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GESTÃO SOCIAL

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Aula 1
Gestão Social, precisamos entender como esse assunto teve início no mundo corporativo. O ponto de partida, sem dúvida, foi a preocupação das empresas com os assuntos que iam além das ações destinadas a se conseguir a maximização do lucro, de forma a dar o máximo retorno para os seus acionistas ou proprietários, mas envolviam ter políticas de ação claramente definidas em sua Gestão Empresarial, como a adoção da Responsabilidade Social Corporativa e a relação da empresa com outros atores (stakeholders) que participam igualmente da geração de valor da empresa destinado ao mercado e à sociedade.
responsabilidade social é um conceito, segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo.
Na verdade, o conceito de responsabilidade social deve ser entendido em dois níveis.
O nível interno relaciona-se com os colaboradores e, mais genericamente, a todas as partes interessadas afetadas pela empresa e que, por seu turno, podem influenciar no alcance de seus resultados: clientes e fornecedores. O nível externo tem em conta as consequências das ações de uma organização sobre os demais atores externos, como o meio ambiente, a comunidade, os sindicatos e o governo.
Historicamente, a primeira abordagem referente à Responsabilidade Social das grandes empresas que se tem registro, foi em 1899, quando o empresário A. Camigie, fundador do conglomerado U.S. Stell Corporation, um gigante mundial do aço, resolver aderir às práticas de Responsabilidade Social através do princípio da caridade e da custódia. Na verdade, para os valores protestantes que orientava a formação religiosa dos EUA, o princípio da caridade instituía uma obrigação aos mais abastados, no sentido de contribuir financeiramente com os menos favorecidos da sociedade, como idosos, desempregados e inválidos, enquanto o princípio da custódia, instituía a ideia de as empresas e ricos multiplicarem a riqueza da sociedade.
Na sociedade pós-capitalista, o conceito de Responsabilidade Social se amplia, instituindo uma nova visão que vai além da obrigação com os acionistas e passa também incluir outros grupos constituídos na sociedade. 
Assim como afirma Peter Druker, considerado um dos pilares do estudo da administração: “a empresa deve assumir responsabilidade por eventuais impactos causados para tudo e todos”.
Atualmente, os consumidores recorrem aos rótulos sociais e ecológicos para tomarem decisões de compra de produtos.
A responsabilidade social é quando empresas, de forma voluntária, adotam posturas, comportamentos e ações que promovam o bem-estar dos seus públicos interno e externo. É uma prática voluntária pois não deve ser confundida exclusivamente por ações compulsórias impostas pelo governo ou por quaisquer incentivos externos (como fiscais, 
Aula 2
Teoria dos Stakeholders professor de administração de negócios da Darden School da Universidade de Virgínia. Ele argumenta que, na tomada de decisão sobre alocação de recursos organizacionais, devem ser considerados os efeitos que essa alocação causará sobre os grupos de interesse que se relacionam com a organização, sejam grupos na própria organização ou exteriores à ela.
Existem duas correntes de pensamento. A primeira diz que os gestores têm a função principal de elevar, tanto quanto possível, o retorno dos acionistas ou cotistas da empresa e deveriam atuar somente de acordo com as forças impessoais do mercado, que demandam eficiência e lucro, tudo transcorrendo em um ambiente de respeito aos ditames legais impostos pelos agentes sociais, fazendo esse pensamento parte da teoria do acionista.
Já a segunda corrente de pensamento argumenta que os gestores exercem a função ética de respeitar os direitos coletivos e garantir o bem-estar entre todos os agentes afetados pela empresa, incluindo neste conjunto clientes, funcionários, fornecedores, proprietários, a comunidade em geral, como também os gestores, os quais estão a serviço desse amplo grupamento de partes interessadas.
Na visão clássica, as empresas são vistas como entidades econômicas produtoras de bens e prestadoras de serviços que precisam vender para clientes cada vez mais exigentes, em um mercado de acirrada concorrência.
