Buscar

artigo05 PALIATIVO

Prévia do material em texto

Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 72 
CUIDADOS PALIATIVOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE ONCOLÓGICO 
TERMINAL: REVISÃO DA LITERATURA 
 
 
Demétria Beatriz Alvarenga Santos 
Graduada em Enfermagem pela LIBERTAS Faculdades Integradas. 
Renusa Campos Costa Lattaro 
Graduada em Enfermagem pela LIBERTAS Faculdades Integradas. 
Denize Alves de Almeida 
Mestra em Enfermagem e professora da LIBERTAS Faculdades Integradas. 
 
 
RESUMO 
O câncer é uma doença crônica e progressiva que causa dor física, sofrimento emocional e 
espiritual intensos. Essa patologia quando diagnosticada em fase avançada, diminui a 
chance de sobrevida do paciente. De acordo com as estatísticas do INCA, o câncer é a 
segunda causa de morte no Brasil. No homem, o maior índice de mortalidade ocorre pelo 
câncer de próstata, pulmão e intestino; e nas mulheres pela doença na mama, colo de 
útero e também intestino. Esta pesquisa teve como objetivo destacar conhecimentos 
necessários para que o profissional de enfermagem utilize dos cuidados paliativos para 
oferecer assistência aos pacientes oncológicos terminais. A revisão da literatura utilizada 
tem caráter descritivo exploratório, utilizando-se de livros, artigos científicos e manuais do 
Ministério da Saúde, e demonstra que os altos índices de morbimortalidade do câncer 
remete à necessidade da assistência de enfermagem em cuidados paliativos, já que o 
enfermeiro está ligado diretamente ao paciente, inclusive em sua fase terminal. Dentro 
desse contexto deve-se respeitar a sua autonomia e dignidade, tratando-o de forma holística 
e humanizada, ressaltando a importância na comunicação estabelecida entre enfermeiro, 
pacientes e familiares. A ênfase está no escutar mais do que falar, para ajudar o paciente a 
expressar seus sentimentos, compreendendo-o melhor. O enfermeiro deve aperfeiçoar suas 
habilidades técnico-científicas e na capacidade de percepção das necessidades do paciente 
terminal oncológico, de forma que consiga oferecer cuidados de enfermagem com 
qualidade. 
 
Palavras-chave: cuidados paliativos, câncer, cuidados de enfermagem, pacientes 
oncológicos. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Atualmente o câncer é uma doença crônica que provoca grande transtorno, dor e 
sofrimento ao paciente e seus familiares. Essa doença tem acometido grande número de 
pessoas em todas as faixas etárias, e por ser ativa, progressiva e ameaçadora, pode levar à 
morte, causar sentimentos de medo, insegurança e não aceitação. 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 73 
Caracterizado pela multiplicação desordenada de células, o câncer invade tecidos e 
órgãos, podendo se espalhar por todo o corpo (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007). 
De uma forma geral o câncer pode ser adquirido pelas anomalias de efeitos 
carcinógenos como agentes ambientais infecciosos e químicos, vírus, hereditariedade ou 
genética (ROBBINS; COTRAN; KUMAR, 1996). 
O índice de mortalidade por câncer tem crescido nas últimas décadas, impondo ao 
ser humano o pensar sobre a morte, que é o fim da vida, mas final entendido como meta 
alcançada, plenitude almejada e lugar do verdadeiro nascimento. Apesar de trazer muito 
medo e insegurança, morrer é um processo natural e com o avanço da medicina tende-se a 
ser prorrogada (BRASIL, 2009; BOFF, 1985). 
A terminalidade da vida, de acordo com Gutierrez (2001), ocorre quando se 
esgotam as possibilidades de cura de uma determinada doença e a morte se torna 
inevitável. Nesse momento crítico é importante o cuidado humanizado ao paciente terminal 
e seus familiares. 
Para Maciel (2008) é importante amenizar o sofrimento que precede a morte, 
oferecendo cuidados paliativos a pacientes e familiares que se deparam com a ameaça à 
continuidade da vida. 
