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1/4 Cultura erudita Cultura dominante que desenvolveu universo próprio de legitimidade, expresso pela filosofia, pela ciência e pelo saber, produzido e controlado em instituições da sociedade nacional, tais como universidade, academias, ordens profissionais. Se continuarmos nossa enquete e perguntarmos a alguma pessoa dessa plateia se ela possui obras de arte, ela poderá dizer que sim (sua família pode comprar objetos de arte, “um quadro que foi herança de meu avô”) ou nos dirá que não e ainda completar a resposta (que possui objetos de artesanato, algum livro de arte, um CD de um compositor, ou um bonito pôster). Segundo Marilena CHAUÍ (2005), três aspectos estão presentes no ponto de vista do espectador: 1 – Aproximação entre arte e artesanato. Tanto obra de arte quanto artesanato são feitos por uma única pessoa que realiza todo o trabalho e é autora de sua produção. A obra de arte e o artesanato não tem a impessoalidade do objeto industrial, trabalhado por um operário anônimo numa linha de montagem. O que o espectador tem em mente é a maior ou menor complexidade no trabalho do artista e do artesão, com a distinção de que o artesão costuma fabricar vários exemplares de uma série e a obra de arte é percebida como única; 2 – Aproximação de obra de arte e antiguidade. Mantém a idéia de que obra de arte foi feita no passado e conservada como um bem coletivo. A obra de arte é retirada do uso e consumo e, fazendo-se valer como enfeite e decoração, passa a ser um bem de família. Tal como acontece com a obra de arte com seu valor de exposição nos museus e bibliotecas, ela também foi retirada do circuito do uso e consumo, passando a ter valor exclusivo; 3 – Reprodução e transmissão indireta da obra de arte - Viagens culturais para ver uma famosa pintura ao vivo e “respirar arte”, o acesso a museus, exposições, festivais de música erudita, são atividades culturais muito incomuns para a maioria das pessoas. Porém, a pessoa que não tem esse acesso sabe que a imprensa, o rádio, o cinema, a televisão, o vídeo, sites e blogs na WEB podem reproduzir ou transmitir essas obras, lançando-as no mercado de consumo e permitindo um acesso indireto a elas. Hoje em dia muito do que é fruído indiretamente, através da mídia, o é em tempo real ou através de realidade aumentada e com interatividade. Aproxima-se a obra de arte no tempo e no espaço. Desenvolveram-se recursos técnicos para multiplicar a principal característica da obra de arte: ser única. Isso é democratização do acesso à arte. Mas, a transmissão e reprodução da obra de arte tem outra cara, que submete as artes a um mercado novo criado pela indústria cultural. (CHAUÍ, 2005, p.270). Damos destaque a essa análise, pois ela faz referência ao ponto de vista do espectador, do consumo. Os designers e produtores culturais deveriam levar sempre em conta esse ponto de vista. O ponto de vista do artista tem explicações 2/4 muito mais metafísicas do que práticas sobre arte como experiência: a invenção do mundo ou recriação do mundo. Escreve o poeta Ferreira Gullar em Sobre a arte: A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro – mais bonito, ou mais intenso, ou mais significativo, ou mais ordenado – por cima da realidade imediata (...). Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo (...). Sumariamente, indústria cultural é indústria do entretenimento; meios de comunicação de massa; modos culturais degradados ou modos culturais autônomos. As atividades dos meios de comunicação podem ser fomentadas e normatizadas em políticas para a indústria cultural. Sob o rótulo de indústria cultural estão definidas as seguintes atividades: a) A publicação, distribuição ou venda de livros, revistas ou jornais impressos em papel ou que podem ser lidos por intermédio de uma máquina (revistas em CD- ROM, por exemplo); b) A produção, distribuição, venda ou exibição de filmes e vídeos; c) A produção, distribuição, venda ou exibição de gravações musicais em áudio ou vídeo; d) A produção, distribuição ou venda de música impressa ou em forma legível por máquina; e) A comunicação radiofônica ou televisiva em aberto (broadcast), por assinatura ou no sistema Pay per view (tv a cabo, transmissões por satélite). f) Distribuição, venda ou exibição pela web e dispositivos eletrônicos e aplicativos, de diversos produtos citados nos itens anteriores. A expressão indústria cultural é típica de países de inspiração cultural europeia- continental, incluindo-se aqui o Canadá. Nos EUA, prevalece o termo indústria do entretenimento, que, além do cinema, do rádio, da televisão, dos discos, dos CDs etc., inclui ainda a totalidade das diversões ao vivo, todos os tipos de atividades artísticas performáticas (teatro, dança), esportivas, espetáculos variados, cassinos, parques temáticos (Disneylândia, Universal Studios). 