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Construção do Conhecimento Científico Construção do Conhecimento Científico Rossano André Dal-Farra Ao olhar para o exterior, percebemos aquilo que tem ressonância com o nosso interior. Prezado leitor, constantemente você está observando tudo o que ocorre no seu entorno. Os fenômenos climáticos, o comportamento das pessoas, ou mesmo os cenários globais são continuamente analisados, buscando tirar conclu- sões que possam orientar as suas ações em cada situação vivenciada. Mas vamos refletir um pouco: Ao tomar as suas decisões, você está utilizando o pensamento científi- co? Ou será que utiliza o que uma parcela de pesquisadores denomina de “senso comum”? Independente do posicionamento de cada um, o estudo dos processos teóricos subjacentes à construção do conhecimento científico possibilita ao leitor uma melhor compreensão em relação às formas pelas quais as infor- mações são produzidas e como elas circulam na sociedade. Da mesma forma, conhecer os processos relacionados à ciência favo- rece a construção de um novo olhar sobre o mundo que o rodeia, assim como fornece “lentes” pelas quais você passará a observar os fenômenos sob o enfoque daquilo que estuda. Diante desse desafio, a proposta deste livro é contribuir para que você construa seu conhecimento com base nas diferentes perspectivas encon- tradas na literatura que trata dessa temática. Para essa finalidade, a obra foi dividida em quatro capítulos: o primeiro tenciona apresentar a ciência Apresentação iv Apresentação e os seus pressupostos básicos segundo diferentes concepções que a cons- tituem; o segundo é dedicado aos pressupostos teóricos que embasam a construção das pesquisas científicas. Já o terceiro consiste em um guia de apoio para a elaboração e a execução de projetos de pesquisa e o quarto aborda as questões referentes à redação científica e às normativas ineren- tes aos trabalhos dessa natureza. Mais do que um manual de instruções, esta obra é um roteiro de via- gem para o desenvolvimento de um processo ativo de construção de pes- quisas e para a adoção de métodos apropriados de abordagem científica diante dos temas a serem pesquisados pelo leitor. Logicamente, cada as- sunto tratado poderá ser aprofundado com leituras complementares, cuja necessidade será determinada pelas investigações a serem realizadas. Que você tenha uma grande jornada ao longo da leitura, e que cada palavra que a compõe possa lhe auxiliar na busca de respostas às suas indagações, mas também se constitua em impulso para o surgimento de novos questionamentos. Atenciosa e fraternalmente, Rossano André Dal-Farra 1 Ciência e Construção do Conhecimento: uma Apresentação ................................................................1 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas, Coleta e Análise de Dados ................................................................24 3 Elaborando Projetos de Pesquisa .........................................66 4 Redação Científica: Preceitos Gerais e Normas Técnicas ......96 Sumário Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento: uma Apresentação 2 Construção do Conhecimento Científico Introdução O que é ciência? O que fazem os cientistas? Eu posso fazer ciência no meu dia a dia? Essas questões talvez não possuam respostas tão simples como você gostaria. Por essa razão, o objetivo deste capítulo é contribuir para o desenvolvimento dos seus posicionamentos em relação ao fazer científico, objetivando facilitar um proces- so de ressonância entre as suas concepções e algumas facetas do mundo da ciência. Mais precisamente, este texto irá auxiliá-lo no momento de embasar as suas argumentações durante o processo de ela- boração, construção e apresentação de estudos científicos, mesmo que, para isso, seja necessário realizar uma constante reconstrução de suas convicções a respeito daquilo que esteja investigando. Tópico 1 – Ciência e construção científica O termo Ciência provém de “scientia”, significando conheci- mento. Medawar (2005) acrescenta que a palavra também é empregada para designar um corpo de conhecimentos produ- zido e sistematizado pelo ser humano. Há muitas definições de ciência na literatura, cada uma delas decorrentes de um modo de conceber o conhecimento, Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 3 quem o produz e a forma utilizada para produzi-lo. Alguns autores consideram que o conhecimento científico é produzido de forma radicalmente diferente dos demais tipos de conheci- mento que o ser humano gera. Nessa concepção, acredita-se que o método científico é algo exclusivo dos pesquisadores, e que o conhecimento é produzido de forma objetiva, sem que aspectos subjetivos ou do contexto influenciem na relação entre o pesquisador e o objeto de estudo sobre/com o qual o conhecimento está sendo produzido. Sustenta esse posicionamento a massiva produção de co- nhecimento aplicado nas últimas décadas, oriundo de me- todologias rigorosamente controladas e gerando resultados analisados com base em testes estatísticos dotados de acura- dos critérios probabilísticos. Em outro extremo, há aqueles que consideram o conheci- mento científico apenas como “uma” das formas do ser huma- no produzir conhecimento. Nessa perspectiva, o método utili- zado pelos pesquisadores não se constitui em algo exclusivo da ciência, já que, segundo esses teóricos, sempre haverá as- pectos subjetivos e elementos externos influindo sobre as con- cepções do pesquisador em relação ao seu objeto de estudo. Entre esses polos opostos, você pode se posicionar em qualquer ponto intermediário, de acordo com as suas con- vicções a respeito do grau de objetividade/subjetividade em- pregado pelo pesquisador assim como em relação à possível influência dos aspectos sociais, culturais e políticos envolvidos no desenvolvimento das pesquisas. 4 Construção do Conhecimento Científico Um aprofundamento em relação ao fazer científico de- monstra que há peculiaridades no trabalho dos pesquisadores que diferem, ou, precisariam diferir da construção de argu- mentos utilizada em outros campos das atividades humanas. Notadamente, utilizando a objetividade como ideal a ser atingido, mesmo que talvez intangível em termos absolutos, o esforço realizado nas mais variadas áreas do conhecimento possibilitou avanços significativos na condição de vida da hu- manidade. Há poucas décadas, a expectativa de vida era muito inferior a atual. Um ferimento de moderada magnitude poderia signifi- car a morte. Da mesma forma, as possibilidades de comunica- ção foram drasticamente alteradas, assim como o transporte e outras áreas dependentes de conhecimento tecnológico. Tais avanços se devem à aplicação de aspectos fortemente ligados a um modo de conceber a ciência experimental desen- volvido a partir da denominada Revolução Científica ocorrida há alguns séculos. Em uma obra sucinta, embora embasada por múltiplos estudos, John Henry (1998) analisa a Revolução Científica, caracterizando-a como o início da Ciência Moderna entre os Séculos XVI e XVIII. Abordando Galileu Galilei, Johannes Kepler, Isaac Newton, Renée Descartes e Francis Bacon, entre outros, Henry salien- ta que a matematização da ciência e o método experimen- tal foram contribuintes decisivos na construção da ciência da época. Entretanto, o autor aponta que as visões de mundo Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 5 de cada um, incluindo a religiosidade, influíram decisivamente sobre a ciência que esses pesquisadores produziram, compon- do um cenário complexo na geração daquilo que a literatura em geral denomina de Ciência. Atualmente, muitas pesquisas nas áreas da saúde, da tec- nologia, e em outras áreas do saber seguem protocolos rígi- dos, visandoobter resultados dentro de uma estreita possibi- lidade, ou seja: “é eficaz” ou “não é eficaz”, não deixando muita margem para as interpretações dos passos a serem se- guidos na pesquisa. Da mesma forma, há pesquisas nas quais o potencial de inserção interpretativa por parte do pesquisador é preponderante. Embora as fronteiras não sejam tão claras, as peculiari- dades de cada ramo do conhecimento são muito grandes, de acordo com as necessidades de cada processo investi- gativo. Com relação à influência do contexto nas produções cien- tíficas, para Wertheimer (1972), o julgamento das teorias é influenciado por:  zeitgeist – “espírito do tempo” – se refere ao contexto histórico e aquilo que caracteriza o período em questão, compondo um cenário vigente no entorno naquele sé- culo, ou década, por exemplo;  ortgeist – “espírito do lugar” – se refere, em palavras mais simples, àquilo que se acredita em um determina- do contexto local, ou seja, as concepções dos pesquisa- 6 Construção do Conhecimento Científico dores a respeito dos temas em uma instituição, ou em um país, por exemplo. Entretanto, conforme afirmado anteriormente, alguns auto- res creem mais no protagonismo dos pesquisadores, entenden- do que os sujeitos são mais ativos no processo de desenvolvi- mento do conhecimento científico, e não meros executores de práticas de pesquisa engendradas pelo tempo/espaço. Acrescenta-se que em todas as áreas da produção científi- ca há a aplicação de procedimentos criteriosos e obedecendo a preceitos técnicos definidos como metodologicamente cien- tíficos, mesmo que haja diferenças pronunciadas quando são comparadas as abordagens empregadas pelos diferentes ra- mos do conhecimento. Por tais razões, talvez seja possível pensar na existên- cia de “métodos científicos”, caracterizando a pluralidade de abordagens dentro do imenso campo de possibilidades científicas. Sendo essa uma disciplina pautada na construção do su- jeito como princípio educacional, conforme o próprio nome aponta, defende-se que cada um construa a sua própria con- cepção de ciência segundo os pressupostos teóricos e as suas experiências vivenciadas relativas ao conhecimento científico. Entretanto, considerando que o processo de produção científi- ca fundamenta-se na construção de argumentos, você precisa embasar a sua concepção de ciência com argumentos sólidos e coerentes entre si, e com o todo. Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 7 Ou seja, saiba que, ao assumir concepções de ciência em um trabalho acadêmico, você será instado a argumentar ade- quadamente, utilizando informações sustentadas pela literatu- ra em favor de seus posicionamentos. É isso que se espera de um produtor de conhecimentos. Historicamente, foram produzidos caminhos diferentes para cada comunidade de cientistas, construindo, atualmente, uma grande rede de abordagens científicas gerando conhecimento com base em pressupostos divergentes entre si, mesmo que, em todas elas, sejam obtidos resultados produtivos. Independentemente da concepção que você adotar, é im- portante que faça uma constante reflexão a respeito do traba- lho investigativo que esteja realizando, mesmo que seja ape- nas para reforçar as convicções já existentes. E mais importante de tudo, o fato de haver concepções di- ferentes, e mesmo praticamente opostas em relação à ciência e aos métodos empregados, não significa dizer que “tudo é vá- lido”. Apenas que, em diferentes áreas, os pesquisadores com- preendem a questão e operacionalizam suas pesquisas com base em pressupostos distintos. No entanto, em todos os casos, uma boa pesquisa possui um rigor metodológico imprescindí- vel para a sua realização, e isso você não pode esquecer. Faça as suas escolhas, embase seus procedimentos e suas reflexões e, acima de tudo, esteja convicto de que as suas es- colhas metodológicas são as mais adequadas possíveis em re- lação ao que você está realizando, já que, parafraseando um sábio, “temos liberdade para escolher, mas ficamos ligados às consequências daquilo que escolhemos”. 8 Construção do Conhecimento Científico Tópico 2 – Fragmentos de filosofia da ciência Neste tópico, são apresentados, de forma sucinta, alguns as- pectos da Filosofia da Ciência. O objetivo é contribuir para que você possa compreender melhor as concepções de ciên- cia adotadas pelos pesquisadores. 2.1 Positivismo lógico ou empirismo lógico Denomina-se de Positivismo Lógico, ou Empirismo Lógico, um movimento filosófico da década de 20 do Século XX, represen- tado pelo Círculo de Viena (Áustria) e incluindo acadêmicos como Moritz Schlick (1882-1936) e Rudolf Carnap (1891- 1970), entre outros. Os positivistas lógicos consideravam que a Lógica e a Ma- temática eram independentes da experiência do sujeito em re- lação ao objeto de estudo, entendendo ainda, que o conheci- mento empírico deveria ser obtido por meio da indução. Indução representa um modo de pensar que parte de ob- servações particulares, buscando encontrar “leis” mais gerais. Empírico, nesse contexto, vem do grego “empeiria”, significan- do “experiência”, ou seja, a relação do sujeito com o seu ob- jeto de estudo por meio dos sentidos e dos dados acumulados por meio dessa experiência. Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 9 NOTA: Alguns autores utilizam a expressão “conhecimento em- pírico” como aquele distinto do conhecimento científico e obtido por métodos não científicos. Salienta-se que, na presente obra, “empírico” se refere ao resultado da observação ou da experi- ência que proporciona a obtenção de dados “concretos” pelo pesquisador. Quando você fizer uma afirmação no contexto científico, al- guém poderá lhe perguntar: “Você tem dados empíricos que sustentam essa afirmação?”. Dito de outro modo: Com base em quais informações obtidas/coletadas você está afirmando isso? Para o Empirismo Lógico, os conceitos envolvidos em uma teoria deveriam advir de algo observável. Aquilo que não pode ser verificado empiricamente, ou seja, por meio da experiência do sujeito, estaria fora da esfera do conhecimento. As hipóte- ses, nesse contexto, deveriam ser testadas experimentalmente, por meio da observação do fenômeno ou pela elaboração de experimentos controlados. A aceitação de uma teoria, se- gundo essa vertente teórica, seria decidida exclusivamente pela observação ou pelo experimento, garantindo, por meio de uma base empírica sólida, a construção do conhecimento científico pela objetividade. O método indutivo permitiria formular e verificar as leis e as teorias. A partir de um determinado número de observações, o pesquisador concluiria algo para um conjunto mais amplo, ou para situações com as quais ainda não temos experiência, sendo possível obter e confirmar hipóteses e enunciados gerais a partir da observação. 10 Construção do Conhecimento Científico Mesmo não garantindo certeza, o método indutivo permi- tiria conferir uma probabilidade cada vez maior do conheci- mento científico chegar próximo da verdade. Portanto, em tal perspectiva, haveria um progresso cumulativo na ciência, onde as novas leis e teorias seriam capazes de explicar e prever um número cada vez maior de fenômenos. Os críticos dos positivistas lógicos apontam que, ao ob- servar um fenômeno científico, ou quando constrói um expe- rimento, o pesquisador já o faz com base em teorias previa- mente conhecidas por ele. Assim como, em muitos casos, a observação dos fatos pode gerar diversas leis e teorias plausí- veis e justificáveis. É importante salientar, entretanto, que o positivismo lógi- co trouxe relevantes contribuições para a filosofia da ciência, assim como é inolvidável o elevado aprofundamento teórico realizado pelos membros do Círculo de Viena ao analisar as questões epistemológicasinerentes à ciência. 2.2 Racionalismo crítico de Popper O austríaco Karl Popper (1902-1974) foi um dos mais influen- tes filósofos da ciência do século XX, especialmente por seus estudos que buscavam compreender a relação entre a experi- mentação e o processo de desenvolvimento de teorias. Segundo Popper, as teorias precediam as observações e os testes experimentais, ao contrário dos posicionamentos daque- les que defendem o método indutivo. Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 11 A partir das observações e da lógica, não podemos verifi- car a verdade de enunciados gerais como as teorias científi- cas, e sim refutá-los. Ou seja, o trabalho dos pesquisadores seria buscar a refutação de teorias previamente elaboradas, testando-as por meio de observações ou experimentos, pos- sibilitando o desenvolvimento da ciência e do conhecimento em geral. A busca do conhecimento, nessa perspectiva, iniciaria com a formulação de hipóteses para resolver os problemas, e con- tinuaria com tentativas de refutação dessas hipóteses por meio de testes que envolvessem observações e experimentos. Se as hipóteses não resistissem aos testes, sendo rejeita- das, seriam elaboradas novas hipóteses, que também seriam testadas. Se a hipótese passasse pelos testes, ela estaria “cor- roborada”, o que seria mais adequado do que o termo “con- firmada”, já que, a qualquer momento, novos testes podem refutá-la. Segundo Popper, se algo não pudesse ser refutado, não se constituiria em domínio da ciência. Na perspectiva popperiana, a produção científica ocorreria de forma inversa à indução, ou seja, a partir da lógica dedu- tiva, partindo de afirmações gerais e amplas e buscando a compreensão de aspectos particulares da ciência. 2.3 Thomas Kuhn Na sua obra “A Estrutura das revoluções Científicas”, Thomas Kuhn (1922-1996) criticou o positivismo lógico e o racionalis- mo crítico de Popper. Segundo Kuhn, o fato de determinadas teorias que foram aceitas em um momento serem substituídas 12 Construção do Conhecimento Científico por outras contrariaria a tese positivista de um desenvolvimen- to indutivo e cumulativo da ciência. Para Kuhn, a ciência se desenvolveria a partir dos paradig- mas, que consistem em realizações científicas universalmente reconhecidas que durante algum tempo fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência. Ao observar um fenômeno científico, segundo Kuhn, o pes- quisador teria em mente os paradigmas que orientariam as suas observações, os métodos empregados e, até mesmo, as possíveis conclusões. Durante o que poderíamos chamar de “vigência” de um paradigma, ocorreria o que ele chamou de ciência normal, na qual os pesquisadores estariam “guiados” por ele. Nesse período, poderiam até surgir anomalias, ou seja, re- sultados discordantes do paradigma, no entanto, elas seriam, muitas vezes, desconsideradas, até que aparecessem anoma- lias significativas que teriam a força de fazer os pesquisadores questionarem os fundamentos da teoria aceita naquele perío- do, chegando a provocar uma crise, com os cientistas deixan- do de acreditar nos paradigmas. Nessa situação os paradigmas poderiam ser alterados, de acordo com as anomalias presentes e com o modo com o qual a comunidade científica as considerar. As mudanças de para- digma caracterizariam as Revoluções Científicas, com mudan- ças radicais nas práticas científicas e na visão de mundo dos pesquisadores. Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 13 2.4 Imre Lakatos Imre Lakatos (1922-1974), filósofo da ciência húngaro, acre- ditava ser possível evitar a refutação total de uma teoria fazen- do modificações em parte das hipóteses, mantendo a objetivi- dade e a racionalidade da ciência. Diferentemente de Karl Popper, para Lakatos, as teorias não seriam modificadas ao longo do tempo de forma com- pleta, já que, certas leis e princípios resistiriam muito tempo às modificações, e o trabalho dos pesquisadores consistiria em proceder com pequenas correções em seus pressupostos bási- cos. A sucessão de teorias, proposta por Lakatos e denomina- da de “metodologia dos programas de pesquisa”, concebe a ciência como a culminância de um processo caracterizado por sucessivas teorias da racionalidade historicamente construída e operacionalizada a partir do conhecimento científico elabo- rado com base em critérios metodológicos. Nessa perspectiva, um programa de pesquisa possuiria um conjunto de teorias com um núcleo em comum, mas diferindo em hipóteses auxiliares, sendo essa uma das principais particu- laridades da filosofia lakatosiana em relação às demais apre- sentadas neste capítulo. 2.5 Paul Feyerabend Para Paul Feyerabend (1924-1994), ao procurar uma obe- diência a regras fixas e padrões imutáveis, os pesquisadores passariam a aceitar apenas hipóteses que se ajustassem às te- orias corroboradas, deixando de lado algumas possibilidades que poderiam ser profícuas, e olvidando os possíveis efeitos 14 Construção do Conhecimento Científico de aspectos presentes no contexto no qual o fenômeno está ocorrendo. Nessa perspectiva, não haveria normas que garantissem o progresso da ciência, ou seja, ela não se diferenciaria com- pletamente de outras formas de conhecimento. A ciência não possuiria nem mesmo um método exclusivo, já que as regras propostas pelos cientistas deveriam ser violadas para que a ciência pudesse se desenvolver. Além disso, para Feyerabend, o fato de existirem múltiplas teorias concorrendo seria acom- panhado da influência de fatores externos à ciência, incluin- do preferências subjetivas e fatores sociais e políticos, tecendo críticas severas ao positivismo lógico e ao criticismo de Karl Popper. A racionalidade, para Feyerabend, estaria presente e vincu- lada a um contexto de condições sociais, entre outros aspec- tos, e não à racionalidade concebida pelos demais filósofos da ciência. Na prática Caro estudante, façamos algumas reflexões: Você acredita na objetividade como algo a ser atingido concretamente pelo pesquisador, ou como um ideal que deve- mos tentar nos aproximar cada vez mais? Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 15 Como você se posiciona em relação aos filósofos da ciên- cia? Você pode escolher apenas um ou pode reunir elementos de mais de um deles. Qual seria o seu grau de objetividade no momento de ana- lisar os seguintes fenômenos do dia a dia?  Uma observação de um profissional da área da Psicolo- gia/Psiquiatria a respeito de algo que você fez.  Um lance de uma partida de futebol que envolveu o seu time.  Os resultados divulgados a respeito de uma pesquisa em relação ao café e a sua influência na saúde das pessoas.  A divulgação de resultados do trabalho da empresa ou instituição na qual você trabalha. Responda a seguinte questão: De que forma as experiências vivenciadas pelo pesquisador (subjetividade) podem (ou não) influenciar em seu trabalho, considerando cada um dos exemplos abaixo. A sua resposta deve ser embasada nos aspectos discutidos ao longo do capí- tulo associados às suas concepções de ciência e ao conheci- mento científico.  o desenvolvimento de uma teoria de aprendizagem es- colar. 16 Construção do Conhecimento Científico  o desenvolvimento de uma teoria relacionada aos as- pectos econômicos e organizacionais que impulsionam uma empresa.  o desenvolvimento de uma teoria relacionada à socie- dade, de forma geral.  o desenvolvimento de uma técnica cirúrgica abdominal.  desenvolvimento de uma máquina para ser utilizada na indústria. Avaliando seu conhecimento 1) Assinale a alternativa abaixo que apresenta o termo de- finido como: “realizações científicas universalmente reco- nhecidas que durante algum tempofornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”. a) Paradigmas b) Teorias c) Hipóteses d) Programas de pesquisa científica e) Refutações Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 17 2) O filósofo da ciência que considerava que as teorias não são modificadas de forma completa, e sim por pequenas modificações realizadas pelos pesquisadores foi: a) Moritz Shlick b) Thomas Kuhn c) Imre Lakatos d) Karl Popper e) Paul Feyerabend 3) Analise as afirmativas a seguir e indique quais exprimem o pensamento do filósofo da ciência Paul Feyerabend. I – A ciência possui um método exclusivo de trabalho que é empregado apenas pelos pesquisadores das diferentes áreas do saber. II – A racionalidade da ciência está vinculada a um contexto específico envolvendo questões sociais, políticas, entre outras. III – A ciência é caracterizada pelo trabalho repleto de objeti- vidade de pesquisadores cuja neutralidade científica garante o progresso científico. A(s) afirmativa(s) correta(s) seria(m) a) Apenas a I b) Apenas a I e a II c) Apenas a II d) Apenas a I e a III 18 Construção do Conhecimento Científico e) A I, a II e a III 4) “A ciência se caracteriza pela racionalidade e pela objetivi- dade obtidas por meio do método indutivo”. Tal afirmação tem semelhança maior com: a) os pressupostos do positivismo lógico ou empirismo lógico; b) o conceito de paradigma de Thomas Kuhn; c) o racionalismo crítico de Karl Popper; d) o programa de pesquisa científica de Imre Lakatos; e) a filosofia de Paul Feyerabend; 5) Um filósofo da ciência afirmou que uma teoria havia sido “corroborada” e não “confirmada”. Fundamentando-se em Karl Popper, por qual razão ele fez tal afirmação? a) Ela pode ser refutada pela realização de novos testes. b) Ela foi construída com base no método da indução. c) Ela foi desenvolvida por métodos qualitativos. d) Ela não possui base empírica. e) Ela não foi confirmada por testes estatísticos. Gabarito 1) A; 2) C; 3) C; 4) A; 5) A. Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 19 Recapitulando Caro aluno, o objetivo deste primeiro capítulo foi apresentar alguns aspectos referentes à ciência e ao fazer científico. Você deve ter observado que há muitas concepções de ciência e de conhecimento científico. Isso é importante para compreender as formas pelas quais os ramos do conhecimen- to se desenvolvem ao longo do tempo, assim como identificar os possíveis fatores que influenciam nesse processo, segundo os estudos da filosofia da ciência. Reitera-se que o importante é você construir a sua concep- ção de ciência e ser altamente criterioso ao avaliar estudos científicos e tomar decisões neles embasados. Mais do que isso, você necessita desenvolver as suas concepções com base em argumentos bens construídos e embasados na literatura, assim como é importante você estar aberto para conhecer outras concepções teóricas, avaliando os pontos positivos a serem adotados e os que podem ser desconsiderados, ou mes- mo, combatidos argumentativamente. Procure sempre conhecer a literatura específica da área na qual você está pesquisando, e procure estudar a respeito de outras áreas que possam lhe auxiliar na construção de sua pesquisa. 20 Construção do Conhecimento Científico Amplie Documentário interessante sobre Ciência e História da Ciência http://www.youtube.com/watch?v=1SgaBosb3-I Site da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência http://www.sbpcnet.org.br/site/ Site do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação http://www.mct.gov.br/ Site da Academia Brasileira de Ciências h t t p : / / w w w . a b c . o r g . b r / r u b r i q u e . p h p 3 ? i d _ rubrique=1&recalcul=oui Site com material sobre ciência – um especial destaque para o item relacionado ao método científico http://www.proficiencia.org.br/ Revista Ciência Hoje – publicação de divulgação científica http://cienciahoje.uol.com.br/ Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia http://www.ibict.br/ Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 21 Sugestões de chat:  Discutir os exemplos apresentados no item “na prática”.  Discutir a seguinte questão: você busca informações científicas para tomar suas decisões em relação à saúde ou à outra área de sua vida? Sugestões de Fórum:  Buscar na literatura diferentes definições de ciência e discuti-las.  Discutir a respeito do posicionamento dos filósofos da ciência a respeito de ciência e conhecimento científico por meio de exemplos práticos de pesquisas realizadas nos mais variados campos do conhecimento.  Discussão do artigo presente no endereço eletrônico: http://www.fae.unicamp.br/revista/index.php/zetetike/article/ view/2747/2451 Referências ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fer- nando. O método nas ciências naturais e sociais – pes- quisa quantitativa e qualitativa. 2 ed. São Paulo: Pionei- ra, 1999. 203 p. 22 Construção do Conhecimento Científico DAL-FARRA, Rossano André. Matemática e educação mate- mática: aproximações epistemológicas, cultura e discursos contemporâneos. Zetetiké, Campinas, v. 18. 2010. Dis- ponível em: http://www.fae.unicamp.br/revista/index.php/ zetetike/article/view/2747/2451. Acesso em 21 Dez. 2013. EL-HANI, Charbel Niño; BIZZO, Nélio Marco Vicenzo. For- mas de construtivismo: mudança conceitual e construtivis- mo contextual. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciên- cias, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 1-25, 2002. Disponível em: http://www.portal.fae.ufmg.br/seer/index.php/ensaio/ article/viewArticle/47. Acesso em: Acesso em 21 Dez. 2013. HENRY, John A Revolução Científica e as Origens da Ci- ência Moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. 