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O quarto de Jack ANÁLISE FILOSÓFICA

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INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES DO MARANHÃO
GUILHERME SILA BERNAL MARTIN
Análise filosófica do filme “O quarto de Jack”
 
São Luis
2018
GUILHERME SILVA BERAL MARTIN
Análise filosófica do filme “O quarto de Jack”
Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em Filosofia do Instituto de Estudos Superiores do Maranhão-IESMA, em cumprimento as exigências para obtenção da nota parcial.
São Luis
2018
O quarto de Jack
Baseado na obra “Quarto” de Emma Donoghue, o filme “O quarto de Jack” conta a história de um menino com cinco anos de idade cuja mãe, chamada Ma, foi sequestrada ainda adolescente e mantida em cárcere como escrava sexual pelo Nick. Até que consegue, fugir com ajuda de Jack, seu filho fruto da exploração sofrida por ela. Ele viveu sem a noção do mundo fora do quarto onde era mantido e a única ponte com o exterior era uma televisão, que lhe oferecia uma visão distorcida das coisas. 
Jack é um menino que viveu em um local impróprio para qualquer pessoa, isento de contato com a natureza ou meio social. Durante seu crescimento, são contadas, pela sua mãe, histórias que explicam algumas situações vivenciadas por ele, ou chega as próprias conclusões através da observação de programas televisivos e do ambiente em que vive. O garoto chega aos cinco anos acreditando convictamente que desceu pela claraboia até o útero de sua mãe e que o “velho Nick” consegue alimentos através de mágica. Assim percebemos que há uma estreita relação entre ele e esses mitos, o que traz certo conforto a criança. Por outro lado, Ma, que conhece o mundo fora do quarto, imagina o dia de sua fuga, as vezes fica desacreditada que poderá voltar ao convívio familiar. Porém não deixa de alimentar a esperança, como quando conta à Jack a história O Conde de Monte Cristo, o qual trata de um homem que foi preso injustamente e escapa da prisão procurando vingança.[1: O Conde de Monte Cristo. Direção: Kevin Reynolds. Elenco: Jim Caviezel, Guy Pearce, Dagmara Dominczyk. Reino Unido da Grã-Bretanha.]
Em um momento da trama, Jack quebra uma regra imposta por sua mãe. Quando o velho Nick vai ao quarto para se relacionar com Ma, Jack deve ficar no guarda-roupas, por que sua mãe tem medo que seu filho seja abusado como ela. Ao sair do guarda-roupas, sem querer Jack acorda Nick que tenta contato. Então Ma vê que é necessário contar a seu filho a verdade sobre o mundo fugir. Ela tenta desfazer todos os mitos contados por ela, na tentativa de convencer seu filho a sair daquele lugar. Entretanto, houve certa resistência por parte de Jack cujo parâmetro para distinguir o real do imaginário é o próprio quarto, como ele mesmo diz: “as plantas são reais, mas as árvores não”. Nesse caso seria inconcebível um mundo maior que aquele quadrilátero que Jack chamava de Lar. Todavia, a curiosidade característica de qualquer criança atiça a capacidade quase inata do ser humano de questionar as coisas, o que fez o garoto ficar instigado com tudo o que sua mãe disse.
Fingindo óbito, Jack é enrolado em um tapete pela sua mãe, que pede tragicamente à Nick para leva-lo o mais distante. Assim era possível que Jack tivesse tempo para se desenrolar do tapete e pular da caminhonete de Nick. Enquanto era transportado, o garoto pôde ver as árvores, o céu azul, ouvir o som das coisas fora do quarto, deixando-o maravilhado. Pulando da caminhonete, encontra um homem que chama a polícia e assim liberta a sua mãe. Tendo escapado, Jack e sua mãe passam por um processo de adaptação ao mundo. Jack aprende a viver novamente, com novos hábitos e entendimento das coisas, Ma passa por tratamento psicólogo para reabilitação à sociedade.
