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2017 - 10 - 04 Alimentos - Direito, ação, eficácia e execução - Edição 2017 4. EXECUÇÃO O não cumprimento da obrigação alimentar é uma das raras hipóteses em que a Constituição Federal admite prisão por dívida (art. 5º, LXVII). Assim, nem que fosse por puro temor, esta deveria ser a obrigação com menor índice de inadimplência. Mas quem deve alimentos sabe que esta é a dívida que, se não paga, não dá nada! Todas as outras geram consequências imediatas: a luz é cortada, o sinal da TV a cabo é retirado etc. Caso alguém deixe de honrar dívida perante instituição financeira, então, se sujeita ao pagamento de multa, juros sobre juros, comissão de permanência e toda sorte de taxas e tarifas. Mas o inadimplemento do encargo alimentar demora muito, muito a gerar alguma sequela! Os alimentos configuram expressão genuína do princípio da dignidade da pessoa humana e afiançam a própria sobrevivência do indivíduo, sendo inteligível perceber a necessidade de um procedimento célere, eficiente, operativo e confiável de cobrança do débito alimentar. Nada pode ser mais frustrante para o credor da prestação alimentícia do que, posteriormente à longa e excruciante fase cognitiva do processo, não conseguir obter o resultado, o pagamento dos alimentos na sua etapa de cumprimento. A fome, a saúde, a educação não podem esperar ao bel-prazer do devedor. Quem necessita tem pressa. 1 É a imprescindibilidade do crédito alimentar que motiva a criação de técnicas processuais diferenciadas, cuja tutela deve ser rápida e eficaz. No dizer de Sérgio Gischkow Pereira, o direito não pode trabalhar com teses definitivas e inquestionáveis. Em questão alimentar as interpretações devem sempre ter em vista o prestígio da verba alimentar, pois diz com a própria existência da pessoa e com sua vida com dignidade.2 O Código de Processo Civil veio para acabar com os inúmeros desencontros que havia entre a lei pretérita e a Lei de Alimentos. De modo expresso revogou os artigos 16 a 18 da Lei de Alimentos (Lei 5.478/1968), que cuidavam da execução, pondo um ponto final na dupla regulamentação, que sempre gerou enormes dúvidas e incertezas (art. 1.072, V, do CPC), reservando para si: – o cumprimento de sentença ou de decisão interlocutória que fixa alimentos (art. 528 a 533 do CPC); e – a execução de título executivo extrajudicial que contenha obrigação alimentar (art. 911 a 913 do CPC). Apesar da tentativa de normatização única, quanto ao prazo da prisão persiste a divergência. Na lei de processo é estabelecida pena de um a três meses (art. 528, § 3º, do CPC). No entanto, continua em vigor o art. 19 da Lei de Alimentos que prevê a prisão do devedor por até 60 dias. A prisão deve ser cumprida em regime fechado (art. 528, § 4º, do CPC), devendo o preso ficar separado dos presos comuns. Possível é o protesto (art. 528, § 1º, do CPC) e a inclusão do executado em cadastros de inadimplentes, como SPC e SERASA (art. 782, § 3º, do CPC). Ainda assim, as singelas medidas para premir o devedor a pagar os alimentos são – para dizer o menos – pífias! Dispõe o credor de um leque de opções executórias: – desconto em folha de pagamento (art. 529 e 912 do CPC); – desconto de rendimentos ou rendas (art. 529, § 3º, do CPC); e – expropriação de bens (art. 528, § 8º e 913 do CPC). Outras providências, apesar de não servirem para a satisfação do encargo alimentar, são meios de coerção para que o devedor voluntariamente acabe realizando o pagamento. Para isso serve: – o protesto (art. 528, §§ 1º e 3º, do CPC); – a inscrição no cadastro dos inadimplementos (art. 782, § 3º, do CPC); – o aprisionamento (art. 528, § 3º, do CPC); – medidas atípicas sub-rogatórias e coercitivas determinadas pelo juiz (art. 139, IV, do CPC). Como diz Araken de Assis, na abundância da terapia executiva, o legislador expressou o interesse público prevalente na rápida realização forçada do crédito alimentar.3 Mas há um detalhe que merece ser chamado, no mínimo, de insólito. Quanto mais o devedor deve, maior é a chance de não ir para a cadeia. A mora produz uma alquimia: transforma os alimentos. O aumento do tamanho da dívida faz com que os alimentos mudem de natureza. Ainda que a Constituição Federal reconheça o direito à alimentação como direito social (art. 6º da CF), com o passar do tempo os alimentos deixam de ser alimentos. Pelo jeito, apodrecem! Somente dívidas recentes, vencidas no máximo até três meses, autorizam o uso da execução sob a ameaça de prisão. Esse não senso cristalizou-se na via jurisprudencial, tanto que o Superior Tribunal de Justiça 4 sumulou esta orientação. O Código de Processo Civil acolheu esta absurda limitação, restringindo a cobrança do débito pelo rito da coação pessoal a três prestações (art. 528, § 7º, do CPC). A eleição do meio executório depende do número de parcelas impagas. Somente o não pagamento das três prestações mais recentes pode levar o devedor à prisão. Débitos mais antigos comportam execução por meio de penhora, sob o fundamento de terem perdido o caráter de urgência. Quando a dívida alcança prestações recentes e antigas, a justiça sempre exigiu o uso de procedimentos distintos: – um pelo rito da coação pessoal para cobrar as três últimas parcelas vencidas e as vincendas; – outro, pela via expropriatória, para a cobrança das prestações anteriores. O credor sempre precisou optar: – ou entrar com duas execuções: uma referente às três últimas parcelas e outra para haver as parcelas anteriores; – ou cobrar toda a dívida pela via expropriatória, abrindo mão da possibilidade de o devedor ser colocado na cadeia; – ou executar as três parcelas recentes, deixando de buscar as prestações anteriores, principalmente quando o devedor não tem bens. A exigência da duplicidade de execuções pela diferença de ritos (art. 780 do CPC), não se aplica à dívida alimentar, uma vez que se trata de um único título executivo que autoriza o uso de duplo procedimento. Mas a jurisprudência continua negando que, em um único procedimento, sejam utilizados ritos concomitantes: um pelo rito da prisão e outro pelo da penhora.5 É tal a dificuldade do legislador de criar mecanismos eficazes a favor do credor de alimentos que somente prevê a constituição de capital quando a condenação decorre da prática de ato ilícito (art. 533 do CPC). Ora, o inadimplemento do dever de assistência aos filhos, que decorre do poder familiar, às claras, configura ato ilícito! Assim, nada justifica não admitir dita modalidade executória em se tratando de dívida alimentar a favor de quem ainda está sujeito ao poder familiar. De todo ineficaz a possibilidade de o devedor ser processado por crime de abandono material se flagrada postura procrastinatória (art. 532 do CPC). A condenação do devedor não enche a barriga do credor! O não pagamento de alimentos à mulher também constitui prática criminosa, configura violência doméstica – na modalidade de violência patrimonial (art. 7º, IV, do LMP), consistente na retenção e subtração de direitos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.6 De outro lado, de nada adianta prever a possibilidade de os alimentos serem descontados em folha de pagamento (art. 529 do CPC). Quem não tem vínculo empregatício ou simplesmente abandona o emprego para não pagar alimentos, a nada responde. A possibilidade de desconto de rendimentos ou rendas do executado também não dispõe de melhor sorte. Quem deve alimentos, de um modo geral, tem o cuidado de não ter nada em seu nome. E para quem não tem bens é inútil a execução mediante penhora. Não há patrimônio a ser vendido. No entanto, a falta de previsão legal não pode impedir que a justiça imprima mais eficácia às suas decisões. Esta é a postura de alguns juízes que têm ido além. Por exemplo, apreensão do passaporte, do cartão de crédito, da carteira de habilitação para dirigir do devedor, na tentativa de força-lo a atender ao débito alimentar.Não há como esperar pelo legislador para assegurar, a quem bate às portas do Poder Judiciário, uma resposta que atenda ao que a Constituição Federal promete a todos: a inviolabilidade do direito à vida¹. MEIOS EXECUTÓRIOS É indiferente se os alimentos foram estabelecidos em juízo – por sentença ou acordo – ou extrajudicialmente, de forma consensual, para que a cobrança ocorra por meio da coerção pessoal ou via expropriação. O Código de Processo Civil concede um capítulo para o cumprimento da sentença que reconhece a exigibilidade da obrigação de prestar alimentos (art. 528 a 533 do CPC) e um capítulo distinto para a execução de alimentos de acordos consensuais firmados extrajudicialmente (art. 911 a 913 do CPC). Apesar de o título do capítulo fazer referência somente à sentença, já o primeiro artigo esclarece que a normatização abrange também a decisão interlocutória que fixa alimentos. Mais adiante outro esclarecimento (art. 531 do CPC): as disposições aplicam-se aos alimentos definitivos e aos provisórios. Deste modo, fixados alimentos provisórios ou definitivos, em decisão interlocutória ou sentença, é possível buscar o seu cumprimento, por qualquer dos meios executórios (art. 528 a 533 do CPC). Constando o encargo em título executivo extrajudicial, a cobrança é levada a efeito via execução por quantia certa (art. 911 a 913 do CPC), tendo o legislador determinado a aplicação, no que couber, dos artigos do cumprimento da sentença (art. 911, parágrafo único, do CPC). Outras disposições são cópias idênticas, ou quase. O art. 528 fala em intimar o executado e o art. 911 em citá-lo. O art. 912 diz o mesmo que o art. 529. A ressalva feita, de que a penhora em dinheiro autoriza o levantamento mensal da prestação alimentícia (art. 913 do CPC), reproduz o texto do § 8º do art. 528. A depender do período de inadimplência, o credor pode buscar o cumprimento pelo rito da prisão ou pela via