Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROCESSO PENAL Prof. Nidal Ahmad OAB 2ª Fase 22 2.7.2) LIBERDADE PROVISÓRIA I) CONSIDERAÇÕES GERAIS Entende-se por liberdade provisória o instituto destinado a conferir ao acusado o direito de responder ao processo em liberdade, mediante o cumprimento ou não de determinadas condições. Nas palavras de Avena, com o advento da Lei 11.719/2008, modificada a redação do art. 408 (que restou substituído pelo atual art. 413) e revogado o art. 594, ficou o instituto da liberdade provisória limitado à prisão em flagrante.7 Esse também é o entendimento de Nucci8, segundo o qual “a liberdade provisória, com ou sem fiança, é um instituto compatível com a prisão em flagrante, mas não com a prisão preventiva ou temporária. Nessas duas últimas hipóteses, vislumbrando não mais estarem presentes os requisitos que a determinam, o melhor a fazer é revogar a custódia cautelar, mas não colocar o réu em liberdade provisória, que implica sempre o respeito a determinadas condições”. A liberdade provisória está prevista no artigo 310, inciso III, do CPP, segundo o qual ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz poderá, fundamentadamente, conceder a liberdade provisória, com ou sem fiança. Está prevista ainda no art. 5º, LXVI, da CF/88, ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. Além disso, o artigo 321 do CPP dispõe que, ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP e observados os critérios constantes do art. 282 do CPP. Segundo Lopes Júnior, a liberdade provisória é disposta como uma medida cautelar (na verdade, uma contracautela), alternativa à prisão preventiva, nos termos do art. 310, III, do CPP. No sistema brasileiro, situa-se após a prisão em flagrante e antes da prisão preventiva, como medida impeditiva da prisão cautelar [...] É a liberdade provisória uma forma de evitar que o agente preso em flagrante tenha sua detenção convertida em preventiva.9 II) BASE LEGAL 77 AVENA, Norberto. Processo Penal Esquematizado. São Paulo: Método. 2013. p. 973. 88 NUCCI, Guilherme Souza. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: RT. 2016, p. 785. 9 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 9ª ed. São Paulo: Saraiva. 2016, p. 703. BASE LEGAL: art. 310, inciso III, CPP, art. 321 do CPP e art. 5º, LXVI da CF/88 PROCESSO PENAL Prof. Nidal Ahmad OAB 2ª Fase 23 PEÇA: LIBERDADE PROVISÓRIA PALAVRA MÁGICA: PRISÃO FLAGRANTE LEGAL LIB CA: NTE PAROU! PEDIU PRA PARAR III) IDENTIFICAÇÃO Cabe pedido de liberdade provisória nas hipóteses de prisão flagrante legal. IV) CONTEÚDO Se a prisão em flagrante se revestir de legalidade, pode o magistrado conceder a liberdade provisória sem nenhuma restrição, ou, ao contrário, impor ao agente a prestação de fiança e/ou outra medida cautelar diversa da prisão. Nos crimes afiançáveis, ausentes os requisitos que autorizam a prisão preventiva, é possível a concessão da liberdade provisória com fiança. Convém registrar, por pertinente, que há crimes inafiançáveis, tais como os crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo, crimes hediondos, bem como crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. É o que se extrai do artigo 323 do CPP e art. 5º, XLII e XLIII, CF/88. Nesses casos, se ausentes os requisitos da prisão preventiva, será possível a concessão da liberdade provisória vinculada a fixação de uma medida cautelar diversa da prisão, salvo a fiança. Eis as hipóteses de liberdade provisória sem fiança: A) AUSÊNCIA DOS FUNDAMENTOS DA PRISÃO PREVENTIVA (ART. 321 DO CPP) Nos termos do artigo 321 do CPP, ausentes os requisitos da prisão preventiva, o juiz deverá conceder a liberdade provisória, sendo-lhe facultado, com a observância dos critérios da necessidade e da adequação previstos no art. 282 do CPP, exigir a prestação de fiança com a finalidade de assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial, bem como aplicar outras medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do CPP. PROCESSO PENAL Prof. Nidal Ahmad OAB 2ª Fase 24 Se o crime for inafiançável racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo, crimes hediondos, bem como crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. É o que se extrai do artigo 323 do CPP e art. 5º, XLII e XLIII, CF/88, busca-se a liberdade provisória, com pedido subsidiário de fixação de medida cautelar diversa da prisão. B) QUANDO HOUVER INDICATIVOS DE QUE O AGENTE PRATICOU A INFRAÇÃO PENAL ABRIGADO POR EXCLUDENTES DE ILICITUDE (ART. 310, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPP) Trata-se da hipótese em que os elementos constantes no auto de prisão em flagrante indicam ter o agente praticado o fato em situação de legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito ou estrito cumprimento do dever legal. Nesses casos, deverá o juiz