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METODOLOGIA DA PESQUISA EDUCACIONAL Informações gerais Unidade I Profa. Lucinete Marques Lima A DISCIPLINA Disciplina instrumental - reflexões filosóficas e metodológicas sobre o ato de conhecer e orienta a produção do conhecimento pedagógico (campo de saber especializado); A elaboração da ciência requer: a)-instrumental metodológico (disciplina Metodologia da Pesquisa); b) conceitos e teorias científicas (disciplinas: Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, História da Educação, Política Educacional e outras; c) opções filosófico-epistemológicas (positivismo, fenomenologia, materialismo-dialético e outras). O CONHECIMENTO EDUCACIONAL a sua produção exige um modo de conceber a relação homem e realidade, um rigor lógico (um modo de pensar), com regras e procedimentos para ligar, analisar e demonstrar ideias, fenômenos e/ou fatos empíricos; pressupõe processos metodológicos que incluem vários tipos de pesquisa e recursos técnicos e operacionais; A atividade científica é complexa, exige rigor lógico e metodológico, sistematização e postura ética; A atividade científica é social e histórica, influencia-se por relações econômicas, culturais, políticas, ambientais em diversos espaços e tempos. OBJETIVOS DA DISCIPLINA GERAL: Compreender a articulação dos fundamentos epistemológicos, teóricos e técnico-operacionais na produção do conhecimento científico na área de educação. ESPECÍFICOS: Diferenciar o conhecimento científico de outras formas de conhecer; Compreender a evolução epistemológica das ciências e as especificidades das ciências humanas; Refletir sobre exigências éticas no processo de produção da ciência; Compreender as relações entre pesquisas, métodos e ciências; Relacionar pressupostos epistemológicos da pesquisa empírico-analítica, da fenomenologia e do materialismo dialético com a produção científica da educação; Distinguir diferentes tipos de pesquisa, destacando seus objetivos, tendências metodológicas e recursos técnico-operacionais; Compreender a articulação das etapas processo de pesquisa. ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS Unidade I – Conhecimento humano, ciência e sociedade; Unidade II – Fundamentos filosóficos e epistemológicos da pesquisa educacional; Unidade III – Modalidades de pesquisa educacional; Unidade IV – Técnicas e procedimentos metodológicos de pesquisa científica; Unidade V – O processo de pesquisa científica. UNIDADE I _ Conhecimento humano, ciência e sociedade OBJETIVOS: compreender a relação do homem com o conhecimento no enfrentamento dos desafios da realidade; identificar diferentes modalidades de conhecimento pelas suas características e modos do produção; relacionar correntes de pensamento que influenciaram o desenvolvimento da ciência e seus princípios explicativos do conhecimento humano; explicar as especificidades das ciências humanas e da educação e as implicações metodológicas; refletir sobre questões éticas e políticas da pesquisa científica. O HOMEM E O PROCESSO DE CONHECER Os conhecimentos são produzidos na relação homem/ realidade – com fins de compreender, compartilhar e intervir na natureza e na elaboração cultural. conhecimento é a iluminação intensa da realidade, tornando-a inteligível, transparente, percebida na sua essência e no seu sentido. É “compreensão/explicação sintética produzida pelo sujeito por meio de um esforço metodológico de análise dos elementos da realidade, desvendando a sua lógica, tornando-a inteligível” (Luckesi e Passos (1995, p. 17). Pressupõe um sujeito que conhece, um objeto que é conhecido, um ato de conhecer e um resultado. O HOMEM E O PROCESSO DE CONHECER O conhecimento é mediado pela linguagem que permite a expressão e comunicação de significados, sentidos e valores sociais; A ciência utiliza uma linguagem conceitual na qual as palavras tem um sentido direto e próprio do contexto, operam por análise e síntese e se articulam para demonstrar argumentos, raciocínios e provas (CHAUÍ, 1994). Visão marxista – a origem do conhecimento está na atividade humana sobre a natureza por necessidades vitais – apropria-se de instrumentos, experiências, ideias, produzindo conhecimentos ou cultura. TIPOS DE CONHECIMENTO Mito, religião e senso-comum como formas de conhecer Filosofia como conhecimento racional Conhecimento científico: a inteligibilidade do mundo e questões éticas Mito, religião e senso-comum como forma