expropriatória. A partir da normatização da cobrança dos alimentos pelo Código de Processo Civil, ela pode ser levada a efeito em um único procedimento. Como se trata de obrigação alimentar, regulada em capítulo próprio, não incide a proibição de cúmulo de execuções (art. 780 do CPC). Apesar da diversidade procedimental, a dívida tem origem no mesmo título executivo, conferindo-lhe a lei duas modalidades executórias. Tratando-se de alimentos impostos judicialmente, na mesma petição o credor pede o cumprimento da sentença: quanto as três últimas parcelas, pelo rito da prisão e das anteriores mediante penhora. A decisão judicial de alimentos, independentemente do quantitativo de prestações abarcadas, é manejada, unicamente, por meio de cumprimento de sentença, permanecendo, o permissivo legal para a decretação prisional tão somente para a cobrança de débitos alusivos ao derradeiro trimestre ao desencadeamento do cumprimento, acrescido do valor das vincendas.7 Existe a mesma possibilidade na execução de título executivo extrajudicial. Na inicial o credor busca a cobrança pelas duas vias: prisão e expropriação de bens. Não atendido ao pagamento sob a ameaça de prisão, no cumprimento da sentença a remissão é feita ao art. 831, que trata da penhora (art. 530 do CPC). A execução do título extrajudicial remete ao procedimento da execução por quantia certa (art. 824 do CPC). Diferenças outras não dispõem de relevância maior e, às claras, se aplicam a qualquer das modalidades, ainda que previsto somente no cumprimento da sentença. Assim a possibilidade do protesto (art. 528, § 1º, do CPC) e do desconto parcelado do débito dos ganhos do devedor, contanto que não ultrapasse 50% da renda líquida (art. 529, § 3º, do CPC). Diante de todas estas semelhanças, quais as diferenças? A primeira delas justifica a maioria das demais. Quando os alimentos são estabelecidos judicialmente, a cobrança é feita nos mesmos autos, pois se trata de dar cumprimento a uma decisão proferida em uma ação. Se a obrigação foi levada a efeito extrajudicialmente, é necessário que o credor proponha a execução. Esta é a justificativa porque, em sede de cumprimento de sentença, o réu é simplesmente intimado e na execução precisa ser citado. Título executivo judicial A sentença que impõe o pagamento de alimentos dispõe de carga de eficácia condenatória: reconhece a existência de obrigação de pagar quantia certa e condena o réu a proceder ao pagamento. Quando a quantificação dos alimentos decorre de sentença ou de decisão interlocutória que fixa alimentos provisórios, ocorrendo inadimplemento, a cobrança é levada a efeito como cumprimento de sentença. O credor pode optar entre dois ritos: – requerer a intimação pessoal do executado, pela via postal, para que pague as últimas três parcelas vencidas, mediante a ameaça de prisão se, em três dias, ele não pagar, provar que já pagou ou demonstrar a impossibilidade absoluta de pagar (art. 528). – requerer a intimação do executado, na pessoa do seu advogado (art. 513, § 2º, do CPC), para, no prazo de 15 dias, pagar as prestações vencidas e as que se vencerem até a data do efetivo pagamento, hipótese em que inexiste a possibilidade da prisão (art. 528, § 8º, do CPC). O titular do crédito pode requerer a intimação do advogado do réu, via publicação no Diário da Justiça, até um ano após o trânsito em julgado da sentença (art. 513, § 4º, do CPC). Não havendo o pagamento, o valor do débito é acrescido do montante de 20%: 10% de multa e 10% de honorários advocatícios (art. 523, § 1º, do CPC), sendo expedido mandado de penhora e avaliação (art. 523, § 3º, do CPC). Para discutir o valor cobrado e livrar-se do pagamento da multa, e dos honorários (art. 523, § 1º, do CPC), o executado pode depositar o valor executado (art. 520, § 3º, do CPC). Como se tratam de alimentos, o credor pode proceder o levantamento do valor incontroverso. Alimentos provisórios Não só nas ações de alimentos, mas também nas ações de divórcio e de reconhecimento de união estável, impositiva a fixação liminar de alimentos provisórios a quem deles necessita. A determinação de que nas ações consensuais haja previsão de alimentos e o estabelecimento do regime de convivência (art. 731, II e IV, do CPC) deve ocorrer igualmente nas ações litigiosas de divórcio e de dissolução de união estável. A Lei de Alimentos concede o rito especial às ações de desconstituição dos vínculos afetivos (art. 13 da LA). O uso da terminologia superada não afeta a eficácia da norma. Assim, existindo filhos incapazes sujeitos ao poder familiar, é indispensável que sejam fixados alimentos a favor deles. Comprovada a necessidade de um dos cônjuges ou companheiros, impositivo o estabelecimento de verba alimentar em seu favor, ainda que em caráter temporário, como vem preferindo a jurisprudência. A obrigação alimentar é imposta a título de tutela antecipada, como alimentos provisórios (art. 4º da LA). Forma-se assim um cúmulo de ações: além do pedido de divórcio, integra o objeto litigioso a demanda alimentar. Cada uma destas demandas tem carga de eficácia diferente. A ação de divórcio tem eficácia constitutiva: dissolve o casamento. A ação de alimentos tem natureza condenatória: impõe o pagamento do encargo alimentar. A demanda que busca o reconhecimento da existência e da dissolução de união estável dispõe de carga declaratória. Trata-se de entidade familiar que se constitui e se dissolve sem a necessidade da chancela judicial. Assim, quando as partes vêm a juízo, a relação já está extinta. Limita-se o juiz a reconhecer sua existência e estabelecer o período de sua duração. Quando há filhos incapazes, indispensável a imposição do dever alimentar. Também aqui há cúmulo de ações: uma de eficácia declaratória e outra condenatória. Entrega da metade dos frutos de bens comuns Inadimplido o encargo de proceder à entrega da metade dos frutos e rendimentos dos bens comuns, é indispensável admitir a execuçãopelo rito da prisão. Perfeita a distinção doutrinária entre alimentos provisórios, como é chamada a obrigação de entregar a metade dos frutos e rendimentos dos bens comuns (art. 4º, parágrafo único, da LA), e alimentos compensatórios, que não dispõem de previsão legal, e dizem com a preservação do desequilíbrio patrimonial enorme em face da dissolução do casamento ou da união estável. No entanto, a jurisprudência baralha os dois conceitos. Concede-lhes igual tratamento. Por exemplo, defere alimentos compensatórios sob o fundamento de os bens rendáveis do acervo patrimonial estarem na posse e administração exclusiva de um dos cônjuges ou companheiros. Em face disso, de forma para lá de desarrazoada, não é autorizada a cobrança pelo rito do aprisionamento quando descumprida a determinação de reembolso dos frutos dos bens comuns que estão sob a administração exclusiva de um dos cônjuges (art. 4º, parágrafo único, da LA). A posição não é pacífica no âmbito dos tribunais. No Superior Tribunal de Justiça prevalece o entendimento pelo não aprisionamento.8 No entanto, muito mais razoáveis os argumentos do voto vencido da Ministra Nancy Andrighi: Desprover essa verba do caráter alimentar que lhe é inerente teria o condão de conferir insustentável benefício ao cônjuge que se encontra na posse e administração dos bens comuns e que possa estar, de alguma forma, protelando a partilha deste patrimônio. [...] Não é viável, portanto, esvaziar a possibilidade de execução alimentar mediante prisão civil de sua forte carga de constrangimento pessoal e reprovabilidade social, para deixar ao desalento o inarredável preceito ético de solidariedade familiar. Não há como negar a coerência do voto, ainda que vencido. Quando o devedor não paga alimentos, se sujeita à prisão. Agora, se deixa de repassar ao cônjuge alijado da posse do patrimônio comum valores que certamente irão garantir sua mantença, descabido que sua cobrança somente seja possível pela via expropriatória. Alimentos compensatórios Apesar do nome, alimentos compensatórios não admitem compensação e nem podem ser cobrados pelo rito da prisão, mas somente pelo rito da expropriação. Tanto os alimentos compensatórios como a imposição de entregar a metade dos frutos e rendimentos dos bens comuns são deferidos em sede liminar, a título de alimentos provisórios. Talvez daí a tendência em confundir os dois institutos, chegando-se a reconhecer alimentos compensatórios como gênero que comporta duas espécies: – divisão dos frutos e rendimentos de bens comuns que estão na posse e administração exclusiva de um dos cônjuges ou companheiros; – determinação de pagamento de determinado valor, que pode ser levado a efeito mediante prestações mensais, para evitar o estabelecimento de um desequilíbrio econômico entre os consortes. Os alimentos compensatórios não passam de uma tentativa de evitar lesão enorme ao cônjuge ou companheiro que, no fim da relação, resta com uma condição de vida muito inferior à do outro, por ser ele o detentor exclusivo do patrimônio. Ou seja, alimentos compensatórios não se tratam propriamente de alimentos. Por isso, ainda que fixados em sede liminar, são devidos somente a partir da citação do demandado. Mesmo com o nome “compensatórios”, quando da partilha, a verba recebida a este título não autoriza compensação. Não se trata de adiantamento da divisão de bens comuns. A jurisprudência reconhece que os alimentos compensatórios não autorizam execução pelo rito da prisão civil.9 Título executivo extrajudicial Ante a possibilidade de o divórcio ser levado a efeito extrajudicialmente, assumido encargo alimentar – quer a favor de filhos maiores de idade, quer a um dos cônjuges – a escritura pública constitui título executivo extrajudicial. Elege a lei de processo como títulos executivos extrajudiciais, entre outros: escritura ou outro documento público (art. 784, II, do CPC); documento