FEMININO POSSUEM DIFERENÇAS BIOLÓGI-
CAS? EM CASO AFIRMATIVO, COMO ESSAS 
DIFERENÇAS INFLUENCIAM NOS ESTUDOS 
DA NEUROPEDIATRIA?
MARCELA: -ATURIDADE�CEREBRAL�Ï�SINÙ-
NIMO�DE�CAPACITA¥ÎO�PARA�DETERMINADA�
ATIVIDADE� �DESENVOLVIMENTO� ADEQUADO�
DE�VIAS�E�CONEXÜES�INTERNEURONAIS	��3E-
GUNDO�ESTUDOS�RECENTES�� FOI�EVIDENCIA-
DO�QUE� AS�MENINAS� TENDEM�A�OTIMIZAR�
AS� CONEXÜES� CEREBRAIS� MAIS� CEDO� QUE�
OS�RAPAZES��AMADURECENDO�MAIS�RÉPIDO�
EM�ALGUMAS�ÉREAS�COGNITIVAS�E�EMOCIO-
NAIS�DURANTE�A�INFÊNCIA�E�ADOLESCÐNCIA��
%SSA� hEVOLU¥ÎOv� RESULTA� DE� UMA� PODA�
NEURONAL�� ONDE� CONEXÜES� REDUNDANTES�
SÎO�hAPARADASv�E�OUTRAS�ESSENCIAIS�ESTA-
BILIZADAS��!LÏM�DISSO��AS�MULHERES�TEN-
DEM�A�TER�MAIS�CONEXÜES�ENTRE�OS�DOIS�
HEMISFÏRIOS� DO� CÏREBRO�� $ESSA� FORMA��
CREDITA
SE�A�ESSA�REORGANIZA¥ÎO�PREMA-
TURA� A� CAPACIDADE� DE� O� CÏREBRO� FEMI-
NINO�TRABALHAR�DE�FORMA�MAIS�ElCIENTE�
E�� PORTANTO�� ALCAN¥AR� UM� ESTADO� MAIS�
MADURO�PARA�O�PROCESSAMENTO�DO�MEIO�
AMBIENTE� DE� MANEIRA� MAIS� PRECOCE��
.A� PRÉTICA�� Ï� COMUM� QUE� OS�MENINOS�
SE�MOVIMENTEM�MAIS�NO�PERÓODO�PERI-
NATAL� E� TENHAM� MELHORES� HABILIDADES�
MOTORAS�GROSSEIRAS�� QUE�ENVOLVEM� FOR-
¥A� E� PRECISÎO�� %NTRETANTO�� AS� MENINAS�
ADQUIREM�MATURIDADE� EMOCIONAL� E� AL-
GUNS�HÉBITOS�MAIS� RAPIDAMENTE�� COMO�
O�CONTROLE�DO�ESFÓNCTER��E�FALAM�ANTES�E�
MELHOR�DO�QUE�OS�MENINOS��/�QUE�LEVA�
Ì� DIFEREN¥A� DE� GÐNERO� AINDA� NÎO� ESTÉ�
TOTALMENTE� CLARO� NO� MOMENTO� E� NEM�
Um estudo sueco mostrou 
que homens homossexuais 
e mulheres heterossexuais 
têm características 
cerebrais semelhantes. 
%SPECIlCAMENTE��ESSAS�
semelhanças estão no 
tamanho total do cérebro, 
na atividade e nas 
conexões da amígdala
AS� INmUÐNCIAS�DO�MEIO� SÎO�CAPAZES�DE�
ELIMINAR� ESSA� DIVERGÐNCIA�� #ONTUDO�� Ï�
EVIDENTE� QUE� ESSA� DIFEREN¥A� DEVE� SER�
VALORIZADA� NA� AVALIA¥ÎO� NEUROLØGICA� E�
FUNCIONAL�DE�QUALQUER�INDIVÓDUO�
AINDA EM RELAÇÃO A GÊNEROS, E ABOR-
DANDO A QUESTÃO DA HOMOSSEXUALIDA-
DE, PARA A NEUROPEDIATRIA É POSSÍVEL 
AVALIAR SE O FENÔMENO É BIOLÓGICO? 
DESDE MUITO CEDO A CRIANÇA PODE 
DESCOBRIR SUA HOMOSSEXUALIDADE?
MARCELA: 5M� ESTUDO� SUECO� MOSTROU�
QUE� HOMENS� HOMOSSEXUAIS� E� MULHERES�
HETEROSSEXUAIS� TÐM� CARACTERÓSTICAS� CE-
REBRAIS� SEMELHANTES�� %SPECIlCAMENTE��
ESSAS� SEMELHAN¥AS� ESTÎO� NO� TAMANHO�
TOTAL�DO�CÏREBRO�E�NA�ATIVIDADE�E�CONE-
XÜES� DA� AMÓGDALA�� /� MESMO� ACONTECE�
ENTRE�HOMENS�HETEROSSEXUAIS�E�MULHERES�
HOMOSSEXUAIS�� /UTRA� PESQUISA� QUE� ES-
TUDOU�O�mUXO�SANGUÓNEO�NAS�AMÓGDALAS�
OBSERVOU�QUE�EM�HOMENS�HOMOSSEXUAIS�
E�MULHERES�HETEROSSEXUAIS�O�SANGUE�mUI�
PRINCIPALMENTE�PARA�AS�ÉREAS�ENVOLVIDAS�
COM� MEDO� E� ANSIEDADE�� ENQUANTO� QUE�
EM� HOMENS� HETEROSSEXUAIS� E� MULHERES�
HOMOSSEXUAIS� TENDIA� A� mUIR� PARA�OS� LO-
CAIS� LIGADOS� ÌS� REA¥ÜES� DE� LUTA� E� FUGA��
!LÏM�DISSO��AO�AVALIAR�AS�DIFEREN¥AS�ANA-
TÙMICAS�ENTRE�OS�HEMISFÏRIOS�CEREBRAIS��O�
DIREITO�PARECE�SER�UM�POUCO�MAIOR�QUE�
O� ESQUERDO� EM� HOMENS� HETEROSSEXUAIS�
E� MULHERES� HOMOSSEXUAIS�� ENQUANTO�
QUE�HAVIA�UMA�TENDÐNCIA�Ì�SIMETRIA�EM�
HOMENS�HOMOSSEXUAIS�E�MULHERES�HETE-
ROSSEXUAIS��%M�HOMENS�HOMOSSEXUAIS�E�
MULHERES�HETEROSSEXUAIS�CONSTATARAM
SE�
TAMBÏM�MAIS�CONEXÜES�A�PARTIR�DA�AMÓG-
DALA� ESQUERDA�� *� EM�MULHERES� HOMOS-
SEXUAIS�E�HOMENS�HETEROSSEXUAIS�HOUVE�
MAIS� LIGA¥ÜES� A� PARTIR� DA� AMÓGDALA� DI-
REITA��0ARA�A�EXISTÐNCIA�DESSAS�DIFEREN¥AS�
ENTRE� O� CÏREBRO�HOMOSSEXUAL�E� O�HETE-
ROSSEXUAL� J� FORAM� AVENTADAS� DIVERSAS�
TEORIAS��COMO�A�EXPOSI¥ÎO�PROLONGADA�Ì�
TESTOSTERONA�E�OUTROS�HORMÙNIOS�MASCU-
LINOS�OU�MESMO�ALTERA¥ÜES�GENÏTICAS��/�
FATO�Ï�QUE��ATÏ�O�MOMENTO��NÎO�SABEMOS�
A�REAL�CAUSA�DE�TAIS�DIFEREN¥AS�E�SE�JÉ�SE�
NASCE�HOMOSSEXUAL�OU�NÎO�
*�����GH������
���������������I��G�hG����
��G���G��P��G��I���������G�9����������G�G�����h€������I����G�9�
I������G��
G�����9����G���Gh����I��������
����������
MOMENTO DO LIVRO
Livro: Opala - A história do maior chevrolet brasileiro
Número de páginas: 116 
Editora: Escala
Dos editores da revista Car and Driver
À venda nas bancas e livrarias. Veja mais informações em www.escala.com.br
Coordenação de Luiz Guerrero
Durante 24 anos de produção, o Chevrolet 
Opala reinou sem concorrentes e se tornou obje-
to de desejo de uma geração de motoristas e en-
tusiastas. Suas linhas atraentes, especialmente na 
versão cupê, e sua versão esportiva, a SS, estabe-
leceram novos padrões para a indústria brasileira.
Pois é deste automóvel que trata este livro: das 
origens, cimentadas pelo Opel Rekord, até o dia 
���GH�DEULO�GH�������TXH�PDUFRX�R�ÀP�GR�FLFOR�GH�
um dos mais queridos automóveis já produzidos 
no Brasil.
OPALA – A história do maior Chevrolet brasileiro, 
coordenada por Luiz Guerrero, é o quarto título 
da coleção Os Imortais, que anteriormente contou 
a história de outros marcantes automóveis como 
o FUSCA, o MUSTANG e a KOMBI, todos com 
capa em acabamento Premium e 116 páginas de 
histórias contadas em imagens e textos cheios 
de detalhes.
Conheça toda a história deste automóvel 
e entenda por que o Opala foi o maior 
Chevrolet até hoje fabricado no País. 
16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
in foco por Michele Muller
Playgrounds são 
ASSUNTO SÉRIO
de funções psicomotoras, sensoriais e so-
ciais. Trazem às crianças a oportunidade 
de praticarem o equilíbrio, a força, a aten-
ção às diversas texturas, a lateralidade, a 
coordenação motora, a propriocepção 
(noção da localização espacial do próprio 
corpo) e as habilidades criativas e sociais.
Para comprovar que a arquitetura do 
espaço faz toda a diferença na brinca-
deira, os pesquisadores Anthony Susa e 
James Benedict (1994) realizaram um es-
tudo, na década de 90, relacionando brin-
cadeiras de faz de conta, criatividade e o 
design do playground. Para isso, testaram 
o “pensamento divergente” de 80 crianças 
enquanto brincavam em diferentes espa-
ços. A conclusão foi de que os parquinhos 
CONTEMPORÊNEOS�SÎO�MAIS�ElCIENTES�NO�ES-
tímulo à criatividade que os tradicionais. O 
estudo serviu de base para muitos projetos 
de arquitetura voltados a esse público e ou-
tras pesquisas apontando a necessidade de 
UM�OLHAR�MAIS�PROlSSIONAL�SOBRE�AS�ÉREAS�
construídas para estimular brincadeiras.
Enquanto seguimos conformados com 
nossos velhos e abandonados escorregado-
res de praça, em países em que ambientes 
de lazer são levados a sério e considerados 
parte fundamental do desenvolvimento 
infantil, a discussão (que nem chegou no 
"RASIL	�ESTÉ�TÎO�AVAN¥ADA�QUE�ESTÎO�REVEN-
do alguns de seus projetos mais modernos. 
O motivo: excesso de segurança.
ESPAÇOS PÚBLICOS QUE PROMOVEM A SOCIALIZAÇÃO E O 
DESENVOLVIMENTO DE FUNÇÕES FUNDAMENTAIS PARA A SAÚDE 
MENTAL DAS CRIANÇAS DEVERIAM RECEBER MAIS ATENÇÃO 
E MAIS INVESTIMENTOS DAS AUTORIDADES BRASILEIRAS
A VIDA É CHEIA DE RISCOS E A INFÂNCIA É A 
FASE DE TREINAMENTO PARA REAIS DILEMAS 
QUE REQUEREM SEGURANÇA NA HORA DE 
AGIR. CRIANÇAS PRIVADAS DO CONTATO COM O 
PERIGO CRESCEM SEM CORAGEM
D
iante das opções tentadoras de 
diversão eletrônica, as crianças 
estão reduzindo drasticamente o 
tempo dedicado às aventuras nos 
espaços externos. Muitos pais parecem se 
preocupar com a participação excessiva dos 
ELETRÙNICOS�NO�DIA�A�DIA�DO�lLHO��MAS� SÎO�
raros os que conseguem encaixar na rotina 
momentos de atividades livres em locais 
ESTIMULANTES��!�DIlCULDADE�EM�ADMINISTRAR�
o tempo e, principalmente, a preocupação 
crescente com a segurança das crianças 
pode tornar conveniente esse interesse 
quase obsessivo delas pelas telas e botões.
Uma pesquisa recente com 2 mil fa-
mílias inglesas constatou que três em 
cada quatro crianças passam menos de 
UMA�HORA�DIÉRIA�BRINCANDO�EM�AMBIENTE�
externo – um tempo menor de contato 
com luz solar que o garantido a detentos 
das prisões daquele país. A realidade das 
nossas crianças que vivem nas cidades 
GRANDES�NÎO�DEVE�SER�DIFERENTE��%�AQUI�HÉ�
um agravante: temos menos alternativas 
interessantes de ambientes destinados 
a brincadeiras ao ar livre. A maioria dos 
nossos playgrounds públicos têm duas ou 
três atrações, não raramente mal conser-
vadas. A arquitetura nos surpreende com 
tantas soluções belas e funcionais, mas até 
agora pouco trouxe para concorrer com 
OS� INEVITÉVEIS� ESCORREGADORES� E� BALAN¥OS�
das praças brasileiras. Sem questionar a 
diversão que podem propiciar, sozinhos 
eles não representam um grande motiva-
DOR�PARA�TIRAR�PAIS�E�lLHOS�DE�CASA�
A necessidade de oferecer ambien-
tes atraentes e repletos de estímulos em 
ESPA¥OS� PÞBLICOS� Ï� EVIDENTE� EM� VÉRIOS�
lugares do mundo. Em muitos países, a 
comunidade têm à disposição parquinhos 
desenvolvidos por arquitetos especializa-
dos nesse setor. Muitos são tão criativos e 
IRRESISTÓVEIS�QUE�DÉ�VONTADE�DE�VOLTAR�A�SER�
criança para aproveitar a estrutura.
Esses locais, quando bem arquitetados, 
não apenas servem de incentivo a passeios 
EM�FAMÓLIA�E�MENOS�HORAS�DE�SOFÉ��SÎO�PRO-
jetados a partir da consciência da impor-
tância do ambiente no desenvolvimento 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 17
IM
AG
EN
S:
 M
IC
HE
LE
 M
IL
LE
R
probabilidade de gerarem batidas, quedas 
e machucados. Os pais excessivamente 
protetores terão que rever seus conceitos 
e entender por que as ataduras do Menino 
Maluquinho foram essenciais para a for-
mação de um jovem feliz e bem resolvido, 
conforme Ziraldo concluiu a história.
Na década de 1940, muito antes de 
TERMOS� COMPROVA¥ÜES� CIENTÓlCAS� DA� IM-
portância dos riscos que a brincadeira 
livre traz, o arquiteto dinamarquês Carl 
Sørensen criou um conceito de play-
ground que foi espalhado por toda a Eu-
ropa. Sua ideia era dar às crianças da cida-
de as mesmas chances de viver aventuras 
que eram privilégio das que cresciam no 
interior. O Adventure Playground atual-
mente conta com cerca de mil espaços em 
diversos países, inclusive Estados Unidos 
e Japão. Equipados com muitos pedaços 
de madeira e ferramentas de verdade, os 
parques trazem aos pequenos aventurei-
ros a oportunidade de construírem seus 
próprios brinquedos, de subirem em cor-
DAS��ÉRVORES�E�DE�SE�SUJAREM�BASTANTE�
No Japão, a preocupação em expor 
crianças pequenas ao risco foi um dos 
principais fundamentos do projeto da 
escola construída por um dos arquitetos 
mais conceituados daquele país na atua-
lidade. Takaharu Tezuka projetou a Fuji 
Kindergarten, em Tóquio, levando em 
consideração as necessidades naturais das 
crianças – inclusive de se aventurar. Na 
escola, em formato oval e sem a tradicio-
nal separação física das salas de aula, elas 
têm total liberdade de explorar o ambien-
te e passam a maior parte do tempo gas-
TANDO�ENERGIA�NAS�ÉREAS�EXTERNAS��,É�ELAS�
correm, em média, 4 quilômetros por dia 
e ganham naturalmente as habilidades 
psicomotoras que garantem seu desen-
volvimento social e cognitivo. Nenhuma 
CRIAN¥A� Ï� CONSIDERADA� PROBLEMÉTICA� POR�
NÎO� CONSEGUIR� lCAR� SENTADA� DENTRO� DE�
uma sala. O arquiteto Takaharu Tezuca, 
em sua palestra do TED, destaca: “Crian-
ças precisam de pequenas doses de peri-
go. Nessas ocasiões elas aprendem a se 
ajudar. Isso é viver em sociedade. É oque 
estamos perdendo nos dias atuais”.
Além de serem impedidas de brincar 
LIVREMENTE�� COMO� RESULTADO� DE� VÉRIOS� TI-
pos de medo que as cidades grandes nos 
IMPÜEM��AS�CRIAN¥AS�PERDERAM�A�CONlAN-
ça de seus pais. Em algum momento da 
história recente colocaram uma lente de 
aumento nas pequenas ameaças do dia a 
dia e resolveram que crianças são total-
MENTE� IRRESPONSÉVEIS� E� DESPROVIDAS� DE�
noção de perigo.
Um dos fatores que mais pesam no es-
tilo de vida das crianças modernas – seja 
NA� )NGLATERRA� OU� AQUI� n� ACABOU� INmUEN-
ciando a criação dos espaços contempo-
RÊNEOS� DE� BRINCADEIRA�� !lNAL�� ALGUMAS�
sociedades, especialmente a americana, 
vivem sob ameaça constante de proces-
sos, e qualquer atividade que envolva o 
público infantil corre sério risco de gerar 
insatisfações com consequências legais.
Os medos e ansiedades dos adultos, 
desproporcionais aos verdadeiros riscos 
que a realidade traz, desconsideram a na-
tureza da criança e mais prejudicam que 
protegem. O perigo, em pequenas doses 
DIÉRIAS�� Ï� PARTE� FUNDAMENTAL� DAS� BRINCA-
deiras. Filhotes de espécies mais evoluídas 
se divertem correndo riscos, testando seu 
próprio comportamento diante de situ-
ações perigosas simuladas nas pequenas 
lutas e aventuras de sua curta infância. E 
isso não ocorre por acaso, nem representa 
irresponsabilidade ou falta de noção, como 
MUITOS� PAIS� DE� lLHOTES� HUMANOS� ACREDI-
tam. É parte do crescimento, do autoco-
nhecimento e do conhecimento dos limi-
tes do corpo e das necessidades do outro. 
A vida é cheia de riscos e a infância é a fase 
de treinamento para reais dilemas que re-
querem segurança na hora de agir. Crian-
ças privadas do contato com o perigo cres-
cem sem coragem, dependentes, com altos 
níveis de ansiedade e sem noção de como 
lidar com situações sociais simples que não 
poderão ser evitadas pelos pais mais tarde.
Portanto, além de modernos, criativos 
e cheios de estímulos, muitos playgrounds 
contemporâneos de países desenvolvidos 
estão sendo repensados para trazer um 
certo risco. Ou seja: voltam a ter cantos, 
pontas, superfícies duras, altura e mais 
Michele Muller é jornalista com especialização em Neurociência Cognitiva 
e autora do blog http://neurocienciasesaude.blogspot.com.br
18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.brwww.portalcienciaevida.com.br
psicopositiva por Lilian Graziano
CONSIDERADA 
COMO CONDIÇÃO 
FUNDAMENTAL 
PARA A 
FELICIDADE 
GENUÍNA, A 
AUTENTICIDADE 
DEVE SER 
UMA BUSCA 
CONSTANTE. 
MAS, PARA ISSO, 
PRECISAMOS 
CONHECER OS 
SEUS IMPEDITIVOS
A lata de azeite e os impeditivos 
da VIDA AUTÊNTICA (parte 2) 
aquela experimentada por um indiví-
duo distante da sua própria verdade.
No texto passado af irmei que se-
riam quatro essas razões (má inten-
ção, desconhecimento, falta de cora-
gem e o “moedor de carne”), tendo 
discutido, naquela ocasião, apenas as 
duas primeiras.
Começo este texto, portanto, falando 
sobre a terceira razão que poderia impe-
dir que uma pessoa leve uma vida autên-
tica: a simples e pura falta de coragem.
!RISTØTELES�AlRMAVA��SABIAMENTE��QUE�
a coragem é a principal das virtudes, vis-
to ser necessária até para que o indivíduo 
seja ele mesmo.
Concordo integralmente com o 
SÉBIO� lLØSOFO�� .O� ENTANTO�� VOU� ALÏM��
Tenho medo dos covardes quase tanto 
quanto dos maus caráteres. Isso por-
que, considerando a bondade como 
característica da maior parte dos seres 
humanos (uma crença bastante discutí-
vel, admito), creio ser no covarde que o 
mau caráter encontra sua principal fon-
te de manobra. O covarde se corrompe 
por medo. Medo de perder a aprova-
ção, o afeto, o conforto, o prestí-
gio, não importa. É por medo 
que ele deixa de viver aqui-
lo em que acredita, abre 
mão de seus valores e, 
P
artindo da ideia de que a au-
tenticidade é mais do que uma 
força pessoal, na coluna passa-
da comecei a discorrer sobre a 
importância dessa característica para 
a chamada felicidade genuína. Mais do 
QUE�ISSO��AlRMEI�QUE��A�DESPEITO�DESSE�
fato, existem algumas razões que cos-
tumam condenar as pessoas a uma 
vida inautêntica. Uma vida que, 
agora acrescento, seria bastante 
discutível em termos de felicida-
de, visto sua inerente ausência de 
sentido, uma vez que nenhuma 
anomia pode ser maior do que 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão 
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora 
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, 
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. 
graziano@psicologiapositiva.com.br
SH
UT
ER
ST
OC
K 
/ A
CE
RV
O 
PE
SS
OA
L
justamente por conta dessa fraqueza, 
torna-se perigoso.
Se pensarmos na autenticidade 
como uma condição para uma vida feliz 
e considerarmos que é necessário cora-
gem para sermos autênticos, a conclusão 
é clara: a felicidade exige coragem. E é 
triste saber que existem pessoas infelizes 
não pelas condições que cercam suas vi-
das mas, antes de tudo, pelo medo que 
as impele a uma vida pela metade em 
que a extensão de seus discursos não vai 
além do volume vacilante de suas pala-
vras. Além disso, vivemos em uma épo-
ca em que imersos em uma avalanche de 
simulações (sociedade do espetáculo, al-
guns diriam) ser autêntico e verdadeiro 
tornou-se um diferencial. Mas isso já é 
um outro assunto!
A quarta razão que nos afasta da au-
tenticidade é o que chamo de “moedor 
DE� CARNEv�� *É� DElNI� ESSA� EXPRESSÎO� EM�
outros textos meus, portanto, dessa vez, 
serei breve. Chamo de moedor de carne 
esse ritmo alucinante em que vivemos 
que nos faz viver numa espécie de piloto 
automático e que nos distancia de tudo: 
das atividades que fazemos, das pessoas 
ao nosso redor e de nós mesmos. Os dias 
vão se acumulando uns sobre os outros, 
a vida vai passando e lá estamos nós 
dentro (?!) daquele enorme moedor de 
carne, muitas vezes ligados no 220 volts.
E é assim que o moedor de carne 
se torna responsável por coisas como a 
lata de azeite. Antes que você me tome 
como louca, permita-me, caro leitor, 
que eu me explique.
Durante boa parte da minha infân-
cia e adolescência, brigava com minha 
mãe por causa das latas de azeite que 
tínhamos em casa (sim, porque naquela 
época o azeite era vendido em latas!). 
Nossas latas de azeite eram sempre me-
lecadas e grudentas, o que me incomo-
A AUTENTICIDADE 
É IMPOSSÍVEL SEM O 
AUTOCONHECIMENTO. 
TALVEZ POR ESSA 
RAZÃO ESSE ÚLTIMO 
SEJA A PEDRA 
ANGULAR DE 
TODO TRABALHO 
PSICOTERAPÊUTICO
dava bastante. Eu tinha a plena convic-
ção de que isso acontecia porque minha 
mãe fazia dois furos na lata (na época 
EU�DESCONHECIA�A�TEORIA�DOS�mUIDOS	��/�
fato é que brigava com minha mãe to-
das as vezes. Quando abria uma lata de 
azeite, eu fazia sempre um furo grande 
�RESOLVENDO� ASSIM� O� PROBLEMA� DO� mU-
XO	��-INHA�MÎE�lCAVA� LOUCA��!LÏM�DE�
fazer um outro furo na lata ainda en-
lAVA�UM�PALITO�DE�DENTE�NO�FURO�QUE�EU�
HAVIA�FEITO�A�lM�DE�DEIXÉ
LO�MENOR��&OI�
assim por muito tempo. Até que um dia 
EU�ME� CASEI�� lZ�MINHA� PRIMEIRA� COM-
pra de supermercado e, claro, comprei 
minha lata de azeite. Quando cheguei 
em casa, peguei a lata e aconteceu: sem 
QUE�ME�DESSE�CONTA��lZ�DOIS�FUROS�NELAå�
Lembro-me desse dia como se fosse 
hoje. Naquele momento meu cérebro, 
funcionando no piloto automático, me 
traíra, fazendo com que eu simplesmen-
te seguisse a minha referência, ainda 
que isso fosse de encontro com minha 
crença e minha verdade. 
Para mim, a lata de azeite se tornou 
uma metáfora do que acontece quan-
do estamos distantesde nós mesmos: 
traímos a nossa essência, deixamos de 
ser autênticos e, o pior, temos que arcar 
com uma vida, por assim dizer, um tan-
to “melecada”.
ANÚNCIO 1/3
20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopedagogia por Maria Irene Maluf
Educando para o FUTURO
DURANTE TODA A ESCOLARIDADE É POSSÍVEL APARELHAR 
GRADATIVAMENTE AS CRIANÇAS E JOVENS DE MODO A 
DESENVOLVER AS CHAMADAS HABILIDADES INTERPESSOAIS
O 
homem é um ser social por 
natureza. Desde o momen-
to de seu nascimento, in-
dependentemente de onde 
viva, já se encontra inserido em um 
grupo social, que se amplia conforme 
cresce e começa a frequentar a escola, 
constituindo novas e crescentes rela-
ções interpessoais. 
Tal rede de relações é estabelecida 
segundo características do indivíduo, 
do próprio grupo e da cultura vigente 
e vai sendo construída gradativamen-
te no decorrer de toda vida e, embora 
os primeiros anos sejam primordiais 
nesse aprendizado, é preciso aprender 
a aprender como planejar novas situa-
ções por toda a vida.
Ninguém duvida que o maior ob-
jetivo da educação seja criar a auto-
nomia pessoal e social e que essa con-
dição dependa em grande parte da 
formação acadêmica e depois prof is-
sional, de cada pessoa. A constituição 
de um perf il prof issional que acom-
panhe as mudanças, as demandas de 
um mundo laboral hiperativo, compe-
titivo e exigente é uma urgência das 
últimas décadas, à qual ninguém se 
pode furtar.
Paralelamente a isso, temos como 
certo que a formação do adulto capaz 
e autônomo, socialmente responsável, 
depende primordialmente da educação 
que recebe da família e da escolaridade 
que frequenta e que esta não se baseia 
mais na transmissão de valores e co-
nhecimentos (de toda ordem) pratica-
mente imutáveis, mas na necessidade 
DE�CRIAR�PESSOAS�COM�UM�PERlL�ADAPTA-
tivo às rápidas mudanças sociais, cien-
TÓlCAS�� MERCADOLØGICAS�� ETC�� !PRENDER�
como se aprende, para aprender sem-
pre, constitui um padrão de realidade à 
qual ninguém pode se furtar. 
Entretanto, além do imprescindí-
vel respeito aos talentos naturais, há 
de se levar em conta que habilidades 
de toda ordem devem ser aprendidas a 
partir da pré-escola, visando o desen-
volvimento de um novo perf il, que vai 
passo a passo evoluindo até alcançar 
condições ideais de atender as exigên-
cias acadêmicas e, um dia, ser prof is-
sionalmente competitivo.
Capacidade de se adaptar a mu-
danças, responder a desaf ios de modo 
organizado, coerente, ser capaz de 
trabalhar e resolver problemas junto 
a outras pessoas, demonstrar atitudes 
interpessoais de comunicação, lide-
rança, domínio da tecnologia são im-
prescindíveis para a vida social e para 
atender as demandas do mercado de 
trabalho do século XXI.
No dia a dia é possível, por exem-
plo, criar métodos e estratégias que 
objetivam desenvolver as chamadas 
habilidades interpessoais das crianças 
e jovens em idade escolar. Isso pode 
ser realizado mediante jogos e tarefas 
de grupo, onde é maior a valorização 
dos comportamentos que demons-
trem capacidade de trocas de infor-
mação ef icientes, empatia, atitudes 
de comando, controle da frustração, 
capacidade de suportar pressão, resi-
liência e autonomia, entre outras.
Segundo Eric Smith, pesquisador 
da Universidade de Stanford, o controle 
emocional gera atitudes mais adapta-
TIVAS� EM� CASO� DE� MUDAN¥AS�� DESAlOS��
fracassos, estresse comuns na vida estu-
dantil, e preparam para as vicissitudes 
DO�MUNDO�PROlSSIONAL�PRINCIPALMENTE��
Portanto, preparar as crianças e jo-
VENS�PARA�ATENDER�A�ESSE�PERlL�DE�PRO-
lSSIONAIS�QUE�A� SOCIEDADE�PRECISA�PARA�
enfrentar as vicissitudes e os novos 
modelos do século XXI tornou-se um 
DESAlO�REALISTA�PARA�A�FAMÓLIA�E�A�ESCOLA��
E, evidentemente, bons professo-
res que também tenham essa feição 
tornaram-se indispensáveis: antes de 
dominar o conteúdo ou ser um mes-
tre na didática, o importante passou 
a ser sua habilidade interpessoal, ou 
seja, saber estabelecer um bom rela-
cionamento com seus alunos, desen-
volver empatia, criar o sentimento de 
pertencimento a um grupo. Isso tudo 
favorece as habilidades cognitivas e 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e 
Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia 
da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena 
curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
SH
UT
TE
RS
TO
CK
/ A
RQ
UI
VO
 P
ES
SO
AL
inf luencia de forma marcante no en-
sino e na aprendizagem. 
Segundo revela uma importante 
pesquisa divulgada recentemente pelo 
Grupo Educacional Person (2015), re-
alizada em 23 países, sobre as carac-
terísticas mais valorizadas por alunos, 
pais, professores e responsáveis pelas 
políticas educacionais em cada nação, 
as coincidências foram muitas.
 Para os alunos brasileiros, a pa-
ciência é a principal qualidade de um 
bom professor (13%) e saber se rela-
cionar é o segundo quesito mais im-
portante, seguido do prof issionalismo 
e habilidades didáticas. 
Inqueridos os familiares dos alu-
nos, 14,2% indicaram o prof issionalis-
mo, seguido do relacionamento e da 
paciência, como características-chave 
de um bom professor, o que não di-
fere essencialmente do que pensam 
os próprios professores que agregam 
ainda a dedicação (9,8%).
A pesquisa revelou que para os re-
presentantes políticos se destaca outra 
ALÉM DO IMPRESCINDÍVEL RESPEITO 
AOS TALENTOS NATURAIS, APRENDER 
COMO SE APRENDE, PARA APRENDER SEMPRE, 
CONSTITUI UM PADRÃO DE REALIDADE 
DO QUAL NINGUÉM PODE SE FURTAR
qualidade, mas em quarta posição, que 
está relacionada ao gerenciamento 
da sala de aula (8,4%), perdendo ape-
nas para o relacionamento (12,2%), 
paciência (12,2%) e dedicação (10,7%).
Tais habilidades fazem com que a 
criança, no encontro e vivência com 
seus pares, conheça seus próprios 
sentimentos, suas reações emocionais 
FRENTE�AO�COTIDIANO�E�SEUS�DESAlOS��SEU�
MODO� DE� PENSAR� E� REmETIR� SOBRE� ISSO��
Portanto, oportunizar o desenvolvi-
mento das habilidades socioemocio-
nais dos professores é importante para 
melhorar a aprendizagem acadêmica e 
para ajudar a desenvolver as mesmas 
habilidades nas novas gerações. 
22 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
sexualidade Por Giancarlo Spizzirri
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K 
E 
AR
QU
IV
O 
PE
SS
OA
L
A SEXUALIDADE É MUITO MAIS QUE O ATO SEXUAL. 
MUITOS FATORES PODEM INFLUENCIAR NOSSO 
COMPORTAMENTO. FALAR SOBRE O ASSUNTO, MESMO 
ANTES DA PUBERDADE, É UMA TAREFA ÁRDUA DADA A 
DIVERSIDADE DAS CONDUTAS HUMANAS
A FASE das descobertas 
de SI MESMO
habitualmente descrito como início da 
vida sexual. Não é incomum nos per-
guntarem com que idade começamos 
a vida sexual – entretanto a sexualida-
de humana é muito mais do que o ato 
sexual em si.