O cuidar dos pacientes oncológicos terminais na sua totalidade dá ênfase à dor e ao 
sofrimento do paciente, alcançando todas as dimensões: física, psíquica, social e espiritual 
(PESSINI; BERTACHINI, 2004). 
Os cuidados paliativos ministrados a esses pacientes não abreviam e nem 
prolongam a morte, eles aliviam a dor e o sofrimento, proporcionando melhor qualidade de 
vida, até que aconteça de forma natural. Tais cuidados se iniciam com o diagnóstico da 
doença e se estendem até o luto É necessária uma equipe multiprofissional qualificada, 
com preparo suficiente para que haja interação e muita dedicação aos pacientes para 
alcançar os resultados (Brasil, 2008). 
O câncer é uma patologia de grande incidência e para o ano de 2008 calculou-se 
que ocorreriam cerca de 12 milhões de casos novos e sete milhões de óbitos no mundo. 
Estima-se que para os anos de 2010 e 2011 ocorrerão 489.270 novos casos de câncer de 
todos os tipos no Brasil. Os mais comuns, exceto o de pele do tipo não melanoma, são os 
cânceres de próstata e pulmão para o sexo masculino e os de mama e colo do útero para o 
feminino. O Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), menciona que o câncer é a 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 74 
segunda causa de morte por doenças no Brasil. Em 2020, no mundo o número de novos 
casos anuais estimados é de aproximadamente 15 milhões. Cerca de 60% desses, ocorrerão 
em países em desenvolvimento (BRASIL, 2008, 2009). 
Dentro deste contexto fica visível a necessidade de dar continuidade em 
investimentos de ações para o controle do câncer nos diversos níveis de atuação como na 
promoção da saúde, assistência precoce holística e humanizada aos pacientes, capacitação 
de recursos humanos na área, pesquisas sobre o tema, comunicação e mobilização social, e 
abordagem dos direitos do paciente com câncer a partir do Sistema Único de Saúde – SUS 
(BRASIL, 2008). 
Assim, para que haja integralidade das ações, os cuidados de saúde prestados 
requerem atenção de uma equipe multiprofissional centrada no paciente com câncer, o que 
requer habilidades clínicas específicas as quais não devem estar restritas aos cuidados 
referentes à dor e ao sofrimento, mas extensivo aos familiares, para que haja melhor 
interação entre o paciente e sua família.. 
 Dessa forma esta pesquisa tem como objetivo destacar o conhecimento necessário 
aos profissionais de enfermagem para melhorar a qualidade de vida, aliviar a dor e o 
sofrimento dos pacientes oncológicos terminais, de acordo com as suas necessidades 
básicas, utilizando-se de cuidados paliativos. 
 
2. ASPECTOS GERAIS DO CÂNCER 
As células normais, que vivem em perfeita harmonia citológica, histológica e 
funcional em nosso organismo, possuem características morfológicas que fazem com que 
elas se agrupem em tecidos que formam os órgãos para uma boa manutenção da vida. Em 
certas situações pode ocorrer uma ruptura dos mecanismos reguladores da multiplicação 
celular, desnecessária ao tecido, isto é, uma célula começa a crescer e dividir-se 
desordenadamente, dando origem a células descendentes, consequentes desse crescimento 
com divisões atípicas, indiferentes aos mecanismos reguladores normais. Dessa forma, 
surge o tumor ou neoplasia, podendo ser benigno ou maligno (BRASIL, 2008). 
As neoplasias apresentam crescimento celular não controlado, são chamados de 
tumores e têm sido definidas como ploriferação anormal de tecido que foge parcial ou 
totalmente ao controle do organismo, tendendo à autonomia e à perpetuação, com efeitos 
agressivos ao hospedeiro (ROBBINS; COTRAN; KUMAR, 1996; BRASIL, 2008). 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 75 
Os tumores malignos são mais agressivos, invasivos, com capacidade de 
disseminação. A sua invasão possibilita a penetração nos vasos sanguíneos, linfáticos e 
cavidades corporais, gerando as metástases (ROBBINS; COTRAN, 2005; BRASIL, 2008). 
