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Material de apoio: PLANOS DE AULA 9 e 10. Disciplina : Direito processual civil III INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA – IAC No julgamento de recursos, na remessa necessária e nos processos de competência originária do tribunal, caso esteja presente questão relevante de direito de “grande repercussão social”, pode ter lugar o Incidente de Assunção de Competência – IAC. O mesmo pode ocorrer sempre que seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre órgãos do mesmo tribunal (art. 947 §§). O incidente tem início por proposta do relator, de ofício ou mediante provocação da parte ou do Ministério Público, para que o feito seja remetido para julgamento pelo órgão colegiado que o Regime Interno do tribunal indicar. As expressões “grande repercussão social “e “conveniente” comportam os mais variados significados, conforme o intérprete. Nessas condições, a tomada de competência do órgão legalmente competente, que recebeu regularmente a distribuição, seja por “conveniência “ou por “grande repercussão social”, parece afrontar diretamente o princípio do juiz natural. Incidente de arguição de inconstitucionalidade Se um desembargador ou uma das partes arguir no tribunal a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do Poder Público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as partes, submeterá a questão à Turma ou Câmara a qual competir o conhecimento do processo. Se acolhida a arguição, submete-se a questão constitucional em abstrato ao Tribunal Pleno (ou Órgão Especial, onde houver), para posterior complementação do julgamento, com a aplicação da solução encontrada na arguição de inconstitucionalidade ao caso concreto (art. 948) (v. também o art. 97 da CF). Conflito de competência Conflito de competência é a situação em que dois ou mais juízes se declaram competentes para julgar determinado caso (conflito positivo de competência) ou em que dois ou mais juízes se declaram incompetentes para julgar determinado caso (conflito negativo de competência). O conflito pode ser suscitado pelo juiz, por ofício, ou por petição de partes ou do Ministério Público, desde que não tenha ainda alegado incompetência relativa no correr do processo (art. 952). O ofício do juiz e a petição da parte ou do Ministério Público devem vir acompanhados dos documentos que comprovem o conflito. Havendo súmula do STF, do STJ ou do próprio tribunal ou tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência, pode o relator decidir de plano. Não sendo o caso, é designado prazo para que os juízes em conflito prestem informações. Sendo o conflito positivo, o processo é sobrestado e é designado um dos juízes para as medidas urgentes. Decorrido o prazo de informações e ouvido o Ministério Público, segue-se o julgamento, com a declaração indicando o juízo competente e, eventualmente com decisão sobre a validade dos atos praticados pelo do juízo incompetente. Resolvido o incidente, os autos são remetidos ao juiz competente. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS –IRDR Tem por objetivo solucionar em bloco uma grande quantidade de processos e de recursos especiais ou extraordinários que tenham por objeto as mesmas questões de direito, material ou processual (art.928). Além da repetição de feitos, que haja também risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica. O Ministério Público intervém obrigatoriamente, assumido a titularidade em caso de desistência ou abandono do autor. Com o ofício do juiz ou relator suscitante ou a petição da parte, do Ministério Público ou Defensoria Pública devem vir os documentos que demonstrem o preenchimento dos dois pressupostos do incidente (repetição do processos e risco). O julgamento do incidente caberá ao órgão indicado ao Regimento interno do tribunal. Devem ser dadas a mais ampla divulgação e publicidade ao incidente, por meio de registro eletrônico no CNJ. Ao admitir o incidente, o relator suspende todos os processos sobre a mesma questão que estejam em trâmite no Estado ou na Região. Os processos atingidos são identificados por meio do cadastro mantido pelo tribunal, onde constam as respectivas teses jurídicas. O incidente deve ser julgado em um ano, findo o qual, com ou sem julgamento, cessa a suspensão. As partes e todos os que demonstrarem interesse são ouvidos, podendo, pedir diligências e juntar documentos. O Ministério Público é ouvido na sequência. Poderão ser colhidos em audiência pública depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na matéria. No julgamento podem manifestar–se as partes, o Ministério Público e todos os interessados que tiverem se escrito com dois dias de antecedência, seguindo- se a ordem do art. 984. Novidades: O Código de Processo Civil – 2015 ampliou o incidente, que agora existe também nos Tribunais Estaduais ou Regionais. A atribuição de função legiferante (consiste no poder de estabelecer leis) ao judiciário parece ferir os princípios básicos da Constituição Federal. A tese jurídica vencedora é aplicada a todos