152 p. KUHN, Thomas Samuel. A estrutura das revoluções cien- tíficas. 5 ed. São Paulo: Perspectiva. 1997. 257 p. MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. 3 ed. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 1999. 300 p. REGNER, Anna Carolina Krebs Pereira. Feyerabend/Lakatos: “adeus à razão” ou construção de uma nova racionalidade? In: PORTOCARRERO, Vera (org.). Filosofia, história e so- ciologia das ciências: abordagens contemporâneas Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1998. 272 p. SILVA, Marcos Rodrigues da. Um passeio pelas principais correntes da filosofia da ciência. ComCiência, n. 120, 2010. Disponível em: http://www.comciencia.br/comcien- cia/handler.php?section=8&edicao=58&id=740. Acesso em 21 Dez. 2013. Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 23 WERTHEIMER, Michael. Pequena história da Psicologia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1972. (iniciação científica, v. 34). 205 p. Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas, Coleta e Análise de Dados Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 25 Introdução Cada escolha pressupõe uma ou mais renúncias A palavra método se origina de “métodos”, do grego, sig- nificando “caminho para chegar a um fim” (MARCONDES, 1998). E, ao escolher o caminho a ser percorrido, ou seja, ao op- tar por um método, o pesquisador irá determinar os aspectos principais daquilo que irá encontrar em sua jornada investiga- tiva, já que os resultados e as interpretações serão decorrência das escolhas metodológicas e das suas aplicações. Acrescenta-se, ainda, que o fenômeno estudado será com- preendido pelo pesquisador a partir das concepções teóricas e dos procedimentos metodológicos empregados por ele. A literatura apresenta diferentes classificações para abor- dar os aspectos metodológicos utilizados na construção do conhecimento científico. De forma mais ampla, as pesquisas podem ser divididas em:  Pesquisa qualitativa  Pesquisa quantitativa Pesquisa com métodos mistos 26 Construção do Conhecimento Científico Tópico 1 – Tipos de pesquisa 1.1 Pesquisa qualitativa Conforme Patton (1990) uma das vantagens da abordagem quantitativa é a possibilidade de realizar a mensuração de in- formações de muitos sujeitos a um limitado conjunto de ques- tões. Entretanto, as abordagens qualitativas produzem infor- mações detalhadas sobre um pequeno número de pessoas e casos, o que aumenta o entendimento dos sujeitos e das situ- ações estudadas, especialmente pelo fato de proporcionar um olhar “mais profundo” em relação aos posicionamentos dos sujeitos que participaram da pesquisa. A pesquisa qualitativa permite ao pesquisador estudar te- máticas selecionadas em profundidade de detalhes, como, por exemplo, compreender o significado que um evento tem para os sujeitos pesquisados. E os resultados, embora possuam “quantificações” prévias em sua subjacência, não se traduzem como produto final em termos numéricos. Exemplificando: ao analisar textos obtidos com entrevistas feitas com um grupo de indivíduos e verificar que a maior parcela apresentou concep- ções semelhantes a respeito de um determinado assunto, esse aspecto é levado em conta na análise dos dados. Entretanto, a relevância atribuída aos dados, assim como a apresentação dos resultados consistirá, fundamentalmente, na descrição e no aprofundamento do significado dessas concepções em re- lação ao contexto no qual os sujeitos estão inseridos, e não na quantificação destes. Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 27 Em geral, nas pesquisas qualitativas, os pesquisadores des- pendem maior tempo no local de coleta de dados para que possam ser obtidas informações mais detalhadas do contexto e dos dados coletados diretamente com os sujeitos por meio de instrumentos, tais como o questionário. Em alguns casos, são coletadas apenas observações ano- tadas em um caderno de campo, o que depende, obviamente, dos objetivos da investigação e do alcance pretendido com ela. Ao pesquisar em uma escola, por exemplo, a coleta de informações começa “no portão de entrada”, ou mesmo no bairro, ou, ainda, com o contato telefônico com os gestores da escola em relação à disponibilidade e receptividade por parte deles em relação ao processo investigativo. Questões relevantes também podem incluir as observações a respeito das edificações de uma empresa ou instituição, do clima organizacional, ou mesmo da avaliação dos materiais disponíveis na internet ou em impressos disponibilizados pelo estabelecimento. No caso desses documentos, há um interesse ainda em relação ao contexto no qual foram produzidos, em que momento histórico isso ocorreu e que tipos de aspectos podem ter influenciado tal produção. Alguns autores caracterizam as diferentes estratégias que fundamentam as pesquisas qualitativas como vinculadas às perspectivas teóricas que se constituem nos pressupostos sub- jacentes aos métodos empregados no processo investigativo. Não são todas as pesquisas qualitativas que apresentam expli- citamente a adoção de uma estratégia, inclusive pelo fato de cada uma delas possuir pressupostos teóricos que devem ser 28 Construção do Conhecimento Científico seguidos na consecução da pesquisa no momento em que o pesquisador afirma estar adotando-as. Entre as principais es- tratégias apresentadas na literatura, encontram-se a etnogra- fia, a fenomenologia, o interacionismo simbólico e os estudos culturais, entre outras. 1.2 Pesquisa quantitativa O objetivo básico das pesquisas quantitativas consiste, fun- damentalmente, em atribuir aspectos numéricos aos fenôme- nos estudados, realizando descrições quantitativas de variáveis relevantes escolhidas para a análise de um número elevado de dados, o que contribui para a avaliação mais precisa dos resultados. Estudos quantitativos podem ser realizados, por exemplo, para verificar quais escolas obtiveram resultados superiores em testes padronizados como a Prova Brasil, com base na aná- lise de gráficos e tabelas. Os estudos quantitativos também utilizam testes estatísticos inscritos em critérios probabilísticos definidos, na dependência dos objetivos de pesquisa. Entre as potencialidades das abordagens quantitativas, po- demos incluir, entre outras:  a mensuração acurada de uma variável influente sobre algo que vivenciamos;  a possibilidade de realizar comparações entre grupos com base em critérios de significância estatística, como nos casos em que dois medicamentos aplicados a gru- Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 29 pos de pessoas são avaliados em relação à cura de do- enças;  examinar a associação entre variáveis de interesse, tais como a correlação entre idade e consumo;  a modelagem da relação entre variáveis visando verifi- car, por exemplo, a relação específica entre o peso cor- poral e o risco de doenças coronárias. Segundo Castro et al. (2010), verifica-se em muitas pes- quisas quantitativas a utilização de procedimentos que buscam isolar possíveis fatores que possam prejudicar os resultados que se deseja analisar. No entanto, os procedimentos realiza- dos para coletar dados quantitativos podem, em alguns casos, deslocar a informação do seu contexto de origem, o que deve ser visto com cautela por parte dos pesquisadores. Os estudos quantitativos podem lançar mão de testes pa- ramétricos, cujos pressupostos incluem determinados aspec- tos em relação à distribuição dos dados e de estimativas im- portantes relacionadas a ela, ou não paramétricos, nos quais não estão presentes no conjunto de dados pressuposições, tais como distribuição normal e homogeneidade de variâncias, por exemplo. Em alguns estudos, são atribuidos escores de avaliação com valores de 1 a 5, como nas pesquisas que se pretende avaliar a preferência de consumidores por determinados pro- dutos, por exemplo. Nessas situações são aplicados testes não paramétricos. 30 Construção do Conhecimento Científico 1.3 Pesquisas com métodos mistos Uma análise ampla das diferentes áreas do conhecimento permite considerar que a formação de polos opostos entre os “quantitativistas” e os “qualitativistas” tem sido atenuada. Embora haja estudos bem delimitados como qualitativos ou quantitativos, discute-se hoje, segundo Creswell (2007) a pre- sença de maior tendência para o quantitativo do que para o qualitativo, configurando um espaço cada vez maior para as pesquisas com métodos mistos que buscam combinar aborda- gens oriundas de ambos os tipos de pesquisa. Sabendo que os métodos qualitativos e quantitativos possuem vantagens e desvantagens, ambos são estratégias de pesquisa alternativas, mas não mutuamente exclusivas. Conforme Creswell (2007), as pesquisas com métodos mistos podem ser delineadas com procedimentos sequenciais, iniciando com procedimentos qualitativos ou quantitativos, ou ambos podem ser realizados de forma concomitante. O autor aponta ainda que, sendo sequencial ou concomitante, a ênfa- se pode estar mais para o qualitativo ou para o quantitativo. As possibilidades são inúmeras, e podemos exemplificar da seguinte forma:  Você pode realizar uma coleta de dados com um ques- tionário aplicado aos professores de um grupo de esco- las e obter dados quantitativos relacionados ao baixo desempenho dos alunos para então realizar uma entre- vista com alguns docentes visando conhecer de forma mais aprofundada as causas desse baixo desempenho, Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 31 segundo o que resultou da análise quantitativa dos questionários.  