De maneira geral, existe grande relação entre o filme apresentado e o mito da caverna, descrito por Platão. Na alegoria, três personagens eram acorrentados no fundo de uma caverna tendo como único contato, e ilusório, com o mundo exterior, as sombras de pessoas e animais projetadas por uma fogueira. Da mesma forma Jack tem contato irrisório com o exterior do quarto, tirando, por vezes, conclusões precipitadas sobre o que são as coisas que vê. A exemplo, ele acredita que os alimentos entregues pelo Nick vinham de mágica e que não existiam outras pessoas além dele, sua mãe e o velho Nick. Ao sair do quarto e pela primeira vez ver uma árvore, a qual acreditada não existir, fica admirado, assim como ao ver o céu e tudo ao seu redor. Porem antes disso, o garoto tem os olhos ofuscados, assim como o personagem platônico, e vê as coisas com dificuldade. Para conseguir enxergar nitidamente demandou certo tempo. [2: Alegoria feita por Platão no livro “A República”. 6° ed. Ed. Atena, 1956, p. 287-291]
Nesse filme é muito clara a descoberta que Jack faz do novo mundo. De início há o repúdio, o etnocentrismo, ele afirma que a cultura pertencente a si era a única verdade existente. O personagem enfrenta dificuldades para aceitar que muitas coisas pertencentes a sua realidade inexistem fora do quarto bem com a existência de algo além do quarto. Entretanto, momentos depois ele reconhece que elas poderiam existir e passa a questionar sua mãe sobre quais coisas são verdade. Nesse momento inicial de amor e ódio quanto a verdade, podemos fazer uma relação com o sentido da palavra filosofia. Não podemos definir completamente o que ela é, por isso exporemos apenas a etimologia da palavra que vem do grego Philia (amor existente entre amigos) e Sophia (refere-se à sabedoria). Assim, o filósofo é aquela pessoa que tem uma relação muito próxima, amorosa, com a sabedoria. Por isso ele não comete o erro de tornar a sua conclusão absoluta. Se o filósofo é amigo da sabedoria eles entrariam em conflito, como todo bom amigo, “a amizade comportaria tanto desconfiança competitiva com relação ao rival, quanto tensão amorosa em direção do objeto do desejo. ”[3: DELEUZE, Gilles; FÉLIX Guattali. O que é Filosofía?. Im: Assim pois a questão... Tradução, Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. Ed.]
 Após o impacto inicial sofrido, Jack questiona a si mesmo sobre a veracidade daquilo que conhecia. Como o garoto afirma, “já sou grande, tenho cinco anos” isso faz-lhe acreditar que é mais forte e inteligente, possibilitando aprender coisas novas. Vê-se aqui a maturidade necessária para de fato filosofar. É imprescindível a qualquer pensador o questionamento de si, daquilo que fala e vê, coisa que é muito rara na juventude. É próprio à mocidade ser taxativo, querer dizer a todas as coisas, “isto é”, tornando-se difícil aceitar novos conceitos ou reformular as suas conclusões. Por isso os autores Gilles Deleuze e Félix Guattari afirmam:
“Talvez só possamos colocar a questão O que é filosofia? tardiamente, quando chega a velhice, e a hora de falar concretamente. [...]. Antigamente nós a formulávamos, não deixávamos de formulá-la, mas de maneira muito indireta ou oblíqua, demasiadamente artificial, abstrata demais; expúnhamos a questão, mas dominando-a pela rama, sem deixar-nos engolir por ela. ”[4: Idem a terceira.]
Jack é um personagem que representa um grande avanço na história da humanidade, ele sai do conhecimento mítico e passa aos poucos ao pensamento crítico. Assim como os gregos antigos, ele refina o seu saber, tornando-se um Filósofo. A história da filosofia é marcada pelo conflito entre o conceito e a crítica que o cerca, dessa forma Jack vai aprendendo a lidar com a realidade que é submetido, adaptando-se a sociedade e a nova família.

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