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CONCORRÊNCIA DESLEAL: Práticas Anticoncorrenciais Que Atentam Contra a Livre Iniciativa Econômica, e a Busca Da Ética Empresarial Como Pilar No Equilíbrio Da Livre Concorrência Num Mercado Competitivo Thiago de Moraes Bastos1; Daniela Maria Sousa de Andrade¹; Lucas Leal da Silva¹; Orion Alves Rabelo¹; Ivana Brito¹; Paulo Borges da Silva¹; Victor Pereira Avelino¹. RESUMO As relações comerciais consagradas com a liberdade e a igualdade de exercício do poder econômico, ainda que atualizadas não conseguem acompanhar o ritmo acelerado do desenvolvimento social e financeiro do mercado, passando a utilizar-se de meios inaceitáveis ao regime jurídico comercial.O exercício da atividade econômica como concorrência é ordem natural de mercado, tendo sua importância suprema na economia, afim de garantir a livre competição.No entanto, ao se falar em disputa, há abusos de toda natureza, entre eles, a concorrência desleal, necessitando da intervenção do Estado para garantir a livre disputa entre os participantes do mercado. Com base nisso, atesta-se a importância da probidade no meio empresarial e atos de comércio, de modo a garantir a segurança jurídica da livre concorrência e estabelecer observância na legislação concorrencial, pautando ações no desenvolvimento social da economia. Palavras Chave: Concorrência; Ética; Mercado; Economia. UNFAIR COMPETITION: Practical Anti That Threaten Free Enterprise Economic, and Search Business Ethics As A Pillar In The Balance Of Free Competition In A Competitive Market ABSTRACT: The commercial relations consecrated with freedom and equal exercise of economic power, although updated can not keep up with the accelerated pace of social and financial development of the market, using unacceptable means to the commercial legal regime. The exercise of the activity economic as competition is the natural order of the market, having its supreme importance in the economy, in order to guarantee free competition. However, when talking about the dispute, there are abuses of all kinds, among them, unfair competition, requiring the intervention of the State to ensure free competition among market participants. Based on this, it is confirmed the importance of probity in the business environment and acts of commerce, in order to guarantee the legal security of free competition and to establish compliance in the competitive legislation, guiding actions in the social development of the economy. Keywords: Competition; Ethic; Marketplace; Economy. 1 Curso de Direito da Faculdade Montes Belos – FMB. 1. INTRODUÇÃO É sabido que ao mercado empresarial e industrial é assegurado a livre concorrência, que é amparada pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 170 que traz os princípios gerais da atividade econômica, valorizando o trabalho humano na livre-iniciativa. O exercício de qualquer atividade econômica é livre e assegurado a todos, e o fim de todo sistema econômico é assegurar a satisfação das necessidades humanas, apropriando-se da natureza humana consumista para obter vantagens, nesse caso,lucro. A participação estatal no sistema econômico é imprescindível, de modo a assegurar seus objetivos e equilibrar seu crescimento, garantindo assim a livre competição por meio de repressão à concorrência desleal, visando o progresso econômico. Enquanto as infrações da ordem econômica, afirma Coelho (2015, p. 51) (condutas estas que são elencadas no art. 36, § 3º da Lei n. 12.529/11) caracterizam o exercício do poder econômico por condutas que visem a limitar, falsear ou prejudicar a livre concorrência ou livre iniciativa, dominar mercado relevante de bens ou serviços ou aumentar arbitrariamente os lucros, a concorrência desleal, pelo contrário, não visa o cerceamento da concorrência, mas tão somente, a clientela, ou seja, o empresário utiliza de meios ilícitos para persuadir e desviar para si a clientela de seu concorrente por meio de condutas fraudulentas, quais sejam, denegrir a imagem do concorrente, confundir seu produto ou estabelecimento, abuso de confiança dentre outras. Vale lembrar que a concorrência é um meio de desenvolvimento econômico e social, uma vez que proporciona aos clientes o direito de escolha na satisfação de suas necessidades, podendo assim ele escolher entre os produtos ou serviços de melhor custo e benefício. As empresas são as que mais tem vantagens com a livre iniciativa, pois há a necessidade de maior investimento em tecnologia e qualidade de seus produtos, conquistando desse modo, mercados. Em síntese, o objetivo da concorrência lícita e ilícita são os mesmos, ambas visam aumentar sua clientela, se diferenciando, contudo, pelo