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Importância dos Grupos de Psicologia para a Terceira Idade

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO UNISALESIANO Auxilium de LINS
A IMPORTÂNCIA DOS GRUPOS DE PSICOLOGIA PARA A PROMOÇÃO DE RESILIÊNCIA NA TERCEIRA IDADE: UMA ABORDAGEM GERONTODRAMÁTICA.
 
THE IMPORTANCE OF PSICOLOGY GROUPS FOR THE PROMOTION OF RESILIENCE IN THE THIRD AGE: A PSYCHODRAMATIC FOR ELDERLIES APPROACH.
Luciana Marise de Araujo Vicente-lucianamarise@ig.com.br
Rita de Cássia Soares Pires-belaelanor@gmail.com
Profª. Ms. Ana Elisa de S. Barbosa de Carvalho-psicologia@unisalesiano.edu.br
RESUMO
Em 2009 foi realizado um trabalho de terapia em grupo por estagiárias do segundo ano de Psicologia para idosos participantes de um projeto de prevenção secundária em saúde implantado pela Assistência Médica e Hospitalar São Lucas, em Lins/SP. Foram realizadas 35 sessões em que se trabalhou atividades relacionadas ao Gerontodrama, técnica de atendimento grupal para terceira idade, adaptada do Psicodrama de Jacob Levy Moreno (COSTA, 1998, p. 55 e 56). Através de dinâmicas de grupo procurou-se trabalhar a auto-estima, auto-eficácia, espontaneidade e perda de papéis ocorridos no processo do envelhecimento; o ageísmo presente na família/sociedade, que retira do idoso a crença em sua capacidade de superação e manutenção de uma vida saudável, independente das mudanças próprias que ocorrem neste período. Na medida em que se investiu no resgate dos fatores de proteção emergiu nos idosos a resiliência. Foram percebidos no início do grupo sentimentos de inferioridade, baixa auto-estima e comportamentos depressivos advindos de conflitos familiares, que evoluíram para uma postura mais resiliente ao final do grupo, com relatos dos próprios idosos elucidando a satisfação com sua nova forma de encarar a própria vida. Este trabalho mantém-se com os mesmos objetivos em 2010 devido a sua importância na promoção de melhor qualidade de vida aos idosos, diante da longevidade estaticamente comprovada em nossa sociedade (COUTO, KOLLER & NOVO 2006, p. 315). 
PALAVRAS-CHAVE: Resiliência, Idosos, Gerontodrama.
ABSTRACT
In 2009 was accomplished by second year Psychology' trainees a work of group therapy for elderly participants of a secondary prevent project deployed by theAssistência Médica e Hospitalar São Lucas (Medical and Hospital AssistanceSão Lucas), in Lins/SP. 35 session were held, in which they worked with activities related to gerontodrama (psychodrama for elderlies), a technical service group for seniors, adapted from Psicodrama (Psychodrama) of Jacob Levy Moreno (Costa, 1998, p. 55 e 56).Through group dynamics they tried to work on self-esteem, self-efficacy, spontaneity and loss of roles that occurs in the aging process; the ageism that is present in family/society, that take awayfrom the elderlies the belief in their capacity of overcoming and maintenance of a healthy life, independent of the changes that occur during this period.In so far been invested in the purchase of protective factors emerged in the elderly the resilience. Were seen at the beginning of group feelings of inferiority, low self-esteem and depressive behavior arising from family conflicts, which evolved into a more resilient posture to the end of the group with stories of older people themselves explaining their satisfaction with their new way of looking at itself life.This paper remains with the same objectives in 2010, due to its importance in promoting better quality of life for older people, in face of statically proven longevity of our society. 
KEYWORDS: resilience, elderlies, gerontodrama (psychodrama for elderlies)
Nos últimos anos, nota-se uma modificação na estrutura etária da população brasileira, devido à queda da mortalidade, os avanços na tecnologia e nos serviços prestados no campo da saúde. Com isso houve um aumento significativo da população de idosos, de 4% em 1940 para 9,6% em 2004 de acordo com dados do IBGE (2005) e os estudos apontam ainda que até 2020 este percentual poderá chegar a 15%, o que representará um grande desafio para as políticas públicas no atendimento desta demanda populacional. 
