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livro de construção do conhecimento

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Construção do 
Conhecimento 
Científico
Construção do 
Conhecimento 
Científico
Rossano André Dal-Farra
Ao olhar para o exterior, percebemos aquilo que tem ressonância com o 
nosso interior.
Prezado leitor, constantemente você está observando tudo o que ocorre 
no seu entorno.
Os fenômenos climáticos, o comportamento das pessoas, ou mesmo 
os cenários globais são continuamente analisados, buscando tirar conclu-
sões que possam orientar as suas ações em cada situação vivenciada.
Mas vamos refletir um pouco:
Ao tomar as suas decisões, você está utilizando o pensamento científi-
co? Ou será que utiliza o que uma parcela de pesquisadores denomina de 
“senso comum”?
Independente do posicionamento de cada um, o estudo dos processos 
teóricos subjacentes à construção do conhecimento científico possibilita ao 
leitor uma melhor compreensão em relação às formas pelas quais as infor-
mações são produzidas e como elas circulam na sociedade.
Da mesma forma, conhecer os processos relacionados à ciência favo-
rece a construção de um novo olhar sobre o mundo que o rodeia, assim 
como fornece “lentes” pelas quais você passará a observar os fenômenos 
sob o enfoque daquilo que estuda.
Diante desse desafio, a proposta deste livro é contribuir para que você 
construa seu conhecimento com base nas diferentes perspectivas encon-
tradas na literatura que trata dessa temática. Para essa finalidade, a obra 
foi dividida em quatro capítulos: o primeiro tenciona apresentar a ciência 
Apresentação
iv Apresentação
e os seus pressupostos básicos segundo diferentes concepções que a cons-
tituem; o segundo é dedicado aos pressupostos teóricos que embasam a 
construção das pesquisas científicas. Já o terceiro consiste em um guia de 
apoio para a elaboração e a execução de projetos de pesquisa e o quarto 
aborda as questões referentes à redação científica e às normativas ineren-
tes aos trabalhos dessa natureza.
Mais do que um manual de instruções, esta obra é um roteiro de via-
gem para o desenvolvimento de um processo ativo de construção de pes-
quisas e para a adoção de métodos apropriados de abordagem científica 
diante dos temas a serem pesquisados pelo leitor. Logicamente, cada as-
sunto tratado poderá ser aprofundado com leituras complementares, cuja 
necessidade será determinada pelas investigações a serem realizadas.
Que você tenha uma grande jornada ao longo da leitura, e que cada 
palavra que a compõe possa lhe auxiliar na busca de respostas às suas 
indagações, mas também se constitua em impulso para o surgimento de 
novos questionamentos.
Atenciosa e fraternalmente,
Rossano André Dal-Farra
 1 Ciência e Construção do Conhecimento: 
uma Apresentação ................................................................1
 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas, Coleta e 
Análise de Dados ................................................................24
 3 Elaborando Projetos de Pesquisa .........................................66
 4 Redação Científica: Preceitos Gerais e Normas Técnicas ......96
Sumário
Capítulo 1
Ciência e Construção 
do Conhecimento: uma 
Apresentação
2 Construção do Conhecimento Científico
Introdução
O que é ciência?
O que fazem os cientistas?
Eu posso fazer ciência no meu dia a dia?
Essas questões talvez não possuam respostas tão simples 
como você gostaria. Por essa razão, o objetivo deste capítulo 
é contribuir para o desenvolvimento dos seus posicionamentos 
em relação ao fazer científico, objetivando facilitar um proces-
so de ressonância entre as suas concepções e algumas facetas 
do mundo da ciência.
Mais precisamente, este texto irá auxiliá-lo no momento de 
embasar as suas argumentações durante o processo de ela-
boração, construção e apresentação de estudos científicos, 
mesmo que, para isso, seja necessário realizar uma constante 
reconstrução de suas convicções a respeito daquilo que esteja 
investigando.
Tópico 1 – Ciência e construção científica
O termo Ciência provém de “scientia”, significando conheci-
mento. Medawar (2005) acrescenta que a palavra também é 
empregada para designar um corpo de conhecimentos produ-
zido e sistematizado pelo ser humano.
Há muitas definições de ciência na literatura, cada uma 
delas decorrentes de um modo de conceber o conhecimento, 
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 3
quem o produz e a forma utilizada para produzi-lo. Alguns 
autores consideram que o conhecimento científico é produzido 
de forma radicalmente diferente dos demais tipos de conheci-
mento que o ser humano gera. Nessa concepção, acredita-se 
que o método científico é algo exclusivo dos pesquisadores, 
e que o conhecimento é produzido de forma objetiva, sem 
que aspectos subjetivos ou do contexto influenciem na relação 
entre o pesquisador e o objeto de estudo sobre/com o qual o 
conhecimento está sendo produzido.
Sustenta esse posicionamento a massiva produção de co-
nhecimento aplicado nas últimas décadas, oriundo de me-
todologias rigorosamente controladas e gerando resultados 
analisados com base em testes estatísticos dotados de acura-
dos critérios probabilísticos.
Em outro extremo, há aqueles que consideram o conheci-
mento científico apenas como “uma” das formas do ser huma-
no produzir conhecimento. Nessa perspectiva, o método utili-
zado pelos pesquisadores não se constitui em algo exclusivo 
da ciência, já que, segundo esses teóricos, sempre haverá as-
pectos subjetivos e elementos externos influindo sobre as con-
cepções do pesquisador em relação ao seu objeto de estudo.
Entre esses polos opostos, você pode se posicionar em 
qualquer ponto intermediário, de acordo com as suas con-
vicções a respeito do grau de objetividade/subjetividade em-
pregado pelo pesquisador assim como em relação à possível 
influência dos aspectos sociais, culturais e políticos envolvidos 
no desenvolvimento das pesquisas.
4 Construção do Conhecimento Científico
Um aprofundamento em relação ao fazer científico de-
monstra que há peculiaridades no trabalho dos pesquisadores 
que diferem, ou, precisariam diferir da construção de argu-
mentos utilizada em outros campos das atividades humanas.
Notadamente, utilizando a objetividade como ideal a ser 
atingido, mesmo que talvez intangível em termos absolutos, 
o esforço realizado nas mais variadas áreas do conhecimento 
possibilitou avanços significativos na condição de vida da hu-
manidade.
Há poucas décadas, a expectativa de vida era muito inferior 
a atual. Um ferimento de moderada magnitude poderia signifi-
car a morte. Da mesma forma, as possibilidades de comunica-
ção foram drasticamente alteradas, assim como o transporte e 
outras áreas dependentes de conhecimento tecnológico.
Tais avanços se devem à aplicação de aspectos fortemente 
ligados a um modo de conceber a ciência experimental desen-
volvido a partir da denominada Revolução Científica ocorrida 
há alguns séculos.
Em uma obra sucinta, embora embasada por múltiplos 
estudos, John Henry (1998) analisa a Revolução Científica, 
caracterizando-a como o início da Ciência Moderna entre os 
Séculos XVI e XVIII.
Abordando Galileu Galilei, Johannes Kepler, Isaac Newton, 
Renée Descartes e Francis Bacon, entre outros, Henry salien-
ta que a matematização da ciência e o método experimen-
tal foram contribuintes decisivos na construção da ciência da 
época. Entretanto, o autor aponta que as visões de mundo 
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 5
de cada um, incluindo a religiosidade, influíram decisivamente 
sobre a ciência que esses pesquisadores produziram, compon-
do um cenário complexo na geração daquilo que a literatura 
em geral denomina de Ciência.
Atualmente, muitas pesquisas nas áreas da saúde, da tec-
nologia, e em outras áreas do saber seguem protocolos rígi-
dos, visandoobter resultados dentro de uma estreita possibi-
lidade, ou seja: “é eficaz” ou “não é eficaz”, não deixando 
muita margem para as interpretações dos passos a serem se-
guidos na pesquisa. Da mesma forma, há pesquisas nas quais 
o potencial de inserção interpretativa por parte do pesquisador 
é preponderante.
Embora as fronteiras não sejam tão claras, as peculiari-
dades de cada ramo do conhecimento são muito grandes, 
de acordo com as necessidades de cada processo investi-
gativo.
Com relação à influência do contexto nas produções cien-
tíficas, para Wertheimer (1972), o julgamento das teorias é 
influenciado por:
 Â zeitgeist – “espírito do tempo” – se refere ao contexto 
histórico e aquilo que caracteriza o período em questão, 
compondo um cenário vigente no entorno naquele sé-
culo, ou década, por exemplo;
 Â ortgeist – “espírito do lugar” – se refere, em palavras 
mais simples, àquilo que se acredita em um determina-
do contexto local, ou seja, as concepções dos pesquisa-
6 Construção do Conhecimento Científico
dores a respeito dos temas em uma instituição, ou em 
um país, por exemplo.
Entretanto, conforme afirmado anteriormente, alguns auto-
res creem mais no protagonismo dos pesquisadores, entenden-
do que os sujeitos são mais ativos no processo de desenvolvi-
mento do conhecimento científico, e não meros executores de 
práticas de pesquisa engendradas pelo tempo/espaço.
Acrescenta-se que em todas as áreas da produção científi-
ca há a aplicação de procedimentos criteriosos e obedecendo 
a preceitos técnicos definidos como metodologicamente cien-
tíficos, mesmo que haja diferenças pronunciadas quando são 
comparadas as abordagens empregadas pelos diferentes ra-
mos do conhecimento.
Por tais razões, talvez seja possível pensar na existên-
cia de “métodos científicos”, caracterizando a pluralidade 
de abordagens dentro do imenso campo de possibilidades 
científicas.