particular firmado pelo devedor e duas testemunhas (art. 784, III, do CPC); acordos referendados pelo Ministério Público, Defensoria Pública, Advocacia Pública, advogados das partes ou conciliador ou mediador credenciado por tribunal (art. 784, IV, do CPC). Se o divórcio exige pública escritura ou ratificação oficiosa, a dissolução da união estável não. Aliás, não é necessária formalização alguma. Basta o término da vida em comum para a sua dissolução. Optando o casal documentar o fim da união e estabelecer alimentos a favor de um dos companheiros ou em benefício dos filhos maiores e capazes, podem fazê-lo por escritura pública. De todo desnecessário buscar a homologação judicial – mero ato chancelatório –, até porque o juiz não ouve as partes. Somente havendo filhos menores ou incapazes, é indispensável a chancela judicial (art. 733, § 1º, do CPC). Nada impede que a dissolução consensual da união estável e a previsão de pensão alimentícia seja estabelecida em documento particular. No entanto, para a execução judicial dos alimentos, é indispensável que a obrigação conste de título executivo extrajudicial (art. 528, § 3º e 911, parágrafo único do CPC). Com referência às últimas três parcelas vencidas, o credor pode optar pelo rito da prisão. Ao despachar a inicial o juiz fixa honorários de 10% (art. 827 do CPC). O executado é citado pessoalmente, pela via postal, para, em três dias, pagar a dívida, provar que já pagou ou demonstrar a impossibilidade absoluta de pagar (911 do CPC). Se o devedor pagar as parcelas executadas e mais as que se venceram até a data do pagamento, ocorre a redução dos honorários pela metade (art. 827, § 1º, do CPC). Não havendo o pagamento, ou rejeitada a justificativa apresentada, cabe a penhora dos bens indicados pelo credor (art. 829, § 2º, do CPC). O devedor pode oferecer embargos à execução, independentemente de penhora, depósito ou caução (art. 914 do CPC). ELEIÇÃO DO MEIO EXECUTÓRIO A identificação da forma de cobrança está condicionada ao número de parcelas vencidas e não pagas, e não à natureza do título executivo. É do credor a prerrogativa de eleger o meio executório para cobrar os alimentos. Não distingue a lei a origem do título que dá ensejo à cobrança da obrigação alimentar – se judicial ou extrajudicial – para o uso de qualquer das vias executivas. O Código de Processo Civil positivou a posição consolidada na jurisprudência e sacralizada pelo Superior Tribunal de Justiça,10 limitando a possibilidade da prisão civil a três prestações anteriores à cobrança, e mais das que se vencerem no curso do processo (art. 528, § 7º, do CPC). Tratando-se de cumprimento de sentença ou de decisão interlocutória que estabelece alimentos provisórios, eleito o rito expropriatório, o devedor é intimado via imprensa oficial, por meio de seu advogado (art. 513, § 2º, I, do CPC), para, em 15 dias, pagar o débito acrescido de eventuais custas (art. 523 do CPC). Com o pagamento “voluntário” como nomina a lei, livra-se o devedor da multa de 10% e de honorários advocatícios de igual percentual (art. 523, § 1º, do CPC). Não ocorrendo o pagamento, independente de nova intimação ou da realização ou não da penhora, inicia-se o prazo de 15 dias para que o devedor, nos mesmos autos, apresente impugnação (art. 525 do CPC). Para livrar-se da multa de 10%, o devedor deve depositar em juízo a totalidade do valor da execução (art. 520, § 3º, do CPC). O credor pode proceder ao levantamento somente dos valores incontroversos, assim reconhecidos pelo devedor. A eleição do meio executório é prerrogativa do credor (art. 798, II, a, do CPC), não podendo o devedor pretender a transformação de um procedimento em outro. Tendo o credor optado pelo rito da expropriação, ainda que não sejam encontrados bens, nem o credor ou o Ministério Público podem requerer e nem o juiz pode impor a prisão do devedor. Configuraria abuso de poder.11 O procedimento de cobrança dos alimentos – se nos mesmos autos ou em demandaautônomo – depende da natureza da manifestação judicial e da espécie do título constitutivo da obrigação. Seja da natureza que for o título constitutivo da obrigação – via judicial ou acordo –, a eleição de uma ou outra forma de cobrança está condicionada ao período do débito, se superior ou não há três meses. Imposta a obrigação alimentar por sentença definitiva transitada em julgado, a cobrança é levada a efeito, nos mesmos autos, como cumprimento de sentença (art. 531, § 2º, do CPC). Eleito o rito expropriatório, o devedor é intimado, pela imprensa oficial, na pessoa do seu advogado (art. 513, § 2º, I, do CPC), para, em 15 dias, pagar o débito acrescido de eventuais custas (art. 523 do CPC). Não ocorrendo o pagamento, independente de nova intimação ou da realização ou não da penhora, inicia-se o prazo de 15 dias para que o devedor, nos mesmos autos, apresente impugnação (art. 525 do CPC). A execução dos alimentos provisórios bem como dos fixados em sentença não transitada em julgado se processa em autos apartados (art. 531, § 1º, do CPC). É o único jeito de não emperrar o prosseguimento da ação de alimentos. Como o recurso de apelação nas demandas de alimentos não dispõe de efeito suspensivo (art. 1.012, § 1º, II, do CPC), a busca de cumprimento depende da propositura de procedimento autônomo (art. 520 do CPC). Não se trata de execução provisória, porquanto os alimentos são irrepetíveis. Quando os alimentos foram estabelecidos extrajudicialmente, a cobrança é levada a efeito mediante a propositura de execução por quantia certa (art. 913 do CPC). Frustrada a tentativa de cobrança com a ameaça de prisão, o procedimento segue pela via expropriatória (art. 824 do CPC). Dívida recente e dívida antiga Em sede de obrigação de alimentos, a lei considera recente a dívida correspondente até as três últimas prestações, concedendo ao credor a possibilidade de buscar a cobrança sob a ameaça de prisão do devedor. Quando o débito alimentar se avoluma, é necessário distinguir as dívidas recentes das anteriores. De forma discricionária e aleatória o legislador acolheu a orientação da jurisprudência, estabelecendo que somente as três prestações mais recentes é que podem ser cobradas sob a ameaça de prisão do devedor (art. 528, § 7º e art. 911, do CPC). Estabelecidos os alimentos judicialmente, dispõe credor a faculdade de optar: – com relação às três últimas prestações, pode requerer a intimação do devedor, na pessoa do seu advogado (art. 513, § 2º, I, do CPC), para ele em três dias: pagar, provar que já pagou, ou comprovar a impossibilidade absoluta de pagar. Não aceita a justificativa apresentada, o juiz manda protestar o pronunciamento judicial (art. 528, § 1º, do CPC), estabelece o prazo de aprisionamento entre um a três meses e decreta a prisão do devedor (art. 528, § 3º, do CPC); – se pretender o pagamento de toda a dívida “desde logo”, pede a intimação do devedor, para, em 15 dias, pagar o débito e eventuais custas processuais (art. 523 do CPC). Nesta hipótese não é admissível a prisão do devedor (art. 528, § 8º, do CPC). Caso o devedor proceda ao pagamento, não há incidência de qualquer ônus, além das custas. Se não pagar, se sujeita ao pagamento de multa de 10% e de honorários advocatícios no mesmo percentual sobre a totalidade do débito (art. 523, § 1º, do CPC). Em se tratando de obrigação assumida extrajudicialmente, tanto no rito da prisão (art. 911 do CPC) como no da expropriação (art. 913 e 824 do CPC), o devedor é citado com o prazo de três dias para: – pagar, provar que pagou ou comprovar a impossibilidade absoluta de fazê-lo, sob pena de, não aceita a justificativa, ver sua prisão decretada pelo prazo de um a três meses; – pagar a dívida com a redução dos honorários de 10% para 5% (art. 827, § 1º e art. 829, do CPC), sob pena de penhora dos bens indicados pelo credor (art. 829, § 2º, do CPC). No que diz com dívida superior a três prestações alimentares, a forma de cobrar é por meio da via expropriatória: citação do devedor para que pague em 15 dias. Não realizado o pagamento, o débito é acrescido da multa de 10% e de honorários advocatícios também de 10% (art. 523, § 1º, do CPC). Persistindo o inadimplemento, o juiz manda protestar o devedor (art. 528, § 1º, do CPC) e expede, desde logo, mandado de penhora e avaliação (art. 523, § 3º, do CPC). É possível a penhora de 50% do valor de salários e rendas outras de origem semelhante; do saldo depositado em caderneta de poupança e do excedente a 50 salários mínimos mensais (art. 833, § 2º, do CPC). Penhorado dinheiro é possível mensalmente o levantamento do valor da prestação (art. 528, § 8º, do CPC), não cabendo a imposição de caução (art. 521, I, do CPC). COMPETÊNCIA Cumprimento da sentença O foro competente para o cumprimento da sentença é o do juízo que julgou a ação. Em se tratando de dívida alimentar, o credor pode optar pelo foro do seu próprio domicílio. O alimentando dispõe de foro privilegiado para propor ação autônoma de alimentos, ou cumulada com o reconhecimento de parentalidade ou ação de divórcio, por exemplo. O foro é o do seu domicílio ou residência (art. 53, II, do CPC). O cumprimento da sentença ocorre nos mesmos autos da ação de conhecimento, perante o juízo de primeiro grau que decidiu a causa (art. 516, II, do CPC). No entanto, o credor pode optar pelo atual domicílio do executado ou pelo juízo do local onde se encontram os bens sujeitos à expropriação (art. 516, parágrafo único, do CPC). Em se tratando de cumprimento de decisão judicial em que haja a imposição de obrigação alimentar, o credor pode optar pelo local do seu domicílio (art. 528, § 9º, CPC). Deste modo, fixado o encargo alimentar perante um juízo, na hipótese de o credor mudar de residência, tem ele a possibilidade de escolher o foro de seu novo domicílio para a cobrança do débito alimentar. Ora, se a finalidade da