de conhecer MITO origem grega de mythos, derivada de dois verbos mytheyo (que significa contar e narrar) e mytheo (conversar, anunciar, designar); narrativa pública que explica a origem das coisas, pronunciada por uma pessoa aceita como autoridade ou confiável que teve uma revelação ou testemunhou os eventos. narra a origem do mundo e de sua qualidade do bem ou do mal, por meio de disputas, alianças ou relações sexuais entre forças sobrenaturais dominantes ou entre estas e seres humanos, produzindo privilégios e punições na modelação da vida. Mito, religião e senso-comum como forma de conhecer MITO: crença compartilhada ou representação coletiva, imaginária, não questionada e transmitida pelas gerações, envolvendo personagens sobrenaturais ou extraordinários. narrativa sobrenatural ou simbólica de uma cultura ou religião, influenciada pelas relações de poder existentes, explicando a realidade por meio de deuses ou heróis. O mito fortalece-se com rituais, tais como cerimônias, orações, danças, sacrifícios, etc. descrições ou narrações que organizam e interpretam a realidade, transcendem o senso comum e a racionalidade humana. Eles se relacionam com a linguagem simbólica, expressam e modelam comportamentos, sentimentos e atitudes, são carregados de valores sociais e contribuem para o desenvolvimento individual e coletivo. Mito, religião e senso-comum como forma de conhecer CONHECIMENTO RELIGIOSO - explica a existência humana e as relações com a natureza, o sagrado e a autoridade divina. - o sagrado é uma experiência simbólica do homem com um ser superior do bem ou do mal que distingue o natural e o sobrenatural. - é doutrinário (sustenta-se em proposições sagradas), valorativo, inspiracional, sistemático, não verificável, teológico, infalível, indiscutível, revelado e validado por uma atitude de fé. Mito, religião e senso-comum como forma de conhecer SENSO-COMUM - saberes espontâneos com base nas experiências e observações pessoais, a exemplo de crenças, opiniões, modos de proceder, conhecimento prático, costumes e hábitos. são acessíveis pela intuição (percepção imediata), socializam-se pela tradição e autoridade e estão presentes nas relações sociais atuais. subjetivo, qualitativo, heterogêneo, individualizador e, ao mesmo tempo, generalizador, mágico, expressa medo e angústia, valoriza o extraordinário e não a regularidade e estabelece relações de causa e efeito. Mito, religião e senso-comum como forma de conhecer SENSO-COMUM compreensão assistemática da realidade, às vezes sem fundamento ou justificação, fragmentário e sem esforço metodológico de busca de coerência, consistência e organicidade, experiencial (ligado à prática utilitária e imediata), superficial (baseado na aparência). o senso comum é um modo de conhecer o funcionamento do mundo pela experiência (relação direta ou empírica com o objeto) e intuição sensível (percepção imediata sem necessidade de intervenção do raciocínio, uma compreensão primeira que vem à mente, em exigência de provas ou demonstrações), fazendo generalização apressada a partir de observações superficiais singulares. Uma parte do senso-comum tem bom senso. Mito, religião e senso-comum como forma de conhecer SENSO-COMUM – Gramsci (19780 tem um valor ético-político , porque inclui os conhecimentos aceitos e compartilhados por um grupo ou classe social como direção moral e intelectual das práticas sociais, criando um consenso sobre uma concepção de mundo e a conformidade social. as visões de mundo das classes subalternas são heterogêneas, incoerentes e com fragmentos de conhecimentos diversos, impedindo uma consciência crítica das condições objetivas de vida e das possibilidades de ação transformadora. CONHECIMENTO FILOSÓFICO a filosofia define-se como uma concepção de mundo, uma busca racional de sentido e fundamento da realidade ou uma fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e práticas conhecimento radical, racional, rigoroso, globalizante, de conjunto, coerente, valorativo, teórico, sistemático, demonstrável e crítico-reflexivo. Concepção de mundo não é suficiente é preciso destacar a qualidade – senso comum (fragmentada, acrítica) e filosofia (orgânica, crítica e intencional); Filosofia é conhecimento histórico, racional e contextualizado (político, social, cultural e econômico). Conhecimento Filosófico FILOSOFIA – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CRÍTICA DO PENSAR E AGIR enfatiza-se os