Sendo essa uma disciplina pautada na construção do su-
jeito como princípio educacional, conforme o próprio nome 
aponta, defende-se que cada um construa a sua própria con-
cepção de ciência segundo os pressupostos teóricos e as suas 
experiências vivenciadas relativas ao conhecimento científico. 
Entretanto, considerando que o processo de produção científi-
ca fundamenta-se na construção de argumentos, você precisa 
embasar a sua concepção de ciência com argumentos sólidos 
e coerentes entre si, e com o todo.
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 7
Ou seja, saiba que, ao assumir concepções de ciência em 
um trabalho acadêmico, você será instado a argumentar ade-
quadamente, utilizando informações sustentadas pela literatu-
ra em favor de seus posicionamentos. É isso que se espera de 
um produtor de conhecimentos.
Historicamente, foram produzidos caminhos diferentes para 
cada comunidade de cientistas, construindo, atualmente, uma 
grande rede de abordagens científicas gerando conhecimento 
com base em pressupostos divergentes entre si, mesmo que, 
em todas elas, sejam obtidos resultados produtivos.
Independentemente da concepção que você adotar, é im-
portante que faça uma constante reflexão a respeito do traba-
lho investigativo que esteja realizando, mesmo que seja ape-
nas para reforçar as convicções já existentes.
E mais importante de tudo, o fato de haver concepções di-
ferentes, e mesmo praticamente opostas em relação à ciência 
e aos métodos empregados, não significa dizer que “tudo é vá-
lido”. Apenas que, em diferentes áreas, os pesquisadores com-
preendem a questão e operacionalizam suas pesquisas com 
base em pressupostos distintos. No entanto, em todos os casos, 
uma boa pesquisa possui um rigor metodológico imprescindí-
vel para a sua realização, e isso você não pode esquecer.
Faça as suas escolhas, embase seus procedimentos e suas 
reflexões e, acima de tudo, esteja convicto de que as suas es-
colhas metodológicas são as mais adequadas possíveis em re-
lação ao que você está realizando, já que, parafraseando um 
sábio, “temos liberdade para escolher, mas ficamos ligados às 
consequências daquilo que escolhemos”.
8 Construção do Conhecimento Científico
Tópico 2 – Fragmentos de filosofia da 
ciência
Neste tópico, são apresentados, de forma sucinta, alguns as-
pectos da Filosofia da Ciência. O objetivo é contribuir para 
que você possa compreender melhor as concepções de ciên-
cia adotadas pelos pesquisadores.
2.1 Positivismo lógico ou empirismo lógico
Denomina-se de Positivismo Lógico, ou Empirismo Lógico, um 
movimento filosófico da década de 20 do Século XX, represen-
tado pelo Círculo de Viena (Áustria) e incluindo acadêmicos 
como Moritz Schlick (1882-1936) e Rudolf Carnap (1891-
1970), entre outros.
Os positivistas lógicos consideravam que a Lógica e a Ma-
temática eram independentes da experiência do sujeito em re-
lação ao objeto de estudo, entendendo ainda, que o conheci-
mento empírico deveria ser obtido por meio da indução.
Indução representa um modo de pensar que parte de ob-
servações particulares, buscando encontrar “leis” mais gerais. 
Empírico, nesse contexto, vem do grego “empeiria”, significan-
do “experiência”, ou seja, a relação do sujeito com o seu ob-
jeto de estudo por meio dos sentidos e dos dados acumulados 
por meio dessa experiência.
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 9
NOTA: Alguns autores utilizam a expressão “conhecimento em-
pírico” como aquele distinto do conhecimento científico e obtido 
por métodos não científicos. Salienta-se que, na presente obra, 
“empírico” se refere ao resultado da observação ou da experi-
ência que proporciona a obtenção de dados “concretos” pelo 
pesquisador.
Quando você fizer uma afirmação no contexto científico, al-
guém poderá lhe perguntar: “Você tem dados empíricos que 
sustentam essa afirmação?”. Dito de outro modo: Com base em 
quais informações obtidas/coletadas você está afirmando isso?
Para o Empirismo Lógico, os conceitos envolvidos em uma 
teoria deveriam advir de algo observável. Aquilo que não pode 
ser verificado empiricamente, ou seja, por meio da experiência 
do sujeito, estaria fora da esfera do conhecimento. As hipóte-
ses, nesse contexto, deveriam ser testadas experimentalmente, 
por meio da observação do fenômeno ou pela elaboração 
de experimentos controlados. A aceitação de uma teoria, se-
gundo essa vertente teórica, seria decidida exclusivamente 
pela observação ou pelo experimento, garantindo, por meio 
de uma base empírica sólida, a construção do conhecimento 
científico pela objetividade.
O método indutivo permitiria formular e verificar as leis e as 
teorias. A partir de um determinado número de observações, 
o pesquisador concluiria algo para um conjunto mais amplo, 
ou para situações com as quais ainda não temos experiência, 
sendo possível obter e confirmar hipóteses e enunciados gerais 
a partir da observação.
10 Construção do Conhecimento Científico
Mesmo não garantindo certeza, o método indutivo permi-
tiria conferir uma probabilidade cada vez maior do conheci-
mento científico chegar próximo da verdade. Portanto, em tal 
perspectiva, haveria um progresso cumulativo na ciência, onde 
as novas leis e teorias seriam capazes de explicar e prever um 
número cada vez maior de fenômenos.
Os críticos dos positivistas lógicos apontam que, ao ob-
servar um fenômeno científico, ou quando constrói um expe-
rimento, o pesquisador já o faz com base em teorias previa-
mente conhecidas por ele. Assim como, em muitos casos, a 
observação dos fatos pode gerar diversas leis e teorias plausí-
veis e justificáveis.
É importante salientar, entretanto, que o positivismo lógi-
co trouxe relevantes contribuições para a filosofia da ciência, 
assim como é inolvidável o elevado aprofundamento teórico 
realizado pelos membros do Círculo de Viena ao analisar as 
questões epistemológicasinerentes à ciência.
2.2 Racionalismo crítico de Popper
O austríaco Karl Popper (1902-1974) foi um dos mais influen-
tes filósofos da ciência do século XX, especialmente por seus 
estudos que buscavam compreender a relação entre a experi-
mentação e o processo de desenvolvimento de teorias.
Segundo Popper, as teorias precediam as observações e os 
testes experimentais, ao contrário dos posicionamentos daque-
les que defendem o método indutivo.
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 11
A partir das observações e da lógica, não podemos verifi-
car a verdade de enunciados gerais como as teorias científi-
cas, e sim refutá-los. Ou seja, o trabalho dos pesquisadores 
seria buscar a refutação de teorias previamente elaboradas, 
testando-as por meio de observações ou experimentos, pos-
sibilitando o desenvolvimento da ciência e do conhecimento 
em geral.
A busca do conhecimento, nessa perspectiva, iniciaria com 
a formulação de hipóteses para resolver os problemas, e con-
tinuaria com tentativas de refutação dessas hipóteses por meio 
de testes que envolvessem observações e experimentos.
Se as hipóteses não resistissem aos testes, sendo rejeita-
das, seriam elaboradas novas hipóteses, que também seriam 
testadas. Se a hipótese passasse pelos testes, ela estaria “cor-
roborada”, o que seria mais adequado do que o termo “con-
firmada”, já que, a qualquer momento, novos testes podem 
refutá-la. Segundo Popper, se algo não pudesse ser refutado, 
não se constituiria em domínio da ciência.
Na perspectiva popperiana, a produção científica ocorreria 
de forma inversa à indução, ou seja, a partir da lógica dedu-
tiva, partindo de afirmações gerais e amplas e buscando a 
compreensão de aspectos particulares da ciência.
2.3 Thomas Kuhn
Na sua obra “A Estrutura das revoluções Científicas”, Thomas 
Kuhn (1922-1996) criticou o positivismo lógico e o racionalis-
mo crítico de Popper. Segundo Kuhn, o fato de determinadas 
teorias que foram aceitas em um momento serem substituídas 
12 Construção do Conhecimento Científico
por outras contrariaria a tese positivista de um desenvolvimen-
to indutivo e cumulativo da ciência.
Para Kuhn, a ciência se desenvolveria a partir dos paradig-
mas, que consistem em realizações científicas universalmente 
reconhecidas que durante algum tempo fornecem problemas 
e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de 
uma ciência.
Ao observar um fenômeno científico, segundo Kuhn, o pes-
quisador teria em mente os paradigmas que orientariam as 
suas observações, os métodos empregados e, até mesmo, as 
possíveis conclusões. Durante o que poderíamos chamar de 
“vigência” de um paradigma, ocorreria o que ele chamou de 
ciência normal, na qual os pesquisadores estariam “guiados” 
por ele.
Nesse período, poderiam até surgir anomalias, ou seja, re-
sultados discordantes do paradigma, no entanto, elas seriam, 
muitas vezes, desconsideradas, até que aparecessem anoma-
lias significativas que teriam a força de fazer os pesquisadores 
questionarem os fundamentos da teoria aceita naquele perío-
do, chegando a provocar uma crise, com os cientistas deixan-
do de acreditar nos paradigmas.
Nessa situação os paradigmas poderiam ser alterados, de 
acordo com as anomalias presentes e com o modo com o qual 
a comunidade científica as considerar. As mudanças de para-
digma caracterizariam as Revoluções Científicas, com mudan-
ças radicais nas práticas científicas e na visão de mundo dos 
pesquisadores.
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 13
2.4 Imre Lakatos
Imre Lakatos (1922-1974), filósofo da ciência húngaro, acre-
ditava ser possível evitar a refutação total de uma teoria fazen-
do modificações em parte das hipóteses, mantendo a objetivi-
dade e a racionalidade da ciência.
