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GESTÃO E DOCÊNCIA NO ENSINO MÉDIO E PROFISSIONALIZANTE Diana Cristina Abreu E d u ca çã o G E S T Ã O E D O C Ê N C IA N O E N S IN O M É D IO E P R O F IS S IO N A L IZ A N T E D ia na C ris tin a A b re u Curitiba 2020 Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante Diana Cristina Abreu Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. A162g Abreu, Diana Cristina Gestão e docência no ensino médio e profissionalizante / Adriana Cristina Abreu. – Curitiba: Fael, 2020. 217 p. il. ISBN 978-65-86557-23-7 1. Ensino médio 2. Ensino profissionalizante I. Título CDD 373 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Monkey Business Images Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. História e legislação do ensino médio | 7 2. História e legislação da educação profissional | 25 3. Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio | 49 4. Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação técnica de nível médio | 69 5. O Plano Nacional de Educação e os desafios para a gestão dos sistemas de ensino no Brasil | 87 6. O Plano Nacional de Educação – metas e estratégias para a educação profissional e o ensino médio | 111 7. O princípio da gestão democrática na educação básica e profissionalizante | 131 8. O Projeto Político-Pedagógico na educação básica | 149 9. O papel do pedagogo como professor no ensino médio e na educação profissional | 163 10. Docência das disciplinas pedagógicas no curso de formação de docentes | 183 Referências | 201 Prezado(a) aluno(a), O que você conhece a respeito do ensino médio e de sua relação com a educação profissional? Você já refletiu sobre a contribuição do ensino médio e da educação profissional para o desenvolvimento social, cultural e econômico do país? Se essas questões mexeram com sua curiosidade, o convidamos a realizar a leitura do livro Gestão e Docência no Ensino Médio e na Edu- cação Profissional. Carta ao Aluno – 6 – Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante O ensino médio é a última etapa da educação básica. Reúne mui- tas expectativas, dada a sua importância referente à oferta de formação para o exercício da cidadania e da preparação para o mundo do trabalho. Nesse contexto, o ensino médio se encontra com a educação profissional, a qual, como modalidade de ensino, pode ser ofertada como formação continuada, cursada juntamente com o ensino médio ou após sua conclu- são, garantindo a formação técnica ao estudante. Conhecer a história e a legislação do ensino médio e profissional e sua relação com a própria história do Brasil em diferentes períodos é imprescindível para a formação do profissional da educação. 1 História e legislação do ensino médio Ao analisar a história do Ensino Médio e da Educação Pro- fissional, observa-se que a temática foi constituída com base na dualidade entre uma concepção de ensino voltada para a profis- sionalização obrigatória e uma formação humana mais ampla. De acordo com a legislação nacional, o ensino médio é compre- endido como uma etapa da educação básica, e a educação profis- sional é mais uma modalidade na educação nacional. Na constituição do campo teórico de análise do ensino médio, por exemplo, verifica-se a tensão entre diferentes posi- ções conceituais: a que considera que essa etapa educacional deve ter como foco a formação para o mercado de trabalho, a que defende que ela deve realizar uma formação humana mais ampla e diversa, e a que acredita em uma formação que integre as duas propostas. Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 8 – O ensino médio deve possuir um currículo baseado em princípios éti- cos, políticos e pedagógicos, considerando a diversidade sociocultural. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional determina em seu artigo 35, incisos I a IV, que o ensino médio deve ter como finalidade consolidar e aprofundar o que foi aprendido durante o ensino fundamental; preparar para o mercado, dar noções de cidadania e possibilitar que o aluno tenha flexibilidade para adaptar-se a novas condições de trabalho e aperfeiçoa- mento; dar noções de ética e desenvolver o pensamento crítico e a autono- mia intelectual; e relacionar teoria e prática, para que o aluno compreenda a fundamentação científica e tecnológica de qualquer processo de produ- ção (BRASIL, 1996a). 1.1 História e legislação do ensino médio no Brasil Colônia e no Brasil Império Para dar início às análises sobre a história e a legislação do ensino médio, deve-se considerar que a escola possui, nessa etapa, uma função social. Sendo assim, deve ser um espaço atrativo, que mobilize adolescen- tes e jovens para o estudo e, ao mesmo tempo, prepare-os para o vestibular e para os exames nacionais, que garantam o acesso à universidade e tam- bém à certificação. Para democratizar a escola no ensino médio, deve-se considerar o princípio de igualdade de acesso e permanência, o que significa dizer que os menos favorecidos devem ter a mesma oportunidade de perceber, entender e suprir suas necessidades relacionadas com a sua participação na produção científica, tecnológica e cultural (KUENZER, 2000, p. 43). Assim como as demais etapas da educação nacional, o ensino médio foi instituído no Brasil pelos jesuítas entre os séculos XVI e XVIII, durante o Período Colonial, pois não havia na época um modelo estatal de organi- zação da educação colonial. Sendo assim, o ensino presentava princípios religiosos, com destaque para o catolicismo. A vinculação com a religião garantia à prática pedagógica desenvol- vida um caráter conteudista e repetitivo, com rigidez disciplinar, o que garantiu que essa etapa educacional tivesse um caráter elitista. – 9 – História e legislação do ensino médio A hegemonia dos jesuítas (1549-1759) perdurou por 210 anos da his- tória da educação brasileira. Nesse período, além influenciarem na cultura, na educação e na religião, os jesuítas começaram a ter ascendência sobre a economia e a política, o que desagradou a elite local, levando à descon- tinuidade de utilização de seus serviços educacionais. Saiba mais Dos mais de 500 anos de história da educação brasileira, 210 foram conduzidos pelos jesuítas, representados pela “Companhia de Jesus”. Houve também outras ordens que missionaram no Brasil, como os fran- ciscanos, responsáveis por celebrar a primeira missa, e os inacianos, os únicos que tiveram prerrogativa da Coroa Portuguesa para o estabe- lecimento de colégios. A partir de 1549, começaram a ser implantados no Brasil novos padrões culturais, totalmente diferentes dos que eram praticados pelos povos que habitavam anteriormente nossas terras (BITTAR; JUNIOR, 2007, p. 92-93). Com a expulsão dos jesuítas do território nacional por Marques de Pombal, ocorre o desmonte do principal modelo educacional existente no país. Em substituição, foram empregadas as aulas régias, ministradas por professores nomeados pelas autoridades políticas da época, de competên- cia questionável. Esses profissionais passam a ser então a principal refe- rência no campo educacional, com cargos vitalícios. Acabavam reprodu- zindo o mesmo método de educação utilizado pelos jesuítas, afinal, foram formados nesse sistema educacional. Entretanto, eram em número menor, pois os recursos financeiros destinados à educação na colônia portuguesa eram limitados (ALVES et al., 2010, p. 2). Para Santos (2010), no início do século XIX a educação formal no Brasil era praticamente inexistente. Com a saída dos jesuítas, muitos estabelecimen- tos de ensino secundário (que hoje chamamos de ensino médio) foram fecha- dos, restando menos de vinte deles. Até mesmo os filhos de classes dominan-tes foram prejudicados, considerando que o ensino na época era elitizado. Em 1808, após a fuga das tropas napoleônicas, houve a transferência da corte portuguesa para o Brasil. O governo passa então a se preocupar Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 10 – mais com a educação, com algumas iniciativas, porque precisava formar a elite local em território nacional – os filhos dos membros da corte brasi- leira precisavam de instituições para sua formação. Após a independência, o Ato Adicional de 1834 deu às províncias o direito de regular a instrução pública e os estabelecimentos destinados a promovê-la. Conforme esse ato, o presidente da província poderia assis- tir a instalação de uma assembleia provincial, que teria a atribuição de legislar sobre o tema. As câmaras também poderiam fixar despesas muni- cipais e provinciais e respectivos impostos, sem prejudicar as imposições gerais do Estado, além de poderem propor meios de ocorrer às despesas. O ato ainda tratava sobre criação, supressão e nomeação para os empre- gos municipais e provinciais, além do estabelecimento dos pagamentos de cada um desses cargos (SANTOS, 2010). Ainda segundo Santos (2010), há um permanente questionamento sobre a importância dada à educação ao longo da história brasileira. O autor destaca que, na época da escravidão e durante o império, a educação ocupava um espaço ínfimo. A função principal do ensino secundário era a de preparar o aluno para a entrada no ensino superior, o que ocorria para as classes privilegiadas. O ensino técnico-profissional era tratado com des- caso. Com a criação do Colégio D. Pedro II, o governo central do país – que tinha conseguido há pouco tempo sua independência – deu início à organização do ensino secundário regular. Saiba mais O Ateneu, no Rio Grande do Norte (1835), e os liceus da Bahia e da Para- íba (1836), foram os primeiros estabelecimentos públicos de ensino no Brasil. Até a primeira metade do século XX, o ensino médio era restrito aos liceus, situados nas capitais e voltados para a educação masculina, além das escolas normais, que visavam a educação feminina, e do Colé- gio D. Pedro II, no Rio de Janeiro (SANTOS. 