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Curso de Inflamação e Reparo Tecidual MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 66 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO III 1. INFLAMAÇÃO AGUDA 1.1. Classificação das inflamações O processo inflamatório, de um modo geral, pode ser classificado de acordo com diferentes variáveis. TEMPO (Duração) Superaguda: horas a dias. Aguda: dias a semanas. Subaguda: semanas a meses. Crônica: meses (Segundo BOGLIOLO, 1978, acima de três meses a anos). Em relação à duração do processo, a classificação muitas vezes é baseada em aspectos clínicos e é feita de forma arbitrária, pois nem sempre corresponde ao quadro histológico encontrado. Quanto ao quadro histológico, os critérios para a classificação das inflamações são os seguintes: Aguda: Predomina fenômenos vasculares - exsudativos (hiperemia ativa patológica, edema, e infiltrado de PMN, principalmente neutrófilos). A exceção ocorre na hepatite viral aguda, na qual o infiltrado é sempre de mononucleares. Crônica: Predomina fenômenos proliferativos (Proliferação fibroblástica e angioblástica, e infiltrado de células mononucleares, principalmente de linfócitos, plasmócitos e macrófagos). Uma exceção acontece na osteomielite crônica, na qual o infiltrado é sempre de PMN. 67 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Subaguda: Caracteriza-se por fenômenos tanto vasculares - exsudativos quanto proliferativos, ocorrendo hiperemia, edema, proliferação fibroblástica e angioblástica, com infiltrado de PMN - principalmente eosinófilos, e também de MN - linfócitos, plasmócitos e macrófagos. Crônica Ativa: Trata-se da inflamação crônica reagudizada, isto é, com superposição de fenômenos vasculares exsudativos em área inflamada cronicamente. As inflamações agudas são classificadas de acordo com as características do exsudato. Conforme o tipo, a intensidade e a duração da agressão, haverá maior ou menor alteração da permeabilidade vascular e, como conseqüência, haverá variação na proporção dos elementos do exsudato. Quando o exsudato é predominantemente constituído por líquido, as inflamações são denominadas inflamações serosas. As inflamações serosas são principalmente observadas nas cavidades pré-formadas como a pleura, o pericárdio, o peritônio e as cavidades articulares. Nestes casos, o líquido que se acumula contém macromoléculas (albumina) e algumas células, especial- mente neutrófilos e hemácias. Desta forma, é possível distingui-lo dos transudatos, que podem se formar nas cavidades em condições de aumento da pressão hidrostática, como na insuficiência cardíaca; neste caso, o líquido acumulado é muito pobre em células e praticamente não contém macromoléculas. Outro exemplo de inflamação serosa são as bolhas que podem se formar na pele, como conseqüência de agressões leves, como queimaduras ou traumatismos. O líquido, com macromoléculas e poucas células, se acumula logo abaixo da epiderme. Fig. 1. Histológico de bolha intra-epitelial, característica da inflamação serosa. Fonte: http://www.fcm.unicamp.br/deptos/anatomia/lampele1a.html Fig. 2. Conteúdo da bolha intra-epitelial. Fonte: http://www.fcm.unicamp.br/deptos/ anatomia/lampele1a.html 68 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 69 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na verdade, as primeiras fases de quase todas as inflamações, são constituídas por acúmulo de líquido nos interstícios. As Inflamações do tipo fibrinosas são aquelas em que o exsudato contém grande quantidade de proteínas plasmáticas, inclusive fibrinogênio. Este, em contato com o interstício, se polimeriza em fibrilas de fibrina que se depositam sobre as superfícies serosas e mucosas. Nas superfícies, a fibrina se deposita formando camadas, conferindo- lhes um aspecto característico, o que permite o diagnóstico macroscópico seguro de inflamação fibrinosa. Na pleura e no pericárdio, a fibrina se deposita nos dois folhetos, promovendo sua aderência (aspecto em pão com manteiga). Caso o processo não ceda e não haja fibrinólise, estas aderências poderão se organizar e se transformar em aderências fibrosas, com fusão dos folhetos parietal e visceral e conseqüente desaparecimento do espaço pleural ou pericárdico. A inflamação fibrinosa é também chamada de "inflamação pseudomembranosa", quando presente nas mucosas, pois apresenta uma camada superficial esbranquiçada sobre a área inflamada, como se fosse uma membrana. Ela ocorre quando a agressão promove a necrose de segmentos mais ou menos profundos da mucosa e, como conseqüência, a parte líquida do exsudato que se forma, cai para a luz e a fibrina se deposita na superfície necrótica da mucosa, formando a chamada "pseudomembrana”. As in- flamações pseudomembranosas são freqüentemente observadas na faringe e no tubo digestivo. Fig. 3. Pericardite fibrinosa (origem traumática). Observa-se o grande acúmulo de exsudado fibrinoso que se acumulou entre o saco pericárdico e a parede cardíaca. Fonte:http://www.fmv.utl.pt/atlas/coracao/corac_013.htm Quando o comprometimento vascular é muito grave, com destruição das paredes, as hemácias passam a constituir o elemento dominante do exsudato; estas inflamações são chamadas de hemorrágicas. Quando o exsudato contém grande número de neutrófilos, a inflamação é denominada de purulenta ou supurativa. Certos agentes agressores, como bactérias (estafilococos, neisserias) ou substâncias quí- micas (terebintina), produzem grandes quantidades de fatores quimiotáticos para neutrófilos. Durante o processo de fagocitose, os neutrófilos liberam parte de suas enzimas para o interstício e, além disso, têm vida curta. A presença de grande número de neutrófilos, portanto, resulta na liberação local de grande quantidade de enzimas líticas, o que determina a liquefação do centro da área inflamada e dos tecidos circunvizinhos. A necrose liquefativa resultante da digestão dos agentes e dos tecidos infectados, como também das próprias 70 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores células inflamatórias, chama-se de pus e confere o nome de supurativa ou purulenta à inflamação. Fig. 4. Pancreatite supurativa aguda. Fonte: http://www.ufrgs.br/patologia/patologia/images/ Canino.