Os tumores malignos são geralmente chamados de sarcoma ese originam no tecido 
mesenquimal. O tumor maligno do tecido cartilaginoso é denominado de condrossarcoma; 
do tecido gorduroso, lipossarcoma; do muscular liso leiomiossarcoma. Quando se originam 
nas células epiteliais (derivadas de três camadas germinativas, ectodérmica, mesodérmica e 
endodérmica) são denominados carcinomas e se o epitélio for de origem glandular, 
denomina-se adenocarcinoma. O maior nível de agressividade, com crescimento acelerado 
das células e maior tamanho do tumor são algumas características que propiciam 
metastatizar. A metástase reduz ainda mais a possibilidade de cura da doença (ROBBINS; 
COTRAN, 2005). 
Os tumores benignos são caracterizados pelo crescimento celular de forma 
controlada, denominados de hiperplasia, metaplasia. Normalmente são de progressão lenta 
e expansiva apresentando estroma normal, boa vascularização e dificilmente provocam 
necrose e hemorragia (BRASIL, 2008). 
Para Robbins e Cotran (2005), a nomenclatura dos tumores benignos é identificada 
pelo sufixo “oma”, na célula de origem. Como exemplo, o tumor benigno que ocorre a 
partir de células fibroblásticas é chamado de fibroma; o do tecido cartilaginoso é o 
condroma; e o tumor benigno do tecido glandular, adenoma. 
 
3. CUIDADOS PALIATIVOS 
O termo “paliativo” deriva do latim pallium, que significa manto, capote, 
assemelha-se ao termo Hospice, o mesmo que abrigos e hospedarias para abrigar e cuidar 
de peregrinos e viajantes. O relato mais remoto foi do Hospício Porto de Roma, no século 
V, onde Fabíola, discípula de São Jerônimo, cuidava de viajantes que chegavam da Ásia, 
África e países do leste (PESSINI; BERTACHINI, 2005). 
O Hospice foi criado na Europa, no século XVII, pelas instituições de caridade, 
para abrigar órfãos, pobres e doentes, tendo sido disseminados por organizações católicas e 
protestantes que no século XIX passaram a ter características de hospitais, com alas 
diferenciadas por doenças, com cuidados precários, voltado mais para a espiritualidade e 
controle da dor (MACIEL,2008). 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 76 
O Movimento Hospice Moderno se iniciou em 1967 pela inglesa Cicely Sounders 
com formação humanista e médica. Foi fundado em Londres St. Christhofer Hospice, para 
atender não somente aos doentes, mas para desenvolver ensino e pesquisa aos bolsistas de 
vários países (PESSINI; BERTACHINI, 2005). 
Em 1982 o comitê de câncer da Organização Mundial de Saúde (OMS), criou um 
grupo de trabalho a fim de definir políticas para o alívio da dor e cuidados do tipo Hospice 
para pacientes com câncer, sendo recomendados a todos os países. Para Maciel (2008) o 
termo “cuidados paliativos” passou a ser adotado pela OMS, quando já era utilizado no 
Canadá, devido às dificuldades de tradução fidedigna do termo Hospice em alguns 
idiomas. Em 1986, a OMS publicou a primeira definição de cuidados paliativos como 
sendo cuidados totais e ativos quando há impossibilidade de cura. O controle da dor e de 
outros sintomas, bem como os problemas psicossociais e espirituais é essencial na 
administração dos cuidados, proporcionando assim, melhor qualidade de vida aos pacientes 
e familiares. Em 2002, esta definição foi revisada e substituída pela atual, que tem o 
objetivo de ampliar o conceito e torná-lo aplicável a todas as doenças o mais precocemente 
possível (CUIDADO PALIATIVO, 2008). 
Silva (2004) destacou a importância e o direito do paciente com doença avançada e 
terminal, e da sua família, de morrer com dignidade, afirmando que cuidados paliativos é 
uma modalidade emergente de assistência no fim da vida, construídos dentro de um 
modelo de cuidados totais, ativos e integrais. 