princípios do conhecimento racional e os valores sociais, a apropriação do conhecimento na consciência na relação homem/mundo e o significado das ideias na vida humana; Filosofia é análise, reflexão e crítica na busca de sentidos da realidade e da existência humana. História do Conhecimento Filosófico Surge na Grécia – a partir sec, V a. C – como conhecimento racional para explicar o mundo e a vida com base num princípio lógico – problematiza e demonstra a explicação por meio de argumentos – modo metafísico de pensar (busca a essência das coisas pela razão); Esse modo de pensar tem continuidade até o século XIV d. C; Contribuições da filosofia grega – ideias de que a natureza orienta-se por leis e princípios universais que são conhecidas pelo pensamento lógico (submetido a leis); Crítica – as ações humanas orientam-se pela racionalidade ou emoções ao dar sentido a vida. O DESENVOLVIMENTO DA FILOSOFIA Sec. XV a XVII – Renascimento, Reforma e Contra-Reforma favorecem a Filosofia e a Ciência; Surgem academias leigas, discute-se separação fé e razão, valoriza-se a natureza e o homem como objeto da reflexão filosófica; ocorrem transformações econômicas (declínio do feudalismo, mercantilismo e colonialismo), estimula-se tecnologias, inventos para aumentar o poder humano de manipular e controlar a natureza – forma-se as bases do capitalismo; Não há nítida separação entre filosofia e ciência; Surgem três movimentos filosóficos relevantes para a filosofia e ciência moderna – cartesianismo (Descartes; empirismo (Locke, Berkeley e Hume) e iluminismo (Kant). CARTESIANISMO ( Descartes, sec. XVII) O exercício da razão valoriza o sujeito do conhecimento – método era um percurso pessoal na condução da razão (essência humana, inata) para a busca de entendimento das questões que se colocavam nas relações com o mundo; sugere que o processo metodológico da razão (ou bom senso) é traçado pelo sujeito do conhecimento em condições determinadas; o sujeito coloca em dúvida os saberes aceitos e seus critérios de validade e sustenta a verdade em bases mais firmes, submetendo-a a autocrítica - a verdade é apreendida por intuição intelectual, mediante evidências racionais no próprio ato de reflexão. CARTESIANISMO ( Descartes – 4 preceitos do Método 1º - jamais acolher alguma coisa como verdadeira que não conheça evidentemente como tal, evitando a precipitação e a prevenção; que não se inclua no pensamento algo que não se apresente claro e distinto e passível de dúvidas. 2º - dividir cada dificuldade que se examine em tantas parcelas possíveis e necessárias para melhor resolvê-las. 3º - conduzir por ordem os pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros. 4º - fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, buscando a certeza de nada omitir. (DESCARTES, 1973, p. 45-46). CARTESIANISMO ( Descartes ) defende a dúvida metódica, valoriza as ideias inatas e propõe a análise/demonstração das evidências racionais, a gradualidade e ordenação do ato de conhecer, bem como atualizações e revisões do conhecimento, por meio da reflexão filosófica. a ciência é representação intelectual e racional que demonstra a natureza, as propriedades e a causalidade do objeto que se conhece por meio do raciocínio lógico-dedutivo. Assim, desenvolveram-se as ciências formais (Lógica e Matemática). EMPIRISMO (Locke, Berkeley e Hume, sec. XVI A XVIII) negava o inatismo e defendia que as ideias se desenvolviam a partir das impressões sensíveis, decorrentes da experiência dos órgãos dos sentidos. fez a crítica à busca da essência das coisas e da verdade absoluta, bem como ao pensamento metafísico; o foco da investigação voltou-se para os fenômenos (realidade externa ao sujeito), na forma em que são percebidos pela consciência, tornando-se representações do mundo real. os empiristas defenderam que o conhecimento humano provém da experiência com o mundo externo, uma vez que nada estaria no pensamento que não passasse pelos órgãos do sentido. ILUMINISMO (KANT – sec. XVIII) O iluminismo ou século das luzes, tentou integrar as contribuições do cartesianismo e do empirismo; Preocupou-se com as condições mobilizadoras do conhecimento e valorizou a relação entre razão teórica e a razão empírica; Kant entendeu que o processo de conhecimento envolvia a sensibilidade, o entendimento e a razão (SEVERINO, 1994). ILUMINISMO - KANT Sensibilidade - capacidade humana de ter experiência, percepção ou intuição sensível, por