Contudo, a visão contemporânea considera que as empresas têm um grande desafio por operarem em um ambiente marcado pela incerteza, pela inovação tecnológica e pelos novos paradigmas de gestão.
a crescente complexidade dos negócios, em decorrência da velocidade das inovações tecnológicas e da transição das nações para um mundo globalizado, desperta no empresariado e nos governos uma nova maneira de agir, obrigando-os a desenvolver formatos diferenciados para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. O mundo empresarial, portanto, enxerga na Responsabilidade Social uma fonte de estratégia inovadora, que contribui para promover a elevação dos lucros e impulsionar o seu crescimento.
Responsabilidade Social Corporativa (RSC) fundamenta-se, portanto, em estratégias para orientar as ações das empresas em consonância com as necessidades sociais, de modo que a empresa garanta, além do lucro e da satisfação dos seus clientes, o bem-estar da sociedade, como também os valores que suas ações possam agregar aos negócios e à sua imagem reputacional.
Responsabilidade Social Corporativa, em um sentido mais abrangente, à tomada de decisões nos negócios, tomando como base valores éticos que contemplem uma perspectiva de respeito e concordância a valores legais, comunidades, indivíduos e meio ambiente.
AULA 3)
Conforme opinião de Fernando Tenório, autor pioneiro dessa temática no país, a “Gestão Social contrapõe-se à gestão estratégica à medida que tenta substituir a gestão tecnoburocrática, monológica, baseada na hierarquia, por um gerenciamento mais participativo, dialógico, fundado no diálogo permanente entre os sujeitos participantes do processo de construção da decisão que deve ser coletiva e, portanto, gerando maior benefício para todos”.
Gestão Social pode ser entendida como “uma alternativa de intervenção e transformação social, coletiva e sustentável. Sendo um processo gerencial dialógico, onde a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação”.
O adjetivo ‘social’ qualificando o substantivo ‘gestão’ deve ser entendido como o espaço privilegiado de relações sociais no qual... a gestão social é uma gestão realizada pela sociedade (coletiva) e para a sociedade. Nesse sentido, a Gestão Social se conceitua como sendo a construção de diversos espaços para a interação social.
De uma forma mais prática, pode-se entender gestão social como a maneira de gerir assuntos públicos, baseando-se em participação, maior fluidez de informações, e buscando estabelecer formas de articulação social entre os diversos agentes locais, públicos e privados, de forma a compartilhar o poder e as responsabilidades com todos.
Na década de 80, com a população crescente, desempregos, problemas de exclusão social, as ONGs se espalharam por todo o mundo e o Terceiro Setor foi impulsionado para responder às demandas legítimas de governabilidade, que não eram atendidas pelos canais burocráticos, estatais ou privados, incapazes de atender às novas camadas sociais. E é exatamente para atender a essas demandas que surge a gestão social como uma nova forma de gerenciar que, sem romper com os conceitos tradicionais da gestão empresarial, avança em direção a essa nova modalidade de gestão que precisa contemplar o social e o ambiental.
RESUMINDO
Gestão Social é um processo que para ser implementado, requer uma aprendizagem conjunta, democrática, participativa e contínua dos grupos sociais, na construção de um espaço de relação social e criação de vínculos de relacionamento institucional, que lhes permitam pronunciar-se sobre a concepção e monitoramento da execução das políticas públicas, para que, de fato, os benefícios sejam efetivos para todos os participantes que formam a sociedade”.
Por que se diz que a Gestão Social contrapõe-seà gestão estratégica por tentar substituir a gestão
tecnoburocrática, por uma gestão baseada no coletivo?
A razão para isso decorre da forma de gestão clássica tradicional ser tecnoburocrática, monológica, privilegiando a hierarquia, enquanto a Gestão Social é fundada na construção coletiva e geradora de maior benefício para todos.
AULA 4
O objetivo da Gestão Social é o desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente equilibrado. Seu estudo e sua prática estão associados às políticas sociais e ambientais, as ONGs, aos movimentos sociais, ao combate à pobreza, ao desenvolvimento territorial e à possibilidade de uma gestão democrática, participativa, na formulação de políticas públicas ou projetos sociais sustentáveis.
