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1 Síndromes geriátricas No Brasil, é considerado idoso o indivíduo com mais de 60 anos de idade. Sabe-se que há uma perda da reserva funcional com o envelhecimento, sem necessariamente causar uma doença, mas facilitando que isto ocorra. Um exemplo é a perda de néfrons com queda na taxa de filtração glomerular, mas sem causar insuficiência renal, embora torne mais susceptível ao utilizar drogas nefrotóxicas, por exemplo. De modo geral, as síndromes geriátricas são condições multifatoriais e altamente prevalentes em idosos que costumam associar-se a impacto importante na morbi- mortalidade, afetando a funcionalidade dos indivíduos. Há 5 síndromes geriátricas e acredita-se que os mecanismos fisiopatológicos sejam comuns entre essas síndromes, como processos inflamatórios, sarcopenia e aterosclerose. São chamadas de os 5 I’s. A. Incontinência urinária: perda involuntária de urina em quantidade suficiente para que se torne um problema social ou de saúde/higiene. A continência depende não só do trato urinário inferior, mas também da integridade das funções mentais, mobilidade, destreza e motivação. Ou seja, é uma síndrome que resulta de condições médicas, medicações ou doenças do trato urinário inferior (aumento prostático, diminuição da pressão de fechamento ureteral feminino, diminuição da secreção de ADH noturno). Pode ser transitória, quando a causa é modificável, sendo possível melhorar ou até resolver o problema. São 8 causas (4D’s e 4I’s): delirium, depressão, déficit de estrógeno vaginal, débito urinário alto, infecção, imobilidade, iatrogenia e impactação fecal. Quando é irreversível, é chamada definitiva. Podem ser classificadas nos seguintes tipos: ! Esforço: perda quando há aumento da pressão intra-abdominal, como tossir/agachar. Mais frequente em mulheres (fraqueza do assoalho pélvico) e relaciona-se com deficiência esfincteriana. Pode-se orientar exercícios de fortalecimento da musculatura pélvica para melhora do quadro. ! Urgência: necessidade imperiosa de urinar com perda de urina antes de chegar ao toilet. Associa-se à hiperatividade do musculo detrusor. Em geral há queixa de polaciúria e noctúria. ! Mista: associação de sintomas de urgência e esforço. ! Hipertonia do detrusor: incapacidade de esvaziar a bexiga por falta de contrações eficazes, mas sem alterações esfincterianas. Caracteriza-se pelo gotejamento ou perda continua de urina. ! Paradoxal: mais encontrada em homens com aumento de próstata, e a diurese ocorre por extravasamento, quando a bexiga está cheia. 2 " Exame clínico: Questionar há quanto tempo ocorre, volume da perda, situação em que ocorre, quantas vezes ao dia costuma urinar, se uso de absorventes é necessário e quais comprometimentos – saúde e social – que a perda causa. Perguntar também hábito intestinal, história obstétrica e cirúrgica, lista de medicamentos, hábito intestinal, ingesta hídrica. No exame físico, avaliar abdômen e pelve. "Exames complementares: glicemia, creatinina, urina tipo 1. USG de vias urinárias só em casos específicos. B. Instabilidade e quedas: deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial com incapacidade de correção em tempo hábil. Os fatores de risco são sexo feminino, história prévia de queda, polifarmácia, alterações osteoartciulares de grandes articulações (quadril e joelho principalmente), uso de psicotrópicos, sexo feminino. Pode ser causada por diversos fatores e, normalmente, é multifatorial. ! Fatores intrínsecos: alterações sensoriais (perda de acuidade visual, alteração da propriocepção, perda auditiva, alteração da marcha, alterações do equilíbrio por alterações musculo-esqueléticas) ou agudas de doenças (síncope, ave, insuficiência coronariana). ! Fatores extrínsecos: piso molhado, degrau, tapetes, calçados mal alinhados, falta de luminosidade. " Complicações: fraturas (colo de fêmur é grave e comum), hematoma subdural, medo de cair novamento, tornando o idoso restrito ao leito. " Exame clínico: pacientes com histórico de múltiplas quedas deve-se avaliar bem a acuidade visual, equilíbrio, hipotensão postural (queda da PAS igual ou superior a 20mmHg ou queda da PAD igual ou superior a 10mmHg nos primeiros 3 min após ficar na posição ortostática), alterações cognitivas e fatores ambientais. C. Imobilidade: Podem ser abruptas, como após AVE, ou lento, como na progressão de doenças crônicas ou descondicionamento físico. Em todas as condições, há perda de funcionalidade com perda da capacidade de realizar diversas atividades diárias. Nos casos graves, incapacita-se até atividades básicas, como banhar-se, alimentar-se. "Fatores de Risco: comprometimento cognitivo (delirium e demência), doenças psiquiátricas (deperessao, ansiedade), doenças neurológicas (AVE, Parkinson, neuropatias), 3 doenças metabólicas (obesidade, hipotireoidismo), doenças osteomusculares (osteoartroses, artrites, fraturas, miopatias), doenças cardiopulmonares (DPOC, ICC, insuficiência coronariana) e drogas que possam causar hipotensão (diuréticos, sedativos). "Consequências: úlceras por pressão devido à interrupção do fluxo sanguíneo da região, sendo os sítios mais acometidos protuberâncias