Buscar

Apostila Direito Processual Penal I

Prévia do material em texto

P á g i n a | 1 
 
1 
DIREITO PROCESSUAL PENAL I 
 
ÍNDICE 
 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 2 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ......................................................................................................................... 2 
DEVIDO PROCESSO LEGAL – “DUE PROCESS OF LAW” ......................................................................... 2 
VERDADE REAL ......................................................................................................................... 2 
DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS ........................................................ 2 
DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA ........................................................................................ 3 
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA .......................................................................................................... 3 
JUIZ NATURAL .......................................................................................................................... 3 
FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES .................................................................................................. 3 
EVOLUÇÃO DO PROCESSO PENAL ..................................................................................................................... 4 
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO ................................................................................................ 4 
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO ............................................................................................... 4 
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ............................................................................................................................... 5 
INQUÉRITO POLICIAL .................................................................................................................. 6 
DIRETAMENTE PELO MINISTÉRIO PÚBLICO....................................................................................... 14 
JUIZADO DE INSTRUÇÃO .............................................................................................................. 14 
AÇÃO PENAL............................................................................................................................................... 14 
AÇÃO PENAL PÚBLICA ................................................................................................................. 16 
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA................................................................................ 18 
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO ....................................... 18 
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA ............................. 21 
AÇÃO PENAL (DE INICIATIVA) PRIVADA ........................................................................................... 23 
AÇÃO PENAL PROPRIAMENTE PRIVADA (“EXCLUSIVAMENTE PRIVADA”) ........................................ 24 
AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA ................................................................................ 24 
AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA ...................................................................... 25 
COMPETÊNCIA ............................................................................................................................................. 30 
ESPECIAL ................................................................................................................................. 30 
ELEITORAL ..................................................................................................................... 30 
MILITAR ........................................................................................................................ 32 
SENADO FEDERAL ............................................................................................................ 34 
COMUM ................................................................................................................................. 35 
FEDERAL ........................................................................................................................ 35 
ESTADUAL ...................................................................................................................... 41 
CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA ..................................................................................... 42 
COMPETÊNCIA “RATIONAE MATERIAE” ................................................................................. 42 
COMPETÊNCIA “RATIONAE PERSONAE” ................................................................................. 43 
COMPETÊNCIA “RATIONAE LOCI” ........................................................................................ 48 
COMPETÊNCIA PELA CONEXÃO E PELA CONTINÊNCIA .......................................................................... 52 
CONEXÃO ...................................................................................................................... 52 
CONTINÊNCIA ................................................................................................................. 54 
CRITÉRIOS DE PREVALÊNCIA ................................................................................................ 55 
PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA .................................................................................................................... 61 
PRISÃO EM FLAGRANTE (?) .......................................................................................................... 62 
PRISÃO PREVENTIVA .................................................................................................................. 74 
PRISÃO TEMPORÁRIA ................................................................................................................. 82 
LIBERDADE PROVISÓRIA .............................................................................................................. 83 
VINCULADA SEM FIANÇA.................................................................................................... 85 
MEDIANTE FIANÇA ........................................................................................................... 86 
AS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO ................................................................................ 92 
 
 
P á g i n a | 2 
 
2 
DIREITO PROCESSUAL PENAL I 
 
Professor: Robson Braga 
 
Bibliografia: 
Direito Processual Brasileiro – Eugênio Pacelli 
Direito Processual Brasileiro – Renato Brasileiro 
Direito Processual Brasileiro – Paulo Rangel 
Manual de Processo Penal – Marcellus Polastri Lima 
 
INTRODUÇÃO 
O Direito Processual Penal na verdade serve como instrumento para dar eficácia ao Direito Penal, pois não teria 
nenhuma aplicabilidade o ordenamento jurídico se não fosse disponibilizado o processo para aqueles que viram 
seu direito violado. 
Vale lembrar que a autotutela, de regra, é vedada, pois o uso da força bruta para defender o seu direito somente é 
admitida quando restar caracterizado o estado de necessidade ou a legítima defesa 
 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
 
1) Devido processo legal – “due process of law”: trata-se de uma garantia constitucional prevista no art. 5º, 
LIV, CF em que se traduz na necessidade de se observar as regras legais e constitucionais para flexibilização 
do direito. 
 
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; 
 
2) Verdade real: por este princípio, todos os sujeitos processuais (autor, réu e juiz) tentam reproduzir os fatos 
de forma como ele aconteceu e o processo é o instrumento de apreciação da referida verdade, ao menos 
teoricamente. 
3) Da inadmissibilidadedas provas obtidas por meios ilícitos: este princípio vem previsto no art. 5º, LVI, CF, 
pois tudo o que foi obtido de forma ilícita (se opera no plano material) ou ilegítima (se opera no plano 
processual) não pode servir de base para formação do convencimento do magistrado, pelo contrário, essa 
prova deve ser desentranhada do processo, conforme dispõe o art. 157 do CPP (ver prova ilícita por 
derivação (art. 157, §1º, CPP): teoria dos frutos da árvore envenenada – fruits of poisoned tree e teoria 
da razoabilidade). 
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; 
 
