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CAMINHOS PERC. PELO E. M 2ª aula

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CAMINHOS PERCORRIDOS PELO ENSINO MÉDIO
Didática e Metodologia do Ensino Médio – Normal – Educação Profissional
2018 - UNIP
Ao tratarmos do Ensino Médio (EM) várias questões surgem, dentre estas, principalmente:
Qual sua especificidade enquanto nível de ensino? 
Questão histórica, pois sem objetivos claramente definidos o Ensino Médio mesmo ao passar a ter existência formal autônoma, (1931) não permite distanciar-se de características que marcaram sua história: como o de passagem, de preparação para o vestibular. 
 Ao longo de sua história no Brasil, a constituição do ensino médio (EM) assumiu diferentes características e objetivos:
terminalidade de estudos: nas escolas de educação tecnológica; 
formação propedêutica; 
preparação para acesso à educação superior: escolas voltadas ao preparo para exames vestibulares. 
Em sua trajetória, foram nada mais de vinte e uma reformas do ensino médio, uma no período colonial, nove durante o Império e onze após a proclamação da república ( 12 agora). 
Esse nível de ensino, mais do que qualquer um dos outros, foi vítima de um reformismo inconsequente. 
O Governo da União, durante a Primeira República ( 1889 – 1930), limitou-se à manutenção do Colégio Pedro II, 
não criando novos educandários nos Estados,
não organizando um sistema federal de ensino secundário, o que lhe era permitido pela Constituição, o Congresso Nacional abdicou de sua responsabilidade, atribuindo ao Poder Executivo tal função. 
Origem e Trajetória do Ensino Médio 
Com a Proclamação da República, foi promulgada a primeira constituição republicana que:
 Por meio do artigo 34 da Constituição de 24 de fevereiro de 1891, estabelecia ser de competência privativa do congresso “legislar sobre (...) o ensino superior e os demais serviços que na Capital forem reservados para o Governo da União”(item 30); 
E em seu artigo 35, incluía entre as suas incumbências não exclusivas a de “ criar instituições de ensino (...) secundário nos Estados” (item3°), bem como a de “ prover à instrução secundária no Distrito Federal” (item4°). A dualidade do sistema de ensino torna-se oficializada.
Com o advento de uma maior autonomia para os Estados acentuou-se a desigualdade entre os mesmos, enquanto o ensino médio desenvolvia-se na região sudeste do Brasil, nos Estados mais pobres piorava.
Em 1931 iniciam-se as reformas educacionais de caráter nacional, reformas que marcaram momentos decisivos no ensino secundário brasileiro.
Objetivo dessa reforma era superar a idéia de que o ensino secundário era um “mero curso de passagem”, procurando-lhe uma função eminentemente educativa. 
Apesar de tentar eliminar a conotação de ponte para o ensino superior, forçar as escolas a abandonarem os cursos preparatórios e as aulas avulsas e a implantarem um currículo, nota-se que essa reforma manteve o seu destino: a universidade, permanecendo fiel aos interesses das classes privilegiadas.
Reforma Francisco Campos (1931)
Em 1942 a “Lei Orgânica do Ensino Secundário”, reorganizou o ensino secundário, com o curso ginasial com quatro anos de duração, enquanto que o segundo curso, o colegial, subdividiu-se em clássico e científico, com três séries anuais cada.
 