A intenção de uma morte mais digna, menos sofrida e perto das pessoas queridas 
partiu inicialmente dos ingleses, na década de 60, e posteriormente estendeu-se ao restante 
da Europa e Estados Unidos, tornando oportuna a criação de um movimento de cuidados 
mais humanizado, integral, voltado especificamente para indivíduos com doenças crônicas, 
progressivas e sem possibilidade de tratamento curativo (SILVA, 2004). 
Girond e Waterkemper (2006) afirmam que a morte faz parte da existência e cuidar 
da pessoa que está morrendo deveria ser parte integral da assistência, já que a vida não é 
eterna. Cada momento vivido deve ser valorizado, até mesmo o próprio processo de 
morrer. 
Para Maciel (2008) é necessário que os profissionais de saúde respeitem os 
pacientes desde o começo da vida até a sua morte, estendendo os cuidados paliativos aos 
seus familiares até o período de luto. Declaram também que estes devem ser administrados 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 77 
de acordo com os princípios que podem ser aplicados em todas as atividades 
desenvolvidas, publicados pela Organização Mundial de Saúde, em 1986 São eles: 
_ Promover o alívio da dor e demais sintomas estressantes: é necessária uma avaliação 
individualizada através da história do paciente, exame físico e pesquisas envolvendo 
conhecimento específico para a prescrição de medicamentos. 
_ Afirmar a vida e encarar a morte como processo natural: o paciente deve ser orientado a 
dar mais sentido à vida que ainda lhe resta, ajudando-o na compreensão de sua doença, 
através do debate sobre o processo de sua finitude. 
_ Não antecipar nem adiar a morte: este princípio visa melhorar a qualidade de vida do 
paciente, dando-lhe assistência contínua e reabilitadora, com a consciência de que o 
tratamento não lhe causará maior desconforto do que a sua própria doença. 
_ Aplicar os aspectos psicossociais e espirituais: a qualidade de vida envolve problemas 
sociais, dificuldades de acesso aos serviços de saúde, medicamentos e outros recursos que 
podem ser causas de sofrimento que devem ser levados à equipe multiprofissional, atuando 
de forma integrada, a fim de identificar os problemas para a tomada de decisões. 
_ Oferecer suporte que possibilite a vivência ativa do paciente até o momento da morte: 
viver ativamente é preservar a sobrevida do paciente incessantemente, sendo função do 
enfermeiro atuar como facilitador para a resolução de seus problemas. 
_ Oferecer suporte para auxiliar os familiares durante a doença e o luto: a família é tão 
importante quanto o doente e a inserção dos cuidados paliativos, já que as complicações 
que podem ocorrer no período de luto devem ser identificadas e trabalhadas. 
_ Dar início aos cuidados paliativos desde o diagnóstico da doença. 
Os cuidados paliativos devem ser iniciados o mais precocemente possível junto a 
outras medidas para prolongar a vida, como quimioterapia e radioterapia, incluindo ainda 
investigações necessárias para melhor compreensão e controle dos sintomas. Não se pode 
privar o paciente dos recursos diagnósticos e terapêuticos que a medicina pode oferecer, 
devendo ser usados de forma hierarquizada, levando em consideração o custo e benefício. 
A aplicação precoce dos cuidados paliativos antecipa e previne os sintomas. 
É fundamental que o paciente seja o centro das atenções, tratado de forma holística 
e acompanhado pela sua família em todo o período de seu tratamento. Os cuidados 
paliativos devem se estender até a sua finitude, sendo essenciais nessa fase da vida (ANCP, 
2009). 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 78 
O câncer é uma doença que causa muita dor e sofrimento espiritual e emocional, 
fazendo com que o paciente sinta grande dificuldade em suportar sua vida. Existem 
tratamentos específicos para pessoas com essa patologia, melhorando assim, a sua 
qualidade de vida. Contudo, os cuidados paliativos direcionados aos pacientes oncológicos 
terminais visam priorizar a dignidade e valorizar os doentes de forma humanizada e 
holística(ARAÚJO et. al., 2009). 
