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Lei de crimes hediondos

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Lei de crimes hediondos 
 
Definição da palavra hediondo segundo dicionário 
Michaelis: repugnante, horrível, medonho. 
 
 
Fundamento: artigo 5º, inciso XLIII – CF – trata-se de 
verdadeiro mandado de criminalização, visto que o legislador 
constituinte determinou a edição de uma lei penal, qual seja, 
a lei de crimes hediondos. 
“XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis 
de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de 
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como 
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os 
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem” 
SISTEMAS: legal, judicial e misto. 
Sistema Judicial: caberia ao juiz, no caso concreto, afirmar se o 
crime é ou não hediondo. 
Brasil adotou o sistema legal, ou seja, somente a lei 
pode indicar, em rol taxativo, quais crimes são 
considerados hediondos. (O crime é rotulado pelo 
legislador como hediondo. Pouco importa a 
excepcional repugnância da conduta no caso 
concreto). 
Crimes equiparados a hediondos: em vista da gravidade 
desses crimes, a lei cuidou-se de dispensar-lhes tratamento 
igualmente severo. Crimes equiparados a hediondos: 
TORTURA (lei 9455/97), TRÁFICO ILÍCITO DE 
ENTORPECENTES E DROGAS AFINS (lei 11343/06) E 
TERRORISMO (lei 13260/16) (TTT). 
Tortura por omissão – art. 1º§ 2º lei 9455/97 é 
hedionda? Não. 
Imprescritíveis? Não, crimes hediondos e equiparados 
prescrevem, ou seja, o Estado tem um prazo para exercer o seu 
direito de punir. 
Crimes imprescritíveis: somente racismo (art. 5º, XLII) e 
a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem 
constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV). 
Insuscetíveis de: graça, anistia e indulto* 
 Graça (indulto individual)- é a clemência destinada a uma 
pessoa determinada, não dizendo respeito a fatos 
criminosos. Extingue a pena e não o crime 
 Indulto coletivo – é a clemência destinada a um grupo de 
sentenciados tendo em vista a duração das penas 
aplicadas, podendo exigir requisitos subjetivos e objetivos. 
Concedido pelo Presidente da República por meio de 
Decreto. 
 Anistia – é a declaração pelo Poder Público de que 
determinados fatos se tornem impuníveis por motivo de 
utilidade social. Dá clemência a determinado FATO 
*De acordo com a doutrina embora não haja expressa previsão 
na Constituição Federal o indulto também é incabível. O termo 
“graça” foi usado em sentido amplo. 
Insuscetíveis de fiança. – Cabe liberdade provisória 
sem fiança concedida pelo juiz. 
Cabe outras medidas cautelares? É possível a liberdade 
provisória sem fiança ou com outra cautelar dos 
artigos 319 e 320 do CPP. O STF admite liberdade provisória, 
com a imposição de medidas cautelares pessoais diversas da 
fiança. (inclusive na Lei de Drogas- STF entendeu que artigo 
44, caput, da Lei 11343/06 é inconstitucional) 
LEI 8072/90: 
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos 
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 
- Código Penal, consumados ou tentados: 
Rol taxativo ou exemplificativo? taxativo 
Sistema legal 
Vida 
1. Homicídio simples- se praticado em atividade típica 
de grupo de extermínio ainda que cometido por uma 
só pessoa, também chamado de homicídio 
condicionado. Ex. Chacina. 
2. Qualquer hipótese de homicídio qualificado: art. 121§ 
2º - inclui o feminicídio e homicídio praticado contra 
autoridade ou agente descrito no 
artigo 142 e 144 da CF, integrantes do sistema 
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, 
no exercício de função ou de decorrência dela, ou 
contra seu cônjuge, companheiro ou parente 
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa 
condição. 
3. Genocídio – art. 1º, 2º e 3º da Lei 2889/56 
4. Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima e lesão 
corporal seguida de morte- inclusive quando 
praticadas contra agentes de segurança 
Patrimônio 
1. Latrocínio – roubo qualificado pela morte da vítima. 
*roubo qualificado pela lesão corporal grave não é 
hediondo 
2. Extorsão qualificado pela morte 
3. Extorsão mediante sequestro 
Dignidade Sexual 
1. Estupro 
2. Estupro de vulnerável 
3. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de 
exploração sexual de criança ou adolescente ou de 
vulnerável 
Saúde Pública 
1. Epidemia qualificada com resultado morte 
2. Alteração, adulteração, corrupção ou falsificação de 
produtos destinados a fins terapêuticos ou 
medicinais 
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica 
de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, 
e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, 
VI e VII); 
Homicídio simples sem condições especiais: NUNCA É 
HEDIONDO 
Homicídio simples praticado em atividade típica de grupo de 
extermínio é hediondo 
 Homicídio Privilegiado?[1] O homicídio 
privilegiado nunca é hediondo. 
Homicídio qualificado-privilegiado é hediondo -
PRIVILEGIADO É HEDIONDO?[2] O homicídio 
qualificado-privilegiado não é hediondo (caráter subjetivo do 
privilégio prevalece e afasta a hediondez- art. 67 CP). 
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, 
§ 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), 
quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos 
arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do 
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, 
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu 
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro 
grau, em razão dessa condição;(Incluído pela Lei nº 13.142, 
de 2015) 
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); 
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); 
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 
159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); 
Sequestro relâmpago qualificado pela morte é 
hediondo? 
Sequestro relâmpago qualificado pela morte é hediondo? 3 
posições 
 O sequestro relâmpago, por se tratar de espécie de 
extorsão do artigo 158do código penal, segue a regra geral 
deste crime: será hediondo quando qualificado pelo 
resultado morte (Luis Flavio Gomes) 
 O sequestro relâmpago porque definido no § 3º, nunca 
será hediondo, nem mesmo quando dele decorrer a morte: 
