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1 DIREITO DO CONSUMIDOR PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA INTRODUÇÃO A pessoa jurídica desfruta de personalidade e patrimônio autônomo, ela não se confunde com a personalidade e patrimônio dos seus sócios. Se, por exemplo, alguém deve para a sociedade a ação judicial de cobrança não pode ser movida pelos sócios, e sim pela própria sociedade, sob pena de carência de ação por ilegitimidade ativa ad causam. O credor da sociedade, por sua vez, não pode mover ação judicial em face do sócio, e sim contra a sociedade, sob pena de carência de ação, por ilegitimidade passiva ad causam. O princípio da autonomia da pessoa jurídica, porém, não é absoluto, pois modernamente encontra-‐se excepcionado pela teoria da desconsideração da pessoa jurídica. CONCEITO A teoria da desconsideração da pessoa jurídica é a que permite, nos casos expressos em lei, que o credor da sociedade possa acionar diretamente os sócios, executando-‐lhe o patrimônio individual. O objetivo dessa teoria, que é também conhecida como disregard of legal entity ou ainda teoria do superamento ou do levantamento do véu da pessoa jurídica, não é extinguir a pessoa jurídica, mas apenas afastar, para o caso concreto, a autonomia da sua personalidade e patrimônio, para que os sócios possam responder diretamente pelos débitos da sociedade. O juiz quando aplica essa teoria não ordena o cancelamento do registro do ato constitutivo da pessoa jurídica, limitando-‐se a declarar a responsabilidade direta dos sócios pelas dívidas sociais. ESPÉCIES São duas as espécies de teoria da desconsideração da pessoa jurídica: a) Teoria maior: é a que exige, para o afastamento da personalidade jurídica, a insolvência e o uso fraudulento da personalidade jurídica. É, pois, a teoria adotada pelo Código Civil, que em seu art.50, exige, para o levantamento do véu, a par da insolvência para pagamento, o desvio de finalidade (teoria maior subjetiva) ou a confusão patrimonial (teoria maior objetiva). O desvio de finalidade ocorre quando a pessoa jurídica pratica algum ato ilícito ou fraudulento. A confusão patrimonial ocorre, por exemplo, quando o sócio, para ocultar sua participação em negócio cuja prática estava proibida, constitui uma pessoa jurídica, celebrando o contrato em nome dela. b) Teoria menor: é a que exige para o afastamento da personalidade jurídica apenas a insolvência da pessoa jurídica para pagamento de suas obrigações, dispensando-‐se a prova do uso abusivo de sua personalidade jurídica. É, pois, a teoria adotada no CDC (art.28) e no Direito Ambiental (art.4º da Lei nº 9.605/98). A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO CDC O art.28 do CDC prevê 10 (dez) hipóteses em que é possível ao juiz desconsiderar a personalidade da pessoa jurídica: a) Abuso de direito; b) Excesso de poder; c) Infração da lei; 2 DIREITO DO CONSUMIDOR PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS d) Ato ilícito; e) Violação do ato constitutivo (estatuto ou contrato social); f) Sentença de falência; g) Estado de insolvência; h) Encerramento da pessoa jurídica, por má administração; i) Inatividade da pessoa jurídica, por má administração; j) Quando a personalidade da pessoa jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Presentes uma dessas situações, o juiz, de ofício ou a requerimento, no processo de conhecimento ou de execução (singular ou coletiva), pode, para o caso concreto, suspender a eficácia do ato constitutivo da pessoa jurídica, como se ela não existisse atribuindo aos sócios a responsabilidade pelo pagamento do débito, assegurando-‐lhe, porém, a ampla defesa. As normas do CDC são de ordem pública e interesse social (art.1º), e, por isso, o juiz pode, de ofício, levantar-‐ lhe o véu, independentemente de requerimento da parte. São tantas as hipóteses previstas no art. 28 do CDC, mas, na verdade, o simples estado de insolvência é suficiente, pois, conforme já vimos, essa hipótese consagra a teoria menor. Vale lembrar que a prova da insolvência é negativa, competindo ao fornecedor o ônus da prova da solvência. Tratando-‐se de empresário individual, pessoa física, nada obsta a desconsideração inversa da personalidade jurídica da sociedade, em que ele figura como sócio. Tal ocorre quando o empresário individual desvia os seus bens particulares em favor da sociedade para