%20Pâncreas.%20Pancreatite%20supurativa%20aguda%20acentuada%201a.JPG O exemplo mais corriqueiro de inflamação supurativa é a "espinha", tão freqüentemente observada na pele do rosto dos adolescentes. Ela é o resultado da invasão dos folículos pilosos por bactérias piogênicas (produtoras de pus). Uma vez no fundodo folículo, as bactérias desencadeiam a seqüência já conhecida de alterações, que se iniciam por congestão e discreto edema da pele envolvente, às vezes acompanhada de dor. Logo a seguir, a parte central da pequena lesão vai ficando amarela e saliente, o que corres- ponde ao acúmulo de pus no fundo do folículo. Em pouco tempo a pele que recobre o abscesso se rompe, o pus e as bactérias são eliminados e ocorre a reparação da lesão. 71 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 5. Aspecto clínico da espinha. Fonte: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/furunculo/ As cavidades cheias de pus resultantes da maioria das inflamações purulentas são chamadas de abscessos. Um abscesso é uma coleção localizada de pus e pode ser encontrado em variadas situações. Quando a inflamação supurativa se desenvolve em tecidos frouxos, em vez de se localizar, ela tem tendência a se difundir ao longo de espaços pré- formados, como as fáscias dos membros ou do pescoço, ou ainda espaços entre os feixes musculares do apêndice. Nestes casos, em que a inflamação supurativa é difusa e se estende pelos interstícios, ela é chamada de flegmonosa. Flegmão, portanto, é uma inflamação purulenta sem limites precisos. Quando o pus se coleta em uma cavidade pré-formada (cavidade pleural, articulação, vesícula biliar), falamos em empiema. 72 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 6. Radiografia de tórax mostrando paciente com empiema à esquerda. Fonte: http://www.fisiorespiratoria.com.br/galeria_do_x_mostra.asp?cod_caso=14. A úlcera é uma forma de inflamação caracterizada pela perda de tecido em uma superfície da pele ou das mucosas. No caso das mucosas, quando a perda não atinge o cório, o termo erosão é às vezes empregado. As úlceras podem ser a conseqüência de traumatismos, ou ainda de outros tipos de agressão como, por exemplo, da ação de toxinas bacterianas, ou ainda pela ação de substâncias químicas como, por exemplo, um ácido. A inflamação, nestes casos, origina-se do tecido sadio ao redor da área lesada. O exsudato inflamatório se acumula no fundo da úlcera, removendo o tecido necrótico. 73 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 7. Histológico de úlcera péptica. Fonte: http://anatpat.unicamp.br/lamtgi1.html As inflamações também podem ser classificadas de acordo com sua distribuição nos tecidos. Fig. 8. Classificação das inflamações. Fonte: http://www.biomaterial.com.br/inflama/classinfl.html De acordo com a intensidade do processo inflamatório, o mesmo pode ainda ser classificado em: leve, moderado ou severo. 74 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Leve ou discreto: Quando o tecido ou órgão afetado tem sua função alterada levemente, de modo a não comprometer seriamente o organismo como um todo; Moderado: Quando o tecido ou órgão afetado tem sua função alterada, de modo a comprometer razoavelmente o organismo como um todo, ainda que não signifique por si só risco de vida; Grave ou severo: Quando o tecido ou órgão afetado tem sua função muito alterada, comprometendo seriamente o organismo como um todo, inclusive pondo em risco a vida. Dependendo do autor, podem existir inúmeras classificações diferentes. As classificações das inflamações crônicas serão descritas no módulo seguinte. Fig. 9. Quadro esquemático das inúmeras classificações do processo inflamatório. Fonte: http://www.biomaterial.com.br/inflama/classinfl.html 75 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1.2. Evolução das Inflamações Agudas FORMAÇÃO DE ABSCESSO Mediadores químicos INFLAMAÇÃO CRÔNICA INFLAMAÇÃO AGUDA Agente irritativo persistente Injúria tecidual PROCESSO DE REPARO Regeneração Cicatrização A inflamação aguda é uma forma eficiente de o organismo neutralizar, inativar ou eliminar o agente agressor. Dependendo dos fatores do agente agressor, fatores do hospedeiro, e fatores locais, o processo pode evoluir para o processo de reparo. Entretanto, a inflamação pode ocorrer com formação de abscesso, ou mesmo evoluir para uma inflamação crônica de difícil reparo. Quando há supuração e, portanto, destruição de tecido, ou quando a própria agressão destrói o tecido, é necessário eliminar o pus e reparar o dano causado. O pus pode ser eliminado pela drenagem natural ou cirúrgica do abscesso. Neste caso, ou quando a agressão determina perda de tecidos, é necessário preencher o espaço à custa de tecido conjuntivo-vascular neoformado. Posteriormente, para haver a reparação tecidual, é obrigatório o desaparecimento do infiltrado, dos vasos, e a deposição de fibrilas colágenas. Forma-se, ao fim de algum tempo, uma cicatriz fibrosa no local da lesão. A porção parenquimatosa do órgão, se formada por células capazes de 76 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores regeneração, pode se refazer em parte ou totalmente, dependendo da extensão da lesão inicial. 