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DORA - SEMINÁRIO - CASO DORA

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Psicodiagnóstico / Caso Dora / Unimep 8º Sem 2014
CASO DORA
INFORMAÇÕES SOBRE A PACIENTE E HISTÓRIA FAMILIAR
Idade 18 anos, pais irmão mais velho que ela (19 anos). Pai era uma pessoa dominante dentro da casa, inteligente e com traços de caráter, industrial com situação econômica muito cômoda. Filha era apegada a ele. 
O pai ficara doente com tuberculose desde que ela tinha seis anos de idade. Mudam-se para uma cidade no sul para que a saúde do pai melhore. 
Quando Dora completa dez anos o pai tem que ficar num quarto escuro para tratamento de descolamento de retina. Fica com a visão reduzida. Viaja para Viena para tratar com Freud. 
Nesse tempo Dora fica neurótica e o pai a passa para se tratar com Freud. A tia dela, irmã de seu pai, enfrenta uma grave crise de psiconeurose. Tem um infeliz casamento, a tia morre de marasmo. 
Irmão mais velho do pai é hipocondríaco.
Dora tem uma identificação com a tia que morrera. Sua mãe concentra todos os interesses nos interesses da casa, uma psiconeurótica dona de casa. Possuía uma obsessão por limpeza de maneira excessiva. A relação com a mãe era inamistosa. O irmão mais velho apoiava a mãe e Dora sempre a criticava e se isolara de sua influencia. Havia formado o triangulo edípico entre mãe e filho e pai e filha.
NEUROSE
Começa apresentar os sintomas aos oito anos de idade. Sofre de dispneia crônica com acessos muito agudos. É diagnosticada com um distúrbio nervoso pelo médico da família. Com doze anos começa a sofrer com enxaquecas e acessos de tosses nervosas. Por volta dos dezesseis anos a enxaqueca desaparece de uma vez por todas, porém os acessos de tosses continuaram com frequência. Às vezes tossia por semanas ou por meses sem parar com a perda da voz. 
Começa a se tratar com Freud aos dezoito anos de idade. Abandonou todos os tratamentos médicos e só foi à Freud movida pela autoridade do pai.
Passam a morar em Viena de maneira permanente. Dora se transforma em uma moça inteligente e agradável, porem com hostilidades em relação aos pais. Os pais descobrem uma carta dela com uma despida e com uma aparente vontade de suicídio. 
Após o pai descobria a carta, Dora tem um ataque com convulsões e delírios com uma amnésia. 
Sintomas somáticos de Dora: dispneia, tosse nervosa, afonia, enxaqueca, depressão, insociabilidade histérica e tédio. 
A família de Dora faz amizade com uma família e ficam muito amigos. O Sr.K sempre fora muito amável com Dora, levando a passear e dava-lhe pequenos presentes. 
Dora tratava os filhos dos K com extremo cuidado, como se fosse os seus filhos. 
Dora conta à sua mãe que o Sr. K lhe faz uma proposta amorosa, o qual foi negado pelo Sr. K. 
A Sra. K diz que Dora só mostrava interesses por assuntos sexuais e lera livros sobre cenas de amor, e possivelmente se excitara com tais leituras. 
Dora pedia ao pai que rompesse a amizade com os K, especialmente com a Sra. K. Pai de Dora mantém uma relação mais amigável com a Sra. K.
NEUROSE
Passagem pelo Édipo e incidência da castração: o neurótico se ressente por que algo lhe é proibido e acha que desejo é oposto à lei da castração. 
PSICOSE
O nome do pai não incidiu, portanto, a função da castração também não: não há lei simbólica para o psicótico, por isso, não há função desejante e ele se situa numa posição na linguagem radicalmente diferente: não faz laço social.
HIPÓTESE 
A primeira hipótese é a de Histeria.
Gr: Hysterie,  (matriz, útero), a histeria é uma neurose caracterizada por quadros clínicos variados. Sua originalidade reside no fato d que os conflitos psíquicos inconscientes se expressam de maneira teatral e sob a forma de simbolizações, através de sintomas corporais (ataques ou convulsões de aparência epiléptica) ou duradouros como paralisias, contraturas e cegueira. 
Na antiguidade, sobretudo Hipócrates, a histeria era considerada uma doença orgânica de origem uterina e, portanto, especificamente feminina, que tinha a particularidade de afetar o corpo em sua totalidade, por “sufocações da matriz”. 
Depois da teorização da sexualidade infantil permitiu Freud identificar o conflito nuclear na Neurose histérica (a impossibilidade de o sujeito liquidar o complexo de Édipo e evitar angústia de castração, que o leva a rejeitar a sexualidade).
Freud afirma: “Considero histérica, sem hesitação qualquer pessoa em quem uma oportunidade de excitação sexual provoque, sobretudo, e exclusivamente, uma sensação de asco, quer essa pessoa apresente ou não sintomas somáticos”. (Dicionário de Psicanálise – Elisabeth Roudinesco).
As duas principais formas de histeria teorizadas por Freud foram: 
Histeria de angustia, cujo sintoma central é a fobia (Há uma tensão íntima, de caráter geral, manifestada sob a forma de uma angústia constante e oscilante, ou de uma produtividade de angústia. A neurose de angustia consiste em um transtorno clinico que se manifesta por meio de uma angustia livre, quer sobre forma permanente ou por momentos de crise, ou seja, por equivalentes somáticos como uma opressão pré-cordial, taquicardia, dispnéia suspirosa, sensação de ¨bola no peito¨ ou como por uma indefinida e angustiante sensação de medo de que possa vir a morrer, enlouquecer, ou da iminência de alguma tragédia;
Histeria de conversão em que se exprimem através do corpo representações sexuais recalcadas. A isso se acrescentam duas outras formas freudianas de histeria: a histeria de defesa, que se exerce contra os afetos desprazerosos e a histeria de retenção, em que os afetos não conseguem se exprimir pela ab-reação. 