2010). A proclamação da república, no final do século XIX, e a chegada do século XX mantiveram o caráter da educação secundária no Brasil – de segregação e privilégio dos grandes latifundiários nacionais. Em 1891, – 11 – História e legislação do ensino médio foi promulgada a primeira constituição republicana do Brasil que, apesar de ter eliminado o critério eleitoral de renda, continuou atendendo aos interesses de oligarquias agrárias, a restrição ao voto dos analfabetos e a falta de preocupação com temas importantes para a população, como a educação (SANTOS, 2010). 1.2 A educação na Primeira República A partir de 1890, ocorreram muitas reformas na educação nacional. Havia uma preocupação com o alto índice de analfabetismo que atingia a esmagadora parcela da população. A reforma de Benjamin Constant, por exemplo, pautava-se nos princípios orientadores de liberdade, laicidade do ensino e gratuidade da escola primária, os quais estavam estipulados na primeira constituição da república brasileira. O objetivo dessa reforma no ensino era possibilitar ao aluno o ingresso ao curso superior, além de substituir a predominância literária pela científica. A reforma seguinte ocorreu entre 1901 e 1911, em que a educação no Brasil se orientou pelo Código Epitácio Pessoa – código dos institu- tos de ensino superior e secundário. Foram baixadas normas que tinham como objetivo equiparar escolas particulares e oficiais. O código definia horários, programas, exames e salários de professores, e dava permissão ao público feminino para cursar o secundário e o superior. Nos anos seguintes, o Brasil passou pelas seguintes reformas: 2 Reforma Rivadávia Correia (1911) – com base nos ideais de ensino livre, estabeleceu liberdade total dos ensinos secundário e superior, do ponto de vista didático e administrativo. Com ela, os estabelecimentos de ensino secundário foram permitidos a realizar exames reconhecidos oficialmente. 2 Reforma de Carlos Maximiliano (1915) – desfaz a reforma anterior e retorna os ensinos secundário e superior à condição de estabelecimentos oficiais e equiparados. Institui os exames vestibulares, admitindo parcelados, que perduraram até 1925. 2 Reforma João Luiz Alves – ocorre em um período complexo da história do Brasil, e introduz a cadeira Moral e Cívica com Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 12 – o objetivo de tentar combater protestos estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes. O final dos anos de 1920 foi marcado por um cenário mundial de ebulição política, social e econômica. A queda da bolsa de Nova Iorque prejudicou sensivelmente as elites locais, com a desvalorização nacio- nal e mundial das safras de café, o que agravou a crise política. Durante a primeira república, paulistas e mineiros revezaram-se para presidir a República, o que gerou insatisfação e revolta e culminou na Revolução de 1930, comandada por Getúlio Vargas. 1.3 Da era Vargas à Constituição de 1988 Durante os anos 30 do século XX, houve um forte movimento em defesa de uma proposta de educação para a sociedade brasileira. Os membros desse movimento ficaram conhecidos como “os pioneiros da educação nova”. A proposta era de que a escola secundária possuísse a seguinte estrutura: um primeiro ciclo de formação com duração de três anos, e mais quatro anos de estudos que fossem divididos entre trabalho manual e intelectual. Logo após a instituição da Nova República, foi editado um con- junto de decretos, conhecidos como a Reforma de Francisco Cam- pos, ocorrida em 1931 (ROMANELLI, 1986). Essa reforma teve como objetivo a reestruturação dos ensinos superior e secundário. O ensino secundário ficou então dividido em duas etapas: fundamental, com duração de 5 anos; e complementar, com duração de 2 anos. Essa nova formulação, entretanto, manteve um caráter enciclopédico, com programas e critérios de aprovação muito exigentes, o que elitizava o ensino secundário. A Constituição de 1934 teve influência do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que tinha como princípio a educação primária obriga- tória e gratuita (naquele momento estima-se que aproximadamente 80% da população era analfabeta). Mas esse caráter seria revogado logo em seguida, na Constituição de 1937, no Governo Vargas, que desobrigou o Estado a manter e expandir o ensino público. – 13 – História e legislação do ensino médio Saiba mais A Constituição de 1937 fez transparecer o dualismo existente entre ensino propedêutico e profissional, pois estabeleceu que: 2 a educação geral era uma preparação para o ensino superior; 2 a profissionalização destinava-se aos menos favorecidos socialmente. A partir de 1939, o Brasil passou a viver sob uma ditadura civil, comandada por Getúlio Vargas. Em 1942, ocorreu a Reforma Capa- nema, a qual deu início ao aperfeiçoamento de alguns ramos do ensino. Era constituída por Leis Orgânicas do Ensino. Os Níveis de ensino foram organizados em: a) ensino propedêutico – primário e secundário; b) ensino técnico-profissional – normal, industrial, comercial e agrícola. Com a promulgação da Constituição de 1946 e o fim da Era Vargas, a União passou a ter a incumbência de fixar diretrizes e bases para a educa- ção nacional. Entretanto, isso só ocorreu em 1961, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB n. 4.024/61. Com base nessa lei, o ensino médio passou a ser dividido em ginasial, com duração de 4 anos, e colegial, com duração de 3 anos. E, finalmente, o ensino profissional passou a integrar o sistema regular de ensino. Dez anos mais tarde, foi estabelecida a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB n. 5.692/71, a qual criou o ensino de 1º e 2º graus. Essa nova lei tornou obrigatório o ensino profissional, desfazendoa divi- são entre propedêutico e profissionalizante e unificando o ensino médio. Essa decisão trouxe uma consequência social: ao fornecer uma habilita- ção profissional aos estudantes do Ensino Médio, a mudança conteve a demanda por vagas de cursos superiores. Uma das características básica para o ensino médio pretendidas pela lei era a de terminalidade, por meio do ensino profissional – o ensino técnico-industrial passa a ser o modelo implícito do ensino médio (NASCIMENTO, 2000). Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 14 – Saiba mais Veja o trecho da Lei n. 5.692/71 e suas alterações sofridas em decorrência da Lei n. 7.044/82 em relação ao ensino de segundo grau: Art. 21. O ensino de 2º grau destina-se à formação integral do adolescente. Parágrafo único. Para ingresso no ensino de 2º grau, exigir-se-á a con- clusão do ensino de 1º grau ou de estudos equivalentes. Art. 22. O ensino de 2º grau terá três ou quatro séries anuais, conforme previsto para cada habilitação, compreendendo, pelo menos, 2.200 ou 2.900 horas de trabalho escolar efetivo, respectivamente. Parágrafo único. Mediante aprovação dos respectivos Conselhos de Educação, os sistemas de ensino poderão admitir que, no regime de matrícula por disciplina, o aluno possa concluir em dois anos no mínimo, e cinco no máximo, os estudos correspondentes a três séries da escola de 2º grau. Art. 22. O ensino de 2º grau terá a duração mínima de 2.200 (duas mil e duzentas) horas de trabalho escolar efetivo e será desenvolvido em pela menos três séries anuais. § 1º. Quando se tratar de habilitação profissional, esse mínimo poderá ser ampliado pelo Conselho Federal de Educação, de acordo com a natureza e o nível dos estudos pretendidos. § 2º. Mediante aprovação dos respectivos Conselhos de Educação, os sistemas de ensino poderão admitir que, no regime de matrícula por disciplina, o aluno possa concluir em dois anos, no mínimo, a cinco, no máximo, os estudos correspondentes a três séries da escola de 2º grau. Art. 23. Observado o que sôbre o assunto conste da legislação própria: a) a conclusão da 3ª série do ensino de 2º grau, ou do correspondente no regime de matrícula por disciplinas, habilitará ao prosseguimento de estudos em grau superior; b) os estudos correspondentes à 4ª série do ensino de 2° grau poderão, quando equivalentes, ser aproveitados em curso superior da mesma área ou de áreas afins. (BRASIL.1971/1982). A Lei n. 5.692/71 sofreu imensa resistência burocrática para sua imple- mentação, principalmente por não considerar que as escolas padeciam de recursos humanos e materiais. Para agravar a situação, houve aumento – 15 – História e legislação do ensino médio significativo do número de alunos matriculados no Ensino Médio, além da necessidade de criar novos currículos, de formar professores para esses novos cursos, de construir ou adaptar escolas, de realizar parcerias entre escolas e empresas e de identificar as necessidades do mercado de trabalho. Em 1975, com o Parecer n. 76, foi feita uma tentativa de entendimento da Lei n. 5.692/71, passando-se a considerar que toda escola de 2º Grau deveria ser uma escola técnica – mesmo com ausência de recursos huma- nos, materiais ou financeiros para tanto. Defendia-se que o ensino deveria ser profissionalizante, e não a escola, como se um pudesse ser sem o outro. Esse parecer concebia que a habilitação não seria mais entendida como um preparo para exercer uma ocupação, mas sim o próprio preparo básico para iniciar uma área específica de atividade. A legislação, portanto, acomodou- -se à realidade, e a dualidade existente antes de 1971 foi retomada. Durante os anos que seguiram, a proposta de implementação compul- sória da profissionalização do ensino médio (2º Grau) não se concretiza, e acaba sendo alterada pela Lei n. 7.044/82, que extingue a escola única de profissionalização obrigatória, que nunca chegou a existir de fato. Essa lei traz novamente a concepção dualista de antes de 1971: propedêutica para as classes abastadas, que ingressariam no ensino superior, e profissionali- zante para os mais pobres, que encerrariam ali suas expectativas quanto à formação escolar. É preciso destacar que umas das características marcantes do ensino médio no Brasil foi sua oferta nos horários vagos de escolas de ensino fundamental, ou seja, a oferta para as classes populares era realizada prin- cipalmente no período noturno. 