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GOVERNO ITAMAR FRANCO E CARDOSO

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ECONOMIA BRASILEIRA 2
DIAGNÓSTICO DA CRISE
Aspecto relevante do “modelo de crescimento” brasileiro até os anos 70 foi uma certa conivência com a inflação, sobretudo após o desenvolvimento de um sofisticado sistema de indexação a partir de 1964. A alta taxa de participação do estado e a convivência com elevadas taxas de inflação foram questionadas ao final dos anos 70 e início dos anos 80, com o advento do choque do petróleo e dos juros internacionais. A esses choques se seguiram uma situação e crise de liquidez externa de crise fiscal, com consequências direta sobre o processo inflacionário. O país se debatia em tentativas de combate à inflação, a indústria deixava de acompanhar avanços tecnológicos e organizacionais, a retração dos investimentos prejudicaria a indústria de bens de capital, a renda per capita da economia brasileira diminuía.
Surgiam assim, no cenário internacional planos que representava um passo importante no sentido de resolver a crise da dívida externa dos países altamente endividados.
A primeira fase, com diagnóstico de que se tratava de um problema de liquidez, foi a da proposta de austeridade, da solução convencional de combinar financiamento com ajustamento austero.
A segunda fase, foi a do plano Baker, que pretendia aumentar o financiamento e propor reformas estruturais de sentido liberalizante, que pouco resultado trouxe.
A terceira fase, com o plano Brady, teve como elemento essencial a reestruturação da dívida, mediante a troca desta por bônus de emissão do governo do país devedor, que contemplavam abatimento do encargo da dívida.
Essa renegociação alterou as condições de liquidez para países signatários, mas a oferta abundante de poupança externa estava condicionada a realização de reformas e de um profundo ajuste fiscal.
Em 1989, realizava em Washignton-EUA, uma reunião com governos dos EUA, Banco Mundial e FMI que tinha o objetivo explicito de analisar o panorama mundial e propor alternativas sobre o ajustamento da América Latina e reformas econômicas, constituídas de 10 pontos:
Disciplina fiscal
Reordenamento nas prioridades dos gastos públicos
Reformas tributária
Liberalização do setor financeiro
Manutenção de taxas de câmbio competitivas
Liberalização comercial
Atração e investimentos diretos estrangeiros
Privatização de empresas estatais
Desregulamentação da economia
Proteção a direitos autorais.
Esse grupo produziu o documento conhecido como consenso de washignton e as propostas convergiam para dois objetivos:
A drástica redução do Estado e a corrosão do conceito de nação;
O máximo da abertura à importação de bens e serviços e à entrada de capitais de risco.
Emerge a doutrina neoliberal no Brasil.
GOVERNO COLLOR
Plano Brasil Novo: sequestro dos ativos financeiros
Com a posse, levava consigo um pacote econômico, com Zélia Cardoso na fazenda, chamado Plano Brasil Novo, mais conhecido como plano Collor. Buscava atacar dois graves problemas: a inflação e a crise fiscal do Estado.
O objetivo era favorecer a entrada de produtos estrangeiros a fim de evitar que as empresas locais aumentassem seus preços.
Medidas do Plano Collor
Isenção de tarifas de importação para cerca de mil produtos;
Eliminação ou redução da abertura de barreiras não tarifaria;
Adoção de um cronograma de violenta e unilateral redução das tarifas de importação;
Reduçaõ do grau de dispersão da estrutura tarifaria.
No longo prazo, a fragilidade do setor público seria equacionada pela privatização das empresas estatais. O bloqueio dos ativos financeiros não afetou apenas os bancos aplicadores de títulos do governo. Foi bloqueado a poupança popular, prejudicando a imensa massa de pequenos poupadores. As empresas tiveram sequestrado seu capital de giro que costumava ser aplicado no overnight.
Assim, o arrocho salarial era parte integrante do Plano Collor, assim como o dramático enxugamento da líquidez, o aperto fiscal, a privatização da economia para o capital estrangeiro.
O resultado do Plano Collor promove uma violenta recessão. Além de bloquear a quase totalidade dos ativos financeiros, entesourou os recursos daí derivados, ao invés de estabelecer um programa que liberasse o capital de giro e canalizasse os recursos sequestrados da especulação financeira para a produção, a infra-estrutura e a área social.
Sem dinheiro para irrigar a economia, esta haveria de entrar em crise com o agravo em face do arrocho salarial violento e do corte dos gastos públicos, derrubando a demanda.
Quanto a reforma fiscal, que tinha objetivo promover um ajuste fiscal da ordem de 10% do PIB, por meio do déficit projetado de 8% do PIB, e gerar um superávit de 2%. Esse ajuste se faria por meio da redução do custo de rolagem da dívida pública, suspensão dos subsídios, incentivos fiscais e isenções, tributação das grandes fortunas etc.