Diante dos avanços na área da oncologia relacionados aos diagnósticos e 
tratamentos constatou-se que 50% dos pacientes têm o diagnóstico de câncer em fase 
avançada e metade destes está fora das possibilidades terapêuticas atuais (AYOUB et.al., 
2000). Assim, Girond e Waterkemper (2006), destacam a situação de terminalidade, onde 
as possibilidades de tratamento chegaram ao fim, a progressão da doença e a finitude 
humana são inevitáveis e caracterizadas pela morte, surgindo os cuidados paliativos como 
um novo tipo de cuidado voltado para uma abordagem mais humana de tratamento. 
Para Pessini (2003) o processo de morte e as últimas fases da vida têm se tornado 
objeto de estudo e reflexão na área da saúde, da filosofia, antropologia e sociologia. Os 
pesquisadores afirmam, em consenso, que não se deve preservar a vida biológica a 
qualquer custo (obstinação terapêutica), se isso implicar mais dor, sofrimento e, sobretudo, 
perda da auto-estima e dignidade do paciente O autor afirma que a qualidade de vida é a 
maior preocupação dos profissionais de saúde, levando em consideração que os pacientes 
oncológicos terminais sentem muito mais medo do fim da vida, do que da morte 
propriamente dita. 
Apesar dos cuidados paliativos estarem em construção e ainda ocuparem o campo 
conceitual, metodológico e instrumental, sua definição, bem como suas estratégias a partir 
da prática, são um desafio para as equipes de saúde , já que a ação não é movida apenas 
pela competência técnico-científica, apoiada no processo diagnóstico e terapêutico, mas, 
determinada por questões políticas, éticas, culturais, sociais e subjetivas (BRASIL,2008). 
Os cuidados paliativos iniciam-se a partir do respeito aos valores morais, sociais, 
éticos, crenças, conhecimentos, direitos, deveres e capacidades. O profissional deve 
respeitar as limitações dos pacientes, proporcionando-lhes autonomia para o desempenho 
de ações que dignificam a vida; estimular a capacidade do auto cuidado; envolver o 
paciente e a família nas decisões e cuidados até a sua finitude; proporcionar condições de 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 79 
planejar e controlar sua vida e doença; e finalmente, aliviar e fiscalizar os sintomas, 
especialmente a dor e o desconforto (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007). 
A dor limita muito o estilo de vida do paciente que enfrenta muitas perdas como a 
da normalidade e expectativa de futuro, contribuindo para o desenvolvimento de sua 
doença. A experiência dolorosa, os aspectos sensitivos, emocionais e culturais são 
inseparáveis e devem ser analisados. Assim sendo, para avaliar a dor é necessário acreditar 
nas manifestações do paciente. Contudo para que haja controle da dor deve-se avaliar a 
intensidade da mesma, administrando medicamentos de forma adequada, bem como as vias 
de administração, fazendo a reavaliação contínua dos mesmos e observando seus efeitos 
colaterais. Os pacientes, seus familiares e todos os profissionais envolvidos no controle 
desse sintoma devem ser orientados permanentemente (ARANTES; MACIEL, 2008). 
É importante que haja qualidade no cuidar, atendendo melhor às necessidades do 
paciente, com maior ênfase no ouvir do que no falar, lembrando de ajudar o paciente nas 
dificuldades de expressar seus sentimentos, para melhor compreendê-lo (MOHALLEM; 
RODRIGUES, 2007). 
Nesse contexto o enfermeiro deve aperfeiçoar sempre suas habilidades em relação 
ao conhecimento técnico, científico e na capacidade de percepção das necessidades do 
paciente. É necessário que haja planejamento na assistência humanizada, pois o 
profissional de enfermagem é quem está mais próximo ao doente, o qual deve ser tratado 
de forma efetiva (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007). 
BOFF (2003) destaca que o ato de cuidar é muito mais que simples atenção, é 
dedicação, compromisso, afeto e respeito ao paciente, enquanto Kovacs (2008) afirma que 
a morte é um processo natural da vida e que se as pessoas se preparam para nascer também 
devem se preparar para morrer. A certeza de uma doença incurável permite que a morte 
possa ser planejada para que amenize o sofrimento do doente. 