1.4 A redemocratização e as novas legislações para a educação nacional O Brasil vivia, desde o ano 1964, uma ditadura militar. Tivemos cinco presidentes militares, e não havia espaço naquele contexto para grandes debates no campo das políticas públicas. No início dos anos 80, setores progressistas passam a enfrentar a ditadura, que começa a perder força. As greves, mesmo proibidas, já voltavam a acontecer no fim dos anos 1970. Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 16 – A partir de 1985, o processo de abertura política ganha espaço, com estímulo à produção teórica de intelectuais e educadores que propunham discussão coletiva para elaborar propostas para a educação brasileira, ali- nhados com os interesses hegemônicos do proletariado. O período de redemocratização que inspirava grandes conquistas no campo dos direitos sociais e da cidadania, e marcou a elaboração da Cons- tituição Federal de 1988. Nesse contexto de avanços das forças progressis- tas da sociedade brasileira, entra em discussão a elaboração de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Segundo Saviani (2003), essa lei teria como função estabelecer parâmetros e princípios da educação no país, definindo as concepções de homem, sociedade, direito, dever, educação, liberdade, bem como sua normatização e gestão. De acordo com Nascimento (2000), na década de 90 do século XX, discursa-se novamente sobre a superação da chamada dualidade estrutural, com a reforma do ensino médio (propedêutico e profissional) realizada pela LDB n. 9.394/96 e pelo o Decreto n. 2.208/97. O ensino médio passar a ser um curso com formação geral, com opção de complementação para a habili- tação profissional. As duas formações – geral e complementar – ocorreriam em concomitância ou em sequência, mas não de forma unitária. O ensino médio fica estabelecido na LDB n. 9.394/96. O artigo 35 estabelece que o ensino médio é a etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos. O artigo 36 da LDB de 1996 também estabelece que o currículo do ensino médio deve observar as seguintes diretrizes: I – destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do sig- nificado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; II – adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes; III – será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. – 17 – História e legislação do ensino médio Em seguida, o texto legal define que os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação devem ser organizados de forma que o concluinte do ensino médio demonstre domínio da forma contem- porânea de linguagem, dos princípios científicos e tecnológicos modernos e dos conhecimentos que garantem o exercício da cida- dania, como filosofia e sociologia. Por fim, a LDB de 1996 define que, atendida a formação geral do edu- cando, o ensino médio também poderia prepará-lo para exercer profis- sões técnicas, formação que é facultativa, dentro da própria escola ou em parceria com instituições especializadas (BRASIL. 1996). Nesse processo de constituição histórica e legal do ensino médio no Brasil, a Resolução CEB n. 3, de 26 de junho de 1998, insti- tui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensinomédio, no âmbito do Conselho Nacional de Educação, órgão competente para definir a matéria. Saiba mais O Conselho Nacional de Educação (CNE) é o órgão do Governo vin- culado ao Ministério da Educação (MEC), criado pela Lei n. 9.131 de 24 de dezembro de 1995. Substitui o Conselho Federal de Educação, que foi extinto pelo ex-ministro Murílio de Avellar Hingel após denúncias sobre tráfico de influência e suscetibilidade ao lobby de escolas priva- das. O CNE é o órgão normativo e de coordenação superior do Sistema Nacional de Educação, e dispõe de autonomia administrativa e finan- ceira para articular com a comunidade educacional, com a sociedade civil organizada e com os poderes legislativo e executivo. Coordena a política nacional de educação, realizando a articulação desta com as políticas públicas de outras áreas. O CNE garante a execução das diretrizes, prioridades e metas do Plano Nacional de Educação, e ainda deve: interpretar a legislação de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- nal; estabelecer normas para os sistemas de ensino, articulando-os com os órgãos normativos dos sistemas de educação e com as comissões de educação do Congresso Nacional; opinar sobre alterações de iniciativa do poder executivo; e estimular a integração entre as redes de educação federal, estaduais e municipais, públicas e privadas (MENEZES; SAN- TOS, 2015, p. 25). Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 18 – A resolução explica de forma resumida o entendimento adotado sobre ensino médio. Trata-se portanto, de um conjunto de definições sobre os princípios, os procedimentos e os fundamentos cruciais para organizar as áreas pedagógica e curricular das unidades escolares. Tem como objetivo vincular a educação com o mercado de trabalho e com a prática social. Assim, os alunos serão ensinados a exercer a cidadania e terão fundamen- tos básicos para ingressar no mercado (BRASIL, 1998). O artigo 3º trata sobre os princípios de sensibilidade, igualdade e ética que as escolas e os sistemas de ensino devem se basear para organi- zar as aulas do ensino médio. Tais pilares são descritos com mais detalhes a seguir: 2 I – Estética da sensibilidade – deve-se estimular a criatividade, o espírito competitivo, a curiosidade e a afetividade. Deve-se ajudar a construir uma identidade inquieta, que aprenda a lidar com incertezas e imprevistos, e que seja acolhedora, aceite a diversidade, valorize a sutileza, a qualidade, a ludicidade, e que possa usufruir do lazer, da sexualidade e da imaginação de forma livre, porém responsável. 2 II – Política da igualdade – com base no reconhecimento dos direitos humanos e dos direitos e deveres do cidadão, deve-se constituir uma identidade que se importe com a igualdade cultu- ral e social, com o respeito ao bem comum, com a responsabi- lidade, e que combata qualquer tipo de discriminação e respeite princípios de Estado de Direito na forma do sistema federativo e do regime democrático e republicano. 2 III – Ética da identidade – deve-se buscar a superação de dico- tomias como público e privado, ou moral e matéria, para consti- tuir identidades sensíveis e igualitárias no testemunho de valores de seu tempo. Deve-se ensinar a prática de um humanismo con- temporâneo, por meio de valores como respeito, acolhimento do outro, reconhecimento, solidariedade, responsabilidade e reci- procidade – seja no âmbito profissional, social, civil ou pessoal. Tais proposições têm como desafios para sua concretização o fato de não ter sido feito um amplo debate com os setores educacionais sobre – 19 – História e legislação do ensino médio o tema, além da necessidade urgente de se ofertar mais vagas para o ensino médio. Uma profunda reforma nessa etapa de ensino necessitaria não somente de reformulação de diretrizes teóricas e conceituais, e sim de ampliação do investimento público para ofertar mais vagas, garantir que os alunos consigam não só acessar, mas per- manecer no ensino médio, e para garantir qualidade na sua formação. Nesse sentido, lamentavelmente a espinha dorsal do Plano Nacional de Educação, Lei n. 10.172/2001, sancio- nada pelo Congresso Nacional em 2001, que tratava sobre a ampliação do financiamento para a educação, foi vetada. A LDB ainda coloca, em seu artigo 26, que os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum. Cada estabe- lecimento escolar e sistema de ensino deve realizar uma complementação a essa base com uma parte diversificada, de acordo com a região em que opera, levando em consideração cultura, economia e clientela. No parecer que precedia a aprovação das diretrizes para o ensino médio, em 1998, o Conselho Nacional de Educação colocou que a base nacional comum e a parte diversificada do currículo do ensino médio não podem estar totalmente desligadas, para não criar dualidade. Essa definição, de um currículo que associava uma parte diversifi- cada a uma base nacional comum, prevalece na constituição do campo teórico, acadêmico e disciplinar do ensino médio no Brasil até os dias atuais. Naquele momento, defendia-se um modelo de ensino que no qual o currículo fizesse sentido, integrando “formas, por enriquecimento, amplia- ção, diversificação, desdobramento, podendo incluir todos os conteúdos da Base Nacional Comum ou apenas parte deles, selecionados, nucleados em áreas ou não, sempre de acordo com a proposta pedagógica do estabe- lecimento” (BRASIL,1998). Assim como a LDB de 1996, essas diretrizes reafirmavam que a parte diversificada deveria ter um nome específico e uma carga identificável no horário escolar, e que a escola poderia ser a responsável por escolher como realizar essa organização, de acordo com sua proposta pedagógica. A base Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 20 – nacional comum deveria ocupar ao menos 75% da carga horária mínima do ensino médio prevista em lei, que é de 2.400 horas (BRASIL, 1998). As diretrizes, em seu artigo 10º, ainda fixaram as áreas do conheci- mento que deveriam ser abrangidas na base nacional comum dos currícu- los do ensino médio: 2 I – Linguagens, códigos e suas tecnologias – essa área tem como objetivo que o educando compreenda e utilize o sistema simbólico de diferentes linguagens para a organização cognitiva da