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Caso Freud - Srta. Elizabeth Von R.

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Prévia do material em texto

FACULDADE UNIÃO DE CAMPO MOURÃO – UNICAMPO 
PSICOLOGIA 
 
 
 
Jussara Prado 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DO CASO 5 – SRTA. ELIZABETH VON R. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPO MOURÃO 
2013 
SRTA. ELIZABETH VON R. 
 
HISTÓRIA DO CASO 
História de vida da paciente 
Elisabeth Von R., 24 anos, teve uma vida cheia de infortúnios: o pai 
morreu, a mãe precisou se submeter à uma operação nos olhos, e uma das 
irmãs faleceu durante o parto. Além disso, era sempre Elisabeth que cuidava 
dos enfermos; 
Era a mais jovem de três irmãs. Sempre foi muito apegada aos pais, 
mas devido à enfermidade da mãe, se apegou principalmente ao pai. Porém, 
era muito descontente por ser mulher. Gostava de sua liberdade, de falar o que 
queria e tinha planos ambiciosos de estudar e fazer música, por isso não 
suportava a ideia de sacrificar seus planos e sua liberdade por causa de um 
casamento. Seu pai sempre a chamava de convencida. 
Certa vez; Numa festa, conheceu um jovem pelo qual sentiu profunda 
atração – física e mental. Eles eram tão parecidos, que ela até mudou sua 
concepção sobre casamento. Como ele era mais velho do que ela, ela resolveu 
esperar mais para se casar com ele, ou até terem mais dinheiro. Porém, um 
dia, ficaram conversando até tarde e demoraram a voltar para casa, e quando 
Elisabeth voltou, seu pai estava pior da doença. A jovem se recriminou por ter 
deixado de cuidar dele em nome da própria diversão. 
A doença cardíaca do pai abalou a alegria da família, mas enquanto 
cuidava dele, pelos 18 meses que se seguiram, ela obrigava-se a parecer feliz. 
Segredo: seu pai gostava de apoiar suas pernas sobre as pernas da moça. 
Também costumava chama-la durante a madrugada, com dor, e a menina 
pulava da cama com os pés descalços no chão frio. 
Após a morte do pai, o jovem por quem era apaixonada sumiu. Quando 
a irmã mais velha casou, Elisabeth achou que a felicidade voltaria, já que um 
novo homem poderia assumir o controle da família agora composta apenas por 
mulheres. Porém, o marido da irmã adquiriu uma casa em outra cidade e se 
mudaram para lá. 
Alguns meses depois, a segunda irmã se casou. Dessa vez, o marido 
era de agrado de Elisabeth, moravam perto da casa da mãe, e a moça sentia-
se feliz. Porém, nessa mesma época a doença nos olhos da mãe piorou, e 
Elisabeth despendeu mais de seu tempo cuidando dela. Nas férias de verão, 
quando a mãe já estava melhor, a família toda resolveu se reunir numa estação 
de veraneio, na qual se esperava que Elisabeth pudesse descansar. 
Sua irmã e o cunhado acabaram voltando antes, e após um tempo, 
Elizabeth e sua mãe, foram obrigadas a voltar porque sua irmã do meio estava 
com complicações na gravidez. Quando chegaram, a irmã já havia morrido. Os 
pensamentos de Elisabeth se tornaram mais sombrios e infelizes. 
 
História dos sintomas 
 A paciente vinha sofrendo há mais de dois anos com dores nas pernas e 
com dificuldade em andar. Andava com a parte superior do corpo inclinada 
para a frente, mas sem fazer uso de qualquer apoio. Sua marcha não era de 
nenhum tipo patológico reconhecido. Queixava-se de grande dor ao andar e de 
se cansar rapidamente ao andar e ao ficar de pé, e que depois de pouco tempo 
tinha que descansar, o que diminuía as dores, mas não as eliminava 
inteiramente. Essa dor era de caráter indefinido. Uma área bastante grande e 
mal definida da superfície anterior da coxa direita era indicada como o foco das 
dores, a partir da qual elas se irradiavam com mais frequência e onde atingiam 
sua maior intensidade. Nessa região, a pele e os músculos eram também 
particularmente sensíveis à pressão e aos beliscões. 