exceção legal é facilitar a vida de quem não está recebendo alimentos, quando o credor muda de domicílio, este privilégio praticamente desaparece. Para promover o cumprimento da sentença é necessário que solicite ao juízo de origem a remessa dos autos em que foram estabelecidos os alimentos para o local onde passou a residir (art. 516, parágrafo único, do CPC). De todo descabido que tenha que peticionar na comarca onde não mais reside. Difícil buscar a Defensoria Pública sem que lá precise comparecer pessoalmente. Ou isso, ou contratar advogado para providenciar esta diligência absolutamente desnecessária. Muito mais coerente que o credor peça ao juiz da comarca em que reside e onde vai promover a execução, que ele requisite cópia – não dos autos – dos documentos necessários para instruir o pedido de cumprimento da sentença ou da decisão que fixou os alimentos provisórios. Todos sabem quanto tempo leva, na maioria das vezes, para um processo ser encontrado depois de remetido ao arquivo. Execução de título extrajudicial Formalizada a obrigação alimentar em título executivo extrajudicial, a competência para a execução dispõe das mesmas opções, à escolha do credor. Concedendo a lei foro privilegiado ao alimentando, pode ele promover a ação de alimentos em seu domicílio ou residência (art. 53, II, do CPC). Para o cumprimento da sentença ou decisão que condena ao pagamento de alimentos o credor pode optar segundo sua conveniência (art. 528, § 9º, do CPC). Flexibilizada a regra da competência para o adimplemento da obrigação imposta judicialmente, da mesma faculdade dispõe o credor para a execução de alimentos estabelecidos extrajudicialmente. Assim, dispõe da possibilidade de eleger o lugar para propor a execução dos alimentos estabelecidos em documento que dispõe de força executiva. Pode optar entre foros concorrentes: – o foro do domicílio do credor (art. 528, § 9º, do CPC); – o lugar da situação dos bens sujeitos à expropriação (art. 516, parágrafo único, do CPC);– o domicílio atual do executado (art. 516, parágrafo único, do CPC). LEGITIMIDADE ATIVA Sub-rogação Quem arca com a subsistência do credor sub-roga-se no crédito alimentar, podendo fazer uso da via executória para a cobrança do crédito em seu nome próprio. Quando o alimentante não cumpre a obrigação alimentar, alguém pagou esta conta, garantindo a manutenção do credor. Assim, quem provê à subsistência do alimentando resta sub-rogado no crédito, bem como na modalidade executória que lhe é inerente. De outro lado, acionado o devedor, caso o pagamento da dívida venha a ser feito por terceira pessoa que não o executado, tem ela legitimidade para promover a cobrança do crédito nos mesmos autos, ainda que não possa utilizar o rito executório da prisão (art. 778, IV, do CPC). Maioridade do credor A maioridade do credor não extingue a dívida alimentar. O guardião sub-roga-se no crédito, dispondo de legitimidade para buscar a cobrança ou prosseguir na execução. Quando o genitor que detém a guarda acaba sozinho provendo ao sustento do filho, indispensável reconhecer a ocorrência de sub-rogação com relação ao débito alimentar existente. Ou seja, resta ele como titular do crédito vencido e não pago enquanto o filho era incapaz. Tendo o filho se tornado relativamente capaz ou atingido a maioridade, não precisa habilitar-se no processo. Como estava sob a guarda de um dos pais, e o dever de sustento é de ambos, quando o encargo é desempenhado por somente um deles pode este se reembolsar frente ao devedor omisso. Foge à lógica do razoável obrigar o titular da guarda a ajuizar demanda de cognição para obter o reconhecimento de um direito que lhe é patente.12 Mas a tendência é exigir a citação do filho, inclusive com a exclusão do guardião da demanda.13 O mesmo ocorre quando o filho passa para a guarda do outro genitor. Se existe um crédito alimentar, quem arcou sozinho com o sustento do filho pode reembolsar-se do que despendeu. Dispõe ele de legitimidade para cobrar os alimentos. Age em nome próprio, como credor sub-rogado. LEGITIMIDADE PASSIVA Imposta a obrigação alimentar a determinada pessoa, a dívida não pode ser cobrada de outrem, ainda que se trate de alguém que tenha responsabilidade alimentar para com o credor. Existe um punhado de pessoas com responsabilidade alimentar: cônjuges, companheiros, pais, avós, parentes. Mas é necessário buscar, em juízo, o reconhecimento da obrigação alimentar de cada um deles. Imposta a obrigação a um dos obrigados, em caso de inadimplemento não há como executar a dívida acionando algum parente que não seja o devedor. Assim, deixando o pai de proceder ao pagamento dos alimentos, não há como dirigir a cobrança contra os avós paternos. O juiz vai proclamar a ilegitimidade dos executados. A possibilidade de ocorrer a substituição da parte está prevista no processo de conhecimento (arts. 338 e 339 do CPC). No entanto, nada impede que seja utilizada em sede de execução de alimentos, o que atende aos princípios da economia e celeridade processual e, principalmente, ao direito do credor. Assim, ao executado que não tem o dever de pagar, cabe alegar sua ilegitimidade passiva e indicar quem é o devedor. Procedida a substituição, a execução segue contra o inadimplente. Consagrada a transmissibilidade do encargo alimentar (art. 1.700 do CC), o inadimplemento por parte do inventariante, não autoriza o decreto de sua prisão, No entanto, a omissão ser de causa para a sua destituição. CITAÇÃO Tanto a intimação do devedor para o cumprimento da sentença como sua citação no processo de execução de alimentos deve ser levada a efeito pelo correio, com aviso de recebimento. A lei processual sempre deu preferência à citação pelo correio. (art. 246, I, do CPC). O Código anterior – sem qualquer justificativa – excepcionava a citação no processo de execução, determinando que fosse levada a efeito por meio de oficial de justiça (art. 222, d, do CPC/1973). Esta disposição não foi reproduzida na lei atual (art. 247 do CPC). É o que se chama de silêncio eloquente. Como afirma Luiz Fernando Valladão Nogueira, houve avanço quanto à citação no processo de execução. Não foi repetido o artigo que vedava a citação postal. Logo, aquele martírio do credor para conseguir localizar pelo ato citatório o devedor de alimentos, mormente naquelas hipóteses em que se fazia necessária a carta precatória, tende a ser mitigado, ante a facilidade de consecução da citação postal.14 A Lei de Alimentos – ainda em vigor – igualmente determina que a citação seja feita pelo correio, com aviso de recebimento (art. 5º, § 2º, da LA). Ainda assim, todos insistem em afirmar que, na execução sob ameaça de prisão, a citação deve ser pessoal e promovida por oficial de justiça. Não se sabe a quem esta prática beneficia. Certamente não é o credor. Parece que todos se olvidam que o direito é urgente eis que visa atender à necessidade de sobrevivência do credor. Na execução se está buscando a cobrança de obrigação já chancelada por acordo, escritura pública ou sentença. A tendência em determinar que a citação seja levada a efeito por mandado também está ligada ao fato de a doutrina considerar a demanda de alimentos como ação de estado, hipótese excepcionada pela lei à citação postal (art. 247, I, do CPC). Porém, sequer se atina porque a ação de alimentos seria a ação de estado. Ao depois, como a lei especial prevê uma modalidade citatória, sem distinguir se é para a ação ou a execução, descabido optar pelo meio mais demorado. A citação por mandado só tem cabimento quando frustrada a via postal. Esquivando- se o devedor da citação, apesar de nada referir a Lei de Alimentos, possível a citação por hora certa (art. 252 do CPC). Frustrada a citação pessoal e por hora certa, incumbe ao exequente requerer a citação por edital (830, § 2º, do CPC). A citação por edital está prevista de forma expressa (art. 5º, §§ 4º e 5º, da LA), mas o procedimento da lei processual é mais ágil (art. 256 e ss. do CPC), derrogando a norma procedimental da Lei de Alimentos. Mesmo a citação do decreto da prisão revela-se útil, pois, na hipótese de ser expedido mandado de prisão o mesmo é encaminhado à polícia civil e militar.15 Nem é necessário que a parte requeira esta modalidade, que pode ser determinada de ofício pelo juiz. Imperioso conferir ao magistrado, como diretor do processo, poderes para conformar o procedimento às peculiaridades do caso concreto, como meio de mais bem tutelar o direito material.16 Nada justifica expedir mandado de citação e aguardar que o oficial de justiça cumpra a diligência, o que dispende um tempo muito superior do que a citação realizada via postal. É consabida a resistência do devedor em se deixar citar. Afinal, sabe da existência da obrigação alimentar que assumiu ou lhe foi imposta. Assim, é de se admitir a interceptação telefônica do devedor para conseguir localizá-lo. A medida é drástica, mas, além de cabível, é necessária. Ainda que a Constituição Federal consagre a inviolabilidade do sigilo das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (art. 5º, XII, da CF e Lei 9.296/1996), esta é uma das hipóteses em que se justifica a medida. Nem é imprescindível o desencadeamento da ação penal pela prática do delito de abandono material (art. 244 do CP). Possível tal providência extrema nos próprios autos da execução, como forma de garantir a subsistência do credor. Às claras que há choque de dois princípios constitucionais: o direito à privacidade do devedor e o direito à vida do credor. Não cabem maiores indagações para se identificar qual deve prevalecer. Apesar de escassas, há decisões amparando este entendimento.17 Citação por precatória Citado o devedor por precatória, não cabe ao juízo deprecado apreciar a justificativa apresentada pelo devedor e nem decretar a prisão. Pode, no entanto,revogá-la quando ocorrer