As primeiras práticas e atividades 
sexuais durante a adolescência in-
f luenciam nossas emoções e, por con-
seguinte, nossas relações. Com frequ-
ência ouvimos relatos de pessoas que 
foram reprimidas durante a adolescên-
cia, e de como essa repressão as in-
f luenciou de forma negativa em com-
portamentos futuros; por outro lado, 
também são frequentes os relatos de 
indivíduos que não receberam qual-
quer orientação e/ou foram criados 
em ambientes considerados permis-
sivos, que também sofrem durante a 
vida adulta em seus relacionamentos. 
Portanto, chegar em um denominador 
do que seja adequado ao pensarmos na 
educação durante, e até mesmo antes 
da puberdade,é uma tarefa árdua dada 
a diversidade das condutas humanas. 
Em relação às mudanças f ísicas 
que acompanham esse período, algu-
mas considerações merecem desta-
que. É na adolescência (para alguns 
em fases precoces, para outros em 
fases posteriores do desenvolvimento 
– durante esse período) que se obser-
vam nas meninas o aparecimento do 
broto mamário e na sequência o de-
senvolvimento das mamas, da pilosi-
dade pubiana e axilar, da genitália e 
a primeira menstruação, que recebe 
o nome de menarca. Nos meninos ve-
rif icam-se aumento dos testículos e 
posteriormente o surgimento dos pe-
los pubianos, assim como o aumento 
do tamanho do pênis. Essas mudanças 
f ísicas são velozes, e muitas vezes po-
dem gerar conf litos. De certa maneira 
é como se o psiquismo não acompa-
nhasse a intensidade do aumento dos 
hormônios, responsáveis por essas al-
terações. Com frequência o adolescen-
te pode não reconhecer o seu próprio 
corpo, sentimentos de inconformidade 
são comuns, entre eles: sentir-se esqui-
sito, atrapalhado, atribulado, ansioso, 
frustrado, uma vez que nem sempre a 
imagem corporal reproduzirá aquela 
que foi idealizada.
Além desse corpo em mudança, que 
rapidamente vai perdendo as caracte-
rísticas infantis, é nesse período que as 
sensações oriundas de por quem sen-
timos atração sexual irão se tornando 
mais evidentes, e então mais dúvidas e 
A 
adolescência é uma fase 
do desenvolvimento, que 
geralmente ocorre dos 10 
aos 19 anos de idade. Para 
a Organização Mundial da Saúde, a 
puberdade se distingue por mudan-
ças envolvidas com particularidades 
f ísicas (por exemplo, pela inf luência 
dos hormônios no desenvolvimento 
das características sexuais secundá-
rias), emocionais, relacionais, entre 
outras. Com a maturação das gônadas 
(ovários e testículos), a função repro-
dutora passa a se constituir uma pos-
sibilidade; além do mais, é nessa fase 
que as práticas sexuais ganham outra 
dimensão, e normalmente costumam 
ser mais empreendidas, como a mas-
turbação, brincadeiras e jogos com a 
f inalidade de gratif icação sexual. En-
tretanto, não podemos resumir esse 
período somente como sendo o qual 
novas práticas sexuais são exploradas; 
ele é também um momento importan-
te de interação dos adolescentes com 
seus pares, família e sociedade. 
Segundo diversos estudos, é nesse 
período, geralmente após os 14 anos, 
que ocorrerá a primeira atividade se-
xual com outra pessoa. Para muitos, 
esse momento constitui um marco, 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23
NA ADOLESCÊNCIA, 
AS MUDANÇAS 
FÍSICAS SÃO VELOZES 
E PODEM GERAR 
CONFLITOS. É COMO 
SE O PSIQUISMO NÃO 
ACOMPANHASSE 
A INTENSIDADE 
DO AUMENTO 
DOS HORMÔNIOS, 
RESPONSÁVEIS POR 
ESSAS ALTERAÇÕES
ABORDAGEM�OPORTUNA�E�ESPECÓlCA�SOBRE�
o tema. Além do mais, determinadas 
práticas sexuais são encorajadas de-
pendendo do sexo do nascimento. Para 
os garotos adolescentes, a masturbação 
parece ser mais aceita socialmente do 
que para as garotas. Ao pensarmos em 
desigualdades, esse fato pode consti-
tuir um prejuízo para as adolescentes 
na exploração e melhor entendimento 
das reações do próprio corpo. 
Após a avalanche de hormônios 
que acarretam as mudanças f ísicas, 
um pouco mais adiante, as sensações 
e as emoções perceberão o impacto 
dessas alterações. Chega-se então na 
fase das grandes paixões, de sensa-
ções como: o meu mundo acabou se 
meu amor não for correspondido; as-
sim como das grandes causas, como: 
Giancarlo Spizzirri é psiquiatra doutorando pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) 
da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em 
Sexualidade (ProSex) do IPq e professor do curso de especialização em 
Sexualidade Humana da USP.
receios podem acompanhar essa fase. 
Como é um período de novas desco-
bertas, nem sempre as brincadeiras 
sexuais com pessoas do mesmo sexo 
IRÎO� REmETIR� EM� ORIENTA¥ÎO� SEXUAL� HO-
mossexual na idade adulta. Aliás, os 
fatores que determinam a orientação 
sexual são complexos e merecem uma 
eu tenho razão, os outros é que não 
me compreendem, e assim por diante. 
Diante do exposto, o adolescente ain-
da tem de lidar com questões cruciais 
que dizem respeito a sua integridade 
f ísica, como as doenças sexualmente 
transmissíveis, uso de bebidas alcoóli-
cas, rivalidades entre grupos etc. Além 
do mais, se esses adolescentes não fo-
ram bem instruídos sobre os métodos 
contraceptivos e preventivos, a possi-
bilidade de uma gravidez indesejada 
e/ou doenças transmissíveis pelo con-
tato sexual torna-se concreta. Portan-
to, quanto mais os adolescentes forem 
aconselhados de maneira adequada, 
tanto mais serão capazes de tomar de-
cisões apropriadas, que implicarão em 
mais satisfação em um período da vida 
do qual guardamos lembranças.
24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
EQUÍVOCOS da profissão
supervisão Por Ricardo Wainer
A SUPERVISÃO E O PROCESSO DE 
AUTOCONHECIMENTO DO TERAPEUTA 
PERMITEM A PREVENÇÃO SIGNIFICATIVA 
DE ALGUMAS OCORRÊNCIAS QUE SURGEM 
DE SENSAÇÕES DESCONFORTÁVEIS COM 
O PACIENTE OU POR PENSAMENTOS DE 
INCOMPETÊNCIA COM O CASO
O TERAPEUTA POSSUI A DESAFIADORA TAREFA DE AJUDAR O 
PACIENTE E PODE ENCONTRAR OBSTÁCULOS NO CAMINHO, 
COMO SEUS PRÓPRIOS ESQUEMAS MENTAIS DESADAPTATIVOS
O segundo erro é a utilização pelo 
terapeuta de mecanismos de hipercom-
pensação, de forma a evitar sentimentos 
desagradáveis vinculados a seus EIDs. 
Nesse tipo de ocorrência, o que se vê é o 
terapeuta agindo de um modo extremo, 
seja através de condutas agressivas (de 
ataque), de controle excessivo ou ainda 
se autoengrandecendo em relação ao 
paciente. Assim, um paciente narcisis-
ta, que ativa o esquema de fracasso e/
ou de privação emocional do terapeuta, 
pode sofrer um “ataque” do terapeuta, 
por meio de depreciação ou mesmo de-
monstrações de inveja. Evidentemente, 
esse tipo de situação usualmente tem o 
término da terapia como desfecho.
Tem-se também uma falha de mesma 
natureza da anterior, mas com sentido 
oposto. A conduta do psicoterapeuta em 
se subjugar ao paciente através de con-
dutas permissivas, como alongamento 
do tempo da sessão, permissividades em 
relação a faltas e/ou não cumprimento 
de combinações (horários, pagamentos, 
tarefas de casa etc.), indica que os EIDs 
do paciente ativaram EID de subjugação 
do terapeuta, que acaba por assumir esse 
papel passivo como uma forma primiti-
va de obter afeto-consideração ou de 
não ser visto como defeituoso.
A quarta situação a ser monitorada é 
a conduta de criticar o paciente. Talvez 
o mais iatrogênico de todos os quatro 
erros indicados, pois reapresenta ao pa-
CIENTE�UMA�FORMA�DE�hmASHBACKv�DE�SEU�
PASSADO�COM�lGURAS�DE�AUTORIDADE�DIS-
funcionais e as quais ele, provavelmente, 
(EIDs)¹ e/ou da repetição de estilos dis-
funcionais de enfrentamento (que his-
toricamente serviram para aliviar situ-
ações de abuso ou emoções negativas).
O primeiro desses equívocos é o 
terapeuta se desconectar do paciente 
durante a sessão, entrando no modo de 
enfrentamento disfuncional chamado 
“protetor desligado”, segundo a terapia 
do esquema. É uma forma de resistên-
cia automática e inconsciente (na maio-
ria das vezes), em que o terapeuta pode 
INTERAGIR�E�INTERVIR�DE�MODO�SUPERlCIAL��
desconexo, racionalizando (dando “dis-
cursos teóricos”) ou mesmo apresen-
tando sentimentos de tédio, chateação 
E�DESCONFORTO��.ÎO�RARO��PODE�lCAR�COM�
o pensamento em questões pessoais ou 
ainda falar sobre assuntos banais com 
o paciente (“conversa entre amigos”). 
A ocorrência desse tipo de erro indica, 
na maioria das vezes, que o paciente 
encontrava-se no mesmo modo “prote-
tor desligado” e, ao invés de “trazê-lo 
de volta” para o setting terapêutico, o 
terapeuta é que vai para a “periferia” do 
foco da sessão.A 
complexidade e sutilezas do 
processo psicoterápico podem 
lCAR�OCULTAS�NUMA�ANÉLISE�SU-
PERlCIAL� E� INGÐNUA�� %NTRETAN-
to, olhando-se para além do aparente, 
desnuda-se uma rede intricada de rela-
ções entre conhecimentos e experiên-
cias emocionais de diversos momentos 
cronológicos do indivíduo, que culmi-
nam na projeção das muitas facetas do 
self de cada ser humano.
Para obter sucesso em sua empreita-
da, o clínico necessita, para além de seus 
conhecimentos teóricos e técnicos, um 
saber sempre atualizado de seus esquemas 
mentais mais primitivos, bem como 
de seus modos de enfrentamento que 
são ativados quando suas necessidades 
emocionais não são satisfeitas (o que pode 
ocorrer a qualquer momento, inclusive na 
relação terapêutica).
Dentre os erros mais freqüentes que 
se apresentam na prática psicoterápi-
ca temos quatro deles que tipicamente 
aparecem como resultante da falta de 
consciência do terapeuta sobre seus pró-
prios esquemas mentais desadaptativos 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25
SH
UT
TE
RS
TO
CK
 / 
AC
ER
VO
 P
ES
SO
AL
Ricardo Wainer é doutor em Psicologia, especialista em Terapia do Esquema, 
com treinamento avançado pelo New York Schema Institute, e supervisor 
credenciado pela International Society of Schema Therapy. Pesquisador em 
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e em Ciências Cognitivas. Professor titular 
da Faculdade de Psicologia da PUC–RS. Diretor da Wainer Psicologia Cognitiva.
TA�A� IDENTIlCAR�AS�PISTAS�E�SINAIS�DE�QUE�
um EID determinado está ativado. Após 
isso, auxiliá-lo a conscientizar-se so-
bre qual modo de enfrentamento adota 
quando tal EID está ativado. Pode usar 
o “protetor desligado” e se desconectar 
dos sentimentos negativos que a sessão 
está lhe ativando. Pode ainda hipercom-
pensar ou subjugar-se. E, não menos da-
noso, lidando com a situação através da 
crítica e punição.
de alguns questionários e pela própria 
análise dos casos em que o terapeuta 
DEMONSTRA� MAIORES� DIlCULDADES�� ±S�
vezes isso pode se dar por sensações 
desconfortáveis com o paciente ou por 
pensamentos de incompetência com o 
caso. Em outros, paradoxalmente, por 
um interesse muito aumentado pelo 
caso, com ações incomuns de afeto 
com o cliente.
O supervisor deve levar o terapeu-
as traz dentro de si como “vozes críti-
cas”. A atitude de criticar pode assumir 
duas formas. Uma delas é a atitude de 
exigir mais e mais do paciente, sendo hi-
perdemandante com o mesmo e fazendo 
com que este se sinta sempre em falta ou 
sendo punitivo com o paciente, através 
de ironias, xingamentos ou gritos. Ou-
tra maneira desse modo crítico se mani-
festar é pela livre permissão do terapeu-
ta de falas e atitudes autodepreciativas 
do próprio paciente, do tipo, “não presto 
para nada”, “nada do que faço tem valor” 
ou outras ainda piores.
A supervisão e o processo de auto-
conhecimento do terapeuta permitem a 
PREVEN¥ÎO�SIGNIlCATIVA�DESSAS�OCORRÐN-
cias. Obtém-se isso através, inicialmen-
te, da detecção dos EIDs do terapeuta, 
o que pode ser obtido por meio do uso 
Referências
¹Young, J. E.; Klosko, J. S.; Weishaar, M. E. Terapia do Esquema: Guia de Técnicas Cognitivo-
comportamentais Inovadoras, 2008.
26 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
PSICOLOGIA JURÍDICA 
 
Questõe
s
 
 éticas e 
 
técnicas
 do psicó
logo
A atua
ção do
 profiss
ional na
 Perícia
 Psicol
ógica n
o 
âmbito
 judicia
l e esp
ecialme
nte nas
 Varas 
de Fam
ília 
deve s
er com
preend
ida por
 suas e
specifi
cidade
s e se 
mostra
 muito
 diferen
te das 
exigên
cias na
 área c
línica
Por A
ndreia
 Calça
da
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 27
Andreia Calçada é psicóloga, psicoterapeuta, ludoterapeuta, 
pós-graduada pela UERJ em Psicopedagogia Clínica, 
especialista em Psicologia Clínica e Psicopedagogia, 
com especialização em Neuropsicologia pelo IPUB. Tem 
experiência em Equipe Psiquiátrica e Avaliação Psicológica e 
é pós-graduada e especializada em Psicologia Jurídica. Autora 
dos livros Falsas acusações de abuso sexual – o outro lado 
da história, Falsas acusações de abuso sexual e a implantação 
de falsas memórias, Perdas irreparáveis – alienação parental e 
falsas acusações de abuso sexual e é coautora do livro Guarda 
compartilhada – aspectos psicológicos e jurídicos.
SH
UT
TE
RS
TO
CK
 
Éstá cada vez mais clara a necessida-de que os psicólogos e outros pro-fissionais têm de compreender a diferença existente entre a atuação profissional do psicólogo na área 
clínica e a atuação do psicólogo no meio jurídico, 
especialmente na perícia psicológica.
A atuação do psicólogo tem sido cada vez 
mais solicitada no meio forense, principalmente 
no que tange à avaliação de crianças e adolescen-
tes em litígios familiares e em Varas de Família. 
As perícias psicológicas podem ocorrer também 
em Varas Criminais e ligadas ao Trabalho, mas 
em sua maioria ocorrem nas vinculadas à Famí-
lia. O momento atual pelo qual passam as famí-
lias traz em seu bojo uma série de mudanças que 
a reboque geram conf litos. A família mudou. Do 
núcleo tradicional, pai, mãe e filho, temos hoje 
mães que são chefes de família, pais que cuidam 
de filhos, famílias homoafetivas e famílias for-
madas por filhos de vários casamentos dos par-
ceiros. Normal, portanto, que novas demandas 
surjam e que o Judiciário seja procurado para 
resolver os conf litos decorrentes. Processos de 
guarda, convivência, partilha de bens, entre ou-
tros, nos quais, muitas vezes indevidamente, as 
crianças são envolvidas.
Consequentemente, o psicólogo é solicitado 
para avaliações. Em função disso, o número de 
processos contra esse profissional nos CRPs e 
CFP aumentou muito nos últimos anos. Visando 
estabelecer diretrizes, o CRP elaborou um docu-
mento denominado “Referências técnicas para a 
atuação do psicólogo em Varas de Família”, bem 
como a Resolução 8/2010, que regula a atuação 
dos psicólogos peritos e assistentes técnicos atu-
antes no Judiciário. Além da Resolução 7/2003, 
que regulamenta o manual de documentos decor-
rentes de avaliação psicológica (entre eles os lau-
dos e pareceres). O objetivo foi a proteção de fa-
mílias e profissionais, já que esses últimos, muitas 
vezes, se envolvem na seara do conflito, servindo 
como arma para os atores. É um lugar de difícil 
atuação, que demanda clareza por parte do psicó-
logo sobre qual o seu lugar e a sua importância.
A perícia psicológica em Varas de Família, 
segundo Silva (2015), “é uma avaliação/investiga-
ção psicológica realizada por perito psicólogo, de-
terminada pelo juiz, com o objetivo de verificar a 
relação entre pais e filhos (ou de quem está pedin-
do a guarda), seus vínculos, os processos mentais e 
28 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
PSICOLOGIA JURÍDICA 
Œ�+��I�����G��
I����I�È�I�G����������Ô��Œ
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) fun-
ciona como uma autarquia de direito públi-
co, que tem a missão de orientar, fiscalizar e 
disciplinar a profissão de psicólogo, zelar pela 
observância dos princípios éticos, além de co-
laborar para o desenvolvimento da Psicologia 
como ciência e profissão. Tem sede no Distrito 
Federal e sedes regionais (Conselhos Regionais 
– CRP) nas capitais de 17 estados brasileiros.
tologia, utilização de testes e dinâmica 
familiar. A redação do laudo ou relató-
rio pericial exige também formas espe-
cíficas de escrita fundamentais para a 
exposição do que foi avaliado.
O diagnóstico pericial tem quali-
dade de conclusão científica e não per-
manece, apenas, no conhecimento do 
psicólogoe isso deverá ficar claro para 
os entrevistados. Estará disponível nos 
autos. O psicólogo deverá responder 
com fidelidade sobre o que descobriu 
acerca da personalidade do peritado, le-
vando em consideração aspectos priva-
dos do examinado em função do sigilo 
profissional, porém informando tudo o 
que sirva para ampliar a visão do juiz. 
Isso, muitas vezes, se transforma em 
um questionamento ético para o psicó-
logo, já que, com frequência, algumas 
informações privadas são importantes 
para o entendimento do juízo acerca 
do processo. O perito deverá avaliar a 
importância da informação privada for-
necida (até porque o periciado sabe que 
as informações prestadas poderão ser 
levadas ao juiz) e buscar a melhor forma 
de integrá-la à conclusão, se for o caso.
Já o assistente técnico, segundo 
Amêndola (2008, in “Referências téc-
nicas para a atuação do psicólogo em 
comportamentais, as dinâmicas, enfim, 
promover uma investigação psicológica 
utilizando-se das técnicas de Psicologia. 
O objetivo final é responder aos quesi-
tos1 formulados nos autos, levando sub-
sídios, na forma de laudo pericial, para 
que o juiz [avaliando-os], juntamente 
com as demais provas dos autos, possa 
dar sua decisão”.
Os objetos da investigação psi-
cológica, de acordo com Silva (2015), 
podem girar em torno de alguns temas: 
vínculos entre pais e filhos ou outros 
adultos, estado emocional dos pais e as 
suas implicações no cuidado com os fi-
lhos, estado emocional da criança e sua 
relação com o processo de separação, 
dinâmica familiar, presença de psico-
patologia, características de persona-
lidade, funções egoicas, persuasão so-
bre a criança, uso de drogas ou algum 
*��������\�G���\������\�����I�G����G����
�������G
G�P��G����GH����G
���������
I��������
��I�G���9����IG��9�G���9������I`����:�
)����G���9�����I���IG���������	���
��%G�����9���
���������
�����������G
�������G�����G����
��
.%	%����������
�IG
������
���
vício, abusos psicológico ou sexual, 
maus-tratos e presença de comporta-
mentos que possam levar à síndrome 
de alienação parental, entre outros.
O especialista
O perito é alguém que é especialista em determinada área e habilita-
do em seu conselho de classe, no caso, 
aqui, o psicólogo. No Brasil, especifica-
mente no Rio de Janeiro, o perito pode 
ser sorteado em uma listagem de pe-
ritos do Tribunal de Justiça do Rio de 
Janeiro (TJRJ) ou, ainda, ser indicado 
como perito de confiança do juiz. Na 
Argentina, por exemplo, segue-se basi-
camente o sorteio. É fundamental que 
o perito tenha experiência em avaliação 
psicológica, tenha especialização em 
Psicologia Jurídica (pois se diferencia 
da área clínica), conheça de psicopa-
Cresce a participação do psicólogo no meio forense, especialmente no que se refere à avaliação de 
crianças e adolescentes em litígios familiares
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 29
Varas de Família”), é psicólogo autô-
nomo contratado pela parte, cujo co-
nhecimento específico sobre a matéria 
deve ser empregado com a função de 
complementar e/ou argumentar acer-
ca do estudo psicológico desenvolvido 
pelo perito no processo judicial. É, por-
tanto, um assessor da parte, devendo 
estar habilitado para orientar e esclare-
cer sobre as questões psicológicas que 
dizem respeito ao conf lito. De acordo 
com o artigo 8º da Resolução 8/2010, 
o assistente técnico, profissional capa-
citado para questionar tecnicamente a 
análise e as conclusões realizadas pelo 
psicólogo perito, restringirá sua análi-
se ao estudo psicológico resultante da 
perícia, elaborando quesitos que ve-
nham a esclarecer pontos não contem-
plados ou contraditórios, identificados 
a partir de análise criteriosa. Para de-
senvolver sua função, o assistente téc-
nico poderá ouvir pessoas envolvidas, 
solicitar documentos em poder das 
partes, entre outros meios (artigo 429, 
Código de Processo Civil).
O ideal seria que ambos, perito e 
assistente técnico, trabalhassem em 
conjunto para salvaguardar o “melhor 
interesse da criança”. No que tange 
a esse último, o melhor interesse da 
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K
*�
�G��`���I������I�G��������G��
G
��
��
I��I�����I����^��IG����������G��I�9�G���G�9�
���I����I�������
�����I`����:�!�IG�
�����^����
����G����:�*����I`�����
����P�������
���I���
��
���
G
����H���������
��I�H����GI��IG�
G�
������G��
G
��
�������G
�
acusações de abuso sexual, físico e psi-
cológico. Um posicionamento isento 
e científico sobre os fatos, bem como 
a pacificação dos conf litos, é a melhor 
ajuda que um bom laudo pericial pode 
fornecer para as famílias e, principal-
mente, para o desenvolvimento saudá-
vel das crianças.
Relatos articulados
Diferentemente do que é espera-do do profissional na clínica, no 
âmbito forense os relatos dos entrevis-
tados serão articulados com os dados 
processuais e com todas as informa-
ções obtidas. Ele deve se adaptar, pois 
precisará combinar as formalidades 
processuais com os aspectos técnico-
-científicos da profissão. “Deve-se ater 
a um prazo para a entrega do laudo ou 
relatório psicológico e também atentar 
à linguagem jurídica. Deverá realizar 
uma descrição realista dos fatos, pauta-
da em documentos processuais, fazer 
uma descrição confiável e muitas vezes 
literal do que é dito pelo entrevistado 
LAUDOS PERICIAIS
 PARA SABER MAIS 
N
a área do Direito, a Psicologia tem como atribuição principal elaborar 
�G�
��� ����I�G��:� *� ���‚�����G�� ���� G��G� ������ IG���9� �� ���I`����� ������9�
trabalha baseado nesses laudos e pareceres, instrumentos imprescindíveis para 
�� 
���� ���� I��
�h€��� 
�� G���IG�� G� %����hG:� ������ ��G� 
������ 
��� ���‚�����G���
������I`������������9����I`�����
��^
�I�������I`�����
�
�I�P���:�*���������G��G�
por intermédio da aplicação de procedimentos para avaliar a personalidade e 
o grau de periculosidade de adultos ou adolescentes nos processos criminais, 
�G��0G�G�� ���I�G���
G�$���I�G�
G�%������
�e���
��^
�I��G��G�I�����������
������
��� ���I������ I����� ��� ���G9� I���� G���������� �\I��I�� 
G� ��������h�� 
�
�I�P��G9�
�H����G�
������IG�������G����G��
G�������G��������I�����
�����^�����G��0G�G��
��
!G�^��G����G��0G�G��
G�$���I�Ge���%�
�I�P����\������I`�����
��^
�I������G��G�
������
��������G�
�
�I�P���:���+��I�����G�%��^
�IG�\���G�P��G��������GI���G�
����G������
���I`������I�����������G�
��%����hG9���������
����G
������
��^
�I�����������G���
GH�G������� �� ���� ��� �������� G��� ���I������ I��I��������� G���������:� %P� �� ������
������������I�‚IG��������G�����G�������
�
�I�G����G������H��G��:�
criança pode muitas vezes estar “escon-
dido” em meio a discursos de proteção 
tanto da família quanto de órgãos que 
atuam junto ao Judiciário. Esse é o 
caso, por exemplo, em processos onde 
ocorrem a alienação parental, falsas 
As perícias psicológicas podem acontecer em Varas Criminais e também nas ligadas ao Trabalho, mas 
na grande maioria das vezes ocorrem nas vinculadas à Família
30 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
PSICOLOGIA JURÍDICA 
*��������
����P�G�G��G��G��������I�G�
G�
������Gh������G
G������I�
G�‡G�\����������
����I�G
���GH������G��������Gh€��������G
G��
��
�����������G
G��G��
���ˆ���H��IG��G��������
����G�
��������P¢�G�O�I��I���Ô�9����������IG��
der o que está sendo perguntado, é hora 
de fazer a análise dos dados e, então, a 
síntese e elaboração do laudo pericial3, 
com base na Resolução 7/2003.
De acordo com a Resolução 8/2010 
do CFP, o trabalho pericial poderá con-
templar observações, entrevistas, visitas 
domiciliares e institucionais, aplicação 
de testes psicológicos, utilização de re-
cursos lúdicos e outros instrumentos, 
métodos e técnicas reconhecidos pelo 
Conselho Federal dePsicologia (artigo 
3º), e nele poderá atuar equipe multi-
profissional (artigo 5º).
Em seu artigo 6º, a resolução de-
termina que os documentos produ-
zidos por psicólogos que atuam na 
Justiça devem manter o rigor técnico 
e ético exigido na Resolução CFP 
nº 7/2003, que institui o Manual de 
Elaboração de Documentos Escritos 
produzidos pelo psicólogo, decorren-
tes da avaliação psicológica. Em seu 
relatório, o psicólogo perito apresen-
tará indicativos pertinentes à sua in-
vestigação, os quais possam subsidiar 
diretamente o juiz na solicitação rea-
lizada, reconhecendo os limites legais 
de sua atuação profissional, sem aden-
trar nas decisões, que são atribuição 
exclusiva dos magistrados (artigo 7º).
Œ����GhÔ���G�0G�G�
��!G�^��G�Œ
O documento “Referências técnicas para a 
atuação do psicólogo em Varas de Família”, 
lançado pelo Centro de Referência Técnica em 
Psicologia e Políticas Públicas (Crepop), apre-
senta diretrizes para a atuação de psicólogos 
em Varas de Família. O texto procura oferecer 
subsídios aos profissionais da área e àqueles 
que não possuem vínculo empregatício com 
o Poder Judiciário mas emitem pareceres que 
são anexados a processos, desenvolvendo 
práticas relativas à Psicologia Jurídica.
e contestar exaustivamente os pontos 
periciais que constituem a resposta 
ao solicitado pelas partes e pelo juiz. 
É uma matriz, à qual o psicólogo deve 
adaptar a visão global do que foi com-
preendido na análise diagnóstica reali-
zada” (Pinto, 2007).
Durante as perícias, o psicólogo 
busca acessar o entrevistado em uma 
relação quase íntima, na qual o peri-
ciado possa se expressar com espon-
taneidade, apesar de saber que tudo o 
que disser será incluído no informe do 
profissional e transmitido à autorida-
de que decidirá sobre a causa (Pinto, 
2007). O objetivo é que seu trabalho 
ajude a resolver a demanda judicial. 
Para isso, se utilizará de entrevistas se-
midirigidas e testes psicológicos devi-
damente qualificados pelo CFP.
As partes deverão ser contatadas 
com o objetivo de agendar as entrevis-
tas diagnósticas. Em muitos processos 
haverá a participação do assistente 
���G�^��G�I�����I���G����
���
��I��‚���GhÔ�9�����9�G�\��
���bI������G
�I���G�9��������9������������9�
famílias homoafetivas, cada vez mais comuns
técnico, que como veremos adiante, 
de acordo com a Resolução 8/2010, 
em seu artigo 2º, não poderá partici-
par dos procedimentos da perícia. Ele 
poderá ter reunião com o perito e con-
testar seu laudo posteriormente atra-
vés do Parecer2.
Importante que o perito tenha 
acesso aos documentos dos autos. Nas 
entrevistas, é igualmente relevante ob-
ter dados da história de vida de cada 
um e o histórico da demanda judicial. 
Fundamental que não se tirem conclu-
sões apenas com a leitura dos autos. 
Isso é difícil, porém profissional e éti-
co. Testes e entrevistas são utilizados. 
Visitas a residências e escolas são im-
portantes, bem como entrevistas com 
profissionais e familiares envolvidos. 
Tudo com o objetivo de alcançar uma 
visão mais ampla possível do conf lito e 
da dinâmica em questão.
Após ter colhido informações que 
entenda como suficientes para respon-
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 31
A resolução veda também, em seu 
artigo 10, ao psicólogo que esteja atu-
ando como psicoterapeuta das partes 
envolvidas no litígio: I - Atuar como 
perito ou assistente técnico de pesso-
as atendidas por ele e/ou de terceiros 
envolvidos na mesma situação litigio-
sa; II - Produzir documentos advin-
dos do processo psicoterápico com a 
finalidade de fornecer informações à 
instância judicial acerca das pessoas 
atendidas, sem o consentimento for-
mal dessas últimas, à exceção de de-
clarações, conforme a Resolução CFP 
nº 7/2003.
Consentimento
Quando a pessoa atendida for criança, adolescente ou interdi-
to, o consentimento formal referido 
no caput deve ser dado por pelo menos 
um dos responsáveis legais. Sobre o 
laudo pericial, o CFP, através, ainda, 
do documento “Referências técnicas 
para a atuação do psicólogo em Varas 
de Família”, acrescenta que o psicólogo 
registrará apenas as informações ne-
cessárias para o cumprimento dos ob-
jetivos do trabalho. Portanto, essas são 
conclusões psicológicas e não jurídi-
cas, não sendo atribuição de psicólogos 
proferir sentenças ou soluções jurídi-
cas. O psicólogo não poderá se tornar 
um “pequeno juiz ou um juiz oculto”. 
O cuidado com a exposição excessiva 
deve ser tomado. Não há a necessida-
de de reproduzir em relatórios, laudos 
ou pareceres frases ditas pelos sujeitos. 
Porém, no que diz respeito às normas 
éticas, indica-se que o psicólogo não 
tem o direito de colher informações do 
cliente e, depois, se negar a conversar 
com a pessoa atendida sobre as conclu-
sões a que chegou. Entrevistas de devo-
lução fazem parte das tarefas e obriga-
ções dos psicólogos.
Enfim, a tarefa de atuar como psi-
cólogo na função pericial é difícil no 
sentido do estabelecimento de limites 
para a própria atuação: não ser juiz, 
não ser advogado, não ser o acusador e 
REFERÊNCIAS 
Calçada, A. S.; Cavaggioni, A.; Neri, L. Falsas acusações de abuso sexual – o outro lado da história. Rio de 
Janeiro: OR Editora, 2000.
Calçada, A. S. Falsas acusações de abuso sexual e a implantação de falsas memórias. São Paulo: Editora 
Equilíbrio, 2008.
. Perdas irreparáveis – alienação parental e falsas acusações de abuso sexual. Rio de Janeiro: 
Editora Publit, 2014.
. Falsas acusações de abuso sexual – a perícia social e psicológica no Direito de Família. In: 
Freitas, P. D.; Javorski, J., p. 212-248. Florianópolis: Editora Voxlegem, 2015.
Silva, E. L. Perícias psicológicas nas Varas de Família – a perícia social e psicológica no Direito de Família. 
In: Freitas, P. D.; Javorski, J., p. 183-211. Florianópolis: Editora Voxlegem, 2015. 