modo que os clientes serão atingidos, conforme dispõe Fázzio Júnior (2015): Não se teça confusão entre concorrência e concorrência maliciosa ou desleal. A primeira, inerente à economia de mercado, é o resultado natural da competição entre empresas, intentando persuadir e atrair a clientela. A segunda deriva do engodo e da fraude. A distinção reside no “como concorrer”, ou seja, nos meios utilizados para concorrer. A conquista de mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente econômico em relação à seus competidores não é antijurídica. Desse modo, embora o conceito possa ser distinguido, na prática se torna muito difícil identificar e, sobretudo, punir tais condutas maliciosas que afrontam a estrutura da livre iniciativa. 2. ÉTICA CONCORRENCIAL Observa-se grande número de empresas que não agem com ética em relação a seus concorrentes, praticando condutas desleais, prejudicando a livre concorrência e ocasionando danos aos clientes e consumidores. A concorrência ainda é pouco conhecida em suas particularidades. Acredita-se que todo ato que vise a conquista de clientela seja legal e decorrente natural da ordem econômica. A partir dessas percepções, por vezes equivocadas, surge a necessidade de repressão ao abuso da liberdade de exercício do poder econômico. Embora pouco conhecida, a lei de defesa da concorrência (Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – SBDC – Lei n. 12.529/11) que regula tanto a conduta das empresas como as estruturas de mercado, pune as infrações da ordem econômica, visando proteger as empresas lesadas e sua clientela e resguardar a reputação do estabelecimento, segundo afirma Fázzio Junior (2015): O que a lei visa proteger, portanto, através da proteção do nome comercial, é a própria atividade da empresa, considerada como o complexo de meios idôneos, materiais e imateriais, pelos quais o comerciante explora determinada espécie de comércio. Entre esses imateriais compreende-se o elemento moral, isto é, o crédito, a reputação, a preferência e o favor do público, o renome do estabelecimento e a notoriedade dos produtos. Esse complexo de elementos que formam a reputação do comerciante, do estabelecimento e dos produtos, assegurando a probabilidade de se conservar a clientela habitual e de atrair novos compradores, é obra do tempo, do esforço diligente do comerciante, da honestidade de seus métodos de comércio, da qualidade e seleção de seus produtos, e também, do favor público, constituindo no dizer de Carvalho de Mendonça, o índice da prosperidade e da potência do estabelecimento comercial. Assim, se estabelece a imprescindibilidade de condutas morais entre empresários junto aos seus concorrentes e clientes, como alternativa à prevenção de agressões contra a economiade mercado. A busca incontrolável das empresas por posições dominantes de mercado torna a ética empresarial obsoleta. Decisões e projetos de organizações se respaldam cada vez mais em minimizar custos e gerar lucros com inobservância da moral e da ética, que são práticas essenciais de uma empresa. Como os pilares de uma economia justa e isonômica para todos, que se baseia na probidade e responsabilidade social de cada componente do mercado, não são notados, cabe ao Estado intervir diretamente no controle estrutural de mercado e das práticas anticoncorrenciais em busca do equilíbrio. De acordo com Vasconcellos/Garcia (2014, p. 23). O controle das estruturas de mercado diz respeito aos atos que resultem em qualquer forma de concentração econômica, seja por fusões ou por incorporações de empresas, pela constituição de sociedade para exercer o controle de empresas ou qualquer forma de agrupamento societário que implique participação da empresa ou grupo de empresas. Para a atuação do Estado na economia brasileira, em busca de tornar os mercados mais eficientes, com melhor qualidade de vida para a população e a defesa do bem estar público, estabelece a Constituição Federal de 1988, no artigo 170 os princípios gerais da atividade econômica. Todos os princípios são importantes, entretanto o objeto do estudo está nos incisos IV e V que assim dispõem: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] IV – livre concorrência; V – defesa do consumidor; Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. A partir de tais princípios se estabelece a ordem econômica e financeira do Estado brasileiro, exigindo de todos os que atuam direta ou indiretamente no mercado a observância de tais regras. 