1.3. Fatores que alteram a resposta inflamatória Os fatores que alteram a inflamação estão relacionados com o agente agressor e com o hospedeiro. Esses dois elementos (agressor e hospedeiro) estabelecem uma inter-relação que assume características particulares, ou seja, cada hospedeiro, dependendo de suas características próprias e da relação com as características do agente agressor, manifestará um quadro inflamatório peculiar a seu estado pessoal. FATORES DO AGENTE AGRESSORFATORES DO AGENTE AGRESSOR • Tipo biológico • Patogenicidade • Tempo de exposição • Capacidade de invasão • Resistência à fagocitose Tipo do agente: além do tipo de agente, suas características também determinam reações inflamatórias típicas. Essas características envolvem principalmente a fonte geradora, no caso dos agentes físicos, o composto ativo, no caso dos agentes químicos, e a família, o gênero e a espécie, no caso dos agentes biológicos. Por exemplo, inflamações purulentas ou supurativas são originadas das chamadas bactérias piogênicas (estafilococos); já alguns bacilos, podem originar inflamações granulomatosas. Da mesma forma, existem agentes químicos que causam necrose liquefativa, logo que entram em contato com o tecido, e existem 77 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 78 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores outros que atuam mais nas outras fases da inflamação, não exacerbando a degenerativo-necrótica. Patogenicidade do agente: em termos gerais, quanto maior for a patogenicidade do agente, mais exacerbada será a resposta inflamatória. Além da patogenicidade, que é determinadaespecificamente para os agentes biológicos, podemos considerar a palavra "intensidade" para os agentes físicos; e para os agentes químicos, a intensidade deve ser entendida pela concentração do agente. Tempo de exposição: em termos gerais, quanto maior o tempo de exposição ao agente, mais exacerbada é a resposta inflamatória. A inflamação crônica, por exemplo, forma-se devido à maior permanência do agente agressor em contato com o hospedeiro. Logicamente que os demais fatores devem sempre ser considerados (como, por exemplo, características do agente e intensidade). Capacidade de invasão: a capacidade de invasão diz respeito às propriedades que o agente possui de ultrapassar as barreiras de defesa do organismo, principalmente as barreiras externas. Por exemplo, existem bactérias com maior capacidade de penetração do que outras, favorecendo a disseminação do quadro inflamatório; as que possuem baixa invasividade podem originar, por sua vez, quadros inflamatórios mais localizados. O mesmo acontece com agentes físicos e químicos; por exemplo, alguns adesivos empregados no processo de restauração dentária possuem maior capacidade de penetrar na dentina do que outros, podendo causar inflamações pulpares com mais freqüência. Outro exemplo seriam os raios X, que possuem maior penentrância do que os raios β. Resistência à fagocitose: os agentes agressores resistem à fagocitose e à digestão de formas diferentes. Por exemplo, algumas bactérias são facilmente fagocitadas e digeridas, o que faz com que o processo inflamatório tenha curta duração; já alguns bacilos, como o M. tuberculosis, possuem alta resistência à fagocitose, sendo a inflamação da tuberculose do tipo crônica. Balas de projéteis também são de difícil fagocitose, assim como a partícula de restaurações de amálgama (originando a tatuagem por amálgama). FATORES DO HOSPEDEIROFATORES DO HOSPEDEIRO • Aspectos fisiológicos • Saúde geral • Aspectos nutricionais • Aspectos hormonais Aspectos fisiológicos do hospedeiro: idade, sexo, etnia, são alguns fatores que interferem no quadro inflamatório; por exemplo, os idosos, por terem baixa imunidade, geralmente são mais susceptíveis a infecções e inflamações do que os mais jovens. Saúde geral do hospedeiro: indivíduos portadores de outras doenças podem manifestar quadros inflamatórios mais graves. É o caso, por exemplo, de portadores de diabetes mellitus; esses indivíduos possuem dificuldade de reparação, principalmente por apresentarem alterações metabólicas significantes, as quais influenciam diretamente nos vários momentos da inflamação; um exemplo de inflamação crônica nesses indivíduos são as gengivites e a periodontites, de difícil controle e tratamento. Aspectos nutricionais do hospedeiro: carência de vitaminas e de proteínas pode interferir no sistema imunológico do organismo, retardando o processo de resolução das inflamações. Aspectos hormonais do hospedeiro: segundo Guidugli-Neto (1997), existem hormônios que favorecem a inflamação (chamados de protoflogísticos) e os que evitam ou diminuem a inflamação (os antiflogísticos). Os protoflogísticos aumentam a permeabilidade vascular (como o hormônio do crescimento) e os antiflogísticos, ao contrário, diminuem a permeabilidade vascular e fazem com que 79 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores haja menor exsudação celular. Esses hormônios, portanto, atuam direta ou indiretamente nos momentos da inflamação. FATORES LOCAISFATORES LOCAIS • Tipo tecidual • Suprimento sanguíneo • Estruturas anatômicas vizinhas Tipo de