realidade, obtendo assim significados, expressões, comunica- ção e informação. Além disso, deve ter como objetivo fazer com o que o educando possa confrontar opiniões e pontos de vista sobre as linguagens; analisar, interpretar e aplicar os recursos aprendidos de linguagens; utilizar a língua portuguesa como lín- gua materna; conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) para acessar informações e culturas diversas; entender as tecno- logias da comunicação e da informação e associá-las aos conhe- cimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte e aos problemas que se propõem solucionar; entender a natureza das tecnologias da informação como integração de diferentes meios de comunicação, linguagens e códigos, bem como integração com as demais tecnologias; entender o impacto causado pelas tecnologias da comunicação e da informação; e aplicar as tecno- logias da comunicação e da informação em todos os contextos relevantes de sua vida. 2 II – Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias – tem como objetivo que o educando compreenda as ciências como uma construção do homem, que se desenvolve por acu- mulação, continuidade ou ruptura de paradigmas, e que consiga perceber a relação entre a transformação da sociedade com o desenvolvimento da ciência. Deve ainda possibilitar ao edu- cando: compreender e aplicar os procedimentos próprios das ciências naturais; analisar e interpretar experimentos científicos e tecnológicos; compreender o caráter aleatório e não determi- nístico dos fenômenos naturais; utilizar instrumentos próprios para calcular medidas, amostragem e probabilidades; aplicar – 21 – História e legislaçãodo ensino médio conhecimentos sobre valores de variáveis, representados em gráficos, diagramas ou expressões algébricas; prever tendências, extrapolações e interpolações e interpretações; realizar análise qualitativa e quantitativa de dados socioeconômicos, científicos, etc. que são representados por gráficos ou de forma algébrica; compreender e aplicar a Física, a Química e a Biologia; iden- tificar, representar e utilizar o conhecimento geométrico para o aperfeiçoamento da leitura, da compreensão e da ação sobre a realidade; compreender a relação entre desenvolvimento tecno- lógico e das ciências naturais; associar as diferentes tecnologias aos problemas que devem ser solucionados; entender o impacto das tecnologias associadas às ciências naturais e saber aplicá- -las; compreender e saber aplicar conceitos, procedimentos e estratégias matemáticas. 2 III – Ciências humanas e suas tecnologias – tem como obje- tivo que o educando compreenda elementos cognitivos, afetivos, sociais e culturais que fazem parte da sua identidade e dos outros. Deve ainda permitir ao educando: compreender a sociedade, seu início e transformação e os fatores que nela intervêm, como pro- dutos da ação humana; compreender a si mesmo como agente social; compreender que os processos sociais orientam a dinâ- mica de grupos e indivíduos; entender que o desenvolvimento da sociedade se deu com a ocupação de espaços físicos e está relacionado com a interação do homem com o ambiente, com todos os desdobramentos político-sociais, culturais, econômicos e humanos; compreender que os princípios reguladores da con- vivência social e a ação dos grupos sociais estão associados com as instituições sociais, políticas e econômicas; traduzir conhe- cimentos sobre pessoa, sociedade, economia, práticas sociais e culturais em condutas de indagação, análise, problematização e protagonismo diante de situações novas, problemas ou questões da vida pessoal, social, política, econômica e cultural; entender princípios das tecnologias associadas ao conhecimento do indi- víduo, da sociedade e da cultura, e associá-las aos problemas que se pretende resolver; e entender o impacto e a importância e aplicar as tecnologias associadas às ciências humanas. Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 22 – Essas definições contidas na Resolução CEB n. 3 são utilizadas como eixos de avaliação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Trataremos desse assunto com mais detalhes em um capítulo à frente. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCNEM) colocam ainda que a base nacional comum dos currículos do ensino médio deve contemplar as três áreas do conhecimento citadas. Para tal, deve ser uti- lizada metodologia que possibilite a interdisciplinaridade e a contextuali- zação. Nesse documento ficou assegurado que as disciplinas de Educação Física e Arte seriam consideradas componentes curriculares obrigatórios, e que a Filosofia e a Sociologia também deveriam ser observadas, embora não tenha ficado estabelecido como deveriam ser ofertadas. A carga horária do ensino de língua estrangeira moderna faz parte da área diversificada do currículo. Conforme o artigo 12 das DCNEM, deve haver dissociação entre a formação geral e a preparação básica para o tra- balho, como já emanava a Lei de diretrizes e bases da Educação de 1996, ou seja, a dissociação entre o ensino médio e a educação profissional per- maneceu. O ensino médio, atendida a base curricular, poderia preparar o aluno para profissões técnicas, mantendo-se sempre a independência dos cursos. Essa habilitação profissional poderia ocorrer de forma concomi- tante ou sequencial ao ensino médio regular, em até 25% da carga horária mínima destinada ao ensino médio. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente do Bra- sil, em 2002, esperava-se mais políticas relacionadas com e desenvolvi- mento da educação brasileira – o plano “Uma escola do tamanho do Bra- sil”. Entretanto, a reintegração entre ensino médio e educação profissional não ocorreu por meio de uma lei, como a LDB, mas de um decreto, o de n. 5.154/04 (BRASIL, 2004a). Esse novo decreto contemplou mais uma forma de relacionamento entre ensino médio e educação profissional: além das formas subsequente e concomitante, agora era possível cursar ambos de forma integrada. Rodri- gues (2005) observa que esse novo decreto parece na verdade repetir a lógica da Lei n. 7.044 de 1982, em que foi reconhecida legalmente a existência de cursos de 2º grau propedêuticos e cursos de 2º grau técnicos (integrados). Até mesmo a Lei n. 5.692, de 1971, já previa a possibilidade de “con- comitância externa” e de formação “subsequente”. Qual seria, portanto, a – 23 – História e legislação do ensino médio inovação promovida pelo Decreto n. 5.154/04?. Sua principal diferença seria o reconhecimento de diferentes projetos político-pedagógicos, cliva- dos pela dualidade estrutural social presente em nossa sociedade de classes. Dica de Filme Para saber mais sobre o assunto, recomendamos o documentário Pro dia nascer Feliz, dirigido por Jõao Jardim no ano de 2007. O documentário retrata a condição de professores e alunos em três estados brasileiros. Propõe a reflexão sobre uma educação emancipatória para nossos ado- lescentes e jovens. Síntese A história do ensino médio no Brasil retrata as dificuldades de um nível de ensino que, por ser intermediário, precisa ser ao mesmo tempo terminal e propedêutico (KUENZER, 2000). Nesse contexto, as políticas para o ensino médio organizam-se em torno da relação capital e trabalho – e normalmente atendem aos interesses do capital. Assim, a legislação atual mantém o caráter da escola estruturalmente dualista. Foi realizado ao longo desse primeiro capítulo um caminho pela his- tória da educação brasileira, destacando como o ensino médio se cons- tituiu no Brasil, com reflexões importantes para seu desenvolvimento, levando em consideração a legislação que o norteou até final da primeira década do século XXI. Novas perspectivas para o ensino médio são depositadas em um novo ordenamento jurídico, instituído pela Resolução n. 2, de 30 de janeiro 2012, a qual define as novas DCNEN. Esse será o tema do pró- ximo capítulo, porque essas regras constituem a base do movimento de reestruturação do ensino médio nacional, e a construção de um pacto nacional nessa modalidade. 2 História e legislação da educação profissional Kuenzer, em 1998, colocou que, na época, o compromisso do Estado com a educação pública obrigatória dava-se apenas até o ensino fundamental. Essa foi a prioridade das políticas educa- cionais que conformaram-se na LDB/1996 e nos anos seguintes, quando o financiamento do Estado estava restrito à formação de quadros e de produção de ciência e tecnologia, nos limites do papel que ocupa na divisão internacional do trabalho. Naquele cenário dos anos 1990, em que ocorria a redução progressiva do emprego formal, não era concebível para um Estado neoliberal investir em ensino médio, ensino profissional técnico ou ensino superior. Assim, de forma progressiva, a inicia- tiva privada começou a assumir a responsabilidade com a educa- ção da qual o Estado se afastava. A reforma educacional que teve início em 1990 fundamentava-se então nas diretrizes básicas do Banco Mundial, as quais colocavam que a educação básica deve- ria ser prioridade estratégica do investimento público. Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 26 – Entretanto, as políticas educacionais para a educação básica, suas eta- pas e modalidades, nos últimos anos, têm passado por mudanças significa- tivas na orientação política e teórica, ao mesmo tempo em que ampliam- -se as possibilidades de financiamento, com a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização do Magistério (FUNDEB), em vigor desde janeiro de 2007. Houve também a aprovação da Emenda Constitucional n. 59 de 2009, que aprovoua ampliação da obrigatoriedade da educação básica (de 4 a 17 anos). Quanto ao ensino médio e à educação profissional, o decreto n. 5. 