Diferentemente de Karl Popper, para Lakatos, as teorias 
não seriam modificadas ao longo do tempo de forma com-
pleta, já que, certas leis e princípios resistiriam muito tempo às 
modificações, e o trabalho dos pesquisadores consistiria em 
proceder com pequenas correções em seus pressupostos bási-
cos. A sucessão de teorias, proposta por Lakatos e denomina-
da de “metodologia dos programas de pesquisa”, concebe a 
ciência como a culminância de um processo caracterizado por 
sucessivas teorias da racionalidade historicamente construída 
e operacionalizada a partir do conhecimento científico elabo-
rado com base em critérios metodológicos.
Nessa perspectiva, um programa de pesquisa possuiria um 
conjunto de teorias com um núcleo em comum, mas diferindo 
em hipóteses auxiliares, sendo essa uma das principais particu-
laridades da filosofia lakatosiana em relação às demais apre-
sentadas neste capítulo.
2.5 Paul Feyerabend
Para Paul Feyerabend (1924-1994), ao procurar uma obe-
diência a regras fixas e padrões imutáveis, os pesquisadores 
passariam a aceitar apenas hipóteses que se ajustassem às te-
orias corroboradas, deixando de lado algumas possibilidades 
que poderiam ser profícuas, e olvidando os possíveis efeitos 
14 Construção do Conhecimento Científico
de aspectos presentes no contexto no qual o fenômeno está 
ocorrendo.
Nessa perspectiva, não haveria normas que garantissem o 
progresso da ciência, ou seja, ela não se diferenciaria com-
pletamente de outras formas de conhecimento. A ciência não 
possuiria nem mesmo um método exclusivo, já que as regras 
propostas pelos cientistas deveriam ser violadas para que a 
ciência pudesse se desenvolver. Além disso, para Feyerabend, 
o fato de existirem múltiplas teorias concorrendo seria acom-
panhado da influência de fatores externos à ciência, incluin-
do preferências subjetivas e fatores sociais e políticos, tecendo 
críticas severas ao positivismo lógico e ao criticismo de Karl 
Popper.
A racionalidade, para Feyerabend, estaria presente e vincu-
lada a um contexto de condições sociais, entre outros aspec-
tos, e não à racionalidade concebida pelos demais filósofos 
da ciência.
Na prática
Caro estudante, façamos algumas reflexões:
Você acredita na objetividade como algo a ser atingido 
concretamente pelo pesquisador, ou como um ideal que deve-
mos tentar nos aproximar cada vez mais?
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 15
Como você se posiciona em relação aos filósofos da ciên-
cia? Você pode escolher apenas um ou pode reunir elementos 
de mais de um deles.
Qual seria o seu grau de objetividade no momento de ana-
lisar os seguintes fenômenos do dia a dia?
 Â Uma observação de um profissional da área da Psicolo-
gia/Psiquiatria a respeito de algo que você fez.
 Â Um lance de uma partida de futebol que envolveu o seu 
time.
 Â Os resultados divulgados a respeito de uma pesquisa 
em relação ao café e a sua influência na saúde das 
pessoas.
 Â A divulgação de resultados do trabalho da empresa ou 
instituição na qual você trabalha.
Responda a seguinte questão:
De que forma as experiências vivenciadas pelo pesquisador 
(subjetividade) podem (ou não) influenciar em seu trabalho, 
considerando cada um dos exemplos abaixo. A sua resposta 
deve ser embasada nos aspectos discutidos ao longo do capí-
tulo associados às suas concepções de ciência e ao conheci-
mento científico.
 Â o desenvolvimento de uma teoria de aprendizagem es-
colar.
16 Construção do Conhecimento Científico
 Â o desenvolvimento de uma teoria relacionada aos as-
pectos econômicos e organizacionais que impulsionam 
uma empresa.
 Â o desenvolvimento de uma teoria relacionada à socie-
dade, de forma geral.
 Â o desenvolvimento de uma técnica cirúrgica abdominal.
 Â desenvolvimento de uma máquina para ser utilizada na 
indústria.
Avaliando seu conhecimento
 1) Assinale a alternativa abaixo que apresenta o termo de-
finido como: “realizações científicas universalmente reco-
nhecidas que durante algum tempofornecem problemas e 
soluções modelares para uma comunidade de praticantes 
de uma ciência”.
a) Paradigmas
b) Teorias
c) Hipóteses
d) Programas de pesquisa científica
e) Refutações
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 17
 2) O filósofo da ciência que considerava que as teorias não 
são modificadas de forma completa, e sim por pequenas 
modificações realizadas pelos pesquisadores foi:
a) Moritz Shlick
b) Thomas Kuhn
c) Imre Lakatos
d) Karl Popper
e) Paul Feyerabend
 3) Analise as afirmativas a seguir e indique quais exprimem o 
pensamento do filósofo da ciência Paul Feyerabend.
I – A ciência possui um método exclusivo de trabalho que é 
empregado apenas pelos pesquisadores das diferentes áreas 
do saber.
II – A racionalidade da ciência está vinculada a um contexto 
específico envolvendo questões sociais, políticas, entre outras.
III – A ciência é caracterizada pelo trabalho repleto de objeti-
vidade de pesquisadores cuja neutralidade científica garante o 
progresso científico.
A(s) afirmativa(s) correta(s) seria(m)
a) Apenas a I
b) Apenas a I e a II
c) Apenas a II
d) Apenas a I e a III
18 Construção do Conhecimento Científico
e) A I, a II e a III
 4) “A ciência se caracteriza pela racionalidade e pela objetivi-
dade obtidas por meio do método indutivo”. Tal afirmação 
tem semelhança maior com:
a) os pressupostos do positivismo lógico ou empirismo 
lógico;
b) o conceito de paradigma de Thomas Kuhn;
c) o racionalismo crítico de Karl Popper;
d) o programa de pesquisa científica de Imre Lakatos;
e) a filosofia de Paul Feyerabend;
 5) Um filósofo da ciência afirmou que uma teoria havia sido 
“corroborada” e não “confirmada”. Fundamentando-se 
em Karl Popper, por qual razão ele fez tal afirmação?
a) Ela pode ser refutada pela realização de novos testes.
b) Ela foi construída com base no método da indução.
c) Ela foi desenvolvida por métodos qualitativos.
d) Ela não possui base empírica.
e) Ela não foi confirmada por testes estatísticos.
Gabarito
1) A; 2) C; 3) C; 4) A; 5) A.
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 19
Recapitulando
Caro aluno, o objetivo deste primeiro capítulo foi apresentar 
alguns aspectos referentes à ciência e ao fazer científico.
Você deve ter observado que há muitas concepções de 
ciência e de conhecimento científico. Isso é importante para 
compreender as formas pelas quais os ramos do conhecimen-
to se desenvolvem ao longo do tempo, assim como identificar 
os possíveis fatores que influenciam nesse processo, segundo 
os estudos da filosofia da ciência.
Reitera-se que o importante é você construir a sua concep-
ção de ciência e ser altamente criterioso ao avaliar estudos 
científicos e tomar decisões neles embasados. Mais do que 
isso, você necessita desenvolver as suas concepções com base 
em argumentos bens construídos e embasados na literatura, 
assim como é importante você estar aberto para conhecer 
outras concepções teóricas, avaliando os pontos positivos a 
serem adotados e os que podem ser desconsiderados, ou mes-
mo, combatidos argumentativamente.
Procure sempre conhecer a literatura específica da área na 
qual você está pesquisando, e procure estudar a respeito de 
outras áreas que possam lhe auxiliar na construção de sua 
pesquisa.
20 Construção do Conhecimento Científico
Amplie
Documentário interessante sobre Ciência e História da Ciência
http://www.youtube.com/watch?v=1SgaBosb3-I
Site da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
http://www.sbpcnet.org.br/site/
Site do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
http://www.mct.gov.br/
Site da Academia Brasileira de Ciências
h t t p : / / w w w . a b c . o r g . b r / r u b r i q u e . p h p 3 ? i d _
rubrique=1&recalcul=oui
Site com material sobre ciência – um especial destaque para o 
item relacionado ao método científico
http://www.proficiencia.org.br/
Revista Ciência Hoje – publicação de divulgação científica
http://cienciahoje.uol.com.br/
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
http://www.ibict.br/
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 21
Sugestões de chat:
 Â Discutir os exemplos apresentados no item “na prática”.
 Â Discutir a seguinte questão: você busca informações 
científicas para tomar suas decisões em relação à saúde 
ou à outra área de sua vida?
Sugestões de Fórum:
 Â Buscar na literatura diferentes definições de ciência e 
discuti-las.
 Â Discutir a respeito do posicionamento dos filósofos da 
ciência a respeito de ciência e conhecimento científico 
por meio de exemplos práticos de pesquisas realizadas 
nos mais variados campos do conhecimento.
 Â Discussão do artigo presente no endereço eletrônico:
http://www.fae.unicamp.br/revista/index.php/zetetike/article/
view/2747/2451
Referências
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fer-
nando. O método nas ciências naturais e sociais – pes-
quisa quantitativa e qualitativa. 2 ed. São Paulo: Pionei-
ra, 1999. 203 p.
22 Construção do Conhecimento Científico
DAL-FARRA, Rossano André. Matemática e educação mate-
mática: aproximações epistemológicas, cultura e discursos 
contemporâneos. Zetetiké, Campinas, v. 18. 2010. Dis-
ponível em: http://www.fae.unicamp.br/revista/index.php/
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HENRY, John A Revolução Científica e as Origens da Ci-
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MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. 3 
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REGNER, Anna Carolina Krebs Pereira. Feyerabend/Lakatos: 
“adeus à razão” ou construção de uma nova racionalidade? 