 A hiperalgia (exagerada sensibilidade à dor) podia ser observada mais 
ou menos em toda a extensão das duas pernas. Os músculos eram talvez 
ainda mais sensíveis à dor do que a pele; As coxas eram mais sensíveis a 
essas duas espécies de dor. A força motora das pernas não podia ser 
qualificada e os reflexos eram de intensidade média. O distúrbio se 
desenvolvera gradativamente durante os dois anos anteriores e variava 
bastante em intensidade. 
 No caso da Srta. Von R., quando se pressionava ou beliscava a pele e 
os músculos hiperalgésicos de suas pernas, seu rosto assumia uma expressão 
peculiar, que era antes de prazer do que de dor. Ela gritava mais, aparentando 
uma sensação de cócegas, o rosto se enrubescia, ela jogava a cabeça para 
trás e fechava os olhos, e seu corpo se dobrava para trás. Nenhum desses 
movimentos era muito exagerado, mas era distintamente observável, e isso só 
poderia ser conciliado com o ponto de vista do que seu distúrbio era histérico e 
de que o estímulo tocara uma zona histerogênica (área do corpo que quando 
estimulada resultava em uma reação histérica). 
 Ela parecia gostar muito dos choques dolorosos produzidos pelo 
aparelho de alta-tensão, e quanto mais fortes eram, mais pareciam afastar 
suas próprias dores para um segundo plano. 
 Quando ela ficava mais profundamente emocionada do que de costume 
com uma parte da história, parecia cair num estado mais ou menos semelhante 
à hipnose. Ficava tão imóvel e mantinha os olhos bem fechados. 
 Durante as férias numa estação de veraneio, as dores e a fraqueza 
locomotora de Elizabeth começaram. Ela estivera mais ou menos cônscia das 
dores por um curto período, mas elas sobreviveram com violência, pela 
primeira vez, depois de ela ter tomado um banho quente na pequena estação 
de águas. 
 Depois de um tempo, suas dores começaram a participar da terapia. No 
meio de pergunta ou pela pressão em sua cabeça, ao despertar uma 
lembrança, surgia uma sensação de dor. A dor persistia enquanto a paciente 
estivesse sob influência da lembrança; alcançava seu clímax quando ela 
estava no ato de me contar a parte essencial e decisiva do que tinha a 
comunicar, e com última palavra desse relato, desaparecia. 
 
ANÁLISE DOS SINTOMAS 
 O início da doença dela deve ter-se relacionado com esse período de 
desvelos, pois ela se recordava de que, durante os últimos seis meses, ficara 
acamada por um dia e meio por causa das dores descritas. Essas dores 
passaram rapidamente e não lhe haviam causado nenhuma inquietação nem 
atraído sua atenção. Somente após dois anos do falecimento do pai foi que ela 
se sentiu doente e ficou impossibilitada de andar por causa das dores. 
Freud percebeu que, sua perna direita doía durante a hipnose quando 
conversava sobre os cuidados que ela dispensara ao pai enfermo, ou sobre 
seu relacionamento com o namorado da mocidade, ou sobre outros 
acontecimentos que se enquadravam no primeiro período de suas experiências 
patogênicas. Entretanto, a dor surgia na perna esquerda, quando o assunto era 
relacionado com a irmã morta ou com os dois cunhados. 
Elizabeth relatou a Freud que, se encontrava de pé junto a uma porta 
quando o pai foi levado para casa logo após o ataque cardíaco e, com o susto, 
ficara paralisada como se tivesse raízes no chão. E isso se repetiu em vários 
momentos, inclusive que, também estava de pé, quase que enfeitiçada, junto 
ao leito de morte da irmã. Isso tudo mostrava haver uma conexão verdadeira 
entre suas dores e o ficar de pé, e a rigor ela poderia ser aceita como prova de 
uma associação. 