BRASIL. Resolução 7/2003 do Conselho Federal de Psicologia, www.pol.org.br, acesso em: 2 fev. 2016.
BRASIL. Resolução 8/2010 do Conselho Federal de Psicologia, www.pol.org.br, acesso em: 2 fev. 2016.
BRASIL. “Referências técnicas para a atuação do psicólogo em Varas de Família”, Conselho Federal de 
Psicologia, www.pol.org.br, acesso em: 2 fev. 2016.
não ser o psicólogo clínico. Importante 
separar, após a avaliação das personali-
dades e dinâmicas familiares, o que se 
1 Entenda-se por quesitos as perguntas formuladas pelo juiz, promotor e pelas partes assessoradas pelo assistente técnico. 
Os quesitos são de extrema importância, pois nortearão a investigação pericial, já que o perito necessitará respondê-los.
2 O Parecer Psicológico é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico cujo 
resultado pode ser indicativo ou conclusivo. O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo 
do conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-problema”, visando dirimir dúvidas 
que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência 
no assunto. A discussão do Parecer Psicológico constitui a análise minuciosa da questão explanada e argumentada com base 
nos fundamentos necessários existentes, seja na ética, na técnica ou no corpo conceitual da ciência psicológica. Nessa parte, 
deve respeitar as normas de referência de trabalhos científicos para suas citações e informações (Resolução 7/2003 CFP).
3 O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas 
determinações históricas, sociais, políticas e culturais pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo docu-
mento, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes 
psicológicos, observação, exame psíquico,intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e cientí-
fico adotado pelo psicólogo. A finalidade do relatório psicológico será apresentar os procedimentos e conclusões gerados 
pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e 
evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de acompanhamento 
psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.
*���^�I������������G�����‚������Ô��G������
����H
�����
G���������Gh�����I��`��IG9�G�\��
�����G
��
���I���G��
����G�����G�������IGh€������I��
G
��I������‚����
faz necessário e útil para a melhora na 
qualidade de vida das pessoas envolvi-
das em litígios familiares.
32 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
coaching por Eduardo Shinyashiki
ALTO!
DESDE A CONCEPÇÃO DA VIDA E EM TODAS AS SUAS FASES 
SUPERAMOS INÚMERAS BARREIRAS, SENDO NECESSÁRIO ENTENDER 
QUE CONTRATEMPOS E DIFICULDADES SEMPRE EXISTIRÃO
D
esde a Pré-história os seres 
humanos enfrentam proble-
mas, superam obstáculos e 
lidam com as adversidades 
diariamente, mesmo que sejam de for-
mas diversas. Porém, é possível notar que 
muitas pessoas não conseguem enfrentar 
essas situações de modo natural. Já ou-
tras tiram de letra. 
Quase sempre as pessoas que têm 
mais resistência em atravessar situações 
difíceis estão presas apenas ao lado ne-
gativo do problema e não conseguem 
visualizar outros prismas de uma mesma 
questão, se diminuindo perante as adver-
sidades, deixando aquele obstáculo ditar 
suas ações e, muitas vezes, sua própria 
vida. Nesse momento, elas se tornam 
vítimas desses problemas e assumem o 
compromisso de impotência perante os 
fatos. Mas observe a contradição: ao mes-
mo tempo em que elas esperam e pedem 
por uma solução, continuam olhando so-
mente para um lado do problema, ou seja, 
para o lado oposto da solução desejada. 
Se não soubermos lidar com as adver-
sidades que aparecem em nosso caminho 
acabamos dando força aos sentimentos 
NEGATIVOS� E� ELES�lCAM�SEMPRE�PRESENTES�
na nossa vida. Mesmo que eles sejam dei-
xados de lado, se não forem resolvidos 
voltarão com frequência no nosso dia a 
dia, muitas vezes com padrões repetiti-
vos ou disfarçados com outras questões. 
Dessa forma, alimentamos a ansiedade, a 
RAIVA��A�TRISTEZA��A�FALTA�DE�CONlAN¥A�n�EM�
NØS�� NOS� OUTROS� E� NA� VIDA� n�� A� INSATISFA-
ção, o estresse, a desmotivação, a baixa 
autoestima, a falta de controle da nossa 
própria vida, entre muitos outros senti-
mentos e crenças limitantes. 
1UANDO� REmETIMOS� SOBRE� UMA� SITU-
A¥ÎO� CONmITANTE� JÉ� VIVENCIADA� PODEMOS�
PERCEBER� QUE� DIlCILMENTE� CONSEGUIMOS�
olhar para as adversidades sob uma se-
gunda óptica, mas focamos somente nos 
aspectos ruins, sem ao menos tentar en-
xergar o lado positivo delas. Por exemplo, 
ao receber uma advertência do líder por 
queda de resultados (situação adversa), 
você provavelmente irá buscar novas 
VOEVOE
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 33
estratégias para alavancar os números, 
ALÏM�DE�lCAR�MAIS�ATENTO�AO�ATINGIMEN-
to de metas (lado bom). Quantas vezes, 
após algum problema ser resolvido, você 
já pensou: “Ainda bem que isso aconte-
ceu, assim pude ter a oportunidade de co-
nhecer tal coisa ou pessoa”, e por aí vai. 
Sempre haverá um lado bom, seja em cir-
cunstâncias mais simples ou complexas.
Os problemas estarão sempre pre-
sentes em nossa vida, porém a forma de 
perceber e lidar com eles poderá fazer 
toda a diferença. Parafraseando Fer-
nando Pessoa, “ser feliz é deixar de ser 
vítima dos problemas e se tornar um au-
tor da própria história. É saber falar de 
si mesmo. É não ter medo dos próprios 
sentimentos”. O primeiro passo para se 
livrar de uma adversidade é aceitar e en-
tender qual é a mensagem de mudança 
que ela nos passa.
Não podemos permitir que um obstá-
culo nos coloque como vítima ou que fa-
çamos autoquestionamentos do tipo “por 
que eu?”, “por que isso só acontece comi-
go?”, entre muitos outros pensamentos 
que nos paralisam. Reconheça as opor-
tunidades de crescimento, sabedoria e de 
evolução que existem em nossa trajetória. 
Experimente ter uma visão ampla, 
que abranja todo o contexto. Muitas ve-
zes, achamos que para quem está de fora 
da situação é muito mais fácil achar uma 
solução, e estamos certos em relação a 
isso, pois o outro tem uma visão do todo, 
facilitando o seu entendimento. Portanto, 
permita-se contemplar por algum instan-
TE�AQUILO�QUE�O�AmIGE��CONHE¥A�E�COMPRE-
enda a mensagem que aquele problema 
lhe passa. Quando mudamos o ponto de 
vista, vemos o mesmo problema com ou-
tra perspectiva. Se mesmo assim sentir 
DIlCULDADE�EM�ENXERGAR�O� LADO�POSITIVO�
de tal questão, se coloque na posição de 
observador e imagine alguém que você 
IM
AG
EM
: S
HU
TT
ER
ST
OC
K 
/ A
CE
RV
O 
PE
SS
OA
L
Eduardo Shinyashiki é palestrante, consultor organizacional, especialista em 
Desenvolvimento das Competências de Liderança e Preparação de Equipes. 
É presidente do Instituto Eduardo Shinyashiki e também escritor e autor de 
importantes livros como Transforme seus Sonhos em Vida (Editora Gente), sua 
publicação mais recente. www.edushin.com.br
O PRIMEIRO PASSO 
PARA SE LIVRAR DE 
UMA ADVERSIDADE É 
ACEITAR E ENTENDER 
QUAL É A MENSAGEM 
DE MUDANÇA QUE 
ELA NOS PASSA. 
RECONHEÇA AS 
OPORTUNIDADES 
DE CRESCIMENTO, 
SABEDORIA E DE 
EVOLUÇÃO QUE 
EXISTEM EM CADA 
TRAJETÓRIA
admira muito no seu lugar e, assim, con-
seguirá visualizar qual é a ação que essa 
pessoa teria. Dessa forma, é possível ob-
ter uma visão mais clara e ajustar o foco 
para encontrar soluções criativas, que nos 
levarão ao sucesso desejado.
#ADA�DESAlO� E� CADA�DIlCULDADE�QUE�
se enfrenta na vida servem para fortalecer 
A�FOR¥A�DE�VONTADE��CONlAN¥A�E�CAPACIDA-
de de vencer os obstáculos futuros com 
êxito, assertividade, prosperidade e muita 
felicidade. Esses impedimentos que sur-
gem no decorrer da estrada serão sempre 
sinônimos de superação, portanto fazem 
parte da trajetória e do crescimento pes-
SOAL�E�PROlSSIONAL��
Ter a coragem de olhar o mundo e a 
sua própria realidade de outros pontos de 
vista é maravilhoso e libertador. 
Voe alto, enxergue novos horizon-
tes! Assim você perceberá que o mundo 
Ï�UM�ESPA¥O�DE� INlNITAS�POSSIBILIDADES�
e um cenário onde você mesmo pode 
CRIAR� O� ROTEIRO� QUE� QUISER�� COM� O� lNAL�
feliz que desejar!
ANÚNCIO 1/3
34 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
IM
AG
EN
S:
 D
IV
UL
GA
ÇÃ
O
Da redação
Questões sobre Psiquiatria Forense (Perícia na Psicologia Jurídica) 
 O livro Perícia na Psiquiatria Forense, do especialista Guido Arturo Palomba, tem como objetivo fa-
cilitar a compreensão dessa área da Medicina pouco explorada e levar informação prática e simples 
para advogados, juízes, delegados, médicos e psiquiatras. Organizado em perguntas e respostas, trata 
das principais questões da Psiquiatria Forense, abordando a atuação na área civil e criminal, bem 
como o seu crescimento histórico. A obra tangencia aspectos como elaborar um laudo e preencher 
quesitos; inclina-se ao setor mais técnico como perícia retrospectiva, interdição, guarda de menores, 
alienação parental, anulação de testamentos, orienta como fazer a perícia nesses casos e em quais 
pontos basear-se. Insere o teor criminal, explica o que é periculosidade e os limites da menor idade, 
entre outros fundamentos. Apesar de seu foco estar voltado aos que fazem parte da intersecção entre 
Direito e Medicina, o púbico leigo também pode apreendermuito – sobretudo aqueles que passam 
por processo de guarda de menor ou anulação de casamento, por exemplo. 
Perícia na Psiquiatria Forense
Autor: Guido Arturo Palomba 
Editora: Saraiva Páginas: 244
Os mistérios do cérebro e a Matemática (Neurobiologia e educação) 
!�.EUROCIÐNCIA�COM�O�OLHAR�DIFERENCIADO�DOS�PROlSSIONAIS�DA�EDUCA¥ÎO� INFANTIL��DO�ENSINO� FUNDA-
mental e até mesmo da clínica é abordada no livro A Neuciência na Sala de Aula – uma Abordagem 
Neurobiológica, QUE�ENFATIZA�A�IMPORTÊNCIA�DOS�PROlSSIONAIS�DE�EDUCA¥ÎO�ADENTRAREM�NESSE�MUNDO�DA�
Neurobiologia, fazendo com que, por meio da sala de aula e das atividades lúdicas, eles possam faci-
litar o processo de aprendizagem da criança.
Por meio de atividades lúdicas, advindas da psicomotricidade e do conhecimento básico do sistema 
nervoso central, o professor irá oferecer novas sinapses para que sejam disparadas e a plasticidade 
ACONTE¥A��/�LIVRO�TAMBÏM�OFERECE�VALIOSAS�INFORMA¥ÜES�SOBRE�O�AUTISMO��O�DESAlO�DO�NOVO�SÏCULO��E�
como entender a sexualidade de pessoas com necessidades especiais, escritas por autores portugueses.
A Neuciência na Sala de Aula – uma Abordagem Neurobiológica
Organizadora: Marilza Delduque
Editora: Wak
Páginas: 152
Distúrbio de personalidade (romance e doença mental) 
Nas Fronteiras de Alice, livro escrito por Marcelo Siqueira, discute como é possível reencontrar o 
amor, transcendendo questões como idade, doenças mentais e ética. A obra aborda os complexos 
temas do transtorno de personalidade e do adultério entre um professor e uma aluna, porém man-
tendo a narrativa repleta de amor e suspense. Nesse relacionamento, cada um será exposto às suas 
fraquezas e aos seus desejos mais íntimos, provocando comentários e incompreensões de pessoas 
próximas, principalmente na questão das múltiplas personalidades. Divertida em alguns momentos 
e intensa em outros, a narrativa transmite para o leitor sensações de nostalgia, erotismo, paixão e 
cumplicidade, além de abordar a doença mental como pano de fundo. 
Nas Fronteiras de Alice
Autor: Marcelo Nogueira
Editora: Pandorga
Páginas: 238
livros
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 35
P
sic
o
lo
g
ia n
o
 e
sp
o
rte
Hoje, há consenso sobre a 
influência do desempenho 
mental na atuação dos 
competidores de alto nível, 
mas o equilíbrio emocional 
é determinante também 
para o sucesso pessoal 
d o s s i ê
P
sic
o
lo
g
ia n
o
 e
sp
o
rte
PSICOLOGIA NA 
PRÁTICA DO 
ESPORTE
SH
UT
TE
RS
TO
CK
 
d o s
s i ê
36 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
O esporte é um dos prin-cipais fenômenos socio-culturais desde a Grécia Antiga. Hoje, certamen-
te, muitos atletas são referência para 
pessoas que nem sempre são espor-
tistas, mas simpatizam com filosofias 
que o esporte carrega como foco, aten-
ção, determinação, superação, entre 
outros. A  grande maioria dos atletas 
medalhistas, por exemplo, se tornam 
ídolos e até popularizam esportes an-
tes não tão admirados, como aconte-
ceu com Gustavo Kuerten na época 
em que se tornou o melhor tenista do 
mundo e também o espelho até mes-
mo para crianças, que trocaram a ado-
ração pelo futebol por essa modalida-
de. Mas Guga é só um dos exemplos. 
O esporte brasileiro – e mundial – tem 
muitos outros atletas modelos. 
Porém, há casos conhecidos em 
que o esportista apresenta seu me-
lhor momento físico, técnico e tático, 
entretanto, por diversos fatores, não 
trabalha bem seu aspecto emocional 
e este é, sem dúvida, o grande dife-
rencial nas competições. Aquele que 
estiver preparado psicologicamente 
O aspecto emocional é o grande diferencial para que os atletas 
consigam se destacar, mas não são restritos aos competidores. O 
treinamento psicológico traz benefícios para todos
Para uma boa 
PERFORMANCE na vida
terá resultados melhores. Há inúme-
ras variáveis que podem influenciar 
positiva ou negativamente a atuação 
de um atleta ou da equipe. Todos os 
competidores, desde os grandes favo-
ritos aos iniciantes, sofrem influên-
cias, e as pessoas mais equilibradas 
emocionalmente, naqueles momen-
tos decisivos, é que se consagrarão. E 
essa lógica serve para a vida também, 
seja no campo pessoal, profissional, 
em família etc. 
Voltando ao esporte, podemos 
dizer que esta não é ciência exata; 
ele é sempre executado por humanos 
Por Rodrigo Scialfa Falcão
Rodrigo Scialfa Falcão é psicólogo formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre 
��� ���������G�G�	�����h��
�����ƒ��������G�/��������G��*H���G�
G��G�G����G¤/���I�:�
Especialista em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae. Psicólogo clínico com 
especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP. 
O comportamento mental, comprovadamente, 
��ƒ���I�G�
���G����G�
�‚�����G�G��������G�I��
��G���\�������G������P��G�
G���
G:� ����
���
G������\���������G
������������
Œ�Psicologia do Esporte 
deve se adaptar Œ
Cada modalidade esportiva tem suas 
peculiaridades, sua cultura e seu uni-
verso, e a Psicologia do Esporte deve 
se adaptar a essas situações, pois as 
modalidades são diferentes umas das 
outras, assim como as capacidades 
físicas, técnicas e táticas são distintas 
de um esporte para outro. Isso também 
acontece com a preparação psicoló-
gica. Os recursos necessários para um 
bom desempenho de maratonistas são 
diferentes dos recursos dos esgrimis-
tas, que são também diferentes dos jo-
gadores de handebol. Nas modalidades 
coletivas, algumas responsabilidades 
podem ser partilhadas. Isso não acon-
tece em modalidades individuais, onde 
todo o desempenho atlético é fruto do 
comportamento de uma pessoa.
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 37
P
sic
o
lo
g
ia n
o
 e
sp
o
rte
SH
UT
TE
ST
OC
K
e, por isso mesmo,  a imprevisibili-
dade está presente nos ginásios, nas 
piscinas, nas pistas, nos campos. O 
comportamento mental, comprova-
damente, influencia de maneira defi-
nitiva a performance de alguém em 
qualquer área da vida, que dirá nas 
competições esportivas. Nossa pai-
xão nacional, o futebol, nos mostrou 
de forma dolorosa, como um desfecho 
mal elaborado pode desestabilizar 11 
homens em menos de 15 minutos. E 
afetou também o equilíbrio emocio-
nal de uma legião de torcedores. 
Foi a partir desse evento, na Copa 
do Mundo sediada no Brasil, com os 
“donos da casa” derrotados por um 
placar vergonhoso, que vimos crescer 
o debate sobre a atuação de psicólo-
gos esportivos, uma área bem reco-
nhecida em outros países, mas que 
ainda é pouco explorada no Brasil. 
De modo geral, todos sabem da im-
portância da prevenção psicológica 
no esporte, porém, na prática, poucas 
equipes efetivamente preparam seus 
atletas devidamente.
*������^H�������I���G��\�������G����
���
�����G��P��G��
G���
G9�
���\�9���������I����I��
��
���G����
G����Gh�9�������G���
���I��`��I�������������G��
G�\�
���I��������G
�������G���
ESTÍMULO ÀS HABILIDADES PSICOLÓGICAS 
 PARA SABER MAIS 
Segundo Rudik (1990), o rendimento esportivo máximo é alcançado quando os atletas atingem uma forma esportiva caracterizada por vários aspectos, 
entre eles: melhora da atividade total da consciência, aumentando a velocidade 
das reações motoras; processos de percepção produzidos com rapidez, tornan-
�¢����G���I�G�������‚IG���e�G�������
G�G���h�9�������G�
��G�IG�GI�
G
��
��
distribuí-la ou concentrá-la, elevando também a capacidade de alterar rapida-
mente o foco de atenção de um objeto para outro; aumento da capacidade de 
��G���G�������h��������������P�����9�
G�I��‚G�hG������G����`���G�����hG����
G�
vontade de vencer.
Balague (2001) coloca que cada fase do treinamentotem requisitos psicológi-
cos diferentes e, por isso, para que se obtenha um ótimo rendimento é necessá-
rio que as habilidades psicológicas sejam estimuladas e desenvolvidas conjunta-
mente com as capacidades físicas e as habilidades técnicas e táticas.
Para Korsakas e Marques (2005), “se a periodização compreende o planeja-
mento do treinamento esportivo, quando se fala sobre a preparação psicológica 
integrada aos outros processos desse treinamento, não poderíamos tratá-la de 
forma diferente. Basicamente por dois motivos: o primeiro pela necessidade de 
combinar a preparação do atleta considerando-o como uma totalidade, que atu-
ará empregando todo o seu potencial (aspectos físicos, técnicos, táticos e psi-
cológicos) na busca dos objetivos da competição; o segundo pela necessidade 
de utilizar a preparação psicológica adequadamente, sem acreditar que palestras 
�����GI���G��9�‚��������I������G�9� ����G
G�����9���
���G��
G��I���G�
����G�
preparação com qualidade”.
d o s s i
ê
38 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
É nítido e incontestável que o desempenho e a prepa-ração mental são fato-res fundamentais para a 
obtenção do sucesso na atuação do 
esportista de alto rendimento. No 
entanto, essas conquistas precisam 
ficar restritas apenas ao esporte. 
Existem algumas habilidades psico-
lógicas que devem ser seguidas por 
esses competidores, e pessoas foca-
das em alcançar o sucesso. 
Equilíbrio emocional
Os esportes competitivos talvez sejam um dos poucos fenô-
menos sociais em que as emoções 
oscilam abruptamente. Se nos es-
pectadores é comum, imagine nos 
atletas. Desenvolver o equilíbrio 
emocional é fundamental para 
qualquer pessoa. No esporte ele 
chega a ser primordial, pois um 
Desempenho mental e preparação emocional são 
aspectos imprescindíveis para a conquista de vitórias 
no esporte, mas alguns requisitos podem ser 
aproveitados também na vida pessoal e profissional
HABILIDADES 
psicológicas devem 
SER SEGUIDAS
erro pode ocasionar uma avalan-
che de sentimentos negativos e le-
var à derrota. Saber retornar desses 
momentos (frequentes) dos jogos e 
competições é uma habilidade que 
pode ser diferencial para uma deci-
são e até para a carreira de qualquer 
atleta. A tensão exacerbada propor-
ciona emoções negativas, como 
raiva, frustração e medo. Como 
consequência, podem desencadear 
problemas durante a atuação, in-
cluindo a tensão muscular e desvio 
de concentração, que propicia dis-
trações, lentidão de raciocínio na 
execução de golpes, movimentos 
lentos, entre outros.
Concentração
É comum ouvir alguém dizendo “Concentre-se”, “Foco”. No es-
porte, estar concentrado é um dos 
aspectos importantes para o bom 
rendimento. A concentração é um 
tipo de percepção. A percepção é 
basicamente uma capacidade cog-
nitiva, que faz reconhecer o mundo 
ao redor através dos sentidos (visão, 
tato, olfato, audição, paladar). Por-
tanto, para perceber alguns eventos 
que nos cercam, o cérebro utiliza 
diferentes tipos de atenção.
O ambiente está cercado por 
vários estímulos que aguçam a per-
cepção, e a atenção seleciona e co-
difica alguns deles que interessam 
no momento. Quando se foca em 
poucos estímulos, utiliza-se a con-
centração – que nada mais é do que 
prestar mais atenção naquilo que é 
relevante naquele determinado mo-
mento. Ou seja, no adversário, nos 
pensamentos e nas sensações cor-
porais. Quando se ouve alguém fa-
lar de foco, é preciso lembrar de um 
feixe de luz iluminando um local 
escuro. A falta de concentração em 
determinados momentos de uma 
competição é uma das queixas mais 
frequentes que os psicólogos do es-
porte têm de lidar no seu trabalho. 
Por Rodrigo Scialfa Falcão 
Rodrigo Scialfa Falcão é psicólogo formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestre 
��� ���������G�G�	�����h��
�����ƒ��������G�/��������G��*H���G�
G��G�G����G¤/���I�:�
Especialista em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae. Psicólogo clínico com 
especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP. 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 39
P
s
ic
o
lo
g
ia
 n
o
 e
s
p
o
rte
SH
UT
TE
RS
TO
CK
 
Estar concentrado é uma habilidade 
psicológica muito importante para 
qualquer atleta, porém pode haver 
níveis diferentes de concentração, 
dependendo da situação exigida na 
competição. Por exemplo, para um 
pivô no basquete e um atleta de tiro 
esportivo as exigências são muito 
distintas. Durante uma competi-
ção, a concentração pode ser deter-
minante para o resultado.
Tolerância à frustração
As derrotas podem ensinar mais do que as vitórias. Pouco tem-
po atrás, o tenista Novak Djokovic 
era um coadjuvante em relação a 
Rafael Nadal e Roger Federer. Em 
diversas entrevistas, ele disse que 
aprendeu muito com as suas derro-
tas. Esse foi seu principal combus-
tível para se desenvolver, estudar os 
seus erros e obter a confiança para 
perseverar. Alguns adversários são 
mais do que simplesmente rivais, 
eles podem proporcionar indireta-
mente as condições para a evolução 
de um atleta. Se a derrota equivale 
ao fracasso, nunca se ganhará a ba-
talha da confiança com esse tipo de 
crença (Rolo e Haan, 2009).
Desempenho sob pressão
Controlar a ansiedade nos mo-mentos mais difíceis é com-
portamento típico que ocorre 
durante as competições e que, na-
turalmente, põe pressão em quem 
está atuando. Todo atleta, antes 
do início de uma partida, sente-se 
ansioso, agitado, apreensivo de que 
possa acontecer algo inesperado. 
Não é adequado que essas sensações 
cresçam e se tornem amedrontado-
ras a ponto de não conseguirem 
realizar plenamente suas capacida-
des. Aceitar que a ansiedade é ine-
vitável na competição e saber que 
pode lidar com ela são habilidades 
essenciais para recuperar o controle 
Um erro pode ocasionar uma avalanche de 
sentimentos negativos e levar à derrota. Saber 
retornar desses momentos, que são frequentes, dos 
jogos é uma habilidade que pode ser diferencial para 
uma decisão e até para a carreira de qualquer atleta
���G��G�
��I��I����Gh�����
�������G
������������
����G�I������h��\���G�
G�������G���G������������������������I`������
��
�����������
����
G�����������GHG���
d o s
s i ê
40 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
A percepção é basicamente uma capacidade 
cognitiva, que faz reconhecer o mundo 
ao redor através dos sentidos (visão, tato, 
olfato, audição, paladar). Portanto, para perceber 
alguns eventos que nos cercam, o cérebro 
utiliza diferentes tipos de atenção
vida. Na resiliência, a motivação é 
componente primordial de todo o 
processo de superação.
Autoconfiança
Confiar em si mesmo e na equi-pe é uma habilidade que deve 
ser desenvolvida. Quem não a pos-
sui dificilmente consegue se dar 
bem no esporte competitivo. Au-
toconfiança é diferente de sober-
ba; é entender que o atleta possui 
qualidades e também limitações, 
é saber utilizar as qualidades nos 
momentos negativos e trabalhar as 
limitações nos treinos. 
Assim como saber perder, apren-
der com as derrotas é uma lição im-
portante, valorizar e usufruir das vi-
tórias também é um comportamento 
que estimula a autoconfiança. Nos 
momentos de crise e adversidade é 
necessário se lembrar das sensações 
da vitória, do prazer proporcionado 
ao conseguir um objetivo.
Pensar positivo, ter uma atitu-
de positiva, verbalizar coisas po-
sitivas são fatores tão importantes 
em treino quanto em competição. 
Essas ações repercutem no corpo, 
deixando-o mais relaxado e equi-
librado para executar os movimen-
tos necessários (Samulski, 2008). 
Corpo e mente estão interligados e, 
por isso, as atitudes negativas tam-
bém ref letem em nossos músculos. 
Como consequência, entre outrosaspectos, ocorrem desequilíbrio e 
diminuição da performance.
Em competição, quanto mais 
enfrentam adversidades, mais po-
sitivos têm que ser para construir 
psicológico na sequência de aconte-
cimentos inesperados ou distrações 
(Samulski, 2008). Superar o medo 
– ele é uma emoção natural do ser 
humano e pode ser controlado.
O psicólogo do esporte cana-
dense, Garry Martin, ensina que, 
para eficácia dos aspectos psicoló-
gicos – quando eles são transferidos 
para o ambiente das competições 
–, os treinos devem ser o mais se-
melhante possível às exigências 
durante o torneio. É importante 
treinar taticamente, mas deve ser 
dado tempo para treinar questões 
mentais. Como isso pode ser feito? 
Simulando condições típicas com-
petitivas, treinos mais intensos, 
com jogadores sendo mais agressi-
vos, atletas realizando funções di-
ferentes das habituais, com torcida 
a favor ou contra, com ruído e som 
alto, com placares adversos etc. Na 
preparação para os Jogos Olímpi-
cos de Pequim 2008, a equipe de 
badminton chinesa utilizou muitos 
treinos simulados, principalmente 
com o ginásio lotado, para ensinar 
aos seus atletas como lidar com a 
pressão da torcida e a adversidade 
de um jogo, já que esse esporte é um 
dos mais populares na China. Por-
tanto, a pressão pelo ouro olímpico 
seria inevitável. Os atletas chineses 
não decepcionaram: levaram todos 
os ouros da modalidade.
Mesmo os grandes gênios do 
esporte, em algum momento da car-
reira, tiveram obstáculos e percalços 
e precisaram se superar para recon-
duzir sua trajetória. Essa caracterís-
tica é chamada de resiliência, termo 
que, assim como a palavra estresse, 
vem da Física, e a Psicologia em-
prega para designar o indivíduo 
que consegue ultrapassar grandes 
adversidades, resistir às pressões e, 
com muito esforço, reconduzir a sua 
Œ�Modalidade mental Œ
O tênis é considerado uma modalida-
de esportiva na qual a parte mental é 
uma de suas principais armas. Neste 
cenário, o sérvio Novak Djokovic vem 
se consolidando como principal des-
taque. O número 1 do ranking mundial 
admite que investe no fator psicológi-
co, fazendo uso de uma “abordagem 
holística”, como ele mesmo define, que 
��I���� G� ��P��IG� 
����
��Gh�� �� ���G9�
além, é claro, de hábitos alimentares 
específicos e treinamento intensivo.
*�
��G
���	��G�
���������b���G�����€���
��G���������G�IG�����G9����
�������������
��
�����Gh��
�G����
G��G
�����
G
��d�\����������
I�G�G�
���������I�G
www.portalcienciaevida.com.br
P
sic
o
lo
g
ia n
o
 e
sp
o
rte
 41
O psicólogo do esporte 
Garry Martin ensina 
���9��G�G��‚IPI�G�
���
aspectos psicológicos, 
os treinos devem 
ser semelhantes às 
exigências do torneio. 
É importante treinar 
taticamente, mas deve 
ser dado tempo para 
treinar questões mentais
de esforço, por exemplo: ter uma 
boa atitude durante o jogo; manter-
-se confiante nos momentos difí-
ceis; usar a agressividade positiva-
mente sem deslealdade. Esse tipo 
de meta é mais fácil de executar, 
depende exclusivamente do indiví-
duo. As metas por resultados (ga-
nhar um torneio, chegar às quartas 
de final, golear um adversário, por 
exemplo) são mais complexas de se 
atingir, pois não dependem funda-
mentalmente do indivíduo, mas de 
outras variáveis que não podem ser IMAG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K 
confiança e autoestima. A confian-
ça está relacionada diretamente ao 
êxito percebido. Então, muitas ve-
zes os atletas só acham relevantes as 
vitórias, quando o mais importante 
é a atitude durante a competição. 
Ou seja, há jogos que se vence jo-
gando mal e outros que se é derro-
tado jogando bem (Gallwey, 2004).
Motivação
É possível definir motivação basi-camente como os motivos que 
levam às ações em busca das metas 
em todos os aspectos da vida. Pode 
ser exemplificada também como a 
direção e a intensidade dos esforços. 
Motivação é uma “energia psicoló-
gica” que faz com que a pessoa se 
comporte de determinadas maneiras. 
Para saber o que motiva é imprescin-
dível ter autoconhecimento. Portan-
to, quando se fala em motivação não 
existe “receita de bolo”, pois ela é 
pessoal, individual e exclusiva. Não 
há motivação sem busca por metas.
Segundo Samulski (2008), as 
metas podem tornar os sonhos e 
DESEMPENHOS FÍSICO E MENTAL
 PARA SABER MAIS 
E
studar os comportamentos de todos que estão, de alguma forma, envol-
vidos no universo esportivo e de exercícios físicos é o objetivo central da 
+��I�����G�
�� ������:�+G�G�����9������‚�����G���������
�
�IG�O�
��I�����G����I��G�
entender de que forma os fatores mentais interferem no desempenho físico, 
além de compreender como a participação nessas atividades afeta o desenvol-
vimento emocional, a saúde e o bem-estar de uma pessoa que atua nesse am-
biente. A Psicologia do Esporte é uma ciência relativamente nova, que tem pres-
tado relevantes serviços para a otimização da performance de atletas e equipes. 
Oferecer aos esportistas de alto rendimento apoio psicológico é tão importante 
quanto proporcionar uma alimentação saudável e balanceada, programada por 
um nutricionista. Isso porque o corpo físico e o mental são duas faces da mesma 
���
G
��������I������G��G���hÔ�:���������hG����‚�����G���G����������������P�
relacionada aos esportes de alto rendimento. Entretanto, outras áreas de atuação 
podem ser exploradas: práticas de tempo livre (atividade física como manuten-
ção da saúde); esporte escolar (cuidar da relação do praticante com o ambiente 
escolar); iniciação esportiva (crianças e jovens envolvidos em atividades peda-
gógicas e esportivas) e reabilitação (recuperação psicológica de lesões).