In: PORTOCARRERO, Vera (org.). Filosofia, história e so-
ciologia das ciências: abordagens contemporâneas Rio de 
Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1998. 272 p.
SILVA, Marcos Rodrigues da. Um passeio pelas principais 
correntes da filosofia da ciência. ComCiência, n. 120, 
2010. Disponível em: http://www.comciencia.br/comcien-
cia/handler.php?section=8&edicao=58&id=740. Acesso 
em 21 Dez. 2013.
Capítulo 1 Ciência e Construção do Conhecimento... 23
WERTHEIMER, Michael. Pequena história da Psicologia. 
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1972. (iniciação 
científica, v. 34). 205 p.
Capítulo 2
Tipos de Pesquisa: 
Concepções Teóricas, 
Coleta e Análise de 
Dados
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 25
Introdução
Cada escolha pressupõe uma ou 
mais renúncias
A palavra método se origina de “métodos”, do grego, sig-
nificando “caminho para chegar a um fim” (MARCONDES, 
1998).
E, ao escolher o caminho a ser percorrido, ou seja, ao op-
tar por um método, o pesquisador irá determinar os aspectos 
principais daquilo que irá encontrar em sua jornada investiga-
tiva, já que os resultados e as interpretações serão decorrência 
das escolhas metodológicas e das suas aplicações.
Acrescenta-se, ainda, que o fenômeno estudado será com-
preendido pelo pesquisador a partir das concepções teóricas e 
dos procedimentos metodológicos empregados por ele.
A literatura apresenta diferentes classificações para abor-
dar os aspectos metodológicos utilizados na construção do 
conhecimento científico. De forma mais ampla, as pesquisas 
podem ser divididas em:
 Â Pesquisa qualitativa
  Pesquisa quantitativa Pesquisa com métodos mistos
26 Construção do Conhecimento Científico
Tópico 1 – Tipos de pesquisa
1.1 Pesquisa qualitativa
Conforme Patton (1990) uma das vantagens da abordagem 
quantitativa é a possibilidade de realizar a mensuração de in-
formações de muitos sujeitos a um limitado conjunto de ques-
tões. Entretanto, as abordagens qualitativas produzem infor-
mações detalhadas sobre um pequeno número de pessoas e 
casos, o que aumenta o entendimento dos sujeitos e das situ-
ações estudadas, especialmente pelo fato de proporcionar um 
olhar “mais profundo” em relação aos posicionamentos dos 
sujeitos que participaram da pesquisa.
A pesquisa qualitativa permite ao pesquisador estudar te-
máticas selecionadas em profundidade de detalhes, como, por 
exemplo, compreender o significado que um evento tem para 
os sujeitos pesquisados. E os resultados, embora possuam 
“quantificações” prévias em sua subjacência, não se traduzem 
como produto final em termos numéricos. Exemplificando: ao 
analisar textos obtidos com entrevistas feitas com um grupo de 
indivíduos e verificar que a maior parcela apresentou concep-
ções semelhantes a respeito de um determinado assunto, esse 
aspecto é levado em conta na análise dos dados. Entretanto, 
a relevância atribuída aos dados, assim como a apresentação 
dos resultados consistirá, fundamentalmente, na descrição e 
no aprofundamento do significado dessas concepções em re-
lação ao contexto no qual os sujeitos estão inseridos, e não na 
quantificação destes.
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 27
Em geral, nas pesquisas qualitativas, os pesquisadores des-
pendem maior tempo no local de coleta de dados para que 
possam ser obtidas informações mais detalhadas do contexto 
e dos dados coletados diretamente com os sujeitos por meio 
de instrumentos, tais como o questionário.
Em alguns casos, são coletadas apenas observações ano-
tadas em um caderno de campo, o que depende, obviamente, 
dos objetivos da investigação e do alcance pretendido com 
ela. Ao pesquisar em uma escola, por exemplo, a coleta de 
informações começa “no portão de entrada”, ou mesmo no 
bairro, ou, ainda, com o contato telefônico com os gestores da 
escola em relação à disponibilidade e receptividade por parte 
deles em relação ao processo investigativo.
Questões relevantes também podem incluir as observações 
a respeito das edificações de uma empresa ou instituição, do 
clima organizacional, ou mesmo da avaliação dos materiais 
disponíveis na internet ou em impressos disponibilizados pelo 
estabelecimento. No caso desses documentos, há um interesse 
ainda em relação ao contexto no qual foram produzidos, em 
que momento histórico isso ocorreu e que tipos de aspectos 
podem ter influenciado tal produção.
Alguns autores caracterizam as diferentes estratégias que 
fundamentam as pesquisas qualitativas como vinculadas às 
perspectivas teóricas que se constituem nos pressupostos sub-
jacentes aos métodos empregados no processo investigativo. 
Não são todas as pesquisas qualitativas que apresentam expli-
citamente a adoção de uma estratégia, inclusive pelo fato de 
cada uma delas possuir pressupostos teóricos que devem ser 
28 Construção do Conhecimento Científico
seguidos na consecução da pesquisa no momento em que o 
pesquisador afirma estar adotando-as. Entre as principais es-
tratégias apresentadas na literatura, encontram-se a etnogra-
fia, a fenomenologia, o interacionismo simbólico e os estudos 
culturais, entre outras.
1.2 Pesquisa quantitativa
O objetivo básico das pesquisas quantitativas consiste, fun-
damentalmente, em atribuir aspectos numéricos aos fenôme-
nos estudados, realizando descrições quantitativas de variáveis 
relevantes escolhidas para a análise de um número elevado 
de dados, o que contribui para a avaliação mais precisa dos 
resultados.
Estudos quantitativos podem ser realizados, por exemplo, 
para verificar quais escolas obtiveram resultados superiores em 
testes padronizados como a Prova Brasil, com base na aná-
lise de gráficos e tabelas. Os estudos quantitativos também 
utilizam testes estatísticos inscritos em critérios probabilísticos 
definidos, na dependência dos objetivos de pesquisa.
Entre as potencialidades das abordagens quantitativas, po-
demos incluir, entre outras:
 Â a mensuração acurada de uma variável influente sobre 
algo que vivenciamos;
 Â a possibilidade de realizar comparações entre grupos 
com base em critérios de significância estatística, como 
nos casos em que dois medicamentos aplicados a gru-
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 29
pos de pessoas são avaliados em relação à cura de do-
enças;
 Â examinar a associação entre variáveis de interesse, tais 
como a correlação entre idade e consumo;
 Â a modelagem da relação entre variáveis visando verifi-
car, por exemplo, a relação específica entre o peso cor-
poral e o risco de doenças coronárias.
Segundo Castro et al. (2010), verifica-se em muitas pes-
quisas quantitativas a utilização de procedimentos que buscam 
isolar possíveis fatores que possam prejudicar os resultados 
que se deseja analisar. No entanto, os procedimentos realiza-
dos para coletar dados quantitativos podem, em alguns casos, 
deslocar a informação do seu contexto de origem, o que deve 
ser visto com cautela por parte dos pesquisadores.
Os estudos quantitativos podem lançar mão de testes pa-
ramétricos, cujos pressupostos incluem determinados aspec-
tos em relação à distribuição dos dados e de estimativas im-
portantes relacionadas a ela, ou não paramétricos, nos quais 
não estão presentes no conjunto de dados pressuposições, tais 
como distribuição normal e homogeneidade de variâncias, por 
exemplo.
Em alguns estudos, são atribuidos escores de avaliação 
com valores de 1 a 5, como nas pesquisas que se pretende 
avaliar a preferência de consumidores por determinados pro-
dutos, por exemplo. Nessas situações são aplicados testes não 
paramétricos.
30 Construção do Conhecimento Científico
1.3 Pesquisas com métodos mistos
Uma análise ampla das diferentes áreas do conhecimento 
permite considerar que a formação de polos opostos entre 
os “quantitativistas” e os “qualitativistas” tem sido atenuada. 
Embora haja estudos bem delimitados como qualitativos ou 
quantitativos, discute-se hoje, segundo Creswell (2007) a pre-
sença de maior tendência para o quantitativo do que para o 
qualitativo, configurando um espaço cada vez maior para as 
pesquisas com métodos mistos que buscam combinar aborda-
gens oriundas de ambos os tipos de pesquisa. Sabendo que 
os métodos qualitativos e quantitativos possuem vantagens e 
desvantagens, ambos são estratégias de pesquisa alternativas, 
mas não mutuamente exclusivas.
Conforme Creswell (2007), as pesquisas com métodos 
mistos podem ser delineadas com procedimentos sequenciais, 
iniciando com procedimentos qualitativos ou quantitativos, ou 
ambos podem ser realizados de forma concomitante. O autor 
aponta ainda que, sendo sequencial ou concomitante, a ênfa-
se pode estar mais para o qualitativo ou para o quantitativo.
As possibilidades são inúmeras, e podemos exemplificar da 
seguinte forma:
 Â Você pode realizar uma coleta de dados com um ques-
tionário aplicado aos professores de um grupo de esco-
las e obter dados quantitativos relacionados ao baixo 
desempenho dos alunos para então realizar uma entre-
vista com alguns docentes visando conhecer de forma 
mais aprofundada as causas desse baixo desempenho, 
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 31
segundo o que resultou da análise quantitativa dos 
questionários.
 Â A análise dos dados estatísticos de diferentes setores de 
uma empresa em relação às vendas ocorridas durante 
um ano de trabalho pode levantar aspectos relevantes 
para se unir a dados qualitativosobtidos com a aplica-
ção de questionários construídos por questões abertas 
que possibilitem aos colaboradores apresentar as suas 
percepções em relação ao referido ano.