 A reforma educacional Francisco Campos (1930/1931) e a reforma das Leis Orgânicas de Ensino (1942/1943) evidenciam que o ensino médio [...]:
Possuía apenas a função de preparar para o ensino superior 
E só abrigava alunos das camadas sociais superiores economicamente. 
Os alunos de classes trabalhadoras acabavam por frequentar os cursos profissionalizantes, que, embora de nível médio, eram fechados, não permitindo passagem para outros tipos de ensino.
No período de 1964 a 1968 vários acordos foram feitos entre o Ministério de Educação e Cultura e a USAID. (United States Agency for International Development)
Esses acordos previam a concessão de imenso volume de recursos financeiros vindos dessa agência americana para a promoção de uma sólida mudança no sistema educacional brasileiro.
O golpe militar de 1964 modificou profundamente a educação brasileira com a Reforma do Ensino de 1° e 2°graus. 
Com a Lei n° 5692/1971 foi determinada uma nova estrutura para os níveis de ensino: 
ampliação da obrigatoriedade de quatro para oito anos, pela união do ensino primário com o ginasial 
e com a criação de uma escola secundária orientada por uma lógica profissionalizante. A qualidade de ensino ficou associada à eficiência em preparar, no sistema educacional, mão de obra conveniente ao mercado de trabalho.
Até meados do século XX, o curso secundário era o único nível de ensino que preparava e habilitava para o ingresso nos cursos superiores,
 enquanto os cursos técnico-profissionais e normal preparavam para o ingresso imediato no mercado de trabalho. 
Havia um fosso entre o ensino secundário, dirigido especialmente as classes abastadas, e os cursos profissionalizantes, dirigido as classes populares, evidenciando um explícito dualismo escolar. 
 Articulada ao modelo político e econômico da ditadura, conforme , os objetivos da proposta de ensino médio da época eram: 
(i) a contenção da demanda de estudantes secundaristas ao ensino superior; 
(ii) a despolitização do ensino secundário, por meio de um currículo tecnicista; 
(iii)a preparação de força de trabalho qualificada para atender as demandas do desenvolvimento econômico.
Crise de empregos;
 desregulamentação da economia
 Não sendo mais possível preparar para o mercado de trabalho, devido a sua instabilidade, o ensino médio, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN n.9394/96, dever-se-ia preparar para a “vida”.
Década 90
Os anos finais da década de 1990 e os anos iniciais do novo século reservaram ao ensino médio uma grande turbulência estrutural e conceitual. 
O ensino de 2°grau passou a ser denominado ensino médio com a aprovação da LDBEN n.9394/96, 
que passou a considerá-lo como etapa final da educação básica, superando o modelo em vigor desde 1971. 
Indicando também a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade desse nível de ensino.
 Em 1997, com o Decreto n. 2.208/972:
 É restabelecido o dualismo entre o ensino médio e técnico, baseados nas Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais. 
Com a revogação do Decreto n. 2.208/97 e aprovação do Decreto n. 5.154/04 inicia-se o processo de implementação do ensino médio integrado ao ensino técnico. 
Possibilitando assim, a partir de 2004, autonomia para a criação e implantação de cursos em todos os níveis da educação profissional e tecnológica.
De acordo com a PNAD 2006, o acesso ao ensino médio é profundamente desigual
 consideradas as pessoas com idade de 15 a 17 anos, entre os 20% mais pobres apenas 24,9% estavam matriculadas, 
enquanto entre os 20% mais ricos 76,3% freqüentava esta etapa do ensino.
*PNAD – (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - IBGE)
Apesar do aumento constante do número de matrículas no Nordeste e da redução no Sudeste, para o mesmo grupo etário os índices eram, respectivamente, 33,1% e 76,3%. 
O recorte étnico-racial demonstra que apenas 37,4% da juventude negra acessava o ensino médio, contra 58,4% branca. 
Entre os que vivem no campo, apenas 27% freqüentavam o ensino médio, contra 52% da área urbana.
A qualidade do ensino, aferida pelos exames:
 Também é marcada pelas desigualdades. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB/2005) foi de 3,4 para o ensino médio nacional. 
Para estudantes da rede privada foi de 5,6 e para os das redes públicas, considerando que a escala é de 0 a 10, constata-se que o nível de aprendizagem é insatisfatório para todos, 
mas é sensivelmente inferior para as escolas públicas, que respondem por 89,8% das matrículas, sendo: 
 0,82% de responsabilidade do governo federal, 86,5% estadual e 1,96% municipal.
Evasão, permanência, universalização, são alguns dentre os percalços que esse nível de ensino enfrenta, 
Acreditar que a oferta de um ensino básico garantirá, a todos, oportunidades iguaisde mercado de trabalho e na vida social é uma grande ilusão.
 As diferenças entre as escolas, vão além, se ocultam sob a aparência de um mesmo certificado de aprovação.
Para a grande parte dos adolescentes e jovens, as diferenças nos tipos de escolas, continuam mascarando a dualidade estrutural que diferencia o lugar dos sujeitos, possibilitando a entrada na Educação Superior, no Ensino Tecnológico.
 Alguns passos estão sendo trilhados no sentido de alterar o panorama do Ensino Médio:
 O novo ENEM; 
 Aprovação da reestruturação curricular. 
 Mudanças que vislumbram alterações significativas nos rumos da última etapa da formação básica. 
Não é possível ainda dizer se estas mudanças darão conta de atribuir um novo sentido, configurando a tão proclamada identidade desse nível de ensino. 
 É preciso aguardar, contribuindo com estudos que permitam auxiliar na superação dos desafios enfrentados.

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