Em relação ao andar, Elizabeth relatou que um passeio que ela fizera na 
estação de águas em companhia de várias outras pessoas e que teria sido 
longo demais. No dia desse passeio, sua mãe e irmã mais velha já haviam ido 
embora, e a irmã mais nova se sentiu mal e acabou ficando em casa; restando 
o cunhado que a acompanhara. 
Uma cena que se ligou às dores do sentar: Aconteceu alguns dias 
depois quea irmã e o cunhado já haviam ido embora. Ela foi passear por uma 
colina e acabou indo até um lugar onde muitas vezes ela tinha estado lá com o 
cunhado. Sentou-se num banco de pedra e se abandonou a seus 
pensamentos, que mais uma vez diziam respeito a sua solidão e ao destino de 
sua família, e dessa vez confessou abertamente o desejo intenso de ser tão 
feliz quanto a irmã. Retornou desses pensamentos com dores violentas e, 
naquela mesma noite, tomou o banho após o qual as dores surgiram em 
caráter definitivo e permanente. 
De início, suas dores ao andar e ficar em pé eram aliviadas ao se deitar. 
As dores só passaram a se relacionar com o ficar deitada quando, após ter 
notícia da doença da irmã, ela viajou de volta de Gastein e foi atormentada 
durante a noite tanto pela preocupação com a irmã quanto por dores 
lancinantes, tendo ficado estendida e insone no vagão de trem. E por muito 
tempo depois disso, deitar-se foi mais doloroso para ela do que andar ou ficar 
de pé. 
A região dolorosa se estendeu com o acréscimo de áreas adjacentes: 
cada novo tema que exercia um efeito patogênico catexizara uma nova região 
das pernas; e cada uma das cenas que lhe haviam causado uma forte 
impressão deixara um vestígio, provocando uma catexia duradoura e 
constantemente acumulada das várias funções das pernas, uma ligação 
dessas funções com suas sensações dolorosas. Além disso, a paciente 
encerrou sua descrição de uma série de episódios com a queixa de que eles 
lhe haviam tornado doloroso o fato de “ficar sozinha”. 
Durante toda a análise, Freud utilizou a técnica de provocar o 
surgimento de imagens e ideias através da pressão sobre a cabeça da 
paciente, um método, vale dizer, que seria impraticável sem a plena 
cooperação e a atenção voluntária da paciente. Por varias vezes, seu 
comportamento correspondeu às expectativas de Freud, e durante alguns 
períodos foi surpreendente a prontidão com que as diferentes cenas 
relacionadas com um dado tema surgiram numa ordem rigorosamente 
cronológica. Parecia até que ela estava lendo um livro ilustrado. Em alguns 
casos, parecia haver uma espécie de impedimento que Freud não desconfiava 
na época. Quando ele pressionava a cabeça dela, ela alegava que nada lhe 
havia ocorrido. Então ele repetia a pressão e pedia para ela esperar, mas 
mesmo assim nada acontecia. Quando isso acontecia, Freud acreditava que 
era um dia desfavorável para a terapia e marcava para continuarem na próxima 
sessão. 
Com isso, ele notou duas coisas: a primeira, que o método só falhava 
quando ele encontrava Elizabeth alegre e sem dor, e nunca quando ela se 
sentia mal. A segunda, que ela fazia muitas afirmações de não ter visto nada 
depois de deixar passar um longo intervalo durante o qual, a expressão tensa e 
preocupada de seu rosto traía o fato de haver um processo mental em curso. 