 Â Realização de entrevistas com jovens que consomem 
produtos eletrônicos para verificar, inicialmente, os prin-
cipais aspectos a serem incluídos no questionário de 
uma ampla pesquisa quantitativa envolvendo um gran-
de número de respondentes.
Logicamente, esses são apenas exemplos que podem nor-
tear o delineamento de pesquisas com métodos mistos, cujo 
desenvolvimento dependerá dos objetivos de cada pesquisa e 
das peculiaridades técnicas inerentes a cada tipo de coleta e 
análise de dados.
Tópico 2 – Coletas de dados
2.1 Informações utilizadas na pesquisa
Você pode utilizar fontes variadas na coleta de dados, de acor-
do com os seus objetivos e com a disponibilidade de informa-
ções.
32 Construção do Conhecimento Científico
Buscando favorecer o seu processo investigativo, vamos 
classificar as informações e os tipos de dados de forma sim-
ples e clara, entendendo que, muitas vezes, as classificações 
resultam de generalizações que não conseguem abarcar a to-
talidade das informações disponíveis, ou mesmo podem gerar 
sobreposições indesejáveis. Salienta-se que, neste tópico, o 
termo “pesquisa” está relacionado de forma mais simples com 
o processo de “busca de informações”, e não para designar 
algo mais amplo como as definições gerais de pesquisa quali-
tativa, quantitativa ou pesquisas com métodos mistos.
Os principais tipos de informações utilizadas decorrem de:
a) Pesquisa documental – utiliza informações que Marco-
ni e Lakatos (2007) denominam de fontes primárias, 
ou seja, documentos oficiais de órgãos públicos, pro-
jetos pedagógicos, atas de reuniões, diários pessoais, 
prontuários médicos, pareceres de especialistas, me-
mórias, registros de correspondências, dados do Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 
outros.
 Há áreas de pesquisa nas quais são realizadas inves-
tigações analisando imagens, incluindo fotografias, 
anúncios publicitários, ou obras de arte.
b) Pesquisa bibliográfica – se refere a material denomi-
nado de fonte secundária (MARCONI e LAKATOS, 
2007), tais como matérias de jornais, artigos de re-
vistas, especializadas ou não, produções audiovisuais, 
monografias, dissertações, livros, entre outros.
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 33
c) Pesquisa de campo – se refere aos processos nos quais 
o pesquisador ou membros de sua equipe obtém os 
dados diretamente, a partir de diferentes técnicas. Elas 
permitem a obtenção de novas informações a respeito 
de indivíduos, grupos, instituições, empresas, ou dife-
rentes fenômenos em geral.
d) Pesquisa de laboratório – pesquisas realizadas com 
condições controladas pelo pesquisador, em um recin-
to fechado, ou não.
É claro que no processo investigativo você pode utilizar 
mais de um tipo de informações, obtidas em fontes diferentes, 
dependendo daquilo que você deseja conhecer. O importante 
é que você reconheça as vantagens e as limitações de cada 
tipo de dado coletado.
2.2 Formas de coletar dados
a) Observação e registro em “caderno de campo” – esse 
processo é muito útil em investigações realizadas em 
empresas, escolas, instituições e possibilita ao pesqui-
sador obter um conjunto de informações que podem 
ou não ser associadas a registros obtidos com outros 
tipos de coleta.
 Marconi e Lakatos (2007) listam diferentes tipos de ob-
servação possíveis de ser utilizados nas pesquisas.
 Destaca-se neste momento a “observação participan-
te”, na qual o pesquisador acompanha indivíduos 
buscando realizar as atividades como se fosse um in-
34 Construção do Conhecimento Científico
tegrante do grupo, ao mesmo tempo em que faz ob-
servações em seu caderno de campo.
b) Questionários – são instrumentos que podem ser apli-
cados sem que o pesquisador esteja com os respon-
dentes. Tem como vantagem o fato de possibilitar a 
coleta de um grande número de informações em pou-
co tempo.
c) Formulários – instrumentos de coleta de dados no qual 
o pesquisador vai realizando as perguntas que vão 
sendo respondidas pelos sujeitos. Nesse caso, há a 
vantagem, tanto em relação à possibilidade de maior 
preenchimento do instrumento, quanto pela possibili-
dade de verificar de que forma o sujeito responde às 
perguntas, ou seja, as suas reações diante dos ques-
tionamentos, conferindo um maior conhecimento em 
relação aos respondentes e aos dados coletados.
 Poderá ocorrer ainda uma maior uniformidade nas res-
postas, além do fato de possibilitar a utilização desse 
instrumento independentemente do grau de instrução 
do respondente. No entanto, a presença do pesquisa-
dor ou de quem coleta os dados pode influenciar os 
resultados, e esse é um aspecto que você deve levar 
em consideração em determinados estudos.
d) Entrevista – a entrevista é realizada pelo pesquisador 
diretamente com o respondente. Ela pode ser deno-
minada de estruturada, quando há um conjunto es-
pecífico de perguntas a serem feitas e apenas elas, 
não estruturada, quando as perguntas vão sendo feitas 
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 35
pelo pesquisador ao longo da entrevista, ou semiestru-
turada, na qual há um roteiro que pode ser modifica-
do ao longo da entrevista com a inserção de algumas 
perguntas.
Lembre-se que há muitas possibilidades de obter dados em 
fontes que os disponibilizam e que podem ser transformados 
por meio de tabulações e análises que você pode realizar. Há 
instituições, órgãos públicos e empresas que disponibilizam 
dados que você pode utilizar e, com criatividade, construir pes-
quisas relevantes, desde que haja confiabilidade na fonte de 
origem dos registros utilizados.
Portanto, você pode coletar dados de diversas origens, in-
cluindo fotografias, dados históricos referentes a depoimentos 
de diferentes sujeitos, estatísticas oficiais, relatórios, entre ou-
tras possibilidades.
2.3 Tipos de questões
Os instrumentos de coleta de dados utilizados podem conter, 
entre outros, os seguintes tipos de questões:
a) Questões abertas – permitem maior liberdade ao res-
pondente, já que não há opções de respostas.
 Â O que você entende por interdisciplinaridade?
 Â Como são as relações interpessoais dentro do setor no 
qual você trabalha?
b) Questões dicotômicas
36 Construção do Conhecimento Científico
 Â Você já atua como professor? ( ) sim ( ) não
Esse tipo de questão pode ser acompanhado de uma so-
licitação visando aprofundar a resposta, tal como: “Quanto 
tempo:_________________”.
c) Questões com múltipla escolha
 Â Qual é o principal problema de aprendizagem em sua 
escola?
a) dificuldades cognitivas
b) dificuldades de concentração
c) falta de material
d) problemas sociais
Podem ser combinadas essas formas de elaboração com 
questões do tipo:
 Â Qual foi o motivo do seu pedido de demissão?
a) mudança de endereço
b) consegui outro emprego
c) passei em um concurso
d) questões de ordem particular
e) outro. Qual?____________________
Uma possibilidade importante é a utilização de escalas, 
nas quais o respondente pode indicar a intensidade de sua 
concordância ou a sua apreciação a respeito de uma deter-
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 37
minada questão proposta. Nesse caso, podem ser oferecidas 
respostas com 3, 5 ou 7 itens, por exemplo.
Rensis Likert (1903-1981) foi um pesquisador muito impor-
tante no desenvolvimento de escalas com base em estudos no 
âmbito da Administração. Por essa razão, utiliza-se em muitos 
estudos o que se denomina de Escala Likert. Considerando as 
peculiaridades e os processos históricos de cada escala, esse 
texto não vai realizar um aprofundamento teórico relacionadoà dimensão conceitual envolvida nesse âmbito, apenas apre-
sentar um exemplo e suas aplicações na Figura 1.
Figura 1 Exemplo de escala
Assinale uma das respostas para cada questão proposta
Questão Discordo 
totalmente 
1
Discordo 
2
Não 
concordo 
nem 
discordo 
3
Concordo 
4
Concordo 
totalmente 
5
O Brasil oferece 
condições 
adequadas para o 
empreendedorismo
A legislação 
brasileira para 
a criação de 
empresas é clara 
Fonte: o autor desta obra.
Podem ser utilizados também os itens:
 Â péssimo, ruim, nem bom nem ruim, muito bom, ótimo;
38 Construção do Conhecimento Científico
 Â desaprovo totalmente, desaprovo, não aprovo nem de-
saprovo, aprovo, aprovo totalmente.
A análise de dados dessa natureza pode ser feita com base 
na obtenção dos percentuais de respondentes que assinalou 
cada item. O pesquisador pode, ainda, analisar os dados após 
somar os percentuais obtidos para os itens 1 e 2 e os percentu-
ais obtidos para 4 e 5. Outra possibilidade consiste no cálculo 
da média e do desvio padrão obtidos para cada questão. Em 
cada uma das possibilidades há benefícios e limitações, e sua 
escolha dependerá dos objetivos da investigação realizada.
Com relação à construção de questões, procure redigi-las 
de forma a endereçar a resposta para o que você deseja estu-
dar, evitando que o instrumento de coleta de dados seja inde-
sejavelmente tendencioso.
Marconi e Lakatos (2007) apresentam resultados interes-
santes obtidos com perguntas que conduziam os respondentes 
para o direcionamento dos resultados. Por essa razão, é im-
portante você observar os dados apresentados pelas autoras:
Você acha que os EUA deveriam permitir discursos públicos 
contra a democracia?
Resultados:
Deveriam permitir – 21%
Não deveriam permitir – 62%
Não deram opinião – 17%
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 39
Você acha que os EUA deveriam proibir discursos públicos 
contra a democracia?