Dora afirma que o Sr. K lhe dá um beijo nos lábios dentro da loja antes de ir à procissão. Dora tem quatorze anos de vida. Ela sai correndo até a rua. Após este episódio Dora não sai com os K numa viajem. Freud afirma que neste período o comportamento de Dora já era histérico. 
“Eu tomaria por histérica, sem hesitação, qualquer pessoa em que uma oportunidade de excitação sexual despertasse sentimentos preponderantes ou exclusivamente desprazerosos, fosse ela ou não capaz de produzir sintomas somáticos”. (pg 37-38).
Para Freud há um deslocamento de afeto e da sensação.
Dora relata que sente na parte superior do corpo a força daquele abraço. Freud deduz que Dora sente não só a força do abraço, mas a pressão do membro ereto dele contra seu ventre. Esta percepção foi excluída da memória e recalcada e substituída pela sensação inocente de pressão sobre o tórax. 
Surgem três sintomas: a repugnância, a sensação de pressão na parte inferior do corpo e a evitação dos homens em conversa afetuosa. Levando-se em conta esses três signos podemos compreender a formação de sintomas. 
O nojo corresponde ao sintoma do recalcamento da zona erógena dos lábios, (sugar infantil) mimada demais por Dora;
A segunda zona erógena foi fixada no tórax por deslocamento para a sensação simultânea de pressão;
O horror aos homens obedece ao mecanismo de uma fobia destinada a dar proteção contra o reavivamento da percepção recalcada.
A Sra. K assume a condição de enfermeira e a mãe de Dora se afasta do leito do doente. Dora repreende o pai por causa de sua relação íntima com a Sra. K. A mãe de Dora explica à sua filha que a Sra. K havia livrado o seu pai de uma suposta tentativa de suicídio, e eles eram gratos à ela. O pai de Dora dá presentes caros a Sra. K, sendo também generoso para com ela e sua mãe. Ambas as famílias mudam-se para Viena. Pai era insincero e falso. Sempre tramava encontros com a Sra. K, inclusive viagens a pretexto. 
Dora era colocada como moeda de troca pelo pai ao Sr. K, para compensar o seu romance com a Sra. K.
Dora recebe flores durante um ano inteiro do Sr. K, como forma de corteja-la. 
AUTOCENSURA DE DORA
A autocensura de Dora só serve para esconder algo maior que está dentro dela mesma. Quando ela dirige a sua censura para o outro, ela esconde do outro fatos que não quer assumir. 
Dora nota que a governanta de sua casa estava apaixonada por seu pai e não lhe dava atenção às denuncias dela em relação ao seu pai e a Sra. K. a governanta devotavauma afeição especial ao pai de Dora, e por causa desta afeição especial, tratava bem Dora na frente de seu pai. Era o mesmo que Dora fazia para com os filhos do Sr. K. O que a governanta era para Dora, Dora era para os filhos do Sr. K. Dora ofereceu aos filhos do Sr. K uma abnegação altruísta, procurando suprir a falta que a mãe fazia a eles. O elo entre o Sr. K e Dora eram os filhos, sendo assim um disfarce para mantê-los juntos. 
A censura que ela fazia contra o pai recaia sobre sua própria pessoa. 
Dora introjeta a imagem do pai, e isto é possível ser visto em algumas ocasiões. Por exemplo: Na pg 35 o Sr. K diz que Dora herdou a sua obstinação. Na pg 45 ela copia a dor tal como seu pai copiava para pode controlar as circunstâncias ao seu favor e ser cuidado pela Sra. K. 
Dora aprendera o quanto de proveito pode-se tirar das doenças (pg 46). Mãe de Dora ficava sempre doente quando o seu marido chegava a casa, pois até o dia anterior estivera sempre bem, mas para escapar dos deveres de mulher forjava uma doença. 
SIGNIFICANTE DE DORA – pg 46. A doença de Dora tinha um significado todo peculiar. Os acessos de tosse e a afonia teriam a ver com a ausência do homem amado? As tosses de Dora duravam três a seis semanas, exatamente o tempo que durava a ausência do Sr. K. Com a sua doença ela demonstrava o seu amor por K, tal como sua mãe demonstrava sua aversão ao seu marido. 
Freud afirma que “ela visava a um objetivo que esperava alcançar através de sua doença. Não seria outro senão o de afastar a Sra.K de seu pai”. (pg49). Por isso usa a carta de despedida (suicídio) para tentar avisar o pai, já que não conseguia falar com palavras, falava com doenças. O pai sacrificaria a Sra.K em prol da saúde da filha. 
Há um jogo entre o ceder do pai em favor da doença da filha, e a continuidade da doença da filha para conseguir o que quer do pai. 
Enferma quando estava ausente e saudável quando estava presente, mas era bem o contrário de sua mãe. 
As pessoas que sofrem de Histeria a escrita funciona no lugar da fala ( pg 47, parágrafo 1). 
A escrita de Dora anunciava: quando o amado estava longe, renunciava a fala, ficava afônica, então usava a escrita para “falar” com ele.
SINTOMA: Todo o sintoma histérico requer a participação de ambos os lados, tanto o somático como o psíquico. É do caráter do sintoma histérico a capacidade de se repetir, a menos que tenha um sentido. O sintoma histérico não traz em si este sentido, mas lhe é emprestado, e em cada caso pode ser diferente. Os sintomas são dissolvidos buscando a sua significação psíquica. Quando é removido tudo o que se pode eliminar, fica em condições de formar toda a sorte de conjecturas, sobre as bases somáticas dos sintomas. 