3. A LIVRE CONCORRÊNCIA E SEUS LIMITES Em todas as atividades e segmentos há concorrência, mas o que é a concorrência? Conforme a lei (Enciclopédia Saraiva, 1977, p. 209), a concorrência é o “ato lícito, constituindo a rivalidade comercial ou industrial que faz com que os empresários disputem clientes ou fregueses”. A concorrência é regra de mercado, fazendo com que ocorra a elevação do nível de competitividade e também a qualidade dos produtos e serviços oferecidos ao mercado, exigindo, portanto, que as economias sejam mais eficientes e competitivas. Em mercados que há a predominância do princípio da livre concorrência e liberdade de iniciativa há abusos de toda natureza, razão pelo qual o Estado intervém, a fim de regulamentá-los. A respeito dessa necessidade de intervenção Estatal na seara da livre concorrência, defende Salomão Filho (1998, p. 15): A ideia de regulamentação do poder econômico no mercado tem origem em uma premissa socioeconômica fundamental: todo agrupamento social, por mais simples que seja, organizado ou não sob a forma de Estado, que queira ter como fundamento básico da organização econômica a economia de mercado deve contar com um corpo de regras mínimas que garantam ao menos o funcionamento desse mercado, ou seja, que garantam um nível mínimo de controle das relações econômicas. Dentre outras razões, a legislação previu como criminalização os atos comerciais desleais, permitindo a imputação de ilícito civil e até mesmo penal ao responsável pelo ato danoso. O Art. 173 da Constituição Federal disciplina de que maneiras o Estado pode participar das atividades econômicas e como os agentes privados o farão, dado o regime capitalista quanto à exploração econômica. Diante disso o Estado fará atividade empresarial por exceção, assim, ele só irá fazer atividade econômica direta se, e somente se, houver os imperativos da segurança nacional ou o relevante interesse coletivo, desde que definidos em lei ou em ato administrativo. Isso configura o princípio da subsidiariedade do Estado na economia, reforçando a ideia de que a livre iniciativa e a livre concorrência são especialmente aos agentes privados. Em decorrência disso, o Estado na realização de atividade econômica compete em igualdade de condição com os agentes privados, conforme disposto no texto do Art.173, §2°/CF, que diz: “As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.” Garantindo deste modo a eficiente aplicação dos princípios econômicos e a livre concorrência. Não deixando de lado a repressão ao ‘abuso’ do poder econômico, legalmente expresso no Art.173/CF, §4° que dispõe: “A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.” A lei referida neste artigo é a Lei n.12.529, de 30 de novembro de 2011, que veio substituir a antiga Lei n. 8.884 de 1994 (Lei de Defesa da Concorrência). Comparato (1978, p. 31) defende ainda que: Nem todo ato danoso de concorrência é vedado pelo direito; isso porque é da natureza do mercado que a entrada de um novo concorrente cause, intencionalmente ou não, prejuízo ao concorrente anterior, seja por um preço mais atrativo, seja pela qualidade, maior garantia, maior prazo de pagamento etc. Esses atos não podem, por óbvio, ser taxados de desleais. Por isso se faz necessária a análise do caso concreto, podendo determinar se o concorrente utilizou ou não de meios desonestos, para desviar para si a clientela de outrem, e se pode ou não ser sancionado por suas condutas. 4. SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA A Lei n. 12.529, de 30 de novembro de 2011 vem como amparo e base legal em defesa da concorrência, estrutura e disciplina sobre o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (que é composto por duas autoridades, a SEAE/MF – Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda e o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, e traz seu objetivo no Art.1°, que assim dispõe: Art. 1. ° Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico. A referida lei também traz quais são as infrações da ordem econômica, que estão dispostas em seu Art. 36, que diz: Art. 36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados: I - limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa; II - dominar mercado relevante de bens ou serviços; III - aumentar arbitrariamente os lucros;e IV - exercer de forma abusiva posição dominante. Esta norma também traz novas competências e disciplina a atuação do CADE, que é uma autarquia vinculada ao Ministério da Justiça que tutela o direito da livre concorrência, e tem por finalidade a intervenção na economia e no exercício da atividade econômica. Tem sua importância na garantia da quantidade produzida atendendo aos desejos do consumidor, à evitaro aumento artificial de preços (evitando o tabelamento) e evitar a diminuição do público consumidor e é responsável pela análise dos atos de concentração econômica, como fusão de