Resultados:
Deveriam proibir – 39%
Não deveriam proibir – 46%
Não deram opinião – 15%
Segundo as autoras, a melhor pergunta, nesse caso, seria:
Você acha que os EUA deveriam permitir ou proibir discur-
sos públicos contra a democracia?
ATENÇÃO – após construir um instrumento de coleta de 
dados, faça o que denominamos de “piloto”, ou seja, aplique 
previamente o instrumento a um pequeno grupo de indivíduos 
com características semelhantes ao grupo no qual este será 
aplicado na realização da pesquisa. Esse procedimento pos-
sibilitará testar as questões, possibilitando inclusões, exclusões 
ou modificações relevantes.
Outro aspecto importante se refere ao que denomina-se 
de polissemia, ou seja, o fato de uma palavra possuir mais de 
um significado, dependendo do grupo em questão, ou mesmo 
dentro de um mesmo grupo. Por essa razão, procure elaborar 
e analisar os dados obtidos com atenção e, principalmente, 
cautela.
40 Construção do Conhecimento Científico
Tópico 3 – Análise dos dados
3.1 Análises quantitativas
Em relação aos dados quantitativos, podem ser utilizadas as 
ferramentas da Estatística Descritiva e/ou da Estatística Infe-
rencial.
A Descritiva, como sugere o próprio nome, tem por fina-
lidade descrever o conjunto de dados de que se dispõe por 
meio da utilização de tabulações e representações numéricas 
ou gráficas.
De forma prática, são utilizados gráficos tais como o apre-
sentado na Figura 2 ou tabelas (Tabela 1).
Figura 2 Número de nascidos vivos no Brasil em 2012
 
150.000
170.000
190.000
210.000
230.000
250.000
270.000
Fonte: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/regciv/default.asp?z=t&o=27&i=P
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 41
Tabela 1 Número de nascidos vivos no Brasil de 2008 a 2012
Local de 
nascimento
2008 2009 2010 2011 2012
Hospital 2.754.975 2.723.532 2.728.249 2.790.342 2.799.643
Domicílio 37.410 34.535 27.484 26.822 23.156
Outro 
local
3.246 3.763 3.953 5.301 6.266
Ignorado 2.411 2.812 1.275 2.311 1.393
Fonte: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/regciv/default.asp?z=t&o=27&i=P
Pode ser utilizada ainda a descrição de parâmetros obti-
dos no estudo, incluindo medidas de tendência central (média, 
moda e mediana) e medidas de variabilidade ou de dispersão, 
como o desvio padrão e a variância.
O exemplo a seguir demonstra a importância de incluir 
uma medida de variabilidade nos dados. A Tabela 2 apresenta 
os dados do patrimônio líquido dos três primeiros colocados 
pela divulgação da Forbes em 2014 junto aos dados do autor 
desta obra.
42 Construção do Conhecimento Científico
Tabela 2 Relevância das medidas de variabilidade
Pessoa/família Patrimônio líquido
(bilhões de dólares)
1º. Carlos Slim Helu e família (México) 73,0
2º. Bill Gates (Estados Unidos) 67,0
3º. Amâncio Ortega (Espanha) 57,0
4º. Eu 0,0
Média aritmética (incluindo 1º, 2º e 3º)
Desvio padrão (incluindo 1º, 2º e 3º)
Média aritmética (incluindo 1º, 2º, 3º e 4º)
Desvio padrão (incluindo 1º, 2º, 3º e 4º)
64,3
 8,1
49,3
33,5
Fonte:http://www.forbes.com/billionaires/list/#page:1_sort:2_direction:desc_
search:_filter:All%20industries_filter:All%20countries_filter:All%20states
Veja que, ao me incluir no grupo, houve uma renda média 
de aproximadamente 50 bilhões de dólares, mas com um des-
vio padrão de 33 bilhões, um valor próximo à própria média, 
diferentemente do que ocorreu com os dados dos três primei-
ros (8,1 bilhões).
Em alguns estudos, utilizam-se as separatrizes, buscando 
segmentar o conjunto de dados para melhor compreensão dos 
mesmos. Nesse caso, tal como ocorre com a mediana, o con-
junto de dados é dividido em intervalos iguais. Dependendo 
do conjunto de informações, optamos por quatro (quartis), dez 
(decis) ou cem (percentis) partes.
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 43
0 25% 50% 75% 100%
Primeiro quarto
Quarto inferior
Segundo 
quarto
Terceiro quarto Quarto Quarto
Quarto superior
 P25 P50 P75
P25 = percentil 25 – divide o primeiro e o segundo quartos
P50 = percentil 50 – divide os dados em dois conjuntos, o 
inferior e o superior
P75 = percentil 75 – divide o terceiro e o quarto quartos
Com as separatrizes, é possível verificar o que um determi-
nado dado representa em relação ao total. Para exemplificar, 
apresentamos os percentis de Índice de Massa Corporal (IMC) 
de adolescentes do sexo feminino no Brasil com idade de 15 
anos em 1989 (ANJOS et al., 1998):
Primeiro quarto Segundo quarto Terceiro quarto Quarto Quarto
 P25=19,0 P50=20,6 P75=22,5
Verifica-se que no quarto inferior da população (correspon-
dendo aos 25% com menor peso) estavam adolescentes com 
até 19,0 de IMC.
Há inúmeras ferramentas da Estatística Descritiva que possi-
bilitam organizar os dados de forma mais simples para a com-
preensão por parte dos pesquisadores e leitores. Recomenda-
-se que você recorra à literatura, tanto em relação aos livros 
técnicos de Estatística, quanto à leitura de artigos que aplicam 
tais ferramentas, buscando inspiração para o seu trabalho.
44 Construção do Conhecimento Científico
Já a Estatística Inferencial procura realizar inferências so-
bre uma população a partir dos resultados obtidos com uma 
amostra dela. Realizar inferências consiste em afirmar algo em 
decorrência de sua ligação com outras informações reconhe-
cidas como corretas.
Nesse contexto, são utilizadas técnicas que possibilitam 
calcular o tamanho da amostra para que ela se torne repre-
sentativa da população, assim como a confiança inerente às 
estimativas e a significância estatística dos resultados, entre 
outros aspectosassociados ao caráter probabilístico envolvido 
em cada procedimento.
Ao realizar uma pesquisa eleitoral, por exemplo, os ins-
titutos analisam um cenário da eleição em termos de país, 
inferindo a partir de dados de uma amostra de indivíduos que 
representariam a população brasileira em termos de sexo, fai-
xa etária, perfil socioeconômico, entre outros aspectos que 
possam influir nas decisões dos eleitores.
Diante desses aspectos, é importante que você estude os 
pressupostos teóricos envolvidos, assim como as possíveis apli-
cações dos testes estatísticos. Entretanto, a indicação precisa 
do teste a ser utilizado para os dados coletados; pode ser ob-
tida de forma mais acurada com profissionais da área, já que 
cada procedimento possui pressuposições teóricas, limitações 
e aplicações de conhecimento específico de especialistas des-
se campo do conhecimento.
A título de exemplo, apresenta-se na Tabela 3 os dados de 
Proença et al. (2013) que buscaram verificar a significância es-
tatística de notas atribuídas por estudantes em relação à parti-
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 45
cipação do ser humano em questões ambientais apresentadas 
em seminários por seus colegas.
Os dados foram agrupados em onze categorias, sendo ob-
tida uma média e um desvio padrão das notas e aplicando o 
teste não paramétrico de Friedmann. Letras diferentes indicam 
diferenças altamente significativas.
Tabela 3 Médias e desvios padrões em cada categoria
Categoria Média Desvio-padrão
Valores 4,56a 0,42
Ser Humano 4,49ab 0,41
Poluição 4,36b 0,48
Resíduos sólidos 4,34b 0,54
Água 4,34b 0,48
Alimentos 4,11c 0,79
Ensino 4,07c 0,61
Questões Sociais 4,02c 0,66
Desenvolvimento Sustentável 3,97c 0,64
Natureza 3,90c 0,88
Animais 3,62c 1,35
Fonte: Proença et al. (2013)
A partir dos resultados, foi verificado que a categoria “va-
lores” obteve a maior média. Embora ela não tenha sido esta-
tisticamente diferente em termos estatísticos da média da cate-
46 Construção do Conhecimento Científico
goria “ser humano”, por ambas possuírem letras iguais (“a”), 
ela foi diferente estatisticamente das demais categorias, con-
siderando um nível de significância de 1% ou seja, p < 0,01.
Foi verificado, ainda, que as médias das categorias “ali-
mentos”, “ensino”, “questões sociais”, “desenvolvimento sus-
tentável”, “natureza” e “animais” não apresentaram diferenças 
significativas entre sí, embora possuam magnitudes inferiores 
às demais, incluindo as categorias de “valores” com 4,56 até 
“água” com 4,34.
Veja que um teste dessa natureza possibilita uma definição 
mais precisa das informações, já que é possível diferenciar va-
lores que parecem muito semelhantes, mas que, estatistica-
mente, possuem diferenças significativas.
Conforme vimos anteriormente em relação às médias de 
patrimônio líquido, as medidas de variabilidade possibilitam 
conhecer melhor as informações de um conjunto de dados o 
que não pode ser obtido pela simples observação das médias. 
No caso específico, os desvios-padrão das categorias torna-
ram as diferenças não significativas.
Os testes estatísticos representam ferramentas altamente 
relevantes em análises de resultados de pesquisas desde que 
sejam interpretados de forma criteriosa no que tange aos pres-
supostos teóricos envolvidos e aos temas investigados.