ósseas - região sacral, trocantéricas e calcâneas. Além disso, também gera hiporresponsividade barorreceptora, gerando hipotensão ortostática; predispõem TVP e TEP (estase sanguínea + hipercoagulabilidade); constipação e impactação fecal; hipersecreção brônquica, tosse ineficaz, atelectasia, pneumonia, risco de aspiração pulmonar por engasgo, tosse ou refluxo; alto risco de retenção urinaria (bexigoma), infecção urinaria aguda e recorrente, bacteriúria assintomática; comprometimento psicológico com aparecimento ou agravamento de quadros de depressão ou ansiedade e perda cognitiva. D. Iatrogenia: ocorrrência ou condição não-intencional, justificada ou não, decorrente da intervenção da equipe multidisciplinar de saúde, que resulta em prejuízo para saúde do paciente. Também é considerada iatrogenia a omissão de conduta ou de intervenção amplamente reconhecida. Iatrofarmacogenia é uma das principais formas e pode se manifestar como polifarmácia, interação medicamentosa e do desconhecimento das alterações farmacocinéticas/dinâmicas associadas ao envelhecimento. Além disso, ainda pode-se citar: ! Internação hospitalar: potencializa riscos decorrentes do declínio funcional, subnutrição, imobilidade, úlcera de pressão e infecção hospitalar; ! Iatrogenia da palavra: associado ao desconhecimento de técnicas de comunicação de más noticias; ! Iatrogenia do silencio: decorre da dificuldade de ouvir adequadamente o paciente sua família; ! Subdiagnóstico: tendência de atribuir todas as queixas do idoso “à idade”; ! Cascata propedêutica: solicitação de exames feita de forma desnecessária, extensiva, sem indicação. ! Distanásia: prolongamento artificial da vida sem perspectiva de reversibilidade, com sofrimento para o paciente e família E. Incapacidade cognitiva: cognição é a capacidade mental de compreender e resolver problemas do cotidiano. Com o envelhecimento, há aumento da prevalência de doenças cerebrais, como demência, AVE e delirium. Comprometimentos cognitivos correlacionam-se com isolamento social, fragilidade física, depressão, piora do quadro 4 cognitivo e aumento da mortabilidade. Há alterações de memória no processo normal de envelhecimento, com dificuldade de organizar informações, utilizar estratégias de memorização e de inibir estímulos competitivos e irrelevantes sem alterações no cotidiano do individuo. " Exame clínico: Mini exame do estado mental (triagem – ponto de corte 18para analfabetos e 26 para os que possuem escolaridade superior a 8 anos). Deve-se afastar causas de demência reversíveis: tóxicas (álcool, drogas, metais pesados, drogas psicoatvivas), infecciosas (neurossífilis, HIV), metabólicas (deficiência de B12 e ácido fólico, hipotireoidismo, hiponatremia, insuficiência renal e hepática) e estruturais (hidrocefalia de pressão normal, hematoma subdural, tremores). OBS: a hidrocefalia de pressão normal é caracterizada pela tríada: demência, incontinência urinária e alteração da marcha. " Delirium: quadro confusional agudo com comprometimento flutuante da atenção e função cognitiva. Pacientes >80 anos, muitas comorbidades possuem risco maior. Infecções, alterações metabólicas, uso de medicações, iatrogenia, insuficiência de algum órgão, desidratação podem causar delirium. Oscila entre consciente/orientado e confuso; agitado ou sonolento/letárico (estágios hipo e hiperativo do delirium). " Depressão: entidade clinica subdimensionada quanto ao diagnóstico e tratamento. Deve levar em conta para o diagnóstico a seguinte sintomatologia: humor deprimido, diminuição do interesse e do prazer pelas atividades (anedonia), insônia ou hipersonia, ganho ou perda de peso acima de 5%, redução da capacidade de concentração, agitação ou lentificacao psicomotora, fadaiga, ideia inapropriada de menos valia ou de culpa, pensamento recorrente de morte ou de ideação suicida. Esses tinomas devem perissitir por mais de 2 semanas, com pertubação ou alteração da capacidade funcional e sem estar relacionada ao abuso de substância, condição medica ou luto. Requer ao menos 5 sintomas e é obrigatório o humor deprimido ou anedonia. " Demência: perda das funções cognitivas com comprometimento de pelo menos duas áureas de cognição: memória, afasia, agnosia, apraxia, perda de função executivo. É fundamental realizar o diagnostico diferencial da causa de demência, uma vez que o tratamento e o prognóstico destas será distinto. As manifestações clínicas da doença de 5 Alzheimer aparecem, em geral, após os 65 anos de idade. Caracterizam-se, em seu primórdio, pela redução na produtividade funcional associada à realização de tarefas complexas, assim como desorientação espacial, alteração no comportamento, perda de memória recente e dificuldade para aprender novas informações.. Sua fase moderada associa-se a insônia, confusão mental, agitação, afasia e apraxia. O estado terminal caracteriza-se por mutismo e/ou intensa disfagia. O óbito ocorre, normalmente, por infecções, em geral 10-15 anos após o início da doença. Referências bibliográficas: MORAES, E. N; MARINO, M. C. A; SANTOS, R. R. Principais síndromes geriátricas. Revista médica de Minas Gerais. 2010; 20(1): 54-66. USP. Clínica médica. 1 ed. Vol. 1. Editoria Manole