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Reconhecimento da independência do brasil

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Prévia do material em texto

i 
 
LUIZ CARLOS CORDEIROS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O RECONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA DO 
BRASIL: DIPLOMACIA, TRATADOS E 
SEPARAÇÃO POLÍTICA (1822-1828) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CUIABÁ – MT 
 AGOSTO - 2009 
 
ii 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT 
INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS – ICHS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
MESTRADO EM HISTÓRIA 
História, Territórios e Fronteiras 
 
 
LUIZ CARLOS CORDEIROS 
 
 
 
O RECONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA DO 
BRASIL: DIPLOMACIA, TRATADOS E SEPARAÇÃO 
POLÍTICA (1822-1828) 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação – Mestrado em História –, do 
Instituto de Ciências Humanas e Sociais da 
Universidade Federal de Mato Grosso, como 
exigência para obtenção do título de Mestre 
em História, sob a orientação do Prof. Dr. Pio 
Penna Filho. 
 
 
 
 
 
 
Cuiabá – MT 
Agosto – 2009 
iii 
 
 LUIZ CARLOS CORDEIROS 
 
 
 
 
O RECONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL: 
DIPLOMACIA, TRATADOS E SEPARAÇÃO POLÍTICA (1822-1828) 
 
 
 
 Banca Examinadora 
 
 
______________________________________________ 
Prof. Dr. Pio Penna Filho – orientador 
Universidade Federal de Mato Grosso 
 
 
_______________________________________________ 
Prof. Dr. Oswaldo Machado Filho – examinador interno 
Universidade Federal de Mato Grosso 
 
 
________________________________________________ 
Prof. Dr. Williams da Silva Gonçalves – examinador externo 
Universidade Federal Fluminense 
 
 
 
________________________________________________ 
Prof. Dr. Marcus Cruz – Suplente 
Universidade Federal de Mato Grosso 
 
iv 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha mãe Isabel e meu pai Manoel, em 
memória; à minha companheira Kátia Simone 
e minha enteada Anália. 
 
 
v 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 É gratificante a todo estudante concluir mais uma etapa de sua vida 
acadêmica. Além do conhecimento agregado durante o período dedicado ao 
trabalho científico, não menos importante são as pessoas que nos auxiliaram 
em mais esta etapa que estamos vencendo. 
 Sendo assim, quero agradecer primeiramente ao professor Dr. Pio 
Penna Filho, pela orientação, cessão de livros e documentos e pela dedicação 
que tornou possível a realização desse trabalho. 
 Agradeço especialmente a minha genitora Isabel dos Santos, pela vida, 
carinho e cuidados dedicados a mim. Mesmo eu estando distante, tenho 
certeza que tenho um lugar reservado em seu coração, sua mente e suas 
orações. Não menos importante também é agradecer ao meu genitor, Manoel 
Cordeiro, que o destino não permitiu presenciar o crescimento de seus filhos 
mais novos, mas tenho certeza que no lugar onde se encontra torce pelo nosso 
sucesso. 
 Quero também deixar meu obrigado aos meus amigos e colegas de 
debates acadêmicos, de mesa de bar e de república residencial inclusive, 
Jefferson Prestes e Tiago Kramer, irmãos de todas as horas. 
 Não menos justo é agradecer ao meu irmão João Luiz e minha cunhada 
D. Celma, por terem feito as vezes de pais no período em que estive 
convivendo com eles e, aos meus sobrinhos, Paula, Lucelma, João Luiz Jr e 
Edson, que foram como irmãos e juntos evoluímos em nossas personalidades. 
 Agradeço a minha companheira Kátia Simone pela compreensão e 
carinho nos quase dois anos que estamos juntos. Agradeço também minha 
enteada Anália, minhas cunhadas, cunhados e tios por terem me aceito como 
parte de sua família. 
 Agradeço aos professores Dr. Oswaldo Machado Filho e Dra. Maria 
Adenir Peraro da banca de qualificação, pelas valiosas contribuições que 
dispensaram ao nosso trabalho. 
 Agradeço ainda aos colegas do programa de pós-graduação da UFMT, 
mestrado em História, turma 2007, pelo companheirismo e discussões 
acadêmicas que contribuíram para nossa evolução no conhecimento científico. 
vi 
 
 Agradeço também ao programa de pós-graduação da UFMT, mestrado 
em História, a dedicação de todos os professores que ministram e ministraram 
aulas nesse departamento e, não menos importante, agradeço também aos 
funcionários do programa que tanto nos auxiliaram. 
 Àqueles que não foram citados e que fazem ou fizeram parte do meu 
convívio, sintam-se também agradecidos e lembrados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
vii 
 
CORDEIROS, Luiz Carlos. O Reconhecimento da Independência do Brasil: 
Diplomacia, Tratados e Separação Política (1822-1828). 2009, 142f. 
Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação Mestrado 
em História, Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal 
de Mato Grosso, Cuiabá. 
 
 
Resumo 
 
O principal objetivo desta dissertação é discutir o processo de reconhecimento 
da independência do Brasil, sobretudo como se comportaram quatro atores 
internacionais de grande relevância no período frente a solicitação brasileira de 
reconhecimento do novo estado que surgia na América Latina. Demonstra-se 
que o reconhecimento da independência do Brasil junto a Portugal, Áustria, 
Estados Unidos e Inglaterra, foi um trabalho diplomático pautado por acordos e 
tratados comerciais que oneraram a economia brasileira até meados do século 
XIX comprometendo, de certa forma, o desenvolvimento do país em suas 
primeiras décadas de vida autônoma. Particularizando a análise, conclui-se que 
Portugal e Áustria trabalharam no sentido de não reconhecer o Brasil como 
Estado independente, uma vez que Portugal queria a recolonização e 
permanência do Brasil como possessão portuguesa na América, enquanto a 
Áustria, que fazia parte da Santa Aliança, pautava-se pela manutenção das 
monarquias absolutistas baseadas na legitimidade dinástica e, por assim ser, 
dificultou o andamento das negociações de reconhecimento da autonomia 
política brasileira, causando intrigas e intervindo no andamento dos trabalhos 
dos plenipotenciários brasileiros. Já o reconhecimento pela Inglaterra e 
Estados Unidos foi objeto de negociações e tratados vantajosos para esses 
dois Estados. Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a 
independência política brasileira, em 26 de maio de 1824, antes mesmo de 
Portugal, pois queria fazer frente a hegemonia inglesa na América e teve como 
recompensa um tratado vantajoso assinado em 1827. A Inglaterra serviu como 
mediadora das negociações de reconhecimento do Brasil junto a Portugal. Em 
troca ansiava a renovação do tratado assinado em 1810 e o fim do tráfico de 
escravos, ou seja, agiu pragmaticamente defendendo seus interesses num 
quadro mais amplo de construção de seu processo hegemônico no século XIX. 
 
Palavras-Chave: Brasil; Independência; Reconhecimento; Tratados; 
Negociações Diplomáticas. 
 
 
 
 
 
viii 
 
ABSTRACT 
 
 
The main objective of this dissertation is to discuss the process of recognition of 
the independence of Brazil, especially in face of four great players in the 
international context. It shows that the recognition of the independence of Brazil 
from Portugal, Austria, United States and England, was a diplomatic work 
based on commercial agreements and treaties that affect the Brazilian economy 
by the middle of the nineteenth century compromising to some extent the 
development of country in its first decades of independent life. More specifically 
the analysis concluded that Portugal and Austria have worked to not recognize 
the country as an independent state. Portugal wantedto stay in Brazil as a 
Portuguese possession in America, while Austria, which was part of the Holy 
Alliance, guided by the maintenance of absolute monarchy based on dynastic 
legitimacy, and thus be, hindered the progress of negotiations for recognition of 
political autonomy in Brazil, causing intrigue and intervene in the progress of the 
Brazilian plenipotentiaries. But the recognition by England and the United 
States was the subject of negotiations and treaties advantageous for these two 
states. The United States was the first state to recognize the political 
independence of Brazil, in 1824, even before the Portuguese, because the 
United States have to confronted with English hegemony in America and had 
the reward advantageous signed a treaty in 1827. The England served as 
mediator in the negotiations for recognition of Brazil to Portugal. In exchange 
wanted to renew the treaty signed in 1810 and the end of the slave trade, acting 
pragmatically and defending their interests in a broader framework for the 
construction of its hegemonic process in the nineteenth century. 
 
 
Keywords: Brazil, Independence, Recognition, Treaties, Diplomatic 
negotiations. 
 