A análise dos dados estatísticos de diferentes setores de uma empresa em relação às vendas ocorridas durante um ano de trabalho pode levantar aspectos relevantes para se unir a dados qualitativosobtidos com a aplica- ção de questionários construídos por questões abertas que possibilitem aos colaboradores apresentar as suas percepções em relação ao referido ano.  Realização de entrevistas com jovens que consomem produtos eletrônicos para verificar, inicialmente, os prin- cipais aspectos a serem incluídos no questionário de uma ampla pesquisa quantitativa envolvendo um gran- de número de respondentes. Logicamente, esses são apenas exemplos que podem nor- tear o delineamento de pesquisas com métodos mistos, cujo desenvolvimento dependerá dos objetivos de cada pesquisa e das peculiaridades técnicas inerentes a cada tipo de coleta e análise de dados. Tópico 2 – Coletas de dados 2.1 Informações utilizadas na pesquisa Você pode utilizar fontes variadas na coleta de dados, de acor- do com os seus objetivos e com a disponibilidade de informa- ções. 32 Construção do Conhecimento Científico Buscando favorecer o seu processo investigativo, vamos classificar as informações e os tipos de dados de forma sim- ples e clara, entendendo que, muitas vezes, as classificações resultam de generalizações que não conseguem abarcar a to- talidade das informações disponíveis, ou mesmo podem gerar sobreposições indesejáveis. Salienta-se que, neste tópico, o termo “pesquisa” está relacionado de forma mais simples com o processo de “busca de informações”, e não para designar algo mais amplo como as definições gerais de pesquisa quali- tativa, quantitativa ou pesquisas com métodos mistos. Os principais tipos de informações utilizadas decorrem de: a) Pesquisa documental – utiliza informações que Marco- ni e Lakatos (2007) denominam de fontes primárias, ou seja, documentos oficiais de órgãos públicos, pro- jetos pedagógicos, atas de reuniões, diários pessoais, prontuários médicos, pareceres de especialistas, me- mórias, registros de correspondências, dados do Insti- tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros. Há áreas de pesquisa nas quais são realizadas inves- tigações analisando imagens, incluindo fotografias, anúncios publicitários, ou obras de arte. b) Pesquisa bibliográfica – se refere a material denomi- nado de fonte secundária (MARCONI e LAKATOS, 2007), tais como matérias de jornais, artigos de re- vistas, especializadas ou não, produções audiovisuais, monografias, dissertações, livros, entre outros. Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 33 c) Pesquisa de campo – se refere aos processos nos quais o pesquisador ou membros de sua equipe obtém os dados diretamente, a partir de diferentes técnicas. Elas permitem a obtenção de novas informações a respeito de indivíduos, grupos, instituições, empresas, ou dife- rentes fenômenos em geral. d) Pesquisa de laboratório – pesquisas realizadas com condições controladas pelo pesquisador, em um recin- to fechado, ou não. É claro que no processo investigativo você pode utilizar mais de um tipo de informações, obtidas em fontes diferentes, dependendo daquilo que você deseja conhecer. O importante é que você reconheça as vantagens e as limitações de cada tipo de dado coletado. 2.2 Formas de coletar dados a) Observação e registro em “caderno de campo” – esse processo é muito útil em investigações realizadas em empresas, escolas, instituições e possibilita ao pesqui- sador obter um conjunto de informações que podem ou não ser associadas a registros obtidos com outros tipos de coleta. Marconi e Lakatos (2007) listam diferentes tipos de ob- servação possíveis de ser utilizados nas pesquisas. Destaca-se neste momento a “observação participan- te”, na qual o pesquisador acompanha indivíduos buscando realizar as atividades como se fosse um in- 34 Construção do Conhecimento Científico tegrante do grupo, ao mesmo tempo em que faz ob- servações em seu caderno de campo. b) Questionários – são instrumentos que podem ser apli- cados sem que o pesquisador esteja com os respon- dentes. Tem como vantagem o fato de possibilitar a coleta de um grande número de informações em pou- co tempo. c) Formulários – instrumentos de coleta de dados no qual o pesquisador vai realizando as perguntas que vão sendo respondidas pelos sujeitos. Nesse caso, há a vantagem, tanto em relação à possibilidade de maior preenchimento do instrumento, quanto pela possibili- dade de verificar de que forma o sujeito responde às perguntas, ou seja, as suas reações diante dos ques- tionamentos, conferindo um maior conhecimento em relação aos respondentes e aos dados coletados. Poderá ocorrer ainda uma maior uniformidade nas res- postas, além do fato de possibilitar a utilização desse instrumento independentemente do grau de instrução do respondente. No entanto, a presença do pesquisa- dor ou de quem coleta os dados pode influenciar os resultados, e esse é um aspecto que você deve levar em consideração em determinados estudos. d) Entrevista – a entrevista é realizada pelo pesquisador diretamente com o respondente. Ela pode ser deno- minada de estruturada, quando há um conjunto es- pecífico de perguntas a serem feitas e apenas elas, não estruturada, quando as perguntas vão sendo feitas Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 35 pelo pesquisador ao longo da entrevista, ou semiestru- turada, na qual há um roteiro que pode ser modifica- do ao longo da entrevista com a inserção de algumas perguntas. Lembre-se que há muitas possibilidades de obter dados em fontes que os disponibilizam e que podem ser transformados por meio de tabulações e análises que você pode realizar. Há instituições, órgãos públicos e empresas que disponibilizam dados que você pode utilizar e, com criatividade, construir pes- quisas relevantes, desde que haja confiabilidade na fonte de origem dos registros utilizados. Portanto, você pode coletar dados de diversas origens, in- cluindo fotografias, dados históricos referentes a depoimentos de diferentes sujeitos, estatísticas oficiais, relatórios, entre ou- tras possibilidades. 2.3 Tipos de questões Os instrumentos de coleta de dados utilizados podem conter, entre outros, os seguintes tipos de questões: a) Questões abertas – permitem maior liberdade ao res- pondente, já que não há opções de respostas.  O que você entende por interdisciplinaridade?  Como são as relações interpessoais dentro do setor no qual você trabalha? b) Questões dicotômicas 36 Construção do Conhecimento Científico  Você já atua como professor? ( ) sim ( ) não Esse tipo de questão pode ser acompanhado de uma so- licitação visando aprofundar a resposta, tal como: “Quanto tempo:_________________”. c) Questões com múltipla escolha  Qual é o principal problema de aprendizagem em sua escola? a) dificuldades cognitivas b) dificuldades de concentração c) falta de material d) problemas sociais Podem ser combinadas essas formas de elaboração com questões do tipo:  Qual foi o motivo do seu pedido de demissão? a) mudança de endereço b) consegui outro emprego c) passei em um concurso d) questões de ordem particular e) outro. Qual?____________________ Uma possibilidade importante é a utilização de escalas, nas quais o respondente pode indicar a intensidade de sua concordância ou a sua apreciação a respeito de uma deter- Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 37 minada questão proposta. Nesse caso, podem ser oferecidas respostas com 3, 5 ou 7 itens, por exemplo. Rensis Likert (1903-1981) foi um pesquisador muito impor- tante no desenvolvimento de escalas com base em estudos no âmbito da Administração. Por essa razão, utiliza-se em muitos estudos o que se denomina de Escala Likert. Considerando as peculiaridades e os processos históricos de cada escala, esse texto não vai realizar um aprofundamento teórico relacionadoà dimensão conceitual envolvida nesse âmbito, apenas apre- sentar um exemplo e suas aplicações na Figura 1. Figura 1 Exemplo de escala Assinale uma das respostas para cada questão proposta Questão Discordo totalmente 1 Discordo 2 Não concordo nem discordo 3 Concordo 4 Concordo totalmente 5 O Brasil oferece condições adequadas para o empreendedorismo A legislação brasileira para a criação de empresas é clara Fonte: o autor desta obra. Podem ser utilizados também os itens:  péssimo, ruim, nem bom nem ruim, muito bom, ótimo; 38 Construção do Conhecimento Científico  desaprovo totalmente, desaprovo, não aprovo nem de- saprovo, aprovo, aprovo totalmente. A análise de dados dessa natureza pode ser feita com base na obtenção dos percentuais de respondentes que assinalou cada item. O pesquisador pode, ainda, analisar os dados após somar os percentuais obtidos para os itens 1 e 2 e os percentu- ais obtidos para 4 e 5. Outra possibilidade consiste no cálculo da média e do desvio padrão obtidos para cada questão. Em cada uma das possibilidades há benefícios e limitações, e sua escolha dependerá dos objetivos da investigação realizada. Com relação à construção de questões, procure redigi-las de forma a endereçar a resposta para o que você deseja estu- dar, evitando que o instrumento de coleta de dados seja inde- sejavelmente tendencioso. Marconi e Lakatos (2007) apresentam resultados interes- santes obtidos com perguntas que conduziam os respondentes para o direcionamento dos resultados. Por essa razão, é im- portante você observar os dados apresentados pelas autoras: Você acha que os EUA deveriam permitir discursos públicos contra a democracia? Resultados: Deveriam permitir – 21% Não deveriam permitir – 62% Não deram opinião – 17% Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 39 Você acha que os EUA deveriam proibir discursos públicos contra a democracia? Resultados: Deveriam proibir – 39% Não deveriam proibir – 46% Não deram opinião – 15% Segundo as autoras, a melhor pergunta, nesse caso, seria: Você acha que os EUA deveriam permitir ou proibir discur- sos públicos contra a democracia? ATENÇÃO – após construir um instrumento de coleta de dados, faça o que denominamos de “piloto”, ou seja, aplique previamente o instrumento a um pequeno grupo de indivíduos com características semelhantes ao grupo no qual este será aplicado na realização da pesquisa. Esse procedimento pos- sibilitará testar as questões, possibilitando inclusões, exclusões ou modificações relevantes. Outro aspecto importante se refere ao que denomina-se de polissemia, ou seja, o fato de uma palavra possuir mais de um significado, dependendo do grupo em questão, ou mesmo dentro de um mesmo grupo. Por essa razão, procure elaborar e analisar os dados obtidos com atenção e, principalmente, cautela. 