aquisição. Matias-Pereira (2014) destaca a relevância do CADE dada pelo Estado: Procura-se evitar, assim, que as empresas estabelecidas abusem de suas posições dominantes, impondo restrições à competição nos mercados em que atuam ou, ainda, incrementem seu poder de mercado por meio de alianças ou fusões com empresas concorrentes. Com isso, o Estado pauta suas ações e políticas concorrenciais visando a garantia da ordem pública e a criação de uma nova cultura concorrencial entre produtores e consumidores, garantindo sempre a existência do mercado. Matias- Pereira (2014, p. 36) ainda completa: Pode se argumentar que a eficácia no esforço de se controlar as condutas anticompetitivas está relacionada aos seguintes aspectos: uma sociedade consciente da relevância da livre concorrência para garantir preços justos e o respectivo arcabouço jurídico- institucional que fizer valer essa aspiração da sociedade. O autor também traz a política de defesa da concorrência no que concerne a seus objetivos: Política de defesa da concorrência – concorrência – eficiência econômica, que por sua acarreta – preços menores, maior nível de escolha, maior qualidade e inovação. 5. CONCORRÊNCIA DESLEAL E SUAS ESPÉCIES Ao se falar em disputa, não há limites ao pensamento humano, no entanto cabe destacar dois tipos de concorrência, estes que ferem direitos de pessoas e empresas, quais sejam, a concorrência ilícita e a concorrência desleal. Camelier (2013,P.48) faz alusão ao conceito de concorrência ilícita e desleal adotadas por Pinto Nunes e Savatier que definem na seguinte ideia: Concorrência ilícita é a ocorrência de violação, pelo concorrente, de um dever legal determinado– contratual ou legal. Ao passo que a concorrência desleal seria uma infração a um dever moral – abstenção de atos contra as práticas honestas da indústria e no comércio – não observado pelo concorrente. No geral, tais tipos de concorrência se refere aos atos que prejudicam o competidor nas relações de mercado. Versando sobre esses conceitos, Pontes De Miranda (1956, p. 268-269) argumenta: Tem-se arguido contra a expressão “concorrência desleal” ser elástico o conteúdo do adjetivo “desleal”, que mais depende dos sujeitos, que concorrem, em suas diferentes carga de moralidade, do que no ato em si mesmo. Prefere-se lhe “ilícita”, mas a ilicitude é apenas a contrariedade à lei, direito, quando a regra jurídica cogente precisa o que não se deve fazer. À medida que tais regras jurídicas cogentes se formulem a concorrência desleal revela-se a concorrência ilícita em si mesma, sem que deixe de haver franja de concorrência desleal não coberta em si mesma. Trata-se de uma distinção conceitual teórica, que só poderá ser definida as condutas se analisadas no caso concreto. Sobre isso Camelier (2013, p. 63) conclui: Concorrência desleal é todo e qualquer ato praticado por um industrial, comerciante ou prestador de serviço, contra um concorrente direto ou indireto, ou mesmo a um não concorrente, independentemente de dolo ou culpa, utilizando-se de meios ilícitos com vistas a manter ou incrementar sua clientela, podendo ou não desviar, em proveito próprio ou de terceiro, direta ou indiretamente, clientela de outrem. Esses atos são contrários às práticas e usos honestos perpetrados na indústria, comércio e serviços. Não se descarta a responsabilidade civil na responsabilidade extracontratual, que, embora não entabulada, há o respeito mútuo natural decorrente da participação na economia. Há ainda a concorrência parasitária, a qual não há a agressão frontal e direta, mas indireta e sutil. Nesta modalidade, o agente não visa o prejuízo do concorrente parasitado, embora isso ocorrerá por consequência. Assim, o agente busca imitar os métodos e formas de administração do parasitado, copiando suas técnicas e inovações. Gusmão expressa no que consiste a concorrência parasitária: Na procura, por um concorrente, de inspiração nas realizações de outro, no tirar partido, indevidamente, do resultado dos esforços e das inovações do concorrente no plano tecnológico, artístico ou comercial, sem estar agindo em manifesta violação dos direitos do concorrente. Os atos do parasita, tomados isoladamente, não constituiriam atos ilícitos; mas a sua repetição,a sua constância e o claro objetivo de “colar- se” na direção tomada pelo concorrente, indicam uma situação de concorrência parasitária. O parasita se aproveita do esforço alheio para alavancar seus negócios, sem empenhar labor próprio. Com relação à existência ou não do dolo, ou a ocorrência de culpa, o Código Civil em seu Art. 186 completa que: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”. Com a disposição desse artigo é notável a presença da