 
0 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1 
 
 
CAPÍTULO I - A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, DAS COLÔNIAS 
LATINO-AMERICANAS E A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS 
NA AMÉRICA LATINA ..................................................................................... 13 
 
 
CAPÍTULO II – O RECONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA DO 
BRASIL – PORTUGAL E ÁUSTRIA: RECONCILIAÇÃO E 
LEGITIMIDADE ................................................................................................ 46 
 
 
CAPÍTULO III – ESTADOS UNIDOS E INGLATERRA: AS 
TRANSAÇÕES COMERCIAIS E A HEGEMONIA SOBRE O 
CONTINENTE AMERICANO ........................................................................... 78 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 121 
 
 
REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRÁFICAS ................................ 124 
 
 
 
 
 
 
ix 
 1 
INTRODUÇÃO 
 
 
O interesse por determinados fatos históricos move o estudante, seja em 
nível de graduação, mestrado ou doutorado, a buscar uma maior aproximação 
com a escolha feita. Particularmente meu interesse pela história do Brasil 
surgiu ao longo de minha graduação, pelo fato de perceber as diferenças como 
era tratado pelos professores, de forma crítica, buscando quebrar paradigmas, 
desconstruindo mitos e heróis, criado por uma classe dominante, de acordo 
com seus interesses. Pois, os mesmos conteúdos, ao tempo de estudante de 
educação básica foi-me transmitido com uma dose de “harmonia”, 
compactuando os professores com os mitos construídos e os heróis criados 
pela historiografia do passado. 
 A independência do Brasil é um tema bastante instigante, sobretudo pelo 
fato de haver sido o Brasil separado de Portugal sem muitas batalhas campais, 
como as que ocorreram nos processos de independências das colônias 
espanholas da América. Também por ter permanecido uma monarquia 
constitucional, quando a maioria dos Estados americanos da época, estavam 
se constituindo como republicanos. Por outro lado, e é esse o objeto que 
dedicamos maior ênfase em nosso trabalho, está o reconhecimento da 
independência do Brasil pelas nações estrangeiras, tema interessante, no 
entanto, na maioria das vezes, tratado pelos estudiosos de forma rápida e 
sintética. 
 Ao referirmo-nos ao tratamento rápido e sintético dado ao tema, que faz 
parte da história política, é por ter perdido espaço para outros temas, mais 
ligados à história social e econômica. Essas áreas passaram a ocupar maior 
espaço junto a institutos de pesquisas históricas, como o Instituto Histórico e 
Geográfico Brasileiro (IHGB) ou em trabalhos de graduação ou pós-graduação 
das universidades brasileiras. Segundo Arruda e Tengarrinha ao discorrer 
sobre a história política afirmam que: 
 
A história política e religiosa, hegemônicas durante o Império, cedeu lugar à 
história social, que ocupa o lugar da história política, concentrando quase 50% 
da produção no período, enquanto a historia militar e econômica conservavam 
seus índices quase inalterados. Tem-se a sensação de que a proclamação da 
 2 
República abrira as comportas para os temas sociais, mantidos nas sombras 
durante o Império.1 
 
 
 É compreensível que durante o período imperial a história política tenha 
tido seu período mais profícuo, pois “a nação recém-independente precisava de 
um passado do qual pudesse se orgulhar e que lhe permitisse avançar com 
confiança para o futuro. Era preciso encontrar no passado referencias luso-
brasileiras: os grandes vultos, os varões preclaros, as efemérides do país, os 
filhos distintos pelo saber e brilhantes qualidades, enfim, os luso-brasileiros 
exemplares, cujas ações pudessem tornar-se modelos para as futuras 
gerações.”2 Como a produção das obras de história estavam ligadas 
diretamente ao IHGB, que tinha como seu principal “incentivador”, o imperador 
do Brasil D. Pedro II, afirmam Arruda e Tengarrinha que: 
 
Constituída como uma sociedade de escritores devotados à recuperação e 
preservação da memória nacional, através do sistemático registro dos grandes 
fatos, das datas memoráveis e das ações insignes dos grandes homens 
brasileiros, o que significa dizer “os homens políticos”, uma vez que, recrutada a 
partir de relações pessoais, mais do que pelos méritos intelectuais de seus 
membros, o Instituto lembrava mais uma sociedade de corte, do que um corpo 
organizado de especialistas. Integrava o círculo ilustrado que militava no âmbito 
do poder político, do Estado Imperial, responsável por 75% das verbas de 
manutenção do Instituto que tinha como sócio distinguido o próprio Imperador 
que, durante quarenta anos, de 1849 a 1889, presidia e participava das 
reuniões.3 
 
 
Como “até por volta de 1931-33, o IHGB exercerá uma grande influencia 
e será o único centro de estudos históricos do Brasil”4, não é errôneo que 
deduzamos ser esta Instituição bastante influente na propagação da produção 
historiográfica brasileira. 
Francisco Falcon, apesar de atribuir uma data posterior a que Arruda e 
Tengarrinha apontam, concorda com eles sobre a decadência da história 
política, dizendo que: 
 
 
1
 ARRUDA, José Jobson & TENGARRINHA, José Manuel. Historiografia Luso-Brasileira 
Contemporânea. Bauru-SP: Edusc, 1999. p. 35. 
2
 REIS, José Carlos. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: editora FGV, 2001. 
p.25 
3ARRUDA, José Jobson & TENGARRINHA, José Manuel. Historiografia Luso-Brasileira 
Contemporânea. Op. cit. p. 34. 
4
 REIS, José Carlos, Idem. 
 3 
A partir de 1929/30 é possível dizer-se que começou de fato o declínio da 
história política. Cada vez mais essa historia será conhecida como tradicional.5 
 
 
Como também já se aproxima o bicentenário da independência do 
Brasil, optamos por desenvolver um estudo sobre o reconhecimento da 
separação política entre Brasil e Portugal, que está classificado na área da 
história política/diplomática do Brasil. Juntamente com o professor Dr. Pio 
Penna filho, esperamos ter dado respostas convincentes às nossas 
proposições. 
Pois bem, feito as observações acima, iniciemos a análise do processo 
de autonomia política do Brasil frente a Portugal, o que, há quase dois séculos 
usualmente chama-se “independência do Brasil”. 
O “grito do Ipiranga” é um fato construído na história do Brasil, cujos 
efeitos até hoje se propagam pelo ar de sua imensa extensão territorial. Essa 
construção traduz-se num simbolismo de umaelite dirigente que necessitava 
promover a separação do Brasil frente a Portugal. A solução encontrada foi 
valorizar um sistema de governo já em decadência na maior parte do 
continente americano e que encontrou no jovem príncipe regente D. Pedro, 
herdeiro de uma monarquia quase destronada em Portugal, o instrumento certo 
para levar adiante seus desígnios. 
Se bem que ao iniciar o movimento de separação política entre Brasil e 
Portugal seus organizadores não vislumbravam uma total separação com a 
Pátria-mãe. Essa idéia é possível perceber no capítulo nono das instruções de 
José Bonifácio a Brant, representante brasileiro enviado à Corte Londrina para 
tratar de negocios do Império com os ingleses. Nele o Andrada diz que: 
 
Artigo 9º Mostrará, pois que nós queremos independência, mas não a 
separação absoluta de Portugal: pelo contrario S. A. R. tem protestado em 
todas as ocasiões e ultimamente no seu manifesto às potências que deseja 
manter toda a grande família portuguesa reunida politicamente debaixo de um 
só chefe que ora é o Sr. D. João VI, o qual porem se acha privado de sua 
autoridade e oprimido pela facção dominadora das Cortes.6 
 
 
O que os representantes governamentais do Brasil pretendiam era a 
 
5
 FALCON, Francisco. História e Poder. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (orgs). 
Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. p. 68. 
6
 Instruções de José Bonifácio a Brant. Rio 12 de agosto de 1822. In: Arquivo Diplomático da 
Independencia. Edição Fac-Similada de 1922. Ministério das Relações Exteriores, 1972. Vol. I, p. 10. 
 4 
manutenção da autonomia administrativa conquistada quando da vinda da 
família real para o Brasil, eliminando o exclusivo colonial, o que fez com que 
houvesse uma melhoria nos negócios das oligarquias rurais e dos 
comerciantes brasileiros. 
Emília Viotti fala da idéia de uma monarquia dual, que teria sede 
simultânea em Portugal e no Brasil, visando manter o Brasil como Reino Unido 
a Portugal, preservando a autonomia administrativa e comercial alcançada. O 
que não foi possível segundo Viotti, devido à reação em Portugal à rebeldia do 
príncipe, (que não aceitou retornar a Portugal no movimento do “dia do fico” 
ocorrido em janeiro de 1822), o que agravaria as tensões e levaria à 
radicalização do movimento.7 
A declaração de independência do Brasil ao que nos parece foi uma 
solução parcial. Pois, além da luta diplomática pelo reconhecimento da 
separação entre os Estados (Portugal e Brasil), a disputa interna pelos cargos 
na administração do Estado brasileiro, bem como o medo de uma insurreição 
das classes pobres (escravos, negros livres, mestiços e brancos pobres), foram 
fatores que assustaram os dirigentes do Império durante o primeiro reinado 
constituindo-se este último, inclusive, no fator decisivo para a continuidade do 
poder monárquico no Brasil. Isto porque, de outro modo, sem a opulência e 
respeito por um monarca, na iminência de um governo republicano, 
possivelmente ruiria a unidade territorial, o sistema escravista de produção e o 
poder de uma aristocracia rural, por sinal, sempre beneficiada pelos atos do 
governo monárquico. 
A proposta de nosso trabalho é fazer uma análise do reconhecimento da 
separação política entre o Brasil e Portugal, o que se habituou chamar 
independência do Brasil. 
Nosso recorte temporal vai de 1822 a 1828, intervalo em que ocorre o 
“Grito do Ipiranga” e os acordos de reconhecimento da separação política do 
Brasil (tratados de reconhecimento e acordos comerciais), por parte dos 
Estados selecionados para nossa análise, quais sejam: Portugal, Áustria, 
Estados Unidos e Inglaterra. 
Para a construção de nossa argumentação utilizamo-nos de documentos 
 