*�����G�����������������G����HG���Gh��
��I���G���������G�����������G����9�
P�������I�������G�
�������������������G
����9���������9�G��G����
������G���G���G�H\����ƒ����������������b�I����
ambições profissionais palpáveis, 
desde que se faça algo para alcan-
çá-los. É preferível, do ponto de 
vista psicológico, que se pretenda 
alcançar metas de atuação em vez 
de resultados. As metas de atuação 
podem ser controladas. Os resulta-
dos, não. As metas de atuação são 
d o s
s i ê
42 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
���‚G��������������
e na equipe é uma 
habilidade que deve 
ser desenvolvida. 
Quem não a possui 
�‚I��������I��������
se dar bem no 
esporte competitivo. 
����I��‚G�hG�\�
diferente de soberba; 
é entender que o atleta 
possui qualidades e 
também limitações
pensamentos sejam negativos com 
relação a si mesmo.
É importante os atletas desen-
volverem um repertório grande de 
variação de jogadas e ter paciência 
para colocá-las em prática nos mo-
mentos adequados. Nem sempre o 
estilo de jogo de uma equipe irá se en-
caixar com o do adversário. Ter cora-
gem de arriscar pode ser fundamental 
quando estiver numa situação como 
essa. Jogar com simplicidade também 
ajuda. Inteligência não é sinônimo de 
belas jogadas. Em muitos momentos, 
fazer o básico para marcar um ponto 
pode ser a estratégia mais adequada.
Disciplina
Habilidade e talento, por si só, não são os únicos requi-
sitos para uma carreira vitoriosa. 
É necessário ter muita disciplina. 
Michael Jordan disse certa vez que 
90% são transpiração, e 10%, ins-
piração. Pelé, frequentemente, co-
menta que, após as rotinas diárias, 
ele ficava mais tempo treinando 
faltas com a sua perna esquerda (ele 
é destro) e cabeceio (que ele dizia 
ser seu pior fundamento).
seus pontos fracos (deixe isso para 
os treinos). Devem pensar nos pon-
tos positivos de seu jogo, tendo por 
base os pontos fortes, ou seja, abusar 
de suas jogadas de confiança. Quan-
to mais positivo for durante a com-
petição, melhor, mesmo que seus 
UM FENÔMENO PSICOLÓGICOPARA SABER MAIS 
Rei do Futebol e Atleta do Século são alguns dos inúmeros adjetivos uti-���G
����G�G�
�‚�������G�������G�G�������H���
�� 
������G�����
��)G�I�-
mento, o Pelé. Colecionador de títulos e recordes, ele, hoje com 75 anos, 
além de ser conhecido em todo o planeta, é unanimidade quando se fala no 
melhor jogador de todos os tempos. Contudo, não são apenas os fatores 
físicos e técnicos que pesaram na vitoriosa carreira do ídolo. Psicologica-
mente, Pelé também era um craque. Quem atesta a tese é Tostão, também 
ex-jogador e seu companheiro de equipe na seleção brasileira, campeão 
���
�G�� ���(\��I�9� ��� <DB;:� )�� G��� ������� I��������� B;� G���9�.����9�
que é médico, homenageou o Rei em sua coluna publicada no jornal Folha 
de S.Paulo. Em um dos trechos, ele disse: “Do ponto de vista psicológico, 
Pelé também era um fenômeno, seus níveis de concentração, atenção e ati-
vação eram extremos. Possuía um grande equilíbrio emocional e controle da 
ansiedade. Sabia o momento exato de canalizar sua raiva e agressividade. Ele 
não se abalava com os adversários e adversidades e se motivava ainda mais 
I��������G�
���
��G‚��:�+��\� �������G����G���������G�I���I�È�I�G�
����G��
habilidades e treinava as mesmas exaustivamente, era um perfeccionista. Por 
um conjunto complexo de fatores (biológicos, genéticos, psicológicos, cog-
nitivos, intelectuais e ambientais) Pelé é o Rei do Futebol”, conclui.
controladas e a probabilidade de 
frustração é muito alta.
Respeito
Respeitar o adversário, as regras do jogo, o fair play, o ambiente 
competitivo, os horários das parti-
das, os árbitros, assistentes e cola-
boradores deve ser uma obrigação 
para qualquer atleta. Ser leal com 
seus adversários e com o público 
que está prestigiando. O respeito, 
mais do que uma habilidade, é um 
valor moral. Os atletas são pessoas 
que têm o poder de influenciar a 
conduta de crianças e jovens e nem 
sempre compreendem esse papel 
que exercem na sociedade.
Inteligência tática
Saber ler as nuances do jogo do adversário, seus pontos fortes e 
fracos, e utilizar estratégias para mi-
nimizar as jogadas dele. Isso é inte-
ligência tática. Em competições, os 
jogadores deveriam evitar focar em 
+G�G�I�����������G�IG�����G���������G����
HG��G������GH���
G
�����G�����:�*������
��
HG������9�(�I�G���%��
G�9�
���������D;����
��G�����GhÔ�9���<;Ú9�������GhÔ�
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 43
P
s
ic
o
lo
g
ia
 n
o
 e
s
p
o
rte
Motivação é uma “energia psicológica” 
que faz com que a pessoa se comporte de 
determinadas maneiras. Portanto, quando se 
fala em motivação não existe “receita de bolo”, 
pois ela é pessoal, individual e exclusiva
Treinar com intensidade, cuidar 
da alimentação e dormir bem são 
fundamentais para qualquer atleta. 
O treinamento esportivo nada mais 
é do que repetição de exercícios.
Espírito de luta
Há um estudo que diz que, para ser especialista em 
qualquer área, são necessárias 10 
mil horas de prática. Portanto, 
isso leva anos para ser adquirido. 
Infelizmente, algumas coisas terão 
de ser deixadas de lado em algum 
momento na carreira esportiva. Às 
vezes, o lazer, a convivência com 
os amigos e até com familiares. 
Porém, todos os seres humanos ne-
cessitam de momentos de relaxa-
mento e de descanso (físico e men-
tal). Entregar-se a eles faz parte de 
uma atitude disciplinada. Desligar 
do esporte nessas ocasiões e apro-
veitar para fazer algo que não faz 
com tanta frequência.
de intensidade elevada e de energia, 
que se alimenta essencialmente de 
suas emoções positivas. Os senti-
mentos de entusiasmo, inspiração, 
decisão e desafio são um ponto cen-
tral para se desenvolver nessa habi-
lidade. Os treinamentos servem de 
termômetro para as competições, 
ou seja, não há fórmula mágica. 
Quanto mais semelhantes os trei-
nos forem das competições, melhor. 
Dessa maneira, muitas característi-
cas aqui apresentadas podem ser fa-
cilmente transferidas para a vida. O 
treinamento sem qualidade não ca-
pacitará ninguém a competir bem. 
E viver é um eterno treinamento, 
não é mesmo?
Œ�!G�����G��Œ
�� ��������� �G��� ��G�� �������IG� 
����
limpo, ter espírito esportivo. Seu con-
ceito está vinculado à Ética no meio 
esportivo, onde os praticantes devem 
sempre procurar atuar de forma a não 
prejudicar o adversário de maneira 
proposital. O termo, porém, vem sen-
do utilizado em praticamente todos os 
segmentos da sociedade moderna e 
assume o significado de trabalhar ou 
apresentar uma conduta de acordo 
com padrões éticos e morais.
Alguns comportamentos po-
dem ser sinônimo de espírito de 
luta: garra, atitude, intensidade, 
coragem, jogar do primeiro ao úl-
timo minuto com a mesma gana e 
energia, manter uma situação emo-
cional construtiva quando as coisas 
vão mal, acreditar em seu potencial.
Para Loehr (1990), treinar e jo-
gar com intensidade é uma habilida-
de que requer repetição. Os atletas 
terão o melhor de seu desempenho 
quando puderem manter um estado 
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K 
REFERÊNCIAS 
&���G�G����(G�����:�������G�Gh�����I��`��IG�I����I����������
�������G���������HG������H��:�
$�d����	����%�:���.��I����9�Basquetebol: ��G������������G
G�������I��I�G�����P��IG:�(G����� 
:9�=;;@:
�������G�	���9��G�����#GG�:�Treino mental no tênis:�����G�\��G����P��IG���G�G�����I����:�=;;D:
	�H����1���H���e��G�����"���
:�Fundamentos da Psicologia do Esporte e Exercício.� 
:�
�����
9�=;;<:
"G����(G����:�Consultoria em Psicologia do Esporte:� 
:�$��:9�<DDB:
�����G��-G������:�Treinamento mental no tênis:�I����
�����������G���GH���
G
�������G��:� 
:�
(G����9�=;;C:
%G���� :�'����:�El juego mental.� 
:�.����9�<DD;:
1:�.:�"G�����:�O jogo interior de tênis. 
:�.����9�=;;?:
/������
������
������9��G�G�����
����I�G����G������G������P��G9����
��I���P��G��<;��������G��
����P��IG:� 
+G�G�G�+��I�����G�
����������9������Gh�� 
��
�������Gh��������
G�������
�����I�G����G�G�G��I�������G�
d o s
s i ê
44 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
No esporte dizem que 90% do desempenho são mental. Quantas ve-zes, em conversas sobre 
competições esportivas, já ouvimos 
a frase “está tudo na cabeça”? Mesmo 
assim, treinadores e atletas passam a 
maior do tempo, esforço e dinheiro 
realizando treinos físicos e técnicos, 
deixando pouquíssimo espaço para o 
chamado jogo mental. A importância 
de uma mente clara e focada é muitas 
vezes subestimada. E uma mente que 
não está sob controle está mais pro-
pensa a erros que, muitas vezes, podem 
custar uma partida ou até uma final. 
Além disso, o estresse, a ansiedade e a 
pressão sob as quais atletas são subme-
tidos constantemente ocasionam em 
falta de atenção, concentração, perda 
das habilidades motoras e falência.
Entretanto, a quantidade correta 
de estresse e ansiedade controlados 
pode manter o atleta em um estado 
mental ideal, chamado de “zona”, que 
consiste em estar totalmente focado e 
presente no momento. Psicólogos do 
esporte afirmam que não estar “pre-
sente no momento” é o que provoca 
confusão mental. Isto é, quando, du-
rante uma competição, o atleta pensa 
em eventos passados ou nas consequ-
ências da derrota, a confusão mental 
se instala pela falta de foco no momen-
to presente, prejudicando o desempe-
nho. Ao contrário, um atleta focado no 
momento presente e livre de padrões 
mentais negativos e medos tem mais 
chance de vencer.
Como consequência, tem se tor-
nado cada vez mais comum entre 
atletas a realização de rotinas mentais, 
como visualizações, ensaios, autover-
balização e relaxamentos para ajudá-
-los a superar distrações, estados psi-
cológicos desfavoráveis e desenvolver 
prontidão mental.
Os pesquisadores Michael 
Greenspan e Deborah Feltz, das Uni-versidades Estaduais do Arizona e de 
As práticas contemplativas e suas variadas técnicas estão ajudando 
atletas de alto rendimento a melhorarem o desempenho esportivo, 
por intermédio de um trabalho que enfatiza o aspecto mental
Michigan, respectivamente, conclu-
íram, em uma revisão sobre o tema, 
que as intervenções baseadas em re-
laxamento e reestruturação cogniti-
va são altamente eficazes na melhora 
de desempenho esportivo. Segundo 
os autores, essas estratégias de coping 
permitem que os atletas dirijam o foco 
para as sensações internas do corpo, 
como a respiração, resultando em me-
lhores desempenhos competitivos.
Enquanto as rotinas mentais pa-
recem de fato influenciar o desem-
penho atlético, o mecanismo exato 
pelos quais elas funcionam ainda não 
está claro. Em um estudo clássico 
com medalhistas olímpicos, a equi-
pe do pesquisador Daniel Gould, da 
Universidade Estadual de Michigan, 
registrou que os atletas utilizam as ro-
tinas mentais como modo de chegar 
a um estado mental ideal e que 53% 
dos atletas entrevistados sobre seus 
piores desempenhos disseram não ter 
aderido às rotinas mentais. De acordo 
com os pesquisadores, a habilidade de 
regular o estado de excitação, chama-
do de arousal, parece influenciar dire-
tamente o desempenho atlético. Essa 
excitação (arousal) refere-se a quão 
ativado emocionalmente um atleta se 
torna antes ou durante a competição. 
As rotinas mentais parecem, desse 
A importância 
do %*"*�( ).�'
Por Camila Ferreira Vorkapic 
�G���G�!������G�0���G��I�\��������G
��G�
�����������������������^‚I��	�����G��!G����I­�)+����
pesquisadora do Laboratório de Biociências da Motricidade Humana (LABIMH), na Universidade 
.��G
������‡- ˆ9���
��'GH��G�`����
��)����‚�������G�
G�/�������
G
��!�
��G��
��-�������‡- ˆ:�������G�
em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós-doutora em Ciências da Saúde 
pela Universidade Federal de Sergipe e autora do livro Mindfulness, Meditação,Yoga e Técnicas 
��������G���G�d����"��G�
������IGh€�����
��+�P��IG�+����G���G�G�+��‚�����G���
��-Gb
� (Ed. Cognitiva). 
É coordenadora da Rede de Estudos Interdisciplinares em Neurociências (REIN), em Sergipe.
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 45
P
s
ic
o
lo
g
ia
 n
o
 e
s
p
o
rte
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K 
/W
IK
IP
ED
IA
A habilidade de regular o estado de excitação, 
I�G�G
��
��G����G�9��G��I����ƒ���I�G��
����G������
o desempenho atlético. Essa excitação (arousal) 
refere-se a quão ativado emocionalmente um atleta 
se torna antes ou durante a competição
modo, ajudar na ativação de um es-
tado de excitação mais apropriado à 
performance, regulando expectativas, 
confiança, concentração e atenção, e 
o próprio nível de excitação durante a 
competição esportiva.
Esporte Zen
As últimas décadas de pesquisas mostram que psicólogos do es-
porte e preparadores têm utilizado 
rotinas mentais especiais para me-
lhora do autocontrole e autorregula-
ção emocional. Ao invés de contro-
lar ou rejeitar experiências internas, 
essas rotinas enfatizam uma consci-
ência atenta e não crítica, aceitação, 
atenção, concentração, relaxamen-
to e técnicas de respiração, como 
modo de melhorar o desempenho 
competitivo. O yoga, que inclui a 
meditação, é o único método capaz 
de desenvolver todas essas variáveis 
ao mesmo tempo.
O yoga é um sistema milenar de 
práticas mente-corpo que se originou 
na Índia há mais de 2.000 anos e foi 
descrito sistematicamente a poste-
riori (Yoga Sutras de Patanjali, cerca 
de 900 BC.). Envolve a utilização de 
técnicas diferentes como posturas 
(asanas), respiração controlada (pra-
nayamas), relaxamento consciente e 
profundo (yoganidra) e meditação. 
De acordo com a dra. Shirley Telles, 
uma das maiores pesquisadoras do 
tema e diretora de pesquisa do Pa-
tanjali Research Foundation, em Ha-
ridwar, na Índia, essas técnicas têm 
efeito específico no estado psicológi-
co das pessoas. Em uma revisão sobre 
yoga e saúde mental, ela relatou que 
Apesar da importância da concentração e do desempenho mental no esporte, os maiores investimentos continuam a ser nos treinamentos 
físicos e técnicos
d o s s i
ê
46 psique ciência&vida
EXIGÊNCIAS EXTERNAS E INTERNAS
 PARA SABER MAIS 
A tradução literal do verbo to cope, do inglês, pode ser descrita como lu-tar, competir com sucesso ou em igualdade de condições. Seu signifi-
cado pode ser, ainda, a ação de lidar de maneira adequada com uma situa-
ção, superando as adversidades ou os limites que essa situação apresenta. 
Em Psicologia, mais especificamente na Psiconeuroimunologia, área científica 
interdisciplinar que desenvolve uma abordagem tratando o ser humano como 
unidade indissolúvel de corpo e mente, o coping é estudado, principalmente, 
na relação com o estresse, sendo definido como tentativa ou empenho para 
lidar com exigências externas (do ambiente) ou internas (do próprio sujeito) 
observadas como sobrecarregando ou excedendo os limites e recursos da 
pessoa. Fatos estressantes ocorrem o tempo todo na vida das pessoas, que 
podem ser definidos como pequenas contrariedades do cotidiano, como a fila 
longa no banco, engarrafamentos no trânsito, a nota baixa do filho na escola e 
acontecimentos desse tipo, aparentemente sem grandes consequências, mas 
que trazem aborrecimentos. Curiosamente, fatos positivos também são con-
siderados estressantes, como o encontro com um parceiro amoroso, a notícia 
da aprovação do filho no vestibular ou um elogio inesperado no trabalho, por 
�������:�)�����������G�����G��G
�����I������G�
��cope. Pesquisas apontam 
duas categorias de estratégias básicas de coping: direcionadas para a resolu-
ção do problema e as orientadas para a regulação da emoção.
Aceitar e lidar 
apropriadamente 
com pensamentos 
e sentimentos 
negativos, assim 
como experimentar 
um estado mental 
correto durante as 
competições, é a 
diferença entre 
ganhar e perder
os estudos mostram melhoras signifi-
cativas na autorregulação emocional 
com consequentes reduções nos ní-
veis de ansiedade e estresse e melho-
ras na atenção, concentração, humor, 
qualidade de vida e bem-estar.
Hoje, práticas contemplativas 
como yoga e meditação mindfulness 
vêm sendo cada vez mais utilizadas 
no esporte como parte do treinamen-
to mental de atletas. Tais práticas têm 
sido úteis na aceitação de sentimentos 
negativos e pessimistas e no desen-
negativos, assim como experimentar 
um estado mental correto durante as 
competições, é a diferença entre ga-
nhar e perder. Os pesquisadores Amy 
Gooding e Frank Gardner, do Depar-
tamento de Psicologia da Universidade 
Kean, nos Estados Unidos, descobri-
ram que, na verdade, atletas medianos 
e de elite experimentam níveis simila-
res de ansiedade, mas a diferença está 
na maneira pela qual os atletas de elite 
interpretam a ansiedade pré-competi-
tiva como facilitadora. Sendo uma for-
ma específica de excitação (arousal), a 
relação entre ansiedade e desempenho 
competitivo tem sido bastante estuda-
da ultimamente. Os autores afirmam 
que uma experiência emocional requer 
uma interpretação cognitiva do nível 
de excitação. Outra possibilidade é que 
o desempenho dependa de estratégias 
de coping, como a confiança do atleta 
em lidar com a ansiedade e a percepção 
das demandas específicas do esporte. 
Com o tempo, através de experiências 
negativas e positivas, o atleta pode 
volvimento de habilidades emocio-
nais específicas necessárias durante 
uma competição esportiva.
Aceitar e lidar apropriadamen-
te com pensamentos e sentimentos 
A confusão mental se instala pela falta de foco no momento presente e um atleta focado e 
livre de padrões mentais negativos tem mais chance de vencer
www.portalcienciaevida.com.brpsique ciência&vida 47
Psicolog
ia no
 espo
rte
Œ�Reestruturação cognitiva Œ
A chamada reestruturação cognitiva 
é um processo psicoterapêutico que 
busca o aprendizado da identificação 
e da contestação de pensamentos irra-
cionais ou não adaptativos, conhecido 
como distorções cognitivas, como por 
exemplo clivagem, pensamento mági-
co, filtragem, excesso de generalização, 
magnificação e raciocínio emocional, 
frequentemente associados.
�G�������I���G�
G����P��IG��I�������G���G�9�
é possível que atletas lidem melhor com 
pensamentos negativos por estarem 
mais presentes. Prestando plena atenção, 
exercem menos esforço na tentativa 
de controlar e reduzir cognições e emoções
treinar o reconhecimento do nível de 
excitação apropriado (e, consequente-
mente, ansiedade) e ajustá-lo às neces-
sidades competitivas.
Da perspectiva das práticas con-
templativas, é possível que atletas de 
elite lidem melhor com pensamentos 
e sentimentos negativos por estarem 
mais presentes no momento. Pres-
tando plena atenção (mindfulness) 
e se tornando mais conscientes du-
rante o desempenho, esses atletas 
exercem menos esforço na tentativa 
de controlar e reduzir cognições e 
emoções. Na verdade, é exatamente 
o contrário, são capazes de desempe-
nhar suas tarefas competitivas com 
quaisquer cognições e emoções que 
estejam experimentando.
Contribuição
Apesar da sugestiva relação entre práticas de mente-corpo e trei-
namento mental de atletas, poucos 
estudos observaram o impacto dessas 
rotinas no estado psicológico dos atle-
tas e no desempenho esportivo. Além 
disso, a maioria dos estudos utiliza ex-
clusivamente técnicas de mindfulness 
ou estratégias baseadas em mindful-
ness para esse propósito.
mento de uma observação desapegada 
dos conteúdos da consciência, podem 
representar uma poderosa estratégia 
comportamental de coping para se li-
dar com o estresse, a ansiedade e pen-
samentos negativos no esporte. No en-
tanto, poucas pesquisas investigaram 
o efeito dessas práticas no estado men-
tal de atletas. Alguns estudos observa-
ram níveis reduzidos de ansiedade e 
estresse e melhores desempenhos em 
arqueiros, jogadores de basquete e de 
futebol após a utilização de interven-
ções baseadas em mindfulness (para 
uma revisão, consultar os artigos na 
seção Para saber mais).
Pesquisadores afirmam que as téc-
nicas contemplativas ajudam a treinar 
o córtex pré-frontal, a parte do cérebro 
responsável por criar o estado mental 
de calma e alerta, mantendo os atletas 
focados, sem distrações e com o me-
lhor desempenho possível. De acordo 
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K 
/A
RQ
UI
VO
 P
ES
SO
AL
Pesquisas constatam queda no nível de estresse e melhores desempenhos em arqueiros, 
jogadores de basquete e de futebol após intervenções de mindfulness 
Mindfulness é um tipo de aten-
ção focada, uma “percepção ou cons-
cientização não crítica do momento 
presente”, que pode ser desenvolvida 
através de técnicas contemplativas 
e até artes marciais. A Psicologia do 
Esporte tem utilizado intervenções 
baseadas em mindfulness como rotina 
mental para melhorar o desempenho 
e o humor geral dos atletas. A técnica 
de concentração na respiração, por 
exemplo, uma das práticas de min-
dfulness, ajuda a reduzir a ruminação 
mental. Uma mente ruminante é uma 
mente fora de controle. E quando se 
tem 30 segundos para decidir uma 
partida, a última coisa que um atleta 
quer é uma mente confusa.
De modo específico, técnicas 
de meditação mindfulness, um com-
ponente de práticas contemplativas 
como o yoga, que foca na percepção 
e na atenção plena para o desenvolvi-
d o s s i
ê
48 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Œ�Referência nas pesquisas Œ
�� ����������������G� G���IG�G� -�������
Telles é uma referência nas pesquisas 
que investigam os efeitos terapêuticos 
�����G���
G���
��Gh����H���G�������
e o corpo. Nascida em Nairóbi, no Quê-
nia, e radicada na Índia, defende a eficá-
cia comprovada dos meios naturais de 
contornar o estresse. Desenvolveu seu 
trabalho e aplicou seus conhecimentos 
em casas de correção infantojuvenil, 
moradias de idosos, empresas de tec-
nologia, pacientes esquizofrênicos e 
sobreviventes de tragédias naturais.
����G��
G���������G����Gh����������P��IG�� 
de mente-corpo e treinamento mental 
de atletas, poucos estudos observaram o 
impacto dessas rotinas no estado psicológico 
dos atletas e no desempenho esportivo
com a dra. Kristen Race, fundadora do 
blog Mindful Life e autora do Mindful 
Parenting, nos Estados Unidos, a capa-
cidade de observar os pensamentos e 
emoções desapegadamente reduz sig-
nificativamente os níveis de cortisol 
sanguíneo, o chamado “hormônio do 
estresse”. Além disso, a capacidade de 
direcionar a atenção para dentro ati-
va uma área do cérebro chamada de 
ínsula, resultando em maior sensação 
de consciência do próprio corpo e me-
lhorando a comunicação entre mente 
e corpo. O resultado disso é que os 
atletas percebem melhor as mudan-
ças fisiológicas, como uma respiração 
muito superficial ou um músculo ten-
sionado, e podem rapidamente fazer 
os ajustes apropriados, mesmo antes 
de saber conscientemente o que está 
acontecendo e de esses fatores impac-
tarem no desempenho.
No Brasil
No Brasil, um estudo da autora com lutadores profissionais de 
jiu-jítsu observou redução nos níveis 
de ansiedade, fadiga, tensão e raiva 
após utilização de uma intervenção 
baseada em técnicas de yoga (YBIS). 
Pesquisas que envolvem práticas de 
yoga, e não somente mindfulness, 
ainda são minoria, mas também 
possuem potencial positivo de resul-
tados. Enquanto posturas (asana), re-
laxamento profundo (yoganidra – co-
nhecido em mindfulness como body 
scan) e meditação são parte de quase 
todas as intervenções de mindfulness, 
o yoga compreende outras técnicas, 
como as respiratórias (pranayama), 
que não estão incluídas em mindful-
ness, mas que parecem desempenhar 
papel importante na regulação do 
humor. Por exemplo, uma equipe de 
pesquisadores italianos, comandada 
pela dra. Daniele Martarelli, da Uni-
versidade de Camerino, na Itália, ob-
servou que os níveis de cortisol, au-
mentados após o exercício em atletas, 
estão relacionados ao estresse oxida-
tivo (aumento de radicais livres) e 
podem ser revertidos após respiração 
diafragmática (pranayama). Essa es-
tratégia ajuda a regular os níveis de 
cortisol, sugerindo efeitos no estresse 
e na ansiedade. Além disso, a respira-
ção profunda envia sinais ao sistema 
nervoso simpático que, por sua vez, 
reduz os batimentos cardíacos. Não 
Imagem - Jacques Lacan
ANÚNCIO DU
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 49
Psicolog
ia no
 espo
rte
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K/
W
IK
IP
ED
IA
 
REFERÊNCIAS 
"������G�9�(:�%:e�!����9��:�!:�+��I������IG���������������������G�����������I���������������G�����d�G�
������:�.���-�����+��I��������9��:�>9��:�>9��:�=<D¢=>A9�
"���
9��:e� ����
9�	:��:e�%GI����9�-:�/:-:�*�����I�������������I�����I�d�����G������G�G����9�
���I�����������I���������G�
�G���I�:�.���-�����+��I��������9��:�A9��:�>@C¢>C=9�
"���
9��:e�/
��9� :�+��I������IG����������������G�I�����������G�I�d�G����G�������G��������G������:�
Medicine and Science in Sports and Exercise9��:�=A9��:�?BC¢?C@9�<DD?:
"��
���9��:e�"G�
���9�!:������������G���������������G���������H����������
�������9����������������9�
G�
�HG����HG�����������������I���G��:�%����G����������IG��-������+��I������9��:�?9��:�>;>¢><D9�=;;D:
(G��G�����9��:e���II�����9�(:e�-I���9�-:e�+�����9�+:���G���G��G��I�H��G��������
�I�������I���¢��
�I�
�
���
G�����������:� ��
��I�¢�G��
�����������G���G�
�������G�����(�
�I���9��:�=;<<9�G������$��
D>=?>;9�
��d<;:<;D>¤�IG�¤���<AD:��G�G��H�G�G��G�9�(:e�.�����9�-:e����G���G��9�+:�(:�3��G�����������
�d�G�������G��I��������������G�����
��������I��G���I�
����
���:�!�����+��I��G���9��:�>9��:�<<B9�9�
��d<;:>>CD¤�����:=;<=:;;<<B:
é à toa que jogadores de basquete 
costumam respirar profundamente 
antes de lançar a bola. Eles o fazem 
intuitivamente, na tentativa de redu-
zir os batimentos cardíacos e conse-
quentemente a ansiedade, que pode-
ria custar os pontos de uma cesta.
A pesquisa sobre a relação entre 
técnicas contemplativas e treina-
mento mental na preparação de atle-
tas é um campo emergente, e pouco 
ainda se sabe sobre como o cérebro 
funciona nesse sentido. No entanto, 
as pesquisas de fato observam me-
lhoras no estado mental e no desem-
penho esportivo dessa população. 
Tais práticas comprovadamente re-
duzem o estresse e a ansiedade, co-
nectando o indivíduo ao momento 
presente e criando uma mente mais 
resiliente. E estas, definitivamente, 
são as características mentais dos 
verdadeiros campeões.
O psicólogo do esporte e profes-
sor de meditação George Mumford 
trabalhou nas equipes de basque-
te norte-americanas do Chicago 
Bulls, durante os anos de Michael 
Jordan, e no Los Angeles Lakers. 
Atualmente é consultor de diversos 
atletas e times de esportes diversos. 
Nas palavras de Mumford: “Você 
precisa focar em si mesmo. É muito 
mais difícil conquistar a si mesmo 
que aos outros. Isso é o mais difícil 
que temos que fazer, mas também 
o mais benéfico. Tudo acontece no 
momento presente. Esse momento 
é tudo o que temos. É somente no 
momento presente que podemos 
mudar as coisas. E você não está so-
mente mudando para si, você está 
fazendo isso por todos. Todos se 
beneficiam. Na vida ou no esporte, 
esse é o maior ato de altruísmo”.
Jogadores de basquete 
costumam respirar 
profundamente antes 
do lance livre e o fazem 
intuitivamente, na 
tentativa de reduzir os 
batimentos cardíacos e 
a ansiedade
UPLA JÚNIOR
50 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ciberpsicologia Por Igor Lins Lemos
O JOGO MUNDIALMENTE CONHECIDO 
TEM CONQUISTADO ADEPTOS E ABARCADO RELATOS 
INTERESSANTES NO SETTING TERAPÊUTICO
League of Legends: 
uma PAIXÃO PERIGOSA?
M
esmo aqueles que não são 
pesquisadores no campo da 
ciberpsicologia ou jogadores 
do League of Legends (LoL) já 
ouviram comentários sobre o jogo que 
dá título a esta matéria. O LoL é mun-
dialmente famoso, jogo do gênero Mul-
tiplayer Online Battle Arena (MOBA), no 
qual o papel dos jogadores, que jogam 
sempre em um time de cinco pessoas, é 
destruir uma construção localizada na 
base do time inimigo (chamada de ne-
xus). Mas qual a importância de trazer 
uma matéria sobre este game? A resposta 
é simples: trata-se de um jogo eletrôni-
co que tem uma média de 67 milhões 
de jogadores utilizando-o mensalmente 
e cerca de 27 milhões diariamente, de 
acordo com a Riot Games. Possivelmente 
este dado reverbera em outro: é o jogo 
mais comentado nos consultórios de psi-
cólogos e psiquiatras. 
Constantemente recebo pacientes 
e seus familiares que mencionam con-
mITOS�COM�O�USO�DO�,O,��$ESTA�FORMA��
trago o questionamento: o problema é 
o jogo eletrônico ou o jogador? Reforço 
que todo tipo de tecnologia é neutro, 
porém o usufruto positivo ou negativo 
será caracterizado por aquele que pra-
tica essa atividade. Um dos pontos que 
podem reforçar o uso problemático do 
LoL é a necessidade que os jogadores 
(especialmente aqueles em adoecimento 
psíquico) relatam de alcançar posições 
cada vez mais altas (existe um ranking 
neste jogo, altamente disputado). En-
tretanto, existe um importante critério: 
quanto mais vitórias, mais conquistas; 
quanto mais derrotas, mais quedas no 
ranking. Isso leva os jogadores (e pacien-
tes) ao seguinte raciocínio: “Se eu jogar 
E�GANHAR�SIGNIlCA�QUE�ESTOU�EM�UM�DIA�
favorável, então irei jogar mais vezes 
para continuar subindo no ranking”. De 
forma oposta: “Se eu perder é um mau 
sinal, preciso jogar novamente para po-
der recuperar as posições perdidas na 
partida anterior”. Essas frases lembram 
as cognições presentes em paciente 
com jogo patológico? 
Apesar de ser um jogo inserido, 
no âmbito clínico, nas narrativas de 
pacientes acometidos pelo transtorno 
do jogo pela internet, a matéria abar-
ca outro ponto: a paixão relacionada 
aos jogos eletrônicos. Vallerand et al. 
�����	� DElNEM�PAIXÎO� COMO� UMA� FOR-
te tendência de realizar uma atividade 
que gere prazer ao indivíduo, na qual 
o sujeito investe tempo e energia. Os 
pesquisadores comentam, também, que 
a paixão gera uma forte implicação na 
identidade, fazendo as atividades se 
tornaram parte do que nós somos. Os 
autores dividem essa paixão em dois 
tipos: a paixão harmônica e a paixão 
obsessiva. No primeiro tipo o sujeito 
consegue interromper uma atividade 
quando julga que ela é prejudicial para 
si (o que raramente é encontrado no co-
meço de tratamento de pacientes com 
transtorno do jogo pela internet); no 
segundo tipo o comprometimento está 
além do controle do indivíduo, já exis-
tindo interferências negativas nas ativi-
dades cotidianas. A consequência deste 
processo – complementam os pesqui-
sadores – é a persistência, que se torna 
rígida e presente mesmo em atividades 
que não geram sentimentos positivos e 
prejudicam os relacionamentos ou obri-
gações acadêmicas/laborais do sujeito 
(neste caso, o jogador).