40 Construção do Conhecimento Científico Tópico 3 – Análise dos dados 3.1 Análises quantitativas Em relação aos dados quantitativos, podem ser utilizadas as ferramentas da Estatística Descritiva e/ou da Estatística Infe- rencial. A Descritiva, como sugere o próprio nome, tem por fina- lidade descrever o conjunto de dados de que se dispõe por meio da utilização de tabulações e representações numéricas ou gráficas. De forma prática, são utilizados gráficos tais como o apre- sentado na Figura 2 ou tabelas (Tabela 1). Figura 2 Número de nascidos vivos no Brasil em 2012 150.000 170.000 190.000 210.000 230.000 250.000 270.000 Fonte: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/regciv/default.asp?z=t&o=27&i=P Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 41 Tabela 1 Número de nascidos vivos no Brasil de 2008 a 2012 Local de nascimento 2008 2009 2010 2011 2012 Hospital 2.754.975 2.723.532 2.728.249 2.790.342 2.799.643 Domicílio 37.410 34.535 27.484 26.822 23.156 Outro local 3.246 3.763 3.953 5.301 6.266 Ignorado 2.411 2.812 1.275 2.311 1.393 Fonte: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/regciv/default.asp?z=t&o=27&i=P Pode ser utilizada ainda a descrição de parâmetros obti- dos no estudo, incluindo medidas de tendência central (média, moda e mediana) e medidas de variabilidade ou de dispersão, como o desvio padrão e a variância. O exemplo a seguir demonstra a importância de incluir uma medida de variabilidade nos dados. A Tabela 2 apresenta os dados do patrimônio líquido dos três primeiros colocados pela divulgação da Forbes em 2014 junto aos dados do autor desta obra. 42 Construção do Conhecimento Científico Tabela 2 Relevância das medidas de variabilidade Pessoa/família Patrimônio líquido (bilhões de dólares) 1º. Carlos Slim Helu e família (México) 73,0 2º. Bill Gates (Estados Unidos) 67,0 3º. Amâncio Ortega (Espanha) 57,0 4º. Eu 0,0 Média aritmética (incluindo 1º, 2º e 3º) Desvio padrão (incluindo 1º, 2º e 3º) Média aritmética (incluindo 1º, 2º, 3º e 4º) Desvio padrão (incluindo 1º, 2º, 3º e 4º) 64,3 8,1 49,3 33,5 Fonte:http://www.forbes.com/billionaires/list/#page:1_sort:2_direction:desc_ search:_filter:All%20industries_filter:All%20countries_filter:All%20states Veja que, ao me incluir no grupo, houve uma renda média de aproximadamente 50 bilhões de dólares, mas com um des- vio padrão de 33 bilhões, um valor próximo à própria média, diferentemente do que ocorreu com os dados dos três primei- ros (8,1 bilhões). Em alguns estudos, utilizam-se as separatrizes, buscando segmentar o conjunto de dados para melhor compreensão dos mesmos. Nesse caso, tal como ocorre com a mediana, o con- junto de dados é dividido em intervalos iguais. Dependendo do conjunto de informações, optamos por quatro (quartis), dez (decis) ou cem (percentis) partes. Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 43 0 25% 50% 75% 100% Primeiro quarto Quarto inferior Segundo quarto Terceiro quarto Quarto Quarto Quarto superior P25 P50 P75 P25 = percentil 25 – divide o primeiro e o segundo quartos P50 = percentil 50 – divide os dados em dois conjuntos, o inferior e o superior P75 = percentil 75 – divide o terceiro e o quarto quartos Com as separatrizes, é possível verificar o que um determi- nado dado representa em relação ao total. Para exemplificar, apresentamos os percentis de Índice de Massa Corporal (IMC) de adolescentes do sexo feminino no Brasil com idade de 15 anos em 1989 (ANJOS et al., 1998): Primeiro quarto Segundo quarto Terceiro quarto Quarto Quarto P25=19,0 P50=20,6 P75=22,5 Verifica-se que no quarto inferior da população (correspon- dendo aos 25% com menor peso) estavam adolescentes com até 19,0 de IMC. Há inúmeras ferramentas da Estatística Descritiva que possi- bilitam organizar os dados de forma mais simples para a com- preensão por parte dos pesquisadores e leitores. Recomenda- -se que você recorra à literatura, tanto em relação aos livros técnicos de Estatística, quanto à leitura de artigos que aplicam tais ferramentas, buscando inspiração para o seu trabalho. 44 Construção do Conhecimento Científico Já a Estatística Inferencial procura realizar inferências so- bre uma população a partir dos resultados obtidos com uma amostra dela. Realizar inferências consiste em afirmar algo em decorrência de sua ligação com outras informações reconhe- cidas como corretas. Nesse contexto, são utilizadas técnicas que possibilitam calcular o tamanho da amostra para que ela se torne repre- sentativa da população, assim como a confiança inerente às estimativas e a significância estatística dos resultados, entre outros aspectosassociados ao caráter probabilístico envolvido em cada procedimento. Ao realizar uma pesquisa eleitoral, por exemplo, os ins- titutos analisam um cenário da eleição em termos de país, inferindo a partir de dados de uma amostra de indivíduos que representariam a população brasileira em termos de sexo, fai- xa etária, perfil socioeconômico, entre outros aspectos que possam influir nas decisões dos eleitores. Diante desses aspectos, é importante que você estude os pressupostos teóricos envolvidos, assim como as possíveis apli- cações dos testes estatísticos. Entretanto, a indicação precisa do teste a ser utilizado para os dados coletados; pode ser ob- tida de forma mais acurada com profissionais da área, já que cada procedimento possui pressuposições teóricas, limitações e aplicações de conhecimento específico de especialistas des- se campo do conhecimento. A título de exemplo, apresenta-se na Tabela 3 os dados de Proença et al. (2013) que buscaram verificar a significância es- tatística de notas atribuídas por estudantes em relação à parti- Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 45 cipação do ser humano em questões ambientais apresentadas em seminários por seus colegas. Os dados foram agrupados em onze categorias, sendo ob- tida uma média e um desvio padrão das notas e aplicando o teste não paramétrico de Friedmann. Letras diferentes indicam diferenças altamente significativas. Tabela 3 Médias e desvios padrões em cada categoria Categoria Média Desvio-padrão Valores 4,56a 0,42 Ser Humano 4,49ab 0,41 Poluição 4,36b 0,48 Resíduos sólidos 4,34b 0,54 Água 4,34b 0,48 Alimentos 4,11c 0,79 Ensino 4,07c 0,61 Questões Sociais 4,02c 0,66 Desenvolvimento Sustentável 3,97c 0,64 Natureza 3,90c 0,88 Animais 3,62c 1,35 Fonte: Proença et al. (2013) A partir dos resultados, foi verificado que a categoria “va- lores” obteve a maior média. Embora ela não tenha sido esta- tisticamente diferente em termos estatísticos da média da cate- 46 Construção do Conhecimento Científico goria “ser humano”, por ambas possuírem letras iguais (“a”), ela foi diferente estatisticamente das demais categorias, con- siderando um nível de significância de 1% ou seja, p < 0,01. Foi verificado, ainda, que as médias das categorias “ali- mentos”, “ensino”, “questões sociais”, “desenvolvimento sus- tentável”, “natureza” e “animais” não apresentaram diferenças significativas entre sí, embora possuam magnitudes inferiores às demais, incluindo as categorias de “valores” com 4,56 até “água” com 4,34. Veja que um teste dessa natureza possibilita uma definição mais precisa das informações, já que é possível diferenciar va- lores que parecem muito semelhantes, mas que, estatistica- mente, possuem diferenças significativas. Conforme vimos anteriormente em relação às médias de patrimônio líquido, as medidas de variabilidade possibilitam conhecer melhor as informações de um conjunto de dados o que não pode ser obtido pela simples observação das médias. No caso específico, os desvios-padrão das categorias torna- ram as diferenças não significativas. Os testes estatísticos representam ferramentas altamente relevantes em análises de resultados de pesquisas desde que sejam interpretados de forma criteriosa no que tange aos pres- supostos teóricos envolvidos e aos temas investigados. Proença (2010) realizou um estudo apresentando imagens de plantas a 151 estudantes do ensino fundamental pergun- tando se essas eram espécies nativas ou exóticas. A Tabela 4 demonstra os resultados obtidos com três espécies analisadas com o Teste Binomial, empregados em casos nos quais há Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 47 respostas dicotômicas (nativa ou exótica). Quanto maior a di- ferença entre os percentuais de respostas certas e de respostas erradas, menor será o valor da