conceder a liberdade provisória ao agente, independentemente se o fato praticado caracteriza delito afiançável ou inafiançável. Embora não esteja previsto no artigo 310, parágrafo único, do CPP, parte da doutrina entende possível a concessão da liberdade provisória nas hipóteses de excludente de culpabilidade (embriaguez acidental completa, coação moral irresistível, erro de proibição, etc), uma vez que, ao final, o agente não será privado de liberdade. QUESTÃO 4 – XXIV EXAME10 Pablo, que possui quatro condenações pela prática de crimes com violência ou grave ameaça à pessoa, estava no quintal de sua residência brincando com seu filho, quando ingressa em seu terreno um cachorro sem coleira. O animal adota um comportamento agressivo e começa a tentar atacar a criança de 05 anos, que brincava no quintal com o pai. Diante disso, Pablo pega um pedaço de pau que estava no chão e 10 Ao exigir expressamente a medida para evitar a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, fica evidente que a banca examinadora direcionou o candidato a responder que o pedido cabível seria de liberdade provisória. Além disso, o fato narrado se enquadra na hipótese de estado de necessidade, causa excludente de ilicitude, ensejando, por isso, liberdade provisória, nos termos do artigo 310, parágrafo único, do CPP. Logo, considerando as informações que constam no enunciado, considera-se correto o pedido de liberdade provisória, como consta no padrão de resposta. Todavia, o crime previsto no artigo 32 da Lei 9605/98 é de menor potencial ofensivo. Nos termos do artigo 69, parágrafo único, da Lei 9099/95, tratando-se de infração de menor potencial ofensivo, não deverá ser efetuada a lavratura do auto de prisão em flagrante se o agente comparecer imediatamente ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, sob pena de ilegalidade, com o consequente relaxamento da prisão. De outro lado, se o agente se recusar a comparecer imediatamente ao Juizado ou a assumir o compromisso de a ele comparecer, será possível a autoridade policial proceder à lavratura da prisão em flagrante. Nesse caso, a medida cabível para a soltura do acusado seria a liberdade provisória. E aqui reside a segunda impropriedade da questão, já que o enunciado não esclarece se o acusado se negouou não a comparecer imediatamente ao Juizado ou que não assumiu o compromisso de a ele comparecer. Diante da omissão dessa informação e também como forma de privilegiar o conhecimento demonstrado pelo candidato acerca do assunto, entendemos que a FGV deveria também considerar como correta a resposta do candidato que mencionou como medida cabível o relaxamento de prisão, com base no artigo 310, I, do CPP.” PROCESSO PENAL Prof. Nidal Ahmad OAB 2ª Fase 25 desfere forte golpe na cabeça no cachorro, vindo o animal a falecer. No momento seguinte, chega ao local o dono do cachorro, que, inconformado com a morte deste, chama a polícia, que realiza a prisão em flagrante de Pablo pela prática do crime do Art. 32 da Lei nº 9.605/98. Os fatos acima descritos são integralmente confirmados no inquérito pelas testemunhas. Considerando que Pablo é multirreincidente na prática de crimes graves, o Ministério Público se manifesta pela conversão do flagrante em preventiva, afirmando o risco à ordem pública pela reiteração delitiva. Considerando as informações narradas, na condição de advogado(a) de Pablo, que deverá se manifestar antes da decisão do magistrado quanto ao requerimento do Ministério Público, responda aos itens a seguir. A) Qual pedido deverá ser formulado pela defesa de Pablo para evitar o acolhimento da manifestação pela conversão da prisão em flagrante em preventiva? Justifique. (Valor: 0,60) B) Sendo oferecida denúncia, qual argumento de direito material poderá ser apresentado em busca da absolvição de Pablo? Justifique. (Valor: 0,65) C) QUANDO, EMBORA AFIANÇÁVEL O CRIME, NÃO POSSUI O FLAGRADO CONDIÇÕES ECONÔMICAS PARA PEGAR A FIANÇA (ART. 350 DO CPP) V) LIBERDADE PROVISÓRIA X TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES A jurisprudência e a doutrina oscilavam em relação ao artigo 44 da Lei 11.343/2006, que veda a concessão de liberdade provisória no crime de tráfico ilícito de entorpecentes. Todavia, o STF, no julgamento do HC 104.339/SP, considerou inconstitucional o disposto no artigo 44 da Lei 11.343/2006 também na parte que veda a concessão da liberdade provisória, sob o fundamento de que o dispositivo viola o princípio da presunção da inocência e da dignidade da pessoa humana, bem como que a Lei 11.464/2007, ao excluir dos crimes hediondos e equiparados a vedação à liberdade provisória, sendo posterior à Lei de Drogas, revogou, tacitamente, o artigo 44 desta Lei, que proibia o benefício ao crime de tráfico de drogas. Assim, é possível conceder a liberdade provisória ao agente preso em flagrante pelo delito de tráfico ilícito de entorpecentes, desde que ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva. Inconstitucionalidade do artigo 44 da Lei n. 11.343/2006 na parte que veda a concessão da liberdade provisória Ofensa ao princípio da presunção da inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, da CF/88. Ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso III, da CF/88. 25Ofensa ao princípio do devido processo legal, previsto no artigo 5º, inciso LIV, da CF/88. PROCESSO PENAL Prof. Nidal Ahmad OAB 2ª Fase 26 QUESTÃO 4 - XVI EXAME Wesley, estudante, foi preso em flagrante no dia 03 de março de 2015 porque conduzia um veículo automotor que sabia ser produto de crime pretérito registrado em Delegacia da área em que residia. Na data dos fatos, Wesley tinha 20 anos, era primário, mas existia um processo criminal em curso em seu desfavor, pela suposta prática de um crime de furto qualificado. Diante dessa anotação em sua Folha de Antecedentes Criminais, a autoridade policial representou pela conversão da prisão em flagrante em preventiva, afirmando que existiria risco concreto para a ordem pública, pois o indiciado possuía outros envolvimentos com o aparato judicial. Você, como advogado(a) indicado por Wesley, é comunicado da ocorrência da prisão em flagrante, além de tomar conhecimento da representação formulada pelo Delegado. Da mesma forma, o comunicado de prisão já foi encaminhado para o Ministério Público e para o magistrado, sendo todas as legalidades da prisão em flagrante observadas. Considerando as informações narradas, responda aos itens a seguir. A) Qual a medida processual, diferente de habeas corpus, a ser adotada pela defesa técnica de Wesley? (Valor: 0,50) B) A representação da autoridade policial foi elaborada de modo adequado? (Valor: 0,75) Responda justificadamente, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. ESTRUTURA LIBERDADE PROVISÓRIA A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...VARA CRIMINAL DA COMARCA......(SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL) B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ...VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA.......(SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL) 11 C) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA......(SE CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL) D) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ...VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA......(SE CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL) Autos nº... 7 a 10 linhas Fulano de Tal, nacionalidade..., estado civil..., profissão..., RG nº..., residente e domiciliado..., por seu procurador infra-assinado, com procuração em anexo, vem, 11 Competência da Justiça Federal – Ver art. 109 da CF/88. PROCESSO PENAL Prof. Nidal Ahmad OAB 2ª Fase 27 respeitosamente, à presença de Vossa Excelência requerer a LIBERDADE PROVISÓRIA, com base no art. 310, inciso III, Código de Processo Penal, art. 321 do Código de Processo Penal, e art. 5º, LXVI, da Constituição Federal/88, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos I) DOS FATOS12 II) DO DIREITO13 * Fazer referência, se for o caso, a fiança e/ou medidas cautelares diversas da prisão previstas no artigo 319 e 320 do CPP.14 III) DO PEDIDO Ante o exposto, requer: a) a concessão da LIBERDADE PROVISÓRIA, a fim de que possa responder a eventual processo em liberdade; b) a expedição do respectivo alvará de soltura; c) fixação de fiança15 e/ou medida cautelar diversa da prisão16; d) vista ao Ministério Público. 12 Narrar os fatos, fazendo um breve relato. Não inventar dados. Relatar como ocorreu a prisão. 13 Ausência dos requisitos da prisão preventiva (art. 321 CPP) e/ou hipótese de excludente de ilicitude (art. 310, parágrafo único, CPP), presunção da inocência (art. 5º, LVII, CF/88) 14 Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infraçõespenais; VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica. § 1o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). § 2o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). § 3o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. 15 Se o crime for afiançável. 16 Extrair do enunciado a mais adequada ao caso concreto. PROCESSO PENAL Prof. Nidal Ahmad OAB 2ª Fase 28 Nestes termos, pede deferimento. Local... e data... ADVOGADO... OAB... Em suma: Quando não for caso de conversão da prisão em flagrante em preventiva Formal ou material Ausência dos requisitos preventiva – art. 321 CPP e excludentes ilicitude – art. 310, parágrafo único do CPP Medidas cautelares – art. 319 do CPP FLAGRANTE DELITO PRISÃO LEGAL PRISÃO ILEGAL LIBERDADE PROVISÓRIA Se indeferido, HABEAS CORPUS Se denegado, ROC RELAXAMENTO DA PRISÃO Se indeferido, HABEAS CORPUS Se denegado, ROC
Compartilhar