os processos, presentes e futuros, que versem sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal. Desobedecida a tese adotada no incidente cabe reclamação ao tribunal O sistema de precedentes e a modulação de efeitos no novo CPC. Por Rodrigo Martone e Alice Marinho O novo Código de Processo Civil, em vigor desde março do ano passado, teve como um de seus principais pilares tornar os processos judiciais mais céleres, reduzindo sua complexidade tanto com relação à interposição de recursos pelas partes, quanto à uniformização do entendimento jurisprudencial e sua aplicação, desde os juízes em primeira instância aos tribunais superiores, introduzindo mecanismos utilizados pelo sistema de common law. Nesse sentido é que foi introduzido no novo CPC o artigo 927, o qual determina que os juízes e tribunais deverão observar (I) as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; (II) os enunciados de súmula vinculante; (III) os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; (IV) os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; e (V) a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. Como se pode verificar, esse artigo traz duas questões muito importantes com relação às regras para a observância e aplicação dos precedentes. A primeira questão diz respeito ao fato de que, embora os incisos (I) e (II) já fossem observados anteriormente por força de determinação constitucional[1], os demais incisos previstos nesse artigo nos parecem atribuir um efeito normativo a determinações ou enunciados proferidos pelos tribunais. Tal dispositivo demonstra, assim, uma tendência de que as decisões judiciais têm se vinculado cada vez mais aos precedentes estabelecidos anteriormente, e não apenas à interpretação da legislação em cada caso concreto, tal como funciona no modelo de common law. A segunda questão e, a nosso ver, mais desafiadora do ponto de vista prático, diz respeito à observância e aplicação dessas orientações descritas nos incisos do artigo 927 do novo CPC por todos os juízes de primeiro grau e tribunais aos seusrespectivos casos concretos. Isso porque os parágrafos 2º a 4º do referido artigo regulamentam a alteração das decisões e orientações firmadas pelos tribunais (previstas nos incisos do artigo 927), permitindo, inclusive, a modulação dos efeitos em casos de alteração da jurisprudência dominante do STF, demais tribunais superiores ou decorrentes do julgamento de demandas repetitivas. Nesse contexto, cabe destacar que claramente a intenção dessas regras é facilitar a aplicação e uniformização de precedentes, como inclusive prevê o parágrafo 1º do artigo 927 ao dispor que os juízes e tribunais observarão o disposto nos artigos 10 e 489, parágrafo 1º, do novo CPC, os quais preveem que (I) o juiz não pode decidir sobre matéria em relação à qual as partes não tiveram oportunidade de se manifestar; bem como que (II) as decisões devem ser devidamente fundamentadas, não se assim considerando aquelas que se limitam a citar precedentes sem indicar seus fundamentos determinantes e o motivo pelo qual se ajustam ao caso concreto ou, pelo contrário, as decisões que deixam de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente apresentado pela parte, sem demonstrar os motivos pelos quais referido precedente não se adequa ao julgamento do caso concreto. Ocorre, contudo, que as previsões trazidas no artigo 927 e, em especial, a previsão contida no parágrafo 3º no sentido de que pode haver modulação de efeitos por parte do juiz de primeiro grau ou tribunal, seja de segunda instância ou superior, quando ocorrer alteração de jurisprudência dominante, podem acabar por violar os princípios da segurança jurídica e da isonomia, trazendo inclusive decisões contraditórias que tratam de maneira distinta pessoas em situação idêntica. Isso porque, dentro dessas novas diretrizes, um determinado caso concreto pode tratar de um litígio que ocorreu em um determinado momento, quando havia um entendimento jurisprudencial, depois ser julgado com base em súmula ou enunciado que venha a ser revisado por um tribunal, e poderá, ainda, sofrer a modulação de efeitos, em que será aplicado o entendimento jurisprudencial mais recente. Ou seja, a parte que ajuizou uma ação com determinada expectativa sobre a causa poderia ter a sua expectativa frustrada com a aplicação retroativa de uma jurisprudência consolidada posteriormente. Dessa forma, em que pese a importância dos mecanismos previstos no novo CPC para aprimorar o sistema processual brasileiro, é necessário cuidado e coerência na aplicação dessas normas para que a celeridade processual e a uniformização jurisprudencial não sejam aplicadas de forma indiscriminada, a fim de evitar que direitos e garantias fundamentais das partes sejam violados. [1] Artigos 102, § 2º, e 103-A, da Constituição Federal de 1988, introduzidos pela Emenda Constitucional 45/2004, que tratam da observância das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade e aos enunciados de súmula vinculante.
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