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Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 2 16/02/2016. Introdução. Durante praticamente todo o curso, fomos preparados (doutrinados) para imaginar que todos os conflitos deveriam ser resolvidos no seio do Poder Judiciário. Essa visão se revela equivocada, na medida em que é mais fácil resolver todos os conflitos tentando chegar a um acordo. Pergunta: Qual o objetivo do Direito? Resposta: Promover a paz social. Se o objetivo do Direito é a paz social, chegamos a ele aplicando a norma jurídica (que não se confunde com os textos de Direito positivo) e pondo fim aos conflitos. O homem é, por natureza, egoísta. “O homem é o lobo do homem”. (Thomas Hobbes) Se é egoísta, tem a tendência de invadir o espaço do outro, estabelecendo conflitos, que se resolvem pela aplicação da norma jurídica vigente em sociedade. Exemplo: João não pagou a José, e não tinha título executivo para honrar o compromisso. Conforme o CC, art. 392, “o devedor deve responder com seu patrimônio por suas obrigações”; a “norma agendi”, porém, de nada vale sem que o direito seja requerido. No exemplo acima, a questão, se resolvida por ação judicia, seguirá tantos e tantos caminhos (petição, contestação, provas, audiência etc.) que uma reles cobrança pode demorar anos e anos para ser realizada, muitas vezes dando prejuízo a quem deseja apenas exercer seu direito. Entre fase de conhecimento e execução, pode demorar até 10 anos para que um processo transite em julgado. Tal duração, ao contrário do que diz o texto legal, não é “razoável”. Fomos doutrinados a achar que todo conflito se resolve pelo Judiciário, o que é um erro – que também é perceptível quando se nota que os Tribunais estão abarrotados de processos, e que o Estado tem cada vez menos recursos para investir. A situação não é modificável pelo Novo CPC: pelo contrário, a tendência é que ocorra uma piora. Pergunta: Qual a fonte da Lei? Resposta: É o fato socialmente relevante (definição de Maria Helena Diniz). Leis surgem de pressões sociais, fatos que produzem mudanças na sociedade, refletidas nas normas. A arbitragem se constitui em uma alternativa a um Poder Judiciário paquidérmico, via de regra inoperante. Trata-se de um novo meio de solução de conflitos, inovador, que constitui um rompimento com o sistema anterior: uma jurisdição privada, definida pela Lei de Arbitragem (9307/96), que disciplina o sistema de uma forma bem mais simplificada que o CPC. Lei 9307/96, art. 18 e 31: o árbitro é juiz de fato e de direito. A sentença por ele prolatada tem valor de título executivo judicial, consagrado pelo CPC (art. 515, VII), fazendo coisa julgada material (CPC, art. 502). Estes dispositivos serão mantidos, e reforçados, pelo Novo CPC. Observe, contudo, que ninguém vai à arbitragem sem que haja um consenso prévio, definido pelas cláusulas e compromissos arbitrais (definidos previamente nos contratos). Por este compromisso, as partes elencam um terceiro para ser o árbitro, e decidir a questão no lugar do juiz. Uma vez que se pactuou a arbitragem, esta firma o compromisso, impossibilitando o acesso ao judiciário (CPC, art. 485, VII; 337, X, e § 5º). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 3 Conceito de arbitragem: “meio privado, jurisdicional e alternativo de solução de conflitos decorrentes de direitos patrimoniais e disponíveis por sentença arbitral, definida como título executivo judicial e prolatada pelo árbitro, juiz de fato e de direito, normalmente especialista na matéria controvertida” (Scavone) As técnicas de arbitragem implicam em mudança do conceito tradicional de jurisdição, elaborado por Giuseppe Chiovenda. Mesmo que a jurisdição seja privada, contudo, ainda depende do Judiciário, principalmente na fase de execução. Ainda assim, entende-se, hoje, que a arbitragem implica em efetivo exercício de atividade jurisdicional. Esta posição é, inclusive, reforçada pelo Novo CPC (artigo 3º, e parágrafos). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 4 23/02/2016. Conciliação vs Mediação. Diz o Direito que o juiz e o árbitro exercem a jurisdição, conforme o definido pela norma jurídica. As controvérsias são resolvidas no âmbito estatal, utilizando-se de determinados métodos. Métodos de solução de conflitos: • Heterocomposição: um terceiro, com poderes impositivos, soluciona o conflito; • Autocomposição: as partes entram em consenso a respeito da lide. No caso da heterocomposição, ocorre uma solução imposta, através de sentença, que é um título executivo judicial e gera coisa julgada material. O que foi determinado pelo juiz tem que ser cumprido, sob as penas legais; assim também ocorre com o árbitro, que é juiz de fato e de direito. As semelhanças quanto ao processo param por aí. Quem recorre à jurisdição privada utiliza-se de procedimentos mais simples, e céleres. a Lei de Arbitragem, quanto ao procedimento, tem apenas quatro artigos (19 a 22); no CPC, são centenas. Observe que a autocomposição, como regra, não impõe um resultado: se as partes optarem pela conciliação, há uma proposta de solução pelo conciliador, que não pode, contudo, fazer sentença. Pode sugerir, auxiliar, mas JAMAIS impor sua opinião às partes. Quanto à mediação, diferencia-se da conciliação pelo papel do mediador: ele apenas auxilia, estabelecendo um vínculo, ou “link”, entre as partes. Não propõe, nem impõe solução. Novo CPC: no artigo 319 estarão os requisitos da petição inicial, dentre os quais está a obrigação de declarar que se abre mão da audiência de conciliação. Entretanto, pelo procedimento comum (que, agora, é único), o juiz é OBRIGADO a marcar tal audiência, a não ser que o réu também abra mão da conciliação – ou se omita a respeito. Observe que se não comparecer à audiência de conciliação, porém, será aplicada multa de 2% à parte. OU SEJA: na conciliação há uma sugestão de solução para controvérsia; na mediação apenas há uma tentativa de contato. O conciliador sugere, o mediador apenas aproxima. Observação relevante: aconselha-se que a mediação seja utilizada para casos em que exista uma conexão anterior entre as partes (como, por exemplo, o Direito de Família). A conciliação, por outro lado, é usada quando não há contato, ou conhecimento, entre as partes em litígio. Mediação = auxílio; Conciliação = sugestão Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 5 23/02/2016. Limites de arbitragem. Conforme a Lei de Arbitragem, art. 1º, pode arbitrar quem é capaz de contratar para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. • Arbitra quem é capaz de contratar, já que a mediação tem que ser pactuada por ambas as partes (cláusula ou compromisso arbitral é, também, cláusula contratual). o “As pessoas capazes de contratar ...”: dentro dos limites da administração dos seus bens, um menor pode praticar determinados atos, e firmar contratos, devidamente representado. Se pode contratar, poderia arbitrar; contudo, a doutrina é fixa em declarar que somente pessoas capazes podem utilizar da arbitragem. o Tal disposição doutrinária reforça o que se encontra no CC02, art. 851 a 853: ▪ Art. 851: admite compromisso, judicial ou extrajudicial, para resolver litígio entre os que podem contratar; ▪ Art. 852: veda o compromisso para solucionar questões que não dizem respeito a direitos patrimoniais disponíveis: de estado (filiação, por exemplo); de direito pessoal de família; e outras, que não tenham caráter patrimonial. Observe que outras questões nasquais o Estado pode estar envolvido, como de Direito Administrativo, podem ser objeto de arbitragem. Digno de nota é a questão do deficiente: pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, este passa a não ser mais considerado relativamente incapaz – e, em tese, como poderia fechar contratos, também poderia solucionar os conflitos usando da arbitragem. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 6 23/02/2016. Tipos de arbitragem. A ARBITRAGEM PODE SER: • De direito (regra): aplica-se a lei nacional (conforme art. 9º, § 2º, da LINDB); • Pela aplicação da norma escolhida pelas partes: a flexibilidade do processo arbitral permite que se aplique um conjunto específico de normas escolhidas pelas partes, como: o As leis internacionais de comércio; o Leis estrangeiras, como, por exemplo, o Código Civil francês o Lex Mercatoria (conjunto formado pelas práticas comerciais, usos e costumes do comércio, que independem de sistema ou previsão legal) o Leis corporativas (procedimentos de entidades, empresas ou órgãos de classe) • De equidade: caso não se ache lei, o juiz poderá, nesta ordem, aplicar analogia, costumes, princípios gerais de Direito, e, finalmente, usar da equidade (aplicar uma solução própria). o Na arbitragem, porém, é plenamente lícito que se autorize ao árbitro que este dê preferência à equidade e os princípios gerais de Direito, desde que não haja violação aos bons costumes e às normas de ordem pública. o Quando falamos de “ordem pública” estamos citando, especificadamente, “o direito que não pode ser afastado pelos contratos”; são as normas cogentes, cuja aplicação interessa à toda sociedade – e que, portanto, não são afastáveis. o Observação relevante: norma cogente não significa que o direito é indisponível. Exemplo relevante é o contrato de locação, que pode ter cláusula de arbitragem – mas não pode usar de equidade ou princípios gerais, pois é norma de ordem pública. • Mediante aplicação dos princípios gerais de Direito: mesmas regras da equidade (o dispositivo que regulamenta seu uso é o mesmo: art. 2º, § 1º e 2º da Lei de Arbitragem). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 7 01/03/2016. Espécies de arbitragem (Lei de Arbitragem, art. 5º e 10, II). Com relação à forma pela qual a arbitragem se desenvolve, esta pode ser: • Institucional ou administrada, quando as partes optam, na cláusula ou no compromisso arbitral, por submeter o litígio a um órgão arbitral especializado (também chamado de centro de arbitragem ou câmara arbitral) que administra o conflito, tratando “dos aspectos formais, intimações, secretaria e, até, da escolha dos árbitros”). o Este órgão pode ser uma pessoa jurídica qualquer, ou vinculado a uma entidade específica (como o caso da FIESP, que possui uma Câmara Arbitral); o A câmara arbitral, é bom ressaltar, não se confunde com o árbitro: este pode ser escolhido livremente pelas partes, dentre pessoas de confiança delas. o Observe que a escolha por uma determinada câmara arbitral é de grande importância, considerando-se que os procedimentos da Lei de Arbitragem são praticamente inexistentes (quatro artigos, na Lei). ▪ Todas as regras do procedimento arbitral, portanto, serão definidos pelo centro de arbitragem, caso as partes optem por se submeter a uma arbitragem do tipo institucional. Em consequência disso, é extremamente importante conhecer a câmara arbitral – principalmente quanto a procedimentos e preços. o Outra grande vantagem de se usar centros de arbitragem: especialização. Câmaras arbitrais são utilizadas para resolver conflitos especializados, já que os árbitros, via de regra, possuem grande conhecimento do assunto que será tratado. • Arbitragem “ad hoc”: é a arbitragem avulsa, na qual as partes não utilizam uma entidade especializada para administrar o conflito – tratando de todo o procedimento “por conta própria”. Praticamente não utilizada no contexto brasileiro. Vantagens da arbitragem em relação ao processo tradicional: • Especialização dos árbitros; • Rapidez (em média, 6 meses, contra anos do processo judicial); • Informalidade (procedimento extremamente simplificado); • Irrecorribilidade (faz coisa julgada entre as partes, não podendo acionar o Judiciário); • Sigilosidade (garantia de sigilo dos órgãos arbitrais, inexistente no Judiciário). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 8 01/03/2016. Constitucionalidade da arbitragem. Art. 5º, inciso XXXV: “lei não excluirá do Poder Judiciário a apreciação de ameaça ou lesão a direito” (o princípio da inafastabilidade tornaria, em tese, a arbitragem inconstitucional, já que a existência de compromisso ou cláusula arbitral extingue o processo sem resolução do mérito). Esta visão sobre a arbitragem data da década de 70, época em que era necessário referendar a sentença estatal para que esta tivesse validade. Observe, porém, que à época se ressaltava que a jurisdição é “poder, atividade e função do Estado” (órgãos estatais): • Poder de impor a decisão (pelos órgãos estatais); • Atividade do Estado de pacificar os conflitos; • Função do Estado de pacificar a sociedade. Observe, porém, que o STF (que é, em última análise, quem tem a função de pacificar a interpretação a respeito dos dispositivos constitucionais) homologou sentença estrangeira, através do RE 5206-2001, utilizando-se dos seguintes argumentos: • Não é a Lei de Arbitragem que afasta do Poder Judiciário a apreciação de ameaça ou razão de direito. São as partes que o fazem. O Judiciário permanece à disposição – as partes é que não quiseram utilizá-lo, preferindo a arbitragem. • Quando se fala em direito de ação, previsto no artigo 5º, não se está dizendo que este é obrigatoriamente o dever de acionar o Poder Judiciário. Outro dispositivo (como a arbitragem) pode ser utilizado para resolver um litígio, notoriamente quando se trata de questão relativa a direitos patrimoniais e disponíveis supostamente violados. • Finalmente, a arbitragem, como procedimento, é semelhante à transação. Se eu posso transacionar sobre direitos patrimoniais e disponíveis, também posso transacionar sobre a forma de resolver os conflitos, optando por respeitar a decisão de um terceiro (árbitro). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 9 08/03/2016. Outros limites impostos à solução arbitral dos conflitos. DIREITO DO CONSUMIDOR CONSUMIDOR VINCULO JURÍDICO FORNECEDOR VUNERABILIDADE DO CONSUMIDOR Destinatário Final de produtos ou serviço. Objeto da relação de consumo= Produto e serviço. Aquele que fornece com habitualidade. Técnica: Jurídica:e Econômica Ex1: Para haver direito de consumidor devem ser atendidos todos os requisitos: Por exemplo: Eu vendo o meu carro para um amigo. Carro é um produto (ok), Há um Consumidor que é o meu amigo (ok) Ocorre que, não há fornecedor habitual. Eu não vendo habitualmente carros. Ex2: Fábrica que fornece carro para concessionária ocorre que, a concessionária não é consumidor, pois não é destinatário final. Ex3: Locação de imóvel urbano não há aplicação do CDC- O STJ entendeu que no caso de uma relação jurídica decorrente de um contrato de locação. O Locador não fornece produto e tão pouco prestação de serviço, e a locação tem natureza de cessão de uso e gozo de bem infungível. Não há objeto. Há consumidor o locatário é destinatário final,e há em muitas vezes a habitualidade do fornecedorcomo as imobiliárias. Das Cláusulas Abusivas Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (..) V - (Vetado); VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem; A Doutrina afirma que no caso de cláusula arbitral, que surge antes do conflito a cláusula determina a arbitragem compulsória, logo a cláusula é nula. Já havia uma relação jurídica. No compromisso segundo a doutrina não há essa proibição, logo o compromisso é possível na relação de consumo. A cláusula EM REGRA não é aceita em relação de consumo. Exceção: Há exceção quanto a regra da cláusula arbitral em relação de consumo quando não há vulnerabilidade do consumidor. Ex: Presidente de um banco que assina contrato. Esse consumidor não é vunerável logo não há um dos requisitos da relação de consumo. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 10 13/03/2016. Cláusula e compromisso arbitral. São espécie e gênero de convenção de arbitragem. ▪ Convenção de arbitragem: É GENERO ▪ Cláusula e Compromisso são: ESPÉCIES Cláusula vs compromisso arbitral: • Cláusula Arbitral: convenção de arbitragem ANTES do conflito. Contrato é um acordo de vontades, não há conflito. • Compromisso: é a convenção de Arbitragem que surge depois do conflito. Convenciona a arbitragem e os requisitos. Lei de Arbitragem. Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória. Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória. O Arbitro que tem que primeiramente analisar a validade e existência da da cláusula e compromisso arbitral. Exemplo 4: Um contrato de adesão, significa que uma das partes não tem o direito de dispor dos conteúdo das cláusulas. “Afirmação: Todo relação de consumo é viabilizado por um contrato de adesão” Em um contrato de adesão pode ter cláusula arbitral? Pode, observados alguns requisitos: 1- Cláusula arbitral no corpo do contrato SEM RELAÇÃO DE CONSUMO: 2- Respeitar os aspectos formais (cláusula em descrito, visto ou assinatura específica) Art. 4, parágrafo 2 4- Se é um contrato de adesão. Compromisso arbitral: convenção de arbitragem DEPOIS do conflito. Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. § 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira. § 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 11 15/03/2016. Arbitragem e ações em razão dos condomínios edilícios. Antes de se falar em arbitragem nos condomínios edilícios, relembremos o Direito Civil: • Para que cada apartamento possa receber uma matrícula em separado, é instituído o condomínio, com o cancelamento da matrícula do terreno (documento de origem) pelo Ofício de Imóveis e sua substituição pela do condomínio. Estes documentos são os seguintes: o Habite-se, ou auto de conclusão, expedido pela municipalidade; o Certidões negativas de débito do ISS e do INSS, referente aos serviços empregados na obra em questão; o Especificação do condomínio, em documento técnico (medidas, andares, percentual de áreas comuns e particulares, etc.); o Convenção de condomínio (regras que regulam a vida no condomínio). • A convenção é levada para o registro, e passa a ser a base para tudo que o regula – inclusive a possibilidade, ou não, de se utilizar arbitragem em eventuais conflitos. A arbitragem é possível, desde que esteja prevista na convenção do condomínio, para: • Os conflitos envolvendo o condomínio e os condôminos; • OU os casos em que haja conflito entre os próprios condôminos. Observação: • A convenção, ao ser registrada, gera efeitos “erga omnes” para todos aqueles que a assinaram ou que entraram no condomínio posteriormente. Não é contrato de adesão: quem adquiriu uma unidade aceita sua natureza jurídica institucional normativa. • No caso de alteração que envolva a inclusão de convenção de arbitragem, esta deve ser instituída por unanimidade. Caso contrário, não poderá ser utilizada pelos condôminos. Nos casos em que o condomínio se envolve em litígios com terceiros, a convenção não pode gerar efeitos, a não ser que tenha sido efetuado compromisso arbitral em pacto autônomo. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 12 15/03/2016. Direito do Trabalho e arbitragem. Os conflitos no âmbito do Direito do Trabalho podem ser coletivos (sindicatos de empregadores vs sindicatos de empregados) ou individuais, referentes a pessoas. No caso dos dissídios coletivos, a CF, no artigo 114, § 1º, permite que sejam constituídos árbitros para a resolução dos conflitos (esse dispositivo é reiterado em outras legislações, como a do direito de greve e da participação nos lucros). No caso dos direitos individuais, há divergências a respeito. Ao contrário da jurisprudência dominante no Direito do Trabalho, que diz que tais direitos são irrenunciáveis e indisponíveis – o que tornaria a arbitragem impossível nesse âmbito - os autores de Direito Arbitral alegam que os direitos trabalhistas são irrenunciáveis, mas não são indisponíveis. Observam os especialistas no Direito Arbitral que o Direito do Trabalho permite que o empregado abra mão de determinados direitos, uma vez que os incorpora. Um exemplo dessa situação é o acordo, na audiência trabalhista (embora, para os trabalhistas, isso seja transigir com o direito). Algumas empresas preferem levar seus empregados para arbitragem, baseado nesse critério. A possibilidade deste acordo ser anulado pela Justiça do Trabalho, porém, é enorme. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 13 15/03/2016. Arbitragem e administração pública. No Direito Administrativo, embora, aparentemente, o interesse público fosse um óbice à prática da arbitragem, esta é possível (e até recomendável). Tal situação ocorre porque o interesse público tem como base a correta aplicação da lei, a fim de facilitar o trabalho da administração pública – caso em que a arbitragem cabe como uma luva, pois torna o processo mais célere. Logo, a arbitragem é lícita: • Nas empresas públicas e sociedades de economia mista, quando atuam como pessoas jurídicas de direito privado na exploração de atividade econômica em direitos patrimoniais disponíveis (CF, art. 173, § 1º; CC, art. 41, § único). • Nas pessoas jurídicas de direito público, para solucionar conflitos de natureza privada (Lei 8666/93, art. 62, § 3º, I). A arbitragem, contudo, é ilícita nos casos em que o Estado atua com as atividades inerentes às suas atribuições específicas (como, por exemplo,o poder de polícia). Dignas de nota, ainda, são duas hipóteses em que a arbitragem é prevista expressamente em lei: • Contratos de concessão (Lei 8987/95, art. 23, XV e 23-A); • Parcerias público-privadas (Lei 11079/2004, art. 11, III). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 14 22/03/2016. Contratos e Estatutos Societários. A origem prática da arbitragem é o Direito Empresarial. O sigilo, que é garantido pelo procedimento arbitral (e permitido, pois as lides são geralmente em torno de direitos patrimoniais disponíveis), é um grande ponto positivo para as empresas, mais até do que a celeridade do processo. • Nas sociedades anônimas (Lei 6404/1976): o O art. 109, § 3º da Lei permite o uso de arbitragem, para dirimir conflitos entre seus acionistas, ou entre a sociedade e seus acionistas, desde que inserido no estatuto. o Na prática, este dispositivo se tornou um padrão para as empresas; contudo, problema se instalou quando os dissidentes passaram a pedir liminares, para não permitir tal alteração estatutária (impedindo arbitragem). o Solução: está no art. 136-A da Lei das S/A, que dá ao dissidente duas opções: ▪ Nas companhias de capital aberto com liquidez e dispersão de ações no mercado, liquidar suas ações no mercado, ou ser reembolsado; ▪ Nas companhias de capital fechado, o reembolso. o Na prática, o dissidente só pode exercer o direito de retirada. • Nas sociedades limitadas: o Também é possível, conforme CC, art. 997 e CC, art. 1053: este último artigo declara que as sociedades limitadas podem ser regidas, na omissão desse capítulo, pelas regras das sociedades simples. Como a sociedade simples aceita arbitragem, de forma análoga, essa passa a ser permitida. • No caso das associações e sociedades simples, também não há óbice (CC, art. 54, V). o Dúvida: uma Igreja evangélica, em tese, poderia utilizar de arbitragem para resolver seus conflitos internos, usando regras específicas de uma Confissão de Fé? • Observação: o art. 1030 do CC permite, no seu texto, a decisão judicial para exclusão de sócio. Há entendimento, contudo, de que a decisão será judicial se não for pactuada a arbitragem e se não houver previsão de exclusão por assembleia, conforme art. 1085 do CC. o Esta decisão, observe, não envolve o Poder Judiciário. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 15 22/03/2016. Capítulo II. Convenção de arbitragem. “Ninguém pode ser compelido a exercer a arbitragem. Quando opta por ela, contudo, não poderá se desvincular”. ‘ CPC15, art. 485, VII: extingue-se o processo, sem resolução do mérito, caso seja alegada a existência de convenção de arbitragem. O juiz, porém, não poderá extinguir o processo de ofício; somente será extinto se a parte alegar a existência, em preliminar de contestação (art. 337, X, e §§ 5º e 6º). Título executivo e convenção de arbitragem, no mesmo contrato: ainda que a convenção de arbitragem seja obrigatória, a sentença arbitral não é título executivo judicial. Logo, o processo de execução será feito no Poder Judiciário. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 16 29/03/2016. Obrigatoriedade da arbitragem. Espécies de convenção. Compatibilidade entre cláusula arbitral e compromisso arbitral na eleição de foro: se em um determinado contrato existir cláusula arbitral (ou compromisso arbitral) e cláusula de eleição de foro, estas não são consideradas excludentes, tendo em vista que: • A fase de execução terá que ser efetuada via Poder Judiciário, no foro eleito pelas partes; • As tutelas provisórias deverão ser materializadas pelo Judiciário. Trata-se de uma relação de coordenação entre a arbitragem e o Poder Judiciário, na qual a cláusula ou compromisso prevalece sobre a eleição de foro na fase de conhecimento. Espécies de convenção de arbitragem Relembrando cláusula arbitral (ou compromissória) vs compromisso arbitral: • Cláusula é a convenção que surge ANTES do conflito; • Compromisso ocorre DURANTE o conflito. O compromisso arbitral pode ser: • JUDICIAL, quando firmado após se ingressar ação no Poder Judiciário. Nesse caso, retira-se o caso da competência estatal, trazendo-o para a arbitragem (e começando todo o processo do início). É feito por petição nos autos, de ambas as partes; • Ou EXTRAJUDICIAL, quando as partes, antes de entrar em ação no Poder Judiciário, optam por resolver a lide usando de arbitragem. A cláusula arbitral (ou compromissória) pode ser: • CHEIA, quando já contempla os requisitos obrigatórios que a lei estabelece como tais para o compromisso (conforme Lei de Arbitragem, art. 10); • VAZIA, ou “em branco”, ou “patológica”, quando algum dos requisitos obrigatórios do artigo 10 da LA estão faltando (principalmente, o árbitro). Observação IMPORTANTÍSSIMA: • Se a cláusula arbitral for CHEIA, pode-se proceder à arbitragem automaticamente, sem a necessidade de resolver as pendências provenientes de uma cláusula “em branco”; • Uma cláusula arbitral VAZIA força, obrigatoriamente, que seja firmado compromisso arbitral para ajustar os pontos pendentes antes de se proceder à arbitragem. Em caso de desacordo entre as partes sobre algum dos temas, faz-se necessário proceder a uma ação específica, no Poder Judiciário, a respeito do compromisso. Esta é a execução específica da cláusula arbitral vazia, prevista nos artigos 6º e 7º da Lei de Arbitragem – e cuja sentença (que não tem efeito suspensivo) vale como compromisso arbitral. Condições formais obrigatórias da cláusula arbitral cheia e do compromisso arbitral (LA, art. 10): • Qualificação das partes (nome, profissão, estado civil, domicílio); • Qualificação dos árbitros (profissão e domicílio, ou identificação da entidade); • Matéria que será objeto de arbitragem; • Lugar em que será proferida a sentença arbitral (essencial dizer que a sentença será prolatada em território nacional, para evitar que tenha que ser homologada pelo STJ). A esse respeito, observe-se que é essencial que cláusula arbitral cheia ou compromisso arbitral seja declarado usando a forma escrita (Lei de Arbitragem, artigo 9º). Outras exigências: • No caso de compromisso arbitral judicial, deve ser firmado por termo nos autos; • Por documento particular, com duas testemunhas, ou por documento público (nesse caso, dispensa-se testemunhas) no compromisso arbitral extrajudicial; Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 17 Condições formais facultativas (L.A., art. 11): • Local da arbitragem: podem ser supridas por decisão do árbitro (art. 21, § 1º, da LA); • Autorização para julgamento por equidade ou indicação da lei: na ausência de estipulação, será a lei nacional (LA, art. 2º); • Prazo: se ausente, será de seis meses (art. 23 da LA), sob pena de nulidade e extinção do compromisso arbitral. Nesse caso, a parte que se sentir prejudicada poderá exigir que o árbitro prolate a sentença, sob pena de pagar eventuais prejuízos (ofensa ao dever de diligência). • Responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das despesas: se não ocorrer, será utilizado subsidiariamente o CPC. O árbitro, contudo, poderá decidir a respeito (art. 21, § 1º, da LA), ou as partes entrarão em acordo. • Fixação dos honorários do árbitro, ou árbitros. Autonomia da cláusula arbitral: a cláusula arbitral, ainda que esteja inserida no corpo do contrato, tem autonomia com relação ao mesmo. Quem decide a existência, validade ou eficácia da cláusulaou do compromisso arbitral é o árbitro, respeitando o princípio da competência-competência, previsto na Lei de Arbitragem e nas legislações sobre o assunto ao redor do mundo. Lei de Arbitragem, Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória. Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 18 05/04/2016. Quem pode ser árbitro? (Lei de Arbitragem, artigo 13). O árbitro deve ser pessoa natural: • Capacidade de exercício dos direitos, conforme o Código Civil; • Capacidade plena, de fato (não somente de direito) Quanto às pessoas jurídicas: a maioria doutrinária – quase totalidade - não admite tal existência, visto que é atividade jurisdicional (portanto, “personalíssima”). Pontos interessantes a considerar sobre arbitragem por pessoa jurídica: • LA, art. 13: “pode ser árbitro qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes”. • Uma pessoa jurídica é dotada de personalidade jurídica: o registro em contrato faz com que a pessoa jurídica seja sujeito de direitos e obrigações. • “Onde a lei discrimina, não cabe ao agente discriminar”: se pessoa jurídica não pode ser discriminada, porque não pode arbitrar, então? • Em todo caso, se pessoa jurídica for nomeada para arbitrar, a sentença em questão poderá ser considerada nula, nos termos do artigo 32 da LA. Este é motivo suficiente para que não haja tal nomeação. Outras observações: • Juiz togado NÃO PODE ser árbitro: observa-se, no caso, o art. 26, II, da LOMAN, e o art. 95, § único, I, da Constituição Federal (só pode acumular com o magistério). • Estrangeiro: não há vedação ao uso de estrangeiros na arbitragem. O importante é que a sentença seja prolatada em território nacional, e que, se for prolatada em língua estrangeira, que haja tradutor juramentado para a mesma. O essencial: ser pessoa de confiança das partes. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 19 05/04/2016. Poderes, deveres e equiparação do árbitro aos funcionários públicos. O árbitro é juiz de fato e de direito, prolatando sentença (art. 18 e 31 da LA). Sendo dono de jurisdição, recebe com eles os poderes e os deveres relativos à função (art. 13, § 6º da LA). O árbitro NÃO É juiz, ele ESTÁ juiz: ele não possui as prerrogativas específicas e peculiares do magistrado, como a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos; entretanto, quando está exercendo sua função, tem os mesmos direitos e deveres do magistrado. Quando em função, o árbitro é juiz; quando não está exercendo seus afazeres, não. Se o árbitro tem os mesmos poderes, também tem os deveres (art. 13, § 6º, da LA): • Imparcialidade (saber julgar conforme a Lei, não de acordo com seus gostos); • Independência (julgar acima dos interesses pessoais); • Competência (o árbitro tem que conhecer do assunto, ser competente na matéria); o MUITO importante para o caso do árbitro!!! • Diligência (o árbitro tem que cumprir prazos) o Relembrando: exigência de 6 meses para prolatar sentença; possibilidade de se requerer o fim do compromisso arbitral caso não seja prolatado no prazo. • Discrição (é essencial que o árbitro seja discreto) No caso do descumprimento destes deveres, o árbitro pode ser responsabilizado (CC, art. 389). Equiparação para fins penais (LA, art. 17): refere-se aos crimes próprios de funcionário público, seja como agente ou como vítima. Por exemplo, em uma audiência arbitral, quem desrespeita árbitro pode ser denunciado por desacato (como o juiz). Tribunal arbitral: trata-se da arbitragem realizada por mais de um árbitro (NÃO É o local da arbitragem, o órgão ou câmara). Refere-se ao colegiado de árbitros. Em tempo: o advogado pode ser árbitro, mas não pode criar um órgão específico e dar-lhe o nome de TRIBUNAL arbitral (é atitude condenada pelo Código de Ética). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 20 19/04/2016. Critérios para escolha dos árbitros e do presidente do Tribunal Arbitral. Na aula passada, verificamos que o Tribunal Arbitral ocorre quando mais de um árbitro fará o processo. Os árbitros que vão compor este colegiado devem ser escolhidos pelas partes, seja na cláusula cheia ou no compromisso arbitral. Art. 13, §§ 3º e 4º: centros de arbitragem NÃO PODEM impor às partes nem o presidente, nem os árbitros (afinal, o árbitro deve ser de confiança das partes). O que o centro pode é impor determinadas limitações para quem possa arbitrar naquele local, mas dando livre escolha à parte. Arbitragem multiparte: arbitragem decidida pela Convenção de Arbitragem. Art. 7º, LA: se não existir consenso sobre o árbitro, deverá ser definido pelo Poder Judiciário (entrar na Justiça para que o magistrado defina quem fará a arbitragem). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 21 Data. Impedimento, suspeição do árbitro e sua arguição. O árbitro está equiparado ao juiz togado no exercício de suas funções. Sendo assim, aplicam-se a ele as mesmas causas de impedimento dos magistrados (art. 14 da LA, que remete aos artigos 144 – impedimento - e 145 – suspeição - do CPC15). Lei de Arbitragem, Art. 14. Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham, com as partes ou com o litígio que lhes for submetido, algumas das relações que caracterizam os casos de impedimento ou suspeiçãode juízes, aplicando-se-lhes, no que couber, os mesmos deveres e responsabilidades, conforme previsto no Código de Processo Civil. Dever de revelação: quando a arbitragem é instalada o árbitro tem o dever de revelar qualquer causa de impedimento ou suspeição, atendendo ao dever que este possui de ser imparcial. Aquele que foi escolhido como árbitro pode recusar o encargo no momento da instituição da arbitragem (LA, art. 19), ou ser recusado, por semelhante modo. CPC13, art. 146: no procedimento judicial a preliminar de contestação é o momento para se argumentar a exceção de incompetência, podendo ser acatada ou rejeitada pelo magistrado. No caso de não ser aceito o impedimento, será remetido ao Tribunal, que poderá acatar a exceção (e redistribuir o processo) ou rejeitá-la, remetendo o caso novamente para o juiz natural. No caso do Direito Arbitral, é o próprio árbitro que deve decidir sobre o impedimento. A exceção, portanto, deve ser endereçada diretamente a ele, que pode ou não deferir o procedimento. Caso o árbitro indefira a petição, contudo, estará rompendo o dever de imparcialidade, e poderá responder por perdas em danos (além da sentença ser declarada nula). Por isso, o caso é raro. Observação relevante: como a escolha do árbitro é baseada em confiança, é preciso provar que a condição é pré-existente (a pessoa não sabia do impedimento, ou da suspeição). Procedimento de arguição de impedimento ou suspeição (artigos 15, 20, 32, II, e 33, § 2º, da LA): ➔ Tempo da ocorrência está no artigo 14, § 2º, da LA. ➔ Motivo posterior: quando conhecido posteriormente à instalação (condição pré-existente). ➔ Motivo anterior: apenas se foi nomeado indiretamente, ou se a causa for conhecida depois. Impossibilidade de atuação do árbitro e sua substituição (arts. 12, 15, § único,e 16 da LA): ➔ Pode ocorrer por uma das seguintes causas: recusa do árbitro à nomeação; impedimento ou suspeição; falecimento; incapacidade absoluta ou relativa (art. 3º e 4º do CC). ➔ É obrigatória a substituição do árbitro por um suplente, escolhido pelas partes. Caso não o haja, age como se fosse caso de cláusula arbitral vazia. ➔ Opcionalmente, pode-se declarar a impossibilidade de substituição do árbitro, extinguindo o compromisso arbitral, nesse caso. Número de árbitros e suplentes (arts. 13, §§ 1º e 2º da LA): ➔ Apenas um árbitro; ➔ Mais de um árbitro, em NÚMERO ÍMPAR. Caso seja nomeado um número par de árbitros, estes escolherão mais um, consensualmente (presume-se que ambos estão autorizados pelas partes para fazer tal escolha). • Se os árbitros não tiverem consenso quanto à escolha da terceira parte ... art. 7º da Lei de Arbitragem (recorrer ao Poder Judiciário). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 22 19/04/2016. Procedimento arbitral. Ação vs processo vs procedimento: • Ação é direito de buscar a jurisdição, exercido através do processo; • Ao conjunto de atos praticados visando o direito de ação chamamos procedimento. Procedimento arbitral: é definido em quatro artigos da Lei de Arbitragem: 19, 20, 21 e 22. Na verdade, estes artigos tratam da Lei em aspectos gerais, deixando aos Centros de Arbitragem a responsabilidade pelo “processual” adotado. As exigências da Lei referem-se apenas a princípios impositivos (art. 21, § 2º, LA): • Contraditório: as partes devem ter, em todo o processo, oportunidade de reação. • Igualdade processual: ambas as partes devem ter tratamento igual; na omissão dos procedimentos, o árbitro deve preencher tais lacunas. Não é igualdade de armas, mas de oportunidades entre as partes (ambos os lados devem ter as mesmas condições). • Livre convencimento do árbitro • Imparcialidade do árbitro Art. 32, VIII: caso os princípios impositivos exigidos pela Lei não sejam obedecidos, cabe ação anulatória contra a outra parte, pedindo indeferimento da sentença. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 23 26/04/2016. Procedimento arbitral (continuação). Só para recordar, o procedimento arbitral tem um ordenamento bastante aberto (o que dá condições aos centros de arbitragem de impor suas próprias regras no processo). Faz-se necessário, porém, respeitar os princípios gerais do processo, inscritos no art. 21, § 2º, da Lei de Arbitragem. Ata de missão ou termo de arbitragem: o art. 19, § 1º da Lei de Arbitragem determina que, se o árbitro entender que se faz necessário esclarecer pontos a respeito do assunto. É o momento propício para se propor uma conciliação, nos termos do art. 21, § 4º, da mesma Lei (observação: para os especialistas doutrinários, não tentar acordo é uma mera formalidade). Art. 19, § 1º Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral que há necessidade de explicit arquestão disposta na convenção de arbitragem, será elaborado, juntamente com as partes, aden do firmado portodos, que passará a fazer parte integrante da convenção de arbitragem. Art. 21, § 4º Competirá ao árbitro ou ao tribunal arbitral, no início do procedimento, tentar a conciliação das pa rtes, aplicando-se, no que couber, o art. 28 desta Lei. Observação relevante: não se faz obrigatória a presença de advogado, mas, caso uma das partes compareça, deve-se garantir a igualdade processual (oferecendo a chance à outra parte). Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 24 26/04/2016. Instituição da arbitragem. No Poder Judiciário, a instituição do procedimento judiciário está nos artigos 213 e (...) do Novo CPC, que falam do momento em que a ação se considera proposta (data do protocolo) e dos efeitos da propositura da ação (tornar litigiosa a coisa, induzir à litispendência, suspender a prescrição). Na Arbitragem a instituição do procedimento arbitral ocorre de acordo com regras dispostas pelo centro de arbitragem escolhido, ou acordados por compromisso. Via de regra, é a formação do tribunal arbitral que determina o momento em que se considera “proposta” a arbitragem. Interrupção de prescrição: no Judiciário, é possível interromper a prescrição através de protesto, conforme CC02, art. 202 (direito material), e CPC, art. 726 (direito processual). A instituição da arbitragem interrompe a prescrição, conforme art. 19, § 2º, da LA. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 25 Nulidades e incompetências: devem ser alegadas na primeira oportunidade (art. 20, § 1º), sob pena de precluir o direito (sem possibilidade de entrar em juízo), se forem relativas. • O árbitro, se acatar a incompetência, prolata sentença terminativa, possibilitando o direito do autor de procurar o Judiciário para satisfazer o Direito; • Se o árbitro não acatar, após seguir o procedimento e prolatar a sentença definitiva, pode-se pedir ação anulatória da sentença, nos termos do art. 32-33 da Lei de Arbitragem. Observe que, se não for alegado na primeira oportunidade, o ato será ratificado. Observações a respeito das nulidades / incompetências: • Nulidade da convenção de arbitragem: conforme art. 32, I, da Lei de Arbitragem, gera nulidade da sentença arbitral; • Incompetência relativa do árbitro: também gera nulidade, conforme art. 32, II, da mesma Lei. Sobre nulidades: ler item 3 do capítulo 4 e item 7 do capítulo 5 do livro do professor. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 26 03/05/2016. Colaboração entre arbitragem e Poder Judiciário. Cartas arbitrais. O árbitro tem poder de juiz no tocante às suas atribuições. Entretanto, para os atos nos quais não possui jurisdição, faz-se necessário pedir a colaboração do Poder Judiciário, que se faz através das cartas arbitrais (mecanismo análogo às cartas precatórias, regulamentado pelo Novo CPC, nos artigos 260 ao 268, e pela LA, artigo 22-C). Novo CPC, art. 260: São requisitos das cartas de ordem, precatória e rogatória: I - a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato; II - o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumento do mandato conferido ao advogado; III - a menção do ato processual que lhe constitui o objeto; IV - o encerramento com a assinatura do juiz. (...) § 3o A carta arbitral atenderá, no que couber, aos requisitos a que se refere o caput e será instruída com a convenção de arbitragem e com as provas da nomeação do árbitro e de sua aceitação da função. A confidencialidade da arbitragem é praticamente automática, devido à natureza dos direitos que são discutidos nesse tipo de procedimento. Uma vez que o sigilo tenha sido exigido dentro do procedimento arbitral, este também será respeitado pelo Poder