Outro ponto importante é que, diante das experiências práticas, a Gestão Social tem sido mais associada à gestão de políticas sociais ou até ambientais, do que à discussão e possibilidade de uma gestão democrática, participativa, quer na formulação de políticas públicas, quer nas relações de caráter produtivo.
Como exemplo de aplicação do conceito da Gestão Social, trazemos aqui o case da Central Única de Favelas (CUFA), uma organização sólida, reconhecida nacionalmente pelas esferas políticas, sociais, esportivas e culturais. Ela foi criada a partir da união entre jovens de várias favelas do Rio de Janeiro – principalmente negros – que buscavam espaços para expressarem suas atitudes, questionamentos ou simplesmente sua vontade de viver. Como podemos ver, a CUFA é um exemplo de Gestão Social Empreendedora, um caso de aplicação de resgate de jovens moradores das periferias pobres, que começam a se tornar cidadãos com acesso a cursos de capacitação que podem mudar, de fato, a sua vida. O passo seguinte é o engajamento desses agora profissionais na participação e construção da cidadania deliberativa. Ultrapassando os limites da CUFA e discutindo com potenciais parceiros públicos e privados, mais projetos que podem contribuir para melhorar, em definitivo, a realidade desses jovens.
Quando o professor Tenório afirma que: “o conceito de Gestão Social não deve estar atrelado às especificidades de políticas públicas direcionadas a questões de carência social ou de gestão de organizações do denominado Terceiro Setor, mas, também, a identificá-lo como uma possibilidade de gestão democrática...”, o que ele quis dizer? Que o imperativo deve ser o diálogo e não o monólogo; o cidadão deliberativo e não o eleitor ou o contribuinte; deve prevalecer a economia social e não somente a economia de mercado; o foco deve ser o trabalhador como sujeito e não o assalariado como consumidor de bens e serviços; e a ação deve se pautar na responsabilidade pública e não na responsabilidade.
AULA 5
O Estado aumentou porque cresceu consideravelmente a demanda por bens públicos. Ainda que seja muito óbvio, é necessário lembrar que a problemática social mudou radicalmente com a urbanização.
Uma família no campo resolve os seus problemas individualmente, seja no caso do lixo, da água, do transporte ou outro. Na cidade, a residência só é viável quando integrada na rede de energia elétrica, telefonia, água, esgoto, calçamento, redes de ruas e assim por diante.
Na família ampla do mundo rural, as crianças e os idosos, ou um eventual deficiente, eram sustentados pela parte ativa da família. Assim, a redistribuição necessária entre a fase na qual o indivíduo é ativo e as fases não ativas se fazia através da solidariedade da família.
No caso brasileiro, o processo é dramático, pois nos urbanizamos em apenas três décadas, criamos cidades e, sobretudo, periferias sem infraestruturas, sem escolas, sem saneamento, sem segurança. Perdeu-se o pouco que havia de redes tradicionais e ainda estão nas fraldas os sistemas modernos de solidariedade pública. Discutimos amplamente os possíveis defeitos do Estado de Bem-Estar quando sequer chegamos a desenvolvê-lo.
Sonhos à parte, portanto, o desafio que temos pela frente, em termos de gestão social, é a construção de uma transição ordenada, minimamente viável em termos políticos, sociais e econômicos, para o admirável mundo novo que se delineia no horizonte. As pessoas frequentemente esquecem que a transição para a era industrial jogou milhões de pessoas no desemprego e no desespero, provocando gigantescas migrações, nos Estados Unidos ou no Brasil, ou em outros países. Repetir esse drama em escala planetária, com bilhões de pessoas excluídas do processo de transformação, neste pequeno e exausto planeta, levaria a tragédias insustentáveis. É fácil, sem dúvida, dizer que no futuro outros empregos virão substituir os que perdemos, e que outras formas de organização virão resolver os problemas. O que gostaríamos, naturalmente, é de sobreviver até lá. Articular o social com o realismo, flexibilidade e eficiência, e não mais com ideologias do século passado, tornou-se imperativo para as nossas sociedades.
As áreas sociais são necessariamente capilares: a saúde deve atingir cada criança, cada família, em condições extremamente diferenciadas.

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