o pagamento. Dispõe o credor de alimentos de foro privilegiado (art. 53, II e art. 528, § 9º, do CPC), afastando a regra geral da competência territorial (art. 46 do CPC). Ainda que a cientificação deva ser pessoal (art. 528 do CPC), não significa que precisa ser levada a efeito por mandado, via precatória. A citação feita pela via postal, com aviso de recebimento, é citação pessoal. Nem mais existe espaço para a expedição de precatória de citação. Este meio não pode ser mais obsoleto, só se justificando quando o juízo deprecado tiver que agir: promover a prisão do devedor, realizar busca e apreensão, proceder à alienação de bens etc. Em sede de execução de alimentos pelo rito da coação pessoal, por medida de celeridade, a tendência é a expedição de carta precatória de citação e prisão. A precatória pode ser enviada por meio eletrônico, por telefone ou telegrama (art. 264 do CPC). O prazo de três dias para a manifestação do executado inicia-se na data da juntada, nos autos da execução, da comunicação eletrônica feita pelo juízo deprecado ao deprecante da realização da citação (art. 231, VI e art. 915, II, § 4º, do CPC). Dita circunstância, como é uma novidade, deve ser esclarecida no mandado citatório. A comprovação do pagamento ou a justificativa podem ser apresentadas tanto no juízo deprecante como no deprecado (art. 914, § 2º, do CPC). Apresentada a justificativa ao juízo deprecado, não há necessidade de a precatória ser devolvida. Basta o envio de cópia da justificativa ao juízo deprecante, que detém competência exclusiva para apreciá-la. Rejeitada a justificativa, o juiz fixa o prazo da prisão e comunica ao deprecado para que proceda a prisão do devedor. O juízo deprecado pode tão só suspender o cumprimento da prisão caso o devedor comprove o pagamento da dívida (art. 528, § 6º, do CPC). O montante pago deve compreender as parcelas objeto da execução e mais as que se venceram até a data do efetivo pagamento (art. 323 e art. 528, § 7º, do CPC). Como se trata de obrigação alimentícia, as prestações devem ser atualizadas segundo o índice oficial (art. 1.710 do CC). Integra o valor da dívida: juros legais, correção monetária, multa moratória, bem como verbas sucumbenciais e honorários advocatícios (art. 322, § 1º, do CPC). O inadimplemento das custas processuais e da verba honorária não sujeitam o devedor à prisão. Daí a necessidade de as verbas serem discriminadas no mandado citatório. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE A exceção de pré-executividade perdeu completamente a utilidade a partir do momento em que se tornou possível a apresentação de impugnação ou de embargos independente de penhora. Por construção doutrinária, a jurisprudência passou a admitir o que foi chamado de exceção de pré-executividade: possiblidade de o devedor, opor-se à execução, antes da penhora, quando havia a alegação de não estar o título revestido dos requisitos formais ou faltar ao débito liquidez, certeza ou exigibilidade. Assim, não sendo título executivo o documento que embasa a demanda, não poderia ser desencadeado o processo de execução. Daí ser descabida a indicação de bens à constrição judicial. No entanto, no cumprimento da sentença é possível apresentar impugnação, nos mesmos autos e independentemente da penhora (art. 525 do CPC). Os embargos à execução de títulos executivos extrajudiciais igualmente podem ser opostos independente de penhora, caução ou depósito (art. 914 do CPC). Diante de tais possibilidades, nada justifica que se empreste sobrevida à exceção de pré-executividade. Perdeu todo e qualquer significado, apesar de a doutrina sustentar sua subsistência.18 POSSIBILIDADE DE PARCELAMENTO Seja pela via expropriatória ou da prisão, tanto em sede de cumprimento da sentença como de embargos à execução, é de ser reconhecido o direito do executado ao parcelamento do débito, mediante o depósito de 30% do valor da dívida. Na execução por quantia certa, a contar da citação, o devedor pode: – pagar a dívida no prazo de três dias úteis (art. 829 do CPC), com a redução dos honorários advocatícios de 10 para 5% (art. 827, § 1º, do CPC); – embargar a execução no prazo de 15 dias (art. 915 do CPC); – no prazo para opor embargos, requerer o parcelamento, em até seis parcelas, desde que deposite 30% do valor executado, acrescido das custas e honorários de 10% (art. 916 do CPC), ato que implica manifesto reconhecimento do débito. Tanto o prazo de três dias para pagar a dívida, como o de 15 dias para requerer o parcelamento ou opor-se à execução, contam-se da citação (arts. 829, 915 e 231 do CPC). Deste modo, todas essas hipóteses devem constar do mandado. Desta forma, se no prazo de três dias úteis o devedor não satisfizer a dívida, terá mais 12 dias úteis para as demais postulações. A possibilidade de parcelamento judicial não depende da concordância do credor, descabendo invocar dispositivo da lei civil que diz com direito obrigacional (art. 314 do CC). Trata-se de direito potestativo do devedor, uma vez que o credor não pode se opor ao pedido. Pode apenas se manifestar sobre o preenchimento dos pressupostos legais (art. 916, § 1º, do CPC). Em face do estado de beligerância decorrente do próprio inadimplemento, às claras que o credor não irá concordar em receber o pagamento fracionado. Assim, atendidos os requisitos legais, nem o credor pode se opor ao requerimento e nem o juiz tem motivo para rejeitá-lo, a não ser que reste evidenciada atitude abusiva do executado. De outro lado, é de se admitir o pagamento parcelado ainda que a cobrança se realize sob a ameaça de aprisionamento. Afinal, o objetivo não é a prisão em si, que dispõe de um caráter coercitivo para compelir o devedor a arcar com o débito alimentar. O encarceramento do devedor não satisfaz a obrigação alimentar e é imposto quando o devedor não pagou e não conseguiu justificar o inadimplemento. Ou seja, não mostrou a mínima intenção de cumprir com a obrigação alimentar. Assim, havendo o reconhecimento da dívida e comprovada a disposição de pagar, tanto que houve o depósito de quase um terço do valor, devidamente atualizado, acrescido de honorários advocatícios de 10% e custas processuais, não se justifica recusar o parcelamento do restante. Significaria afronta ao princípio da efetividade processual. Deferido o parcelamento, a execução resta suspensa durante o prazo do pagamento, não decorrendo de convenção das partes (art. 313, II, do CPC).19 O não pagamento acarreta: o vencimento das prestações subsequentes; o prosseguimento da execução e imposição de multa de 10% sobre o valor não pago (art. 916, § 5º, I e II, do CPC). Não atende ao melhor interesse do credor impedir o parcelamento da dívida alimentar pelo fato de o encargo ter sido imposto judicialmente. Das diferenças que existem em razão da natureza do título que constitui a obrigação – se judicial ou extrajudicial –, talvez a mais sem sentido seja a vedação de conceder a possibilidade de parcelamento da dívida em sede de cumprimento da sentença (art. 916, § 7º, do CPC). No entanto, nada justifica não assegurar ao devedor judicial a mesma prerrogativa. O primeiro artigo que trata do processo de execução de títulos extrajudiciais afirma que suas disposições aplicam-se, no que couber, aos atos executivos realizados no procedimento de cumprimento de sentença (art. 771 do CPC). Às claras que, em sede de obrigação alimentar, a possibilidade de parcelamento só vem em benefício do exequente. A penhora, avaliação e alienação judicial do bem, leva muito, muito mais tempo.20 Além do mais o credor pode fazer o levantamento imediato do depósito correspondente a 30% do débito, sendo que as prestações serão acrescidas de correção monetária e juros de um por cento ao mês (art. 916 do CPC). De todo descabido não admitir tal forma de composição do litígio. De qualquer modo, nada impede que o devedor peça, que ocredor concorde e que o juiz defira. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E DE DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS A cobrança de alimentos estabelecidos em sentença ou em decisões interlocutórias pode ser levada a efeito concomitantemente: ameaça de prisão e rito expropriatório. Certamente um dos grandes avanços da lei processual foi dispensar o uso de procedimentos autônomos para a cobrança de parcelas de alimentos antigas e atuais: um pelo rito da expropriação e outro com a ameaça de prisão. Não é mais necessário que o credor peça duas vezes o cumprimento da sentença, o que só onera as partes e afoga a justiça. O cumprimento de sentença ou decisão interlocutória, com a possibilidade de prisão e de penhora, está prevista no mesmo capítulo (art. 528 e ss do CPC). Nada impede a utilização das duas vias executórias, em única petição, para cobrar, simultaneamente, dívidas pretéritas e recentes. Para isso deve o credor, na mesma petição: – requerer a intimação pessoal do devedor, pela via postal, para: em três dias pagar as três últimas parcelas vencidas, sob pena de prisão (art. 528, § 3º, do CPC); – requerer a intimação do réu, na pessoa do seu advogado, via publicação na imprensa oficial (art. 513, § 2º, I, do CPC), para em 15 dias: pagar o débito acrescido de eventuais custas (art. 523 do CPC). – indicar bens do devedor à penhora. Ao despachar a inicial o juiz: – fixa multa de 10% e verba honorária de 10% (art. 523, § 1º, do CPC); – determina a intimação do réu por AR, para, em três dias, pagar as três últimas parcelas vencidas, e mais todas as que vencerem, até o dia do pagamento, sob pena de prisão, pelo prazo de um a três meses (art. 528, § 3º, do CPC); – ordena a expedição de nota de expediente intimando o devedor, na pessoa do seu advogado (art. 513, § 2º, do CPC) para, em 15 dias, proceder o pagamento do débito, acrescido de eventuais custas processuais (art. 523 do CPC); Mesmo que a intimação