O processo de envelhecimento é caracterizado, primeiramente, por mudanças físicas, fisiológicas e cognitivas, definido como senescencia, que ocorre de forma gradual. Por outro lado as doenças, abusos, afastamento das atividades sociais, a falta de atividade física e de estimulação cognitiva, resultam na senilidade ou envelhecimento secundário. 
A aposentadoria representa um grande problema no processo de envelhecimento, podendo também contribuir para a senilidade, pois, representa a passagem do sujeito ativo, trabalhador para a de aposentado, aliado ao baixo valor de sua aposentadoria, que impossibilita a garantia de sua sobrevivência e manutenção adequada de suas necessidades básicas, pode gerar no idoso um sentimento de inutilidade e fracasso, de que deve ceder o espaço para os mais jovens, contribuindo para seu isolamento e perda de contatos sociais. Borges, citando Singer, comenta que:
A passagem do homem ativo, trabalhador, para o homem aposentado gera a velhice como categoria social, tendo em vista que, ao aposentar-se, o homem perde sua função social, perde sua identidade social. (apud FALCAO & DIAS, 2006, p. 152)
 
Neste sentido, entende-se que a velhice não se resume somente às questões biológicas, mas também social, histórica e cultural e, portanto, é necessário que haja um olhar mais atento às necessidades desta população, de forma a promover uma melhor qualidade de vida ao idoso, possibilitando a este compreender também seu papel e responsabilidade neste processo e na construção de sua subjetividade em relação ao envelhecer e, a sociedade, a desconstruir a visão de que ele representa, de maneira geral, um peso, um ônus familiar e social. 
Prevalece na sociedade o preconceito contra o idoso, o que recentemente foi denominado de ageismo. De acordo com Couto, Koller & Novo (2006) este termo define uma forma de intolerância relacionada com a idade, um forte preconceito e discriminação contra pessoas idosas. É considerado como o terceiro grande “ismo” após o racismo e o sexismo, no entanto, diferindo destes, pois, qualquer pessoa pode ser atingida por ele ao longo de sua vida, se atingir a velhice. O ageísmo está presente na sociedade de modo inconsciente, implícito, sem intenção de prejudicar o seu alvo, diferentemente de outros tipos de discriminação, como racial, religiosa, étnica, etc. 
Os autores comentam ainda que existem diversas formas de manifestação do ageísmo, como o tratamento infantilizado e paternalista com que o idoso é tratado, com um discurso simplificado, fala vagarosa, de pouca qualidade, que tem impacto significativo na autoestima, na identidade, nas habilidades lingüísticas e em sua percepção de autoeficácia. O ageísmo também é percebido no mau atendimento no sistema de saúde, em situações de maus tratos físicos, psicológicos e financeiros contra o idoso. Principalmente nas relações interpessoais o ageísmo pode ser mais prejudicial, pois, a forma como é visto e tratado pelo outro afeta significativamente sua autopercepção e seu sentimento de segurança, avaliando-se pejorativamente como velho (COUTO, KOLLER & NOVO, 2006). É curioso e paradoxal a maneira como a sociedade atua em relação ao envelhecimento, pois, por um lado utiliza-se de toda a tecnologia para promover uma longevidade maior ao ser humano e, por outro lado não encontra um espaço para inserir o produto resultante desta tecnologia, o idoso, que permanece restrito a uma condição de menor valia social, econômica e cultural. 
 Diante do exposto, pode-se considerar então o ageísmo como fator de risco por abranger situações que minam a autoestima do idoso, comprometendo sua qualidade de vida, autoeficácia e impedindo que este tenha uma postura resiliente perante as transformações naturais ocorridas no processo de envelhecimento.
O idoso num período em que pode ser acometido por doenças, perdas e solidão, passa a envolver-se em menos atividades e sente-se sem motivação para continuarrealizando aquelas para as quais já está adaptado. Ele passa a perceber-se então menos eficaz. Neste sentido Couto, Koller & Novo, citando Bandura, comentam que:
O julgamento que o individuo faz das suas capacidades para a realização de tarefas em diferentes domínios (cognitivo, comportamental, etc.) foi definido por Bandura (1997) como auto-eficácia, indicando que o funcionamento efetivo requer não só competências, mas crenças de sucesso e superação. Um baixo senso de auto-eficácia leva à auto-avaliação negativa que afeta o funcionamento cognitivo e comportamental das pessoas (COUTO, KOLLER & NOVO, 2006, p. 319). 