7
 COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia a República: Momentos Decisivos. São Paulo: UNESP, 1999. 
p. 46-48. 
 5 
primários impressos do Arquivo Diplomático da Independencia, edição de 1972, 
composta de seis volumes. Nele, encontramos uma vasta quantidade de 
correspondências, ofícios, decretos reais e cartas, trocados entre autoridades 
(diplomatas, ministros, monarcas, dentre outros), desde o momento em que 
antecede o “Grito do Ipiranga” até o ano de 1828. 
Dentre os referenciais bibliográficos, artigos e livros utilizaram-se com 
maior freqüência, para falar da América espanhola, os textos de John Lynch, A 
Origem da Independencia da América espanhola; de Cláudia Wasserman, a 
Formação do Estado Nacional na América Latina e de César Augusto Barcellos 
Guazzelli, A Crise Colonial e o Processo de Independencia. 
Para argumentar sobre o Brasil, nos servimos com maior freqüência dos 
trabalhos de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, História da Política Exterior do 
Brasil; de Fernando Novais e Carlos Guilherme Mota, A Independencia Política 
do Brasil; de José Honório Rodrigues, Interesse Nacional e Política Externa, 
entre outros textos desse mesmo autor. 
A ausência de referencias bibliográficas ou documentação sobre o tema 
no âmbito local, Mato Grosso, foi em decorrência do recorte espacial, o qual 
restringimos nossa análise em torno da sede administrativa do Império na 
época da Independencia, o Rio de Janeiro. 
 No primeiro capítulo, intitulado A Independencia do Brasil, das 
colônias Latino-Americanas e a Formação dos Estados Nacionais na 
América Latina, trabalhamos a contextualização dos acontecimentos que 
levaram aos movimentos independentistas. Uma análise dos processos de 
independência do Brasil e das colônias espanholas e uma ligeira passagem 
sobre o processo de formação dos Estados Nacionais Latino-americano. 
 Na colônia portuguesa da América, Brasil, a vinda da família real nos 
princípios de 1808, constitui-se no marco significativo do que viria desencadear 
a independência brasileira em relação a Portugal. A forte ligação do monarca 
português com a Inglaterra, e a invasão francesa ao território metropolitano 
provocou a conseqüente vinda da corte para o Brasil. Esse acontecimento 
tornou os ingleses privilegiados nas relações comerciais através da “abertura 
dos portos” brasileiros às nações amigas, onde eles foram agraciados com 
taxas alfandegárias baixas por ter conduzido a família real e sua corte em 
segurança até a colônia. Nesse sentido, Celso Furtado assevera que: 
 6 
 
A “abertura dos portos” decretada em 1808 resultava de uma imposição dos 
acontecimentos. Vêm em seguida os tratados de 1810 que transformam a 
Inglaterra em potência privilegiada, com direitos de extraterritorialidade e tarifas 
preferenciais a níveis extremamente baixos, tratados esses que constituirão, 
em toda a primeira metade do século, uma séria limitação à autonomia do 
governo brasileiro no setor econômico.8 
 
 
Os reflexos negativos desses acordos para a os cofres reais se 
prolongariam até o final da primeira metade do século XIX, causando sérios 
transtornos monetários aos administradores do império, principalmente no 
período pós-independência. 
 O principal indício de que Portugal seria substituído pelo Brasil em 
definitivo como sede da monarquia lusitana foi a elevação da antiga colônia à 
condição de Reino em 1815, a chamada “inversão colonial”, o que provocou 
movimentos em Portugal exigindo a volta de D. João para a antiga metrópole e, 
a possibilidade de uma conseqüente recolonização do Brasil. Mais tarde, a não 
obediência do monarca em atender ao pedido das elites portuguesas e retornar 
à Portugal desencadeou na Revolução do Porto (1820), tida como um 
movimento liberal.9 O que acabou produzindo efeitos contrários aos que 
previam e intentavam os revolucionários. Nizza da Silva escreve nesse sentido 
que: 
 
O verdadeiro movimento pela independência da colônia verificou-sena Europa, 
e foi ele a revolução portuguesa de 1820 – que, na sua base, foi uma tentativa 
de emancipação da antiga metrópole em relação a um governo imperial 
instalado na América.10 
 
 Não que, em essência, a independência do Brasil não pudesse 
acontecer de outra forma, mesmo sem a vinda da família real para a colônia e 
 
8
 FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 25ª edição. São Paulo: Ed. Nacional, 1995. p. 93-
94. 
9
 O movimento revolucionário do Porto era considerado liberal porque visou desconstituir o absolutismo 
em Portugal e submeter o governo de D. João VI a uma constituição. A 24 de agosto de 1820 eclodiu no 
porto a revolução liberal que se estendeu a Lisboa onde, a 28 de setembro, se formou uma junta 
provisional, tendo sido marcadas, entre 10 e 24 de dezembro, eleições para umas cortes constitucionais. A 
01 de janeiro de 1821 a revolta liberal estendeu-se também para o Brasil, atingindo o Rio de Janeiro em 
26 de fevereiro. Os revolucionários obrigaram D. João VI a prometer que juraria a constituição que estava 
sendo elaborada; regressar a Lisboa e formar um novo governo composto de personalidades de reputação 
liberal. (fragmento retirado de MAGALHÃES, José Calvet de. Breve História Diplomática de Portugal. 
Lisboa: Publicações Europa-América, 1990. p. 144-145). 
10
 Citado por MAGNOLI, Demétrio. O Corpo da Pátria: Imaginação Geográfica e Política Externa no 
Brasil (1808-1912). São Paulo: UNESP; Moderna, 1997. p. 84. 
 7 
sem a invasão napoleônica a Portugal. Pois as revoltas coloniais de cunho 
separatista já haviam sido presenciadas em território brasileiro como nos casos 
da Inconfidência Mineira (1789) e da Conjuração Baiana (1798), para ficar 
apenas em dois exemplos. Outro ponto a ser assinalado é o caso das 
independências latino-americanas que fatalmente serviriam de exemplos 
encorajadores das forças que lutavam pela independência no Brasil. O que 
provavelmente não se verificaria na independência do Brasil nos moldes dos 
Estados latino-hispânicos é a manutenção da forma monárquica de governo, 
pois os novos Estados da América transformaram-se em republicanos após 
livrarem-se do jugo espanhol. 
 Com efeito, nem todos no Brasil simpatizavam com a forma 
administrativa do rei D. João, principalmente pelo aumento de impostos e a 
substituição dos funcionários da administração pública por membros advindos 
com a corte portuguesa. Também, os comerciantes brasileiros e portugueses 
reclamavam das taxas e privilégios concedidos aos ingleses, o que lhes 
tornavam desfavorecidos e, consequentemente, prejudicados em seus 
negócios. Tudo isso rumava para o movimento pela independência. 
 A volta de D. João para Lisboa em 1821, amedrontado com uma 
possível usurpação do trono português, deixando no Brasil seu filho D. Pedro 
como príncipe regente, propiciou a ação dos membros do chamado “Partido 
Brasileiro”, composto basicamente por grandes proprietários e comerciantes 
brasileiros que “convenceram” D. Pedro I a tornar o Brasil independente de 
Portugal, no ano de 1822, mesmo que não tenha sido uma independência nos 
moldes das latino-americanas, onde o poder do monarca foi extinto, pois, o 
Brasil continuou com um monarca, agora transformado em imperador. 
Por sua vez, nas colônias latino-americanas o desenrolar dos fatos dos 
movimentos independentistas perfaz-se partindo do pressuposto atraso 
espanhol em relação às suas colônias, onde estas não podiam esperar muito 
de seu colonizador, pois a Espanha era, ao mesmo tempo, sua dominante e 
concorrente. O advento das “reformas bourbônicas”11 e as disputas entre a 
 