A expressão somática e os pensamentos inconscientes nos parecem frutos de um habilidoso e impressionante artifício. 
As psiconeuroses possuem processos idênticos durante um extenso percurso, até que entre em cena a “*complacência somática” que proporcionam aos processos psíquicos uma saída no corpo. Quando este fator não se faz presente, surge uma situação diferente do sintoma histérico, mas afim: uma fobia, ideia obsessiva, um sintoma psíquico. 
* A explicação inicial do mecanismo de conversão foi econômica: a energia libidinal é convertida em inervação somática a partir daquilo que Freud chamou de “complacência somática”: fator constitucional ou adquirido que predisporia determinado órgão ou aparelho a ser utilizado desta forma. Mas, o objeto de maior interesse psicanalítico sempre foi o componente simbólico dos sintomas conversivos. O sintoma conversivo é a representação, através da linguagem corporal, de um conflito inconsciente. Como todo sintoma psicológico, a conversão tenta solucionar um conflito e, como toda solução de compromisso, ela é constituída pelo impulso reprimido e pela interdição do mesmo.
O SINTOMA é para a vida psíquica um hóspede indesejável. No primeiro momento não há nenhum emprego útil na economia doméstica, mas com frequência encontra serventia secundária. Há outra corrente psíquica que encontra função secundária e fica ancorado na via anímica.
Freud usa o exemplo de um pedreiro que perde o seu emprego por causa de uma invalidez e agora ganha a vida pedindo esmolas, e agora ele vive de sua invalidez. Este é o ganho secundário. É assim que funciona o sintoma. Ele ganha com isto, e não quer deixar de ganhar. 
 A doença passa a ser a única forma de chamar a atenção, de conseguir o que quer, de afirmar-se na vida. Isto é o seu SIGNIFICANTE.
Freud chama estas doenças como OBRA DE INTENÇÃO (pg51).
Em geral a doença permanece enquanto permanece a pessoa com a qual se quer conquistar alguma coisa. Não estando a pessoa presente, perde-se o sintoma. 
Na histeria para elimina-la basta atacar o motivo do adoecimento para que o doente fique livre do seu mal. Para isto é necessário conhecer os interesses amiúdes que o paciente esconde. 
MOTIVO DA DOENÇA DE DORA: Afastar a Sra. K e sensibilizar o seu pai. 
O sintoma significa a representação – realização – de uma fantasia de conteúdo sexual. Os sintomas têm mais de um significado, e representam diversos cursos inconscientes de pensamento ou fantasia inconsciente. 
NO SEMINÁRIO 4 LACAN NOS ENSINA que, quando se trata do amor elevado ao grau simbólico e, portanto, transformando em dom, o que pode ser dado como signo do amor “NUNCA PASSA DE ALGUMA COISA QUE SÓ VALE COMO SIGNO”. Cabe então a pergunta: Qual será então o dom que melhor representaria o amor em sua dimensão simbólica: Lacan responde: “Não existe maior dom possível, maior signo possível de amor que o dom daquilo que não se tem”. Daí a célebre frase lacaniana que diz: “Amar é dar o que não se tem”.
No triangulo amoroso que se estabelece entre o Sujeito (DORA), o Outro (pai) e o objeto do desejo do Outro (SRA. K), Dora não pode receber o dom, como símbolo do amor, porque seu pai é despojado de potencia fálica e, como tal, é, segundo Lacan , UM PAI FERIDO E DOENTE, AFETADO EM SUAS PRÓPRIAS POTENCIAS VITAIS.
EM SUMA: Dora ama o pai pelo que ele não tem (falo). Isso implica que seu pai ame o que está para além dela, que é SRA. K. Dora se coloca entre os pares (pai – Sra. K; Sr. K – Sra K.) porque ninguém imagina que a é Sra. K. tem o que ela não sabe o que é, mas sabe que lhe falta. Eis que o Sr. K, ao dizer que sua mulher não SIGNIFICA NADA PARA ELE, destrói toda a suposição de Dora sobre o mais além da Sra. K. A partir dessa confissão, Dora se sente excluída do amor: Se o Sr. K, se interessa por ela é por que seu pai não a ama e, justamente por isso, ele só ama a Sra. K. 
Os psiconeuróticos são pessoas de inclinações perversas fortemente acentuadas, mas recalcadas e tornadas inconscientes no curso de seu desenvolvimento. As psiconeuroses são os negativos das perversões. 
Nos neuróticos, a constituição sexual, na qual está contida a expressão da hereditariedade, atua em combinação com as influencias acidentais da vida que possam perturbar o desenvolvimento da sexualidade normal. As forças impulsoras da formação dos sintomas histéricos não provêm apenas da sexualidade normal recalcada, mas também das moções perversas inconscientes. (Três ensaios sobre sexualidade, ver o primeiro ensaio).
A cócega na garganta de Dora para Freud cria a fantasia inconsciente dessa natureza sexual expressada através da sensação de cócega na garganta e da tosse. Isto remete à sua infância em que Dora relembra ter sido uma chupadora de dedo (organização da libido na fase oral).
Quando já se conhece o objeto sexual propriamente dito (pênis), há uma substituição do seio materno ou de chupar o dedo para o objeto sexual atual, o pênis. 
No decorrer dos anos um sintoma pode alterar um de seus significados ou sentido principal, ou pode passar de um significado para o outro. 
Há uma transposição de uma excitação psíquica para o corporal, podemos chamar isto de conversão. 
RECALQUE: É impossível resolver pelo pensamento o material recalcado, pois há um pensamento inconsciente que se oculta por detrás dele. Um pensamentoé consciente com hiperintensidade, enquanto sua contrapartida é recalcada e inconsciente. 