154, de 2004, e a aprovação do Plano Nacional de Educação, em 2014, trouxeram metas e estratégias especificas para esse público. Os avanços legais aqui constituídos são tentativas de dar certa organicidade às ações, aos programas e às políticas dessa temática no Brasil. Dessa forma, esse capítulo pretende analisar os limites e desafios conhecidos na história da Educação profissional, e o delineamento de ques- tões fundamentais para a formação do cidadão e do trabalhador brasileiro. 2.1 Breve histórico: educação profissional no Brasil Colônia, no Império e nos primeiros anos da República A educação profissional (EP) no Brasil tem como característica ser voltada para as classes populares, para a promoção da capacitação de força de trabalho. Em contraste, há a educação direcionada para as classes sociais privilegiadas, marcada por academicismo, seletividade e direcio- namento propedêutico (SALES; OLIVEIRA, 2010). Dessa forma, o povo se habituou a compreender a EP como uma forma de ensino voltada para elementos de categorias sociais baixas (FONSECA, 1961, p. 68). Durante a colonização, índios e negros escravizados eram sub- metidos a treinamentos nos termos dos aprendizes de ofícios. Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, surgem as Casas de Fun- dição e de Moeda, e assim nasce a necessidade de ensinar ofícios para apren- dizes que trabalhariam nesses locais (FONSECA, 1961; GARCIA, 2008). – 27 – História e legislação da educação profissional Saiba mais O ensino nas Casas da Moeda era destinado exclusivamente a homens brancos, filhos dos empregados, diferentemente do que ocorria nos engenhos. Enquanto os aprendizes do engenho atuavam de forma assistemática e não precisavam provar suas habilidades, os aprendizes das Casas da Moeda passavam por uma banca examinadora ao fim de cinco ou seis anos de estudo GARCIA, 2008 p 1-2). Nesse mesmo período surgiram os Centros de Aprendizagem de Ofí- cios nos Arsenais da Marinha no Brasil. O recrutamento de presos que pudessem trabalhar nesses locais era feito por operários especializados de Portugal, durante o dia e até à noite (MEC, 2009). Em 1785, a coroa portuguesa proibiu a existência de fábricas no Bra- sil, com a justificativa de que os colonos estavam deixando de trabalhar com agricultura e extração de ouro e diamante para trabalhar nas fábri- cas. Dessa forma, o desenvolvimento tecnológico no Brasil nesse período ficou estagnado. Saiba mais Alvará da Rainha de Portugal D. Maria I, que proíbe as fábricas e manufaturas no Brasil Eu a rainha. Faço saber aos que este alvará virem: que sendo-me pre- sente o grande número de fábricas, e manufaturas, que de alguns anos a esta parte se tem difundido em diferentes capitanias do Brasil, com grave prejuízo da cultura, e da lavoura, e da exploração das terras minerais daquele vasto continente; porque havendo nele uma grande e conhecida falta de população, é evidente, que quanto mais se mul- tiplicar o número dos fabricantes, mais diminuirá o dos cultivadores; e menos braço haverá, que se possam empregar no descobrimento, e rompimento de uma grande parte daqueles extensos domínios, que ainda se acha inculta, e desconhecida: nem as sesmarias, que formam outra considerável parte dos mesmo domínios, poderão prosperar, nem florescer por falta do benefício da cultura, não obstante ser esta a Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 28 – essencialíssima condição, com que foram dadas aos proprietários delas. E até nas mesmas terras minerais ficará cessando de todo, como já tem consideravelmente diminuído a extração do ouro, e diamantes, tudo procedido da falta de braços, que devendo empregar-se nestes úteis, e vantajosos trabalhos, ao contrário os deixam, e abandonam, ocupando- -se em outros totalmente diferentes, como são os das referidas fábricas, e manufaturas: e consistindo a verdadeira, e sólida riqueza nos frutos, e produções da terra, as quais somente se conseguem por meio de colo- nos, e cultivadores, e não de artistas, e fabricantes: e sendo além disto as produções do Brasil as que fazem todo o fundo, e base, não só das permutações mercantis, mas da navegação, e do comércio entre os meus leais vassalos habitantes destes reinos, e daqueles domínios, que devo animar, e sustentar em comum benefício de uns, e outros, removendo na sua origem os obstáculos, que lhe são prejudiciais, e nocivos: em consi- deração de tudo o referido: hei por bem ordenar, que todas as fábricas, manufaturas, ou teares de galões, de tecidos, ou de bordados de ouro, e prata. (CAVALCANTI. 2011) Dica de Filme Para revisar seus conhecimentos sobre a educação no Período Colonial, assista A missão, de 1986, dirigido por Rolland Joffé, com roteiro de Robert Bolt. O filme diz respeito à invasão, conquista e dominação do território brasileiro, retratando o declínio da influência política, econô- mica e cultural dos jesuítas no Brasil. A partir do século XIX, e especialmente com a chegada da família real no Brasil, em 1808, esse alvará foi finalmente revogado, e D. João VI cria então o Colégio das Fábricas, voltado para o ensino de artistas e aprendizes vindos de Portugal (GARCIA, 2000). Dessa forma, em 1889, ao fim do Período Imperial e um ano após a abolição da escravatura, embora a economia ainda fosse considerada agrá- – 29 – História e legislação da educação profissional rio-exportadora, já havia no Brasil 636 fábricas, com aproximadamente 54 mil trabalhadores, uma expressiva parcela de uma população de 14 milhões de habitantes (MEC. 2009). Por meio do Decreto n. 787 de Nilo Peçanha – presidente da provín- cia do Rio de Janeiro, iniciava no Brasil o Ensino Técnico. Com o decreto, foram criadas quatro escolas profissionais: três para o ensino de ofícios – em Campos, Petrópolis e Niterói e uma para a aprendizagem agrícola, em Paraíba do Sul (MEC. 2009. Em 1906, alguns acontecimentos marcaram a consolidação do ensino técnico-industrial no Brasil: 2 o “Congresso de Instrução”, que apresentou um projeto de pro- moção do ensino prático industrial, agrícola e comercial ao Congresso Nacional. Uma das ideias do projeto era a criação de campos e oficinas escolares em que os alunos dos ginásios iriam aprender a manusear instrumentos de trabalho. 2 o aumento da dotação orçamentária para a instituição de escolas técnicas e profissionais elementares, ação realizada pela Comis- são de Finanças do Senado. Assim, foi criada, na estrada de ferro central do Brasil, a Escola Prática de Aprendizes das Oficinas do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. 2 a declaração feita pelo presidente Afonso Pena em seu discurso de posse, em 15 de novembro de 1906: “A criação e multi- plicação de institutos de ensino técnico e profissional muito podem contribuir também para o progresso das indústrias, proporcionando-lhes mestres e operários instruídos e hábeis” (MEC; 2009). O Decreto n. 7566 cria, em 1909, dezenove Escolas de Aprendizes Artífices, considerando a divisão geopolítica do Brasil na época (figura 2.1), sob a jurisdição do Ministério dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio. Essas escolas destinavam-se ao ensino profissional, primário e gratuito. Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 30 – Figura 2.1 – Escolas de Aprendizes Artífices criadas pelo Decreto n. 7566 Fonte: MEC (2009). 2.2 Anos 30 do século XX e a formação do trabalhador para a indústria A partir de 1930, houve aumento da necessidade de organização de políticas e processos de educação profissional, já que a demanda por força de trabalho na área industrial era urgente. Com a expansão do mercado de trabalho nas décadas de 30 e 40, o Estado desenvolveu alternativas para a formação de trabalhadores, com melhora dessa qualificação. Os primeiros operários das complexas maquinariasde manufatura das indústrias inicialmente tiveram de ser buscados no exterior. Como não se – 31 – História e legislação da educação profissional formavam substitutos brasileiros, o trabalho desses operários era valorizado frente ao mercado de trabalho local, o que era um inconveniente para o patro- nato. Além disso, suas ideias sobre a relação capital-trabalho, com raízes no anarquismo europeu, eram consideradas uma ameaça (CUNHA, 2000). Para reagir a esses inconvenientes, começou-se a valorizar o trabalho nacional, incentivando todos os cidadãos a se qualificarem para futura inser- ção no mercado de trabalho, com oposição à antiga ideia de que apenas pes- soas menos favorecidas eram atendidas pela política pública educacional. A partir dos anos de 1930 no Brasil, a consciência acerca da neces- sidade nacional de formar indivíduos capacitados para o mercado indus- trial e ferroviário marcou um processo de mudança ideológica. O tra- balho manual, diferentemente da concepção anteriormente verificada, passou a ser valorizado, e trabalhar nessa área passou a ser conside- rado algo para indivíduos livres, desprovidos de capital, que esperavam melhorar sua condição social, o que estava expresso no discurso ideoló- gico nacional desenvolvimentista. Nesse sentido, havia uma tendência no interior do Estado em difundir a importância do trabalho na constituição da nação brasileira. Dessa forma, cantores, compositores e artistas passaram a ser vigiados e não tinham mais a mesma liberdade de produção artística que antes. Passaram a ser “convidados” a visitar o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).O DIP passou a sensurar as letras dos sambistas bra- sileiros, dando sugestões de correção no texto que passariam a exaltar o trabalhismo em detrimento de letras que valorizavam a malandragem ou a vadiagem. Saiba mais Veloso (1998) coloca em sua obra Mario Lago: boêmia e política, que a censura também ocorreu no samba criado por Ataulfo Alves e Wilson Batista em 1940, O Bonde de São Januário. Mario Lago aponta que a ver- são original do samba era a seguinte: O Bonde de São Januário Leva mais um sócio otário Só eu não vou trabalhar… Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 32 – Entretanto, após a vistoria da DIP, esse trecho da música foi gravado com a seguinte alteração: O Bonde de São Januário Leva mais um operário Sou eu que vou trabalhar…. Foi promulgada a Constituição 1937, durante o Estado Novo. Dentre outras propostas, ela previa a incorporação à Lei do Plano Nacional de Educação (PNE), o qual determinava ser a família responsável pela edu- cação de seus filhos, e o Estado apenas auxiliar. O Estado seria o responsável pelas escolas vocacionais e pré-voca- cionais, em colaboração com as indústrias e sindicatos patronais, que deveriam criar as escolas de aprendizes para os filhos de seus operários e associados, de acordo com suas especialidades. Dessa forma, foi estabelecida a dualidade da estrutura educacional: de um lado a criação de um projeto educacional que tivesse como objetivo a formação para o mundo do trabalho, e de outro a formação para atender às demandas desse mercado. Assim, o Estado passou a desenvolver alternativas educacionais para formar esse novo trabalhador, em parceria com as indús- trias que ofereciam treinamento em serviço, e ao mesmo tempo, para as elites, manteve uma trajetória voltada para a preparação para o Ensino Superior. 