Freud adotou a hipótese de que seu método nunca falhava: de que 
todas as ocasiões, sob a pressão da mão dele, alguma ideia ocorria a Elizabeth 
ou alguma imagem surgia diante de seus olhos, mas ela nem sempre estava 
preparada para comunica-las a ele, e tentava reprimi-las novamente. Diante 
disso, Freud conseguiu pensar em dois motivos para esse encobrimento: Ou 
ela estava criticando a ideia, com o pretexto de que não era importante ou de 
que era irrelevante, ou estava hesitando por acha-la muito desagradável de 
contar. Dessa maneira, Freud passou a agir convencido da confiabilidade de 
sua técnica, não aceitando mais a declaração de Elizabeth que nada lhe havia 
ocorrido e assegurava a ela que algo devia ter acontecido. Ela poderia até 
acreditar que sua ideia não era a ideia certa, porém, era sua obrigação ser 
inteiramente objetiva e dizer o que lhe viesse à cabeça, quer fosse apropriado, 
ou não. 
Com essa insistência, ele conseguiu a partir dessa época, que sua 
técnica jamais falhasse. Não podendo deixar de concluir que sua opinião 
estava certa e extraiu dessa análise uma confiança literalmente irrestrita na 
técnica. Muitas vezes acontecia de só depois dele pressionar a cabeça dela por 
três vezes que ela lhe dava uma informação. Ela mesma notara que deveria ter 
dito tudo da primeira vez, e, não o fez acreditando que não era preciso. 
Chegaram então à terceira fase do tratamento: a paciente se sentia 
melhor, fora mentalmente aliviada e era agora capaz de esforços bem-
sucedidos. Mas suas dores, manifestamente não tinham sido eliminadas, 
repetiam-se de tempos em tempos e com toda a sua antiga gravidade. Isso 
significava que a análise ainda estava incompleta. 
Freud ainda não sabia exatamente em que momento e por qual 
mecanismo as dores se haviam originado. Durante a reprodução da grande 
variedade de cenas da segunda fase e enquanto observava a resistência da 
paciente em falar delas, ele havia formado uma suspeita específica. Mas foi 
uma ocorrência fortuita que resolveu o assunto: Um dia, enquanto trabalham na 
terapia, Freud ouviu passos de um homem na sala contígua e uma voz 
agradável que parecia estar formulando uma pergunta. Elizabeth se levantou 
de imediato e pediu para interromper os trabalhos por aquele dia, pois tinha 
ouvido o cunhado chegar e perguntar por ela. Até então, ela estava livre de 
dores, entretanto, após a interrupção, sua expressão facial e seu andar traíram 
o súbito surgimento de dores agudas. A suspeita de Freud então fora 
fortalecida por esse fato, fazendo-o decidir antecipar a explicação decisiva. 
Freud perguntou à ela sobre as causas e circunstâncias da primeira vez 
em que as dores haviam surgido. À guisa de resposta, seus pensamentos se 
voltaram para a visita de verão à estação de águas antes de sua viagem a 
Gastein, e inúmeras cenas que não tinham sido tratadas de maneira muito 
completas surgiram de novo. Elizabeth se lembrou de como se sentia na 
época, de como estava esgotada. Pois, até então, ela se julgara forte o 
bastante para poder passar sem a ajuda de um homem, mas agora se via 
dominada pelo sentimento de sua fraqueza como mulher e por um anseio de 
amor no qual, citando suas próprias palavras, sua natureza congelada 
começava a derreter-se. 
Nesse estado de espírito, ela foi profundamente afetada pelo casamento 
feliz da segunda irmã – por ver com que tocante carinho o cunhado cuidava 
dela, como os dois se entendiam com um simples olhar e como pareciam 
seguros um do outro. Sem dúvida, era lastimável que a segunda gravidez 
tivesse vindo tão perto da primeira, e a irmã sabia que esse era o motivo de 
sua doença, mas como a suportava de bom grado por ter sido ele o causador! 