A diferença entre o recalque e o reprimido. O recalque se refere ao Inconsciente e o reprimido ao Consciente.
O recalque se efetua por meio de um processo de manter excessivamente do oposto do pensamento recalcado. Quanto mais luto no plano consciente para reprimir tal pensamento, mais fortalece o recalque. A este tipo de processo Freud chama de Reforço Reativo, ou pensamento reativo.
Há uma força proporcional com o que na Consciência uso de hiperintensidade e o que está sob efeito do recalque. A melhor maneira de retirar o reforço do pensamento hiperintensificado consiste em tornar consciente seu oposto recalcado. 
HIPÓTESE CASO DORA:
A raiz da preocupação obsessiva com as relações entre seu pai e a Sra. K lhe era desconhecida por situar-se no inconsciente. Dora age mais como uma esposa ciumenta do que com o zelo de uma filha. Quando ela tenta o suicídio e pelas cenas que costumava criar (ciúmes). Dora identificava-se com as duas mulheres, aquela que o pai amara um dia e esta que ama agora. O seu amor pelo pai era muito maior do que podia imaginar, na verdade ela estava apaixonada por ele. Édipo. Com o aparecimento da K, foi ela que foi desalojada e não sua mãe. 
Na pg 63 1º parágrafo Freud afirma que ao vir à tona o ICS de Dora diante da exposição feita por ele, há a negativa da mesma. Isto é REPRIMIR. O que está RECALCADO no ICS vem à CS que lhe é negado. Para Freud o não de Dora quer dizer sim. 
Dora luta contra o sentimento nutrido pelo S.K; negando tal atitude de atração pelo mesmo.
Dora sente ciúmes da Sra. K, há presença de um impulso voltado para ela. Freud justifica isto ao afirmar que diante de uma decepção amorosa com o sexo oposto, moças histéricas cuja libido sexual é suprimida, constata-se com regularidade que a libido dirigida para as mulheres é vicariamente reforçada e parcialmente CS. 
Dora sentiu uma frieza em relação à sua prima quando esta viajou com seu pai para B. Dora tinha desenvolvido uma relação afetiva com a Sra. K, hospedava-se em sua casa, ficavam no mesmo quarto e dividiam intimidades. Quando falava sobre a Srta. K elogiava o seu corpo alvo, parecendo mais uma amante do que uma rival. 
Dora dizia a si mesma que seu pai a sacrificara a essa mulher (Sra.K). Na verdade Dora inveja o pai pelo amor da Sra. K e não perdoaria à mulher amada a desilusão que ela lhe causaram com sua traição. 
PRIMEIRO SONHO:
Dora relata um sonho recorrente. 
“Uma casa estava em chamas. Meu pai encontrava-se de pé ao lado de minha cama e me despertou. Vesti-me rapidamente. Mamãe queria parar e salvar sua caixa de joias; mas Papai disse: ‘recuso-me a deixar que eu e meus dois filhos sejamos queimados por causa da sua caixa de joias’. Descemos apressadamente as escadas, e logo que me encontrei fora da casa despertei”.
Freud observa que, geralmente, um sonho firma-se em duas pernas, uma das quais está em contato com a causa excitante principal e corrente, e a outra com algum evento momentoso nos anos da infância.
O primeiro sonho aconteceu pouco depois da cena no lago e as associações feitas a partir dele permitiram identificar várias substituições, que se equivalem entre si. Dora, sua mãe e a Sra. K. Seu pai e o Sr. K. E a mais importante: a palavra alemã utilizada para designar “caixa de joias” (“Schmuckkästchen”) é comumente empregada também para designar os órgãos genitais femininos imaculados e intatos.
Além disso, Freud vê, nas associações, a substituição de queimar por seu antônimo molhar, com evidente conotação sexual: substituição pelo oposto.
Sua mãe quer salvar a caixa de joias para que não fosse queimada e ao mesmo tempo toma-se cuidado para que a caixa não fique molhada.
O fogo é símbolo do amor, da paixão;
A insistente reprovação de Dora quanto às ligações amorosas de seu pai com a Sra. K. revelam, assim, seu fundamento. Para Freud, um rosário de censuras a outras pessoas devem alertar o analista para um rosário de autocensuras com o mesmo conteúdo, que estaria recalcado. O que estaria latente no seu sonho, portanto, é a sua paixão pelo Sr. K. No sonho, a situação edipiana de Dora estaria atualizada nas ligações com o casal K.
Todo sonho é um desejo que se apresenta realizado, desejo este recalcado, pertencente ao ICS;
Sonho é a representação do desejo;
O desejo que cria o sonho vem da infância e tenta transformá-lo em realidade, corrigindo o presente de acordo com a infância; 
A caixa de joias como metáfora dos genitais femininos;
O homem quer entrar forçosamente em meu quarto e possuir a minha caixa de joias;
DORA estaria disposta a dar a seu pai o que sua mãe lhe recusou dar, sua caixa de joias, forma de deslocamento;
O Sr. K presenteia a Dora com uma caixa de joias e agora deseja retribuição do presente; dar ao Sr. K o que sua mulher lhe recusa a dar;
Dora esta recalcando o seu amor antigo por seu pai para se proteger do amor da Sra. K;
Quando Dora acordava após o sonho sentia cheiro de fumaça. Desloca para Freud o desejo de ser beijada como foi beijada pelo Sr.K, e sentira o cheiro do cigarro, pois tanto o seu pai como o Sr.K, eram fumantes, juntamente com Freud. 
Expressão do sonho de Dora: “Preciso afastar-me desta casa, na qual, como vi, minha virgindade corre perigo; partirei com papai, e, pela manhã, ao fazer minha toalete, tomarei minhas precauções para não ser surpreendida”. 