tecido agredido: as características anatômicas e fisiológicas dos tecidos que compõem os parênquimas dos órgãos são diversas e determinam diferentes padrões de inflamação. Por exemplo, nos tecidos ósseos, não se observa edema, característico das inflamações agudas; ao contrário, são mais comuns inflamações crônicas nesse local; já nos tecidos mais frouxos, como pálpebra, por exemplo, facilmente se instalam fenômenos exsudativos plasmáticos. Suprimento sangüíneo: em geral, os tecidos vascularizados são mais resistentes à agressão, uma vez que o processo inflamatório se instala mais rapidamente. Os tecidos não-vascularizados, como a córnea e as cartilagens, primeiramente devem desenvolver a neovascularização local para depois iniciar seu mecanismo de defesa. Estruturas anatômicas vizinhas: dependendo da disposição dos órgãos, as inflamações podem se restringir ao tecido agredido ou se disseminar para os espaços ou tecidos vizinhos. 1.4. Farmacologia da inflamação O processo inflamatório representa um dos mecanismos de defesa do nosso organismo. A inflamação pode ser definida como a reação do tecido vivo a uma 80 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 81 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores agressão local, ocorrendo envolvimento celular, aumento da permeabilidade vascular e acúmulo de líquidos. Esta inflamação, geralmente aguda, é a resposta inicial ao agressor e pode tornar-se desconfortável para o paciente devido ao edema e a dor. Na intenção de minimizar os sinais e sintomas do processo inflamatório, o profissional da saúde pode fazer o uso de antiinflamatórios na intervenção da doença ou no pré ou pós-operatório. Estes são os antiinflamatórios esteroidais ou os antiinflamatórios não esteroidais (AINES). I. Antiinflamatórios não-esteroidais (AINES) Os fármacos antiinflamatórios não-esteroidais (AINES) constituem um grupo heterogêneo de substâncias, que em geral não estão relacionados quimicamente, e que apesar disso, têm em comum certas ações terapêuticas, como atividade antipirética, analgésica e antiinflamatória. Isto porque atuam na biossíntese das prostaglandinas, agindo diretamente na inibição de enzimas da via cicloxigenase, mas não na via lipoxigenase. De acordo com Meade et al. (1993) e Mitchel et al. (1993), existem dois tipos de cicloxigenase: COX-1, enzima presente nas plaquetas sangüíneas, envolvida na sinalização celular e na homeostase tecidual; COX-2, presentes nas células inflamatórias ativadas e que produz mediadores da inflamação. COX-1: enzima constitutiva expressa na maioria dos tecidos, inclusive nas plaquetas. É importante para a manutenção das funções corporais. COX-2: enzima induzida nas células inflamatórias, quando estas são ativadas. É responsável pela produção dos mediadores prostanóides da inflamação. Os AINES possuem as seguintes ações farmacológicas: • Efeitos antiinflamatórios: modificam a reação inflamatória; • Efeito analgésico: reduzem determinados tipos de dor; • Efeito antipirético: reduzem a temperatura elevada; 82 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Efeito antipirético Na maioria das vezes, os mediadores químicos da inflamação (produtos de leucócitos e plaquetas ativados, do metabolismo do ácido araquidônico- prostaglandinas e leucotrienos e das cascatas da coagulação e do complemento), agem localmente, no sentido de restringir as conseqüências e a extensão do dano tecidual. Neste caso, o processo inflamatório tem apenas repercussões locais (numa tendinite ou uma foliculite, por exemplo)ou passa completamente despercebida (como em microtraumatismos de pele ou mucosas). Em condições em que esta capacidade homeostática local é superada, ou pela magnitude do estímulo agressor ou pela insuficiência dos mecanismos reguladores. A resposta inflamatória extravasa os limites do seu microambiente e pode se manifestar de modo sistêmico em todo o organismo ou ainda, dependendo da quantidade de citocinas liberadas, pode ter conseqüências catastróficas, na forma de choque circulatório grave. Em 1930, foi descrita no soro de pacientes com infecções agudas, uma proteína que precipitava o polissacarídeo C da cápsula do pneumococo (a proteína C-reativa ou PCR) e em 1941 foi introduzido o termo “fase aguda” para descrever as alterações séricas observadas nestes pacientes. Atualmente se sabe que, além das infecções, muitas outras formas de injúria tecidual, como trauma, isquemia, neoplasias e hipersensibilidade, desencadeiam alterações na concentração de várias proteínas plasmáticas, conhecidas como “proteínas de fase aguda” (PFAg). Elas constituem apenas uma parte da “reação ou resposta de fase aguda” (RFAg), que inclui febre, leucocitose e anormalidades metabólicas que produzem variada manifestação clínica e laboratorial, independentemente da natureza do estímulo desencadeante. As células ativadas do sistema fagocítico mononuclear (monócitos circulantes e macrófagos teciduais) iniciam a cascata de eventos da RFAg, secretando, em uma etapa inicial, citocinas da família da IL-1 e TNF (fator de necrose tumoral). Estas moléculas têm ação pleiotrópica, tanto a nível local como sistêmico. Localmente, agem sobre células da matriz ou estroma tecidual, principalmente fibroblastos e células endoteliais, causando a liberação de um segundo conjunto de citocinas que incluem, além dos próprios IL-1 e TNF, também IL-6 e IL-8, as proteínas inflamatória (MIP-1) e quimiotática (MCP) de macrófago. O fígado é o alvo principal dos mediadores inflamatórios sistêmicos, suprindo os metabólitos essenciais para a resposta de estresse e os componentes necessários para a defesa de primeira linha no sítio de inflamação, restringindo os limites da lesão tecidual, clareando agentes agressores e auxiliando no reparo celular. Os AINEs reduzem a temperatura elevada provavelmente pela inibição da produção de prostaglandinas no hipotálamo. Fig. 10. Patogenia da febre Fonte:http://webmail.unisuam.edu.br/~jairoa/CT/Farmacodin%E2mica/Inflama% E7%E3o%20&%20Dor.pdf Efeito analgésico A outra manifestação cardeal da inflamação, a dor, é mediada, além das prostaglandinas, pela bradicinina, um nonapeptídio liberado pelo sistema cininogênio, que também participa da ativação da cascata da coagulação. 