Em relação ao passeio que foi tão associado às dores de Elizabeth, no 
dia, o cunhado inicialmente não queria participar e desejava permanecer ao 
lado da esposa enferma. Ela, porém, o persuadira com um olhar a acompanha-
los, por achar que isso daria prazer a Elizabeth. Elizabeth permaneceu na 
companhia dele durante todo o passeio. Falaram sobre todos os assuntos, até 
os mais íntimos. Ela se descobriu em completo acordo com tudo o que ele 
dizia, e o desejo de ter um marido como ele acentuou-se muito. Então, alguns 
dias depois, veio a cena da manhã após a partida da irmã e do cunhado, 
quando ela foi ao local que tinha uma vista bonita e que fora o preferido nos 
passeios deles. Ali, se sentou e sonhou mais uma vez em desfrutar de uma 
felicidade como a da irmã e em encontrar um marido que soubesse cultivar lhe 
o coração, como seu cunhado cativara o dela. Sentiu dor ao levantar-se, mas 
esta passou mais uma vez. Foi somente à tarde, depois de ter tomado o banho 
quente, que as dores irromperam, e ela nunca mais se livrou delas. 
Para Freud, tudo já estava muito claro. Mas a paciente, mergulhada em 
suas lembranças agridoces,não parecia notar para onde se estava 
encaminhando e continuou a reproduzir suas recordações. Passou a falar de 
sua visita a Gastein, da ansiedade com que aguardava cada carta e finalmente 
das más notícias sobre a irmã, da longa espera até o anoitecer, que foi o 
primeiro momento em que puderam partir de Gastein, e então da viagem, feita 
numa torturante incerteza, e da noite insone – tudo isso acompanhado por um 
violento aumento das dores. Perguntei-lhes se durante a viagem havia pensado 
na possibilidade deplorável que depois se concretizou. Respondeu-me que 
evitara cuidadosamente pensar nela, mas acreditava que desde o início a mãe 
havia esperado o pior. Suas lembranças passaram então à chegada a Viena, à 
impressão que lhes causaram os parentes que as esperavam, à curta viagem 
de Viena até a estação de veraneio próxima onde morava a irmã. À chegada à 
noite, à caminhada apressada pelo jardim até a porta da casa ajardinada, ao 
silêncio que reinava em seu interior e à escuridão opressiva. Lembrou que o 
cunhado não estava lá para recebe-las e que ficaram diante da cama, olhando 
para a irmã morta. 
Naquele momento de terrível certeza de que a irmã amada estava morta 
sem ter-lhes dito adeus, e sem que ela lhe tivesse aliviado os últimos dias com 
seus cuidados, naquele exato momento outro pensamento atravessou a mente 
de Elisabeth, e agora se impunha de maneira irresistível a ela mais uma vez, 
como um relâmpago nas trevas: “Agora ele está livre novamente e posso ser 
sua esposa”. 
Essa moça sentia pelo cunhado uma ternura cuja aceitação na 
consciência deparara com a resistência de todo o seu ser moral. Ela conseguiu 
poupar-se da dolorosa convicção de momentos em que essa convicção 
procurou impor-se a ela (no passei com o cunhado, durante o devaneio 
matinal, no banho e junto ao leito da irmã) que suas dores surgiram, graças à 
conversão bem sucedida. 
O resgate dessa representação recalcada teve um efeito devastador 
sobre a pobre moça. Ela chorou alto quando Freud lhe expôs a situação: “Quer 
dizer que, durante muito tempo, você esteve apaixonada por seu cunhado”. 
Nesse momento, ela queixou-se das dores mais terríveis e fez um último 
desesperado esforço para rejeitar a explicação: não era verdade, eu a havia 
induzido àquilo, não podia ser verdade, ela seria incapaz de tanta maldade, 
jamais poderia perdoar-se por isso. Foi fácil provar-lhe que o que ela própria 
me dissera não admitia outra interpretação. Mas passou-se muito tempo antes 
que os dois argumentos consoladores de Freud, o de que não somos 
responsáveis por nossos sentimentos e o de que seu comportamento, o fato de 
ter adoecido naquelas circunstancias, era prova suficiente de seu caráter 
moral, a impressionassem um mínimo que fosse. 