a justificativa é a legalidade estrita, tendo em vista que o § 
3º ficou fora do rol legal de crimes hediondos (Nucci e 
Damásio de Jesus) 
 O sequestro relâmpago seria hediondo quando qualificado 
pela morte e inclusive quando qualificado pela lesão grave, 
pois em ambos os casos o artigo 158 § 3º remete às penas 
do art 159 que sempre é hediondo (ao adotar as penas do 
artigo 159, a lei adota todos os rigores inerentes ao crime 
de extorsão mediante sequestro (André Estefam) 
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); 
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 
4o); 
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). 
VII-A – (VETADO) 
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de 
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, 
caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 
9.677, de 2 de julho de 1998 
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de 
exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável 
(art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). 
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de 
genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o 
de outubro de 1956, tentado ou consumado. 
Regime inicial: fechado? Não necessariamente 
integralmente? Não, a lei fala de inicialmente fechado 
(até 29/03/2007 não havia progressão nos crimes 
hediondos) 
HC 111840- deve-se observar as circunstâncias pessoais do 
agente e do caso concreto. Ex. Traficante primário condenado a 
pena de 1 ano e 8 meses (não precisaráiniciar a pena em 
regime fechado) 
o Obs. Lei de tortura - regime inicial fechado. Embora não 
apreciado expressamente tal artigo ficou inconstitucional por 
arrastamento. 
§ 1oA pena por crime previsto neste artigo será cumprida 
inicialmente em regime fechado. 
Progressão de regime nos crimes hediondos 
§ 2oA progressão de regime, no caso dos condenados aos 
crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento 
de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 
3/5 (três quintos), se reincidente. 
Progressão de Regime para crimes comuns 
Regra geral: art. 112, caput da LEP: 
Requisito objetivo (diz respeito à pena aplicada): 
cumprimento de pelo menos 1/6 da pena 
Requisito subjetivo: bom comportamento carcerário – 
atestado pela autoridade carcerária (diretor do presídio). 
Progressão da pena na lei de crimes 
hediondos. 
Requisito objetivo: 
2/5 primário 
3/5 reincidente (simples) 
Redação dada pela lei 11464/07 de 29/03/2007. 
Súmula 471 do STJ. 
Requisito subjetivo: bom comportamento carcerário 
Exige exame criminológico? A lei não exige mais exame 
criminológico desde 2003 para progressão de regime. O juiz 
pode determinar a realização de exame criminológico como 
condição para aferir o requisito subjetivo da progressão de 
regime, desde que haja fundamentação baseada nas 
peculiaridades ou circunstâncias do caso concreto. A gravidade 
abstrata (se hediondo) não justifica o exame criminológico. 
Cabe pena restritiva de direitos? Sim, desde que 
preenchidos os requisitos do artigo 44 do Código Penal 
Precisa ser recolhido à prisão para apelar? Não. Pode 
recorrer em liberdade 
§ 3oEm caso de sentença condenatória, o juiz decidirá 
fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. 
Prazo da prisão temporária: 30 dias podendo ser 
prorrogada por mais 30 dias, em caso de comprovada 
e extrema necessidade. 
§ 4oA prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 
21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá 
o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em 
caso de extrema e comprovada necessidade. 
Estabelecimento penal para crimes hediondos ou 
equiparados – art. 3º: Caberá à União manter 
estabelecimentos penais de segurança máxima 
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena 
prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar 
de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito 
de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. 
O crime de associação criminosa, mesmo quando qualificado 
pelo artigo 8º da lei 8072/90, não é considerado hediondo 
(hediondo é o fim da associação, mas não ela como crime 
autônomo). 
O artigo 35 da lei de drogas não é equiparado a hediondo. 
A quadrilha para cometer genocídio é hediondo. 
Delação premiada 
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar 
à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu 
desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. 
Art. 8º qualificadora de 3 a 6 anos que pode ser 
reduzida se houver delação premiada ou pentitismo 
(comportamento de se arrepender): redução de pena de 
1/3 a 2/3 se delatar os demais integrantes da associação. A 
delação exige como resultado útil de desmantelar a associação 
criminosa. 
Obs: o que exige a delação do art. 159 § 4º do CP? Tem que ser 
útil para libertação do sequestrado. 
O artigo 9º da lei dos hediondos sofreu revogação tácita por 
parte da Lei 12015/09, que revogou expressamente o 
art. 224 do Código Penal, que previa a antiga presunção de 
violência em crimes contra os costumes. 
 
[1] Homicídio doloso privilegiado – art. 121§ 1º - (redução 
obrigatória, direito do réu) – redução de 1/6 a 1/3 por situação 
ligadas à motivação do crime. Considera-se privilegiado o 
homicídio praticado por: 1) relevante valor social: é o motivo 
relacionado com os interesses de uma coletividade. Ex: matar 
alguém que tenha traído a pátria. 2) relevante valor moral: é o 
motivo relacionado com os interesses individuais do criminoso, 
tais como ódio, misericórdia, compaixão. Ex: eutanásia. 3) 
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta 
provocação da vítima. 
[2] Homicídio qualificado privilegiado (ou homicídio híbrido): 
situação compatível apenas com as qualificadoras de caráter 
objetivo – ex1. Eutanásia praticada com emprego de veneno. 
Ex2. Vingar-se do estupro de sua filha (valor moral) torturando 
o estuprador (meio cruel). 
Qualificadoras subjetivas do § 2º do art. 121: incisos I, II, V, 
VII (relacionadas com a motivação do crime) 
Qualificadoras objetivas do § 2º do art. 121: incisos III e IV 
(vinculadas com o modo/meio de execução de que se vale o 
agente para a sua prática)

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