proteger o seu patrimônio contra as investidas de seus credores. DISTINÇÃO ENTRE A TEORIA MENOR DA DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA E A RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS SÓCIOS Caracterizada a insolvência da pessoa jurídica, pelo fato dereunir bens insuficientes para o pagamento de suas dívidas, abre-‐se ao consumidor a possibilidade de exigir dos sócios o adimplemento, tanto pelo sistema de responsabilidade subsidiária quanto pela teoria da desconsideração da pessoa jurídica. No sistema da responsabilidade subsidiária dos sócios, o tipo societário define a sua responsabilidade subsidiária, que pode ser limitada (exemplo: sociedade anônima e sociedade limitada), ilimitada (Exemplo: Sociedade em nome coletivo) ou mista (para alguns sócios limitada e para outros ilimitada, exemplos: sociedade em comandita por ações e em comandita simples). Já na teoria menor da desconsideração, a responsabilidade dos sócios é sempre ilimitada, devendo o seu patrimônio pessoal responder por todas as dívidas atinentes ao consumidor lesado. Tanto a teoria da despersonalização quanto a responsabilidade subsidiária dos sócios, é efeito da ação judicial movida contra a pessoa jurídica; o credor não pode previamente despersonalizá-‐la, endereçando a ação direta contra os sócios. A diferença é que a despersonalização da pessoa jurídica é promovida no processo de conhecimento, por ato do juiz sentenciante, ou no processo de execução, ou na fase de cumprimento da sentença, ao passo que a responsabilidade subsidiária dos sócios emana do próprio contrato ou estatuto da sociedade, sendo viabilizada no processo de execução ou na fase do cumprimento da sentença, após se aferir que a pessoa jurídica não tem bens suficientes para o pagamento do débito. 3 DIREITO DO CONSUMIDOR PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS RESPONSABILIDADE DAS SOCIEDADES Os parágrafos 2º, 3º e 4º do art.28 preveem a responsabilidade de algumas sociedades por dívidas contraídas por outra sociedade. São subsidiariamente responsáveis, por dívidas oriundas da relação de consumo as sociedades integrantes dos grupos societários e a sociedade controladora. O grupo societário é formado por mais de uma sociedade mediante convenção, para a consecução de empreendimentos comuns, figurando uma delas como sociedade controladora. Uma responde pelo delito da outra, mas de forma subsidiária, isto é, quando a sociedade devedora não tiver bens suficientes para pagamento do débito. Note-‐se que entre as sociedades que integram o grupo societário não há solidariedade, de modo que cada uma será responsável por apenas uma parcela do débito na medida de sua participação no grupo societário. De fato, a solidariedade não se presume, ou resulta da lei ou da vontade das partes (art. 265 do CC) Em contrapartida, o §2º do art.28 prevê a solidariedade entre as sociedades consorciadas pelas dívidas oriundas do CDC. Acrescente-‐se ainda que o §4º do art.28 estabelece que as sociedades coligadas só responderão por culpa pelas dívidas consumeristas contraídas por uma delas. Note-‐se, porém, que a sociedade que celebrou o contrato com o consumidor tem responsabilidade objetiva, restringindo-‐se a responsabilidade subjetiva apenas em relação às demais coligadas. Provada a culpa de uma delas, a sua responsabilidade, a meu ver, será divisível, na medida de sua participação societária no grupo, pois a solidariedade não pode ser presumida. Finalmente, o fato de militar em prol do consumidor esse plus, de poder acionar as sociedades agrupadas, consorciadas e coligadas, não o inibe de optar diretamente pela desconsideração da personalidade jurídica da sociedade-‐fornecedora, visando cobrar a dívida diretamente dos seu sócios. 4 DIREITO DO CONSUMIDOR PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS PERGUNTAS: 1) O que é o princípio da autonomia da pessoa jurídica? 2) O que é a Teoria da Desconsideração da pessoa Jurídica? 3) Quais os outros nomes dessa Teoria? 4) Qual é o objetivo dessa Teoria? 5) Qual a diferença entre a Teoria Maior e a Teoria Menor? 6) O que é a desconsideração inversa? 7) Qual a diferença entre a responsabilidade subsidiárias dos sócios e a teoria da desconsideração da pessoa jurídica? 8) Em quais hipóteses uma sociedade pode responder pelo débito da outra?
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