O sonho não é um propósito que se representa como executado, mas um desejo que se representa como realizado e precisamente, um desejo proveniente da vida infantil. (pg.45).
A menina não estava fugindo com o pai, mas na verdade estava fugindo para o pai, para que o pai a protegesse de um estranho. Havendo uma situação passada semelhante a presente, apenas substituindo pessoas. O pai pelo Sr.K.
O amor pelo Sr. K é recalcado revelando o amor que sentiu pelo pai. 
Dois tipos de condutas Dora poderia ter: ou uma entrega a plena sexualidade sem nenhuma resistência e beirando a perversão, ou, por reação, o repúdio da sexualidade no adoecimento neurótico. 
Da mesma forma que o seu pai a acordava do seu sono, o Sr.K postou-se diante do sofá e a acordou. 
O pai a acordava para que não se molhasse, e o oposto do molhado é o fogo e o ardente. O pai expos a moça ao perigo diante do Sr.K, e agora o pai é o seu salvador e protetor. 
Molhar – pensamentos de tentação sexual suprimidos. 
Gotas – simbolizando o molhar-se na relação sexual pelo líquido do homem. Há um paralelo entre as gotas e o catarro enojante molhando a cama em sua infância. 
A mãe era neurótica por limpeza, e Dora entendia o porquê da mania da mãe. Sua mãe só havia recebido duas coisas de seu pai: o umedecimento sexual e a secreção contra essa imundície.
ENURESE PARA A HISTÓRIA PRIMITIVA DO NEURÓTICO
Voltou a apareceu depois do sexto ano de vida de Dora. A investigação de Freud é que Eloá se masturbara na infância. O pai tinha uma doença Luética (Sifilis) que havia contraído antes de se casar.
Dora identifica-se com a mãe por um período de vários dias através de pequenos sintomas e peculiaridades, como por exemplo, a secreção que a mãe tinha e que era presente nela também. 
Dora chega ao consultório de Freud com uma bolsinha e fica brincando com abri-la e fecha-la e colocar o dedo dentro. 
Ato sintomático - Os chamados Atos sintomáticos são para Freud evidência da força do inconsciente e sua manifestação é comum nas pessoas sadias. Para explicar o comportamento Freud desenvolve a teoria da motivação sexual (sobrevivência da espécie) e do instinto de conservação (sobrevivência individual). Mas todas as suas colocações giram em torno do sexo. A força que orienta o comportamento estaria no inconsciente. Chamo de ato sintomático o ato que está do lado do sintoma, o ato que é a formação do inconsciente, como o ato obsessivo, o ritual. O acting-out, contudo não é sintoma, mas sim demonstração.
Bolsinha símbolo dos órgãos genitais e os dedos o ato de masturbar-se.
Para Freud o que os lábios calam, acaba porser denunciado com os dedos, ou por todos os poros do corpo do sujeito.
Dores gástricas – Freud suspeitava desde o começo que as dores gástricas de Dora seriam em virtude de suas masturbações. Dora reconhecia as dores gástricas de sua prima como fonte de masturbação. Freud analisa com isto que é mais fácil reconhecer nos outros uma relação que suas resistências os impossibilitam de reconhecer nelas mesmas. 
Os sintomas histéricos aparecem nas pessoas só depois, na abstinência, constituindo um substituto da satisfação masturbatória, que continua a ser desejada no ICS até que surja outra satisfação mais normal (pg. 80).
A cura da histeria aconteceria com a satisfação sexual com relações normais, e se voltar a ser interrompida, a libido torna a refluir para seu antigo curso e se manifesta mais uma vez nos sintomas histéricos. 
Outro sintoma de Dora é a Dispneia – falta de ar. Numa das visitas do pai de Dora ela ouvira o pai com sua respiração ofegante durante o coito, visto seu quarto se contíguo aos dos pais. Não só a dispneia, mas também a asma nervosa. 
Dora substitui sua inclinação para a masturbação por uma inclinação para a angústia. 
O sintoma de Dora (pg.83). – Relação entre os sintomas histéricos de Dora e o catarro genital. Depois do beijo do Sr.K, houve um asco. O asco que sente pelos homens vem da interpretação que Dora faz da fala da governanta que os homens eram frívolos e não eram dignos de confiança. Para Dora todos os homens eram como o seu pai (SIGNFICANTE). Seu pai possuía uma doença venérea e transmitira à sua mãe e a ela também. Estar acometida de doença venérea é estar acometida de uma secreção nojenta. 
O SEGUNDO SONHO:
“Eu caminhava a esmo por uma cidade desconhecida. As ruas e praças me eram estranhas. Cheguei, então, a uma casa onde eu morava, fui para meu quarto e lá encontrei uma carta de Mamãe. Esta dizia que, como eu saíra de casa sem o conhecimento de meus pais, ela não desejara escrever-me para contar que Papai estava doente. ‘Agora ele está morto e, se você quiser, pode voltar’. Dirigi-me então para a estação (‘Bahnhof’) e indaguei umas cem vezes: ‘Onde fica a estação? E sempre me respondiam: ‘A cinco minutos daqui’. Vi então uma floresta espessa à minha frente, e nela penetrei, lá encontrando um homem a quem fiz a pergunta. Ele respondeu: ‘A duas horas e meia daqui’. Ele ofereceu-se para acompanhar-me. Mas recusei e continuei sozinha. Vi a estação à minha frente mas não conseguia alcançá-la.
Ao mesmo tempo, tive a mesma sensação de ansiedade que se experimenta nos sonhos quando não se consegue mover. A seguir, estava em casa. Devo ter viajado neste meio tempo, mas nada me recordo quanto a isso. Entrei no alojamento do porteiro e perguntei por nosso apartamento. A criada abriu a porta e respondeu que Mamãe e os outros já estavam no cemitério (‘Friedhof).