A ausência do sentimento de auto-eficácia no idoso pode vir a representar um fator de risco na superação das adversidades para a manutenção de uma vida saudável. Entende-se por fatores de risco eventos de vida negativos, os quais potencializam resultados disfuncionais de ordem física, social e/ou emocional e incrementam a probabilidade dos indivíduos virem a sofrer de perturbações psicológicas. A maneira como o indivíduo atribui significado a uma situação ou evento, sua visão subjetiva, pode determinar que o mesmo se configure ou não como um fator de risco. Por outro lado se o sentimento de autoeficácia está presente no idoso, este torna-se um fator de proteção. Portanto, da mesma forma que os fatores de risco são determinados pela subjetividade do individuo, também os mecanismos protetores sofrem sua influência e só atuam mediante a presença de um fator de risco.
Segundo Masten e Garmezy (apud, COUTO, KOLLER & NOVO, 2006) foram identificadas três classes principais de fatores de proteção: autoestima, coesão familiar e ausência de conflitos e a disponibilidade de redes de apoio social que encorajem o individuo a lidar com as adversidades efetivamente. Neste sentido Ruther (1987) comenta que, 
Os mecanismos protetores reduzem o impacto do risco através da alteração do seu significado ou do perigo considerado pelo indivíduo. Da mesma forma, a redução ocorre pela alteração da exposição ou do envolvimento do individuo com o risco, pela redução das reações negativas decorrentes da exposição a ele, pela manutenção de auto-estima e auto-eficácia e, ainda, pela criação de oportunidades para reversão dos efeitos do estresse (apud, COUTO, KOLLER & NOVO, 2006, p.326).
Foi observado num trabalho de terapia em grupo realizado com idosos, que este, como integrante da rede social de apoio, poderia ser utilizado como recurso para fomentar a autoestima, autoeficácia e, consequentemente, a resiliência dos idosos, possibilitando a estes uma melhor adaptação na vida e uma maior capacidade de enfrentamento e superação das adversidades. 
A resiliência pode ser compreendida como o manter-se bem, recuperar-se ou mesmo ser bem sucedido frente às adversidades da vida. Diz respeito às variações individuais, num sentido positivo, em resposta ao risco. Não se trata de um atributo fixo, pois, o mesmo indivíduo pode agir de formas diferentes a um mesmo evento estressor em momentos diferentes de sua vida (COUTO, KOLLER & NOVO, 2006).
Em 2009, na Assistência Médica e Hospitalar São Lucas, em Lins/SP, em um projeto de prevenção secundária em saúde denominado Preventiva São Lucas, foi realizado pelas estagiárias do segundo ano de Psicologia do UNISALESIANO de Lins/SP, um trabalho de terapia em grupo para os idosos conveniados da instituição. Foram utilizadas como recurso terapêutico atividades relacionadas ao Gerontodrama. 
O termo Gerontodrama foi criado por Elizabeth Maria Sene Costa, médica psiquiatra e psicodramatista. Adaptado do Psicodrama, técnica criada por Jacob Levy Moreno para o tratamento do individuo e do grupo através da ação dramática, foi definido como técnica de atendimento grupal para a terceira idade. (COSTA, 1998; GONÇALVES, WOLLF& ALMEIDA, 1988). 
Foram realizadas trinta e seis sessões que aconteceram em duas etapas, no 1º e 2º semestres, respectivamente, em que, através de dinâmicas de grupo, procurou-se trabalhar a autoestima, autoeficácia, espontaneidade e perda de papéis ocorridos no processo do envelhecimento e o ageísmo. Os encontros eram realizados semanalmente, com uma hora de duração, para atender a demanda de encaminhamento realizado pelos médicos da instituição para o trabalho psicoterápico em grupo, denominado de Oficina do Conhecimento. A Oficina do Conhecimento já integrava anteriormente o conjunto de atividades oferecidas pela instituição, porém, sua proposta de trabalho possuía um caráter informativo, através da realização de palestras. 