ART. 157. SÃO INADMISSÍVEIS, DEVENDO SER DESENTRANHADAS DO PROCESSO, AS PROVAS ILÍCITAS, ASSIM ENTENDIDAS 
AS OBTIDAS EM VIOLAÇÃO A NORMAS CONSTITUCIONAIS OU LEGAIS. (REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.690, DE 2008) 
 § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo 
de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte 
independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 § 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, 
próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. (Incluído 
pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 § 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada 
por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 § 4o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) 
 
P á g i n a | 3 
 
3 
Obs.: sobre este tópico, a doutrina trava grande discussão, pois alguns autores ensinam que a prova, ainda 
que seja ilícita, deveria ser admitida notadamente por refletir a verdade. Entretanto, futuramente, com 
mais vagar, adentraremos nas discussões doutrinárias e jurisprudenciais neste campo. 
 
4) Do contraditório e da ampla defesa: ambos estão previstos no art. 5º, LV, CF. O princípio do contraditório 
assegura a ampla defesa ao acusado com igualdade para as partes no processo, advindo, daí, o princípio 
da isonomia processual e da liberdade processual, podendo o acusado escolher seu defensor, e, na 
impossibilidade ou falta de condições para custear a defesa, é assegurada a nomeação de advogado pelo 
juiz. 
O princípio ou garantia da ampla defesa possui duas faces, segundo Ada Pellegrini Grinover: a necessidade 
técnica e a possibilidade de autodefesa. A primeira é a garantia de paridade de armas indispensável à 
concreta atuação do contraditório e, consequentemente, à própria imparcialidade do juiz. A autodefesa é 
renunciável pelo acusado, muito embora não se deixe salientar seu aspecto de garantia constitucional. 
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e 
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 
5) Presunção de inocência: há quem entenda que este princípio, na verdade, se traduz em uma presunção de 
não-culpabilidade, pois a norma constitucional prevista no art. 5º, LVII, CF prevê que alguém só pode ser 
considerado culpado após o trânsito em julgado de sentença penal obrigatória. 
Assim, o réu é presumidamente inocente, que após um devido processo legal poderá levar o julgador a ter 
certeza de sua culpabilidade. 
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; 
6) Juiz natural: este princípio vem previsto no art. 5º, LIII, CF e se traduz na necessidade de que o julgamento 
seja conduzido por um juiz previamente estabelecido e competente para julgar determinada causa. Este 
princípio veda qualquer casuísmo e veda o chamado tribunal de exceção. 
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; 
7) Fundamentação das decisões judiciais: trata-se de uma garantia constitucional prevista no art. 93, IX, CF 
devendo o juiz externar as razões de decidir no julgamento sob pena de nulidade. 
O princípio da identidade física do juiz se justifica em razão dessa garantia constitucional, pois a exigência 
normativa prevista no §2º do art. 399 do CPP prevê que o juiz que presidiu a instrução será aquele que 
proferirá a sentença. 
IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena 
de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente 
a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse 
público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
 
Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação 
do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. (Redação 
dada pela Lei nº 11.719, de 2008). 
 § 1o O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público 
providenciar sua apresentação. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). 
 § 2O O JUIZ QUE PRESIDIU A INSTRUÇÃO DEVERÁ PROFERIR A SENTENÇA. (INCLUÍDO PELA LEI Nº 11.719, DE 2008). 
A única exceção a essa regra constitucional são as decisões proferidas pelo Tribunal do Júri, que por força 
do sigilo das votações (art. 5º, XXXVIII, b, CF) afasta a exigência de fundamentação. 
 
P á g i n a | 4 
 
4 
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: 
a) a plenitude de defesa; 
b) O SIGILO DAS VOTAÇÕES; 
c) a soberania dos veredictos; 
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; 
EVOLUÇÃO DO PROCESSO PENAL 
 
1) Sistema inquisitorial: esse sistema surgiu na Idade Média, onde o poder de acusar, de defender e de julgar 
se concentrava nas mãos de uma única pessoa. Não havia contraditório, ampla defesa e não se exigia 
sequer fundamentação das decisões judiciais. Também se caracteriza por ser escrito e secreto, havendo 
impulso oficial e liberdade processual, e dando-se grande valor à confissão, inclusive com admissão de 
tortura em épocas passadas. 
2) Sistema acusatório: esse sistema advém na origem da Grécia e da Roma antigas. Nesse sistema há nítida 
separação das funções de acusar, de defender e de julgar (existência do actum trium personarum). Nesse 
sistema está consagrado o contraditório, a ampla defesa, a fundamentação das decisões e a imparcialidade 
do julgador, havendo boa parte da doutrina que entende ser este o sistema consagrado na nossa CF. Suas 
principais características são a oralidade e a publicidade. 
3) Sistema misto: nasce no século XVII e tem seu apogeu no século XIX adentrando pelo século XX, tratando-
se de uma forma híbrida que combinava a eficiência e o interesse da busca da verdade, que era inerente 
ao modelo inquisitivo, com a igualdade de armas em um processo adversarial (ou acusatório). Esse sistema 
consagra algumas questões do sistema inquisitorial e outras consagradas no sistema acusatório, existindo 
um projeto de lei em trâmite no Congresso Nacional de alterar o CPP para adotar esse modelo consagrado 
no Direito italiano. 
 