83 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 11. Fenômeno da hiperalgesia. Fonte: http://www.endodontia.com.br/index_arquivos/Terapeutica.pdf Os AINEs são particularmente eficazes contra a dor associada à inflamação ou à lesão tecidual, uma vez que diminuem a produção das prostaglandinas, que sensibilizam os nociceptores e dos mediadores da inflamação, como a bradicinina. A capacidade dos AINEs, de aliviar a cefaléia, pode estar relacionada à abolição do efeito vasodilatador das prostaglandinas sobre a vasculatura cerebral. Efeitos antiinflamatórios Os AINEs são classificados atualmente como drogas inibidoras das cicloxigenases e, por conseqüência, inibidoras da síntese das prostaglandinas. Reduzem alguns componentes da resposta inflamatória como, por exemplo: a vasodilatação; o edema; a dor. A totalidade dos AINES inibe ambas as enzimas, ou seja, a COX-1 e a COX-2, só que em graus variados de intensidade. 84 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores De fato, quanto mais potente for a inibição exercida sobre a COX-1 em relação à COX-2, maiores serão as reações adversas do medicamento. Os efeitos indesejáveis desses medicamentos devem-se, em grande parte, à inibição da enzima de manutenção, a COX-1: Distúrbios gastrintestinais: dispepsia, náuseas, vômitos e, em alguns casos, ulceração e sangramento gástrico. A administração oral de análogos das prostaglandinas pode diminuir a lesão gástrica desencadeada por esses agentes. Obs.: Os inibidores da COX-2 causam menos lesão gástrica, porém estão associados a alterações cardiovasculares em alguns pacientes. No entanto, ainda existem pontos a serem esclarecidos, pois a probabilidade de desenvolvimento de lesões gástricas em paciente em uso de AINES depende de fatores de risco pré- existentes (ex: fumantes, indivíduos em uso de anticoagulante, corticosteróides, pacientes que necessitam de altas doses de AINES, em uso de aspirina, alcoólatras, 85 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 86 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores idosos, história de úlcera péptica e/ou dispepsia prévia). Indivíduos com história de úlcera péptica e sangramento gastrintestinal em uso de AINE, têm risco de complicações gastrintestinais em torno de 5% ao ano, em contraste com uma incidência de 0,4% de chance em pacientes sem história prévia. • Reações cutâneas: erupções leves, urticária, reações de fotossensibilidade. • Efeitos renais: insuficiência renal aguda, reversível com a interrupção da droga, em indivíduos suscetíveis. Este efeito deve-se à inibição da síntese de PGE2 e PGI2, responsáveis pela manutenção da hemodinâmica renal. Nefropatia por analgésicos (consumo crônico), caracterizada por nefrite crônica e necrose papilar renal. • Insuficiência hepática, importante na superdosagem de paracetamol. • Asma, particularmente a aspirina, em indivíduos asmáticos sensíveis. São efeitos indesejáveis dos inibidores seletivos da COX-2: • Efeitos cardiovasculares; • Redução da taxa de filtração glomerular em indivíduos idosos; Nisulid ®; Scaflam ®NimesulidaNimesulidas Motrin ® Naprosyn ® Ibuprofeno Naproxeno Derivados do ácido propiônico Feldene ®; Inflamene ® Movatec ® Piroxicam Meloxicam Oxicanas Ponstan ® Voltaren ® Cataflam ®; Flogan ® Proflam ® Ácido mefenâmico Diclofenaco sódico Diclofenaco potássico Aceclofenaco Fenamatos Derivados do ácido fenilacético Aspirina®; AAS ® Dorbid ® Ácido acetilsalicílico Diflunisal Salicilatos Especialidade farmacêutica Nome genéricoGrupo DROGAS INIBIDORAS DA CICLOXIGENASEDROGAS INIBIDORAS DA CICLOXIGENASE Os AINES podem ser classificados em diversas classes quanto à estrutura química: I. Salicilatos A aspirina é o protótipo dos AINES; é o fármaco mais usado e aquele com o qual todos os demais agentes antiinflamatórios são comparados. Entretanto, cerca de 15% dos pacientes mostram intolerância à aspirina. Desta forma fez-se necessário buscar fármacos alternativos com maior atividade antiinflamatória, menor irritação gástrica, ou ainda de ação mais longa, diminuindo a dose diária administrada. Em geral os AINES mais novos são consideravelmente mais caros que a aspirina e alguns são comparativamente mais tóxicos. Além da ação antiinflamatória, possuem ação analgésica e antitérmica. Agem no hipotálamoalterando sua função termorreguladora. Provocam a dilatação de pequenos vasos superficiais, fazendo com que a transpiração aumente e o calor 87 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores seja liberado. Agem no problema, diminuindo a permeabilidade dos vasos inflamados. Fig. 12. Molécula do ácido acetilsalicílico. Fonte: http://www.quimicaorganica.net/compuestos-organicos/Aspirina/aspirina.htm O ácido acetilsalicílico apresenta boa ação analgésica na dose usual de 500mg e pequena ação antiinflamatória. Para se obter uma ação antiinflamatória deste composto é necessário empregá-lo na dose de 4 a 5g diários. Inibe a agregação plaquetária do local inflamado, não devendo ser administrado em hemofílicos por esta razão. Assim como seu protótipo age nas duas cicloxigenases, constitui um antiinflamatório não-seletivo. II. Derivados paraminofenólicos O paracetamol ou acetominofeno são analgésicos e antipiréticos com pouquíssima ou nenhuma ação antiinflamatória, pois são considerados como um fraco inibidor das prostaglandinas pró-inflamatórias. Em contrapartida, parece agir sobre as prostaglandinas sintetizadas pelo sistema nervoso cerebral, o que explicaria sua ação antitérmica. Atualmente é um dos analgésicos mais utilizados, por ser bastante seguro e não interagir com a maioria dos medicamentos. 