Na primeira visita que seu cunhado fizera à família, ele a confundira com 
a moça com quem iria se casar e a cumprimentara antes da irmã mais velha, 
de aparência um tanto insignificante. Certa noite os dois conversavam com 
tanta animação e pareciam se dar tão bem que a noiva os interrompeu num 
tom parcialmente sério, com a seguinte observação: “A verdade é que vocês 
dois se ajustariam de maneira esplêndida”. Outra vez, numa festa em que 
ninguém sabia do noivado dele, falava-se do rapaz e uma senhora criticou lhe 
um defeito físico que indicava que ele tivera uma doença na infância. A própria 
noiva ouviu isso tranquilamente, mas Elisabeth inflamou-se e defendeu a 
simetria do físico de seu futuro cunhado com um zelo que ela própria não pôde 
compreender. 
Conforme Freud foi trabalhando essas lembranças, tornou-se claro para 
Elisabeth que seu sentimento afetuoso pelo cunhado estivera latente por muito 
tempo, talvez mesmo desde que o conhecera e ficara escondido todo aquele 
tempo atrás da máscara de uma mera afeição fraterna, que seu senso familiar 
muito desenvolvido permitia-lhe aceitar como natural. 
Numa conversa com a Sr. Von R, mãe de Elisabeth, Freud lhe perguntou 
qual a possibilidade de o desejo da moça se concretizar. A mãe lhe contou que 
há muito adivinhara os sentimentos de Elisabeth pelo rapaz, embora não 
soubesse que esses sentimentos já existiam quando a irmã era viva. Ninguém 
que visse os dois juntos poderia duvidar da ânsia da moça em agradá-lo. Mas 
ela também disse que, nem ela e nem os conselheiros da família eram muito 
favoráveis a um casamento. A saúde do rapaz não era nada boa e recebera 
um novo golpe com a morte da esposa amada. Também não era nada certo 
que o estado mental dele já se houvesse recuperado o bastante para que ele 
fizesse um novo casamento. Em vista dessas restrições de ambos os lados, 
era improvável que a solução pela qual Elisabeth ansiava, viesse a ocorrer. 
Freud explicara à Elisabeth a situação e a encorajou a enfrentar com 
calma a incerteza sobre o futuro, que era impossível dissipar. O estado da 
paciente estava de novo melhor e não se falara mais em suas dores. Os dois 
tiveram a sensação de que chegaram ao fim, embora Freud acreditasse que a 
ab-reação do amor que ela havia refreado por tanto tempo não se realizara 
completamente. Freud deu alta à Elisabeth e lhe disse que solução de suas 
dificuldades se processaria por sua própria conta, agora que o caminho fora 
aberto. 
Depois de algumas semanas depois da despedida, Freud recebeu uma 
carta desesperada da mãe de Elisabeth. A Sra. Von R. disse ter tentado 
discutir os assuntos sentimentais da filha com ela, e a moça se rebelara 
violentamente e desde então passara a sofrer de dores intensas mais uma vez. 
Elisabeth ficara indignada por Freud ter traído seu segredo, mostrando-se 
inteiramente inacessível e o tratamento fora um fracasso completo. Dois meses 
depois elas voltaram a Viena e Freud ficou sabendo que Elisabeth se sentia 
perfeitamente bem e se comportava como se não houvesse nada de errado 
com ela, embora ainda sofresse ocasionalmente de leves dores. Em 1894, 
Freud soube de um baile em que Elisabeth estaria presente e não perdeu a 
oportunidade de ver sua ex-paciente rodopiando feliz em uma dança animada. 
Depois disso, soube que ela casara com alguém que ele não conhece, por sua 
própria vontade.

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