Em 2009 houve uma reestruturação na equipe profissional (supervisora e estagiárias), modificando-se a proposta de trabalho para a de grupos terapêuticos com a adoção de nova abordagem psicoterápica, o Gerontodrama. 
No 1º semestre o grupo foi formado a partir de convite, através de contato telefônico, aos integrantes da lista de encaminhamentos. Não foram realizadas entrevistas iniciais para seleção e triagem dos participantes, sendo que o primeiro contato pessoal deu-se somente na primeira sessão. O grupo era composto inicialmente por 20 participantes, participaram da primeira sessão 14, que demonstraram timidez e apreensão inicial. A psicóloga supervisora recepcionou os integrantes, apresentou a equipe e explicou a proposta de trabalho, garantiu o sigilo profissional e enfatizou a necessidade do sigilo entre os integrantes do grupo. Foi constatada na ocasião a presença de cônjuges no grupo, o que poderia comprometer a proposta de trabalho terapêutico. Porém nenhuma medida foi tomada pela equipe, pois, a participação no grupo era uma exigência da instituição, que desconhecia na ocasião a nova proposta de trabalho e suas peculiaridades. 
Neste período a participação das estagiárias se restringiu somente à observação e a elaboração dos relatórios das sessões. O manejo do grupo foi conduzido somente pela psicóloga supervisora, porém, eram realizadas semanalmente reuniões da equipe para discussão e troca de impressões sobre o grupo, bem como orientações sobre as técnicas do Gerontodrama que eram devidamente transmitidas às estagiárias, para futura atuação nos grupos. As atividades realizadas nas sessões não seguiram neste semestre um roteiro fixo e previamente estabelecido. As dinâmicas foram escolhidas de acordo com as demandas dos participantes e do desenrolar do processo grupal. Elas procuravam estimular a percepção, de si e do outro, a reflexão sobre seus conflitos, dificuldades e limites, a inversão de papéis, a troca de experiências e a interação grupal. As sessões dividiam-se em etapas, de aquecimento, que poderia ser específico e/ou inespecífico, dinâmica principal, comentários e fechamento, de acordo com as técnicas do Gerontodrama. Foram observadas várias dificuldades de adaptação dos participantes ao trabalho em grupo, como a resistência e, às vezes, a recusa à realização das atividades propostas. Também no processo de reconhecimento pessoal, no relacionamento interpessoal e no não comprometimento dos participantes ao trabalho grupal, expresso na oscilação da freqüência nas sessões e também na desistência de alguns participantes. 
Com o avanço das sessões e o encadeamento das dinâmicas foi possível perceber que as dificuldades foram sendo superadas e que o grupo passou a responder positivamente a proposta, demonstrando modificações significativas em suas condutas individuais e no relacionamento em grupo. Na última sessão foi constatado que o grupo estava reduzido a metade do grupo inicial, ou seja, estavam presentes sete participantes. Foi solicitada pela psicóloga uma avaliação do grupo sobre o trabalho realizado no semestre e os relatos colhidos comprovaram a percepção de melhora significativa nos participantes. Todos relataram que as reuniões possibilitaram a troca de experiências, bem estar, felicidade, distração, alívio para seus problemas, pois, disseram: “puderam perceber que todos enfrentam dificuldades na vida“ (sic). Relataram também melhora do humor e da qualidade de vida, que puderam fazernovas amizades, sentindo-se valorizados pelas pessoas. Em relação ao trabalho grupal Carvalho & Coelho comentam, 
Cada história de vida, cada experiência compartilhada, cada fala produz efeitos sobre as falas dos outros participantes. Mais do que fazer falar, é preciso dar sentido ao sofrimento psíquico, abrindo-se novas possibilidades de subjetivação a partir do diagnóstico. (...) Com isso, o trabalho grupal parece reavivar o investimento de cada participante em suas habilidades pessoais, bem como em aspectos de sua vida, para que esta seja melhor vivida. (CARVALHO & COELHO, 2006, p. 253). 
Após um breve recesso iniciou-se a formação de um novo grupo para o 2º semestre, seguindo o mesmo sistema anterior, ou seja, convite através de contato telefônico, sem entrevista inicial, de acordo com a lista de encaminhamento fornecida pela instituição. O grupo foi composto com novos integrantes e alguns remanescentes do semestre anterior, que permaneceram por vontade própria. 