seja feita ao advogado, ele não pode ser compelido a cumprir a decisão no lugar do réu (art. 77, § 8º do CPC). Não pagas as parcelas constantes do demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, ou não aceita a justificativa apresentada pelo não pagamento, o juiz decreta a prisão do devedor pelo prazo que fixar, entre um e três meses. Os valores não pagos são incorporados ao restante do débito (art. 523, § 1º, do CPC) e se sujeita à cobrança pelo rito da expropriação. Apesar de o réu ter a obrigação de pagar as parcelas que se venceram até o dia do pagamento (art. 528, § 7º, do CPC), o oficial de justiça não procede à prisão se o réu comprovar que pagou o valor dos alimentos constante da memória do cálculo que acompanhou o mandado de prisão. As custas processuais e a verba honorária são cobradas pelo rito da expropriação. Às claras que, até este momento, mais alguns meses se passaram. Neste caso deve o credor apresentar novo demonstrativo do crédito e requerer novamente a prisão do devedor pelas parcelas não pagas. Para não perder a atualidade da dívida, o credor, muitas vezes, se vê obrigado a ingressar com nova execução, pedindo a citação do réu para pagar as parcelas recentes, sob pena de prisão. E assim vai! Repetidas vezes! Cobrança “desde logo”, sem prisão A expressão “desde logo”, que autoriza a cobrança da totalidade da dívida sem a possiblidade de prisão (art. 528, § 8º, do CPC), diz com o cumprimento da sentença ainda não transitada em julgado, bem como com os alimentos provisórios. O primeiro artigo do capítulo que trata: Do Cumprimento de Sentença que Reconheça a Exigibilidade de Obrigação de Prestar Alimentos (art. 528 e ss. do CPC) autoriza não só a cobrança de sentença, mas também de decisão interlocutória que fixa alimentos. E repete (art. 531 do CPC): O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou provisórios. Vai além ao explicitar que os alimentos provisórios e os não definitivos se processam em autos apartados (art. 531, § 1º, do CPC). Apesar de autorizada a cobrança de três parcelas de alimentos sob pena de prisão (art. 528, § 3º, do CPC), é oferecida ao exequente a opção de promover o cumprimento da sentença ou da decisão “desde logo”, caso em que não é admissível a prisão do executado (art. 528, § 8º, do CPC). O dispositivo faz remissão ao capítulo: Do Cumprimento Definitivo da Sentença que Reconhece a Exigibilidade de Obrigação de Pagar Quantia Certa (art. 523 e ss do CPC). Deste modo, ainda que não se trate de dívida líquida, certa e exigível é possível a execução definitiva dos alimentos. De qualquer forma, não há como a execução ser provisória, pois alimentos são irrepetíveis. Como se trata de execução de sentença não definitiva ou de alimentos provisórios, o pedido deve ser processado em autos apartados (art. 531, § 1º, do CPC). Clara a tentativa de proteger o devedor da prisão, quando a obrigação alimentar não é definitiva. No entanto, há uma flagrante contradição. Autorizada a intimação do devedor para pagar alimentos fixados em decisão interlocutória, sob pena de prisão, estes alimentos não são definitivos (art. 528, § 3º, do CPC). Assim, descabido autorizar a execução definitiva sem a possibilidade de aprisionamento (art. 528, § 8º, do CPC). Mais um entrave para obter o adimplemento do dever de prestar alimentos com a agilidade merecida pelo credor. Ao requerer o cumprimento da sentença ou da decisão que fixou alimentos provisórios, o credor já deve indicar bens à penhora. O juiz, ao despachar a petição: – estabelece multa de 10% e honorários advocatícios em igual percentual (art. 523, § 1º, do CPC), em caso de não pagamento voluntário; – determina a intimação do devedor, na pessoa de seu advogado (art. 513, § 2º, I, do CPC), para o pagamento do débito, no prazo de 15 dias, acrescido de custas, se houver (art. 523 do CPC). Não atendido o pagamento da integralidade do débito, é expedido mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos expropriatórios (art. 523, § 3º, do CPC). Independente da penhora e de nova intimação, o devedor tem mais 15 dias para apresentar impugnação (art. 525 do CPC). Para livrar-se do pagamento da multa, neste prazo o devedor deve depositar o valor do débito objeto da cobrança (art. 520, § 3º, do CPC). O quantum reconhecido como devido pelo réu, pode ser levantado pelo credor. A impugnação, de regra, não dispõe de efeito suspensivo (art. 525, § 6º, do CPC) e somente pode versar sobre temas específicos (art. 525, § 1º, do CPC). Trata-se da legalização da chamada exceção de pré-executividade, consagrada pela jurisprudência. Mesmo deferido efeito suspensivo à impugnação, ocorrendo penhora de dinheiro, é possível, mensalmente, o credor proceder ao levantamento do valor da prestação (art. 528, § 8º, do CPC). Como se trata de crédito alimentar, descabe a imposição de caução (art. 521, I, do CPC). Prosseguimento da execução Frustrado o cumprimento imediato da sentença (art. 528, § 8º, do CPC), é possível o uso da via a coação pessoal para a cobrança das prestações recentes. Imposta obrigação alimentar, pode o credor buscar o seu pagamento “desde logo”, contanto que abra mão da prisão do executado (art. 528, § 8º, do CPC). Mesmo que a sentença não seja definitiva ou se tratem de alimentos provisórios fixados em decisão interlocutória, é autorizado o uso do procedimento de cumprimento definitivo da sentença (art. 523 e ss do CPC). Esta modalidade mais ágil – ao menos aparentemente – não pode subtrair do credor o direito constitucional de acionar o devedor sob o rito da coação pessoal. Enquanto se arrastam os atos expropriatórios, sem que tenha ocorrido o pagamento, imprescindível autorizar o credor a fazer uso do meio de cobrança mais eficaz: ameaçar o devedor com a prisão (art. 528, § 3º, do CPC), com referência às prestações recentes. O pedido deve ser formulado em autos apartados (art. 531, § 1º, do CPC). Efeitos recursais As decisõesque concedem alimentos provisórios, bem como as sentenças que condenam ao pagamento de alimentos, desafiam recurso só no efeito devolutivo, constituindo títulos executivos judiciais que podem ser alvo de execução pelo credor. As sentenças que estabelecem obrigação alimentar podem ser impugnadas via recurso de apelação, que dispõe de efeito meramente devolutivo (art. 1.012 § 1º II, do CPC). Alimentos provisórios concedidos, negados, majorados ou reduzidos por decisões interlocutórias – em sede liminar ou incidental – se sujeitam à impugnação por meio de agravo de instrumento (art. 1.015, I, do CPC), que, via de regra, não dispõe de efeito suspensivo (art. 1.019, I, do CPC). Ainda que não definitivas, tanto as sentenças como as decisões interlocutórias sujeitas a recurso constituem títulos executivos judiciais e dão ensejo à fase de cumprimento de sentença (art. 531 do CPC). A cobrança precisa ser levada a efeito em autos apartados (art. 531, § 1º, do CPC). Como os alimentos são irrepetíveis, não é possível se falar em execução provisória. A cobrança é sempre definitiva, ainda que se trate de alimentos provisórios ou estabelecidos em sentença sujeita a recurso. O credor pode valer-se de qualquer dos ritos: o da coação pessoal ou da expropriação (arts. 528 e 913 do CPC). TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS Acordos com referendo oficioso Acordos referendados por terceiros, adquirem a condição de títulos executivos extrajudiciais e podem embasar execução pelo rito da prisão ou da expropriação. Elenca o Código de Processo Civil os documentos aos quais atribui a condição de títulos executivos judiciais (art. 515 do CPC) e extrajudiciais (art. 784 do CPC). As listas são extensas, mas taxativas. Somente os instrumentos ali referidos dispõem de força executiva. Além de títulos de crédito, de alguns tipos de contratos, são reconhecidos como títulos extrajudiciais: a escritura pública, o contrato particular firmado pelo devedor e duas testemunhas e acordos referendados oficiosamente pelo Ministério Público, Defensoria Pública, Advocacia Pública, advogados das partes ou conciliador ou mediador credenciado por tribunal (art. 784, IV do CPC). Não explicita a lei o significado da palavra “referendar”, que não é uma expressão jurídica. Segundo o Dicionário Digital Aurélio: submeter a um referendo; assinar como responsável; confirmar ou aceitar algo que já foi aprovado ou assinado por outrem. Pelo jeito trata-se da presença de terceira pessoa, que participou do acordo e, ao assiná-lo, empresta executividade à deliberação das partes. É de todo desnecessário buscar a homologação judicial, mero ato chancelatório, até porque o juiz não ouve as partes. De qualquer modo, ocorrendo a homologação da autocomposição extrajudicial, transmuda-se o documento em título executivo judicial (art. 515, II do CPC). A cobrança da prestação alimentícia firmada extrajudicialmente autoriza o uso da execução, tanto pelo rito da prisão (art. 911 do CPC) como pelo rito da expropriação (arts. 913 e 824 do CPC). Em ambas as modalidades o devedor é citado para no prazo de três dias: - pagar as três últimas prestações, provar que pagou ou comprovar a impossibilidade absoluta de fazê-lo, sob pena de, não aceita a justificativa apresentada, ver sua prisão decretada pelo prazo de um a três meses (art. 911, parágrafo único e art. 528, § 3º do CPC); - pagar a integralidade da dívida executada, caso em que o valor dos honorários será reduzido de 10% para e 5% (art. 827, § 1º do CPC), sob pena de penhora dos bens indicados pelo credor (art. 829, § 2º do CPC). Quando não ocorrer pagamento algum, é decretada a prisão do devedor, pelo período de um a três meses. A execução prossegue pela integralidade da dívida, referente a todas as parcelas vencidas e as que se vencerem no curso do processo. Passa a incidir honorários advocatícios de 10%. No prazo de 15 dias o executado pode