Para Freud os primeiros fragmentos do sonho são esquecidos, e só depois são lembrados, e estes são sempre os mais importantes para a compreensão do sonho. O esquecimento está associado a resistência intrapsíquica. 
O segundo sonho ocorreu algumas semanas depois do primeiro. Após ser discutido, a análise foi interrompida. Freud confessa que encontrou dificuldade em interpretá-lo. No contexto da análise, ele estava intrigado com o profundo sentimento de ofensa manifestado por Dora em relação à proposta do Sr. K.
Nas associações que se seguiram ao sonho apareceu, inicialmente, a identificação de Dora com um jovem engenheiro que estava interessado por ela. Quanto a “perguntar cem vezes”, lembrou-se de uma interpelação à sua mãe: “Já lhe perguntei cem vezes onde está a chave”. Chave seria o correlativo masculino de caixa, ou seja, termos alusivos aos órgãos genitais. As associações correlacionaram, ainda, caixa com estação (‘Bahnhof’) e cemitério (‘Friedhof’).
Uma caixa e uma mulher: isso já começa a combinar melhor (pg.95).
Avançando em outra direção, Freud investigou melhor a cena do lago. Dora revelou-lhe que, ao fazer-lhe a proposta amorosa, o Sr. K. disse-lhe: “Você sabe que nada tenho com minha mulher”. Ela, então, esbofeteou-o e fugiu apressadamente. O bosque do sonho era idêntico ao bosque em que ela se encontrara com o Sr K. 
A estação (pátio da ferrovia), o cemitério (pátio de paz) em lugar da genitália feminina e o acréscimo das “ninfas” que ela vira no quadro à véspera do sonho, ao fundo do denso bosque, configurava uma geografia sexual simbólica (pg.97). Ninfas são os pequenos lábios que ficam ao fundo dos pelos pubianos. O que Freud interpreta aqui é uma fantasia de defloração, como quando qualquer homem se esforça por penetrar na genitália feminina.
1º Componente do Sonho: Fantasia de vingança
Fantasia de vingança contra o pai. Ela sai arbitrariamente de casa, o pai adoece, e depois morre. Ela vai para casa e todos os outros estão no cemitério. Ela sobe para o quarto, sem nenhuma tristeza, e lê calmamente a enciclopédia. Há duas alusões de vingança ao deixar os pais encontrarem a carta de despedida dela. Por detrás dessa fantasia ocultam-se o os pensamentos de vingança do Sr.K, para os quais ela encontrou uma saída em sua conduta perante mim. A lembrança da governanta e da torça de correspondência entre esta e seus pais conjuga-se com o elemento da carta de despedida de Dora na carta que aparece no conteúdo do sonho, pela qual ela é autorizada a voltar para casa. Sua recusa a se deixar acompanhar, sua decisão de ir sozinha, talvez possa traduzir-se assim: “Já que você me tratou como a uma criada, deixo-o parado ai, sigo meu caminho sozinha e não me caso”. Na verdade o que Dora queria dizer era: “Eu teria esperado por você até ser sua mulher”. 
2º Componente do Sonho: A fantasia da defloração
Explicação: A ênfase na dificuldade de ir adiante e a angústia sentida no sonho aponta para a virgindade realçada por Dora com tanto gosto, que vemos indicada em outro lugar mediante a Madona Sistina. Esses pensamentos sexuais fornecem um fundo ICS para os desejos, secretamente alimentados, relativos ao pretendente à espera dela na Alemanha.
Dora vai para casa e Freud destaca dois detalhes no seu sonho: Calmamente
e Grande. Isto esta relacionado com o livro que ela lera. O pai (no sonho já estava morto), os demais estavam no cemitério. Se o seu pai estivesse morto, Dora poderia ler ou amar a quem quisesse. 
O significado do sonho, para Freud, estava ligado a um ardente desejo de vingança contra o seu pai e a uma fantasia de defloração: um homem procurando forçar a entrada nos órgãos genitais femininos. 
Quando a conclusão lhe foi comunicada, Dora reagiu imediatamente, lembrando-se de uma parte do sonho que havia esquecido: “Eu entrei calmamente no apartamento e comecei a ler um grande livro que estava sobre sua escrivaninha”. As associações levaram para uma enciclopédia onde se procura satisfazer a curiosidade sexual. O pai estava morto, ela poderia ler o que quisesse. Um dos motivos para querer vingar-se seria esta revolta contra a coerção exercida pelos pais. 
Sintomas histéricos: O primo de Dora adoece de uma apendicite. Dora lê sobre a doença e manifesta os sinais sintomáticos da mesma doença que o seu primo tivera. Era uma maneira de Dora punir-se por esta enfermidade, isto se deu mediante um deslocamento, carregada de culpa. Arrastava uma perna, tinha dores de abdômen. A dor veio nove meses depois da cena do lago. Na verdade Dora tem uma fantasia de um parto, mesmo porque sua menstruação esteve desregrada neste período. 
Porque arrastava o pé? Ela dera um passo falso e é assim que se anda quando se torce o pé. Os sintomas só se formam se há um modelo infantil para eles. Quando pequena ela torcera este mesmo pé, ao descer as escadas. O amor pelo Sr K continuou existindo mesmo depois da cena do lago, isto estava presente em seu ICS.
3º Componente do Sonho:
A análise do segundo sonho durou duas horas (ou duas sessões). Na terceira
Sessão Dora comunicou-lhe que aquela seria a última vez que iria lá, decisão que já havia sido tomada há quinze dias. Freud percebeque a bofetada dada no Sr K era uma vingança por ciúmes. Dora teria dito a si mesma:
“Como se atreve a me tratar como uma serviçal?”. Foi a mesma coisa que ele fizera com sua governanta. Freud considera o afastamento de Dora da sessão como uma identificação com a governanta que se afastara da casa do K, com um aviso prévio de 14 dias. A governanta esperou um tempo para ver se o K lhe daria mais carinho ou renovaria sua proposta para com a governanta, e da mesma forma Dora estivera esperançosa em relação ao K. 