probabilidade, indicando que a chance dos acertos serem semelhantes aos erros é menor. Entretanto, o nível de significância escolhido é de 5%. Por essa razão, diferenças significativas entre respostas certas e respostas erradas ocorrem apenas nos casos em que a proba- bilidade encontrada for menor do que 0,05. Tabela 4 Respostas obtidas com os estudantes analisados com Teste Binomial Espécie Percentuais obtidos Probabilidade e interpretação FIGUEIRA Respostas certas = 89,4% Respostas erradas = 10,6% p = 0,000 Diferença estatisticamente significativa. JACARANDÁ- MIMOSO Respostas certas = 43,7% Respostas erradas = 56,3% p = 0,143 Diferença não significativa. INGÁ Respostas certas = 41,7% Respostas erradas = 58,3% p = 0,051 Diferença não significativa, embora muito perto da significância. Segundo o teste, a maior parcela dos estudantes identificou corretamente que a figueira é uma espécie nativa. Quanto ao jacarandá-mimoso, as diferenças não foram significativas, ou 48 Construção do Conhecimento Científico seja, não há como afirmar, pelos resultados do teste, que os percentuais de acertos e erros foram estatisticamente diferentes para essa espécie. No caso do ingá, os resultados do teste indicaram uma diferença não significativa. Nesse caso, pode ser feita uma menção no texto com a respectiva ressalva de não haver sig- nificância estatística. As associações entre as variáveis também podem indicar aspectos muito interessantes a serem analisados com base na correlação entre elas. A Tabela 5 apresenta estimativas de correlação obtidas en- tre as médias do Exame Nacional de Desempenho dos Estu- dantes (ENADE) dos alunos do início do curso (ingressantes) e do final do curso (concluintes) de cada curso de Matemática que realizou o exame no ano de 2008. No ENADE, os alunos respondem a questões relacionadas à formação geral e à formação específica, nesse caso, relacio- nada com a Matemática. Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 49 Tabela 5 Correlação entre médias de ingressantes e concluintes – Curso de Matemática – ENADE 2008 Variáveis Correlação Formação Geral dos Iniciantes e Formação Geral dos Concluintes 0,42 Formação Específica dos Iniciantes e Formação Específica dos Concluintes 0,58 Fonte: http://www.inep.gov.br Verifica-se a presença de uma maior associação entre as médias obtidas na formação específica do que na formação geral. Esse resultado aponta que houve uma maior “seme- lhança” entre as médias obtidas dentro de cada curso para a formação específica dos seus ingressantes e concluintes do que para a formação geral. 3.2 Análises qualitativas Ao trabalhar com dados qualitativos, podem ser utilizados di- ferentes tipos de análise. No presente caso, serão abordadas a Análise de Conteúdo e a Análise de Discurso. 3.2.1 Análise de conteúdo A Análise de Conteúdo representa um método de análise de texto que busca produzir uma descrição objetiva e sistemática do conteúdo presente nos instrumentos de coleta de dados, 50 Construção do Conhecimento Científico sejam questionários, resultados de entrevistas ou outros dados de natureza qualitativa. Bardin (2006) indica inicialmente a realização de uma pré-análise das respostas com a numeração progressiva dos respondentes, para então serem observados os dados perten- centes a cada questão formulada no instrumento de coleta de dados, que pode ser o roteiro de uma entrevista ou um ques- tionário ou formulário contendo questões abertas. Com base nessa análise prévia, são construídas as categorias que repre- sentam os aspectos mais relevantes encontrados nos dados. Tais categorias emergem dos principais aspectos relacio- nados ao tema pesquisado. Os resultados passam então por uma tabulação com base na observação das tendências mais relevantes encontradas nos dados segundo as regularidades no que tange à presença de respostassemelhantes oriundas de diferentes sujeitos integrantes da pesquisa. É importante considerar também as condições de produção dos textos em relação ao contexto no qual eles foram produzidos, tanto em relação ao momento histórico, quanto em relação ao local e aos aspectos que o caracterizam. A categorização decorre de uma análise realizada por meio da diferenciação e, posteriormente, por reagrupamento, conforme os critérios previamente definidos pelo pesquisador. Para Bardin (2006), as boas categorias possuem:  exclusão mútua: cada elemento deve estar em apenas uma divisão; Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 51  homogeneidade: as categorias devem ser homogêneas e construídas por um único princípio de classificação;  pertinência;  objetividade e fidelidade;  produtividade: devem fornecer resultados que possibili- tem uma boa análise dos dados. A título de exemplo, apresenta-se aqui uma possibilidade de Análise de Conteúdo a partir da análise da seguinte per- gunta apresentada em um questionário: Qual foi o motivo que levou você a cursar uma Pós-Graduação? Salienta-se que esse é um exemplo construído com fins di- dáticos, não sendo resultante de coleta e análise concreta de dados. A ordem proposta para a apresentação dos resultados do trabalho foi: 1) A apresentação das categorias e a quantificação dos re- sultados em tabela, com o agrupamento de dois tipos de respostas consideradas semelhantes (Tabela 6). 2) A discussão dos principais resultados, com exceção do item denominado de “respostas inespecíficas”, nos quais os respondentes fugiram da temática principal solicitada. 3) Posteriormente, são apresentados os dados obtidos na li- teratura (nesse caso, fictícia) que são relacionados ao as- sunto. 52 Construção do Conhecimento Científico Tabela 6 Motivo da opção por curso de Pós-Graduação Motivo para cursar Pós-Graduação n (%) Crescimento profissional/maior ganho salarial 20 (50,0) Obter maior conhecimento técnico 5 (16,6) Aprendizado para a vida pessoal 3 (10,0) Respostas inespecíficas 2 (6,7) Fonte: autor desta obra. Verifica-se que a maior parcela dos estudantes alegou mo- tivos profissionais para realizar o curso, especialmente a ques- tão de crescimento profissional e do aumento salarial aponta- da por 20 respondentes (50%) e, ainda, a perspectiva de obter maior conhecimento técnico (16,6%). As questões relaciona- das ao crescimento de âmbito pessoal foram elencadas por uma parcela menor de respondentes (10%). Pesquisas realizadas apontam que o crescimento profis- sional se constitui em fator relevante na busca por um cur- so de especialização (RUAS e COMINI, 2007), em virtude do crescente número de profissionais titulados ocupando cargos importantes nas empresas. Já ao entrevistar profissionais da área da educação, verificou-se que os motivos alegados fo- ram preponderantemente relacionados com a satisfação pes- soal oriunda da possibilidade de trabalhar com crianças na pré-escola. Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 53 3.2.2 Análise de discurso Não há apenas uma perspectiva relacionada à análise de dis- curso, cada uma delas está associada a pressupostos teóricos específicos. Segundo Gill (2008) o termo “discurso” é utilizado para se referir a todas as formas de falas e de textos escritos, sen- do analisados na busca de compreender o que os influencia, interpretando o discurso segundo o contexto no qual os textos foram produzidos. Gill (2008) sugere que, na Análise de Discurso você faça, inicialmente, uma procura por um padrão de dados, encon- trando diferenças entre os textos de diferentes sujeitos, verifi- cando a predominância de informações no conjunto de dados. Ao longo da análise, você encontrará os principais assun- tos mencionados pelos respondentes, relacionando-os com os seus objetivos de pesquisa. Lembre-se de que é importante você apontar “o que é dito”, ou seja, as presenças de assuntos nos textos, mas tam- bém “o que não é dito”, ou seja, as ausências, no caso de não terem sido aventados aspectos que você julga importante na sua pesquisa. Uma forma de analisar dados dessa natureza consiste em encontrar os grandes temas que emergem dos dados resultan- tes de questionários, ou de respostas a entrevistas, por exem- plo, e discutindo-os segundo: o que dizem os respondentes, a interpretação do pesquisador e os dados de literatura. Você pode apresentar os resultados da seguinte forma: 54 Construção do Conhecimento Científico 1) Inicialmente, você comenta a respeito das questões formu- ladas, sem necessariamente repetir a pergunta: Os profissionais foram questionados em relação ao seguin- te aspecto: “O que você entende por saúde?” 2) Então você pode comentar a predominância das respos- tas, assim como respostas que, mesmo ocorrendo com menor frequência, sejam importantes de serem apresenta- das. Isso acontece quando um pequeno grupo de sujeitos aponta aspectos muito importantes pela sua pertinência, sendo relevantes para a análise. A maior parcela dos respondentes mencionou estritamente questões ligadas à saúde física, não apresentando aspectos relacionados à saúde mental. Entretanto, um dos respondentes centrou a sua resposta na importância da meditação para a promoção da saúde física e mental. 3) Você discute os resultados com dados da literatura: A Organização Mundial da Saúde com a Resolução publi- cada na Emenda da Constituição de 7 de abril de 1999 apre- senta como conceito de Saúde a seguinte expressão: Saúde representa um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social. Há perspectivas teóricas, como a dos Estudos Culturais, que analisa discursos por meio de imagens, verificando, entre outros aspectos, as questões culturais envolvidas na produção de fotografias, anúncios publicitários, entre outros materiais denominados, dentro dessa perspectiva, de artefatos culturais. Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 55 Analisando matérias jornalísticas relacionadas a animais, Dal-Farra (2006) estudou os discursos emanados das imagens e das falas de jornalistas e entrevistados segundo a perspectiva dos Estudos culturais. Em tais estudos, procura-se observar o âmbito cultural envolvido no que tange aos significados atribu- ídos aos animais no contexto em questão. Há inúmeras possibilidades de análises de dados qualita- tivos e, mais uma vez, sugere-se que você observe estudos já realizados em Dissertações, artigos e Teses para inspirar a construção do seu projeto e as posteriores coleta e análise de dados, sendo os exemplos apresentados nesta obra apenas algumas dentre as abordagens utilizadas na literatura acadê- mica. Reiterando que as classificações apresentadas pelos auto- res direcionados à pesquisa são diferentes, dependendo da perspectiva teórica em questão, apresentamos algumas pos- sibilidades que podem contribuir para o seu processo investi- gativo. Pesquisa-ação – representa uma abordagem na qual o pesquisador busca solucionar um determinado problema que se torna o seu objeto de estudo. Em sua realização, ela se ca- racteriza por uma ação cooperativa entre os pesquisadores e os participantes, interagindo durante o processo de pesquisa. Grupos focais – realizada a partir da reunião de um gru- po reduzido de indivíduos com determinadas características, gerando informações registradas pelo pesquisador que acom- panha um processo informal de discussão a respeito de uma temática. 56 Construção do Conhecimento Científico Triangulação – a triangulação representa uma abordagem metodológica que pode envolver os seguintes aspectos:  dados coletados, considerações do pesquisador e da- dos da literatura;  dados obtidos por pesquisadoresdiferentes e dados da literatura;  informações qualitativas coletadas pelo pesquisador por meio de instrumento de coleta de dados, informações quantitativas coletadas pelo pesquisador por meio de instrumento de coleta de dados e informações obtidas por meio de revisão bibliográfica. Com relação aos critérios de avaliação de pesquisas, são utilizadas, entre outros aspectos, a fidedignidade, relacionada com a possibilidade de repetição das técnicas e obtenção de dados semelhantes e com a precisão das medidas, e a valida- de, relacionada com o seguinte aspecto: o instrumento está de fato medindo o que se supõe que esteja medindo? Na prática Durante minha trajetória acadêmica obtive formação no âm- bito da Biologia, de forma ampla, posteriormente realizando mestrado em uma área da Genética que utiliza maciçamente a Estatística e os procedimentos quantitativos em geral, quando tive a oportunidade de aprofundar meus conhecimentos sobre a construção de modelos matemáticos e suas aplicações. Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 57 Posteriormente, após um longo período de publicações na área biológica e suas ramificações, busquei uma formação nas Ciências Humanas, área que já estava estudando muito, desenvolvendo no doutorado uma abordagem qualitativa. Atualmente, após mais de duas décadas como pesquisa- dor, posso dizer que as atividades investigativas possuem na questão metodológica o grande ponto de discussão no âmbito acadêmico e profissional. E nesse aspecto, todas as aborda- gens podem ser profícuas na busca de respostas aos proble- mas de pesquisa, basta que você escolha adequadamente os procedimentos e os pressupostos teóricos envolvidos. Diante de tal perspectiva, sugiro que você faça uma busca na Internet em relação a artigos, Dissertações e Teses digitan- do os possíveis procedimentos metodológicos que você deseja utilizar. Com esse procedimento você pode verificar as melho- res formas de realizar suas pesquisas. Avaliando seu conhecimento 1) Assinale a alternativa que apresenta uma definição aproxi- mada para “pesquisas com métodos mistos”. a) Pesquisas realizadas com sujeitos de origens diferentes em relação à nacionalidade, faixa etária ou aspectos sociais. b) Pesquisas que misturam análises envolvendo estatística descritiva e estatística inferencial. 58 Construção do Conhecimento Científico c) Pesquisas que misturam análises de discurso com aná- lises de conteúdo. d) Pesquisas envolvendo abordagens qualitativas e abor- dagens quantitativas. e) Pesquisas com dados coletados por pesquisadores di- ferentes. 2) Como se denomina o ramo da estatística dedicado à apre- sentação de dados por meio de tabulações e representa- ções numéricas ou gráficas? a) Estatística Descritiva b) Estatística Inferencial c) Estatística probabilística d) Estatística padronizada e) Estatística amostral 3) Ao apresentar um conjunto de dados, um profissional in- formou que a média aritmética de idade de um grupo de pacientes era de 35 anos. Entretanto, para conhecer me- lhor o grupo, você precisaria ter outra informação relacio- nada à variabilidade ou dispersão dos dados. Nesse caso, você solicitaria, preferencialmente: a) a mediana; b) a moda; c) o menor valor; Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 59 d) o maior valor; e) o desvio padrão; 4) Ao elaborar uma questão de um questionário destinado a conhecer a opinião de um consumidor que testou um produto de limpeza, um profissional elaborou a seguinte pergunta: Você considera que o produto foi adequado ou inadequado para a limpeza de sua cozinha? Analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta em re- lação a elas considerando o proposto por Marconi e Laka- tos (2007). I – A questão está mal formulada, porque induz o respondente a aprovar o produto. II – A questão está difícil de ser respondida por estar na forma de pergunta. III – A questão está bem formulada por possibilitar ao respon- dente o positivo e o negativo da avaliação. A(s) afirmativa(s) correta(s) seria(m): a) Apenas a I b) Apenas a IIII c) A I e a III d) A II e a III e) A I, a II e a III 60 Construção do Conhecimento Científico 5) Assinale a alternativa abaixo contendo um item que não corresponde aos critérios para analisar boas categorias se- gundo Bardin (2006) na Análise de Conteúdo: a) exclusão mútua; b) objetividade; c) pertinência; d) categorias iguais entre si; e) produtividade; Gabarito: 1) D; 2) A; 3) E; 4) B; 5) D Recapitulando Caros alunos, este capítulo apresentou o ponto mais delicado da elaboração e da execução de processos investigativos: as questões metodológicas. Inicialmente, o capítulo foi dividido em três grandes grupos de tipos de pesquisa, apresentando a seguir as informações a serem utilizadas, a coleta e a análise de dados. O capítulo teve um enfoque prático preponderante em re- lação aos aspectos teóricos. Entretanto, ratifica-se que, para realizar processos investigativos qualificados, é necessário que você aprofunde as leituras utilizando a bibliografia indicada, Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 61 além de materiais que abordem a pesquisa na área específica na qual a investigação será realizada. Veja que cada área e, mesmo cada linha de pesquisa den- tro de uma área, aborda as questões metodológicas de forma distinta, embora todas elas tenham em comum a necessidade de obedecer aos preceitos procedimentais e aos pressupostos teóricos adotados. Lembre-se, conforme a epígrafe que inicia este capítulo, que, ao fazer escolhas metodológicas, você deverá fazer algu- mas renúncias, em virtude dos pressupostos teóricos implícitos a cada abordagem metodológica. No capítulo seguinte, será apresentado um roteiro de ela- boração do projeto de pesquisa e sugestões para a realização de processos investigativos de âmbito científico. Amplie Há programas que possibilitam a análise de dados qualitativos e dados quantitativos e que podem contribuir para as análises de dados. Entretanto, eles requerem uma capacitação ade- quada em relação aos benefícios e limitações associadas a eles. - Você pode encontrar boas dicas de aplicações de pesqui- sa nos seguintes vídeos: 62 Construção do Conhecimento Científico http://www.youtube.com/watch?v=-Wm9cxiXUe0 http://www.conre3.org.br/novo_site/?q=content/ estat%C3%ADstica-em-v%C3%ADdeos Referências ANJOS, Luiz Antônio dos; VEIGA, Glória Valéria da; RUGA- NI, Ribeiro de Castro. Distribuição dos valores do índice de massa corporal da população brasileira até 25 anos. Rev Panam Salud Publica, v. 3, n. 3, 1998. BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2006. 223 p. BAUER, Martin. W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitati- va com texto, imagem e som: um manual prático. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2008. 516 p. BOGDAN, Robert C.; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto, 1994. 336 p. GONZÁLEZ CASTRO, Felipe et al. A Methodology for con- ducting integrative mixed methods research and data analy- ses. Journal of Mixed Methods Research, v. 4, n. 4, p. 342–360, 2010. Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 63 CHARMAZ, Kathy. A construção da teoria fundamenta- da: guia prático para análise qualitativa. Porto Alegre: Art- med, 2009. 272 p. CRESSWELL, John. W. Projeto de pesquisa: métodos qua- litativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 248 p. DAL-FARRA, Rossano André. A tênue linha que divide o ur- bano e o ambiente natural: os animais invasores/invadidos. Acta Scientiae, Canoas, v.8, n.1, p. 85 – 94, jan./jun., 2006. FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa.
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