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Análise de Acórdão: Indenização por Cancelamento de Cartão de Crédito

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ANALISE DE ACORDÃO 
O referido acordão trata de uma indenização de dano moral, onde a autora alega que a ré cancelou seu cartão de credito sem que a fatura ainda estivesse vencida e deste modo a mesma passou por constrangimento em um almoço de negócios sendo seu cartão foi recusado, levando ainda seu nome ao Serasa, tendo ainda a ré afirmado que só fez isto pois a autora atrasava os pagamentos do cartão.
Podemos perceber claramente a violação da boa fé objetiva, primeiramente não poderia a requerida ter cancelado o cartão por uma conta que ainda não estava vencida. Segundo, como afirma a mesma a autora atrasava os pagamentos do cartão, mas ela se valia de todos os pagamentos, mesmo com atraso das faturas anteriores, deste modo a ré se comportou de uma determinada maneira por um certo período de tempo, gerando expectativa em outra de que seu comportamento permaneceria inalterado o chamado “venire contra factum proprium”.
 Segundo Humberto Theodoro Júnior: “Um dos grandes efeitos da teoria da boa-fé́, no campo dos contratos, traduz-se na vedação de que a parte venha a observar conduta incoerente com seus próprios atos anteriores.
Para o jurista Ruy Rosado Júnior, A “teoria dos atos próprios”, ou a proibição de "venire contra factum proprium", aduz, “protege uma parte contra aquela que pretende exercer uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente. Depois de criar uma certa expectativa, em razão de conduta seguramente indicativa de determinado comportamento futuro, há quebra dos princípios de lealdade e de confiança se vier a ser praticado ato contrário ao previsto, com surpresa e prejuízo à contraparte.
Podemos perceber que este principio ganhou aplicação da Jurisprudência como veremos nos casos a seguir:
Apelação Cível nº 70014739346, Quinta Câmara Cível, Relator: Umberto Guaspari Sudbrackm,
 "SEGURO-SAÚDE. LIMITAÇÃO DE LOCAL DE INTERNAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DA CLÁUSULA À LUZ DO PRINCÍPIO CONTRATUAL DO VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM¿. COBERTURA INDENVIDAMENTE NEGADA. As cláusulas limitativas devem ser interpretadas restritivamente, não se configurando, por si só, como abusivas, desde que não desvirtuem o próprio objeto do contrato. Em que pese haja cláusula de exclusão expressa quanto à prestação do serviço hospitalar ocorrer em determinado nosocômio, in casu, tal limitação mostra-se indevida, porquanto em outras duas oportunidades o paciente recebeu autorização da seguradora para internar-se no hospital objeto da controvérsia. Houve, assim, segundo reza o princípio do venire contra factum proprium, modificação da cláusula restritiva, devido ao comportamento das partes. Após o prévio consentimento da ré em autorizar, por duas ocasiões, a internação do autor no nosocômio cujos serviços estavam expressamente excluídos do plano de saúde, revela-se ilegal a negativa de nova internação, pois restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual, pois esta limitação está burlando as expectativas legítimas do consumidor. Apelo provido."
Neste outro caso percebe se também a aplicação do principio no julgamento da Apelação Cível nº 70011833878, Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, relativa a resolução contratual em promessa de compra e venda, o relator, Desembargador Carlos Rafael dos Santos Júnior, em seu voto ressaltou:
"Tendo preferido levar a cabo, ele mesmo, tarefa que, pelo contrato, cabia à promitente-vendedora, não pode o autor exigir mais do que o ressarcimento das despesas em valores corrigidos. O que penso não ser admissível é que o autor tome a iniciativa de regularizar o imóvel para, posteriormente, pedir a rescisão contratual por culpa da parte adversa, caracterizada pela inércia em praticar aqueles atos que o próprio autor já se encarregou de solucionar. Atos inequívocos no sentido de aperfeiçoar o contrato foram praticados pelo próprio autor. Tal comportamento significaria venire contra factum proprium. Comentando o instituto, o doutrinador Fernando Noronha, em sua obra O direito dos contratos e seus princípios fundamentais, anota que "Nesta categoria, cabem diversos casos em que o titular de um direito adota atitudes digamos deslealmente contraditórias, criando primeiro na contraparte uma confiança justificada em que não exercerá o seu direito e depois fazendo valer este. (...) O dever de não agir contraditoriamente, de atuar de acordo com os padrões exigíveis de correção e lealdade, é infringido sempre que o desrespeito pela confiança legítima da contraparte possa ser imputado ao titular do direito (...)." (São Paulo: Saraiva, 1994. p. 183 e 185).
Processo: RO00104031520145010283RJ,Relator: Leonardo Dias Borges, Órgão Julgador: Décima turma
RECURSO ORDINÁRIO. PRÉ-CONTRATO. INDENIZAÇÃO PELA PERDA DE UMA CHANCE. VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM.
Demonstrado nos autos não só a promessa de emprego por parte da empresa, como também, a prática de ato que levou a autora a uma legítima expectativa de contratação, em estrita violação ao princípio da boa-fé objetiva, correto o deferimento de indenização pela perda de uma chance, a qual deverá reparar os danos sofridos pela demandante quanto à perda da oportunidade de concretização da vitória esperada, in casu, a contratação e prestação de serviços em prol da Reclamada.
No que diz respeito ao cancelamento do cartão acredito que não poderia gerar tal resultado, pois mesmo com o atraso a autora realizou todos os pagamentos, tendo a ré aceitado a forma como estava sendo conduzida a situação, não podendo agora querer resultado diverso do que estava sendo realizada, pois gerou esperança na autora que não haveria mudança em relação ao pagamento. 
 O que se espera é que as partes tenham uma postura seria, leal e sincera a chamada boa fé objetiva pré- contratual entende se que é a forma de como vai ser pactuado o contrato entre as duas partes gerando assim a fase contratual onde o contrato será gerado passando para a efetiva execução do acordo das vontades e por fim a fase pós contratual que são os efeitos gerados no tempo do contrato, deste como já mencionado a cima a ré não poderia negativar o nome da autora descumprindo assim o que foi pactuado no contrato.
 Compreende- se que a decisão do Juiz foi extremamente correta, pois fica claro que a requerida agiu de má- fé ao fazer o cancelamento do cartão de credito da autora, sabendo ela que não estava inadimplente com o pagamento das prestações, fazendo ainda que a mesma passa se por constrangimentos em frente a todos do restaurante em que foi recusado o cartão deixando claro o dano moral que segundo Maria Helena Diniz, " Dano moral vem a ser a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo, e também a indenização por negativação indevida.

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