meio de estruturas inatas ou à priori, ou seja, o espaço e o tempo. Espaço - forma de experiência externa que organiza as impressões sensíveis do objeto. Por exemplo, percebem-se as coisas com uma imagem, altura, largura e posições. Tempo - a duração da totalidade das vivências e percepções internas/externas - percebe as coisas como realidades temporais, de forma simultânea (instantânea) ou sucessivas (experiência do passado, presente e futuro). Essas estruturas inatas (espaço e tempo) permitem que o objeto seja percebido como intuição sensível (conhecimento direto e imediato das qualidades sensíveis do objeto externo) que vai ser submetida à outra faculdade humana (entendimento). ILUMINISMO - KANT O pensamento kantiano foi fundamental para o desenvolvimento da ciência na modernidade, estimulou o surgimento de outras correntes filosóficas: idealismo dialético (Hegel); positivismo (Comte); marxismo (Marx); fenomenologia (Husserl, Merleau-Ponty, Ricoeur e outros), etc. CIÊNCIA – sec. XIX Ciência - explicação ou representação fiel da realidade - princípios do novo método experimental, centrado na observação dos fatos, na experiência e no raciocínio lógico-matemático. Predominou o mito da ciência neutra, autônoma, objetiva e do método único (experimental). Pretende romper com as explicações do mundo pelo mito e pela metafísica, mas se tornou um novo mito, legitimado com o discurso da neutralidade (isenção política), da objetividade e da promoção do bem comum e da redistribuição das riquezas, deslocado dos contextos histórico-sociais concretos. O mito da objetividade relaciona-se ao objeto que se conhece e se reproduz tal como é no pensamento. O cientista é neutro, contempla e registra pelo ideal de fazer ciência, não interferindo com suas aspirações, conhecimentos, valores e interesses. Também, o conhecimento científico seria reproduzido por outros cientistas em diferentes tempos e espaços para comprovar a sua fidedignidade e validade. CIÊNCIA Conhecimento objetivo, racional, sistemático, factual, analítico, verificável, explicativo, metódico, preditivo, comunicável, quantitativo, buscaria leis gerais e submeter-se-ia a revisões. Racional porque faz uso de raciocínios lógicos que articulam conceitos, teorias e juízos com dados empíricos, sem contradição internas nas explicações da realidade. Factual, sistemático e geral porque se sustenta na observação dos fatos, organiza as explicações parciais (conceitos e enunciados) e estas são intermediárias da elaboração ou revisão de sistemas mais gerais, ou seja, leis e teorias científicas. CIÊNCIA A pesquisa produziria ciência pura pela curiosidade humana de conhecer para desvendar, controlar e prever os fenômenos da natureza e, posteriormente, da sociedade. Essa visão cientificista prometia produzir um conhecimento que seria promotor do progresso material e cultural da humanidade. Na modernidade, a ciência e seus produtos tecnológicos desenvolveram o capitalismo, o processo de industrialização e provocaram mudanças nas relações de trabalho, com base em um estatuto de racionalidade e promessas de progresso, bem-estar, felicidade ou emancipação. CIÊNCIA A ciência e a tecnologia tornaram-se relevantes na acumulação do capital como forças produtivas, no controle ou desenvolvimento da natureza e do comportamento humano. Esses bens culturais favoreceram a revolução industrial e a alteração de estruturas e relações sociais. O desenvolvimento capitalista inverteu o interesse pela ciência pura dando a primazia para a ciência aplicada e produtos tecnológicos, que se valorizam pela utilização rentável na lógica do mercado. A ciência aliou-se à produção tecnológica, priorizou a versão de ciência aplicada (utilitária e centrada em necessidades imediatas com prejuízo do ideal de emancipação humana), submetida aos interesses do desenvolvimento da sociedade capitalista, valorizando a razão instrumental. CIÊNCIA E ÉTICA A necessidade de princípios éticos e de códigos de conduta moral na produção e no uso de conhecimentos científicos integra a agenda de luta de movimentos sociais, gerando os acordos internacionais e uma base normativa nacional, a exemplo da criação no âmbito institucional comitês de ética. Essas iniciativas ainda não são suficientes para colocar o conhecimento científico como um bem público e base da existência humana e da inclusão social. lucineteml@uol.com.br
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