11
 Conjunto de medidas adotadas pela administração dos Bourbons no sentido de melhor conduzir os 
rumos internos do território Espanhol, bem como uma tentativa de reafirmar seu poder como metrópole 
das colônias espanholas na América. Contudo, essas reformas não foram bem aceitas nas colônias 
americanas e produziram efeitos contrários aos pretendidos pelos reformadores, sendo instrumento de luta 
pelas independências latinas. 
 8 
elite latino-americana, os criollos, com os peninsulares, pela primazia dos 
cargos públicos; mais ainda, as revoltas das classes “de abajo”, que 
preocupavam as elites peninsulares e “criollas”, constituíram-se no estopim 
para uma conscientização e, consequentemente, o desencadeamento dos 
movimentos independentistas latino-americanos. 
 O contato com os ingleses, a falência das “reformas bourbônicas”, o 
medo, por parte das elites, do crescimento e a conseqüente perda de controle 
das “classes perigosas” (negros, mulatos e índios), bem como a invasão 
napoleônica à Espanha, colocaram lenha na fogueira já acesa e provocaram as 
revoltas pela independência latino-americana, encalçada numa elite criolla 
amedrontada e preocupada em assegurar os privilégios já conquistados no 
regime colonial. 
 A independência dos países latino-americanos, no decorrer do século 
XIX, se fez em moldes diferentes da brasileira. Lá o poder monarca foi 
extirpado. Os novos dirigentes foram compostos basicamente de 
representantes da elite criolla e formaram-se várias repúblicas. Entretanto, a 
fragmentação territorial foi inevitável e o sonho Revolucionário de Bolívar não 
se concretizou, pois não conseguiu a união das ex-colônias numa grande 
República Bolivariana. 
 A introdução das reformas liberais, em oposição aos conservadores 
latino-americanos, e a introdução do sistema capitalista de produção, levaram 
essas nações latinas a consolidar seus Estados nacionais. Serviu de espelho à 
esses Estados latinos o modelo europeu de consolidação de Estados 
nacionais, posto que estes se consolidaram no momento em que as lutas 
independentistas na América espanhola obtiveram sucesso em favor das ex-
colônias. 
A luta diplomática que sucedeu a declaração de independência do Brasil 
é o objeto dos capítulos dois e três da dissertação. Sendo no segundo capítulo 
objeto de análise o reconhecimento de nossa independência por parte de 
Portugal e da Áustria. 
No segundo capítulo intitulado, O Reconhecimento da Independencia 
do Brasil – Portugal e Áustria: Reconciliação e Legitimidade; analisamos 
as dificuldades enfrentadas pelo Brasil para obter o reconhecimento da 
separação política frente aos Reinos de Portugal e Áustria. Esses dois reinos 
 9 
pareciam trabalhar em sintonia, onde Portugal tentava uma reconciliação com o 
Brasil e consequentemente, a manutenção da colônia americana, enquanto a 
Áustria, que se constituía na porta-voz da Santa Aliança (formada pela Áustria, 
a Rússia e a Prússia, visando defender os princípios das monarquias 
absolutistas), defendia a legitimidade do monarca português ao trono do Brasil, 
não aceitando a separação entre Portugal e Brasil, pois considerava uma 
“usurpação do trono” por D. Pedro, uma vez que seu pai, o rei D. João VI, 
ainda era vivo e ostentava a coroa real. 
 Portugal e Áustria formaram uma barreira que entravou os avanços das 
negociações diplomáticas com os plenipotenciários brasileiros o máximo que 
puderam. O objetivo principal de Portugal era fazer com que o governo 
brasileiro retrocedesse de seu intento separatista com o reino lusitano e 
voltasse à condição anterior a vinda da família real para o Brasil, de colônia 
portuguesa. Por seu lado, a corte da Áustria, porta voz da Santa Aliança, 
formada pela Áustria, Rússia e Prússia, defendia a manutenção da legitimidade 
dinástica da monarquia de Portugal sobre os domínios do território brasileiro. 
Nesse sentido, relutou em reconhecer a independência do Brasil antes que 
Portugal o fizesse, mesmo sendo o imperador D. Pedro I genro do imperador 
Francisco I da Áustria. 
Num primeiro momento, tentou-se fazer as negociações em Londres 
onde se procurou costurarum tratado entre Brasil e Portugal, o qual foi 
rejeitado pela corte portuguesa que respondeu com uma contraproposta, desta 
vez rejeitada pela diplomacia e pelo governo imperial brasileiro. 
As discussões e intrigas, principalmente criadas pela Áustria com 
objetivo de desestimular os negociadores brasileiros em território austríaco 
fazem com que o reconhecimento da independência se prolongue por quase 
três anos por parte de Portugal, o qual só se concretizou depois da mediação 
inglesa entre as partes litigantes e a transferência do cenário das negociações 
de Londres para o Rio de Janeiro, onde foi fechado um acordo em 29 de 
agosto de 1825. Por sua vez, a Áustria reconheceu a independência brasileira 
em dezembro de 1825, quando o imperador Francisco I recebeu o diplomata 
Antônio Telles da Silva como representante oficial do Império do Brasil junto 
aquela corte. 
No terceiro capítulo, denominado: Estados Unidos e Inglaterra: as 
 10 
transações comerciais e a hegemonia sobre o continente americano; 
analisamos o reconhecimento da independência pelos Estados Unidos da 
América, que foi a primeira nação estrangeira a reconhecer a separação 
política entre o Brasil e Portugal, em maio de 1824, e pela Inglaterra que foi o 
principal agente de negociação de um acordo entre Portugal e Brasil, que pôs 
termo a celeuma entre ambos e tornou de vez o império brasileiro politicamente 
livre da corte lusa. 
 È possível apontar que não foi sem acordos comerciais onerosos para o 
Brasil que veio a ser concretizado o valorizado reconhecimento da 
independência do império por parte da Inglaterra e dos Estados Unidos, 
principalmente, os quais se beneficiaram com taxas alfandegárias favoráveis 
aos seus produtos, aumentando o volume de comercialização com o Brasil e 
provocando dificuldades aos produtos exportáveis. Esse fator tornou a balança 
comercial desfavorável ao Brasil em relação a essas nações. 
O empenho dos ingleses visava dois pontos principais no império 
brasileiro: a manutenção do tratado de 1810 que estava previsto para vencer 
em 182512, bem como o compromisso do Brasil em extinguir o tráfico de 
escravos, o qual era prejudicial aos negócios ingleses, por fazer concorrência 
desigual com produtos de possessões antilhanas inglesas, principalmente em 
relação ao açúcar. 
Outro ponto é que os ingleses se viram ameaçados em sua hegemonia 
na América pelos Estados Unidos, uma vez que estes pretendiam estender 
seus tentáculos pela América e o pioneirismo no reconhecimento da 
independência do império do Brasil, aparentemente sem cobrar uma 
contrapartida imediata, deixava bem claro esse propósito. 
 Por conseguinte, desde a declaração de independência, no ano de 
 
12
 O tratado de comércio e navegação com a Grã-Bretanha é de 19 de fevereiro de 1810. Esse tratado 
reproduzia na parte comercial, essencialmente as mesmas disposições do tratado, não ratificado de 1809, 
nomeadamente a redução a 15 por cento dos direitos aduaneiros estabelecidos pela carta régia de 28 de 
janeiro de 1808 (24 por cento). No que se referia a panos e vinhos o acordo reproduzia o tratado de 
Methuen de 1703. Transferiam-se também para o Brasil as disposições do acordo de 1654 que instituíram 
um foro privativo para os cidadãos britânicos, com um conservador eleito pela coroa britânica e aprovado 
pelo monarca português. Através de numerosas disposições o tratado estabelecia um verdadeiro 
monopólio britânico no comercio das manufaturas com o Brasil e diversas restrições à entrada de 
produtos brasileiros na Grã-Bretanha. Embora o tratado estabelecesse, no seu artigo XXXII, que a sua 
duração era ilimitada, previa, no artigo XXXIII, a faculdade de as suas estipulações serem revistas no fim 
de quinze anos. (Texto retirado de MAGALHAES, José Calvet de. Breve História Diplomática de 
Portugal. Lisboa: Publicações Europa-América, 1990, p. 135.) 
 11 
1822, os administradores do Império brasileiro procuraram não economizar 
esforços em busca do reconhecimento da autonomia política do Brasil pelas 
nações estrangeiras. Mesmo que Portugal não o fizesse, bastava que a 
Inglaterra, principalmente, reconhecesse a autonomia política do Império e o 
imperador D. Pedro como seu governante e defensor perpétuo. E foi uma 
busca quase obstinada pelo reconhecimento da autonomia política do Brasil. 
A pressa era justificada pelo medo constante da administração imperial 
de supostas investidas de forças bélicas de Portugal contra o território 
brasileiro, como é possível verificar no ofício de Brant a José Bonifacio em 
fevereiro de 1823, onde afirma que: 
 
Sabendo que a 17 de janeiro estava a sair de Lisboa mais outra expedição de 
1600 homens com a regência, e o General Luis do Rego, e tendo informações 
seguras de que os portugueses não desistem do malvado projeto de subjugar 
o Brasil, descansando sobre a defesa de Portugal na garantia Inglesa, e vendo 
que sem navios de guerra sofreremos repetidas humilhações qualquer que 
alias seja a sabedoria do governo e o patriotismo dos governadores, ainda 
tentei com o oficio de V. Ex.ª obter de um banqueiro cinqüenta mil libras para 
mandar duas fragatas, mas o banqueiro mui justamente ponderou que tal oficio 
não podia servi-lhe de título legal para o seu contrato, pois que nele se 
ordenavam coisas proibidas em lei.13 
 
 
 Rumores como este, puseram nas autoridades imperiais a pressa 
descabidas para negociações da magnitude que um acordo diplomático requer. 
Tal pressa gerou acordos com benefícios unilaterais em desfavor do Império 
brasileiro que segundo Cervo e Bueno14 “a principal meta eleita como diretriz 
externa pelo governo brasileiro de então foi o reconhecimento da 
nacionalidade”. Prosseguindo ainda em sua análise, os mesmos autores 
reiteram que, 
 
 
O que seria uma meta exclusivamente política, estabelecida à luz de uma 
percepção limitada do interesse nacional, imobilizou as decisões brasileiras até 
a década de 1840, quando vencia os contratos firmados. Em vez de tirar 
proveito do quadro internacional e das forças internas, o governo brasileiro 
estendeu às nações estrangeiras, na bandeja, um extraordinário poder de 
barganha por ele criado e por elas utilizado para realização de seus desígnios. 
 
13
 Ofício de Brant a José Bonifácio. Londres 04 de fevereiro de 1823. In: Arquivo Diplomático da 
Independencia. Edição Fac-Similada da edição de 1922. Ministério das Relações Exteriores, 1972. Vol. I, 
p. 239. 
14
 CERVO, Amado Luiz e BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. 2ª Ed. Brasília: 
Ed. UNB, 2002. p. 26 
 12 
15
 
 
 
 Portanto, diante da análise que se apresenta, é possível afirmar que a 
ânsia dos dirigentes do Império em ter a independência reconhecida, além de 
prejudicial aos interesses brasileiros naquele momento, não fora no todo útil, 
pois foi meramente para o reconhecimento de uma nacionalidade sobre um 
território? Que independência se fez em 1822, se no poder, as forças 
dominantes (dos proprietários rurais, dos grandes comerciantes e dos 
profissionais liberais) permaneceram dando as cartas no jogo e o monarca 
brasileiro ligado por laços familiares com a antiga metrópole, Portugal? 
 Uma das conseqüências disso se pode adiantar: como desdobramento 
do processo de independência encabeçado por uma elite oligárquica ruralista, 
antidemocrática, sedenta em manter seus privilégios e o sistema escravista e, 
por um príncipe que apenas adotara a nacionalidade brasileira para 
manutenção da dinastia dos Braganças no poder, culminou na abdicação do 
trono por D. Pedro I em 1831, quando retornou à Portugal para disputar o 
poder com seu irmão D. Miguel e, mais tarde assumir o trono luso, falecendo 
poucos anos depois então com apenas 36 anos.15
 Idem. 
 13 
CAPÍTULO I - A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, DAS COLÔNIAS 
LATINO-AMERICANAS E A FORMAÇÃO DOS ESTADOS 
NACIONAIS NA AMÉRICA LATINA 
 