3/4 Embora livros, revistas e periódicos sejam eventualmente incluídos nesta lista, nos EUA eles entram melhor sob a rubrica “indústria da informação”. A adoção de um rótulo como “indústria do entretenimento” (ou “da diversão”) nos EUA, abrangendo os modos culturais do cinema, do teatro, da dança etc., evitou, nesse país, uma considerável soma de discussões teóricas sobre, por exemplo, quais filmes considerar “cultura” e quais simples “diversão”. O rótulo “indústria do entretenimento” ou da “diversão” teria mais aceitação do homem médio americano, que tende a relacionar “cultura” com meio acadêmico e científico, com esse rótulo não se sentiria excluído da vida cultural. No Brasil, os meios de comunicação anunciam entretenimento como cultura, com a finalidade de inclusão através de uma complexa cadeia de consumo. “Cultura a gente (não) vê por aqui”! A indústria cultural teve início simbólico com a invenção dos tipos móveis de imprensa por Gutemberg, no século XV, e caracteriza-se, sugere seu nome, como fenômeno da industrialização, que, tal como esta, começou a se desenvolver a partir do século XVIII. Seus princípios são os mesmos da produção econômica geral: uso crescente da máquina, submissão do ritmo humano ao ritmo da máquina, divisão do trabalho, alienação do trabalho. Sua matéria-prima, a cultura, não é mais vista como instrumento da livre expressão e do conhecimento, mas como produto permutável por dinheiro e consumível como qualquer outro produto (processo de reificação da cultura ou, como se diz hoje, de commodification da cultura, i.e., sua transformação em commodity, mercadoria com cotação individualizável e quantificável). Essa caracterização da indústria cultural, no modo de produção capitalista, foi iniciada na introdução da aula. O teórico Norberto Bobbio lista, entre os paradoxos da democracia, aquele que se constitui pela incompatibilidade entre democracia e indústria cultural. O pensador italiano registra que o uso feito da informação pela indústria cultural produz doutrinação, que tende a reduzir ou eliminar o sentido da responsabilidade individual, considerada fundamento da democracia. Nessa linha de argumentação, a indústria cultural é vista não como veículo de difusão da cultura, mas, pelo contrário, como modo de impedir o acesso à cultura por destruir formas culturais populares e filtrar a produção passível de entrar em seu mecanismo, impedindo a crítica aos modos culturais predominantes. A indústria cultural é vista, assim, como fator de apatia e conformismo. (Referência: COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural. São Paulo. Editora Luminuras,1997.) 4/4 Resumo com alguns pontos significativos para compreensão de cultura de massa, a partir de COELHO, Teixeira. O que é Indústria Cultural. 14ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. A cultura de massa não existe sem os meios de comunicação de massa. Mas os meios de comunicação de massa não levam necessariamente à cultura de massa; O surgimento dos meios de comunicação de massa (com a invenção dos tipos móveis para impressão por Gutenberg) + Revolução Industrial + economia de mercado (aparecimento da sociedade de consumo) + Era da eletricidade + Era da eletrônica + Capitalismo Monopolista = Cultura de Massa; Uma característica da cultura de massa é não ser produzida pelos que a consomem (ao contrário das manifestações culturais dos setores eruditos e populares); Com a possibilidade de uma cultura para as massas, surge a indústria cultural, com os mesmos princípios da produção econômica em geral: Uso crescente da máquina; Submissão do ritmo humano de trabalho ao da máquina; Exploração do trabalhador; Divisão do trabalho. E com produtos comparáveis à produção econômica capitalista em geral: Produtos feitos em série para grande número; Produto trocável por dinheiro; Produto padronizado (para atender gostos médios); Produto perecível (menor valor de uso e maior valor de troca).
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