De acordo com kovacs,2008 a família do paciente oncológico terminal sofre por 
achar que não está fazendo o melhor para atender às necessidades do doente. A energia 
psíquica do mesmo fica inteiramente voltada à sua assistência, não conseguindo distinguir 
se o melhor para ele seria a morte para o alívio da dor e sofrimento ou a sobrevivência, por 
ser uma pessoa próxima e querida. 
Os pacientes depressivos preferem a morte, por isso a necessidade dos cuidados 
paliativos para que os profissionais da saúde possam ampará-los, apoiá-los e fazer com se 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 80 
sintam capazes para a vida com a presença e o apoio familiar , sendo necessário fazer com 
que o doente resgate os valores de toda a sua existência, pois com o agravamento da 
doença, o paciente possui a sua autonomia diminuída e a sua dignidade ameaçada. No 
entanto, dignidade significa qualidade de vida em toda a sua existência com o mínimo de 
sofrimento possível, os quais podem ser oferecidos pelos profissionais de saúde e seus 
familiares, já que o paciente deve saber de tudo, por meio de uma comunicação clara e 
aberta. A autonomia é responsável pela dignidade da vida do doente, pelo direito de 
controlá-la e de decidir sobre si próprio, resolvendo assim, onde e como deseja permanecer 
até a sua morte (KOVACS, 2008). 
Para Menezes (2004), os cuidados paliativos criam uma nova representação social 
do processo de morrer. 
 
 
4. METODOLOGIA 
Para abordar o tema proposto, foi realizado um estudo de revisão da literatura do 
tipo descritivo-exploratório, utilizando-se de livros, manuais e artigos científicos, 
pesquisados em bibliotecas tradicionais e virtuais. 
 Os artigos científicos foram obtidos através do levantamento das bases de dados 
LILACS e SciELO, por meio de conexão da página da internet da Biblioteca Virtual em 
Saúde (BVS) e do Ministério da Saúde, com ênfase ao site do Instituto Nacional do Câncer 
(INCA). 
 Para as buscas nas referidas bases de dados utilizou-se o cruzamento das palavras-
chave: cuidados paliativos, câncer, cuidados de enfermagem e pacientes oncológicos, os 
quais foram pesquisados exaustivamente. 
 As publicações encontradas dataram desde 1985 até 2009, de forma que 
compusessem o maior número de informações relacionadas ao câncer e aos cuidados 
paliativos realizados pela enfermagem. 
 Dessa forma, foram localizados e selecionados 08 (oito) artigos científicos, 09 
(nove) livros e 03 (três) manuais), que contribuíram para o desenvolvimento do estudo e 
realização do objetivo proposto. 
 
 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 81 
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
O câncer é uma doença crônica progressiva que causa muita dor e sofrimento ao 
paciente oncológico terminal e seus familiares. 
Essa patologia se origina de alterações celulares que se transformam em tumores 
benignos ou malignos. Os mesmos podem estar relacionados a vários fatores como sexo, 
idade, raça, cor e estilo de vida. Dentre os diversos tipos de câncer, o de pele não 
melanoma é o de maior incidência e menor índice de mortalidade.( BRASIL, 2008). 
 Os tumores malignos são invasivos com facilidade de disseminação e 
consequentemente mais agressivos. Por apresentarem essas características propiciam a 
metastatização reduzindo a possibilidade de cura da doença e os tumores benignos são 
conhecidos pelo crescimento celular de forma controlada e dificilmente provocam 
complicações (ROBBINS,COTRAN, 2005). 
 Segundo as estimativas do INCA, o câncer é a segunda causa de morte no Brasil. 
No homem,o maior índice de mortalidade ocorre pelo câncer de pulmão, próstata e 
intestino. Já entre as mulheres acontece o aumento dessa doença na mama, colo de útero e 
intestino. 