 
1.1 A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL 
 
 No início do século XIX começa a ser desenhada a independência do 
Brasil em relação a Portugal. No final de 1807, por força de um tratado secreto 
assinado entre Portugal e a Inglaterra em 22 de outubro de 1807, o qual previa 
a transferência da sede da monarquia portuguesa para o Brasil e a ocupação 
temporária da Madeira pela Grã-Bretanha, comprometendo-se Portugal a 
negociar um acordo de comércio com os ingleses logo que o governo 
português se instalasse no Brasil16, a Corte lusitana parte para o Brasil. 
A decisão do monarca português teve decorrência pela demora de 
Portugal em cumprir as imposições de Napoleão Bonaparte para com os 
ingleses, as quais eram de fechar os portos aos Britânicos e o confisco dos 
bens dos mesmos. Diante dessa demora foi ordenada a invasão de Portugal 
por Napoleão, onde o então príncipe regente D. João não teve alternativa a não 
ser deixar Lisboa em direção ao Brasil escoltado pelos ingleses.. 
 Contudo, conforme Novais e Mota17 “à Inglaterra interessava não só 
proteger o aliado valioso na pugna com Napoleão, mas também aproveitar a 
oportunidade de penetrar mais abertamente nos mercados brasileiros, pois, 
ocupada a metrópole, tornava-se imperioso suspender o exclusivo do comércio 
com a colônia”. 
 E foi justamente o que aconteceu a partir da chegada da família real ao 
Brasil, com a imediata abertura dos portos às “nações amigas” e, 
consequentemente, em retribuição à escolta da corte para o Brasil, em 1810, 
firma-se um acordo estabelecendo o percentual de 15% de taxas alfandegárias 
aos produtos produzidos e comercializados pelos ingleses com o Brasil.18 
 
16
 MAGALHAES, José Calvet de. Breve História Diplomática de Portugal. Op. Cit. p. 128-129. 
17
 NOVAIS, Fernando A. e MOTA, Carlos Guilherme. A Independência Política do Brasil. 2ª edição. São 
Paulo, Hucitec, 1996. p. 32. 
18
 CERVO, Amado Luiz e BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior no Brasil. Op. cit. p. 36. 
 14 
Essa atitude do monarca não foi bem aceita pelos comerciantes e 
proprietários brasileiros e, também pelos lusitanos que no Brasil residiam ou 
desenvolviam atividades econômicas com o Brasil, pois, os produtos ingleses, 
com a baixa taxa alfandegária, tornavam-se muito mais competitivos e, sendo 
de qualidade superior, eram preferidos pelos consumidores do mercado 
brasileiro, deixando a elite descontente, pois, viram o volume de seus negócios 
reduzido. Além desse fator, outro, não menos importante, era em relação à 
arrecadação da fazendo real. 
Uma vez diminuído o percentual tributário das mercadorias estrangeiras, 
diminuiria proporcionalmente o volume entesourado pelos cofres reais. O que 
poderia refletir (e de fato refletiu) negativamente na balança comercial, pois as 
exportações brasileiras eram menos volumosas e sofria concorrência de outros 
entrepostos ingleses, como era o caso das Antilhas em relação ao açúcar, por 
exemplo. Nesse sentido Celso Furtado assevera que, 
 
 
Contudo, cabe reconhecer que o privilégio aduaneiro concebido à Inglaterra e 
a posterior uniformização da tarifa ao nível de 15% ad valorem, numa etapa de 
estagnação do comércio exterior, criaram sérias dificuldades financeiras ao 
governo brasileiro. O imposto às importações é o instrumento comum com que 
os governos dos países da economia primário-exportadora arrecadam suas 
receitas básicas. A única alternativa a esse imposto era taxar as exportações, 
o que numa economia escravista significava cortar os lucros da classe de 
senhores da grande agricultura. Assim, entre a necessidade de sangrar seus 
próprios lucros numa etapa de dificuldades, e a possibilidade de aumentar o 
imposto de importação, debateu-se a classe governante brasileira.19 
 
 
 Em 30 de maio de 1814, foi assinado o tratado de paz entre os diversos 
aliados e a França. Dentre os aliados estava Portugal e com o acordo de paz 
acabava a ameaça francesa ao território português. Parecia assim que as 
novas condições políticas trazidas pelo tratado de paz promoveriam o retorno 
da Corte monárquica portuguesa para Lisboa. Entretanto, pela carta lei de 16 
de dezembro de 1815, D. João VI criou o Reino Unido de Portugal, Brasil e 
Algarves, elevando à condição de Reino o Brasil20, fazendo a chamada 
“inversão colonial”. 
Como esperavam que superado os problemas da invasão francesa ao 
 
19
 FURTADO, Op. cit. p. 96. 
20
 MAGALHAES, José Calvet de. Breve História Diplomática de Portugal. Op. Cit. p. 138-142. 
 15 
território de Portugal a monarquia voltasse para sua antiga sede em Lisboa, o 
que não se verificou e, pelo contrário, a colônia foi elevada a condição de 
Reino, a elite da antiga metrópole não aceitou de bom grado essa situação, 
exigindo de imediato a volta de D. João VI a Portugal e a posterior 
recolonização do Brasil. 
 A recusa do monarca em não atender ao pedido da elite portuguesa e 
permanecer no Brasil, mantendo sua elevação de Reino Unido, levou a 
deflagração da revolução liberal do Porto em 1820, que tinha o cunho de 
pressioná-lo a uma decisão, certos de que a melhor era a volta do rei e a 
recolonização do Brasil. Esse movimento revolucionário do Porto lançaria as 
sementes da emancipação política do Brasil frente ao seu colonizador, 
Portugal. 
 Antes, porém, já havia tido lugar no Brasil rebeliões de caráter 
emancipacionistas, como a inconfidência mineira (1789) e a conjuração baiana 
(1798) e o movimento ocorrido em Pernambuco (1817) deflagradas por grupos 
que se sentiam oprimidos pelo governo absolutista imperante no Brasil. No 
caso mineiro de caráter mais elitista e restrito, os inconfidentes pertenciam às 
elites econômicas de Minas Gerais; na Bahia, englobava categorias sociais 
mais amplas, inclusive a principal era a dos alfaiates, grupo que empresta o 
nome ao movimento, sendo conhecida também como “revolta dos alfaiates” e 
entre os objetivos do movimento estava a libertação dos escravos. 
 Já o movimento ocorrido em Pernambuco no ano de 1817 reunia 
diversas camadas sociais, inclusive escravos. Acabou sendo vencida pelas 
tropas reais e seus líderes punidos exemplarmente. 
 As forças políticas, caracterizados por categorias sociais em defesa de 
interesses particulares, e opostos uns aos outros, ganhariam maior importância 
quando do retorno de D. João VI a Portugal. Três se destacaram: os partidos 
“Português”, “Brasileiro” e os “Radicais Liberais”. 
 Os integrantes do partido Português defendiam a recolonização do Brasil 
com a volta da corte para Portugal, pois era basicamente composto por 
comerciantes portugueses. 
 Os do partido Brasileiro defendiam a permanência de D. João VI no 
Brasil, para continuar mantendo os privilégios consolidados desde a vinda da 
corte para o Brasil, pois era composto basicamente por grandes proprietários. 
 16 
 Já os Radicais Liberais, defendiam uma alternativa que não fosse nem a 
recolonizaçao, nem a manutenção do reinado, pois era composto de pessoas 
que, inclusive, foram simpatizantes da insurreição de 1817 em Pernambuco. 
 Diante dessas dificuldades e o medo de perder o trono de Portugal, D. 
João VI retorna para o reino português, deixando no Brasil seu filho D. Pedro, 
como príncipe regente. Nesse momento ganha ainda mais força o partido 
Brasileiro, representado pelo conservador José Bonifácio de Andrada e Silva, 
que se tornou uma espécie de conselheiro de D. Pedro e articulador da 
independência do Brasil de Portugal.21 
 O retorno de D. João VI a Lisboa, no entender de Luis Norton, provocoumudanças nos ideais do brasileiro, que passou a contestar o sistema 
absolutista e pendeu para o lado de uma forma de governo que fosse garantida 
por uma constituição. Mais parecido com o que reivindicavam os liberais 
radicais, pois segundo ele: 
 
Enquanto se convenceu de que era definitiva a presença da corte, o brasileiro 
aceitou um rei absoluto e visionou um império. 
Após a desilusão que sofreu com o anúncio da partida do rei, o mesmo 
brasileiro converteu-se ao constitucionalismo combativo, sem deixar de ser 
irmão espiritual dos inconfidentes.22 
 
 
 A fase decisiva da independência do Brasil começaria pelo não retorno de 
D. Pedro para Lisboa como lhe exigiam as Cortes Portuguesas. Contrariando a 
exigência das Cortes lisbonenses, o então príncipe regente D. Pedro 
respondeu com o manifesto do “dia do fico”, ocorrido em 09 de janeiro de 1822. 
Na carta escrita em 19 de junho de 1822 D. Pedro relembra seu pai da 
instrução a ele deixada antes de seu retorno a Lisboa, onde afirma: 
 
 
“Eu ainda me lembro e me lembrarei sempre do que vossa majestade me 
disse, antes de partir, dois dias, no seu quarto: Pedro, se o Brasil se separar, 
antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses 
aventureiros”23 
 
 
21
 O retorno do rei D. João VI a Lisboa foi um retorno conturbado, pois ficou a mercê das elites liberais 
portuguesas até o golpe de 1823 que restabeleceu o absolutismo em Portugal. 
22
 NORTON, Luís. A corte de Portugal no Brasil: notas, alguns documentos diplomáticos e cartas da 
imperatriz Leopoldina. 2ª Edição. São Paulo: Ed. Nacional, Brasília, INL, 1979. p. 119. 
23
 NORTON, Op. cit. p. 149. 
 17 
 