2.3 A abordagem da Educação Profissional nas Leis Orgânicas do Ensino A partir de 1942, começaram a ser promulgadas as Leis Orgânicas do Ensino, o que propiciou a reforma do ensino médio, sobretudo no ramo do ensino técnico-profissional. O Governo não possuía infraestrutura para implementar o ensino médio em larga escala; assim, recorreu a convê- nios com as indústrias. Foi criada então a Escola Técnica Nacional, em 1942, como escola-padrão do ensino industrial. A Lei Orgânica do Ensino Secundário (Decreto-Lei n. 4.244/42) vigorou até a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1961. – 33 – História e legislação da educação profissional Após as Leis Orgânicas terem sido promulgadas, as escolas passaram a ofertar cursos técnicos além dos cursos de aprendizagem e industriais básicos (KUENZER; 1997). A Lei Orgânica do Ensino Secundário esta- beleceu equivalência parcial com o sistema regular de ensino e, com isso, os concluintes dos cursos técnicos passaram a poder ingressar nos cursos superiores relacionados. Em 1942, a Reforma Capanema buscou ajustar as propostas pedagógi- cas já existentes, o que favoreceu a criação de Leis Orgânicas da Educação Nacional, do ensino secundário (1942), do ensino comercial (1943) e do ensino primário, normal e agrícola (1946). Em paralelo, foram criados o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI (1942) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC (1946), para formar pro- fissionais para a indústria e o comércio (SENAC, 2002, p. 20). As escolas de aprendizes e artífices transformam-se então em escolas técnicas federais. As Leis Orgânicas iniciam uma tentativa de articular as modalidades científica, clássica e profissionalizante. Mas mantêm o caráter dualista, já que ainda separavam a formação das elites condutoras do país da forma- ção voltada para o ingresso no mercado de trabalho. Nesse contexto, o SENAI e o SENAC atendiam às exigências do modelo taylorita/fordista, adotado na época como modelo de organização da indústria. O objetivo dessas instituições seria o de treinar os alunos com técnicas frag- mentadas para preencher postos de trabalho requeridos pelo mercado. Apesar de a Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 4.024, de 1961, ter possibilitado a integração do ensino profissional ao ensino regular, com equivalência entre os cursos profissio- nalizantes e propedêuticos e possibilidade de prosseguimento de estudo para os concluintes dos cursos profissionais, a dua- lidade é mantida, com a existência de dois ramos distintos de ensino voltados para grupos que ocupam funções distin- tas de acordo com a divisão social e técnica do trabalho. Na vigência da LDB n. 4.024/61, o primeiro Plano Nacional de Edu- cação (PNE) foi um conjunto de metas quantitativas e qualitativas a serem Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 34 – alcançadas em um prazo de oito anos. Em 1965 houve uma revisão das metas do PNE, com introdução de normas descentralizadoras e incenti- vadoras de planos nacionais. Houve nova revisão em 1966 – o chamado Plano Complementar de Educação, que introduziu alternativas na distri- buição de recursos federais. Em 1967, o Brasil entrou em um período que ficou conhecido como “milagre econômico” – finalmente o combate à inflação deu lugar ao cres- cimento econômico. Saiba mais “Milagre econômico” foi o crescimento vivido entre 1968 e 1974, em que o Brasil contou com a disponibilidade externa de capital. Os governos militares estavam determinados a fazer do país uma “potência emer- gente”, com investimento massivo em infraestrutura. Esse novo cenário foi marcado por pressão da classe média por educa- ção, o que serviu de estratégia para o Governo conseguir conter a demanda pelo Ensino Superior e focar na formação profissional já no segundo grau. Assim, a legislação educacional passou por novas alterações, como a Reforma do Ensino Superior, Lei n. 5. 540/68, a Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 5. 692/71. 2.4 A profissionalização obrigatória e a reforma dos anos de 1970 A profissionalização universal e compulsória atribuída ao ensino de segundo grau deixou de atender aos propósitos estratégicos da Lei n. 5.692/71, e ainda acentuou a crise de identidade já existente nesse nível de ensino(CUNHA, 1995). Houve resistência de todos os envolvidos: 2 os estudantes não aceitaram bem a inserção de disciplinas pro- fissionalizantes em substituição a outras consideradasmais necessárias ao exame vestibular; – 35 – História e legislação da educação profissional 2 os proprietários de escolas privadas não aceitaram bem o acrés- cimo de custos que isso representava; 2 os empresários não se mostraram favoráveis a aceitar estagiá- rios, pois queriam preservar a rotina de produção; 2 os professores, especialmente das escolas técnicas federais, esta- vam temerosos de que o ensino técnico que ofereciam fosse des- valorizado, já que havia ofertas descomprometidas com a quali- dade, algo que sempre caracterizou essas escolas. Assim, houve uma desorganização das escolas públicas de segundo grau, que passaram a ofertar diversas disciplinas sem qualquer unidade. O segundo grau já não garantia uma base sólida de conhecimentos gerais, comprometendo não só o seu caráter propedêutico, mas também a garantia de uma profissionalização adequada. A autonomia das instituições começa então a aparecer, pois muitas resolveram manter o dualismo presente na formação do aluno, com estra- tégias realizadas pelas escolas propedêuticas para evitar a profissionaliza- ção, que era considerada uma ameaça à qualidade do ensino. Em 1975, o Parecer n. 76/75, que se tornou a Lei n. 7.044, em 1982, restabeleceu a modalidade da educação geral e extinguiu a obrigatorie- dade de habilitação profissional. Isso representou uma estratégia que, de acordo com Kuenzer (1998), normatizou um novo avanço conservador, reafirmando a escola como o espaço para os já incluídos nos benefícios da produção e do consumo de bens materiais e culturais. Warde (1977) discute sobre a dicotomia entre teoria e prática na sociedade brasileira, com base nos Pareceres n. 45/72 e 76/75 emitidos pelo Conselho Federal de Educação. Tais pareceres, que normatizaram a profissionalização obrigatória no ensino de segundo grau presente na LDB n. 5.692/71, tinham como objetivo unir teoria e prática. Warde (1977) considera que a escola, na sociedade de classes e no capitalismo, é perpassada pelos interesses da classe dominante, e reproduz as rela- ções sociais preponderantes, mesmo com aparência de uma instituição universal. Assim, ela reproduz a divisão entre trabalho manual e intelec- tual, pois reflete a separação existente no capitalismo entre trabalhador e os meios de produção. Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 36 – As reformas dos ensinos de primeiro e segundo graus e do ensino universitário marcam a implantação do modelo tecnicista, o qual restringe o aprendizado ao “saber fazer”, e realizam uma articulação entre a escola e o sistema produtivo, com busca por eficiência, eficácia, racionalidade, produtividade e neutralidade. Nos anos 1970, a reforma educacional inspira-se no tecnicismo, de origem norte-americana, adotado no Brasil em meados da década de 1950 e efetivamente introduzido no fim dos anos 60. Exemplo disso foi a oferta intensificada de atividades do Programa Intensivo de Prepa- ração de Mão de Obra (PIMPMO), fundado em 1963, que tinha como objetivo ser um espaço alternativo de preparação dos candidatos ao mercado de trabalho. Esse programa privilegiou a formação de mão de obra para indústrias-chave relacionadas com o “milagre econô- mico”, como a petroquímica, a hidroelétrica, a civil e a agropecuária (CUNHA, 2000). Saiba mais O Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra (PIMPMO), que utilizava a metodologia TWI (Training Within Industry), foi criado como medida transitória para atender à demanda de mão de obra qualificada. Teve duração de dezenove anos, e nesse período teve um papel impor- tante no treinamento acelerado, com atendimento às demandas especí- ficas do mercado de trabalho. A partir de 1975, o PIMPMO intensificou suas atividades, com foco quase exclusivo na preparação de mão de obra para grandes projetos do Governo. Entre 1976 e 1977, o programa formou quase meio milhão de trabalhadores. Na década de 1970, no âmbito do desenvolvimento econômico, a crise do petróleo e a alta internacional dos juros desaceleraram a expansão industrial brasileira, o que levou o país, na década de 80, ao descontrole