Proença (2010) realizou um estudo apresentando imagens 
de plantas a 151 estudantes do ensino fundamental pergun-
tando se essas eram espécies nativas ou exóticas. A Tabela 4 
demonstra os resultados obtidos com três espécies analisadas 
com o Teste Binomial, empregados em casos nos quais há 
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 47
respostas dicotômicas (nativa ou exótica). Quanto maior a di-
ferença entre os percentuais de respostas certas e de respostas 
erradas, menor será o valor da probabilidade, indicando que 
a chance dos acertos serem semelhantes aos erros é menor.
Entretanto, o nível de significância escolhido é de 5%. Por 
essa razão, diferenças significativas entre respostas certas e 
respostas erradas ocorrem apenas nos casos em que a proba-
bilidade encontrada for menor do que 0,05.
Tabela 4 Respostas obtidas com os estudantes analisados com Teste Binomial
Espécie Percentuais obtidos Probabilidade e interpretação
FIGUEIRA Respostas certas = 89,4%
Respostas erradas = 
10,6%
p = 0,000
Diferença estatisticamente 
significativa.
JACARANDÁ-
MIMOSO
Respostas certas = 43,7%
Respostas erradas = 
56,3%
p = 0,143
Diferença não significativa. 
INGÁ Respostas certas = 41,7%
Respostas erradas = 
58,3% 
p = 0,051
Diferença não significativa, 
embora muito perto da 
significância. 
Segundo o teste, a maior parcela dos estudantes identificou 
corretamente que a figueira é uma espécie nativa. Quanto ao 
jacarandá-mimoso, as diferenças não foram significativas, ou 
48 Construção do Conhecimento Científico
seja, não há como afirmar, pelos resultados do teste, que os 
percentuais de acertos e erros foram estatisticamente diferentes 
para essa espécie.
No caso do ingá, os resultados do teste indicaram uma 
diferença não significativa. Nesse caso, pode ser feita uma 
menção no texto com a respectiva ressalva de não haver sig-
nificância estatística.
As associações entre as variáveis também podem indicar 
aspectos muito interessantes a serem analisados com base na 
correlação entre elas.
A Tabela 5 apresenta estimativas de correlação obtidas en-
tre as médias do Exame Nacional de Desempenho dos Estu-
dantes (ENADE) dos alunos do início do curso (ingressantes) e 
do final do curso (concluintes) de cada curso de Matemática 
que realizou o exame no ano de 2008.
No ENADE, os alunos respondem a questões relacionadas 
à formação geral e à formação específica, nesse caso, relacio-
nada com a Matemática.
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 49
Tabela 5 Correlação entre médias de ingressantes e concluintes – Curso 
de Matemática – ENADE 2008
Variáveis Correlação
Formação Geral dos Iniciantes e Formação 
Geral dos Concluintes 
0,42 
Formação Específica dos Iniciantes e 
Formação Específica dos Concluintes 
0,58 
Fonte: http://www.inep.gov.br
Verifica-se a presença de uma maior associação entre as 
médias obtidas na formação específica do que na formação 
geral. Esse resultado aponta que houve uma maior “seme-
lhança” entre as médias obtidas dentro de cada curso para 
a formação específica dos seus ingressantes e concluintes do 
que para a formação geral.
3.2 Análises qualitativas
Ao trabalhar com dados qualitativos, podem ser utilizados di-
ferentes tipos de análise. No presente caso, serão abordadas 
a Análise de Conteúdo e a Análise de Discurso.
3.2.1 Análise de conteúdo
A Análise de Conteúdo representa um método de análise de 
texto que busca produzir uma descrição objetiva e sistemática 
do conteúdo presente nos instrumentos de coleta de dados, 
50 Construção do Conhecimento Científico
sejam questionários, resultados de entrevistas ou outros dados 
de natureza qualitativa.
Bardin (2006) indica inicialmente a realização de uma 
pré-análise das respostas com a numeração progressiva dos 
respondentes, para então serem observados os dados perten-
centes a cada questão formulada no instrumento de coleta de 
dados, que pode ser o roteiro de uma entrevista ou um ques-
tionário ou formulário contendo questões abertas. Com base 
nessa análise prévia, são construídas as categorias que repre-
sentam os aspectos mais relevantes encontrados nos dados.
Tais categorias emergem dos principais aspectos relacio-
nados ao tema pesquisado. Os resultados passam então por 
uma tabulação com base na observação das tendências mais 
relevantes encontradas nos dados segundo as regularidades 
no que tange à presença de respostassemelhantes oriundas 
de diferentes sujeitos integrantes da pesquisa. É importante 
considerar também as condições de produção dos textos em 
relação ao contexto no qual eles foram produzidos, tanto em 
relação ao momento histórico, quanto em relação ao local e 
aos aspectos que o caracterizam.
A categorização decorre de uma análise realizada por 
meio da diferenciação e, posteriormente, por reagrupamento, 
conforme os critérios previamente definidos pelo pesquisador.
Para Bardin (2006), as boas categorias possuem:
 Â exclusão mútua: cada elemento deve estar em apenas 
uma divisão;
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 51
 Â homogeneidade: as categorias devem ser homogêneas 
e construídas por um único princípio de classificação;
 Â pertinência;
 Â objetividade e fidelidade;
 Â produtividade: devem fornecer resultados que possibili-
tem uma boa análise dos dados.
A título de exemplo, apresenta-se aqui uma possibilidade 
de Análise de Conteúdo a partir da análise da seguinte per-
gunta apresentada em um questionário: Qual foi o motivo que 
levou você a cursar uma Pós-Graduação?
Salienta-se que esse é um exemplo construído com fins di-
dáticos, não sendo resultante de coleta e análise concreta de 
dados. A ordem proposta para a apresentação dos resultados 
do trabalho foi:
 1) A apresentação das categorias e a quantificação dos re-
sultados em tabela, com o agrupamento de dois tipos de 
respostas consideradas semelhantes (Tabela 6).
 2) A discussão dos principais resultados, com exceção do 
item denominado de “respostas inespecíficas”, nos quais 
os respondentes fugiram da temática principal solicitada.
 3) Posteriormente, são apresentados os dados obtidos na li-
teratura (nesse caso, fictícia) que são relacionados ao as-
sunto.
52 Construção do Conhecimento Científico
Tabela 6 Motivo da opção por curso de Pós-Graduação
Motivo para cursar Pós-Graduação n (%)
Crescimento profissional/maior ganho 
salarial
20 (50,0)
Obter maior conhecimento técnico 5 (16,6)
Aprendizado para a vida pessoal 3 (10,0)
Respostas inespecíficas 2 (6,7)
Fonte: autor desta obra.
Verifica-se que a maior parcela dos estudantes alegou mo-
tivos profissionais para realizar o curso, especialmente a ques-
tão de crescimento profissional e do aumento salarial aponta-
da por 20 respondentes (50%) e, ainda, a perspectiva de obter 
maior conhecimento técnico (16,6%). As questões relaciona-
das ao crescimento de âmbito pessoal foram elencadas por 
uma parcela menor de respondentes (10%).
Pesquisas realizadas apontam que o crescimento profis-
sional se constitui em fator relevante na busca por um cur-
so de especialização (RUAS e COMINI, 2007), em virtude do 
crescente número de profissionais titulados ocupando cargos 
importantes nas empresas. Já ao entrevistar profissionais da 
área da educação, verificou-se que os motivos alegados fo-
ram preponderantemente relacionados com a satisfação pes-
soal oriunda da possibilidade de trabalhar com crianças na 
pré-escola.
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 53
3.2.2 Análise de discurso
Não há apenas uma perspectiva relacionada à análise de dis-
curso, cada uma delas está associada a pressupostos teóricos 
específicos.
Segundo Gill (2008) o termo “discurso” é utilizado para 
se referir a todas as formas de falas e de textos escritos, sen-
do analisados na busca de compreender o que os influencia, 
interpretando o discurso segundo o contexto no qual os textos 
foram produzidos.
Gill (2008) sugere que, na Análise de Discurso você faça, 
inicialmente, uma procura por um padrão de dados, encon-
trando diferenças entre os textos de diferentes sujeitos, verifi-
cando a predominância de informações no conjunto de dados.
Ao longo da análise, você encontrará os principais assun-
tos mencionados pelos respondentes, relacionando-os com os 
seus objetivos de pesquisa.
Lembre-se de que é importante você apontar “o que é 
dito”, ou seja, as presenças de assuntos nos textos, mas tam-
bém “o que não é dito”, ou seja, as ausências, no caso de não 
terem sido aventados aspectos que você julga importante na 
sua pesquisa.
Uma forma de analisar dados dessa natureza consiste em 
encontrar os grandes temas que emergem dos dados resultan-
tes de questionários, ou de respostas a entrevistas, por exem-
plo, e discutindo-os segundo: o que dizem os respondentes, 
a interpretação do pesquisador e os dados de literatura. Você 
pode apresentar os resultados da seguinte forma:
54 Construção do Conhecimento Científico
 1) Inicialmente, você comenta a respeito das questões formu-
ladas, sem necessariamente repetir a pergunta:
Os profissionais foram questionados em relação ao seguin-
te aspecto: “O que você entende por saúde?”
 2) Então você pode comentar a predominância das respos-
tas, assim como respostas que, mesmo ocorrendo com 
menor frequência, sejam importantes de serem apresenta-
das. Isso acontece quando um pequeno grupo de sujeitos 
aponta aspectos muito importantes pela sua pertinência, 
sendo relevantes para a análise.
A maior parcela dos respondentes mencionou estritamente 
questões ligadas à saúde física, não apresentando aspectos 
relacionados à saúde mental. Entretanto, um dos respondentes 
centrou a sua resposta na importância da meditação para a 
promoção da saúde física e mental.