 Foi elaborado pelas estagiárias um roteiro prévio das dinâmicas que seriam trabalhados no semestre, porém, sujeito a alterações de acordo com a evolução do grupo. Para tanto seguiu-se, por orientação da supervisora, a Matriz de Identidade de Moreno. Sobre ela, Yozo comenta,
A Matriz de Identidade, segundo Moreno, “é a placenta social da criança, o lócus em que ela mergulha suas raízes”. Na evolução da criança, a Matriz está ligada aos processos fisiológicos, psicológicos e sociais, refletindo a herança cultural na qual está inserida, que a prepara para a sociedade, ou seja, é o primeiro processo de aprendizado emocional da criança (YOZO, 1996, p. 25).
Na Matriz de Identidade destacam-se três fases, sendo elas: 1º fase – Identidade do EU (Duplo), momento de indiferenciação, em que a mãe atua como se fosse o duplo da criança; 2º fase – Reconhecimento do EU (Espelho), momento de diferenciação onde ocorre a percepção da criança separada dos outros, em que a mãe atua como espelho ; 3º fase – Reconhecimento do Tu (Inversão de Papéis), em que o reconhecimento de si mesmo garante o reconhecimento do outro e a possibilidade da criança de colocar-se no lugar de sua mãe (YOZO, 1996).
YOZO (1996) comenta que para os Jogos Dramáticos segue-se o mesmo processo evolutivo da Matriz de Identidade de Moreno. É dividida em quatro momentos básicos, de acordo com o desenrolar do trabalho grupal. O 1º momento trabalha a relação EU-COMIGO (Identidade do Eu); o 2º momento a relação EU-OUTRO (Reconhecimento do Eu); o 3º momento a relação EU COM O OUTRO (Reconhecimento do Tu); o 4º momento a relação EU COM TODOS (Identidade e Coesão Grupal). 
O roteiro de atividades elaborado foi construído para trabalhar a relação EU-EU, EU-TU, EU-ELE, sendo que na última fase trabalhou-se, conjuntamente, o Reconhecimento do Tu, a Identidade e a Coesão Grupal, com dinâmicas voltadas para esta finalidade, totalizando 18 sessões que seriam realizadas no semestre. 
As sessões passaram a ser conduzidas pelas estagiárias, com o acompanhamento da supervisora, que dividiam as funções de diretor e ego-auxiliar, alternadamente, permanecendo responsáveis pela elaboração dos respectivos relatórios. Nas supervisões semanais eram discutidos os resultados obtidos nas sessões, as situações que emergiram e seu manejo e o aproveitamento do grupo nas atividades realizadas. Em especial era avaliado o desempenho das estagiárias na condução do grupo, onde tinham a liberdade para relatar suas dificuldades e percepções e também refletir sobre sua própria atuação. A supervisora manifestava suas impressões, orientando as estagiárias para as próximas sessões. As supervisões também eram um espaço de estudo teórico sobre psicoterapia grupal. 
Durante as sessões foi percebida, pelas estagiárias, uma maior facilidade do grupo em executar as atividades propostas, bem como apreender o objetivo das mesmas, demonstrada em seus relatos e em sua postura, individual e grupal. Pode-se pensar que tal fato se deu pela diminuição das conservas culturais presentes nos integrantes no início das atividades do grupo, no 1º semestre, pois, a maioria dos participantes era remanescente do grupo inicial. Sobre as conservas culturais, Costa(1998) comenta que:
(...) a criança é espontânea e criativa nos seus atos, isto decorre não somente do fator “e” (fator espontaneidade), mas também de sua menor absorção às conservas. (...) Quando ele se torna adulto, sua espontaneidade vai decaindo (...) e as conservas culturais vão, por sua vez, tomando vulto cada vez maior. Assim, quando o velho é estimulado, suas respostas vêm dotadas, geralmente, de inespontaneidade, porque as conservas não permitem resposta diferente daquela até então bastante conhecida (COSTA, 1998, p. 112). 
Nesses remanescentes, especialmente, foi significativa a mudança observada, certamente pela confiança já estabelecida com a equipe profissional, pela cumplicidade e afinidade já adquirida. Por encontrar também um espaço de acolhimento e livre manifestação, onde não seriam censurados e tratados pejorativamente, onde poderiam compartilhar experiências de vida semelhantes e dar a elas um outro significado. O que sugere um aumento no grau de espontaneidade nos participantes. 