 Diante dessa realidade foi criado o Programa Nacional de Humanização da 
Atenção Hospitalar, a fim de proporcionar melhoria no atendimento à saúde no Brasil e 
disponibilizar serviços de qualidade prestados pelas instituições ligadas ao SUS 
(BRASIL,2008) 
Dentro da Política Nacional de Humanização, os cuidados de enfermagem são 
essenciais na assistência durante todo o tratamento, exigindo muita habilidade afetiva e 
técnica de acordo com o paciente, tratando-o de forma holística e humanizada 
(BRASIL,2008). 
Nesse contexto, Gutierrez (2001) e Maciel (2008) destacam a necessidade de 
proporcionar aos pacientes oncológicos terminais cuidados especiais. Os cuidados 
paliativos são essenciais para oferecer alívio da dor e sofrimento emocional e espiritual, 
bem como apoio aos familiares desde o diagnóstico, a terminalidade até o luto. E todo esse 
processo envolve respeito, compreensão, dignidade e autonomia do paciente preservando 
assim, sua sobrevida, ajudando-o no enfrentamento de seus problemas. 
Para Araujo et al., (2009) o câncer quando diagnosticado em fase avançada, 
diminui a possibilidade de cura do paciente, levando-o ao final da sua existência. Assim, os 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 82 
cuidados paliativos têm o propósito de oferecer atenção especial e humanizada na 
assistência em saúde. 
Contudo, Leite (2007) esclarece que o profissional de enfermagem deve estar 
sempre aperfeiçoando suas habilidades e técnicas específicas, pois é o profissional 
enfermeiro que está mais próximo do paciente, podendo lhe oferecer segurança e conforto, 
já que as possibilidades de cura se esgotaram. 
 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Como o câncer é uma doença que pode levar ao óbito, os programas de cuidados 
paliativos têm sido reconhecidos como estratégias fundamentais para melhorar a qualidade 
de vida de pessoas com doenças que podem fazer com que elas vivenciem a fase terminal. 
O controle do sofrimento físico, emocional, espiritual e social é essencial nesta modalidade 
de cuidado, já que a pessoa que fica doente, desde o diagnóstico até o momento da morte,
 e sua família, durante o curso da doença até a fase do enlutamento, procuram 
recursos para amenizar o sofrimento. 
Apesar dos cuidados paliativos estarem em construção suas estratégias a partir da 
prática são um desafio para as equipes de saúde. 
Assim, o propósito da assistência de enfermagem é encontrar no trabalho cotidiano, 
junto aos que recebem cuidados paliativos, um equilíbrio harmonioso entre a razão e a 
emoção. O enfermeiro é o profissional que está diretamente ligado ao paciente, tendo 
assim o compromisso e responsabilidade de ouvir e compreender melhor às necessidades 
de cada um, proporcionando-lhes apoio, compreensão e afetividade no momento de 
carência que possuem no enfrentamento da doença e consequentemente a caminho da 
terminalidade. 
Portanto, é imprescindível que sejam intensificadas as investigações sobre cuidados 
paliativos para pacientes com câncer, com o objetivo de fornecer subsídios que permitam 
viabilizar a introdução dessa prática nos serviços de saúde, principalmente como 
componente da assistência de enfermagem, conscientizando os gestores e produtores de 
políticas públicas sobre a importância desse serviço no planejamento das ações em saúde. 
 
 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 83 
REFERÊNCIAS 
Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). Manual de cuidados paliativos. Rio 
de Janeiro : Diagraphic, 2009. 
ARANTES, A.C.L.Q.; MACIEL M.G.S. Avaliação e tratamento da dor. In: OLIVEIRA, 
R.A. (coord.). Cuidado Paliativo. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado 
de São Paulo, 2008. Cap. II Parte 3. Pág, 370-391. 
ARAÚJO, L.Z.S.; ARAÚJO, C.Z.S.; SOUTO, A.K.B.Z.; OLIVEIRA, M.S. Cuidador 
principal de paciente oncológico fora de possibilidade de cura, repercussões deste encargo. 
Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília: v. 62, n. 1, jan/fev, 2009. 