 A independência do Brasil frente a Portugal era então considerada por 
D. Pedro como uma necessidade para a conservação da possessão 
americana. Posto que o rei D. João VI encontrava-se refém das Cortes 
Portuguesas, entendia o príncipe D. Pedro que a dinastia monárquica dos 
Braganças poderia estar ameaçada de permanecer no poder, caso ele 
obedecesse às cortes e retornasse a Portugal. 
 O temor do príncipe estava na possibilidade dele também ser feito um 
mero figurinista no exercício do trono.24 Por outro lado, em seu entendimento, o 
rei, seu pai, já havia lhe dado o consentimento de proclamar a independência 
brasileira, temendo justamente as idéias liberais, tanto das cortes, como as 
brasileiras. Mesmo porque, o exemplo latino americano era inevitável, uma vez 
que as ex-colônias hispânicas estavam se constituindo em Estados 
independentes e republicanos. 
 Desde a partida de D. João para Lisboa é notório que o Brasil teve que 
tomar rumos próprios, pois os cofres do Império foram esvaziados e as tensões 
políticas com as Cortes portuguesas cobravam uma atitude dos dirigentes 
brasileiros. D. Pedro, auxiliado pela oligarquia rural escravista e, 
principalmente, por José Bonifácio, procura tomar as rédeas da administração 
brasileira e o Brasil sente-se “independente” de Portugal, antes mesmo da 
proclamação de 07 de setembro de 1822. José Honório Rodrigues cita trechos 
da conversa entre o cônsul interino dos Estados Unidos, P. Satoris, e José 
Bonifácio, em agosto de 1822, onde este já declarava o Brasil como separado 
de Portugal, dizendo que: 
 
“meu senhor, o Brasil é uma nação e como tal ocupará seu posto sem ter que 
esperar ou solicitar o reconhecimento das demais potências. A elas se 
enviarão agentes diplomáticos ou ministros. As que os recebam nessa base e 
nos tratem de Nação a Nação continuarão sendo admitidas nos nossos portos 
e favorecidas em seu comércio. As que se neguem serão excluídas dele.” 25 
 
 
 
24
 Se bem que para D. Pedro I, ao permanecer no Brasil e promover a separação do Império brasileiro de 
Portugal, a resistência que teve que enfrentar das classes dirigentes compostas pelas oligarquias rurais, 
principalmente, não fez sua sorte muito diferente da do seu pai. Apenas adiaram a sua volta para Lisboa, 
para o ano de 1831, quando abdicou do trono brasileiro. 
25
 RODRIGUES, José Honório e SEITENFUS, Ricardo A. RODRIGUES, Leda Boechat (org. ). Uma 
História Diplomática do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995, p. 119. 
 18 
Para Emilia Viotti José Bonifácio estava na crista do movimento da 
Independencia. Com energia reprimiu o que lhe parecia “demagogia”, agitação 
e abusos de liberdade, reforçando o policiamento, a espionagem, vigiando com 
igual rigor os “pés de chumbo” – portugueses suspeitos de sabotar a causa da 
autonomia nacional – e os elementos subversivos da ordem, isto é, todos 
aqueles que lhe pareciam “demagogos”, democratas, que mais tarde, na 
Constituinte de 1823, tacharia de “mentecaptos revolucionários que andam 
como em mercados públicos apregoando a liberdade.”26 
Viotti demonstra ainda que José Bonifácio determinou o aumento de 
espias, mandou vigiar o movimento de pessoas suspeitas e restringiu a 
liberdade de imprensa. Mandava prender, aumentava a fiscalização e a 
repressão. O número de inimigos crescia: portugueses fiéis a Portugal, que 
nele viam um traidor da causa portuguesa, liberais que viam nele um 
absolutista. 27 
O “grito do Ipiranga” de 07 de setembro de 1822 se constitui no 
simbolismo necessário para auto-afirmação de uma independência feita sob a 
necessidade de demonstrar força ao, agora inimigo, Portugal. 
 Antes unido por laços de respeito e dependência, ora transformado em 
oponente a ser combatido em todos os aspectos. Ocorre que para as elites 
oligárquicas do Brasil que haviam adquirido direitos de nobreza e bens 
econômicos com a vinda da Corte para o Brasil valia à pena lutar com todas as 
forças ao lado do príncipe D. Pedro, inclusive a das armas, para a manutenção 
desses privilégios. 
Querendo a recolonização estavam as “facções portuguesas”, que ao 
contrário das elites brasileiras, haviam perdido a Corte monárquica para o 
Brasil; a colônia agora transformada em Reino independente, bem como um 
lucrativo comércio quebrado pelo fim do exclusivo comercial. 
Conservador, José Bonifácio tomou cuidados para consolidar a forma de 
governo como monarquia constitucional, para evitar, assim, os perigos de uma 
república. Aliás, Novais e Mota28, asseveram que a proclamação do Ipiranga a 
07 de setembro de 1822, “surgiu como decorrência das tensões com as cortes 
 
26
 COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia À República: Momentos Decisivos. São Paulo: UNESP, 
1999. p. 70. 
27
 Idem, p. 70-71. 
28
 NOVAIS E MOTA, Op. cit. p. 54 
 19 
e simboliza a vitória do grupo liderado por José Bonifácio, conservador, 
monarquista e palidamente constitucionalista, e do partido brasileiro”. Contudo, 
após o grito do Ipiranga, José Bonifácio e alguns de seus colaboradores, 
sofreriam derrotas importantes, sendo afastados da articulação política e de 
sua posição na administração imperial, pela ação de alguns liberais, contrários 
à forma como era conduzida a administração orientada pelo Andrada. 
 E no contexto da opção pela permanência da forma monárquica de 
governo no Brasil, são pertinentes os apontamentos de Gabriela Nunes 
Ferreira, para quem: 
 
A solução monárquica foi como aponta José Murilo de Carvalho, “uma opção 
consciente da elite brasileira da época” (da independência), para quem a 
monarquia seria a melhor maneira de evitar a fragmentação territorial e garantir 
a ordem contra os perigos de uma ordem social baseada na escravidão.29 
 
 Ocorre que uma grande parcela da população brasileira sendo 
composta de escravos, outra de mestiços livres, sem contar na de 
simpatizantes das causas abolicionistas, impôs medo nas elites, de possíveis 
revoltas que a extirpação do poder monárquico pudesse darcausa. Servia 
como exemplo os movimentos independentistas latinos americanos, onde a 
fragmentação territorial das antigas colônias espanholas, que se 
transformavam em Estados republicanos, abalava as mentes dos condutores 
do movimento no Brasil. José Murilo de Carvalho aponta nesse sentido a 
solução monárquica da independência brasileira. Para ele, 
 
 
Em um país com cerca de 30% de escravos na população e uma porcentagem 
ainda maior de negros e mestiços, as agitações decorrentes de uma solução 
republicana poderiam levar a uma rebelião escrava de características raciais a 
exemplo do que acontecera no Haiti (São Domingos), O “Haitianismo” 
despertava o medo maior do que a república. Ele aparecera já na revolta de 
1817 e causava a divisão e o enfraquecimento dos rebeldes. Uns queriam a 
abolição, outros a temiam. 
Diante disso, não é surpresa que a solução da independência com monarquia 
tenha vencido. Um rei tinha a seu favor a tradição de três séculos e o forte 
simbolismo de encarnar a união nacional. Não se vinculando a partidos e 
facções; ele tinha melhores condições de tranqüilizar os adversários da 
centralização. Além disto, a monarquia tinha certo apelo popular, sobretudo 
 
29
 FERREIRA, Gabriela Nunes. O Rio da Prata e a Consolidação do Estado Imperial. São Paulo: 
Hucitec, 2006. p. 40 
 20 
nas populações rurais.30 
 
 
Dentro da sociedade brasileira dos grandes proprietários e dos 
dirigentes havia homens que defendiam não só a permanência do sistema 
monárquico de governo no Brasil, como também eram defensores da 
monarquia absolutista e não constitucional. Um desses homens era o 
Procurador da Província do Rio Grande do Sul, Antonio Vieira Soledade, que 
se opõe ao juramento prévio do imperador à constituição a ser criada pela 
assembléia constituinte brasileira de 1823, dizendo que: 
 
[...] vejo com mágoa em algumas atas da câmara das Províncias do Império, 
que tiveram por assunto a gloriosa aclamação de sua majestade Imperial a 
virulenta cláusula (que também muito nos desonra) do prévio juramento de sua 
majestade o Imperador à constituição, qualquer que ela seja, que houver de 
ser feita pela Assembléia Geral Brasileira Constituinte e Legislativa. Direi logo 
a inconseqüência desonrosa de tal cláusula. Limito-me primeiramente a 
algumas reflexões sobre o perigo da pública segurança, a que nos arrroga 
semelhante cláusula.31 
 
 
Soledade alegava ser o ex-presidente da câmara da corte José 
Clemente o responsável por ter iludido os constituintes a colocar tal cláusula, 
por ser este um antigo e declarado inimigo do trono. E prossegue o procurador 
em seus apontamentos: 
 
[...] Mas eu não vejo em todas aquelas atas alegada uma só razão que motive 
esta notável cláusula do prévio juramento de sua majestade Imperial à 
constituição, que houver de fazer-se no Brasil pela Assembléia Legislativa: o 
que seria para admirar, se não fosse certo, que as câmaras das províncias, só 
iludidas pelo manhoso formulário, remetido desta corte por aquele ex-
presidente, democrata furioso (o que é de fato notório e incontroverso) fizeram 
inserir aquela condição, sem prever-lhe contradição, e o perigo que resultaria.32 
 
 
Prossegue o procurador fazendo uma comparação do que significaria 
para ele o prévio juramento da constituição do Império brasileiro que viesse a 
 
30
 CARVALHO, José Murilo de. A Monarquia brasileira. Rio de Janeiro. Ao livro técnico, 1993. p. 19-
20. 
31
 Representação do Procurador Antônio Vieira Soledade Sobre o Juramento Prévio. In: RODRIGUES, 
José Honório (direção e introdução) Senado Federal: Atas do Conselho de Estado. Conselho dos 
Procuradores Gerais das Províncias do Brasil, 1822-1823. Brasília, Centro Gráfico do Senado Federal, 
1973. p. 103. 
32
 Idem p. 104. 
 21 
ser criada pela Assembléia. Em seu entender, o imperador D. Pedro 
assemelhar-se-ia a situação vivida por seu pai em Portugal. Segundo ele: 
 