88 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 13. Molécula do paracetamol. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paracetamol Fig. 14. Esquema terapêutico do paracetamol. Fonte: http://www.endodontia.com.br/index_arquivos/ Terapeutica.pdf III. Derivados da pirazolona Metamizol sódico ou dipirona sódica é um medicamento que mostra efeitos analgésicos e antitérmicos, mas não antiinflamatórios, nas doses terapêuticas. A dipirona parece agir deprimindo diretamente a atividade nociceptora, diminuindo o 89 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores estado de hiperalgesia persistente através do bloqueio da entrada de cálcio e da diminuição dos níveis de AMPc, nas terminações nervosas livres. Sua utilização, no entanto, se encontra restrita a alguns países, sendo extremamente popular no Brasil, onde efetivamente é um dos analgésicos mais populares, ao lado do ácido acetil salicílico. Quimicamente é o [(2,3-diidro-1,5-dimetil-3-oxo-2-fenil-1H-pirazol-4- il)metilamino] metanossulfonato sódico (ou 1-fenil-2,3-dimetil-5-pirazolona-4- metilaminometano sulfonato de sódio). Fig. 15. Molécula da dipirona. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Dipirona_s%C3%B3dica.png Para todas as formas farmacêuticas, os efeitos analgésicos e antipiréticos são esperados pouco tempo após a administração, porém seu efeito tem pouca duração (apenas 4 horas). IV. Derivados do ácido propiônico Ibuprofeno O ibuprofeno, que foi sintetizado em 1974, foi o primeiro desta classe de agentes a estar disponível nos Estados Unidos, surgindo em seguida o naproxeno, fenoprofeno, cetoprofeno, flurbiprofeno, fembufeno, indoprofeno, suprofeno e oxaprozin. 90 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O ibuprofeno é um fármaco derivado do ácido fenilacético, do grupo dos anti- inflamatórios não esteróides (AINE), que representa uma das melhores alternativas no combate à dor, febre e inflamação, sendo um substituinte exemplar do ácido acetilsalicílico por diversos motivos: efeito similar, menores efeitos adversos e maior tolerância. Utilizado freqüentemente para o alívio sintomático da dor de cabeça (cefaléia), dor dentária, dor muscular (mialgia), moléstias da menstruação (dismenorréia), febre e dor pós-cirúrgica. Também é usado para tratar quadros inflamatórios, como os que se apresentam em artrites, artrite reumatóide (AR) e artrite gotosa. Tabela 1. Fonte: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/html/1172/body/01.htm 91 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Naproxeno Manifesta efeitos antiinflamatório, analgésico e antipirético. É utilizado no tratamento da artrite reumatóide, apresentando reações adversas principalmente no trato gastrintestinal. Apresenta-se mais potente na forma S. Sua dosagem é bastante superior aos fármacos anteriores, podendo chegar até 750 mg /dia. Fig. 16. Molécula do naproxeno. Fonte: http://www.territorioscuola.com/wiki/es.wikipedia.php?title= Naproxeno V. Derivados dos ácidos indol-acéticos Neste grupo de fármacos está a indometacina, além de outros, que atuam inibindo reversivelmente a cicloxigenase. A indometacina que é a droga mais conhecida do grupo apresenta atividade antiinflamatória maior que a aspirina, porém é inferior aos salicilatos em relação a doses toleradas pelos pacientes com artrite reumatóide; atua também como analgésico e antipirético. VI. Derivados do ácido fenilacético O diclofenaco ou diclofenac, comercializado como Voltaren® e Cataflam® entre outros, é um antiinflamatório não-esteróide (AINE) com ação sobretudo analgésica e antiinflamatória, não sendo usado como antipirético. Apresenta-se nas formas sódica, potássica, resinada e colestiramina. 92 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 93 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Este medicamento está indicado para o tratamento de: • Formas degenerativas e inflamatórias de reumatismo: artrite reumatóide; • Espondilite anquilosante (doença crônica inflamatória que afeta as juntas entre as vértebras da espinha e as juntas entre a espinha e o pélvis); • Osteoartrose (doença da articulação, degenerativa, que causa desgaste das articulações) e espondilartrite (inflamação das articulações intervertebrais); • Síndromes dolorosas da coluna vertebral; • Reumatismo não-articular; • Dores pós-traumáticas e pós-operatórias, inflamação e edema, como por exemplo, após cirurgias dentárias ou ortopédicas; • Condições inflamatórias e/ou dolorosas em ginecologia, como por exemplo dismenorréia primária (dor pélvica que se origina de cólicas uterinas durante o período menstrual) ou anexite (inflamação de ovários e trompas). Antiinflamatórios não-esteroidais, particularmente diclofenaco de