Sobre o trabalho terapêutico com o idoso Costa (1998) esclarece que, com o tempo, a permissibilidade do terapeuta exercendo a função de deliberante da sociedade, o que Moreno define como “iniciador social” e, a capacidade para compreender que pode reconquistar seu referencial espontâneo perdido em algum ponto da existência, o idoso consegue liberar ou recuperar sua espontaneidade. 
Para reforçar a idéia da autora, citamos o caso de L., uma das integrantes remanescentes, na qual foi constatada a emergência de sua espontaneidade à medida que foi evoluindo no processo terapêutico e, consequentemente, sua mudança significativa de conduta. L. integrou o grupo no 1º semestre acompanhada do cônjuge e manifestava uma conduta extremamente reservada e conservadora. Seus relatos demonstravam uma vida pautada em valores rígidos recebidos em sua educação, aplicados na vida conjugal e repassados aos filhos: “me sinto realizada na educação rígida que dei aos meus filhos, eles nunca me desacataram e nunca me fizeram passar vergonha” (sic). Porém, nas sessões emergiram situações conflituosas do casal, questões relacionadas a problemas com os filhos e uma evidente discordância entre eles, nestes aspectos. Devido à suas conservas e a presença do marido no grupo, L. não conseguia expressar-se de forma a aliviar suas angústias e usufruir melhor do trabalho terapêutico, nem tampouco resgatar a espontaneidade camuflada em sua rígida postura. 
Entretanto no 2º semestre, L. manifestou uma significativa mudança em sua conduta, constatada logo na segunda sessão. Nesta ocasião permitiu o desabafo, o choro, a exposição de seus conflitos, de sua fragilidade e impotência, passando a partir de então, a expressar-se de forma mais espontânea no grupo. Sua participação tornou-se mais aberta e dinâmica nas atividades, suas reflexões mais críticas, menos desapegadas de seus rígidos valores e mais questionadoras em relação aos seus conflitos e condutas com o marido e os filhos. 
É relevante também destacar que, por vontade própria, o marido de L. desistiu de participar das sessões no 2º semestre. Este fato contribuiu para sua mudança, pois, sua presença no grupo também reafirmava suas conservas culturais e impedia sua liberdade de expressão. 
Conclui-se a partir deste trabalho realizado com os idosos que as conservas culturais e o ageísmo, podendo este ser considerado como parte destas conservas, configuram-se como fatores de risco. Por outro lado, o processo de resgate da espontaneidade na terapia grupal, adquire caráter de fator de proteção e, consequentemente, fomentador de resiliência. 
No início do trabalho foram percebidos nos integrantes do grupo, de modo geral, sentimentos de inferioridade, baixa autoestima e comportamentos depressivos advindos de conflitos familiares e da visãopreconceituosa da sociedade sobre a velhice. Na medida em que as atividades foram sendo desenvolvidas nas sessões, constatou-se a evolução do grupo para uma postura mais resiliente, o que confirma a hipótese levantada no início deste trabalho, da importância do trabalho de terapia em grupo como integrante da rede social de apoio para a promoção de resiliência dos idosos, proporcionando a estes a superação de suas adversidades, uma melhor adaptação e qualidade de vida. 
Este trabalho mantém-se com os mesmos objetivos em 2010, porém, com algumas alterações estruturais para garantia de resultados ainda melhores do que os já alcançados.
REFERÊNCIAS
COSTA, E., M., S., Gerontodrama: A Velhice em Cena. São Paulo: Ágora, 1998, 170 p. 
FALCÃO, D., V., S. & DIAS, C., M., S., B. Maturidade e Velhice: Pesquisas e Intervenções Psicológicas Vol. I e II. Itatiba: Casapsi Livraria, 2006, 450 p.
GONÇALVES, C., S., WOLLFF, J., R. & ALMEIDA, W., C. Lições de Psicodrama: Introdução ao Pensamento de J. L. Moreno. São Paulo: Ágora, 1988, 110 p. 
YOZO, R., Y. K. 100 Jogos Para Grupos. São Paulo: Ágora, 1998, 191 p.

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