 3) Você discute os resultados com dados da literatura:
A Organização Mundial da Saúde com a Resolução publi-
cada na Emenda da Constituição de 7 de abril de 1999 apre-
senta como conceito de Saúde a seguinte expressão: Saúde 
representa um estado dinâmico de completo bem-estar físico, 
mental, espiritual e social.
Há perspectivas teóricas, como a dos Estudos Culturais, 
que analisa discursos por meio de imagens, verificando, entre 
outros aspectos, as questões culturais envolvidas na produção 
de fotografias, anúncios publicitários, entre outros materiais 
denominados, dentro dessa perspectiva, de artefatos culturais.
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 55
Analisando matérias jornalísticas relacionadas a animais, 
Dal-Farra (2006) estudou os discursos emanados das imagens 
e das falas de jornalistas e entrevistados segundo a perspectiva 
dos Estudos culturais. Em tais estudos, procura-se observar o 
âmbito cultural envolvido no que tange aos significados atribu-
ídos aos animais no contexto em questão.
Há inúmeras possibilidades de análises de dados qualita-
tivos e, mais uma vez, sugere-se que você observe estudos 
já realizados em Dissertações, artigos e Teses para inspirar a 
construção do seu projeto e as posteriores coleta e análise de 
dados, sendo os exemplos apresentados nesta obra apenas 
algumas dentre as abordagens utilizadas na literatura acadê-
mica.
Reiterando que as classificações apresentadas pelos auto-
res direcionados à pesquisa são diferentes, dependendo da 
perspectiva teórica em questão, apresentamos algumas pos-
sibilidades que podem contribuir para o seu processo investi-
gativo.
Pesquisa-ação – representa uma abordagem na qual o 
pesquisador busca solucionar um determinado problema que 
se torna o seu objeto de estudo. Em sua realização, ela se ca-
racteriza por uma ação cooperativa entre os pesquisadores e 
os participantes, interagindo durante o processo de pesquisa.
Grupos focais – realizada a partir da reunião de um gru-
po reduzido de indivíduos com determinadas características, 
gerando informações registradas pelo pesquisador que acom-
panha um processo informal de discussão a respeito de uma 
temática.
56 Construção do Conhecimento Científico
Triangulação – a triangulação representa uma abordagem 
metodológica que pode envolver os seguintes aspectos:
 Â dados coletados, considerações do pesquisador e da-
dos da literatura;
 Â dados obtidos por pesquisadoresdiferentes e dados da 
literatura;
 Â informações qualitativas coletadas pelo pesquisador por 
meio de instrumento de coleta de dados, informações 
quantitativas coletadas pelo pesquisador por meio de 
instrumento de coleta de dados e informações obtidas 
por meio de revisão bibliográfica.
Com relação aos critérios de avaliação de pesquisas, são 
utilizadas, entre outros aspectos, a fidedignidade, relacionada 
com a possibilidade de repetição das técnicas e obtenção de 
dados semelhantes e com a precisão das medidas, e a valida-
de, relacionada com o seguinte aspecto: o instrumento está de 
fato medindo o que se supõe que esteja medindo?
Na prática
Durante minha trajetória acadêmica obtive formação no âm-
bito da Biologia, de forma ampla, posteriormente realizando 
mestrado em uma área da Genética que utiliza maciçamente a 
Estatística e os procedimentos quantitativos em geral, quando 
tive a oportunidade de aprofundar meus conhecimentos sobre 
a construção de modelos matemáticos e suas aplicações.
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 57
Posteriormente, após um longo período de publicações na 
área biológica e suas ramificações, busquei uma formação 
nas Ciências Humanas, área que já estava estudando muito, 
desenvolvendo no doutorado uma abordagem qualitativa.
Atualmente, após mais de duas décadas como pesquisa-
dor, posso dizer que as atividades investigativas possuem na 
questão metodológica o grande ponto de discussão no âmbito 
acadêmico e profissional. E nesse aspecto, todas as aborda-
gens podem ser profícuas na busca de respostas aos proble-
mas de pesquisa, basta que você escolha adequadamente os 
procedimentos e os pressupostos teóricos envolvidos.
Diante de tal perspectiva, sugiro que você faça uma busca 
na Internet em relação a artigos, Dissertações e Teses digitan-
do os possíveis procedimentos metodológicos que você deseja 
utilizar. Com esse procedimento você pode verificar as melho-
res formas de realizar suas pesquisas.
Avaliando seu conhecimento
 1) Assinale a alternativa que apresenta uma definição aproxi-
mada para “pesquisas com métodos mistos”.
a) Pesquisas realizadas com sujeitos de origens diferentes 
em relação à nacionalidade, faixa etária ou aspectos 
sociais.
b) Pesquisas que misturam análises envolvendo estatística 
descritiva e estatística inferencial.
58 Construção do Conhecimento Científico
c) Pesquisas que misturam análises de discurso com aná-
lises de conteúdo.
d) Pesquisas envolvendo abordagens qualitativas e abor-
dagens quantitativas.
e) Pesquisas com dados coletados por pesquisadores di-
ferentes.
 2) Como se denomina o ramo da estatística dedicado à apre-
sentação de dados por meio de tabulações e representa-
ções numéricas ou gráficas?
a) Estatística Descritiva
b) Estatística Inferencial
c) Estatística probabilística
d) Estatística padronizada
e) Estatística amostral
 3) Ao apresentar um conjunto de dados, um profissional in-
formou que a média aritmética de idade de um grupo de 
pacientes era de 35 anos. Entretanto, para conhecer me-
lhor o grupo, você precisaria ter outra informação relacio-
nada à variabilidade ou dispersão dos dados. Nesse caso, 
você solicitaria, preferencialmente:
a) a mediana;
b) a moda;
c) o menor valor;
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 59
d) o maior valor;
e) o desvio padrão;
 4) Ao elaborar uma questão de um questionário destinado 
a conhecer a opinião de um consumidor que testou um 
produto de limpeza, um profissional elaborou a seguinte 
pergunta: Você considera que o produto foi adequado ou 
inadequado para a limpeza de sua cozinha? Analise as 
afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta em re-
lação a elas considerando o proposto por Marconi e Laka-
tos (2007).
I – A questão está mal formulada, porque induz o respondente 
a aprovar o produto.
II – A questão está difícil de ser respondida por estar na forma 
de pergunta.
III – A questão está bem formulada por possibilitar ao respon-
dente o positivo e o negativo da avaliação.
A(s) afirmativa(s) correta(s) seria(m):
a) Apenas a I
b) Apenas a IIII
c) A I e a III
d) A II e a III
e) A I, a II e a III
60 Construção do Conhecimento Científico
 5) Assinale a alternativa abaixo contendo um item que não 
corresponde aos critérios para analisar boas categorias se-
gundo Bardin (2006) na Análise de Conteúdo:
a) exclusão mútua;
b) objetividade;
c) pertinência;
d) categorias iguais entre si;
e) produtividade;
Gabarito: 1) D; 2) A; 3) E; 4) B; 5) D
Recapitulando
Caros alunos, este capítulo apresentou o ponto mais delicado 
da elaboração e da execução de processos investigativos: as 
questões metodológicas.
Inicialmente, o capítulo foi dividido em três grandes grupos 
de tipos de pesquisa, apresentando a seguir as informações a 
serem utilizadas, a coleta e a análise de dados.
O capítulo teve um enfoque prático preponderante em re-
lação aos aspectos teóricos. Entretanto, ratifica-se que, para 
realizar processos investigativos qualificados, é necessário que 
você aprofunde as leituras utilizando a bibliografia indicada, 
Capítulo 2 Tipos de Pesquisa: Concepções Teóricas... 61
além de materiais que abordem a pesquisa na área específica 
na qual a investigação será realizada.
Veja que cada área e, mesmo cada linha de pesquisa den-
tro de uma área, aborda as questões metodológicas de forma 
distinta, embora todas elas tenham em comum a necessidade 
de obedecer aos preceitos procedimentais e aos pressupostos 
teóricos adotados.
Lembre-se, conforme a epígrafe que inicia este capítulo, 
que, ao fazer escolhas metodológicas, você deverá fazer algu-
mas renúncias, em virtude dos pressupostos teóricos implícitos 
a cada abordagem metodológica.
No capítulo seguinte, será apresentado um roteiro de ela-
boração do projeto de pesquisa e sugestões para a realização 
de processos investigativos de âmbito científico.
Amplie
Há programas que possibilitam a análise de dados qualitativos 
e dados quantitativos e que podem contribuir para as análises 
de dados. Entretanto, eles requerem uma capacitação ade-
quada em relação aos benefícios e limitações associadas a 
eles.
- Você pode encontrar boas dicas de aplicações de pesqui-
sa nos seguintes vídeos:
62 Construção do Conhecimento Científico
http://www.youtube.com/watch?v=-Wm9cxiXUe0
http://www.conre3.org.br/novo_site/?q=content/
estat%C3%ADstica-em-v%C3%ADdeos
Referências
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NI, Ribeiro de Castro. Distribuição dos valores do índice de 
massa corporal da população brasileira até 25 anos. Rev 
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BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 
70, 2006. 223 p.
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Petrópolis: Vozes, 2008. 516 p.
BOGDAN, Robert C.; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação 
qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos 
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ducting integrative mixed methods research and data analy-
ses. Journal of Mixed Methods Research, v. 4, n. 4, p. 
342–360, 2010.
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CHARMAZ, Kathy. A construção da teoria fundamenta-
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CRESSWELL, John. W. Projeto de pesquisa: métodos qua-
litativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 
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DAL-FARRA, Rossano André. A tênue linha que divide o ur-
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FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa.

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