Relacionando o LoL à paixão, Ber-
tran e Chamarro (2016) realizaram um 
estudo com 369 espanhóis que concor-
daram em preencher um questionário 
virtual. Os participantes tinham mais de 
16 anos e jogavam LoL periodicamente. 
A idade média dos sujeitos foi de 21,59 
anos (DP = 3,58) e a média de tempo 
de jogo por semana foi de 17,72 horas 
(DP = 12,46). Além das informações so-
CIODEMOGRÉlCAS�� O� TEMA� DA� PAIXÎO� FOI�
medido pela Passion Scale. Os resultados 
do estudo demonstraram que a paixão 
harmônica se torna uma protetora de 
consequências negativas. Do outro lado, 
a paixão obsessiva traz consequências 
negativas a esses jogadores. A pesquisa 
sugere que aqueles jogadores que apre-
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 51
SH
UT
TE
RS
TO
CK
 / 
AC
ER
VO
 P
ES
SO
AL
UM DOS PONTOS QUE PODE REFORÇAR 
O USO PROBLEMÁTICO DO LOL É A 
NECESSIDADE QUE OS JOGADORES 
(ESPECIALMENTE AQUELES EM ADOECIMENTO 
PSÍQUICO) RELATAM DE ALCANÇAR POSIÇÕES 
CADA VEZ MAIS ALTAS NO RANKING DO JOGO
o usufruto excessivo que pode, de fato, 
trazer lucros para o jogador, mas sim a 
caracterização patológica, quando este 
usufruto já trouxe prejuízos no âmbito 
Igor Lins Lemos é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento 
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia 
Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). 
É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das 
dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com
sentam sinais relacionadas a um possível 
adoecimento psíquico demonstram um 
funcionamento obsessivo em relação ao 
jogo eletrônico LoL. 
Os resultados do estudo, mencio-
nados anteriormente, estão em sintonia 
com o que observo frequentemente na 
prática clínica. Devido à existência do já 
mencionado ranking, muitos pacientes re-
velam que precisam se dedicar cada vez 
mais tempo para que possam ser mun-
dialmente reconhecidos e que se tornem 
parte de times que possam gerar lucro 
para si (existem campeonatos mundiais 
do jogo, com premiações milionárias). 
Não é incomum ouvir pacientes men-
cionando que já despenderam mais de 
3 mil horas neste jogo. Sou totalmente 
favorável para que os jogadores possam 
obter este tipo de reconhecimento, po-
rém minha preocupação é quandoesse 
uso está relacionado ao escapismo. Isso 
SIGNIlCA� QUE� O� PROBLEMA� MAIOR� NÎO� Ï�
Referências: 
BERTRAN, E.; CHAMARRO, A. Video gamers of League of Legends: the role of passion in abusive 
use and in performance. Adicciones, v. 28, n. 1, 2016. 
VALLERAND, R. J.; BLANCHARD, C.; MAGEU, G. et al. Les passions de l’ame: on obsessive and 
harmonious passion. Journal of Personality and Social Psychology, v. 85, n. 4, 2003.
acadêmico ou laboral, na família ou em 
RELACIONAMENTOS� AMOROSOS� E�� POR� lM��
nas cognições e emoções desse paciente. 
Isso é uma paixão saudável?
52 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
neurociência por Marco Callegaro
A atenção e os 
TRAÇOS da CRIATIVIDADE
DIFICULDADES DE PRESTAR ATENÇÃO EM ALGO 
DESINTERESSANTE PODE SER UM GRANDE PROBLEMA EM 
DETERMINADOS CONTEXTOS. PESSOAS QUE APRESENTAM 
TDAH MOSTRAM DIFICULDADES PARA SUPRIMIR ATIVIDADE 
CEREBRAL VINDA DA “REDE DA IMAGINAÇÃO”
um transtorno relacionado a três carac-
terísticas principais: a inatentividade, a 
impulsividade e a hiperatividade. 
Essas características nem sempre 
vêm juntas, podem se apresentar isola-
damente. Nem sempre a presença de um 
desses traços envolve necessariamente o 
diagnóstico de TDAH. Para complicar, 
essas características podem surgir em 
diferentes condições e não fazer parte 
do TDAH. O diagnóstico de TDAH está 
relacionado à presença desses traços, ou 
de alguns deles, desde cedo, como um 
padrão recorrente na vida escolar, social 
S
ERÉ� QUE� AS� PESSOAS� COM� DÏlCIT�
de atenção são mais criativas? 
Primeiro, vamos procurar en-
TENDER� BEM�O� QUE� Ï� hDÏlCIT� DE�
atenção”. Existe o TDAH, sigla com as 
iniciais do chamado “transtorno de dé-
lCIT�DE�ATEN¥ÎO�E�HIPERATIVIDADEv��QUE�Ï�
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 53
SH
UT
TE
RS
TO
CK
 / 
AR
QU
IV
O 
PE
SS
OA
L
O RACIOCÍNIO 
CRIATIVO ENVOLVE 
A HABILIDADE DE 
INFERIR RELAÇÕES E 
PERCEBER PADRÕES 
NOVOS E COMPLEXOS. 
CARACTERÍSTICAS 
QUE ESTÃO 
ASSOCIADAS AO 
DÉFICIT DE ATENÇÃO 
PODEM ESTIMULAR 
A CRIATIVIDADE 
Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, 
diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto 
Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo 
Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o 
Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).
Para saber mais: 
-I�����G����&G���G�9���H��IG
�����=<�
������H���
��=;<?���d������d¤¤H����:�I�����‚IG����IG�:
com/beautiful-minds/the-creative-gifts-of-adhd/ 
e familiar. No caso do TDAH, existem 
estudos com gêmeos idênticos mostran-
do que é alta a predisposição genética, 
pois quando um irmão gêmeo recebe o 
diagnóstico, a chance do outro irmão 
apresentar essa mesma condição é bem 
alta, cerca de 90%. Portanto, acredita-
-se que existam genes envolvidos na 
transmissão do TDAH. Vários genes 
INmUENCIANDO� VÉRIAS� CARACTERÓSTICAS�� OU�
transmissão poligenética.
No entanto, a forte herdabilidade do 
TDAH e sua alta incidência sugerem 
que existem alguns traços adaptativos 
misturados aos negativos, o que pode 
explicar a perpetuação desses genes 
nas populações humanas ao longo da 
evolução. Se essa hipótese estiver cor-
reta, seria de esperar encontrar algo de 
bom nas pessoas que têm essa condi-
¥ÎO�� 4ALVEZ� A�MESMA� CONlGURA¥ÎO� DE�
TRA¥OS� QUE� LEVE� AO� DÏlCIT� DE� ATEN¥ÎO�
contribua para traços positivos.
O psicólogo Scott Barry Kaufman 
acredita que existem características 
positivas que podem acompanhar o 
TDAH, em especial a criatividade. O ra-
ciocínio criativo envolve a habilidade de 
inferir relações e perceber padrões novos 
e complexos. Kaufman cita estudos onde 
FORAM�IDENTIlCADOS���� TRA¥OS�DE�PERSO-
nalidade recorrentes em pessoas criati-
vas. Seis traços eram “negativos”, como 
a impulsividade e a hiperatividade. No 
entanto, existiam 16 traços “positivos”, 
como, por exemplo, independência, ris-
co, alto nível de energia, curiosidade, 
humor, traços artísticos e emocionais.
No TDAH, muitos desses mesmos 
traços estão presentes, como apresentar 
níveis mais altos de geração de ideias es-
pontâneas, devaneios, sonhar acordado, 
busca por sensação, energia e impulsivi-
dade. As pesquisas têm apoiado a noção 
de que as pessoas com características de 
TDAH têm mais probabilidade de al-
cançar níveis mais altos de pensamento 
criativo e realizações do que as pessoas 
sem essas características. 
As realizações na vida estão associa-
das à habilidade de ampliar a atenção e 
TER�UM�lLTRO�MENTAL�QUE�PERMITE�A�PER-
meabilidade, algo que as pessoas com 
TDAH têm abundantemente. Pesquisas 
recentes sobre Neurociência cognitiva 
também sugerem uma conexão entre 
o TDAH e a criatividade. Pensadores 
criativos e pessoas que apresentam 
4$!(�MOSTRAM� DIlCULDADES� PARA� SU-
primir atividade cerebral vinda da “rede 
da imaginação” (rede de modo padrão, 
ou DMN – Default Mode Network).
O vazamento de informações no 
lLTRO�MENTAL��POSITIVO�OU�NEGATIVO�DE�
acordo com o contexto e as demandas 
existentes. A habilidade de controlar a 
atenção é importante em muitos con-
TEXTOS�� POIS� A� DIlCULDADE� EM� INIBIR� O�
mUXO�MENTAL�PODE�ATRAPALHAR�AO�FOCAR�A�
atenção em uma aula chata ou se con-
CENTRAR� EM� UM� PROBLEMA� DESAlADOR��
Mas como aponta Kaufman, a habilida-
de de manter a corrente de fantasias in-
ternas, a imaginação e o sonhar acorda-
do podem ser imensamente favoráveis 
para a criatividade. 
Alguns estudos sugerem que a rede 
de modo padrão que as pessoas com 
TDAH apresentam com maior ativida-
DE�� EMBORA� CAUSEM� DIlCULDADES� PARA�
controlar o foco da atenção, é a mes-
ma rede neural que facilita o estado de 
mUXO� CRIATIVO� E� O� ENGAJAMENTO� ENTRE�
os músicos, incluindo músicos de jazz 
e os rappers. As pessoas com TDAH 
frequentemente são capazes de focar 
melhor do que outros quando estão 
profundamente engajadas em uma ati-
VIDADE�QUE��PESSOALMENTE�SIGNIlCATIVA�
para elas, o chamado hiperfoco. 
Uma abordagem pedagógica inte-
RESSANTE�PARA�ESSE�PERlL��A�APRENDIZA-
gem baseada em problemas (ABP), em 
que os estudantes usam as informações 
para criação de diferentes produtos 
como desenhos, dramatização, blogs, 
vídeos ou artigos, permite maior envol-
vimento com o material, e se tornam 
alunos ativos, em vez de serem subme-
tidos somente à observação passiva.
Um conceito mais amplo sobre o 
papel positivo de certos traços poderia 
também fazer com que os estudantes 
com características de TDAH mos-
trassem suas forças criativas, incluindo 
a imaginação, o pensamento divergen-
te e hiperfoco em atividades que des-
pertam o seu interesse. Se tratarmos 
as características do TDAH somente 
COMO� DElCIÐNCIAS�� CONFORME� OCORRE�
com frequência na escola, podemos 
deixar de reconhecer e estimular mui-
tas crianças criativas e com potencial. 
/� DESAlO� DO� SISTEMA� EDUCACIONAL� �
criar um ambiente que enfatize a cria-
tividade como um caminho e ao mes-
mo tempo um resultado para o proces-
so de aprendizagem.
54 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
recursos humanos
UMA GRADUAÇÃO JÁ NÃO É 
CERTIFICAÇÃO ESPECIAL NA 
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL. 
O INVESTIMENTO NO PROCESSO 
PESSOAL DE ADMINISTRAÇÃO 
EMOCIONAL PODE SER UM 
TEMPERO MAIS RELEVANTE 
NOS DIAS ATUAIS
por João Oliveira
As OPORTUNIDADES 
na CARREIRA
Q
uando ouvimos a palavra oportunidade 
associamos naturalmente a outra que, de 
fato, pouco tem a ver: sorte. Esse é um 
pensamento muito comum entre prof is-
sionais que observam outros em plena ascensão sem 
se dar conta dos fatores envolvidos no processo de 
crescimento no ambiente institucional e como isso 
pode ser possível se todos ao mesmo tempo só falamde crise em diversos setores.
Alguns pontos devem ser observados, e o primei-
ro deles é o preparo do prof issional que deseja al-
çar voos mais altos. O investimento deve ser apenas 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 55
João Oliveira é publicitário e psicólogo. Atua como palestrante e facilitador de 
cursos/treinamentos em todo o Brasil. Diretor de Cursos do Instituto de Psicologia 
Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros, estão: Jogos para Gestão 
de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional, Mente Humana: 
Entenda Melhor a Psicologia da Vida e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise 
Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K/
AC
ER
VO
 P
ES
SO
AL
na direção de aquisição dos conhe-
cimentos técnicos necessários para 
uma determinada posição. Lógico 
que isso faz parte do processo, mas, 
nos dias atuais, uma graduação, ape-
nas, não é certif icação que garanta 
um brilho especial no currículo.
Dessa forma, o prof issional preci-
sa se especializar cada vez mais. A 
busca por cursos livres, pós-gradua-
ções e especializações diferenciadas 
pode fazer toda diferença na hora da 
escolha de um novo gestor na organi-
zação. No entanto, o investimento no 
processo pessoal de administração 
emocional provavelmente é o tempe-
ro mais relevante quando a oportuni-
dade sai em busca de preparo.
Sabemos que o gestor ef iciente 
não é necessariamente um expert em 
todos os perf is prof issionais que gere. 
De fato, o gestor é o elemento que 
consegue navegar bem entre pessoas 
cuidando de aspectos gerais e indivi-
duais, mantendo a equipe focada no 
objetivo principal. Por isso, ele é, an-
tes de mais nada, um gestor de emo-
ções. Cabe então ressaltar que não se 
pode aplicar fora o que não se tem 
dentro e, nesse caso, a administração 
emocional é um forte elemento dife-
renciador de um bom ou mau gestor.
As oportunidades estão sempre 
nas mãos das pessoas que decidem 
quem deve subir ou descer na empre-
sa. Por isso, agir com ética e respeito a 
todos é o mínimo que se espera de al-
guém que deseja ser notado como pre-
parado pela linha de comando. Deixar 
claro que possui ambição de crescer e 
que está se preparando para isso deve 
ser parte dos temas de conversas en-
tre os companheiros de trabalho. Nem 
sempre as pessoas são concorrentes 
diretos, pois algumas não querem as-
sumir responsabilidades, mesmo que 
isso possa trazer maior valor f inancei-
ro em seus contracheques.
O ambiente sempre é favorável ao 
crescimento. Se ocorre uma crise é 
necessário um novo plano de inter-
por ter um foco direcionado aos ele-
mentos do dia a dia. Quando não se 
consegue ir além do que o próprio 
caminho oferece, é melhor buscar 
um novo destino com probabilidades 
de sucesso.
Por isso, o trabalho emocional é 
provavelmente o mais importante de 
todos: estar bem consigo mesmo e 
com a autoestima no lugar é impres-
cindível. O investimento do preparo 
só irá obter resultado se houver cora-
gem de se lançar como possível can-
didato à próxima promoção ou a uma 
nova realidade de atuação prof issio-
nal que pode ser em outra instituição 
ou mesmo como empreendedor de 
sua própria ideia de negócios.
Só há destino f inalizado para 
quem nisso acredita. Alguns aspec-
tos são sempre importantes destacar, 
como manter o networking em cons-
tante crescimento, observe outras 
atividades fora de seu eixo principal. 
Muitas vezes, a oportunidade pode 
estar em outro modelo prof issional 
próximo ao seu perf il de atuação. 
Converse mais, ouça mais, leia mais. 
As boas informações já existem: é so-
mente necessário acessá-las.
Hoje, um prof issional que está 
estagnado numa mesmo posição por 
muitos anos pode ser considerado ob-
soleto se não agregar novas habilida-
des às suas capacidades já existentes. 
Procurar o crescimento não é somen-
te uma busca por mais altas remune-
rações, é também uma apresentação 
de dinamismo e proatividade. Toda 
instituição, mesmo em momentos 
de severa crise, preserva aqueles que 
agregam mais valor. São esses que po-
dem possuir a chave de ignição para o 
sucesso esperado por todos.
venções, e se o mercado está em am-
plo crescimento, é preciso mais pro-
f issionais de talento para gerirem a 
demanda. Ou seja, as oportunidades 
sempre estão diante de nós, que po-
demos ou não percebê-las como tal.
Um exemplo de aproveitamen-
to de uma boa chance de mercado 
ocorreu no Rio de Janeiro, cidade 
sede dos Jogos Olímpicos e Para-
límpicos. Com a questão da acessi-
bilidade em alta, o comércio teve de 
se adaptar rapidamente para prover 
rampas para cadeirantes. Alguns pe-
quenos empresários criaram rampas 
metálicas de fácil encaixe que podem 
ser colocadas e tiradas das entradas 
das lojas todos os dias, eliminando 
assim o custo e a confusão causada 
por obras de adaptação. O resultado 
pode ser visto por toda a cidade com 
pequenas rampas de alumínio faci-
litando o acesso em cumprimento a 
uma determinação legal.
Estar atento às informações de 
forma ampla faz parte do empreendi-
mento quando o objetivo é aproveitar 
oportunidades que nem sempre estão 
visíveis para todos. Pensar além do 
trivial pode apresentar uma rede de 
possibilidades, antes imperceptíveis, 
O GESTOR CUIDA DE 
ASPECTOS GERAIS 
E INDIVIDUAIS, 
MANTENDO A EQUIPE 
FOCADA NO OBJETIVO 
PRINCIPAL. POR ISSO, 
ELE É, ANTES DE 
TUDO, UM GESTOR 
DE EMOÇÕES
56 psique ciência&vida
PSICO-ONCOLOGIA
Marcelo Pereira Lemos é formado em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). 
É especializado em Life Coaching pela Society International of Coaching e Practitioner pelo Instituto de 
Desenvolvimento Humano Humanize. Atualmente é psico-oncologista do Hospital do Câncer Mãe de 
Deus. Contatos: marcelo.lemos@maededeus.com.br e marcelop_lemos@hotmail.com
Compreender a história da Psicologia Oncológica, 
desmembrando seus campos na atuação hospitalar, 
é uma forma de lidar com o câncer, 
suas consequências e a proximidade da morte
Por Marcelo Pereira Lemos 
com cuidados 
paliativos
ENGAJAMENTO
PSICO-ONCOLOGIA
“As pessoas são como vitrais co-loridos: cintilam e brilham quan-do o sol está do 
lado de fora, mas quando a escuridão 
chega, sua verdadeira beleza é reve-
lada apenas se existir luz no interior” 
(Elizabeth Kubler-Ros, 1977).
O tema de ref lexão exposto a 
seguir se encontra no campo da 
Psicologia Oncológica. Questões 
como diagnóstico, ressignif icação 
das medidas de enfrentamento, 
compreensão das possibilidades 
nas medidas de conforto e enten-
dimento do que pode ser qualidade 
de vida, respeitando sempre o pa-
ciente na sua subjetividade física, 
social e espiritual, são assuntos ex-
tremamente relevantes.
A Psico-oncologia surgiu em 
1960, na Argentina; e, no Brasil, al-
guns trabalhos começaram a ocor-
rer a partir dos anos 1970, com o 
interesse de integrar e produzir co-
nhecimento na área clínica médica 
oncológica. Em meados dos anos 
1990, a Sociedade Brasileira de 
Psico-oncologia foi fundada com o 
intuito de oferecer cursos itineran-
tes de especialização realizados em 
várias cidades do país. 
Fonseca (2004) explica que a 
palavra câncer é utilizada para des-
crever um grupo de doenças que se 
caracteriza pela anormalidade das 
células e pela sua divisão excessiva. 
Um câncer começa com uma célula 
que contém informações genéticas 
incorretas, de modo que se torna 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 57
SH
UT
TE
RS
TO
CK
58 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
PSICO-ONCOLOGIA
A Psico-oncologia é uma ferramenta 
indispensável para promover as condições de 
qualidade de vida do paciente com câncer, 
facilitandoo enfrentamento de eventos 
estressantes, se não aversivos, relacionados 
ao processo de tratamento da doença
to de estigmas e diferentes visões. 
Enquanto uns traziam o alívio de 
chegar a ele, outros retratavam o 
completo desgosto por permane-
cer nele. A Psicologia torna-se de 
extrema importância para validar 
esses sentimentos e atuar nesse 
campo de variáveis emocionais. O 
câncer em conjunto com a hospita-
lização carrega esses sentimentos, 
principalmente no que se diz res-
peito à morte.
E sobre esses aspectos psico-
lógicos, sabe-se que os pacientes 
experimentam reações de reajusta-
mento que podem ser chamadas de 
estágios do processo de morrer, for-
mulados por E. Kübler-Ross (1977) 
e que, apesar de serem escritos em 
1977, até hoje são norteadores para 
os processos de luto.
Os cinco estágios são denomi-
nados como: 1) negação; 2) rai-
va; 3) barganha; 4) depressão e 5) 
aceitação. Nem todos passam pelos 
estágios nessa ordem e nem todos 
completam o processo.
Negação: tomada de consciên-
cia do fato de sua doença fatal. A l-
guns pacientes costumam procu-
rar uma segunda opinião, ao passo 
que outros manifestam a negação 
de maneira implícita, agindo com 
otimismo e planos para o futuro. A 
equipe deve compreender essa rea-
ção, que mostra a falta de prepara-
ção emocional para enfrentar esse 
momento. Segundo a autora, não 
devemos forçá-los a aceitar, mas 
dar-lhes tempo e deixar que falem 
de sua angústia.
incapaz de cumprir as funções para 
as quais foi designada. Quando essa 
célula reproduz outras com a mes-
ma construção genética incorreta, 
então um tumor começa a ser for-
mado, composto de uma massa des-
sas células imperfeitas.
Conforme dados do Institu-
to Nacional do Câncer (INCA), 
o câncer deve ser analisado como 
um problema de saúde pública, que 
acomete indivíduos de todas as 
idades e em todos os continentes, 
constituindo-se na segunda princi-
pal causa geral de morte por doença 
em todo o mundo.
Com a necessidade de com-
preender além da visão clínica mé-
dica, a Psico-oncologia surgiu como 
área de conhecimento no momento 
em que profissionais da área de saú-
de passaram a reconhecer que o de-
senvolvimento do câncer, bem como 
o andamento do processo de trata-
mento da doença, sofria a inf luência 
de variáveis sociais e afetivas.
Pensar no câncer como uma 
doença associada a dor, sofrimen-
to, degradação e a uma sentença de 
morte acabava desgastando psiqui-
camente tanto o portador da doença 
quanto seus familiares e amigos ín-
timos. Possibilitando a intervenção 
da Psico-oncologia para desmistifi-
car seus medos e suas fantasias.
Dessa forma, Costa (2001) ob-
servou que a Psico-oncologia se 
constituiu como uma ferramenta 
indispensável para promover as 
condições de qualidade de vida do 
paciente com câncer, facilitando 
o processo de enfrentamento de 
eventos estressantes, se não aver-
sivos, relacionados ao processo 
de tratamento da doença, entre os 
quais estão os períodos prolonga-
dos de tratamento.
O hospital é um ambiente reple-
A Psicologia Oncológica se debruça em temas como diagnóstico e medidas de enfrentamento, conforto e 
entendimento do que pode ser qualidade de vida para o paciente
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 59
Os pacientes 
experimentam 
reações de 
reajustamento 
que podem ser 
chamadas de 
estágios do 
processo de morrer: 
negação; raiva; 
barganha; depressão 
e aceitação. Nem 
todos passam pelos 
estágios nessa 
ordem e nem todos 
completam 
o processo
Raiva: a medida em que a nega-
ção vai se atenuando, a pessoa come-
ça a experimentar muita raiva, que 
normalmente é dirigida ao médico, 
ao enfermeiro, aos visitantes, aos 
familiares, a Deus etc. Novamente 
não devemos nos chocar com essa 
reação; é importante entender, pois 
o paciente sofre com o fato de que os 
outros permanecerão vivos.
Barganha: constata-se o desejo 
do paciente em realizar acordos por 
um pouco mais de tempo, fazendo 
pactos consigo mesmo e/ou com 
Deus; fazem promessas materiais, 
negociam com a própria morte.
Depressão: ao f inal do tem-
po da barganha, o paciente passa 
à depressão. Ele já não prevê mais 
possibi l idades, a v ida acabou. En-
tra em um período de si lêncio in-
terior, fechado. Esse estágio costu-
ma provocar culpa e outros senti-
mentos de af l ição. Nesse período, 
é importante que os familiares se-
jam estimulados a manifestar seus 
sentimentos.
Aceitação: não signif ica que o 
paciente tome uma atitude cômoda 
e espere passivamente a morte. 
Ocorre quando o paciente se mos-
tra capaz de entender sua situação 
com todas as suas consequências. 
Nessa situação, geralmente o pa-
ciente está cansado, mas em paz. 
Volta-se para dentro de si, revelan-
do a necessidade de reviver suas ex-
periências passadas como forma de 
resumir o valor de sua vida e procu-
ra o seu sentido mais profundo.
“O lado humano do câncer 
pode ser condensado pelo termo 
psicossocial. A interação das di-
mensões psicológicas, sociais, com-
portamentais, psiquiátricas, éticas 
e espirituais é preponderante para a 
avaliação da qualidade de vida. Es-
sas dimensões estão presentes em 
todo encontro com qualquer mem-
bro da equipe de saúde, em cada en-
contro” (Holland, 2003, p. 21).IMAG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K
Essa condição de enfrentamento 
da doença não é algo que se estabele-
ça no primeiro momento. O pacien-
te primeiro passa por um período de 
negação, conforme citado anterior-
mente, quando a principal pergunta 
é “por que comigo?”. Nesse primei-
ro momento, aprimorar o vínculo e 
possibilitar um ambiente de escuta 
ativa se tornam necessários.
Barone (2004) descreve que 
não existe câncer sem sofrimento. 
Assim, está a cargo do profissio-
nal de saúde mental compartilhar, 
*�I�I�����
������
�‚��
��I�������������
��
���hG���������IG�GI�����G����G�G����G��
G
��
G��I\���G����
pela sua divisão excessiva
A Sociedade Brasileira de Psico-oncologia 
‡-�+*ˆ�\� ��G�����
G
��I����9� ���� ����� ��-
crativos, criada em 1994, com o objetivo 
de congregar profissionais e estudantes da 
área de saúde para estudo, divulgação e 
desenvolvimento da Psico-oncologia. Em 
�������G�����I����G��G���G���Gh��
��G����-
dades assistenciais, educativas, culturais e 
políticas na área e a promoção da transdis-
I�����G��
G
�9����G�
�����G�G������I�G�����-
gral à pessoa com câncer, sua família, bem 
como os profissionais envolvidos.
Œ�Desenvolvimento 
da Psico-oncologia Œ
60 psique ciência&vida
PSICO-ONCOLOGIA
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K/
AR
QU
IV
O 
PE
SS
OA
L 
DO
 A
UT
OR
acompanhada de angústia e temo-
res que seguirão o paciente ao lon-
go do tratamento. Segundo Kovács 
(2003), o medo é a resposta psico-
lógica mais comum diante da mor-
te. A visão da morte pelo paciente 
oncológico é singular, e o contato 
com ela é constante, ocorrendo até 
mesmo por meio de pequenas per-
das do seu cotidiano.
Ainda conforme o autor, cada 
indivíduo vê a morte e lhe atribui 
um sentido, dependendo da etapa 
em que se encontre no processo de 
desenvolvimento vital. Essa visão 
depende também da sua história de 
vida, de suas vivências e aprendiza-
gens, de sua condição física, psicoló-
gica, social e cultural. Em qualquer 
fase do desenvolvimento humano, a 
ideia da morte está presente e tem 
uma representação característica, 
trazendo um entrelaçamento entre 
todos os aspectos presentes no de-
correr da própria vida.
Nesse sentido, podemos pensar 
sobre os escritos de Dutra (2004), 
o diferencial oferecido pelo psicó-
logo é uma escuta que vai além das 
palavras. Para o autor, o profissio-
nal da Psicologia está diante, atra-
vés dessa escuta, de outros meiosde comunicação e dispositivos, de 
uma demanda psíquica dos sofri-
mentos de cada paciente, e precisa-
Não existe câncer 
sem sofrimento. 
Assim, está 
a cargo do 
profissional de 
saúde mental 
compartilhar, 
mobilizar recursos 
para que as 
pessoas elaborem 
a situação 
vivenciada, e 
para que possam 
se ancorar, de 
maneira saudável, 
na realidade
ELEMENTOS CENTRAIS 
DO CUIDADO PALIATIVO
 PARA SABER MAIS 
E
m relação às características de elaboração e aplicação dos cuidados 
paliativos, Campbell (2011) elege elementos centrais dessa prática, se-
gundo o National Consensus Project, sendo eles: 1) População atendida – 
constitui-se de pessoas que apresentam uma doença fatal incurável, dano 
ou condição debilitante. 2) Atenção centrada no paciente – o cuidado com 
cada paciente e família é único. 3) Momentos de utilização dos cuidados 
paliativos – ao descobrir a doença. 4) Atendimento integral – o paciente e 
a família são compostos pelo biopsicossocial-espiritual. 5) Equipe interdis-
ciplinar – profissionais preparados tecnicamente e com suporte teórico. 6) 
Atenção para o alívio do sofrimento – é o preceito da filosofia do cuidado 
paliativo. 7) Comunicação – fundamental em todos os elementos aqui des-
critos. 8) Atenção aos indivíduos com morte iminente ou em luto – infor-
mações atualizadas sempre sobre prognóstico da doença. 9) Continuidade 
no atendimento entre diferentes setores – os cuidados paliativos devem ser 
utilizados em todas as esferas da saúde. 10) Acesso equitativo – cada cui-
dado é individualizado. 11) Atentar para as barreiras legais – uso de opioides 
de forma adequada. 12) Melhorar a qualidade – buscar sempre a excelência 
no atendimento, e esse compromisso é de toda a equipe.
dividir, mobilizar recursos, para 
que as pessoas consigam elaborar a 
situação, então, vivenciada, e para 
que possam se ancorar, de maneira 
saudável, na realidade.
Para Borges (2006), o câncer 
traz em si a consciência da possibi-
lidade de morte. Essa constatação é 
*�������G��\����G�H������I��IG
������������G�e�G����G�������G���������G�^����G��I���G��G����9��G��
outros não escondem o desgosto por permanecer no local
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 61
Na negação, 
alguns pacientes 
costumam 
procurar uma 
segunda opinião; 
outros manifestam 
de maneira 
implícita, agindo 
com otimismo. 
A equipe deve 
compreender 
a reação, que 
mostra a falta 
de preparação 
emocional para 
enfrentar esse 
momento
A autora segue descrevendo a 
importância de entender como as 
famílias, com suas organizações 
típicas e diferenciadas, precisam 
enfrentar e lidar com os problemas 
ligados às situações específ icas cor-
relacionadas a uma doença grave.
O papel que a família desempe-
nha como agente de cuidados quan-
do um de seus membros adoece é 
considerado de extrema importân-
cia. A complexidade da doença neo-
plásica exige atenção não só para as 
necessidades físicas, como também 
para as demandas psicológicas e so-
ciais do paciente, incluindo a par-
ticipação ativa da família (Costa; 
LIMA, 2002).
E por essa participação, reme-
te-se à submissão de que a doença 
em si traz ao paciente, aliado ao es-
tigma ainda presente de constante 
sofrimento. Vivenciar o processo 
da doença pode, na maioria dos ca-
sos, significar privação da sociabi-
lidade cotidiana, quebra da rotina, 
interrupção do curso normal da 
vida tanto para os enfermos quanto 
para seus familiares. Silva e Acker 
(2007) relatam o desejo do cuidador 
Um dos estágios do paciente de câncer, a barganha, pode desencadear um processo de depressão, no qual 
�������������G��������H���
G
���
����
G
são diferentes, dada a localização, 
estadiamento e/ou tratamento, tor-
nando-se complexo falar de uma 
forma genérica sobre famílias no 
contexto de câncer.
rá entendê-lo como um sujeito que 
pensa, sente, fala e cria sentidos nas 
relações de subjetividades.
Nesse modo de subjetividades, 
pacientes buscam, através das me-
táforas, relatar sobre seu sofrimen-
to. O câncer carrega em cada corpo 
um estigma de morte, um medo do 
desconhecido, uma passagem sofri-
da de um futuro incerto. De acordo 
com Paulon (2010), devemos inter-
pretar o discurso e o inconsciente 
humano além daquilo que está vi-
sivelmente dado e do que se pode 
mensurar, pois esse discurso não se 
limita ao que está concretamente 
simbolizado.