AYOUB, A.C.; FONTES, A.L.C.; SILVA, M.A.A., ALVES, N.R.C., GIGLIOTTE, P.; 
SILVA, Y.B. Planejando o cuidar na enfermagem oncológica. São Paulo: Lemar 2000. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2010 – 
Incidência do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2009. Disponível em: 
<http://www1.inca.gov.br/estimativa/2010/> acesso em 20 de março de 2011. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Ações de enfermagem para 
o controle do câncer: uma proposta de integração ensino-serviço. 3. ed. atul. ampl. Rio de 
janeiro: INCA, 2008. Disponível em: 
<http://www.inca.gov.br/enfermagem/docs/ficha_tecnica.pdf> acesso em: 20 de março de 
2011. 
BOFF, L. Vida para além da morte. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1985. 
BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 9. ed. Petrópolis: 
Vozes, 2003. 
GIROND, J.B.R., WATERKEMPER, R. Sedação, eutanásia e o processo de morrer do 
paciente com câncer em cuidados paliativos compreendendo conceitos e inter-relações. 
Cogitare Enferm. v. 11 n. 3, set/dez, 2006. 
GUTIERREZ, P.L.O. O que é o paciente terminal. Revista da Associação Médica 
Brasileira. v. 47, n. 2, abril/junho 2001. 
KIRA, C.M.; MONTAGNINI, M; BARBOSA, S.M.M. Educação em cuidados paliativos. 
In: In: OLIVEIRA, R.A. (coord.) Cuidado Paliativo. São Paulo: Conselho Regional de 
Medicina do Estado de São Paulo, 2008. Cap. III Parte 5. Pág, 595-612. 
KOVÁCS, M.J. A morte no contexto dos cuidados paliativos. In: OLIVEIRA, R.A. 
(coord.) Cuidado Paliativo. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São 
Paulo, 2008. Cap. III Parte 4. Pág, 548-556. 
KOVÁCS, M.J. Cuidando do cuidador profissional. In: OLIVEIRA, R.A. (coord.) 
Cuidado Paliativo. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 
2008. Cap. IV Parte 1. Pág, 92-99. 
MACIEL, M.G.S. Definições e princípios. In: OLIVEIRA, R.A. (coord.) Cuidado 
Paliativo. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2008. Cap. 
I Parte 1. Pág, 15-32. 
MENEZES. R.A. Em busca da boa morte. Rio de janeiro: Garamond, 2004. 
 Santos, Lattaro e Almeida (2011) 
 
 84 
MOHALLEM, A.G.C.; SUZUKI, C.E.; PEREIRA, S.B.A. Princípios da oncologia. In: 
Enfermagem oncológica. MOHALLEM, A.G.C. L; RODRIGUES, A.B. (orgs.) São 
Paulo: Manole, 2007. Cap. 1. Pág, 3-20. 
PESSINI, L. A filosofia dos cuidados paliativos: uma resposta diante da obstinação 
terapêutica. Mundo da Saúde. São Paulo: ano 27, n. 27, n. 1 jan/mar, 2003. 
PESSINI, L; BERTACHINI L. (orgs) Humanização e cuidados paliativos. 3. ed. São 
Paulo: Loyola, 2004. 
PESSINI, L; BERTACHINI L. Novas perspectivas em cuidados paliativos: ética, 
geriatria, gerontologia, comunicação e espiritualidade. O mundo da Saúde. São Paulo: 
ano 29 v. 29, n. 4, out/dez 2005. 
RIZOTTO, M. L. F. As politicas de saude e a humanizacao da assistencia. Revista 
Brasileira de Enfermagem, Brasilia, v. 55, n. 2, mar/abr. 2002. 
ROBBINS, S.L.; COTRAN, R.S. Patologia: Bases patológicas das doenças. 7. ed. Rio de 
janeiro: Elsevier, 2005 
ROBBINS, S.L.; COTRAN, R.S.; KUMAR, V. Fundamentos de Robbins – Patologia 
estrutural e funcional. 5. ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 
SILVA, R.C.F. Cuidados paliativos oncológicos: reflexões sobre uma proposta inovadora 
na atenção à saúde. 2004. Dissertação (Mestrado) – Rio de Janeiro: Escola Nacional de 
Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz; 2004.

Continue navegando