No que diz respeito a reforma administrativa, iniciaram-se o programa de privatizações, a melhoria dos instrumentos de fiscalização e de arrecadação, no afã de reduzir a sonegação e as fraudes, além de medidas para aumentar a eficiência da administração do setor público e reduzir seus gastos;
Congelamento de preços e desindexação dos salários em relação a inflação passada;
Mudança do regime cambial para um sistema de taxas flutuantes;
Mudança na política comercial, dando início ao processo de liberalização do comércio exterior.
PLANO COLLOR II
O plano Collor I conseguiu fazer com que a inflação baixasse dos 80% ao mês para níveis próximo de 10% nos meses seguintes, ao mesmo tempo que a economia sofria uma forte retração. A inflação voltou a se acelerar ao longo do ano. Houve substituição da ministra Zélia Cardoso por Marcilio Marques e em fevereiro de 1991 foi lançado o plano Collor II em situação de desespero devido a reaceleração da inflação. Esse plano era principalmente uma reforma financeira que visava eliminar o overnight e outras formas de indexação e congelamento de preços e salários.
Outra dificuldade residia no fato de que tanto o capital estrangeiro quanto certos grupos empresariais nacionais, não estavam dispostos a pagar o preço que elas valiam, Collor estabeleceu que as estatais poderiam ser trocadas pelo que se convencionou chamar de “moedas pobres”.
GOVERNO ITAMAR FRANCO E CARDOSO
O impiachmente do presidente Collor, em outubro 1992, marcara os traços gerais da política de seu governo, ligados a escândalos de corrupção. Assume Itamar Franco, que era seu vice-presidente. Foi elaborado o mais bem sucedido plano de controle inflacionário da nova república: o plano real. O plano visava, montado pelo seu ministro Fernando Henrique, criar uma unidade real de valor para todos os produtos, desvinculada da moeda vigente, o cruzeiro real.
Plano Real:
O Plano Real foi concebido como um programa em três fases: ajuste fiscal, desindexação da economia e âncora nominal.
1ª FASE - Partia do diagnóstico de que existiria na economia brasileira um
“Efeito Olivera-Tanzi às avessas”. Isto é, o Tesouro se beneficiava da inflação em virtude da menor indexação dos gastos comparativamente às receitas, do contingenciamento e do atraso de pagamentos pelo governo, e da subestimativa da inflação quando da realização do orçamento público. Para equacionar o problema fiscal, foi criado o Fundo Social de Emergência (FSE), que consistia na desvinculação de receitas do governo, permitindo seu maior controle. Os gastos seriam, em princípio, direcionados para áreas prioritárias, tais como a Saúde – o que não chegou a ocorrer. 
2ª FASE - O Plano consistia na desindexação da economia através de uma hiperindexação, a ser realizada pela Unidade Real de Valor (URV). Tratava-se de uma quase moeda, posto que cumpria a função de unidade de conta mas não de meio de pagamento, já que não circulava. A URV tinha seu valor estabelecido diariamente pela variação média de três índices de preços e servia de base para a correção monetária de preços e contatos, sendo considerada um “indexador contemporâneo”. Os salários foram convertidosem URVs pela média dos últimos quatro meses e pagos pela URV do dia, tornando a indexação salarial, na prática, mensal. Os contratos foram igualmente convertidos em URVs para evitar transferências, entre credores e devedores, do float infacionário. A URV foi introduzida em 28 de fevereiro de 1994 e ganhou poder liberatório em 01 de julho. Nesta data, foi substituída pelo real, com poder liberatório, à paridade inicial de 1:1 com o dólar, mas podendo se valorizar.
3ª FASE - Com o lançamento do real, iniciou-se a terceira fase do Plano, que consistia no estabelecimento de uma âncora nominal que desse respaldo à nova moeda. Inicialmente foram fixadas metas monetárias, que foram logo abandonadas, com a substituição da âncora monetária pela cambial. Para conter a explosão de demanda esperada com o fim da inflação, houve elevação dos compulsórios sobre depósitos à vista e a prazo e elevação dos juros reais. A taxa de câmbio e a taxa de juros se tornaram as âncoras dos preços que, num contexto de elevada liquidez internacional e abertura comercial e financeira, levaram à queda da inflação, à deterioração das contas externas e públicas. Houve aumento da relação dívida/PIB e comportamento cíclico da economia. Cabe ressaltar, porém, que o contexto internacional de elevada liquidez ocorreu essencialmente nos primeiros anos, ainda assim sendo interrompido pela crise do México (dezembro de 1994). Em 1997, estourou a crise asiática e, em 1998, a crise russa, que acabou contagiando a economia brasileira, dada a sua vulnerabilidade externa e fiscal. A desvalorização da moeda ocorreu em janeiro de 1999, quando se data o fim do Plano Real.

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