sódio, têm sido associados a graves quadros de hepatotoxicidade. Em uma revisão de casos clínicos envolvendo 7400 pacientes, ocorreu disfunção hepática em 0,8% daqueles tratados com celecoxib. Comparados com 0,9% dos tratados com placebo, e 3,7% dos que usaram diclofenaco de sódio. VII. Oxicanas Meloxicam O meloxicam atua da mesma forma que os outros AINES propriamente ditos (excetua-se assim o paracetamol), ou seja, inibindo a ciclooxigenase. O meloxicam possui, em doses baixas, uma afinidade preferencial (cerca de 10 vezes superior) para a COX-2, uma característica associada com uma menor incidência de efeitos colateraisgastro-intestinais. Doses maiores, contudo, não evidenciam a mesma selectividade. O meloxicam é muito bem absorvido por via oral (cerca de 90%), e possui uma importante ligação às proteínas plasmáticas. A sua semi-vida é bastante longa quando comparada com outros AINES, o que permite a sua utilização em tomada diária única. Piroxicam O piroxicam (vendido no mercado brasileiro sob a marca Inflamene) é um medicamento antiinflamatório não-esteróide usado para aliviar os sintomas da artrite reumatóide e osteoartrite, dismenorréia primária, dor pós-operatória; atua como um analgésico, especialmente quando há um componente inflamatório. Fig. 17. Molécula do piroxicam. Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Piroxicam.svg 94 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 18. Esquema terapêutico do piroxicam. Fonte: http://www.endodontia.com.br/index_arquivos/ Terapeutica.pdf VII. Novos AINES (Coxibs) As pesquisas mais recentes levaram ao desenvolvimento de um grupo de fármacos antiinflamatórios seletivos. Como já foi dito, as cicloxigenases (COXs) são enzimas que catalisam o primeiro estágio da biossíntese das prostaglandinas provenientes do ácido araquidônico. Os AINES inibem de forma não seletiva a formação das duas isoformas da COXs. Em teoria, a inibição seletiva da COX-2 poderia trazer vantagens, pois esta isoforma estaria confinada aos tecidos inflamados. Quando em sua dosagem terapêutica, um determinado antiinflamatório inibe apenas a isoforma COX-2, sem interferência na atividade COX-1, denominam-se agente inibidor específico COX-2. Tais compostos foram intitulados coxibs. O primeiro composto a ser aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para uso nos Estados Unidos foi o celecoxib, em dezembro de 1998. Meses 95 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 96 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores após, em maio de 1999, foi introduzido outro inibidor específico COX-2, chamado rofecoxib. Por pouparem a COX-1, os coxibs foram introduzidos como uma nova classe de antiinflamatórios não esteroidais, de eficácia equivalente e provável menor índice de complicações que os tradicionais AINES. Recentemente foi introduzido no mercado o parecoxib, o primeiro inibidor específico da COX-2 para uso parenteral e com propriedades farmacológicas semelhantes aos demais coxibs. São antiinflamatórios com diversos efeitos em relação ao controle do processo inflamatório. Agem inibindo a agregação de leucocitário (de neutrófilos) e provocam a inibição da migração das células polimorfonucleares e monócitos para a área de inflamação, ou seja, interferem na quimiotaxia típica da inflamação. II. Antiinflamatórios esteroidais Os corticosteróides são substâncias endógenas que estão quimicamente classificadas como esteróides, e são originalmente identificados no córtex da glândula adrenal. A glândula adrenal, na verdade, consiste em duas pequenas glândulas dispostas acima dos rins. A porção externa da glândula adrenal, o córtex adrenal, é essencial para a vida. Sua origem embriológica é completamente diferente daquela da medula adrenal. O córtex adrenal produz vários hormônios potentes, todos derivados esteróides, possuindo o núcleo ciclopentanoperidrofenantreno característico. Estes hormônios esteróides são agrupados em três classes gerais, cada uma com funções características: • Os glicocorticóides, que atuam primariamente no metabolismo das proteínas, carboidratos e lipídeos. • Os mineralocorticóides, que atuam primariamente no transporte de eletrólitos e na distribuição de água nos tecidos. • Os androgênios ou estrogênios, que atuam primariamente sobre as características sexuais secundárias em seus órgãos alvos específicos. Fig. 19. Glândula adrenal. Fonte: http://www.iadmd.org/Content/tabid/76/contentid/103842/Default.aspx Os antiinflamatórios esteroidais ou corticosteróides, como são mais conhecidos, são drogas inibidoras da fosfolipase A2 e, por isso, não diminuem somente a síntese das prostaglandinas como também a de leucotrienos, reduzindo, portanto, o acúmulo de neutrófilos no sítio inflamado. Este parece ser o maior mecanismo antiálgico e antiinflamatório atribuído a este grupo de medicamentos, pois o controle da migração de neutrófilos para o foco inflamado, diretamente, implica na diminuição dos mediadores químicos pró-inflamatórios. No ser humano, o principal glicocorticóide é o cortisol (ou hidrocortisona), enquanto o mineralocorticóide mais importante é a aldosterona. 