Familiares e cuidadores
Família representa um apoio muito importante tanto na es-
truturação dos vínculos afetivos 
como nos referenciais de seguran-
ça. O paciente portador de câncer 
geralmente vivencia uma série de 
experiências emocionais. Conforme 
afirmam Santos e Sebastiani (2001), 
são manifestações psicológicas que 
o remetem a condições primitivas e 
a uma necessidade de sentir-se am-
parado e protegido, principalmente 
pelas figuras que já ocuparam esse 
papel e que, no momento, estão sen-
do solicitadas novamente.
As famílias enfrentam grandes 
dif iculdades para lidar com uma 
doença como o câncer, e quan-
to mais avançada ela se encontra, 
maior é o sofrimento (CARVA-
LHO, 2008). Na assistência aos pa-
cientes oncológicos internados, é 
possível perceber que os familiares 
vivenciam junto aos pacientes as 
internações prolongadas, as altera-
ções bruscas de rotina e projetos de 
vida. Sofrem com as alterações na 
configuração familiar.
Segundo Holland e Holahan 
(2004), assim como não existe uma 
família padrão, não existe um pa-
drão de câncer. Suas consequências 
62 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
PSICO-ONCOLOGIA
O câncer traz em si a consciência da 
possibilidade de morte. Essa constatação 
é acompanhada de angústia e temores 
que seguirão o paciente ao longo do 
tratamento. O medo é a resposta 
psicológica mais comum diante da morte
em manter o paciente sob seus cui-
dados, porém, para que isso se torne 
possível, há a necessidade de apren-
dizado sobre o cuidado e como lidar 
com o sofrimento do outro.
Os cuidados direcionados a pa-
cientes que têm o diagnóstico de 
câncer, seja em qualquer estado, 
demandam tempo de dedicação 
do cuidador e isso faz com que ele 
abandone grande parte de suas ati-
vidades cotidianas, tendo que se 
adaptar a uma nova rotina que in-
clui dias e noites no hospital, perda 
de funcionamento rotineiro da vida 
profissional e demais exigências e 
demandas do tratamento (Inocen-
ti; Rodrigues; Miasso, 2009).
Contudo, vale ressaltar sempre 
o importante papel do familiar nes-
se momento. Família é o cuidado, 
no mais puro e signif icativo tom da 
palavra. Acalma, acolhe e preenche 
lacunas de medo, solidão e tantos 
outros sentimentos afetivos. Pa-
ciente com uma base familiar sóli-
da e estruturada tem nesse alicerce 
da vida uma condição real de com-
preender e enfrentar o câncer de 
maneira mais saudável.
Cuidados paliativos
Na década de 60, com o apare-cimento do modelo hospice, 
criado por Cicely Saunders, surgia o 
molde dos cuidados paliativos. Uma 
alternativa de encarar a morte como 
processo inerente à vida. Que ofe-
recesse dignidade à pessoa humana 
no seu final de vida. A morte passa a 
não ser mais ocultada e silenciosa e, 
sim, fonte de cuidado de uma nova 
proposta de saber e poder. 
A Organização Mundial da 
Saúde (OMS) considera o cuida-
do paliativo como uma prioridade 
da política de saúde. Para a OMS, 
esse cuidado corresponde a um 
trabalho desenvolvido por uma 
equipe interdisciplinar que uti l iza 
estratégias de intervenção, preco-
diagnóstico, e passa a ser o alívio 
dos sintomas, não apenas físicos, 
mas também de ordem espiritual e 
psicológica. Uma morte mais dig-
na, carinho, afeto e cuidado são as 
ações dessa inovadora e reconheci-
da f ilosofia.
Em minha atividade como psi-
cólogo oncológico,f ico certas ve-
zes me questionando sobre nossa 
capacidade como seres humanos de 
nos relacionarmos com a obvieda-
de da morte. A meu ver, de todos os 
fatos que nos movem, o mais forte e 
determinante é o medo de morrer.
O ser humano vivencia em suas 
relações sociais diferentes formas de 
nizando o bem-estar e a qualida-
de de v ida, promovendo o al ív io 
do sofrimento f ísico, social, emo-
cional, espiritual e psicológico da 
pessoa com uma doença grave, em 
estado avançado e incurável, bem 
como seus familiares.
Existe um crescente interesse 
no mundo pelo tema cuidado pa-
liativo, principalmente por seu pa-
radigma diferenciado, deslocando 
a atenção da cura para o cuidado, 
mas ainda a sua inserção no sistema 
de saúde é muito complicada (Boe-
mer, 2009).
O enfoque desse cuidado deixa 
de ser a cura, por uma questão de 
)G��G���
��GI���Gh�9�G������G��������G���������I���G9������G�
��G���I����
G
��
������������G���������I�G��
�G��G
G��I��������G�
����������‚IG�����G����
G���
G
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 63
O cuidado paliativo surgiu com a cria-
ção do modelo hospice e, atualmente, 
\� ������G
�� ��� ������� ������ 
�� I������
de saúde. Os hospices eram locais de 
��IG���� �G�G� ��G
G����� ��� �\I���� $0:�
/�G���
�����������G9�����\I����2$29����
transformou em lugares destinados a 
����H��
����G�$��G�
G����G�$���G����G:�*�
hospice���
�����\����I��I��������G��-
vamente recente, que apareceu no Rei-
no Unido após a fundação do Hospice 
Saint Christopher, em 1967. Foi fundado 
por Dame Cicely Saunders
Œ�Modelo hospice Œ
Cada indivíduo atribui à morte um sentido 
dependendo da etapa em que se encontre 
no processo de desenvolvimento vital. Essa 
visão depende da sua história de vida, de 
suas vivências e aprendizagens, de sua 
condição física, psicológica, social e cultural
perdas, sejam elas de ordem material, 
virtual ou pessoal. A forma como são 
enfrentadas essas perdas demonstra 
as características de elaboração sau-
dável ou não frente à situação.
Portanto, o cuidado paliativo 
torna-se importante no atual qua-
dro de saúde mundial, pelo fato de 
que muitas pessoas morrem em so-
frimento. E, para melhorar a quali-
dade de vida dessas pessoas, não se 
fazem necessárias técnicas de alto 
valor financeiro, tendo em vista que 
o tratamento nas abordagens descri-
tas acima complementa um círculo 
natural da vida humana. A morte 
não pode ser vencida. Desse modo, 
ignorar esse fato é ignorar a própria 
humanidade. Desenvolver ações de 
fortalecimento do cuidado paliativo 
torna-se cada vez mais precisa e ne-
cessária em termos de encorajamen-
to (Pessini; Bertachini; 2014).
Compreensão
O sofrimento que o câncer cau-sa no psiquismo do ser hu-
mano retrata a importância que a 
Psicologia tem para poder compre-
ender, desmistif icar e ressignif icar 
o sentido de vida e morte. A asso-
ciação com o sentimento de morte 
iminente, por vezes, causa no pa-
ciente um sentido de invalidez que 
inibe qualquer possibilidade de vis-
lumbrar, em um futuro breve, uma 
qualidade de vida e conforto em 
seu cotidiano.
A morte e seu percurso intenso, 
por vezes apressado, dif icultam e 
moldam o planejamento terapêuti-
co. Proporciona uma psicoterapia 
focada no indivíduo e com base no 
contexto atual do paciente.
Pensar sobre as dúvidas que per-
meiam sempre o cotidiano move as 
pessoas e faz com que se busquem 
efeitos satisfatórios na rotina. A dú-
vida remete a um senso crítico de 
poder analisar o que se deve ou não 
fazer. O importante é que a inter-
rogação existe, senão o óbvio seria 
uma rotina. O concreto é assustador, 
pois as pessoas jamais serão iguais. 
Somos constantes interrogações 
que nos movem a todo instante. E o 
pensamento de que concreto mesmo 
nessa vida é o ponto final dela.
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K/
DI
VU
LG
AÇ
ÃO
REFERÊNCIAS 
BARONE, K. C. Realidade e Luto: um Estudo da Transicionalidade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 
2004.
BOEMER, M. R. Sobre cuidados paliativos. USP, v. 43, n. 3, set. 2009, São Paulo.
�*	" -9��:��:�0:�-:�+��I��h��
G�������������GI��������I��`��I��G��������
��
��������������:�
Psicologia em Estudo, v. 11, n. 2, p. 361-369, mai./ago. 2006, Maringá.
CAMPBELL, M. L. Nurse to Nurse: Cuidados Paliativos em Enfermagem. Porto Alegre: Editora 
Artmed, 2011.
�*-.��%/)$*	9��:�':�*�
���������������
G�+��I�¢��I�����Gd������IGh€����G�G�G��������G���
��������hÔ�����‚�����G������Gb
�:�+��I�����G9���È�I�G���+��‚��Ô�, v. 21, n. 2, jun. 2001, Brasília.
�*-.�9�%:��:e�'$(�9�	:��:�":����G�hG�¤G
����I������������������G��G�G�H��G����G�d������IGh€����G�G�
a enfermagem. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 10, n. 3, p. 321-333, 2002.
�/.	�9� :������
��Gh€�����H���G�������‚IGh€���
G�+��I�����G���^��IG��G�I��������G���
G
�:�
Estudos de Psicologia, v. 9, n. 2, ago. 2004, Natal. 
FONSECA, J. P. Luto Antecipatório. São Paulo: Livro Pleno, 2004.
#*''�)�9�&:e�#*'�#�)9��:�.������G����������I�G����������G�
�I������������������G
G��G�����
to breast cancer. Psychology and Health9�:�-��+G���d��G�G�
��+��I`����9�=;;>:$)*� ).$9�
�:e�	*�	$"/ -9�$:�":e�($�--*9��:�$:�0���I�G����������������
��I��
G
����G����G��
���GI������
oncológico em cuidados paliativos. Revista Eletrônica de Enfermagem (internet), 2009.
&*0R�-9�(:�%:�Educação para a Morte:�.��G����	�ƒ��€��:�-Ô��+G���d��G�G�
��+��I`����9�=;;>:
KÜBLER-ROSS, E. Sobre a Morte e o Morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
PAULON, P. C. O silêncio como estratégia do inconsciente.�!GI��
G
��
��!�����‚G9���È�I�G����'���G��
de Ribeirão Preto, 2010.
-�).*-9��:�.:�
��e�- ��-.$�)$9�	:�1:�Acompanhamento psicológico à pessoa portadora de 
doenças crônica:�$�d��)" 	�($¢��(*)9�0:��:�‡*��:ˆ:
-$'0�9��:��:�(:e���& 	9�%:�$:��:�0:�*�I��
G
���G��G�����
���I���G����H�G�`��IG�
���G����G����
responsáveis pela pessoa portadora de neoplasia. Revista Brasileira de Enfermagem, 2007.
64 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
divã literário por Carlos São Paulo
D
ignidade é um sentimento que 
nos leva ao interesse pelas ques-
tões do sofrimento de outrem, 
bem como a justiça – o que tor-
na o homem protegido na relação com o 
OUTRO��%NCONTRAMOS�TAIS�REmEXÜES�NO�CON-
TO�h3AMSA�APAIXONADOv��NO� LIVRO�Homens 
sem Mulheres, de Haruki Murakami. 
Nesse conto, o personagem de 
Franz Kafka, o Samsa do livro Meta-
morfose, segue um processo inverso. 
Assim Murakami descreve: “Quando 
certa manhã acordou de sonhos in-
tranquilos, encontrou-se em sua cama 
METAMORFOSEADO�DE�'REGOR�3AMSAv��$E�
alguma maneira o inseto entendeu que 
se transformara em uma pessoa e que se 
chamava Gregor Samsa. 
Samsa, ao despertar em um am-
biente de uma casa, aparentemente 
abandonado, logo tomou consciência 
dos temas: invasão, prisão e proteção. 
Começou a pensar quem era ele antes 
de ser Gregor. Veio à sua mente uma 
Aspectos desvalorizados 
pelos HUMANOS
/3�-)4/3�3§/�#/.3425°$/3�./3�02)-œ2$)/3�$!�
(5-!.)$!$%��#/-/�)-!').!2�/�3%.4)-%.4/�$%�*534)—!�%�
$)'.)$!$%�$%�5-�).3%4/�15%�3%�42!.3&/2-!�%-�(/-%-�
0!2!�2%&,%4)2�3/"2%�!3�"!3%3�).34).4)6!3�$!�03)15%�
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 65
espécie de sonho que fez surgir em 
sua cabeça uma nuvem de mosquitos. 
Sua prioridade é preencher o vazio que 
sentia no corpo e teve que se habituar 
aos dilemas da vida humana em meio 
à guerra. 
Ao observar os homens e se olhar 
no espelho, deu-se conta de que esta-
va nu. Vestiu um roupão. Chamaram à 
porta. Ao abri-la, viu uma jovem mu-
lher com o corpo deformado – por ser 
corcunda –, que para ele parecia um 
INSETO�� 3AMSA� SE� APAIXONA� E� NÎO� SABE�
por que seus genitais formam uma pro-
tuberância se destacandono seu corpo 
vestido. A jovem viera consertar uma 
fechadura. Foi enviada pelos pais pela 
suposta facilidade que teria em passar 
pelas guerras lá fora. 
!� JOVEM� J� EXPERIMENTARA� O� ABUSO�
do outro e entendeu que aquele órgão, 
SE�EXPRESSANDO�POR�TRÉS�DO�ROUPÎO��SE-
ria mais uma tentativa de humilhação e 
abuso. Ela reclama disso, e Samsa – em 
SUA�HUMANIDADE�n��TENTA�LHE�EXPLICAR�O�
que só ele sente. Seu coração acelera. 
Vivia algo muito bom que os homens 
chamam de amor. A tensão entre a len-
TIDÎO�DO�TEMPO�EM�QUE�SE�ESTÉ�APAIXO-
nado e a aceleração desse mesmo tem-
PO�QUANDO�SE�QUER�AMAR�DEIXOU�3AMSA�
confuso e atraído por alguém que não 
sabe se voltará a ver. 
Sonhar é o modo que temos para 
entrar em contato com a natureza que 
SE� EXPRESSA� DE� FORMA� MITOLØGICA� PARA�
resgatar os seus segredos. Quem conse-
gue prestar atenção a eles terá o benefí-
cio de se conhecer de verdade. Não se 
pode observar os sonhos com a lógica 
da consciência, mas com a linguagem 
METAFØRICA�DO�INCONSCIENTE��0ODERÓAMOS�
por meio do sonho descobrir algo sobre 
SH
UT
TE
RS
TO
CK
/ D
IV
UL
GA
ÇÃ
O 
E 
AR
QU
IV
O 
PE
SS
OA
L
Homens sem Mulheres 
Autor: Haruki Murakami 
Editora: Alfaguara 
Ano: 2015 
Páginas: 240
a origem de Samsa. Ele sonhou, ou veio 
Ì� SUA� CABE¥A�� UMA� NUVEM� DE� INSETOS��
0ODERÓAMOS�AQUI� REmETIR� SOBRE�ASPECTOS�
desvalorizados pelos humanos, ou tra-
zer a ideia do incômodo ou doença que 
nos fazem tê-los como indesejáveis, ou 
ainda pensarmos nas bases instintivas da 
PSIQUE��O�QUE�NOS�FAZ�EXECUTAR�ATOS�SEM�
USAR�A�SABEDORIA�DA�REmEXÎO��
$URANTE� O� DESENVOLVIMENTO� DA�
criança, ou da humanidade, a consci-
ência, à medida que evoluía, também o 
afastava de sua própria natureza ao ne-
gligenciar a sua origem mítica. No mito 
DO�PARAÓSO��!DÎO�E�%VA�EXPERIMENTAM�
o fruto do conhecimento e se dão conta 
QUE�ESTÎO�NUS�E�QUE�EXISTEM�DIFEREN¥AS�
ENTRE�ELES��$ESSA�FORMA��PARA�ENTENDER-
mos a natureza do homem recorremos 
aos mitos construídos pela humanidade 
em seus primórdios, época em que a 
consciência ainda não o tinha afastado 
tanto de sua própria natureza. 
Assim acontece com as várias guer-
ras lá fora, podemos pensar nos quatro 
cavaleiros do Apocalipse. O primeiro, a 
guerra, já contém em si os outros três: 
a dominação, a peste e a fome. A jo-
vem corcunda, em sua guerra com seu 
CORPO�� TROUXE� A� VERGONHA� E� HUMILHA-
ção como uma barreira que a impedia 
de ser amada. Talvez ela represente o 
hESTUPRO�SOCIALv�DAS�CONVULSÜES�SOCIAIS�
que é a invasão do mais forte sobre o 
mais fraco, ou seja, a violência e o des-
respeito à integridade do outro.
Na linguagem de um dos muitos mi-
tos da criação, Epimeteu, na criação do 
!�'5%22!�¡��0/24!.4/��5-�2%35,4!$/�$!�
).#/-0%4º.#)!�0/,°4)#!��15!.$/�!�!24%�
$%�'/6%2.!2�.§/�#/.3%'5%�/�2%30%)4/�
!/3�6!,/2%3�).34)45°$/3�%�%34!"%,%#)$/3�
!/�,/.'/�$!�6)$!�$/3�0/6/3�$%�5-!�.!—§/
Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano. 
É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia.
carlos@ijba.com.br / www.ijba.com.br
homem, deu-se conta de que distribuíra 
todas as faculdades disponíveis para os 
animais irracionais e nada sobrou para 
dar ao homem que nascia nu e despro-
TEGIDO�� 0ROMETEU�� IRMÎO� DE�%PIMETEU��
conseguiu roubar dos deuses o fogo e 
a sabedoria para dar ao homem a ca-
pacidade de criar seus próprios meios 
necessários à vida. Com esses recursos, 
os homens começaram a interferir na 
NATUREZA�E�TER�DIlCULDADE�DE�SE�RELACIO-
nar com seus pares. Os homens come-
çaram a se destruir. Zeus, o deus maior 
do Olimpo, resolveu intervir. 
Compadecido, Zeus deu-lhes um de 
seus dons: a arte da política, constituída 
de dois atributos: justiça e dignidade. Na 
dignidade pessoal já está o sentimento 
DE�VERGONHA�OU�PUDOR��0ARA�:EUS��TODOS�
os homens deveriam desenvolver a Arte 
DA�0OLÓTICA��POIS�ASSIM�DARÎO�IMPORTÊN-
cia aos seus atos que serão julgados e 
QUALIlCADOS�PELOS�OUTROS��$O�CONTRÉRIO�
não haveria harmonia social e a espécie 
humana desapareceria. 
A guerra é portanto um resultado 
da incompetência política, quando a 
arte de governar não consegue o respei-
to aos valores instituídos e estabeleci-
dos ao longo da vida dos povos de uma 
NA¥ÎO��1UANDO�FALTA�A�!RTE�DA�0OLÓTICA��
lCAMOS�SEM�A�JUSTI¥A�E�SEM�A�DIGNIDADE�
PESSOAL��/�HOMEM�ENTÎO�lCARÉ� INDIFE-
rente às questões do outro e se torna-
rá manipulador da realidade, usando 
o bem coletivo em proveito próprio. 
%SSES�SÎO�OS�DESAlOS�DE�UM�INSETO�QUE�
evoluiu para um ser racional.
66 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.brwwwwww.po.portartalcilcienciiaevididvidida.ca comom.brbbr6666 psique ciênnnciacc &vi&vidad
“E
stou convencido de que a memória tem uma força da 
gravidade. Ela sempre nos atrai. Os que têm memória 
são capazes de viver no frágil tempo presente. Os que 
não a têm, não vivem em nenhuma parte.”
Nossos textos nesta coluna são escritos com alguma antecedência. 
Dito isso, queremos apenas registrar que resolvemos escrever sobre o 
lLME�Nostalgia da Luz, do sensível diretor Patricio Guzmán Lozanes, 
tomados pelos contraditórios sentimentos vividos no atual momento 
do Brasil, quando a “presidenta” eleita por mais de 54 milhões de votos 
está sendo afastada por um processo que tem sido denunciado dentro 
e fora do país como algo que não cumpre a mínima diretriz dentro da 
nossa Constituição. Inevitável lembrarmos, então, do período ditatorial 
que, não faz nem muito tempo, o país desembarcou dele, mais precisa-
mente nos anos 80 do século XX. Há muito de memória traumática sen-
do desenterrado no processo atual. Não é possível prever como serão 
os próximos tempos, um fantasma que mal começara a ser exorcizado 
é chamado a ser revisitado por fatores políticos que colocam em dúvida 
a credibilidade do processo político que ora se instaura.
Muitos dos mais recentes fatos levaram-nos a pensar em Costa-
-Gravas, com seu inesquecível Missing, que narra os dias que instau-
raram o golpe militar no Chile. O diretor compôs o seu roteiro utili-
zando o olhar de um pai, um americano conservador, republicano até 
ENTÎO��QUE�BUSCA�NO�#HILE�DOS�MILITARES�O�SEU�lLHO�DESAPARECIDO��/�
golpe dos anos 60 em toda a América Latina é assim desenhado pelas 
lentes do diretor.
O governo que agora está sendo destituído aqui foi o primeiro a 
verdadeiramente querer abrir as páginas da nossa história para apura-
ção e conhecimento público. Vimos funcionar a Comissão Nacional 
da Verdade, que, para o nosso orgulho, tinha como um dos seus mem-
bros a psicanalista Maria Rita Kehl, que esteve presente quando da 
O DOCUMENTÁRIO NOSTALGIA DA LUZ, 
DIRIGIDO POR PATRICIO GUZMÁN, 
MOSTRA AS CONSEQUÊNCIAS DE QUEM 
SOFREU COM A DITADURA MILITAR 
NO CHILE E REACENDE A DISCUSSÃO A 
RESPEITO DE UM POSSÍVEL RETROCESSO 
POLÍTICO NO BRASIL
cinema Por Dr. Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps
Quando o passado 
bate à porta
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 67
entrega do Relatório Final à “presidenta”. 
Talvez essa ousadia desse governo tenha 
sido um dos pontos que ergueram ódios 
que levaram ao desfecho que parece se 
encaminhar tudo isso.
A história acusa e, de certa maneira, 
talvez seja repetindo-a que se busque a 
explicação que atenue culpas por atos ou 
OMISSÜES��&OI�ASSIM��COMO�NO�lLME�Nos-
talgia da Luz, o astrônomo, o arqueólogo 
e o arquiteto que quiseram fazer ver que 
o presente não existe, como é pensado no 
lLME��O�PASSADO�ESTÉ� SEMPRE�NOS� TRA¥OS�
daquilo que pensamos como atual. Essa 
PODE�SER�A�GRANDE�PREMISSA�DESSE�lLME��
levando a questionamentos compartilha-
dos por diversas ciências, como Astro-
nomia, Física,Arqueologia e até mesmo 
Psicologia. O passado existe e nos brinda, 
e o presente nada mais é do que um frag-
mento deste.
/�lLME�COME¥A�DE�UMA�MANEIRA�EN-
volvente, nos apresentando tanto aos 
imensos telescópios, ao intrigante deserto 
do Atacama, assim como às belas imagens 
do enigmático espaço. O diretor constrói 
SUAS� REmEXÜES� EM� BUSCA� DE� UM� PASSADO�
que ali, naquele inóspito local, segundo ele 
a única mancha marrom em todo planeta 
Terra se encontra eternamente preservado 
Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde 
da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e psicanalista. 
Autores do livro �����G���G��Gd� ����
��
�����ƒ����: Participam de 
palestras, cursos e workshops em empresas e universidades sobre 
este tema. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br
pela total falta de umidade. O que ali jaz 
para sempre conta a história, mas é pre-
ciso querer buscá-la e enfrentar a secura 
das lacunas do desinteresse plantado pelos 
que comandaram cada período. Um lugar 
tipicamente inabitável, que guarda tantos 
segredos sórdidos de um passado político, 
mas também abre portas para o entendi-
mento do nosso futuro enquanto raça.
Interessante pensar esse documen-
tário junto a um episódio insólito que 
invadiu o deserto do Atacama em 2011, 
que, repentinamente, se apresentou aos 
OLHOS�HUMANOS�TODO�mORIDO��COM�COLORA-
ções diferentes, nos mais variados tons. 
Mudou por algum tempo sua aparência 
traduzindo uma festa que, talvez, ainda 
estejamos olhando tão perto, que encon-
tramo-nos míopes para entender a nota, 
O�RECADO�DA�NATUREZA��%SSA�mORADA�DO�DE-
serto ainda não pode ser compreendida. 
O fato é que algum fenômeno trouxe uma 
POSSIBILIDADE� DE� FAZER� mORIR�� TRADUZIR
SE�
EM�mOR��FAZER�GERMINAR�BULBOS�E�RIZOMAS�
IM
AG
EN
S:
 D
IV
UL
GA
ÇÃ
O
que podem ter estado ali adormecidos 
por décadas. Invade o olhar, encanta, en-
ternece, fazendo lembrar a poesia do ve-
LHO�POETA�$RUMMOND��A�mOR�QUE�VENCEU�
O�ASFALTO��A�mOR�QUE�A�TUDO�VENCE��A�VIDA�
que insiste sempre, como os presos polí-
TICOS�DE�0INOCHET��NARRADOS�NO�lLME��QUE�
olhando para as estrelas encontravam 
dentro de si a liberdade.
EXOPLANETAS
Também por esses dias recebemos a 
notícia que, pouco antes do desligamento 
DElNITIVO�DO�TELESCØPIO�+EPLER��OS�ASTRÙNO-
mos descobriram dentro da nossa galáxia 
mais de 1.200 exoplanetas e alguns apa-
rentemente úmidos e com condições de 
ter vida ou mesmo muito parecidos aqui 
com a nossa Terra. O mundo solavanca 
mais do que nunca na marcha do progres-
so e retrocesso, civilização versus barbá-
rie, desenvolvimento e atraso etc. Vivemos 
em uma canção estelar que talvez algum 
dia nos possibilite olharmos para o céu e 
entendermos um pouco desse presente, 
que é sempre passado. Oito minutos leva 
a luz do sol para atingir nossos olhos, o 
que vemos não está mais lá, mas nos in-
HÁ MUITO DE 
MEMÓRIA 
TRAUMÁTICA SENDO 
DESENTERRADO NO 
PROCESSO ATUAL. NÃO 
É POSSÍVEL PREVER 
COMO SERÃO OS 
PRÓXIMOS TEMPOS, 
UM FANTASMA QUE 
MAL COMEÇARA 
A SER EXORCIZADO 
É REVISITADO
p#P��G�������\�������������I\����G�����G�
������G��Ô�‚����‚G�
��������������G���G���G�o:������I������
���G���G��9�1����G��-�G�����G���
G�G�����G���G��G�I������G������IG��G����H����G��������G�
��
�I�����P����)���G���G�
G�'��9�
��I�������+G���I���"���P�:�
68 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br6868 pspsiquique ce ciêniênciacia&v&vidada wwwwww.po.portartalcilcienciiaevididvidida.ca comom.brbbr
vade em sensações, luzes e sombras. Um 
fascínio pelo externo, pelos distantes mi-
lhares de anos-luz, quando o aqui e agora 
não se torna tão suportável. Assim foi com 
os pioneiros da Astronomia do campo de 
concentração. Uma fuga possível para o 
imaginário, que acalenta e acalma.
As mulheres de Calama, que durante 
28 anos buscaram os restos mortais de 
seus parentes no deserto, presos políticos 
que por mais de 17 anos foram assassina-
dos a mando do ditador Pinochet, miram 
a terra ao invés de voltarem seus olhos 
para as estrelas. O astrônomo diz que suas 
buscas deveriam merecer mais respeito do 
que as deles, mas que não é assim que a so-
ciedade percebe aquelas que precisam en-
terrar seus mortos, de certa maneira para 
que, tocando o passado, recuperem a capa-
cidade de tocar no frágil presente, na atu-
alidade de suas experiências. Temos casos 
semelhantes em todas as ditaduras que se 
espalharam pela América Latina nos anos 
60. Aqui no Brasil, entre muitos outros de-
saparecidos, temos o caso de Stuart Angel, 
lembrar-se, e o faz em nome da resistên-
CIA��OU�SEJA��DE�SUA�DIlCULDADE�EM�COMPOR�
novas saídas e negociações psíquicas. Se 
pensarmos que isso também se aplica aos 
fenômenos do coletivo, veremos que sob o 
estado de circunstâncias especiais a histó-
ria se repetirá, como diz outro pensador, 
como uma farsa, e isso porque não há nela 
traço de mudança ou mesmo de presente. 
Ela apenas buscará recompor condições 
já ultrapassadas em nome de manter o 
“status” de uma recordação que não pode 
vir à tona. Os mecanismos de culpa e ver-
gonha, oriundos de impulsos destrutivos, 
são facilmente substituídos por operações 
de projeções e subsequente perseguição 
dos objetos assim investidos. Há um traço 
de tragicômico nos fatos que, negando a 
atualidade, apenas se impõem farsantes, 
fazendo um avesso das atualizações da re-
alidade. O discurso da repressão se ergue, 
então, a partir de fantasias persecutórias.
“Pessoas jovens e pueris, em particu-
lar, inclinam-se a transformar a necessi-
dade, imposta pelo tratamento, de pres-
tar atenção à sua doença, numa desculpa 
bem-vinda para regalar-se em seus sinto-
mas” (Freud, 1914).
Ao pensarmos as delicadas atualida-
des que atravessam muitos dos países que 
antes sofreram de massivas organizações 
repressivas, talvez possamos aproximar 
uma possível leitura, entre tantas outras, 
do quanto agora perigosamente podem 
se aproximar de uma repetição, aliada às 
suas partes mais adoecidas e, portanto, 
mais resistentes a qualquer atravessamen-
to da realidade para novas composições. E 
ESSE�lLME��DE�UMA�FORMA�REALMENTE�MUITO�
original, faz ver isso com algum encanta-
mento. A dor que toca, e como a toca, não 
produz mágoa ou ira, apenas intenta es-
forços de ligação com a vida, com o con-
serto, como diz outra participante do do-
cumentário, que é possível compor vidas 
onde a ausência inenarrável não produza 
a sensação de uma falta tão lancinante 
que ela descreve como a tendo carregado 
como um “defeito de fabricação”. Fala isso 
ENQUANTO�EMBALA�EM�SEU�COLO�SEU�lLHINHO�
ainda muito bebê. Então, mais do que ira 
lLHO�DA�ESTILISTA�:UZU�!NGEL��QUE�BUSCOU�O�
CORPO�DE�SEU�lLHO�ENFRENTANDO�OS�OBSCU-
ros porões da ditadura brasileira. O caso é 
NARRADO�EM�UM�lLME�DE�3ÏRGIO�2EZENDE��
Zuzu Angel (2006), e ela ganhou uma bela 
canção em sua homenagem composta por 
Chico Buarque de Hollanda, Angélica, que 
diz em certo trecho: “Quem é essa mulher. 
Que canta sempre esse estribilho? Só que-
RIA�EMBALAR�MEU�lLHO��1UE�MORA�NA�ESCU-
ridão do mar”. Vemos na letra a proximi-
dade com os relatos de dor das mulheres 
de Calama, em suas buscas no deserto. E 
mesmo com todos esses relatos, documen-
TOS��lLMES��CAN¥ÜES�E� TODAS�AS� FORMAS�DE�
expressar a dor, violência e agressividade 
que esse período da história nos remete 
aqui no país, ainda vemos questionamen-
tos e incentivos virtuais para o retorno des-
se tipo de “governo”.
RESISTÊNCIA 
Freud, em seu texto “Recordar, repe-
tir e elaborar” (1914), já nos alertava sobre 
o fato de um paciente repetir ao invés de 
O GOVERNO QUE AGORA ESTÁ SENDO 
DESTITUÍDO AQUI FOI O PRIMEIRO A 
VERDADEIRAMENTE QUERER ABRIR AS PÁGINAS 
DA NOSSA HISTÓRIA PARA APURAÇÃO E 
CONHECIMENTO PÚBLICO. VIMOS FUNCIONAR A 
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE��‚��������I�����G�I��I����G����
�������
����GIG�G9������IG�������I�����9�G�������������9�G��G��
G�����������G����`�����
www.portalcienciaevida.com.br
ou ressentimento, vemos aquilo que costu-
mamos chamar de esperança.
Patricio Guzmán, que é considerado 
um dos mais conceituados documentaris-
tas latino-americanos, foi ele mesmo um 
exilado quando da derrubada do governo 
de Salvador Allende. Elabora, via seus do-
cumentários, uma história que é de todo 
um país, seu Chile, e, ao mesmo tempo, 
toca em sua própria trajetória, os perigos 
que viveu e dos quais se salvou exilando-se 
em Cuba e depois na França. Talvez por 
ISSO�MESMO��SEU�lLME�TRAGA�TANTA�LUZ��POIS�
há nele um distanciamento necessário ao 
narrar uma história, mas, concomitante-
MENTE��ENCONTRAMOS�TODO�UM�lO�DE�AFETO�
que envolve o espectador todo o tempo. 