indenização, ou seja, o agente causador dos danos decorrentes de condutas ilícita e desleal deve ressarcir o prejudicado. O Art. 187 do mesmo código complementa: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”, assim como o agente prejudicador excede os limites econômicos impostos legalmente, deve reparar a conduta danosa. Destarte, as empresas devem obedecer aos primados da lealdade comercial e empenhar seus esforços com total observância às regras que pautam a concorrência desleal. Com isso o direito de disputa de uma empresa se limita ao começar a prejudicar à outras com suas condutas visando clientela, pois, apesar de a livre iniciativa ter amparo constitucional, não é irrestrita (sendo limitada legalmente), ou seja, excedidos os limites estabelecidos pelo exercício comercial e industrial, caracteriza-se o ilícito da concorrência desleal. 6. PROTEÇÃO LEGAL DA CLIENTELA Clientela, segundo Barreto Filho apud Negrão (1969), pode ser definida como “o conjunto de pessoas que, de fato, mantêm com o estabelecimento relações continuadas de procura de bens e serviços” Logo, a clientela é o resultado natural decorrente do esforço do empresário e da qualidade dos bens e serviços por ele oferecidos. Mesmo que não possa ser tomada como elemento que integra o fundo de comércio, são significa que não seja amparada ainda que indiretamente como bem incorpóreo da empresa, uma vez que não há expresso no ordenamento jurídico a proteção da clientela ou freguesia. A respeito disso Barreto Filho (1969, p. 184) argumenta: A proteção da clientela é assegurada pela lei de modo indireto, mediante a tutela de determinados fatores que a condicionam, quais sejam, a repressão às práticas desleais, a posição de exclusividade reconhecida aos autores de criações intelectuais, o uso exclusivo dos sinais distintivos, enfim, as obrigações de fazer ou de não fazer, impostas nestas situações A lei mencionada é a Lei n. 9.279/96 (Lei da Propriedade Industrial), que no títuloV(arts.183a210)abordaoscrimesc ontraapropriedadeindustrial,quaisseja m, crimes contra as patentes, crimes contra as marcas, crimes cometidos por meio de marca, títulode estabelecimento e sinal de propaganda, crimes contra indicações geográficas e demais indicações, e por fim, crimes de concorrência desleal. Este último, os crimes especificados como concorrência desleal está elencado no Art. 195 da mesma lei. A respeito disso Negrão (1999) defende: Todos os tipos penais do Título V protegem indiretamente a clientela e não apenas os mencionados no art. 195 sob a rubrica específica (contra a concorrência desleal), dando ensejo a indenizações de ordem civil pelos benefícios que o prejudicado teria auferido. Em razão disso, a falta de norma legal explícita de amparo e proteção à clientela ou freguesia não obsta a inocência do responsável pelas condutas prejudiciais e danosas, ainda que a clientela não seja um bem, Negrão (1999) afirma que ela “é fator do conjunto de bens”. Vale destacar que a pena incorrida no art. 195 desta lei (Dos crimes de Concorrência Desleal) é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. 7. O VALOR ECONÔMICO DO COMPORTAMENTO ÉTICO Relacionada ao conceito de responsabilidade social da organização, a ética nos negócios pode ser compreendida como o conjunto de regras e valores sociais que indicam se o comportamento é aceitável ou não. Sendo que “a concorrência é indispensável para a eficiência econômica” e tendo como base, a moralidade, “a ética nos negócios é indispensável para o crescimento econômico, sadio e sustentado em uma economia de mercado”, defende Montoro Filho (2012,p.32), e ainda acrescenta: Em uma economia de mercado, a existência de regras de comportamentos, direitos e deveres, respeitados e obedecidos por todos, é talvez ainda mais importante. A atividade econômica, tanto na esfera da produção como na esfera das trocas, requer confiança em relação ao cumprimento do que foi acertado; senão o for, que existam meios de exigir seu cumprimento. Quanto mais houver obediência espontânea das regras, ou seja, comportamentos éticos, menos tempo e dinheiro serão desviados para se defender de eventuais comportamentos não éticos e acionar os mecanismos de defesa dos direitos afetados. Com isso, mais recursos e esforços podem ser aplicados nas atividades de produção e de trocas, aumentando o produto social e o bem-estar econômico. Ainda que não haja acerto, existe ou deveria existir o respeito mútuo dos que compõem o mercado e a força econômica, pautando seus esforços na conquista natural do mercado, sem que cause prejuízo aos seus concorrentes. Montoro Filho (2012,p.07) conclui que “quanto mais confiança, mais dispostas as pessoas estarão a poupar e investir e, portanto, maiores serão as perspectivas de crescimento econômico” pois “a repetida impunidade gera sério desânimo àqueles que cumprem suas obrigações e torna-se um potencial estímulo às atividades ilegais” A falta de ética pode surgir também pelo desrespeito à legislação tributária, previdenciária, trabalhista, o que acarreta um prejuízo ao Estado e à sociedade como um todo. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS A nova configuração econômica trouxe mudanças expressivas para o comportamento do homem, como pessoa, como profissional e para a vida em sociedade. Mercado competitivo, concorrência acirrada, consumismo exacerbado, o capitalismo e a globalização figuram como os grandes vilões, os causadores desses problemas. Como salva vidas o mercado tem recorrido à ética empresarial, esta que é entendida como o bem comum a todos. A competição natural no meio econômico busca, ou deveria buscar, o desenvolvimento econômico e social, no entanto há os que se aproveitam de vantagens alheias a fim de auferir também algum benefício, o que chamamos de concorrência desleal, uma maneira desonrosa de competir sem que haja honestidade alguma. A aplicação da ética no meio empresarial é mais vantajosa que as sanções impostas pelo Estado nas correções de atos de comércio ilegais em comportamentos de empresas que lesam o bem estar social e prejudicam os consumidores. O regime jurídico comercial busca punir e corrigir possíveis falhas nas relações comerciais, acompanhando o ritmo acelerado do desenvolvimento social e financeiro do mercado. No que tange a eficácia de tais normas, não se pode afirmar que são absolutamente válidas suas aplicações, eis o porquê de se inserir a moral e a ética como base nas relações empresariais, estabelecendo vínculos de confiança, de modo que todos participem em iguais condições de uma economia extensa e forte. Enfim, reconhece-se que é inerente ao ser humano o desejo pelo poder, levando a prejudicar outrem a fim de alcançá-lo. Ainda que o Estado interfira, não se pode dizer que o mercado é de justa competição, vez que as diferentes formas de disputas geram a concorrência desleal. Por isso a ética deve nortear toda prática comercial, tendo observância suprema no meio econômico. 9. REFERÊNCIAS BARRETO FILHO, Oscar, .Teoria do estabelecimento comercial: Fundo de Comércio ou Fazenda Mercantil. São Paulo: Max Limonad, 1969. CAMELIER DA SILVA, Alberto Luís. Concorrência desleal: atos de confusão. – São Paulo: Saraiva, 2013. COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. – 27. ed. – São Paulo: Saraiva, 2015. COMPARATO, Fábio Konder. Ensaios e pareceres de direito empresarial. Rio de Janeiro: Forense, 1978Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988; Enciclopédia Saraiva do Direito. Coordenação do prof. R.Limongi França. São Paulo: Saraiva, 1977. v. 17. FÁZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. – 16. ed. – São Paulo: Atlas, 2015. GUSMÃO, José Roberto. Do aproveitamento parasitário da fama e signo distintivo alheio no exame dos pedidos de registro de marcas no Brasil. Parecer convertido no Ato Normativo INPI n. 123/94 Lei N. 10.406, De 10 De Janeiro De 2002 (Código Civil); MATIAS-PEREIRA, José. Manual de defesa da concorrência: política, sistema e legislação antitruste brasileira. – São Paulo: Atlas, 2014. MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado, t. XVI e XVII, Rio de Janeiro: Borsoi, 1956. MONTORO FILHO, André Franco, 1944- Corrupção, ética e economia. – Rio de Janeiro: Elsevier; São Paulo: ETCO, 2012. NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa, volume 1: teoria geral da empresa e direito societário. – 12. ed. – São Paulo: Saraiva, 2015. SALOMÃO FILHO, Calixto. Direito concorrencial: as estruturas. São Paulo: Malheiros Editores, 1998. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007. TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário, volume 1. – 6. ed. – São Paulo: Atlas 2014. VASCONCELLOS, Marco Antônio S. e GARCIA, Manuel E.- Fundamentos de Economia. - 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. CONCORRÊNCIA DESLEAL: Práticas Anticoncorrenciais Que Atentam Contra a Livre Iniciativa Econômica, e a Busca Da Ética Empresarial Como Pilar No Equilíbrio Da Livre Concorrência Num Mercado Competitivo 1. INTRODUÇÃO 2. ÉTICA CONCORRENCIAL 3. A LIVRE CONCORRÊNCIA E SEUS LIMITES 4. SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA 5. CONCORRÊNCIA DESLEAL E SUAS ESPÉCIES 6. PROTEÇÃO LEGAL DA CLIENTELA 7. O VALOR ECONÔMICO DO COMPORTAMENTO ÉTICO 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 9. REFERÊNCIAS
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