 
 [...] Pela constituição de Lisboa, qualquer homem é digno de ser rei, contando 
que faça constantemente o que o Congresso lhe ordenar que faça. Os 
brasileiros são mais amigos de seu Imperador, mais amantes e respeitadores 
do seu Trono, e não são menos livres. Nem o prévio juramento cegamente 
dado à Constituição que fizer a futura Assembléia, constitui em coisa alguma, 
ou assegura por qualquer face, que se considera a Nação Brasiliense, o mais 
insignificante direito dos cidadãos, antes muito pode arriscar a sua segurança e 
prova atualmente contra nós uma contradição que tanto nos desonra.33 
 
 
 
A contradição que o procurador se refere é em relação ao juramento 
feito por D. Pedro de obedecer à constituição portuguesa e assim deixar o 
Brasil dependente das “facções de Lisboa”. Uma vez que D. Pedro promoveu a 
independência brasileira de Portugal, não convinha torná-lo “dependente” de 
uma Assembléia, através de uma constituição, que poderia em caso extremo, 
causar a derrubada do Império e o estabelecimento de uma República no 
Brasil. 
Feita a independência e mantida a monarquia no Brasil, o período pós-
independência constituir-se-ia no mais importante para a afirmação do Brasil 
como Estado independente e reconhecido internacionalmente. Foi justamente 
em busca disso e para afastar o medo de uma tentativa de recolonizaçao que 
D. Pedro I quis apressar o estabelecimento de uma constituição que regesse o 
“novo Estado”. Tanto que chegou a destituir a Assembléia Constituinte de 
182334, que não convergia com aquilo que o príncipe necessitava para 
governar tranqüilo e acabou, por fim, por outorgar a constituição de 1824, com 
um quarto poder, o moderador, que lhe dava o direito final sobre as decisões 
da administração imperial, não fugindo à forma clássica de um poder 
absolutista centralizado. 
 
33
 RODRIGUES, Op. cit. p. 105. 
34
 José Murilo de Carvalho assevera que a inexperiência dos constituintes em legislar e a tentativa de 
limitar os poderes do imperador fizeram com que D. Pedro optasse pela destituição da Assembléia 
Constituinte de 1823. Para tanto, D. Pedro tirou José Bonifácio do governo e cercou-se de áulicos 
portugueses. Argumentou também para o fechamento da Assembléia que grupos radicais estavam 
espalhando ódio entre brasileiros e portugueses. Para redigir o novo projeto criou um conselho de Estado 
composto por dez membros. (texto retirado de CARVALHO, José Murilo de. A Monarquia brasileira. 
Op. Cit. p. 22-23.) 
 22 
 Entretanto, “vários desdobramentos, segundo Novais e Mota35, ocorreram 
após a outorga da constituição de 1824, sendo o maior deles a revolução 
republicana que envolveu todo o Nordeste, a Confederação do Equador”. Em 
seguida, assinalam os autores que, 
 
 
Nesse movimento liberal radical destacaram-se líderes como Frei Caneca e 
Paes de Andrade. E, o golpe de 1824, a repressão ao movimento 
republicanista da Confederação do Equador e a outorga da constituição dão 
início ao processo de esvaziamento político do primeiro reinado. A 
independência ficava, assim, a meio-caminho, sendo o processo de construção 
do Estado nacional brasileiro retomado somente em 1831, após a expulsão do 
imperador com o retorno ao poder de representantes da aristocracia agrária.36 
 
 
O movimento da confederação do Equador foi de tal monta que 
repercutiu negativamente para as pretensões brasileiras da busca pelo 
reconhecimento da independência, tanto na América, quanto na Europa. Os 
contratempos causados pelo movimento foram tanto que a vitória sobre os 
rebeldes foi comunicado por ofício de Carvalho e Melo aos representantes do 
Brasil na Inglaterra com alívio e esperança da boa repercussão que causaria 
aos “negócios pendentes”.Escreve Mello que: 
 
Agora, porém é para mim extremamente agradável ter de comunicar à V. S.ª 
para sua inteligência e satisfação, que aquelas forças de Sua Majestade 
Imperial, tendo-se unido às fiéis tropas Pernambucanas, aniquilaram 
inteiramente todas as forças dos rebeldes, havendo antecipadamente fugido 
com maior vilania para bordo de uma fragata inglesa o indigno intruso 
presidente Manoel de Carvalho Paes de Andrade e conseguintemente está 
aquela província restituída à unidade do Império do Brasil, ficando assim 
cortados todos os fios das maquinações revolucionárias de que a capital da 
dita província era desgraçadamente o foco. 
Este importantíssimo sucesso, cujos detalhes V. S.ª verão bem expendidos no 
oficio do general Lima, que vem transcrito no Diário Fluminense nº 81, ao 
mesmo tempo em que prova que o Império do Brasil tem forças suficientes 
para sufocar qualquer partido dissidente da boa causa, não poderá deixar de 
aumentar na Europa a nossa moral, dando grande peso ao bom resultado das 
negociações pendentes.37 
 
 
 As negociações pendentes a que se refere Carvalho e Mello é o acordo 
de reconhecimento do Brasil por Portugal e pela Inglaterra. Acordo que foi 
 
35
 NOVAIS E MOTA, Op. cit. p. 59. 
36
 Idem 
37
 Oficio de Carvalho e Mello a Brant e Gameiro. Rio de Janeiro 04 de outubro de 1824. In: Arquivo 
Diplomático da Independencia. Op. Cit. Vol. I, p. 93-94. 
 23 
trabalhoso e objeto de muitas negociações, mesmo sendo, como afirmam 
Cervo e Bueno38 “o processo que levou a independência do Brasil de interesse 
da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos e dos novos Estados hispano-
americanos”. Entretanto, “de nenhum lado houve disposição de sustentá-la 
pelas armas. O rompimento foi uma decisão de política brasileira, imposta por 
forças nacionais, que não contou com apoio externo”. Nesse sentido é muito 
assaz as observações de Hippolyto José da Costa, em ofício a José Bonifácio, 
no mês de janeiro de 1823, onde discorre sobre as exigência dos países da 
Europa para reconhecer a independência do Brasil, dizendo no segundo artigo 
que: 
 
Artigo 2º que essas pretensões das potências aliadas são tanto mais 
desarrazoadas, no que pertence ao Brasil, quanto elas tem deixado Sua 
Majestade Imperial, desde o começo da revolução do Brasil, sem lhe darem 
nenhum auxilio físico ou moral; sem sequer lhe darem conselho, nem 
intimarem qual era a vontade dessas potências, e o abandonaram de todo aos 
acasos da revolução; e não obstante queixar-se-ão de qualquer resolução, que 
sua Majestade Imperial adote, pelo simples motivo, que, no entanto não 
declaram, de se não haver no Brasil obtido a sanção previa de tais potências; 
como se, ainda que isso fosse justo, pudesse ser exequivel, na distância em 
que se acha o Brasil, e quando as circunstâncias do momento são as que 
determinam as medida, que devem adotar-se de pronto, para evitar a anarquia 
sempre de recear em estado de revolução.39 
 
Prosseguindo com Cervo e Bueno e os interesses da Inglaterra e 
Estados Unidos na independência do Brasil, asseveram que: 
 
A Grã-Bretanha considerou a independência da América Latina útil para a 
consagração de novos mercados consumidores, o que mais tarde lhe 
possibilitaria estabelecer uma hegemonia sobre o continente. Já em relação ao 
Brasil, a Grã-Bretanha arvorou-se ainda defensora dos interesses dos 
portugueses, para salvaguardar a fidelidade útil daquele Estado. Quanto aos 
Estados Unidos, visaram objetivos políticos, econômicos e estratégicos: 
desistindo de se opor à forma monárquica de governo, buscava a expansão do 
“sistema americano”, o desafio à preponderância econômica e política inglesa 
e a sustentação de tais desígnios pela ação diplomática e pela presença de 
uma esquadra. E foram os Estados Unidos os primeiros a reconhecerem a 
independência do Brasil em relação a Portugal em 25 de junho de 1824, 
negociando um tratado de comércio.40 
 
 
 
38
 CERVO E BUENO, Op. cit. p. 25 
39
 Ofício de Hippolyto a José Bonifácio. Londres 13 de janeiro de 1823. In: Arquivo Diplomático da 
Independencia. Op. Cit. Vol. I, p. 233. 
40
 Idem. 
 24 
No entender de Novais e Mota41, “as negociações de reconhecimento da 
independência do Brasil com a Inglaterra deveriam balizar-se pelos tratados de 
1810, que expirariam em 1825”. Seguem os autores afirmando que, “essas 
negociações eram dificultadas pelo não-cumprimento da promessa luso-
brasileira de eliminação gradual do comércio negreiro”. Por conseguinte, 
asseguram os mesmos autores que: 
 
 
 A Inglaterra apoiara os movimentos de emancipação da América espanhola, 
era aliada de Portugal e não podia desagradar a Santa Aliança; mas a 
continuidade da dinastia Bragança, a atitude ante o revolucionarismo 
separatista da Confederação do Equador e a promessa de extensão, nos 
portos do Brasil, de tarifas aduaneiras privilegiadas à Áustria, à Prússia e à 
Rússia fizeram com que esses obstáculos fossem ultrapassados. O 
reconhecimento por parte de Portugal foi mais simples, visto que dependia 
economicamente da Inglaterra. A 29 de agosto de 1825 foi assinado o acordo 
de reconhecimento, mediante indenização em libras e manutenção do título de 
“imperador do Brasil” para D. João VI – sugerindo a idéia de “legitimidade” de 
D. Pedro I. A Inglaterra manteve o controle sobre os dois países, ao emprestar 
ao Brasil a quantia (a mesma devida por Portugal à Inglaterra), sendo que o 
Brasil pagou de início apenas os juros e serviço da dívida. Após o 
reconhecimento de Portugal, outras nações seguiram o exemplo da ex-
metrópole, tais como a França, a Santa Sé, a Áustria e a Rússia. Em 1827, 
ratificaram-se os tratados de 1810 com os ingleses, garantindo a eles a 
igualdade com os brasileiros no pagamento de tarifas aduaneiras. Em 1828, o 
governo decide que o governo de qualquer nação pagaria taxa de importação 
de 15%, determinação que irá durar até 1844.42 
 