Os sons que insere colocam a quem assiste 
suspenso em um espaço mágico que pode 
ser da origem, nascimento de qualquer 
vida, como pode também ser pensado 
como os mistérios e enigmas que estão 
inacessíveis lá no universo.
SORRISOS
Vemos, em determinado trecho, duas 
das mulheres de Calama visitando o 
observatório e seus sorrisos ao olharem 
pelos poderosos telescópios. Há em seus 
sorrisos algo de criança ao se voltarem 
para os céus, como a deixar por alguns 
instantes toda a miséria e dor em seus 
olhos cansados de avistarem o solo. Uma 
nova fuga da realidade para um externo 
repleto de mistérios e que acalmam nos-
sas angústias. Dizem alguns pensadores 
da atualidade que a grande revolução 
será operada pelas mulheres, sua obs-
tinação, com certeza, tem enfrentado 
ao longo da história as mais poderosas 
forças. “Ergue os olhos, Hanah. Ergue 
os olhos!” (trecho do discurso no genial 
lLME�DE�#HARLES�#HAPLIN��O Grande Dita-
dor, 1940). Sabemos, então, que, por isso 
mesmo, há sempre uma estratégia de as 
calarem nos momentos-chave de emba-
te. As bruxas estão aí para nos lembrar 
disso, com forte simbolismo que a força 
do feminino traz. O homem do capital 
não contempla o desamparo, não perce-
be seu adoecimento, prefere a dominação 
com mais propriedade. Quando não po-
demos criar mecanismos que possibilitem 
isso, podemos assistir àquilo que se no-
meia como “peste emocional”, que pode 
ser comparada ao próprio surgimento do 
que se chama “o ovo da serpente”. Talvez 
ESSA� TAREFA� SEJA� O� QUE�� AO� lNAL�� AS� LENTES�
de Guzmán tão delicadamente propõem. 
A história tem muito a contribuir com o 
que vivemos como atual na subjetividade 
e, talvez, na verdade, como propõe, toda 
experiência seja, na verdade, passado.
Vida e morte são entrelaçadas com 
lOS� INSEPARÉVEIS� DE� PASSADO� E� PRESENTE��
compondo futuros incertos. O diretor já 
AlRMOU�QUE� hGRANDE�PARTE�DOS� CHILENOS�
não fala da História, ignoram-se os mas-
sacres e as perseguições, o desprezo pe-
los índios, ou o verdadeiro contexto por 
detrás dos golpes de estado”. Sabemos, 
por outro lado, que o Brasil foi um dos 
últimos países a querer entender o que 
aqui se passou em tempos recentes da 
última ditadura. Muito ainda nos assom-
bra com uma negação em algo mesmo 
próximo ao que ele narra em Nostalgia da 
Luz. Tempos obscuros se combatem com 
o estudo da História e muita claridade 
NAS�DISCUSSÜES� FUNDAMENTAIS��%SSE�lLME�
é inspirador quanto a esse aspecto.
IM
AG
EN
S:
 D
IV
UL
GA
ÇÃ
O
AS MULHERES DE 
CALAMA, QUE POR 
28 ANOS BUSCARAM 
OS RESTOS MORTAIS 
DE SEUS PARENTES 
NO DESERTO, PRESOS 
POLÍTICOS QUE POR 
MAIS DE 17 ANOS 
FORAM ASSASSINADOS 
A MANDO DE 
PINOCHET, MIRAM A 
TERRA AO INVÉS DE 
VOLTAREM SEUS OLHOS 
PARA AS ESTRELAS
)���G���G�
G�'��:�.^�����������G�d�)���G���G�
���G�'��:��������d�+G���I���"���P�:�
+G^���d�!�G�hG9������9� ��G��G9�����G��G��� /�:�"����d���I�����P���:�
���Gh�d�D;��������:�����
���G�hG�����d�=;<;:�������H��
��Gd�	��!����¤
������!�����:���G���‚IGhÔ�d�<=�G���:
negando todo feminino, a mãe terra e a 
vastidão das galáxias.
Sabemos que trabalhar as resistências 
é uma das tarefas mais árduas de um ana-
lista na condução de uma análise. Talvez 
ao pensarmos em mudanças coletivas ti-
véssemos que voltar um olhar mais apro-
fundado para onde deixarmos de levar 
essa discussão. Em termos do público foi o 
teórico Wilhelm Reich quem abordou isso 
��
��G
��G�
��+���I��������I�����������G����
��I�
G
���
��G�G��I�����:���H��IG�������I���������
��������
���G�G�G�\�GH��
G
G�
������G����I���G�����������G�
70 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
PERlL Por Anderson Zenidarci
O ESCRITOR E POETA EDGAR ALLAN POE 
É CONHECIDO POR SUAS HISTÓRIAS 
QUE ENVOLVEM SUSPENSE, TERROR 
E O MACABRO. SUA VIDA SE CONFUNDE 
COM SEUS CONTOS DE MISTÉRIO
A VIDA que 
imita a ARTE
U
m dos primeiros escritores 
americanos de contos e con-
siderado o inventor do gênero 
lC¥ÎO� POLICIAL� TAMBÏM� TEM�
UMA� GRANDE� CONTRIBUI¥ÎO� AO� GÐNERO� DE�
lC¥ÎO�CIENTÓlCA��.ASCEU�COMO�%DGAR�0OE�
NA�CIDADE�DE�"OSTON��lLHO�DE�ATORES�MAM-
BEMBES� DE� ORIGEM� ESCOCESA
IRLANDESA��
ANTES�DOS� TRÐS� ANOS�lCOU�ØRFÎO�DE�MÎE��
QUE�MORREU�POUCO�DEPOIS�DE�DAR�A�LUZ�A�
SUA�IRMÎ�CA¥ULA�E�DE�TER�SIDO�ABANDONADA�
PELO� MARIDO�� DEVIDO� TANTO� A� COMPLICA-
¥ÜES�NO�PARTO�COMO�A�TUBERCULOSE��$EI-
XOU�OS�TRÐS�lLHOS�ØRFÎOS��QUE�FORAM�CADA�
UM� PARA� UM� DESTINO� DIFERENTE�� %LE� FOI�
ACOLHIDO�PELO�CASAL�&RANCIS�E�*OHN�!LLAN��
rico empresário que morava na cidade de 
2ICHMOND�� NO� ESTADO� DA� 6IRGÓNIA�� MAS�
NUNCA�FOI�FORMALMENTE�ADOTADO��EMBORA�
*OHN�TENHA�LHE�DADO�O�SEU�SOBRENOME��FA-
ZENDO�COM�QUE�SE�CHAMASSE��A�PARTIR�DE�
ENTÎO��%DGAR�!LLAN�0OE��$ESDE�PEQUENO�
FOI�MAIS� APEGADO�Ì�MÎE�ADOTIVA�DO�QUE�
ao pai, que permanecia sempre distante, 
O�QUE�ESTIMULOU�A�DIFÓCIL�RELA¥ÎO�ESTABELE-
CIDA�ENTRE�OS�DOIS�A�PARTIR�DA�ADOLESCÐN-
cia do escritor, permeada por constantes 
BRIGAS�E�DISCUSSÜES�QUE�AMBOS�TERIAM�AO�
LONGO� DA� VIDA�� #OM� A� TAMBÏM� PRECOSE�
MORTE� DA�MÎE� ADOTIVA�� SEU� PAI� VOLTOU� A�
SE�CASAR�� COM�UMA�MULHER�MUITO� JOVEM�
QUE� LHE� DEU�DOIS� lLHOS�� E� QUE� O� REJEITA-
va veementemente, pois o via como uma 
AMEA¥A��)SSO�IMPEDIU�QUE�0OE�SE�TORNASSE�
HERDEIRO�DA�FORTUNA�PATERNA��E�ELE�SE�AFAS-
tou da casa do pai adotivo. Frequentou 
A�5NIVERSIDADE�DA�6IRGÓNIA� SOMENTE�POR�
um semestre, passando a maior parte do 
TEMPO� ENTRE� BEBIDAS� E� MULHERES�� !PØS�
UMA�SÏRIE�DE�DISCUSSÜES�COM�O�PAI��FUGIU�
DE�CASA�PARA� SE� ALISTAR�NAS� FOR¥AS� ARMA-
das, onde serviu durante dois anos antes 
de ser dispensado. O pai, a contragosto, 
USOU�SUA�INmUÐNCIA�E�O�AUXILIOU�A�ENTRAR�
NA�!CADEMIA�-ILITAR�DE�7EST�0OINT��TEN-
TANDO�MANTÐ
LO�NA�CARREIRA�MILITAR��-AS�
EM�VIRTUDE�DA�SUA�PROPOSITADA�DESOBEDI-
ÐNCIA�A�ORDENS��USO�DE�ÉLCOOL� E� ENVOLVI-
MENTO�COM�JOGOS�DE�AZAR��ELE�ACABOU�POR�
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 71
IM
AG
EN
S:
 W
IK
IP
ED
IA
/ A
RQ
UI
VO
 P
ES
SO
AL
/S
HU
TT
ER
ST
OC
K
ALLAN POE ERA CHAMADO DE CRÍTICO 
LITERÁRIO CRUEL, POR SUAS CRÍTICAS CÁUSTICAS. 
EM TOM DE RECLAMAÇÃO, DIZIAM QUE ELE 
USAVA ÁCIDO PRÚSSICO AO INVÉS DE TINTA
Anderson Zenidarci é mestre em Psicologia pela PUC-SP, supervisor e 
palestrante. Coordenador e professor do curso de Especialização em 
Transtornos e Patologias Psíquicas pela Facis, professor de pós-graduação no 
curso de Psicologia de Saúde Hospitalar na PUC-SP. Atua há mais de 30 anos 
em atendimento clínico em diversos segmentos da Psicologia, com especial 
dedicação à psicossomática, transtornos e patologias psíquicas. 
APARECEM� SEUS� CONTOS�MAIS� CONHECIDOS��
COMO�h/�GATO�PRETOv��h/�BARRIL�DE�!MON-
TILLADO�� h-ANUSCRITO� ENCONTRADO� NUMA�
GARRAFAv�E�h!�MÉSCARA�DA�MORTE�ESCARLA-
TEv��CONSIDERADO�OBRA
PRIMA�DO�TERROR��
3UA�MORTE��E�O�MISTÏRIO�QUE�A�CERCA��
PODERIA� PERFEITAMENTE� SER� UM� DE�SEUS�
CONTOS� DE� SUSPENSE�� 0OE� FOI� ENCONTRADO�
NAS� RUAS�DE�"ALTIMORE�� APØS� TER�DESAPA-
RECIDO�ALGUNS�DIAS��SUJO��VESTIA�ROUPAS�QUE�
NÎO�ERAM�SUAS�E�APRESENTAVA�UM�ESTADO�
de delirium tremens�� &ALECEU� NO� HOSPITAL�
QUATRO� DIAS� DEPOIS�� .ESTE� PERÓODO�� ELE�
NÎO� CONSEGUIU� ESTABELECER� UM� DISCURSO�
SUlCIENTEMENTE�COERENTE�QUE�PUDESSE�EX-
PLICAR�COMO�TINHA�CHEGADO�Ì�SITUA¥ÎO�NA�
QUAL�FOI�ENCONTRADO��!�CAUSA�DE�SUA�MOR-
TE�PREMATURA��AOS����ANOS���DESCONHECI-
DA��POLÐMICA�E�CONTROVERSA��&OI�POR�DIVER-
SAS�VEZES�ATRIBUÓDA�AO�ÉLCOOL�� CONGESTÎO�
CEREBRAL�� CØLERA�� SÓlLIS�� DROGAS�� DOEN¥AS�
CARDIOVASCULARES�� SUICÓDIO�� TUBERCULOSE��
DOEN¥AS�CEREBRAIS�RARAS��
/�FATO��QUE��COMO�EM�ALGUNS�DOS�SEUS�
CONTOS��A�VERDADE�JAMAIS�SABEREMOS�
BÏM�ESCREVEU�SÉTIRAS��CONTOS�DE�HUMOR��E��
COMO�EFEITO�CÙMICO��USOU�A�IRONIA�E�A�EX-
TRAVAGÊNCIA�DO�RIDÓCULO��MUITAS�VEZES�NA�
TENTATIVA�DE�LIBERAR�O�LEITOR�DA�CONFORMI-
DADE� CULTURAL�� %RA� CONHECIDO� COMO� UM�
CRÓTICO� LITERÉRIO� CRUEL�� POR� SUAS� CRÓTICAS�
CÉUSTICAS��/S�AUTORES�DIZIAM��EM�TOM�DE�
RECLAMACÎO��QUE�ELE�USAVA�ÉCIDO�PRÞSSICO�
AO�INVÏS�DE�TINTA��
3UAS� OBRAS� INmUENCIARAM� A� LITERATURA�
DO�MUNDO��EM�CAMPOS�ESPECIALIZADOS��TAIS�
COMO�A�COSMOLOGIA��CIÐNCIA�QUE�TRATA�DAS�
LEIS�GERAIS�QUE�REGEM�O�UNIVERSO	�E�A�CRIP-
TOGRAlA��ESCRITA�POR�MEIO�DE�SINAIS�CODIl-
CADOS��PARA�QUE�POSSA�SER�LIDO�E�ENTENDIDO�
SOMENTE�POR�QUEM�DETENHA�A�SENHA�DE�SUA�
DECODIlCA¥ÎO	�� 5SOU� DAS� PSEUDOCIÐNCIAS�
MUITO�EM�hMODAv�NA�ÏPOCA��COMO�A� FRE-
NOLOGIA��ESTUDO�DA�ESTRUTURA�DO�CRÊNIO�QUE�
determina o caráter e a capacidade men-
TAL	�E�A�lSIOGNOMIA (TÏCNICA�DE�COMPREEN-
SÎO� DO� COMPORTAMENTO� E� PERSONALIDADE��
POR�MEIO�DA�OBSERVA¥ÎO�DAS�CARACTERÓSTICAS�
DOS�TRA¥OS�FACIAIS�E�CORPORAIS	��/�USO�DES-
SES�RECURSOS�EM�SEUS�ESCRITOS�FASCINAVA�O�
PÞBLICO�LEITOR��!�COMO¥ÎO�CRIADA�POR�SUAS�
FA¥ANHAS�CRIPTOGRÉlCAS�DESEMPENHOU�UM�
PAPEL� IMPORTANTE�EM�POPULARIZAR� CRIPTO-
GRAMAS�EM�JORNAIS�E�REVISTAS��
0OSSUÓA�UMA�AlADA�HABILIDADE�ANALÓ-
TICA�� BEM� EVIDENTE� EM� SUAS� HISTØRIAS� DE�
DETETIVE��QUE�SE�PERMITIA�DESCREVER�AO�PÞ-
BLICO�O�PERlL�DO�ASSASSINO�POR�SEU�modus 
operandi�� 3EU� TRABALHO�APARECE�AO� LONGO�
DA�CULTURA�POPULAR�NA�LITERATURA��MÞSICA��
lLMES�E� TELEVISÎO��0OE�Ï�UM�ESCRITOR�ES-
TUDADO�E�CULTUADO��%NTRE�SUAS�OBRAS�DES-
tacam-se: O Corvo, Annabel Lee�E�O�VOLU-
me Histórias Extraordinárias� �����	��ONDE�
STICAS.STICAS.TICASS
SER�EXPULSO�DESTA�ACADEMIA��EM�������FATO�
PELO�QUAL�SEU�PAI�ADOTIVO��OFENDIDO��O�RE-
PUDIOU�AT�A�SUA�MORTE��
%M�������CONSEGUINDO�SE�MANTER�POR�
meio dos seus escritos, casa-se em segre-
DO�COM�A�SUA�PRIMA�6IRGÓNIA�#LEMM��DE�
���ANOS��1UATRO�ANOS�DEPOIS�ELA�COME¥OU�
A�SOFRER�DE�TUBERCULOSE�E�MORREU�APØS�SEIS�
ANOS�� 6IÞVO�� TENTOU� UM� RELACIONAMENTO�
COM�3ARAH�(ELEN�7HITMAN��QUE�O�REJEI-
tou em virtude do comportamento errá-
TICO��DESREGRADO�E�ALCOØLICO��
.A�ÏPOCA��0OE� TENTOU�O�SUICÓDIO�POR�
SOBREDOSAGEM�DE�LÉUDANO��E�REGRESSOU�Ì�
CIDADE�DE�2ICHMOND��ONDE�RETOMOU�A�RE-
LA¥ÎO�COM�UMA�PAIXÎO�DE�INFÊNCIA��3ARAH�
%LMIRA� 2OYSTER�� ENTÎO� VIÞVA�� 4AMBÏM�
NESSE� RELACIONAMENTO� TEVE� PROBLEMAS�
PELO�SEU�ALCOOLISMO��%LE�ERA�UMA�PESSOA�
SOLITÉRIA��DIZIA�POUCO�SOBRE�SI��UM�DESCO-
NHECIDO�MESMO�PARA�OS�MAIS�PRØXIMOS��
"EBIA�MUITO� E� SEMPRE� JOGAVA�� SAÓA� COM�
PROSTITUTAS� FREQUENTEMENTE�� 0ARECIA� NÎO�
PERTENCER�A�LUGAR�NENHUM��
!LÏM� DE� ESCRER� COMPULSIVAMENTE� E�
SER��BRILHANTE�NO�GÐNERO�DE�HORROR��TAM-
-�G���H�G����ƒ���I�G�G��G������G���G�
�����
�9�
���IG���������I�G���G
��9��G���I����G�
I��������G���G�I�������G‚G
+��������^G���G�G‚G
G��GH���
G
��G�G�^��IG9�H���
���
����������G������`��G��
��
�������
www.portalcienciaevida.com.br
SH
UT
TE
RS
TO
CK
utilidade pública Por Roberta de Medeiros
A PERDA DO CÔNJUGE É O TIPO DE LUTO QUE COM 
MAIS FREQUÊNCIA RESULTA EM ENCAMINHAMENTO 
PSIQUIÁTRICO, POR ISSO O TEMA, TÃO DELICADO, NÃO PODE 
SER ENCARADO COMO UM DADO ESTATÍSTICO QUALQUER
72 psique ciência&vida
DIFICULDADE 
em superar a VIUVEZ
morrer depois de perder sua esposa é 
de 21%, independentemente do fato de 
estar doente ou não. A percentagem é 
de 17% para as mulheres. 
A análise do médico e sociólogo 
Nicholas Christakis, da Universidade 
Harvard, e do sociólogo Paul Allison, 
da Universidade da Pensilvânia, tam-
bém deixou claro que dependendo da 
garem a morrer também pouco tempo 
depois da separação. 
Casos assim são frequentes, apon-
tou uma pesquisa feita nos Estados 
Unidos. O estudo avaliou o impacto 
do luto na saúde e bem-estar de mais 
de meio milhão de casais de idosos 
entre 65 e 89 anos. De acordo com o 
levantamento, a chance de um homem 
A 
morte de uma pessoa da fa-
mília é sempre uma experi-
ência traumática, superada 
a duras penas. A perda do 
companheiro é ainda mais complica-
da, muitas vezes f ica a ausência, uma 
espécie de morte em vida. Em alguns 
casos, o abalo é tão forte que acaba 
sendo inevitável muitas pessoas che-
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 73
SITUA¥ÎO� A� INTERNA¥ÎO� JÉ� Ï� SUlCIENTE�
para aumentar o risco de morte do côn-
juge. A probabilidade é de 4,5% para os 
homens e de 2,7% para as mulheres. 
Cerca de um mês após a morte ou 
internação do parceiro, a ameaça do 
outro também morrer chega a 61% e 
se mantém alta durante um período 
de até dois anos, mostra o levanta-
mento. Isso se deve ao fato de que a 
morte do marido ou da mulher provo-
ca níveis altíssimos de estresse, além 
de outras perdas que vêm por tabela, 
como abalos na vida social, emocio-
nal e até mesmo econômica. 
Não é o caso de encarar um tema 
tão delicado como um dado estatísti-
co qualquer. Pelo contrário, observam 
os sociólogos. Segundo eles, os dados 
sugerem uma nova óptica, a de que os 
parentes e prof issionais da saúde de-
veriam dar maior atenção aos recém-
-viúvos, uma medida preventiva capaz 
de proteger a saúde deles quando per-
dem seus vínculos afetivos. 
O impacto da perda também vai 
depender da doença que causou a 
morte ou internação da pessoa. Al-
gumas doenças, por características 
particulares, acabam gerando um 
desgaste emocional muito maior aos 
familiares e ao cônjuge. 
Em caso de insuf iciência cardía-
ca, fratura de quadril ou uma doença 
pulmonar crônica, como o enf isema, 
a probabilidade de morte do compa-
nheiro aumentava de 11% a 15%, mos-
trou o estudo. O mesmo não se dá em 
relação à hospitalização ou morte por 
câncer no intestino, por exemplo. 
Mas é a doença mental que mais 
abala a saúde do parceiro. A interna-
Já os evitadores demonstram arre-
pendimento habitual após a perda. As 
pesquisas revelam que o sentimento de 
culpa é o mais comum. “Você tem re-
morsos por algo que disse ou fez, mas 
agora não pode mais consertar?”, per-
guntaram os pesquisadores. Mais da 
metade das pessoas enlutadas entre-
vistadas pelo estudo de Parkes respon-
DEU�AlRMATIVAMENTE��
Outra pesquisa feita em Harvard en-
tre jovens viúvos e viúvas mostra que, 
QUANDO�ERAM�ALTOS�OS�CONmITOS�MATRIMO-
niais, havia baixo sofrimento emocional 
durante as primeiras semanas de luto. 
0ORÏM��O�LUTO�DO�GRUPO�CONmITUOSO�PIO-
rou e prolongou-se. Após quatro anos 
da morte, os viúvos ainda lamentavam o 
parceiro perdido. Já no caso dos relacio-
namentos dependentes, o luto era dura-
douro e intenso desde o início. 
Viúvos inseguramente apegados a 
seus parceiros sofriam mais de raiva, 
isolamento social, culpa, ansiedade de 
morte, sintomas somáticos, desespe-
ro, despersonalização e pensamentos 
recorrentes do que as pessoas segura-
mente apegadas. 
/UTRO� FATO� QUE� INmUENCIA� O� LUTO�
COMPLICADO� Ï� A� AUSÐNCIA�DA�lGURA�DO�
lLHO�� 0ESSOAS� QUE� HAVIAM� PERDIDO� O�
lLHO�FORAM�MAIS�ASSOLADAS�POR�PENSA-
mentos de perda. 
A perda de um parceiro dá margem 
ao surgimento de sentimento de solidão 
mais severoque outros tipos de perda. 
Alguns autores mostram que a propor-
ção de enlutados pela perda do cônjuge 
que disseram estar muito solitários não 
era maior entre aqueles que moravam 
sozinhos do que aqueles que viviam 
com outras pessoas. O que nos leva a 
crer que viver com outras pessoas não 
reduz, necessariamente, a solidão da-
queles que perderam o parceiro.
PESQUISA SUGERE QUE OS PARENTES E 
PROFISSIONAIS DA SAÚDE DEVERIAM DAR 
MAIOR ATENÇÃO AOS RECÉM-VIÚVOS, UMA 
MEDIDA PREVENTIVA CAPAZ DE PROTEGER 
A SAÚDE DELES QUANDO PERDEM SEUS 
VÍNCULOS AFETIVOS
	�H���G�
��(�
������\�
���G����G�I����^‚IG:�
 ¢�G��d���H���G:�����I���I�G�²��G��:I��
ção por esquizofrenia (doença que 
causa delírios, alucinações e drásticas 
alterações na forma de pensar e ex-
pressar suas emoções), perda gradativa 
da memória ou da capacidade de julga-
mento podem comprometer, e muito, 
o bem-estar dos mais próximos. 
Nesse caso, o risco de morte sobe 
para 32%. Isso porque os distúrbios 
psiquiátricos crônicos causam so-
frimento para o resto da vida, com 
mudanças profundas na qualidade da 
convivência entre o casal e demais fa-
miliares. Também há sempre uma de-
pendência muito grande em relação 
ao parceiro. 
No livro Amor e Perda, o psiquiatra 
Colin Murray Parkes mostra que a re-
ação do cônjuge ao luto depende do 
tipo de vínculo que tinha com os pais 
ou cuidadores durante o seu desen-
volvimento. Ele estabeleceu padrões 
de amor que inf luenciam a maneira 
como as pessoas veem o mundo. Isto 
determina a forma como os adultos 
reagem à morte da pessoa querida. 
Os cuidados parentais problemáti-
cos, por exemplo, acarretam na vulne-
rabilidade na infância, inf luenciando 
os relacionamentos na vida adulta e o 
nível de sofrimento emocional decor-
rente do luto. Uma pesquisa feita em 
Harvard mostra que ter uma relação 
dependente na vida adulta foi um dos 
preditores mais poderosos das rea-
ções problemáticas de luto. 
74 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
NOVAS TÉCNICAS
Novas perspectivas 
para GESTÃO 
de PESSOAS
NOVAS TÉCNICAS
Novas perspectivas 
para GESTÃO 
de PESSOAS
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 75
SH
UT
TE
RS
TO
CK
 
Dionízio Costta Jr. é 
psicólogo organizacional, 
professor e pesquisador. 
Diretor de Pesquisa e 
Desenvolvimento da ABRH-
PE – Associação Brasileira 
de Recursos Humanos. 
Coautor do livro Coaching 
– Aceleração de Resultados 
(Editora Ser Mais).Por Dionízio Costta Jr. 
O counseling organizacional é uma ferramenta 
que utiliza o conhecimento técnico de uma 
pessoa para aconselhar de maneira sistemática 
������‚�����G��G����G��G��
�I��€����G���
G�������G�9���������
G��H��\‚IG���G�G���G���
G
PPPPPPPooooooorrrrrrrrr DDDDDDiiiiiiiooooooooonnnnnnnníííííííízzzzzzzziiiiiiiioooooooo CCCCCCooooooossssssssttttttttttttttttaaaaaaa JJJJJrrrrrrrr.... Por Dionízio Costta Jr. 
OOOOOOOO ccccccccoooooooouuuuuuuuunnnnnnnnnnnssssssssseeeeeeeeeeellllllllliiiiiiiinnnnnnnnnnggggggggggggg oooooooorrrrrrrrrrrgggggggggggggaaaaaaaaaannnnnnnnnniiiiiiiizzzzzzzzzzzaaaaaaaaaaccccccccccciiiiiioooooooooonnnnnnnnnnaaaaaaaaaaallllllllll ééééééééééé uuuuuuuuuummmmmmmmmmmaaaaaaaaaa fffffffffffeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaammmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttaaaaaaaaaa 
qqqqqqqqqquuuuuuuuuueeeeeeeeeee uuuuuuuuuuttttttttttttiiiiiiiilllllllliiiiiiiizzzzzzzzzzzaaaaaaaaaa oooooooo ccccccccoooooooonnnnnnnnnnhhhhhhhhhhheeeeeeeeeeecccccccccciiiiiiimmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnnttttttttttttooooooooo tttttttttttéééééééééééccccccccccnnnnnnnnnniiiiiiiicccccccccoooooooo ddddddddddeeeeeeeeeee uuuuuuuuuummmmmmmmmmmaaaaaaaaaa 
pppppppppppeeeeeeeeeeessssssssssssssssssooooooooooaaaaaaaaaa pppppppppppaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrraaaaaaaaaa aaaaaaaaaaacccccccccccoooooooonnnnnnnnnnssssssssseeeeeeeeeeelllllllllhhhhhhhhhhhaaaaaaaaaarrrrrrrrrrr ddddddddddeeeeeeeeeee mmmmmmmmmmmaaaaaaaaaannnnnnnnnnneeeeeeeeeeeiiiiiiiiirrrrrrrrrraaaaaaaaaa sssssssssiiiiiiiiisssssssssttttttttttteeeeeeeeeeemmmmmmmmmmmáááááááááátttttttttttiiiiiiicccccccccaaaaaaaaaa 
�����������������������������������������������������‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚����������������������������������������������GGGGGGGGGGG���������GGGGGGGGGGG��������������������������������GGGGGGGGGG�������������GGGGGGGGGG����������
�����������IIIIIIIIII����������������€€€€€€€€€€���������������������������������GGGGGGGGGG�������������������
GGGGGGGGGG���������������������������������������������������������������������GGGGGGGGGG���������9999999�������������������������������������������������������������������
GGGGGGGGGG������������HHHHHHHHHHH���������������������\\\\\\\\\\\‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚‚IIIIIIIIGGGGGGGGGG���������������������GGGGGGGGGGG����������GGGGGGGGGG��������������������GGGGGGGGGG�������������������
GGGGGGGGGG
O counseling organizacional é uma ferramenta 
que utiliza o conhecimento técnico de uma 
pessoa para aconselhar de maneira sistemática 
������‚�����G��G����G��G��
�I��€����G���
G�������G�9���������
G��H��\‚IG���G�G���G���
G
76 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
NOVAS TÉCNICAS
ABORDAGEM SEM HIERARQUIA
 PARA SABER MAIS
O 
psicólogo norte-americano Carl Ransom Rogers (1902-1987) teve atuação 
marcante na terceira força da Psicologia (corrente humanista), além de ter 
sido um dos principais nomes da Abordagem Centrada na Pessoa. Dedicou-se à 
I������h��
������\��
��I����^‚I���G�+��I�����G9�����������I����I�
�����������
��������
G�����I�Gh�������IG�G�
��+��I�����G9�����
G
��
G���G�����������
�����
���‚�G��
G�
\IG
G�
��<D@;:�.G�H\���������
��������������������
��������P��I��
G�I�^��IG����I��`��IG:�	������
��I��
G�G�
G������h€�����
�I������G��
G�+��IG�P�����
��
��H��G��������:�+�������9�I�������G�GH��
G������`���G9�������I��G�G��
����‚IG��
a pessoa em terapia como paciente ou doente, característica das duas primeiras 
correntes à época, e apontou a importância da relação da pessoa e do terapeuta, 
���9������G�I��I��h�9�����G�����G�������������^G������h��
������G����G:����
I����P����
������G�� ���
�I�G��
������G�����9�I�
G� G���h�����I��I����G�G��G�
�
��G�
��������
���������G�������G���G���������HP��IG9�	������I��I�����I�����G��
�������G���������G��������G�������IG
G9��G��G�
��G�
����
������9��G����
G
�9���
�bI����HP��I��
G�������G��
G
�����G�G����
������G�O��Gb
����G��H��¢���G�:�!�I���
famoso por elaborar um método psicoterapêutico centrado no próprio paciente. O 
���G����G�����
��
�������������G����Gh��
��I��‚G�hG�I���G������G��G�G�������G�
encontre sozinha sua própria cura.
Counseling é uma abor-dagem profissional e pessoal com foco específico no desen-volvimento do ser hu-
mano, que visa otimizar suas capaci-
dades. É desenvolvida com atividades 
estruturadas de acompanhamento, 
desenvolvimento e resultado. Basica-
mente, consiste em uma pessoa que, 
dotada de conhecimento técnico, ex-
periência de vida pessoal e profissio-
nal, aconselha de forma sistemática e 
dedicada o outro a tomar as decisões 
mais assertivas, e que sejam benéficas 
para sua vida. Quem aconselha ganha 
o nome de counselor e quem recebe o 
Quem aconselha ganha o nome de counselor 
e quem recebe o aconselhamento é 
chamado de counselee. Essa atuação pode 
existir de duas formas: amadora (de maneira 
informal e aleatória) ou profissional (de modo 
sistemático e com frequência)
rendo presbiteriano Jay Edward Adams, 
professor e conselheiro. Entretanto, sua 
abordagem foi criticada por seu grau 
elevadíssimo de subjetividade.
Todos, em algum momento da 
vida, serviram como conselheiro para 
alguém, orientando-o a tomar as me-
lhores decisões, ou em outras ocasiões 
foi aconselhado, direcionado a fazer as 
melhores escolhas. Entretanto foi com 
Carl Rogers (8/1/1902-4/2/1987), 
Œ�Referência mundialŒ
A American Counseling Association – ACA é 
uma organização profissional e educacional 
sem fins lucrativos, que tem por objetivo se 
dedicar ao desenvolvimento e à valorização da 
atividade de aconselhamento. Criada em 1952, 
nos Estados Unidos, é considerada a maior 
associação do mundo no setor, representan-
do exclusivamente conselheiros profissionais 
em inúmeros cenários da prática da atividade. 
Conta com mais de 55 mil membros.
aconselhamento é chamado de coun-
selee. Essa atuação pode existir de 
duas formas: amadora (de maneira in-
formal e aleatória) ou profissional (de 
modo sistemático e com frequência).