da inflação e na dificuldade de pagamentos. – 37 – História e legislação da educação profissional Iniciou-se uma grande recessão nacional que praticamente parali- sou o crescimento econômico. Muitos analistas passaram a considerar a década de 80 como “década perdida”, devido à queda do Produto Interno Bruto (PIB), das taxas de investimento e do setor industrial. O início da década de 80 foi marcado pela primeira grande crise indus- trial da economia brasileira, que iniciou com a segunda crise do petró- leo, em 1979, e continuou com a crise financeira internacional (TAUILE, 2001). O agravamento da crise brasileira ocorreu pelas altas taxas de juros internacionais, o que aumentou a dívida externa do país, acumulada na segunda metade dos anos 70. Destaca-se que a crise encontrou lugar no Brasil também devido a problemas já existentes, como a péssima distri- buição de renda e a lentidão da transição política, o que impedia uma mudança de rumo estrutural nos parâmetros econômicos da sociedade bra- sileira. Exemplo disso foi o que ocorreu com a indústria automobilística: Entre 1980 e 1981, a produção de veículos produzidos no Brasil caiu de 1,16 milhões para 780 mil unidades, isto é, encolheu cerca de 30%. Por sua vez, a força de trabalho dessa indústria reduziu-se, de um ano para o outro, em 25%; 110 mil trabalhadores perderam seus empregos naquele período (TAUILE, 2001, p. 204). A década de 1980 foi marcada pela redemocratização e reconquista gradual das liberdades civis, cerceadas durante o Período Militar. Ocorre a reabertura política, estimulada por setores progressistas da sociedade, com produção teórica alinhada com os interesses hegemônicos do proletariado. Nesse contexto, houve estímulo à discussão coletiva e elaboração de pro- postas educacionais. A teoria crítico-reprodutivista passou então a ganhar importância nos debates e produções teóricas, pois colocava que as relações antagônicas de dominação e desigualdade de classes tinham como um dos espaços de reprodução e perpetuação a própria escola. Saviani (1979) retoma esses argumentos e faz uma análise crítica das tendências educacionais brasi- leiras, objetivando uma superação conceitual, tanto das tendências não críticas, como das crítico-reprodutivistas, que cristalizariam na Pedagogia Histórico-Crítica. Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 38 – Saiba mais TEORIAS CRÍTICOS-REPRODUTIVISTAS • São críticas porque postulam não ser possível compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes sociais; • Não constituem pedagogias; • Não apresentam uma proposta pedagógica: o caráter reprodutivista da escola impede que ela seja diferente, donde a inviabilidade ou inutilidade de uma pro- posta pedagógica vinculada aos interesses da classe trabalhadora. TEORIA TEORIA DO SISTEMA DE ENSINO ENQUANTO VIOLÊNCIA SIMBÓLICAS (1970) TEORIA DA ESCOLA ENQUANTO APARELHO IDEOLÓGICO DE ESTADO (1969) TEORIA DA ESCOLA DUALISTA (1971) TEÓRICOS P. Bourdieu e J.C. Passeron L. Althusser C. Baudelot e R. Establet OBRA DE REFERÊNCIA “A Reprodu- ção: Elementos para uma teoria do sistema de ensino” (1975) “Ideologia e Apa- relhos Ideológicos do Estado” (s/d) “A escola capitalista na França” (1971) INFLUÊNCIA NO BRASIL • Especialmente durante a década de 70; • Saviani utiliza estes estudos como referência teórica para fazer a análise crítica da história das tendências da educa- ção brasileira. CONCEPÇÃO DE SOCIEDADE • A sociedade é dividida em classes antagônicas que sob a forma de luta de classe opõe burguesia ao proletariedade; • Essa luta trava-se nas relações de produção, que são rela- ções de exploração. Fonte: ABREU, D. C. Concepções e tendências da educação e suas manifestações na prática pedagógica escolar. Programa de formação sindical. 2011. App_Sindicato. Curitiba/PR.– 39 – História e legislação da educação profissional Esse movimento de democratização da educação, estimulado por educadores e intelectuais brasileiros, impulsionou os fóruns de debates e a organização social, nas décadas de 1980 e 1990, com discussões sobre conceitos educacionais que até então eram proibidos pela censura militar. Para legitimar a nova ordem democrática, era preciso que o país tivesse uma constituição livre. Assim, fez-se necessária a elaboração de uma nova Constituição, que representasse as necessidades de camadas menos favorecidas e dos opositores à ditadura. Dessa forma, em 5 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Cons- tituição, batizada por Ulisses Guimarães de “Constituição cidadã”, porque representava um avanço considerável à democracia, às questões político- -institucionais, à defesa de direitos e às questões sociais e trabalhistas. Contudo, após dois anos e por toda a década seguinte, os avanços progressistas desse período foram gradualmente substituídos por ajustes econômicos e sociais estruturais, com desregulamentação, descentraliza- ção e privatização. Saiba mais O Banco Mundial atua como agência financiadora de projetos para a área de infraestrutura econômica desde o final da década de 1940. Seus créditos representam pouco mais que 10% da dívida externa do país. Sua importância aumentou a partir dos anos 1970, passando a ser uma das mais relevantes fontes de financiamento para o setor social. Seu prestígio diante de outras agências internacionais (como as ligadas à ONU), na qualidade de articulador político entre os países, deu-se pelo seu deslocamento para o lado social. No âmbito da educação, as reformas da década de 1990 seguiam as orientações dos organismos internacionais, em especial as do Banco Mun- dial, que tinham fundamento na racionalidade financeira, principalmente a partir do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Assim, a reforma do ensino médio e da educação profissional mantém seu dualismo e secundarizarão. Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 40 – 2.5 As reformas após a década de 1990 e suas implicações para a educação profissional no Brasil O Banco Mundial passa a atuar, junto com o FMI, na condução dos ajustes estruturais para a reforma dos Estados-membros rumo ao globa- lismo econômico. “Registra-se, ainda, o seu desempenho como articula- dor da relação econômica entre os países do terceiro mundo, inclusive no que tange à negociação da dívida externa e à abertura comercial exigida no processo de globalização.” (FONSECA, 1998, p. 1). As iniciativas do governo FHC, segundo Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), forneceram o marco legal e político para a retirada do Estado da educação profissional, que foi então transformada em objeto de parceria entre governo e sociedade civil. Utilizou-se para isso recursos do Tesouro Nacional, distribuídos em diversos Ministérios; do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), dos empréstimos internacionais e dos fundos privados, como o Sistema “S” (SENAI, SENAC, SENAR, SENAT, SESI, SESC e SEBRAE). Incentivou-se, portanto, o crescimento da educação profissio- nal mantida pela iniciativa privada, a partir de um investimento público em infraestrutura, e, por outro lado, a pulverização de cursos de qualifi- cação oferecidos por instituições governamentais e não governamentais, mantidos por recursos públicos, mas que prescindiam de investimentos em infraestrutura. Em meados dos anos 90, é aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB n. 9.394/96. Inicialmente, sua elaboração teve caráter democrático e popular, com a participação de entidades vincu- ladas à educação. Mas, apesar de trazer avanços na educação, foi aprovada a partir de um projeto que deixou claro o seu vínculo com os interesses do capital. De acordo com essa nova lei, a educação profissional seria uma alter- nativa de qualificação que não estaria necessariamente ligada à educação escolar. Passaria a ser regulamentada pela reforma proposta pelo Decreto n. 2.208/97, com foco em qualidade, competitividade, empregabilidade e garantia de acesso e permanência no mercado de trabalho. O parágrafo 2º do Artigo 36, seção IV, capítulo II, e os Artigos 39 a 42, capítulo III, da LDB n. 9.394/96 passam a ser regulamentados pelo – 41 – História e legislação da educação profissional Decreto n. 2.208, de 17 de abril de 1997, que assume o papel de principal instrumento jurídico da educação profissional até 2004. A partir da aprovação do Decreto de n. 2.208, de 17 de abril de 1997, a educação profissional passa a: 2 promover a transição entre a escola e o mundo do trabalho, capacitando jovens e adultos com conhecimentos e habilidades gerais e específicas para o exercício de atividades produtivas; 2 proporcionar a formação de profissionais aptos a exercer ativi- dades específicas no trabalho, com escolaridade correspondente aos níveis médio, superior e de pós-graduação; 2 especializar, aperfeiçoar e atualizar o trabalhador em seus conhe- cimentos tecnológicos; 2 qualificar, reprofissionalizar e atualizar jovens e adultos trabalha- dores, com qualquer nível de escolaridade, visando sua inserção e melhor desempenho no exercício do trabalho (BRASIL. 