No pós-escrito do caso, numa nota de rodapé, a autocrítica: “Parece-me que a minha falha esteja nesta omissão: não consegui descobrir a tempo nem informar à paciente que seu amor homossexual (ginecofílico) pela Sra. K. era a corrente inconsciente mais poderosa de sua vida mental”.
Na conclusão de Freud nunca se poderá calcular para que lado penderá a decisão no conflito entre os motivos, se para a eliminação ou o reforço do recalque. A incapacidade para o atendimento de uma demanda amorosa real é dum dos traços mais essências da neurose, os doentes são dominados pela oposição entre a realidade e a fantasia. O que mais anseiam em suas fantasias é justamente aquilo de que fogem quando lhes é apresentado pela realidade, e com maior gosto se entregam a fantasias quando já não precisam temer a realização delas. A barreira levantada pelo recalque pode cair sob o assalto de excitações violentas de causa real, a neurose ainda pode ser derrotada pela realidade. Mas não podemos avaliar genericamente em quem e de que maneira essa causa seria possível. 
DISSOLUÇÃO DO ÉDIPO (Lacan X Freud) 
Para Freud o clitóris da menina se comporta primeiramente como um pênis, mas, na comparação com um camarada de brinquedo do sexo feminino, ela nota que “saiu perdendo”, e sente esse fato como desvantagem e razão para inferioridade. Ela se consola de que quando crescer terá um apêndice grande como o de um menino. A menina não entende sua falta de pênis, explica-a pela hipótese que possuía um membro do mesmo tamanho e depois o perdeu com a castração. 
Disso resulta a diferença essencial de que a menina aceita a castração como fato consumado, enquanto o menino teme a possibilidade da consumação. A renúncia ao pênis não é tolerada sem uma tentativa de compensação. A garota passa – ao longo de uma equação simbólica – do pênis ao bebê, de receber do pai um filho como presente, de lhe gerar um filho. Os dois desejos permanecem no seu ICS (pênis e filho) e prepara a menina para o seu futuro papel sexual. 
Para Lacan, o relato do caso de Dora foi feito inteiramente para servir de envoltório a dois sonhos. E é a partir da análise desses sonhos que se tece a trama que o caracteriza. A leitura é diferente da freudiana. O Édipo de Freud é de três, o de Lacan é quatro. 
A primeira vez que formalizou a questão foi em O mito individual do neurótico, quando situou o quarteto constituído pelo homem dos ratos, pelo coronel substituto do pai, pela dama rica e pela dama pobre. Agora, o “balé a quatro” é formado por Dora, seu pai, o Sr. K. e a Sra. K. 
O erro de Freud, segundo ele próprio nos confessa, foi sobre o objeto do desejo de Dora. “Ele se pergunta o que Dora deseja, antes de se perguntar quem deseja em Dora”. Ou seja, na medida em que ela está identificada com o Sr. K. o objeto que verdadeiramente lhe interessa é a Sra K.
Um passo a diante deve ser formulado. O interesse de Dora parte de uma pergunta: O que é uma mulher? Algo que ela não sabe o que é e que faz com que ela se apegue à mulher amada por seu pai. Na medida em que a Sra. K. encarna a função feminina, Dora fica cativada por acreditar que a mulher é que sabe o que é preciso para o gozo do homem.
A análise do caso de Dora, e particularmente de seus sonhos, mostra que é na dimensão metafórica que a sua neurose assume seu sentido, e que também pode ser desatada. Dora tomada como sujeito encontra na situação uma espécie de metáfora perpétua. São as frequentes substituições assinaladas por Freud, acrescidas da mais importante, enfatizada por Lacan: literalmente, o Sr. K. é a sua metáfora.
Destacarei uma linha de análise dos sonhos de Dora nos comentários de Lacan. No Seminário 17, observa-se que o pai de Dora, ponto-pivô de toda a aventura, ou desventura, é propriamente um homem castrado, ou seja, muito doente, no fim da linha quanto à potência sexual. Mesmo assim é pai, o que significa que o pai não é apenas o que ele é; que é um título, como ex-combatente, até o fim da vida. Ele se constitui, portanto, por avaliação simbólica, e nesse campo simbólico chega a sustentar potência de criação.
A morte do pai está implicada nos dois sonhos de Dora. No primeiro, diz o pai: “Recuso-me a deixar que eu e meus dois filhos sejamos queimados por causa da sua caixa de joias”. 
No segundo, trata-se do enterro do pai; este sonho assinala que o pai simbólico é o pai morto, que só se alcança a partir de um lugar vazio e sem comunicação. Na caixa vazia do apartamento abandonado por aqueles que, depois de convidá-la, foram para o cemitério, Dora encontra um substituto para o pai num grande livro. O dicionário que ensina a respeito do sexo. 
Enfim, isto é o que lhe bastará da experiência analítica: o que lhe importa para além mesmo da morte de seu pai é o que ele produz de saber. Não qualquer saber — um saber sobre a verdade. Está aí um esboço da fórmula que se firmará mais tarde: ir além do pai, servindo-se dele.
POSFÁCIO
A conclusão de Freud:
Através dos sonhos de Dora Freud consegue a descoberta do oculto e do recalcado;
A presença dos processos psíquicos na histeria, do recalque, do deslocamento, da identificação, etc.
A sexualidade é a causa das psiconeuroses, bem como das neuroses em geral. A neurose se instala a partir da passagem pelo Édipo.