A aplicação do counseling é milenar. 
É possível perceber ao longo do proces-
so histórico a existência de aconselha-
mento em todas as sociedades, desde os 
povos indígenas até as grandes coroas 
da Idade Média. Todavia, observa-se 
sua atuação mais fortemente na religião. 
Alguns teóricos atribuem a origem da 
técnica de counseling ao cristianismo 
como uma ação natural dentro das co-
munidades eclesiásticas. Nesse meio, se 
destaca a contribuição dada pelo reve- *����‚�����G������G��G�I���I����������
GH��
G�
������G����‚�����G���������G����
desenvolvimento do ser humano, otimizando 
suas capacidades
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 77
psicólogo que fundamentou as carac-
terísticas que hoje são usadas no desen-
volvimento humano. A premissa básica 
do counseling é colocar o ser humano 
no centro de toda ação, antes mesmo do 
problema. A definição de Rogers (1942) 
para counseling é a seguinte: “Uma sé-
rie de contatos diretos com o indivíduo 
com o objetivo de lhe oferecer assis-
tência na modificação de suas atitudes 
e comportamentos. Consiste em uma 
relação permissiva que oferece ao indi-
víduo oportunidade de compreender 
a si mesmo e a tal ponto que habilita a 
tomar decisões em face de suas novas 
perspectivas”. A partir de leitura de San-
tos e apresentada por Scorsolini-Comin 
acerca de Rogers, o aconselhamento 
pode ser compreendido como um “[...] 
método de assistência psicológica des-
tinada a restaurar no indivíduo suas 
condições de crescimento e de atualiza-
ção, habilitando-o a perceber, sem dis-
torções, a realidade que o cerca e a agir, 
nessa realidade, de forma a alcançar am-
pla satisfação pessoal e social” (p. 7).
Sua atuação organizacional nasce 
no início da década de 1940, na Europa, 
e fortemente nos Estados Unidos, 
onde existe a maior associação de 
aconselhamento no mundo: a ACA 
– American Counseling Association.
Definições
Scorsolini-Comin ainda expõe outras definições sobre acon-
selhamento: Erickson (1951) - Re-
lação entre duas pessoas na qual 
um dos participantes assumiu ou 
foi levado a assumir a responsabi-
lidade de ajudar o outro. O cliente 
tem possíveis necessidades, proble-
mas, bloqueios ou frustrações que 
deseja tentar satisfazer ou modifi-
car. O bem-estar do cliente consti-
tui o interesse central da situação. 
Shostrom e Brammer (1952) - Rela-
ção objetiva e recíproca entre duas 
pessoas, em que uma, com forma-
ção específica, auxilia a outra a mo-
dificar-se ou a mudar seu ambiente IMAG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K
Todas as pessoas, em algum momento da 
vida, serviram como conselheiras para alguém, 
orientando-o a tomar as melhores decisões, 
ou em outras ocasiões foi aconselhado, 
direcionado a fazer as melhores escolhas
mudanças em uma ou mais das seguin-
tes áreas: comportamental; construtos 
pessoais; capacidade de ser bem-suce-
dido nas situações de vida, de forma a 
aumentar ao máximo as oportunidades 
e reduzir ao mínimo as condições de 
decisão. O aconselhamento deve resul-
tar em comportamento livre e respon-
sável por parte do cliente, acompanha-
do de capacidade para compreender e 
controlar a ansiedade. Sheeffer (1980) 
- Relação face a face entre duas pessoas, 
na qual uma delas é ajudada a resolver 
dificuldades de ordem educacional, 
profissional, vital e a utilizar melhor os 
seus recursos pessoais.
No Brasil sua atuação é pequena, 
quase inexistente, com pouca literatu-
ra especializada e serviços oferecidos. 
Isso acontece devido ao grande equívo-
co em se achar que tudo precisa de 
coaching. A confusão é feita, geral-
mente, porque pessoas não dotadas 
de capacidade para diagnosticar a 
necessidade da ferramenta, levando 
em consideração a carência do in-
divíduo, recomendam coaching por 
ser algo da moda ou com a desculpa 
de que deu certo na empresa tal. Para 
tudo indicam o coaching, achando 
que essa ferramenta é a solução de 
todos os males. Não é! O coaching 
é incrível em seus resultados, mas 
quando aplicado para quem precisa 
de um processo de coaching. Não é 
difícil até mesmo os teóricos confun-
direm o counseling com o coaching 
e o mentoring. Essas tão poderosas 
ferramentas têm pontos em comum, 
mas quando se debruça a compreen-
der cada uma delas, percebe-se que 
existem diferenças alarmantes, e é 
justamente essas particularidades 
(p. 1). Mac Kinney (1958) - Relação in-
terpessoal na qual o conselheiro assiste 
o indivíduo na sua totalidade psíquica 
a se ajudar mais efetivamente a si pró-
prio e ao seu ambiente. Stefflre (1976) 
- Indica um relacionamento profissio-
nal entre um orientador preparado e 
um cliente. Esse relacionamento, ge-
ralmente, se verifica apenas entre duas 
pessoas, embora, às vezes, possa envol-
ver mais de duas, e destina-se a auxiliar 
o cliente a compreender e ver melhor 
seu espaço vital, de modo a fazer esco-
lhas significativas, com base em infor-
mações, de acordo com sua natureza 
essencial nas áreas onde haja escolha 
para ele fazer. Patterson e Eisenberg 
(1988) - Processo interativo caracteri-
zado por uma relação única entre con-
selheiro e cliente, que leva este último a 
Há indicações de que o counseling é milenar, com 
registros da existência de aconselhamento em todas as 
sociedades, desde os indígenas até a Idade Média
78 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
NOVAS TÉCNICAS
Para Shostrom e Brammer, o aconselhamento 
é uma relação objetiva e recíproca 
entre duas pessoas, em que uma, com 
formação específica, auxilia a outra a 
modificar-se ou a mudar seu ambiente
que cada uma tem que define seu su-
cesso no processo de desenvolvimento 
individual. Não existem melhores ou 
piores ferramentas, todas elas apresen-
tam resultados e um impacto positivo 
dentro da organização. Entretanto, cabe 
sempre ressaltar e reforçar que devem 
ser sempre aplicadas de maneira pru-
dente e ética com responsabilidade e 
maturidade organizacional, sem modis-
mos ou conveniências.
No que concerne ao counseling, 
existem especificações que evidenciam 
as principais diferenças: Quem pode 
ser um counselor? Pessoa com experi-
ência profissional e pessoal, que tenha 
o conhecimento e vivência no campo 
organizacional. Será necessária tam-
bém uma preparação para assumir o 
papel de counselor, um curso de for-
mação, para aprender as técnicas que 
precisam ser usadas nas sessões. Quem 
pode ser um counselee? Profissionais 
talentosos que exercem um cargo estra-
tégico dentro das organizações, o tipo 
de funcionário que vale a pena investir 
caro para aprimorar suas capacidades. 
Onde acontecem as sessões? Podem 
acontecer dentro da organização ou 
fora (exceto para situações em que o 
counselor perceba que precisa tirar o 
counselee de dentro da empresa para 
uma reflexão mais aprofundada). Qual 
o foco? No ser humano, muito antes 
do problema ou gap. Vale salientar que 
o ser humano é único e que reflete no 
campo profissional experiências pesso-
ais. Consequentemente, quando o pro-
fissional auxilia no crescimento pessoal 
está sendo proporcionado crescimento 
profissional. Qual a metodologia? O 
counselor possui conhecimento téc-
nico na ferramenta para o desenvolvi-mento do colaborador indicado. São re-
alizadas sessões mensais, com duração, 
em média, de uma hora (para mais ou 
para menos). Nessas sessões são reali-
zados aconselhamento e atividades de 
reflexão, além de ações pós-sessão.
Diferenças
É de extrema importância entender que, quando se fala em counseling 
organizacional, a referência é uma fer-
ramenta de desenvolvimento humano, 
com foco na pessoa dentro da organiza-
ção, pois existe, também, o counseling 
como ferramenta terapêutica usada em 
sessões de análise psicológica ou Psica-
nálise (não é este o caso). Quando uma 
empresa decide aderir a um programa 
de counseling, ela precisa ter em mente 
que é de extrema importância selecionar 
uma pessoa que seja de referência den-
tro da organização para ocupar a função 
de conselheiro. Esse profissional sele-
cionado internamente precisa ter não 
apenas a vivência, mas também o perfil, 
um perfil auxiliador que tem foco nas 
pessoas, com sensibilidade e interesse 
no desenvolvimento de pessoas (testes 
de análise comportamental facilitarão 
nessa busca. Entretanto, é importante 
ressaltar que os testes não devem ser to-
mados como verdades absolutas de pes-
soas, pois o ser humano é muito maior 
que qualquer teste que possa existir). 
Além disso, proporcionar uma capacita-
ção (que pode ser interna, com a ajuda 
de uma consultoria especializada) para 
que o profissional possa conhecer e ter o 
domínio das ferramentas usadas em um 
processo de counseling organizacional.
No que diz respeito ao colabora-
dor que receberá as sessões de aconse-
lhamento, é necessário, antes de mais 
nada, entender se o caso dele requer um 
profissional que o aconselhe nas esco-
lhas e decisões. Então, o primeiro pas-
so é perceber a real necessidade do uso 
do counseling (uma consultoria ajuda-
rá no diagnóstico), para não correr o 
risco de usar o counseling quando, na 
verdade, precisaria de um mentoring 
ou um coaching. Quando é entendida a 
necessidade, começa a conscientização 
do colaborador no sentido de entender 
Além do counseling organizacional, existe, também, o counseling como ferramenta terapêutica, 
utilizado em sessões de análise psicológica ou Psicanálise
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 79
O coaching é incrível em seus resultados, 
mas quando aplicado para quem precisa 
de um processo de coaching. Não é difícil 
até mesmo os teóricos confundirem o 
counseling com o coaching e o mentoring
o que é a ferramenta, como ela funcio-
na, seu desfecho e seus resultados. Não 
é aconselhável iniciar um processo 
onde essas informações não estejam 
claras para o counselee. Não existe 
uma data fixa para o fim de um proces-
so, mas existem médias de tempo que 
podem ser renovadas. A princípio, seis 
meses é uma média de tempo para uma 
primeira etapa. Se houver necessidade 
de estender isso poderá acontecer com 
tranquilidade, mas é importante ficar 
atento para não criar uma situação na 
qual o counselee fique como que esti-
vesse “acorrentado” ao counselor.
Benefícios
Os ganhos de um programa de counseling são inúmeros. É pos-
sível enumerar dez benefícios mais 
evidenciados nos colaboradores que 
recebem sessões de desenvolvimento 
com essa ferramenta. São os seguin-
tes: assertividade nas tomadas de de-
cisão; maior alinhamento cultural; 
maior relacionamento de parceria; 
baixo investimento em treinamento; 
qualidade de vida no trabalho; maior 
planejamento e controle; amadureci-
mento organizacional; maior capaci-
dade de criação e inovação; melhoria 
da carreira profissional; entendimen-
to da real utilidade e contribuição 
para a organização.
Para a organização, os benefícios 
também são inúmeros, desde ter um 
colaborador mais motivado e enga-
jado nos projetos da empresa até um 
funcionário mais saudável psicologica-
mente falando. Esses ganhos, por si, já 
são maravilhosos e atestam a eficácia 
que um programa bem estruturado 
proporciona. Também são percebidos 
ganhos para o counselor, que também 
vão desde prestígio dentro da corpora-
ção até o sentimento de dever cumpri-
do em poder ter ajudado um outro ser 
humano a se desenvolver.
O counseling, sem dúvida, é uma 
das melhores ferramentas para o desen-
volvimento humano organizacional. 
Como foi possível observar, sua atuação 
beneficia a todos: a quem recebe, quem 
aplica e à organização como um todo. 
A valorização do ser humano é, certa-
mente, o melhor caminho para se obter 
uma organização assertiva em seus re-
sultados e sempre gozando de sucesso, e 
quando aplicado de maneira bem elabo-
rada, estudada e planejada o counseling 
ajuda a atingir os objetivos. Com isso, é 
possível desmistificar aquele velho dita-
do que diz que “se conselho fosse bom, 
não se dava, vendia”. Conselho bom é 
conselho dado com razão.
REFERÊNCIAS 
Rogers, C. R. Counseling and Psychotherapy:�)���3���d�#��������(��ƒ��9�<D?=:
. On Personal Power. New York: Delacorte Press, 1977.
Santos, O. B. Aconselhamento Psicológico e Psicoterapia: ����G‚��GhÔ��®������������G����
Básico. São Paulo: Pioneira, 1982.
Scorsolini-Comin, F. Aconselhamento Psicológico: Aplicações em Gestão de Carreiras, Educação e 
Saúde. São Paulo: Editora Atlas, 2015.
Œ�Na religião Œ
O professor e conselheiro Jay Edward Ada-
ms é um reverendo presbiteriano, que exer-
I��������\�����P��G���
��?;�G�����G�P��G�
��
aconselhamento bíblico. Obteve seu PhD 
pela Universidade de Missouri, nos Estados 
Unidos, e serviu como professor no Semi-
nário Teológico de Westminster durante 
vários anos. Entre outras atividades fun-
dou os ministérios Christian Counseling and 
Education Foundation (CCEF) e National As-
sociation of Nouthetic Counselors (NANC).
Para a empresa, os benefícios são muitos, desde ter um colaborador motivado e engajado até um 
funcionário saudável do ponto de vista psicológico
www.portalcienciaevida.com.br
em contato
AMIGOS PARA SEMPRE
!�AMIZADE�ENTRE�O�SER�HUMANO�E�OS�ANIMAIS�NÎO�Ï�NOVIDADE��!LIÉS��ME�IDENTIlCO�MUITO�COM�
isso, pois tenho um cachorro que faz parte da família. No entanto, é bom quando vemos que 
estão sendo desenvolvidos estudos que mostram os vários benefícios existentes nessa intera-
ção, como foi mostrado em artigo publicado na revista Psique, em sua edição de número 125. 
Recomendo que todos tenham um animalzinho de estimação, pois, conforme o artigo diz, 
ajuda na diminuição do estresse, equilíbrio da frequência cardíaca, da pressão arterial e até 
do colesterol, além de ajudar no tratamento de problemas psíquicos. Cães e gatos, de fato, são 
muito mais do que uma excelente companhia. A terapia que preconiza a relação com animais, 
por exemplo, busca promover no paciente estímulo para despertar sua sensibilidade e reações 
psicológicas e emocionais. E, asseguro, quase sempre consegue.
Cristina Lourenço, por e-mail
10 anos
08/06/2016 15:47:38
NECESSIDADE DE 
ESTAR CONECTADO
Realmente os efeitos da internet no mundo 
moderno estão causando uma verdadeira 
revolução na vida cotidiana da sociedade. 
Diariamente observamos, em qualquer 
lugar público, inúmeras pessoas manuse-
ando aparelhos celulares nas mais diversas 
situações, o tempo todo. E isso, como não 
poderia deixar de ser, provoca fenômenos 
psicológicos e sociológicos que começam 
a ser estudados por especialistas. A entre-
vista com o psicólogo Breno Rosostolato, 
publicada no número 125, mostra bem 
esse cenário. O uso sem controle desses 
equipamentos, principalmente por parte 
dos jovens, pode ocasionar um transtorno 
QUE�PREOCUPA�A� COMUNIDADE�CIENTÓlCA�� A�
NOMOFOBIA��OU�SEJA��A�FOBIA�DE�lCAR�DESCO-
nectado do mundo virtual. Os sintomas da 
abstinência do uso de aparelhos tecnoló-
gicos são tão sérios que, em alguns casos, 
podem ser comparados à abstinência de 
drogas. Há de se ter cuidado.
João Souza, por e-mailRAIVA PODE NÃO DEPENDER 
DE EDUCAÇÃO
A revista Psique continua em forma. A 
edição 125 saiu com um excelente arti-
go, que explica que a raiva pode não ser 
somente causada por falta de educação 
ou resultado de uma fase de estresse pela 
qual a pessoa esteja passando. Em meio 
a tantos distúrbios psicológicos que vejo 
aparecer no mundo moderno, descobri 
80 psique ciência&vida
agora que existe o transtorno explosivo 
intermitente, conhecido como TEI. Para 
mim explica muita coisa, pois nunca acei-
tei o fato de que pessoas aparentemente 
normais tenham verdadeiras explosões 
de raiva e descontrole em situações que, 
aparentemente, não deveriam causar rea-
ções tão violentas. O TEI se caracteriza 
PELA� DIlCULDADE� EM� CONTER� COMPORTA-
mentos impulsivos e agressivos, que aca-
bam em explosões de raiva. Essas reações 
são sempre muito desproporcionais à si-
tuação que as originaram. Muito interes-
sante. Parabéns a todos pelo trabalho.
Helena Santos, por e-mail
MEDO NÃO É FRESCURA
Olá, pessoal. Aqui é uma fã da revista Psi-
que. Sempre aprendo muito com vocês e 
dessa vez não foi diferente. No número 125, 
o destaque foram as matérias sobre a im-
portância que se deve dar às fobias. Muita 
gente costuma dizer que o fato de uma pes-
soa ter medo de barata, de andar de avião e 
outras coisas aparentemente banais é uma 
manifestação simplesmente de frescura. 
Não é verdade. O tema é muito importante. 
O medo, apesar de fazer parte da natureza 
do ser humano, quan-
do é elevado a potên-
cias máximas precisa 
ser levado a sério e 
tratado com a ajuda 
da Psicoterapia e, às 
vezes, inclusive, com 
intervenção psiquiá-
trica. A revista cita um 
DADO�ALARMANTE��DE�ACORDO�COM�A�/RGANI-
zação Mundial da Saúde, 10% da popula-
ção mundial sofrem com alguma fobia. É 
muita gente sendo considerada fresca, não 
acham? O assunto é grave e deve ser trata-
do como tal. Um abraço.
Lilian Thiem, por e-mail
COMPLEXIDADE DO SEXO
Que tema mais complexo é o sexo. Os cos-
tumes podem mudar, os comportamentos 
podem se modernizar, mas quando o as-
sunto é sexualidade parece que voltamos 
ao século XVIII. Salvo raras exceções, as 
pessoas não se sentem à vontade para falar 
sobre isso, mesmo quando conversam com 
os mais íntimos, no caso seus respectivos 
parceiros. Por isso, achei bem interessante 
e esclarecedora a entrevista, publicada no 
número 124, com o psicólogo clínico Ari 
Guarnieri. Ele explica que todos os tabus 
que envolvem a questão devem ser deixa-
dos de lado, pois muitos casais convivem 
durante anos com problemas e dúvidas 
por não ter a coragem de conversar aber-
tamente sobre o tema. 
Ana Cláudia Sampaio, por e-mail
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 81
CONSELHO EDITORIAL
AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia 
Clínica pela USP. Professora no IJBA e na Escola Bahiana 
de Medicina e Saúde Pública, Savador, BA.
ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora de 
LIVROS�E�ARTIGOS�CIENTÓlCOS��PARECERISTA�DE�DIVERSAS�
revistas e responsável técnica do Instituto de Psicologia 
Fenomenológico-Existencial do RJ.
ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta 
cognitiva pelo Institute of Psychiatry, Universidade de 
Londres. Diretora do Instituto de Terapia Cognitiva (ITC), 
atua em clínica, faz treinamento, consultoria e pesquisa. 
Presidente honorária, ex-presidente e fundadora da ABPC. 
ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor 
EM�#IÐNCIAS�NA�ÉREA�DE�.EUROlSIOLOGIA�DA�-EMØRIA 
e Atenção pela Universidade de São Paulo, 
onde também é professor no curso de Biociência e 
coordena o Laboratório de Ciências da Cognição no 
Instituto de Biociências. 
CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, 
doutor em Saúde Mental pela Unicamp, pós-doutorado em 
Saúde Mental pela Universidade de Barcelona-Espanha, 
professor associado de Psicologia da Universidade Federal 
de Uberlândia. Autor de Aids e exclusão social.
DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. 
Mestrado em Educação e doutorado em Psicologia 
Escolar e do Desenvolvimento Humano, ambos pela USP. 
Pesquisadora na área da Psicologia Moral e Evolutiva. 
Professora universitária.
DENISE GIMENEZ RAMOS é coordenadora do Programa 
de Estudos Pós-Graduados da PUC-SP e membro da 
Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. 
KARIN DE PAULA, psicanalista, doutora pela PUC-SP, 
professora e supervisora clínica universitária e do CEP, 
autora do livro $em? Sobre a inclusão e o manejo do dinheiro 
numa psicanálise, e de vários outros artigos publicados.
LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia 
pela USP, com pós-graduação em Psicoterapia Cognitiva 
Construtivista. É professora universitária e diretora do 
Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. Atua 
em clínica e consultoria. 
LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da 
PUC-SP. Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia 
Analítica. Coeditora da revista Junguiana. Diretora de 
Psicologia da Ser em Cena - Teatro para Afásicos.
MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia 
pela University of Southampton – Inglaterra, mestre em 
Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP, especialista em 
Psicoterapia Psicanalítica pelo Instituto de Psicologia da USP.
MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de 
Psicologia Hospitalar – biênio 2007/09. Especialista em 
Psicologia Hospitalar, psicóloga clínica junguiana, psicóloga 
do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HCFMUSP 
e supervisora titular do Aprimoramento em Psicologia 
Hospitalar em Ortopedia.
PAULA MANTOVANI é graduada em Psicologia pela 
Universidade Paulista, psicanalista, consultora editorial 
do programa de entrevistas da FNAC e membro 
correspondente do Espaço Moebius de Psicanálise de 
Salvador (BA).
PEDRO F. BENDASSOLLI é editor da GV Executivo, psicólogo 
graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e 
doutor em Psicologia Social pela USP. É também professor 
da Fundação Getúlio Vargas e da ESPM.
LINHA DIRETA
IM
AG
EN
S:
 S
HU
TT
ER
ST
OC
K
CANAL FACEBOOK
A revista Psique traz muitas informações interessantes também nas redes sociais. 
!CESSE�A�&ANPAGE��WWW�FACEBOOK�COM�2EVISTA0SIQUE#IENCIAE6IDA
EDITORA: Gláucia Viola
EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Monique Bruno Elias
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Andreia Calçada; Camila Ferreira 
Vorkapic; Dionízio Costta Jr.; Lucas Vasques Peña; Marcelo Pereira 
Lemos; Roberta de Medeiros; Rodrigo Scialfa Falcão. COLUNISTAS: 
Anderson Zenidarci, Carlos São Paulo, Denise Deschamps; Eduardo 
J. S. Honorato; Eduardo Shinyashiki; Giancarlo Spizzirri; Guido Arturo 
Palomba; Igor Lins Lemos, João Oliveira; Jussara Goyano; Lilian 
Graziano; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller, Ricardo 
Wainer. O Conselho editorial e a Redação não se responsabilizam 
pelos artigos e colunas assinados por especialistas e suas opiniões 
neles expressas.
REALIZAÇÃODIRETO COM A REDAÇÃO
Av. Profª Ida Kolb, 551 Casa Verde – CEP 02518-000
São Paulo – SP – (+55) 11 3042-5900 – psique@escala.com.br 
PARA ANUNCIAR anunciar@escala.com.br
SÃO PAULO: (+55) 11 3855-2179
SP (INTERIOR - CAMPINAS): (+55) 19 4595-5058
SP (INTERIOR - RIBEIRÃO PRETO): (+55) 16 3667-1800 
RJ: (+55) 21 2224-0095 ES: (+55) 27 3229-1986
PR: (+55) 41 3026-1175 RS: (+55) 51 3061-0208
SC: (+55) 47 3041-3323 BRASÍLIA: (+55) 61 3226-2218
Tráfego: material.publicidade@escala.com.br
ASSINE NOSSAS REVISTAS
(+55) 11 3855-2117 – www.assineescala.com.br 
EDIÇÕES ANTERIORES
Adquira as edições anteriores de qualquer revista 
ou publicação da Escala (+55) 11 3855-1000
www.escala.com.br (sujeito à disponibilidade de estoque)
ATENDIMENTO AO LEITOR
De seg. a sex., das 9h às 18h. (+55) 11 3855-1009 
Fax: (+55) 11 3857-9643 – atendimento@escala.com.br
LOJA ESCALA
Confira asofertas de livros e revistas – www.escala.com.br
FALE CONOSCO
Existem inúmeras formas de violência. 
A psicológica é tão preocupante que 
requer a abordagem da suposta “natu-
ralização” social, cuja incidência pode 
minar autonomia, iniciativa, coragem, 
segurança de crianças e jovens em ple-
no desenvolvimento emocional e social. 
O descaso com o outro e a prática de 
“brincadeiras” que ultrapassam a fron-
teira do lúdico e instalam uma sensação 
de incompetência pessoal a quem escu-
ta apelidos, chacotas, bem como pres-
sionar alguém a deslocar a sua emoção 
saudável para canais inadequados, por 
exemplo, comer ou beber demais, usar 
drogas, vivenciar sexo compulsivo (ou-
tras formas de compulsão), são conse-
quências da “naturalização” da violên-
cia psicológica. A Psicologia Clínica 
pode ajudar a entender esse processo. 
Saiba como na edição 71, que está dis-
PONÓVEL� NO� SITE� DA� REVISTA��www.psique-
cienciaevida.uol.com.br
Rua Santo Ubaldo, 28 – Torre C – CJ. 12 – Vila Palmeira – São Paulo – SP
CEP: 02725-050 – Telefone - (11) 4114-0965
PSIQUE CIÊNCIA & VIDA é uma publicação mensal da EBR _ 
Empresa Brasil de Revistas Ltda. ISSN 1809-0796. A publicação 
não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos 
assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, 
sendo esse último de inteira responsabilidade dos anunciantes. 
REALIZAÇÃO
www.portalcienciaevida.com.br
Ano X - Edição 126
Agosto/2016
Ethel Santaella
DIRETORA EDITORIAL
Denise Gianoglio
COORDENADORA EDITORIAL
 PUBLICIDADE - GRANDES E MÉDIAS AGÊNCIAS
DIRETORA DE PUBLICIDADE: Rosana Diniz
GERENTES DE NEGÓCIOS: Claudia Marin e Vinícius Secco 
PUBLICIDADE - PEQUENAS AGÊNCIAS E DIRETOS
DIRETORA DE PUBLICIDADE: Yone Catoira 
GERENTES DE CONTAS: Diogo Telles e Sandra Lopes
PROJETOS ESPECIAIS: Rafaela Landim
REPRESENTANTES Interior de São Paulo: L&M Editoração, Luciene 
Dias – Paraná: YouNeed, Paulo Roberto Cardoso – Rio de Janeiro: 
Marca XXI, Carla Torres, Marta Pimentel – Rio Grande do Sul: Totali 
Soluções em Mídia, Ivanir Antonio Curi – Santa Catarina: Artur 
Tavares – Regional Brasília: Solução Publicidade, Beth Araújo.
www.midiakit.escala.com.br
GERÊNCIA DE PRODUTO
 GERENTE GERAL: Tarcila de Lourenzi – tarcila@escala.com.br
MARKETING E COMUNICAÇÃO
 GERENTE: Paulo Sapata – paulosapata@escala.com.br 
IMPRENSA – comunicacao@escala.com.br
VENDAS DE REVISTAS E LIVROS AVULSOS
(+55) 11 3855-2142 – atendimento@escala.com.br
ATACADO DE REVISTAS E LIVROS 
(+55) 11 3855-2147 – adm.atacado@escala.com.br 
Av. Profª Ida Kolb, 551, Casa Verde, CEP 02518-000, São Paulo-
SP, Brasil Tel.: (+55) 11 3855-2100 Fax: (+55) 11 3857-9643 
Caixa Postal 16.381, CEP 02515-970, São Paulo-SP, Brasil
FILIADA À IMPRESSÃO E ACABAMENTO
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
Esta revista foi impressa na Gráfica Oceano, com emissão zero de 
fumaça, tratamento de todos os resíduos químicos e reciclagem de 
todos os materiais não químicos.
Distribuída pela Dinap S/A – Distribuidora Nacional de Publicações, 
Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, nº 1678, CEP 06045-390 – São Paulo – SP
Oceano
Indústria Gráfica Ltda.
Nós temos uma ótima
impressão do futuro
82 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psiquiatria forense por Guido Arturo Palomba 
Guido Arturo Palomba 
é psiquiatra forense e 
membro emérito da 
Academia de Medicina 
de São Paulo.
O ESTELIONATÁRIO VALE-SE DA SIMULAÇÃO E DA 
MENTIRA, QUE SÃO RAMOS NASCIDOS DO TRONCO COMUM 
DO ENGANO E DA ASTÚCIA, PARA APLICAR O SEU GOLPE
ESTELIONATO é 
tão ANTIGO quanto a 
própria HUMANIDADE
líticos. Se esse desvio for no sentido do 
emprego da força bruta, então teremos os 
ditadores, as guerras, as invasões e seus 
similares (campos de concentração, ho-
mens-bomba etc.). E caso a regressão seja 
na direção da fraude, têm-se demagogos 
enganadores do povo, que se travestem 
COM�PELE�DE�CORDEIRO��lNGEM�PAZ�E�AMOR��
mas são lobos gananciosos com objetivos 
balordos. Não passam de estelionatários 
da pior qualidade.
A história mostra que tanto os líderes 
políticos que se valeram da força quanto 
os estelionatários do povo, ambos, mais 
cedo ou mais tarde, acabaram se dando 
mal: aqueles que usaram da força bruta 
um dia encontraram outro mais forte e 
foram eliminados; os que se valeram da 
fraude e da mentira para enganar o povo, 
houve (como sempre vai haver) o momen-
to em que as suas máscaras caíram, pois 
nenhum embusteiro, por melhor que seja, 
�CAPAZ�DE�ENGANAR�MUITOS�POR�LONGO�TEM-
po sem se trair e ser descoberto. Julgados, 
mofaram na cadeia.
Assim seja também aqui no Brasil.
que o cerca, tem duas outras armas para 
vencer a refrega: a inteligência, a qual lhe 
dá o entendimento lógico do fato, e a mo-
ral, que é o dever-ser da lógica.
Assim, constituído de entendimento e 
de determinação moralmente ordenada, 
TRANSCENDE�OS�ANIMAIS�E�VIVE�FELIZ�AGINDO�
corretamente (a felicidade vem por acrés-
cimo) dentro das suas circunstâncias e 
possibilidades.
Porém, pode acontecer, entre os hu-
manos, uma regressão ao mundo animal, 
quando o indivíduo, sistematicamente, se 
VALE�DA�FOR¥A�BRUTA�OU�UTILIZA�O�ESTELIONATO�
para atingir seus propósitos.
O grande problema é quando essa 
regressão atávica ocorre nos líderes po-
AR
QU
IV
O 
PE
SS
OA
L/
SH
UT
TE
RS
TO
CK
S
E� FOSSE�NECESSÉRIO�DElNIR� ESTELIO-
natário em uma só palavra, di-
ríamos: trapaceiro. A bem ver, a 
palavra vem de stellio, onis, estelião, 
lagarto que muda a cor da pele, daí trapa-
ceiro, velhaco.
Esse tipo de indivíduo não é um fato 
típico da nossa época, pois já existia nos re-
cuados tempos. O estelionato é tão antigo 
quanto a própria humanidade, ou melhor, é 
ANTERIOR�A�ELA��UMA�VEZ�QUE�MUITOS�ANIMAIS�
se valem desse comportamento. A bem ver, 
onde há vida há luta pela vida e o vencedor 
será o mais apto. E nesse embate os ani-
mais empregam recursos variadíssimos, 
principalmente de duas ordens: uns ven-
cem à base da fraude; outros, pela violência. 
Se não é pela força bruta, a aquisição de um 
caráter vantajoso coloca o seu possuidor 
em melhores condições de sobrevivência, 
tornando-o mais apto a enfrentar o recon-
TRO�COM�O�AMBIENTE��A�RAPOSA�lNGE�DORMIR�
para surpreender a sua presa; a libélula fe-
cha as asas para se confundir com o caule 
onde pousa, ludibriando o inimigo. Nesse 
sentido, muitas espécies simulam a morte 
para aproveitar a semelhança com algo ina-
nimado para evitar o ataque.
Se, juntamente com a força bruta, 
essa é a regra do reino animal, o homem, 
o mais evoluído de todos, que também 
está em permanente embate com o meio 
ACOMPANHE 
OS MOVIMENTOS 
DO MERCADO 
e reconheça as boas 
oportunidades para o caminho 
do sucesso profi ssional
VEJA TAMBÉM OUTROS TEMAS DA COLEÇÃO:
À venda na loja Escala www.escala.com.br
/editoraescalaoficial
TESTES 
INCLUSOS!

Mais conteúdos dessa disciplina