Judiciário. Provas (Lei de Arbitragem, art. 22): o árbitro é dotado de poderes instrutórios que são expandidos, considerando-se a necessidade de livre convencimento por parte deste e suas características específicas. Algumas formas de coleta de provas são comuns na arbitragem, como: • depoimento técnico: informação prestada por especialista, que pode comprovar detalhes técnicos sobre os fatos e sua veracidade; • uso de videoconferência para oitiva de testemunha. Na arbitragem, busca-se a verdade REAL, mais do que a material. Por analogia, utiliza-se o mesmo dispositivo do CPC (art. 218, § 2º). Uma observaçãoimportante a ressaltar é que a partir do Novo CPC é a parte – e não mais o juízo – que faz a intimação. P.: Mentir para árbitro, em juízo, é crime? R.: SIM, nos termos do art. 342 do Código Penal. Este caso envolve também as testemunhas que prestam falso testemunho e aqueles que fazem falsa tradução no Judiciário. Prova testemunhal: na arbitragem o não-comparecimento para prestar depoimento pessoal não caracteriza revelia, como no Processo Civil. Conforme diz o § 2º, do art. 22, da Lei de Arbitragem, “(...) o árbitro ou o tribunal arbitral levará em consideração o comportamento da parte faltosa, ao proferir sua sentença; se a ausência for de testemunha, nas mesmas circunstâncias, poderá o árbitro ou o presidente do tribunal arbitral requerer à autoridade judiciária que conduza a testemunha renitente, comprovando a existência da convenção de arbitragem.” Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 27 Tutelas provisórias e de urgência (art. 22-A e 22-B da Lei de Arbitragem): • No Processo Civil as tutelas provisórias estão nos arts. 294 a 310 do CPC. • Também são disponíveis no procedimento arbitral, mas NÃO se pode fazer o pedido de tutela antes do início do procedimento (aceitação do árbitro). Outra observação relevante é sobre a tutela antecedente, seja ela cautelar ou antecipada: se ela for concedida pelo juiz, o árbitro deverá revê-la, no prazo de 30 dias da concessão da tutela. Quanto ás tutelas de evidência (art. 311 do CPC), estas não são admitidas no procedimento arbitral. Pedido contraposto: é permitido no procedimento arbitral, desde que cabível. Revelia: no Processo Civil, rende confissão. Na arbitragem não existe, conforme o § 3º do art. 22: apenas se autoriza o árbitro a proferir sentença. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 28 10/05/2016. Comunicação dos atos: no Direito Processual os atos são publicados via imprensa, através do Diário Oficial ou instrumento semelhante. Na arbitragem não existe um padrão de comunicações; entretanto, via de regra, esta costuma seguir o padrão da câmara (a não ser quando o procedimento for aberto, caso em que a convenção arbitral decidirá a forma – geralmente e-mail). Observação importante: por analogia ao artigo 274 do CPC, presume-se comunicada a parte mesmo quando esta tiver mudado de domicílio (ou de forma de localização, como e-mail). Despesas: aplicam-se as regras escolhidas pelas partes, podendo ser feitas por convenção ou seguindo as regras do centro de arbitragem. Observe que é essencial saber as regras do centro de arbitragem, já que são elas, como regra, que regem o procedimento. Custas: segue o mesmo procedimento do Direito Processual, a saber, o princípio da causalidade (quem deu causa, paga), a não ser que determinação da convenção diga o contrário. Intervenção de terceiros: há divergências com respeito a isso. Alguns autores declaram que o árbitro deve concordar a respeito da intervenção; outra posição diz que depende do terceiro a aderência a convenção arbitral (assinando o termo), submetendo-se às regras da arbitragem. Observação relevante: NÃO CABE desconsideração de pessoa jurídica na arbitragem – esta será feita na fase judicial de cumprimento de sentença. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 29 10/05/2016. Sentença arbitral. Relembrando: a sentença arbitral equivale às sentenças prolatadas pelo Poder Judiciário, valendo como título executivo judicial. Pode ser terminativa (extingue o processo sem resolução do mérito) ou definitiva (decide quanto ao mérito). Quanto ao mérito, pode ser condenatória, constitutiva ou declaratória (classificação trinária). P.: Qualquer sentença arbitral é título executivo, no Direito Processual? R.: Não importa se a sentença é condenatória, constitutiva ou declaratória – QUALQUER sentença é título executivo, desde que tenha dentro dela uma prestação desde logo exercitável, que consiste em uma obrigação, seja ela: • De dar (em dinheiro; bem móvel; bem imóvel) • De fazer ou não fazer (resultado prático equivalente, ou astreintes) • Por quantia certa. A sentença arbitral vale como título executivo desde o CPC de 73; esse dispositivo foi reforçado pelo Novo CPC (art. 515, VII). Observe-se o detalhe referente a esse instrumento: § 1o Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. Liquidação: o árbitro tem que dar sentença líquida, visto que qualquer sentença ilíquida deverá ser resolvida no âmbito judicial (o que afronta a competência do árbitro). Prazo para emissão da sentença arbitral: 6 meses (possibilidade de exigir a sentença no prazo de 10 dias a partir do dia em que o prazo expirou). Quórum: em tribunal arbitral, vale a maioria dos votos dos árbitros. Sentença: contem relatório, fundamentação e dispositivo, além da data e do lugar (importantes para caracterizar a sentença como válida no território nacional ou de homologação necessária). Acordo: pode ser homologado em sentença, que vale como título judicial. Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo. Efeitos da sentença arbitral: Ação anulatória: cabe apenas nas hipóteses do art. 32 da Lei de Arbitragem (não cabe renúncia ao direito desta ação). No Judiciário, segue o procedimento comum. P.: Na ação anulatória, o pedido é declaratório ou desconstitutivo? R.: Depende da nulidade que se deseja. Laboratório de Conciliação, Mediação e Arbitragem 9º S Prof. Luiz Antônio Scavone Por Fábio Peres da Silva 30