opor embargos à execução independente da penhora, depósito ou caução (arts. 914 e 915 do CPC). Estabelecidos judicialmente, os alimentos são exigíveis desde o momento em que são fixados. Essa é a regra legal que ninguém lê (art. 4º da Lei 5.478/1968). Estipulados em acordo extrajudicial, são devidos desde o momento em que o documento é firmado, independentemente de homologação judicial ou referendo de quem tem legitimidade para a constituição de título executivo extrajudicial (art. 784, IV do CPC).21 Transação Mesmo sem homologação judicial nem referendo oficioso, o acordo que se constitui em título executivo extrajudicial dá ensejo ao uso da via executória da prisão. O estatuto processual elenca, entre os títulos executivos extrajudiciais, o instrumento de transação: documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas (art. 784, III do CPC), o qual não depende de homologação judicial para ensejar o uso da via executória. O capítulo que regulamenta a execução de alimentos estabelecidos em títulos executivos extrajudiciais remete ao cumprimento da sentença que impõe obrigação da mesma natureza (art. 911, parágrafo único do CPC), cuja cobrança admite a prisão do devedor (art. 528, § 3º do CPC). De outro lado, o art. 19 da Lei de Alimentos – com vigência assegurada (art. 1.072, V do CPC) – de modo expresso, prevê o decreto de prisão na execução de acordo, sem exigir homologação judicial. Como disse o Min. Massami Uyeda, ao admitir a execução sob pena de prisão: A tensão que se estabelece entre a tutela do credor alimentar versus o direito de liberdade do devedor dos alimentos resolve-se, em um juízo de ponderação de valores, em favor do suprimento de alimentos a quem deles necessita.22 Dissolução da união estável Formalizada a dissolução da união estável por documento particular, se for estabelecida obrigação alimentar, para que seja possível a cobrança judicial, indispensável que o acordo constitua título executivo extrajudicial. A união estável surge e se dissolve sem qualquer formalidade. É a ostensividade, a publicidade e a continuidade que permitem o reconhecimento de sua existência se flagrada a intenção do par de constituir uma família. No momento em que cessa o convívio, a união se esvai. Quando não há consenso sobre o prazo de permanência da união, alimentos ou partilha de bens, a decisão judicial, proferida em demanda litigiosa, não desconstitui a união. A sentença dispõe de mera eficácia declaratória, limitando-se a reconhecer sua existência e a estabelecer o marco inicial e final de sua vigência. De todo ineficaz a tentativa do legislador de estender à união estável as disposições relativas ao divórcio (art. 732 do CPC). Isto porque, a dissolução do casamento depende da chancela estatal: decreto judicial ou escritura pública. A dissolução da união estável não. A simples separação de fato tem o condão de dissolvê-la. Permite a lei que os conviventes formalizem a união por meio de contrato de convivência (art. 1.725, do CC). Por falta de qualquer exigência formal, o contrato pode ser levado a efeito por instrumento público ou particular. Mesmo havendo contrato escrito de constituição da união estável, sua dissolução sequer necessita ser formalizada. Caso o casal resolva documentar o fim da união, pode fazê-lo também livremente, por escrito particular ou por pública escritura. Optando o par por formalizar a dissolução da união por documento particular, válida é a constituição de obrigação alimentar a favor de um dos conviventes ou de filhos incapazes. No entanto, para os alimentos convencionados ensejem execução judicial, via expropriação ou coação pessoal (art. 911 do CPC), é indispensável que o documento constitua título executivo extrajudicial (art. 784, III e IV do CPC): seja firmado pelas partes e por duas testemunhas, ou referendado pelo Ministério Público, Defensoria Pública, Advocacia Pública, advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal.EXECUÇÃO EM PROCEDIMENTO ÚNICO A execução de título executivo extrajudicial pode ser buscada pelo rito da prisão e o da expropriação. Até o advento do atual Código de Processo Civil, para cobrar dívida alimentar estabelecida em título executivo extrajudicial, tinha o credor de fazer uso de duas execuções: uma para cobrar as três parcelas recentes e outra para buscar o pagamento das prestações anteriores. Esta prática, adotada em larga escala, nunca foi determinada pela lei e o resultado sempre foi nefasto. Propostas as duas execuções, uma pelo rito da coação pessoal e outra pela via expropriatória, quando o devedor não paga, em três dias, as três parcelas recentes, ou não é aceita a justificativa apresentada, depois de cumprido o prazo da prisão, seguem duas execuções, pelo mesmo rito expropriatório, entre as mesmas partes, para a cobrança de obrigação de igual natureza. Esta verdadeira excrescência foi corrigida. Tanto o capítulo do cumprimento da sentença (arts. 528 e ss do CPC), como o da execução de alimentos (arts. 911 e ss do CPC), prevê as duas modalidades de cobrança: prisão e penhora. Apesar da diferença de procedimentos, não incide a vedação de cumulação das execuções (art. 780 do CPC). Quer porque se trata de execução de um único título que admite duas formas de cobrança, quer porque se trata de dívida alimentar que dispõe de capítulo próprio. O uso de um só procedimento para a cobrança de débitos recentes e pretéritos por diferentes ritos, não gera confusão e nem retarda o pagamento do encargo alimentar. Quando da propositura da execução o credor já deve indicar os bens do devedor sujeitos à penhora. – Ao despachar a inicial o juiz fixa, de plano, honorários de 10% (art. 827 do CPC). O réu é citado pessoalmente, via postal, com aviso de recebimento – AR, para: – em três dias pagar a integralidade da dívida, o que enseja a redução dos honorários à metade (art. 827, § 1º do CPC); – em três dias pagar as três parcelas recentes e as que se vencerem até a data do pagamento, provar que já pagou ou justificar a absoluta impossibilidade de atender ao pagamento (art. 911 do CPC). Deve constar do mandado que, não realizado o pagamento ou recusada a justificativa apresentada, fica sujeito à prisão pelo prazo de um a três meses (art. 528, § 3º do CPC); – em 15 dias reconhecer o débito e requerer o seu parcelamento, comprovando o depósito de 30% do valor executado acrescido de custas e honorários advocatícios (art. 916 do CPC); – em 15 dias opor embargos à execução, independentemente de penhora (art. 914, § 1º do CPC). Não feito o pagamento ou recusada a justificativa apresentada pelo devedor, cabe ao juiz; – fixar o prazo e decretar a prisão do devedor; – determinar o protesto do título executivo (art. 528, § 3º do CPC); – determinar a penhora e avaliação dos bens do devedor indicados pelo credor (art. 829, § 1º e 2º do CPC). EXECUÇÃO POR COAÇÃO PESSOAL Entre o direito à vida e o direito à liberdade, é expressa a Constituição Federal em admitir a prisão do devedor de alimentos. A única possibilidade de prisão por dívida é a do devedor de alimentos (art. 5º, LXVII da Constituição Federal). Quanto à outra previsão, que diz com o depositário infiel, sua ilicitude está proclamada em súmula, tanto pelo Supremo Tribunal Federal23 como pelo Superior Tribunal de Justiça.24 A ideologia liberal é contra o aprisionamento do devedor. Preocupa-se em preservar o princípio da intangibilidade física do executado, ainda que provoque a dor, a penúria e mesmo a morte do credor. Como diz Araken de Assis, contra o meio executório da coerção pessoal se opõe tenazmente a força do preconceito. A prisão civil do alimentante não merece o opróbio de coisa obsoleta, de entulho autoritário e violento.25 Não há outra forma de assegurar o direito fundamental material aos alimentos.26 Na ponderação de valores sob tutela jurisdicional, mostrando-se eficaz o efeito coercitivo do decreto prisional como o ordenamento de conduta ao adimplemento do débito alimentar, parece evidente que a defesa da liberdade (ou da possibilidade de trabalho) do devedor é relegada ao segundo plano. 27 A prisão não é uma medida penal, nem um ato de execução pessoal. Trata-se de meio de coerção com o objetivo de reforçar a imposição do pagamento dos alimentos. É inquestionável que a ameaça de prisão civil atinge altos índices de eficiência, devido ao forte impacto causado sobre o obrigado. Até porque a prisão deve ser cumprida em regime fechado (art. 528, § 4º do CPC). Contudo, por não ser medida de caráter executivo e sim mandamental, fica sujeita à vontade do devedor em cumprir a obrigação. A prisão em si não proporciona a satisfação do direito a alimentos. Não atua sobre o patrimônio, mas sobre a vontade do devedor.28 A possibilidade de prisão é uma forma de pressão para o pagamento dos valores devidos e não uma punição. Tanto não há interesse do Estado de que o executado permaneça segregado que, tão logo comprovado o adimplemento, o executado é liberado. Cientificação do devedor Para ameaçar o devedor com a possibilidade de prisão, é indispensável que ele seja cientificado pessoalmente, o que não significa que tenha que ser por oficial de justiça. Quando se trata de cumprimento da sentença ou de decisão interlocutória que estabelece obrigação alimentar, eleita a via executória da ameaça de prisão, o devedor deve ser intimado pessoalmente (art. 528 do CPC). Esta expressão não significa que a intimação deve ser levada a efeito por mandado, por meio de oficial de justiça. Simplesmente ressalta que não pode ocorrer via intimação do advogado do devedor. Tem que ser pela via postal. De todo descabida é a citação por precatória, modalidade que só se justifica quando o juízo deprecado tem que realizar alguma ação. Adotado o rito expropriatório, caso o réu possua advogado constituído nos autos, a intimação para o cumprimento da sentença