 
 
Já as repúblicas recém independentes da América espanhola 
demoraram mais tempo para reconhecer a independência brasileira, devido à 
forma de governo (monárquica), além das posições expansionistas do Rio de 
Janeiro na Província da Cisplatina. 
 O conflito regional entre Portugal e Espanha é fato na análise de Cervo e 
Bueno43, que “após as independências, Rio de Janeiro e Buenos Aires vão 
administrar o secular conflito regional entre Portugal e Espanha, relativo ao 
estuário do Rio da Prata”. O que causava esse conflito, na compreensão dos 
autores, era o desejo antigo de D. João VI, de estender seus domínios sobre as 
vias fluviais navegáveis da região platina, e assim, concretizar seu projeto de 
 
41
 NOVAIS & MOTA, Op. cit. p. 62 
42
 Idem. 
43
 CERVO & BUENO, Op. cit. p.40. 
 25 
construção de um Império americano, anexando inclusive os territórios de 
Buenos Aires e Montevidéu ao domínio lusitano. Projeto este que amadureceu 
a partir de 1808 com a vinda da família real para o Brasil. A proximidade do 
monarca com os territórios desejados fez com que as forças portuguesas 
avançassem sobre a Cisplatina por volta de 1821 e anexasse a região ao 
território brasileiro. Ainda sobre o conflito, Cervo e Bueno asseguram que: 
 
A situação se agravaria a partir de 1825, quando Buenos Aires decretou a 
incorporação da Cisplatina, em resposta a uma declaração de independência 
do Uruguai: Dom Pedro reagiu, por sua vez, à decisão argentina com a guerra 
a Buenos Aires e com o bloqueio naval. Contudo as batalhas campais e 
navais, nada resolveram e tão menos as negociações diplomáticas. A solução 
começa a aparecer quando as partes, já desgastadas, solicitam a mediação 
britânica. Essa com interesses nocomércio, o negociador inglês Canning opta 
pelo restabelecimento da paz e, particularmente, dos negócios. A convenção 
preliminar de paz, de 27 de agosto de 1828, obrigava Brasil e Argentina a 
garantir a independência do Uruguai, conforme se disporia o tratado definitivo 
de paz. Em artigo adicional, assegurava-se a livre navegação do Rio da Prata 
e seus afluentes para os súditos das partes. Esse foi um triunfo brasileiro, que 
também interessava à Inglaterra e às outras potências. Delas, aliás, recolherá 
o Brasil um interminável requisitório contra as presas que fizera o bloqueio.44 
 
 
 O fato é que o reconhecimento da independência brasileira foi bastante 
oneroso, política e economicamente ao Brasil, uma vez que se fez basicamente 
através de acordos e tratados, que sempre beneficiavam com vantagens 
pecuniárias às nações que consentiam o reconhecimento do Brasil como 
Estado independente. 
 Independente politicamente, mas dependente de recursos externos, que 
se tornaram cada vez mais escassos devido aos acordos que retiraram do país 
a principal fonte de arrecadação que eram advindas das taxas alfandegárias 
angariadas com as transações do comércio exterior. Com efeito, o 
reconhecimento que deveria ser uma meta, numa análise mais detalhada, se 
constituiu em uma necessidade do Império Brasileiro, em firmar-se como 
Estado, com governo próprio e legitimidade jurídica frente aos Estados 
estrangeiros, afastando de vez, o medo, mais imaginário, que real, de uma 
possível recolonizaçao por parte de Portugal. 
 
 
 
44
 CERVO & BUENO, Op. cit. p. 40-41. 
 26 
 
1.2 A INDEPENDÊNCIA DAS COLÔNIAS LATINO-AMERICANAS 
 
 
 Um possível atraso em relação ao desenvolvimento de outras potências 
européias é apontado por estudiosos do tema América Latina como fator 
convergente para a decadência da Espanha como potência colonial. Um dos 
possíveis responsáveis por este atraso é o excesso de metais preciosos, ouro 
e prata, extraídos dos territórios da América espanhola, que fizeram com que 
houvesse um descaso por parte dos monarcas espanhóis ao longo dos 
tempos, em relação aos aprimoramentos das técnicas de produção agrícola, 
pecuária e na industrialização da metrópole. Fato que tornou a Espanha 
dependente de importações de produtos primordiais, pagando altos custos, e 
provocando, inclusive, dificuldades de abastecimento, tanto na metrópole, 
quanto em suas colônias. Outro lado negativo desse processo foi a evasão de 
recursos angariados nas colônias americanas com o pagamento das 
importações, além do descontentamento das elites “criollas” nas colônias da 
América, que pagavam preços exorbitantes pelos produtos adquiridos da 
metrópole, devido ao exclusivo colonial. 
Sendo assim, a Espanha teria chegado ao século XVIII equiparando-se 
em termos desenvolvimentista às suas possessões. Dependente 
economicamente e dominada por uma elite senhorial que não tinha disposição 
para investir e pouco menos, para economizar. Sendo que a diferença 
essencial, senão única, era o fato das colônias produzirem metais preciosos, os 
quais abasteciam os luxos metropolitanos e, em contrapartida, tornava a 
metrópole acomodada. 
 Com o a subida ao poder dos Bourbons, Lynch aponta para uma 
mudança por volta de meados do século XVIII, que em sua opinião, 
 
Na segunda metade do século XVIII, sob o domínio dos Bourbons, a Espanha 
tenta modernizar sua economia, sua sociedade e instituições, através de 
reformas das estruturas já existentes, sendo o objetivo econômico básico 
desenvolver a agricultura mais do que estimular a indústria, mesmo porque, o 
aumento populacional espanhol clamava por mais áreas para o cultivo e para 
 27 
as pastagens.45 
 
 
 
 Por conseguinte esse projeto acabou por não obter o sucesso esperado, 
pois a pouca vontade das elites em aceitar as mudanças, bem como a falta de 
uma atitude mais enérgica dos dirigentes Bourbons provocaram o 
engessamento das mudanças implantadas, como aponta Lynch: 
 
 
A apatia do governo e a resistência dos detentores de direitos adquiridos 
frustraram os planos de reforma agrária. Os rendimentos agrícolas 
continuavam baixos e impediam o desenvolvimento de um mercado nacional 
para a indústria. Além do mais, a infra-estrutura comercial estava tão atrasada 
que não conseguia atender as demandas.46 
 
 
 
 Tanto na Espanha como nas colônias americanas, havia divergências 
quanto às mudanças em curso. Por falta de uma indústria capaz de suprir as 
necessidades das colônias, os governantes espanhóis abriram caminho para 
uma linha direta entre a Inglaterra e as colônias latinas, que passaram 
transacionar os produtos industrializados diretamente com os ingleses, 
fragilizando o exclusivo comercial imposto às colônias pela metrópole. 
É fato que os dirigentes europeus tinham uma visão de superioridade 
frente aos colonos americanos e tratavam as possessões latinas como um 
mero fornecedor de metais amoedáveis, pagadores de impostos e 
consumidores dos produtos com altos custos do exclusivo comercial 
metropolitano. Por sua vez, as elites americanas percebiam sua importância 
frente às necessidades da metrópole e buscavam aumentar a participação na 
administração das províncias coloniais, onde a disputa pelos cargos mais altos 
da administração sempre foi objeto de disputa entre “peninsulares e criollos”. 
As reformas se constituíram num meio de ascensão aos cargos almejados, 
principalmente pela compra de títulos, como demonstra Lynch dizendo que: 
 
Os agentes das “reformas bourbônicas” consideravam a América espanhola 
uma fonte de metais preciosos e o seu povo como meros pagadores de 
tributos. Também, por falta de um fornecedor de produtos industriais na 
Espanha, a América espanhola teve que recorrer à Inglaterra, que de 1780 a 
1800 aumentou sua abrangência comercial nas colônias da Espanha. O 
 
45
 LYNCH, John. As Origens da Independência da América Espanhola. In: BETHEL, Leslie (org.). 
História da América Latina: da Independência a 1870. vol. III. São Paulo: USP – Imprensa Oficial do 
Estado. Brasília: Fundação Padre Gusmão, 2001. p.19 
46
 LYNCH, Op. cit. p. 20. 
 28 
império espanhol latino-americano sustentava-se com base num equilíbrio 
entre os grupos de poder – a administração, a igreja e a elite local. Esta elite 
tinha o poder econômico, compreendendo uma minoria peninsular (nativos da 
Espanha) e uma parcela maior de criollos (brancos nascidos nas colônias). 
Essa camada dominante, devido à fraqueza real e à necessidade de renda 
pela coroa, obtinha condições eficientes de resistência ao distante governo 
imperial. Compravam-se cargos, faziam-se barganhas informais. A burocracia 
tradicional curvava-se às pressões para evitar conflitos, constituindo-se em 
intermediários entre a coroa espanhola e os súditos latino-americanos.47 
 
 
 
 Não podemos também ser insensíveis em não dar os devidos créditos à 
tentativa de melhoria administrativa e econômica que as reformas procuram 
implantar. Há pontos positivos nas reformas como aponta Heráclio Bonilla, 
dizendo que: 
 
As reformas bourbônicas permitiram o aumento de volume e de valor do 
comércio internacional, muito maior que fora antes de 1750. A reconquista em 
série que a administração bourbônica e, particularmente, Carlos III impõe sobre 
as colônias traz ótimos resultados.48 
 
 
 
 O que seria resultado do que é apontado por Lynch49 sobre a política 
dos Bourbons. Para ele, a política dos Bourbons alterou as relações entre os 
principais grupos de poder. Eles remodelaram o governo imperial, 
centralizaram o mecanismo de controle e dinamizaram a burocracia. 
Nomearam novos funcionários, os intendentes. 
Contudo, prossegue Lynch assegurando

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