A melhora do paciente se dá à medida que, traduzindo o material patogênico em material normal.
Os sintomas não desaparecem enquanto o trabalho prossegue e sim depois de dissolvidos os vínculos com o médico.
Freud percebe a presença da transferência como uma formação de pensamento, em sua maioria inconscientes, às quais se pode dar o nome de transferências. Para Freud são reedições, reproduções das moções e fantasias que, durante o avanço da análise, soem desperta-se e tornar-se conscientes, mas com a característica de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico. As experiências psíquicas são revividas, não como algo passado, mas como um vínculo atual com a pessoa do médico. Para Freud a transferência é uma exigência indispensável. O tratamento psicanalítico não cria a transferência, mas a revela, como tantas outras coisas na vida anímica. Sem a transferência não é possível a “cura”. Na fantasia de Dora Freud substituía seu pai. Também há a transferência em relação ao Sr K da mesma forma que abandonou o K, também abandonou a terapia, vingando-se de Freud, pois se sentia enganada tal como foi com o K. Dora atuou uma parte de suas lembranças e fantasias, em vez de reproduzi-las no tratamento.
Para Freud a transferência é de longe o trabalho mais difícil do que interpretar sonhos, extrair associações do enfermo os pensamentos e lembranças inconscientes, pois o próprio doente as fornece para o terapeuta.
Transferência Positiva: refere-se a sentimentos tidos como positivos como: amor, gratidão, cooperação; são admissíveis à consciência, etc. Sem amor transferencial.
Transferência Negativa: refere-se a sentimentos hostis, sempre resistêncial, (agressividade, ódio, inveja, fontes erótica) vivenciados na relação terapêutica.
Este tipo de transferência é sempre resistencial. Estado de apaixonamento do paciente pelo analista. Esta paixão acontece em função da figura que o analista representa; um amor idealizado; pode ser o pai, a mãe, o homem de sua vida, o amor perdido, etc.
Quanto maior a neurose, quanto mais neurótico for o paciente, maior é a transferência. 
“Não podemos esquecer que é na transferência que nos presta o inestimável serviço de tornar imediatos e manifestos os impulsos eróticosocultos e esquecidos do paciente”. 
FIM DA ANÁLISE
Quinze meses após interromper sua análise, num dia 1º de abril (ela prezava as datas), Dora compareceu uma vez mais ao consultório de Freud. Queixou-se de vários sintomas e disse-lhe que estava de volta à análise. Freud não acreditou nela. Algum tempo depois, veio-lhe a notícia de que ela havia se casado. Provavelmente, com o engenheiro das associações do segundo sonho.
Felix Deutsch, que foi médico particular de Freud e que se tornou psicanalista,
faz revelações que nos interessam, num artigo publicado pela primeira vez em 1957. Em 1922, ele foi levado por um otorrinolaringologista a uma mulher casada, de 42 anos de idade, que apresentava, dentre outros sintomas, zumbidos e diminuição da acuidade auditiva no ouvido direito. Como seu exame médico não explicava tais problemas e ela demonstrava muito nervosismo, o oncologista solicitou um estudo psiquiátrico.
O esposo da paciente deixou o quarto depois de escutar as suas queixas e não mais voltou. A sós com ela, Deutsch pode ouvir um longo discurso sobre sua desafortunada vida conjugal. Sua convicção era de que seu marido era infiel e que os homens em geral são tacanhas e egoístas. Reprovou seu pai, por ter sido amante de uma jovem mulher casada, e o marido dessa mulher, do qual recebeu propostas que ela soube recusar. Falou de seus anseios de vingança contra os homens. A única exceção que abria é para seu irmão, quem muito prezava. Mesmo o seu filho, ultimamente, estava cada vez mais interessado em mulheres, razão pela qual se esqueceu dela: todas as noites ela ficava escutando, até perceber que ele havia chegado a casa.
Num dado momento, a paciente perguntou se Deutsch era psicanalista, e se havia conhecido Freud. Diante da resposta positiva, ela revelou o esperado: com certo orgulho, disse-lhe que era o caso “Dora”. Deutsch relacionou os sintomas auditivos com sua angústia ao escutar o filho voltar para casa. Sua interpretação fez com que, na próxima visita (a segunda e última) ele encontrasse a paciente sensivelmente mais bem disposta. Trinta anos depois das visitas, Deutsch conseguiu, de um informante, dados adicionais referentes à Dora e sua família. Seu pai faleceu no começo da década de trinta. Ela e o esposo mudaram-se, durante a Segunda Grande Guerra, para a França.
Seu filho tornou-se renomado músico e a levou para os Estados Unidos. Seu esposo morreu de doença coronariana, torturado e desdenhado pelas suas reprovações e pelos seus ciúmes; preferiu a morte ao divórcio. Sua mãe morreu de tuberculose, internada num sanatório. Seu irmão morreu em Paris, de doença coronariana, depois de brilhante e arriscada vida política; foi enterrado com grande solenidade. Dora, enfim, morreu nos Estados Unidos, aos 72 anos de idade, de câncer de colo.
Na vida real, Dora foi Ida Bauer. Nasceu em Viena, na Bergasse 32, na mesma quadra de Freud, embora não mais vivesse ali na época de sua análise. Seu pai, Phillip Bauer, rico industrial judeu, consultou-se com Freud devido a sintomas mentais de afecção sifilítica; foi ele quem a encaminhou para a análise. Sua mãe, Katharina, era pessoa pouco instruída e simplória. Seu irmão, Otto Bauer, tornou-se mais tarde líder do Partido Socialista alemão; foi um dos autores da proposta do eurocomunismo como terceira via. Ida Bauer casou-se com Ernest Adler e seu filho, Kurt-Herber, foi Diretor da Ópera de São Francisco.

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