1997). A educação profissional poderia atingir os objetivos propostos de forma articulada ao ensino regular ou por meio de estratégias de educação continuada, em escolas, instituições especializadas ou nos ambientes de trabalho. Desta forma, passou a ser dividida em três níveis: 2 básico – destinado a trabalhadores jovens e adultos, indepen- dente de escolaridade. A organização curricular pode ter duração variável, não sujeita à regulamentação; 2 técnico – destinado a alunos jovens e adultos que este- jam cursando ou tenham concluído o ensino médio de forma concomitante ou subsequente. A organização curricular é inde- pendente do ensino médio. A relação entre ensino médio e edu- cação profissional passa a ser de complementaridade, e não de equivalência. Há possibilidade de organização modular, a qual dá autorização para sua terminalidade e certificação por compe- tências para efeitos de qualificação profissional; 2 tecnológico – destinado aos que desejam formação superior, tanto graduação como pós-graduação. Devem atender aos diver- Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 42 – sos setores da economia, incluindo áreas especializadas (BRA- SIL, 1997). Dessa forma, tal decreto pretendia: [...] estabelecer uma organização curricular para a educação pro- fissional de nível técnico de forma independente e articulada ao ensino médio, associando a formação técnica a uma sólida edu- cação básica e apontando para necessidade de definição clara de diretrizes curriculares, com o objetivo de adequá-las às tendências do mundo do trabalho (BRASIL, 1997, p. 17). Fica a cargo da União estabelecer diretrizes curriculares adequadas ao mercado, determinar carga horária mínima dos cursos, habilidades e competências básicas por área profissional, mediante o Ministério da Edu- cação, atendido o Conselho Nacional de Educação. Tais concepções foram materializadas com o Decreto de n. 2.208/97, segundo o qual a educação profissional passa a ser complementar à educa- ção básica e geral, e está separada do ensino regular. Em resumo, isso sig- nifica que o ensino profissional passa a fazer parte de um sistema paralelo ao escolar, pois relaciona-se com outros níveis e modalidades de ensino. Os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico (RCNs) alegam que a educação profissional está conce- bida sob um paradigma pedagógico que ainda não está presente na prática educacional, embora esteja presente em discursos. Assim, o foco dessa modalidade de ensino foi transferido dos conteúdos para as competências (BRASIL, 2000b). O Decreto n. 2.208/97, ao propor a articulação da educação profissio- nal com setores empresariais, transferiu a estesa responsabilidade pela defi- nição de currículo, gestão e financiamento das instituições destinadas a esse tipo de ensino. A educação profissional passa então a ter ligação mais direta com a formação intensiva de mão de obra, ampliando sua função privatista e seletiva, e minimizando sua função social. O Plano Nacional de Qualifi- cação do Trabalhador (PLANFOR), vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, contribuiu para a realização de reformas no campo educacional subordinadas às reformas estruturais de desregulamentação e privatização. Com a transição do governo em 2002, voltou-se a discutir sobre o ensino médio integrado. Decide-se pela revogação do Decreto n. 2.208/97 – 43 – História e legislação da educação profissional pois não concebia a ideia de educação integral. Em 2004, inicia-se o debate sobre quais modificações seriam realizadas na educação profissional, tal como se regulamenta no § 2º do Art. 36 e nos Artigos 39 a 41, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96. Houve muita polêmica e disputas políticas. Havia os que acredi- tavam que esse processo devia ocorrer por meio da LDB n. 9.394/96, e os que achavam que deveria ser promulgado um novo decreto, para que essa transição ocorresse de forma mais rápida. Um terceiro grupo de caráter conservador ainda queria manter a concepção de educação profissional vigente. A decisão foi pela promulgação do novo Decreto de n. 5.154, com nove artigos dispondo sobre o modelo de educação profissional que pas- saria a ser adotado pela sociedade brasileira. Esse decreto contempla o relacionamento entre ensino médio e educação profissional nas formas subsequente, concomitante e integrada. Apesar das expectativas, o Decreto n. 5.154 de 2004 não representou algo tão novo, já que simplesmente contemplava os diversos mode- los de educação profissional que já existiam em nossa sociedade. O real avanço do novo decreto está na superação legal da desarticu- lação entre ensino médio e educação profissional. Entretanto, manteve os elementos principais do decreto anterior, o que evidencia a pressão dos setores conservadores para manter práticas adotadas no governo antece- dente. Apesar disso, houve retomada do espaço para que haja discussão e proposição de alternativas de concepção, gestão, financiamento, expansão e manutenção da oferta de educação profissional. O não enfoque na política educacional naquela época fica claro com alguns dos encaminhamentos dados pelo Ministério da Educação após a aprovação do Decreto n. 5.154/04, como por exemplo a desarticulação realizada no Ministério alguns dias após a promulgação do decreto, colo- cando o ensino médio na Secretaria de Educação Básica e a educação pro- fissional na Secretária da Educação Profissional e Tecnológica (SETEC); ainda, o Ministério da Educação transfere ao Conselho Nacional de Edu- Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 44 – cação a responsabilidade de estabelecer as Diretrizes Curriculares Nacio- nais para a reforma da educação profissional. Então, o Conselho Nacional de Educação, por sua vez, homologa o Parecer n. 39/04, da Câmara de Educação Básica, e a Resolução n. 01/05, ambos com a concepção de educação presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico vigentes, sob o seguinte pretexto: As Diretrizes Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, tanto para o Ensino Médio quanto para educação profissional de nível técnico, assim como as Diretri- zes Curriculares Nacionais gerais definidas pelo mesmo conse- lho, continuam perfeitamente válidas após a edição do Decreto n. 5.154/04. As Diretrizes Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação não deverão ser substituídas. Elas não perderam sua validade e eficácia, uma vez que regu- lamentam dispositivos da LDB em plena vigência (BRASIL, 2004b, p. 3). Tal decisão limita o processo de integração. A concepção de educa- ção profissional presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e nas Referências Curriculares Nacionais (RCNs), as quais, segundo o Ministério da Educação (2000), são fontes de inspiração para a formula- ção curricular, demonstra a proposta de organização curricular possível, condizente com a concepção de formação humana em harmonia com uma política de educação profissional “interessada”. A polivalência é uma de suas noções fundantes, o que contraria a concepção de integração que se fundamenta na noção de politecnia (ABREU; SILVA, 2011). Essa contradição lacera a concepção de integração, que seria a indis- sociabilidade entre teoria e prática, pois o Parecer n.16/99 e a Resolução n. 04/99 têm como princípios norteadores a independência entre ensino médio e educação profissional. Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) e outros estudiosos tentavam alertar acerca dos prejuízos trazidos pela manutenção da validade das Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio e para a educação profissional. Segundo eles, tal decisão iria manter a política curricular do governo anterior, que enfatizava o individualismo e a formação por com- petências voltadas para a empregabilidade. – 45 – História e legislação da educação profissional Deve-se no entanto ressaltar que as críticas feitas pela sociedade civil e acadêmica culminaram na edição das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, com a Resolução n. 4, de 13 de julho de 2010. A nova resolução orienta que, para cumprir os objetivos da educação nacional, deve haver integração entre diferentes níveis e modalidades de educação e as dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. Deve ainda haver articulação com o ensino regular e outras modalidades educa- cionais, como Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Edu- cação a Distância. Permite-se a organização e a estruturação dos cursos de educação profissional técnica de nível médio para que possibilitem uma qualificação profissional intermediária. A nova resolução também permite que a educação profissional e tec- nológica seja desenvolvida por educação continuada em instituições espe- cializadas ou no ambiente de trabalho, incluindo os programas e cursos de aprendizagem previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Pode-se organizar currículos por eixo tecnológico, identificando tecnolo- gias que se encontram na base de uma dada formação profissional. Ainda, a resolução n. 04/2010 define que os conhecimentos e as habilidades adquiridos nos cursos de educação profissional e tecnológica e na prática laboral podem ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos (CNE/MEC, 2010). Em entrevista à Revista Retratos da Escola (2010), os pes- quisadores Benno Sander, Pacheco e Gaudêncio Fri- gotto opinam sobre as diretrizes do CNE: Benno Sander – As recentes diretrizes do CNE e os debates no âmbito das entidades da sociedade civil organizada no campo da educação objetivam contribuir para dar maior organicidade curricular ao ensino médio. As diretrizes indicam uma preocupa- ção em reduzir a brecha que separa duas propostas historicamente antagônicas de ensino de nível médio, tentando articular conhe- cimentos gerais, técnicos e tecnológicos, que sejam capazes de integrar o mundo do trabalho, da ciência e da cultura. Nessa linha, as condições econômicas, políticas e culturais do país e as neces- sidades e aspirações sociais e educacionais de sua gente impõem continuados esforços para a construção de uma proposta genuina- mente unitária, politécnica, integrada de ensino médio para todos. Gestão e Docência no Ensino Médio e Profissionalizante – 46 – Eliezer Pacheco – Sim. Elas contribuem para uma visão mais integradora do currículo do ensino médio, entretanto, a organi- cidade curricular depende do projeto pedagógico institucional. Em outras palavras, as instituições têm autonomia quanto à grade curricular, por exemplo.
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