97 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 98 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Ação antiinflamatória Os glicocorticóides têm a capacidade de modificar o processo inflamatório dos tecidos que, ao serem agredidos, apresentam um extravasamento de fluidos intracelulares para o espaço peri-tecidual. As doses farmacológicas de cortisol e seus análogos têm a propriedade de limitar esse processo, sendo que esses efeitos levam a encobertar processos infecciosos em pacientes que fazem uso dessas substâncias por longo tempo. A propriedade terapêutica de reduzir dramaticamente a resposta inflamatória e suprimir a imunidade é a mais importante dos glicocorticóides. O mecanismo exato é complexo e não totalmente compreendido. Entretanto, sabe-se que a diminuição e a inibição dos linfócitos e macrófagos periféricos têm participação no processo. Há também evidências substanciais de que os glicocorticóides induzem a síntese de uma proteína na qual inibe a fosfolipase A e, portanto, diminui a liberação de ácido araquidônico dos fosfolipídios, o que diminui a formação de prostaglandinas, leucotrienos e compostos correlatos, que têm papel importante na quimiotaxia e na inflamação. Os glicocorticóides são utilizados também no tratamento dos sintomas das reações alérgicas a fármacos, soro e transfusões, da asma brônquica e da rinite alérgica. Entretanto, estes fármacos não são curativos, um exemplo é o uso do dipropionato de beclometasona e a triancinolona que são aplicados topicamente na mucosa do trato respiratório superior, por inalação, reduzindo os efeitos sistêmicos da doença. Devido ao extenso uso dos corticosteróides no tratamento de doenças inflamatórias e alérgicas, muitas pesquisas foram desenvolvidas na tentativa de sintetizar derivados que apresentassem aumento das propriedades terapêuticas, ação mais específica, limitações dos efeitos adversos e maior potência. De um modo geral, as modificações de estrutura da hidrocortisona levaram a aumentos na proporção entre potência antiinflamatória e retentora de sódio, de tal modo que, em vários dos derivados atualmente disponíveis, os efeitos eletrolíticos 99 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores adversos não têm conseqüências sérias, mesmo quando estes derivados são administradosem doses mais altas. As alterações na estrutura molecular podem modificar o potencial biológico, como resultado de alterações na absorção, na ligação protéica, na taxa de transformação metabólica, na taxa de excreção, na capacidade de atravessar membranas e na eficácia intrínseca da molécula em seu local de ação. No entanto, estas modificações estruturais da molécula esteróide, com características de aumento da atividade antiinflamatória, freqüentemente podem acarretar novas propriedades indesejáveis, tais como o efeito retentor de sal (no caso de derivados halogenados) e mascaramento dos processos infecciosos, osteoporose, astenia, diminuição do limiar cerebral etc. O mecanismo de ação desses corticosteróides sintéticos é semelhante ao dos compostos naturais; suas diferenças de potência se devem principalmente ao aumento da meia-vida e atraso na sua catabolização ao nível hepático. A título de ilustração, a meia-vida da hidrocortisona é de 98 minutos; a dos sintéticos, prednisolona e dexamentasona, é de 200 minutos. A classificação dos corticosteróides é feita em função de sua duração de efeito: AÇÃO CURTA (< 12 horas) • Hidrocortisona • Cortisona AÇÃO INTERMEDIÁRIA (18 - 36 horas) • Prednisona • Prednisolona • Metilprednisolona • Triancinolona AÇÃO LONGA (36 - 54 horas) • Betametasona • Dexametasona / Parametasona O corpo tem mais dificuldade de metabolizar e eliminar os corticosteróides sintéticos; por isso, estes possuem efeito mais prolongado e potência elevada. Provavelmente, a molécula modificada tenha menos tendência a ser fixada pelos sistemas enzimáticos presentes. Desta forma o início da sua atividade é imediato, porém a duração da ação varia, dependendo do fármaco. A Tabela 2 mostra que a hidrocortisona e a cortisona são de duração curta e requerem doses fracionadas várias vezes ao dia para manter o efeito. Os corticosteróides de média e longa ação, administrados via oral, suprimem a liberação de adrenocorticóides, mesmo em terapia de dias alternados. Algumas das ações biológicas dos corticosteróides possibilitam medidas quantitativas e são expressas em relação à ação da hidrocortisona, que é considerada para atividade antiinflamatória e atividade retentora de sal. Tabela 2. Fonte: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-bin/PRG_0599.EXE/6260_2. PDF?NrOcoSis=17440 &CdLinPrg=pt 100 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 101 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os corticosteróides antiinflamatórios são valiosos no tratamento de doenças crônicas, que ocorrem periodicamente, e na ausência de uma causa conhecida, como artrite, tendinite, bursite, conjuntivite ou dermatite. Estes fármacos devem ser administrados localmente, sempre que possível, ao invés da via sistêmica. Pois mesmo que haja alguma absorção, o baixo nível de corticosteróide sistêmico preserva a integridade do córtex, ao mesmo tempo em que mantém um alto nível local da droga. Indicações Gerais dos Corticóides: • Doenças Auto-Imunes: anemia hemolítica auto-imune; hepatite crônica ativa; • Manifestações Alérgicas: asma, alveolite alérgica, rinite alérgica, choque anafilático; • Transplantes de Órgãos; • Afecções hematológicas: leucemia linfoblástica, linfomas; • Afecções Dermatológias: pênfigo bolhoso, pênfigo, urticária pigmentosa; • Afecções Renais: síndrome nefrótica; • Afecções Respiratórias: pneumonite não infecciosa, lesões exsudativas graves; • Afecções do SNC: traumatismo craniano, meningite tuberculosa. -------------------------------FIM DO MÓDULO III-----------------------------------
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