é feita via publicação no Diário da Justiça, na pessoa do seu procurador (art. 513, § 2º, I do CPC), para, em 15 dias, pagar o débito acrescido de eventuais custas (art. 523 do CPC). Não ocorrendo o pagamento, independente de nova intimação e da realização ou não da penhora, inicia-se novo prazo de 15 dias para que o devedor, nos mesmos autos, apresente impugnação (art. 525 do CPC). No que diz com dívida superior a três prestações alimentares, a forma de cobrar é o processo executório: citação do devedor para que pague em 15 dias. Não realizado o pagamento, o débito é acrescido de multa de 10% e de honorários advocatícios no mesmo percentual (art. 523, § 1º do CPC). Persistindo o inadimplemento, o juiz manda protestar o devedor (art. 528, § 1º do CPC) e expede, desde logo, mandado de penhora e avaliação (art. 523, § 3º do CPC). É possível a penhora de 50% do valor de salários e rendas outras de origem semelhante; do saldo depositado em caderneta de poupança e do excedente a 50 salários mínimos mensais (art. 833, § 2º do CPC). Penhorado dinheiro, cabe mensalmente o levantamento do valor da prestação (art. 528, § 8º do CPC), não havendo imposição de caução (art. 521, I do CPC). Extensão do crédito Não é necessário aguardar o inadimplemento de três parcelas alimentares para a cobrança pelo rito da prisão. A lei restringe a cobrança dos alimentos sob o rito da coação pessoal a três meses de inadimplemento (art. 528, § 7º do CPC): o débito alimentar que autoriza a prisão do alimentante é o que compreende até as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução. Ou seja, é estabelecido o limite máximo, não o mínimo de prestações vencidas. A limitação nada mais é do que uma estratégia na tentativa de dar efetividade a esse meio coercitivo, não onerando demasiadamente o devedor, de modo a inviabilizar o pagamento, em face do acúmulo de prestações impagas. Existe uma prática – muito difundida e para lá de perversa – de que é necessárioaguardar o inadimplemento de três prestações para ameaçar o devedor com a possibilidade de ir para a cadeia. Porém, o inadimplemento de uma única parcela já configura mora e autoriza o uso coação pessoal.29 Como os alimentos se destinam a garantir a sobrevivência do credor, indispensável reconhecer que o vencimento das prestações é antecipado. Apesar da falta de expressa previsão legal no âmbito do direito das famílias, mas de fora muito clara no direito sucessório (art. 1.928, parágrafo único do CC), deve o magistrado explicitar que o pagamento deve anteceder ao período do encargo. A dívida precisa ser paga de pronto e qualquer atraso autoriza sua cobrança. Os alimentos são devidos desde o momento em que o juiz os fixa (art. 4º da Lei 5.478/1968) e devem ser pagos quando da citação do devedor. Ninguém consegue esperar 30 dias para comer! Para a cobrança pela via da prisão, desimporta a periodicidade do encargo alimentar. Mesmo que o pagamento seja estipulado para ser pago em prestações anuais, é possível a execução pelo rito da coação pessoal. Essa forma de pagamento é estipulada principalmente quando o devedor obtém rendimentos da agricultura sazonal. Não se trata de pagamento de doze prestações alimentares, mas de uma única prestação, com vencimento uma vez por ano. Transcorrida a época do pagamento, a dívida é atual, sendo possível sua cobrança. Cálculo da dívida Instruída a inicial da execução com o demonstrativo atualizado do débito, descabe atribuir ao contabilista o encargo de atualizar o débito para a inserção das parcelas vencidas durante a tramitação da demanda. A exigência é da lei processual: a inicial da execução deve ser instruída com o demonstrativo do débito, atualizado até a data da propositura da execução (art. 524 e 798, I, b do CPC). Também deve o credor indicar, entre outros dados, o índice de correção adotado e a taxa de juros aplicada (art. 798, parágrafo único do CPC). Quando se trata de execução de alimentos, a cada mês vence mais uma prestação e o cálculo apresentado resta rapidamente desatualizado. No mais das vezes, pago o valor constante do mandado, várias outras prestações já se venceram. E o débito que autoriza a prisão compreende a três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e mais as que se vencerem no curso do processo (art. 528 § 7º, do CPC). Sempre haverá uma defasagem entre o valor indicado na inicial e o montante devido à época do pagamento. Como alerta Araken de Assis, a simples operação aritmética, exigida pelo acréscimo de tais verbas, após a elaboração da planilha, não serve de pretexto para o executado não realizar o depósito integral da dívida.30 Por isso descabe a periódica remessa dos autos ao contabilista, como reiteradamente pede o executado e o juiz aceita. Esta prática retarda, ainda mais, o pagamento do débito. O uso de tal serventia judicial é cabível quando existe controvérsia sobre o valor constante da memória do cálculo, a demandar uma decisão do juiz. De qualquer modo, se o devedor questionar o cálculo apresentado, deve proceder ao depósito da integralidade da dívida, até porque se livra do pagamento da multa (art. 520, § 3º do CPC). Ou ao menos do valor que reconhece como devido, importância que pode ser, imediatamente, levantada pelo credor. Pagamentos parciais não têm o condão de suspender o decreto de prisão civil. No entanto, quando o devedor paga o valor constante do mandado, acaba sustada a coação pessoal. Caso exista saldo devedor que não consta do mandado de prisão, até por ter vencido nova prestação, o credor deve apresentar demonstrativo atualizado do débito, sendo cabível ser decretada novamente a sanção civil.31 Não é necessária a propositura de nova execução para a cobrança de tais parcelas. Cabe imaginar a hipótese em que a citação do devedor ocorre via precatória. Proposta a execução, o devedor é citado para pagar em três dias ou apresentar justificativa. A resposta do réu é apreciada pelo juízo deprecante. Rejeitada a justificação, é expedida nova precatória de prisão. Claro que, a essa altura, o valor do demonstrativo juntado com a inicial está para lá de defasado. Descabe determinar a atualização seja feita pelo contador do juízo deprecante. É do credor o encargo de trazer novo demonstrativo da dívida relativo às parcelas supervenientes. Em face da resistência do devedor em cumprir com sua obrigação, muitas vezes se multiplica o número de execuções. Assim, é possível a alteração do rito executório com a reunião dos vários processos (art. 780 do CPC).32 Não é outro o motivo que leva o credor a propor mais de uma dúzia de execuções de alimentos! Demonstrativo discriminado e atualizado do crédito No demonstrativo do crédito de obrigação alimentar, o credor deve projetar o valor dos alimentos vincendos, para que o débito esteja atualizado à data do pagamento. Não adianta. Sempre que o devedor paga o débito alimentar, o valor da dívida já está desatualizado. Quando o credor busca a cobrança, precisa apresentar demonstrativo discriminado e atualizado do crédito (art. 524 do CPC). Quando é utilizada a via da coação pessoal, primeiro o réu é citado para, em três dias, pagar ou justificar o não pagamento, (arts. 528 e 911 do CPC). Não procedendo ao pagamento ou rejeitada a justificativa apresentada, é expedido mandado de prisão (art. 528, § 3º do CPC). Claro que neste interim, alguns meses se passaram. Para o devedor livrar-se da prisão deve pagar o valor atualizado da dívida objeto da execução e as parcelas vencidas até a data do pagamento (art. 528, § 7º do CPC). No entanto, na prática mais do que consolidada, para não ser preso basta a comprovação do pagamento das parcelas que constam no demonstrativo que acompanhou o mandado de prisão. Neste ínterim já se venceram novas prestações e o demonstrativo apresentado pelo credor está desatualizado. Deste modo, há um número de prestações que integram a condenação que não são pagas e o devedor livra-se da prisão. O que acontece então? Ou o juiz manda o processo para o contabilista ou o credor apresenta demonstrativo atualizado, requerendo novamente a prisão do devedor. Quando neste período transcorreram mais de três meses, o credor acaba ingressa com nova execução. A única solução é no demonstrativo do crédito constar uma projeção das prestações vincendas. Caso o credor não trouxer o valor discriminado das parcelas alimentares futuras, cabe ao juiz determinar a sua retificação. Assim, o réu será citado para pagar o valor devido à data do pagamento, conforme a projeção que consta no demonstrativo que acompanha o mandado de citação. ATUALIZAÇÃO DA DÍVIDA ESTABELECIDA EM SALÁRIOS MÍNIMOS Estipulados os alimentos em salários mínimos, em caso de mora, o devedor deve pagar o valor do salário mínimo que vigorava à data do vencimento da prestação acrescido de juros e correção monetária, e não o valor do salário mínimo vigente à data do pagamento. A Constituição Federal (art. 7º, IV) veda a vinculação do salário mínimo para qualquer fim. Mas os alimentos oriundos de indenização por ato ilícito têm como base de cálculo o salário mínimo (art. 533, § 4º do CPC), critério consagrado em súmula pelo Supremo Tribunal Federal.33 Apesar de a referência dizer com a responsabilidade civil decorrente da prática de ato ilícito, é pacífica a orientação doutrinária e jurisprudencial admitindo esse indexador nas obrigações alimentares no âmbito do direito das famílias. Adotado o salário mínimo como referência, ocorrendo mora, a atualização da dívida é levada a efeito sobre o valor do salário mínimo à data do vencimento da prestação, acrescido de juros e correção monetária. É o que determina a lei civil (art. 1.710 do CC): a adoção do índice oficial. Já a lei de processo compreende no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios (art. 322, § 1º do CPC).
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