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO 
O art. 2º do CPP regula aplicação da lei processual no tempo cuja previsão determina a sua aplicação imediata, sem 
prejuízo da validade dos atos praticados sob a vigência da lei anterior. 
Assim, não se cogita aqui a retroatividade da lei mais benéfica ou irretroatividade da lei mais gravosa como no 
Direito Penal. Deste modo, entrando em vigor a lei processual, após promulgação, publicação e eventual vacatio 
legis, terá efeito imediato. Portanto, continuam válidos os atos processuais praticado sob a égide da lei anteriorrevogada, que manterão sua eficácia, até de efeitos ulteriores que possam provocar no processo. A lei processual 
nova passará a regular os atos processuais desde o momento de sua incidência e dali pra frente para os atos futuros, 
valendo para os atos processuais que não tiverem sido realizados antes de sua vigência. É o princípio tempus regit 
actum. 
Porém, nunca é demais lembrar que algumas normas ainda que processuais trazem reflexos no âmbito do direito 
material, são as chamadas normas mistas, pois possuem conteúdos tanto de direito processual quanto de direito 
material, devendo dessa forma ser verificado as regras mais benéficas para o acusado. 
Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a 
vigência da lei anterior. 
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO 
O art. 1º do CPP regula a aplicação da lei penal no espaço, determinando que ela terá aplicação em todo o território 
brasileiro, com as ressalvas nos incisos do citado dispositivo legal. 
LIVRO I 
DO PROCESSO EM GERAL 
TÍTULO I 
P á g i n a | 5 
 
5 
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES 
 Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: 
 I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; 
 II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes 
conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de 
responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); 
 III - os processos da competência da Justiça Militar; 
 IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17); 
 V - os processos por crimes de imprensa. Vide ADPF nº 130 
 Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando 
as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. 
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 
Constituição Federal – art. 144, CF: §1º, IV – dá exclusividade da polícia judiciária, que é exercida pela Polícia 
Federal, para a apuração das infrações penais. 
CAPÍTULO III 
DA SEGURANÇA PÚBLICA 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da 
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
§ 1º - A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se a: 
§ 1º A POLÍCIA FEDERAL, INSTITUÍDA POR LEI COMO ÓRGÃO PERMANENTE, ORGANIZADO E MANTIDO PELA UNIÃO E 
ESTRUTURADO EM CARREIRA, DESTINA-SE A:(REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 19, DE 1998) 
I - APURAR INFRAÇÕES PENAIS CONTRA A ORDEM POLÍTICA E SOCIAL OU EM DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS E 
INTERESSES DA UNIÃO OU DE SUAS ENTIDADES AUTÁRQUICAS E EMPRESAS PÚBLICAS, ASSIM COMO OUTRAS INFRAÇÕES 
CUJA PRÁTICA TENHA REPERCUSSÃO INTERESTADUAL OU INTERNACIONAL E EXIJA REPRESSÃO UNIFORME, SEGUNDO SE 
DISPUSER EM LEI; 
II - PREVENIR E REPRIMIR O TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E DROGAS AFINS, O CONTRABANDO E O DESCAMINHO, 
SEM PREJUÍZO DA AÇÃO FAZENDÁRIA E DE OUTROS ÓRGÃOS PÚBLICOS NAS RESPECTIVAS ÁREAS DE COMPETÊNCIA; 
III - EXERCER AS FUNÇÕES DE POLÍCIA MARÍTIMA, AÉREA E DE FRONTEIRAS; 
III - EXERCER AS FUNÇÕES DE POLÍCIA MARÍTIMA, AEROPORTUÁRIA E DE FRONTEIRAS; (REDAÇÃO DADA PELA EMENDA 
CONSTITUCIONAL Nº 19, DE 1998) 
IV - EXERCER, COM EXCLUSIVIDADE, AS FUNÇÕES DE POLÍCIA JUDICIÁRIA DA UNIÃO. 
P á g i n a | 6 
 
6 
§ 2º - A polícia rodoviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao 
patrulhamento ostensivo das rodovias federais. 
 § 3º - A polícia ferroviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao 
patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. 
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, 
destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.(Redação dada pela Emenda 
Constitucional nº 19, de 1998) 
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, 
destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. (Redação dada pela Emenda 
Constitucional nº 19, de 1998) 
§ 4º - Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as 
funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 
§ 5º - Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros 
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. 
§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, 
juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. 
§ 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a 
garantir a eficiência de suas atividades. 
§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, 
conforme dispuser a lei. 
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 
4º do art. 39. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
1) INQUÉRITO POLICIAL 
 
1.1) Conceito. Natureza Jurídica. Trata-se de um procedimento administrativo presidido pela autoridade 
policial que tem por finalidade apurar a existência de um crime e indícios de autoria. Nunca é demais 
lembrar que o I.P é um procedimento preparatório, informativo que não se assemelha a um processo, 
até porque nele não existe contraditório. Tem natureza jurídica de procedimento administrativo. 
1.2) Características: 
 
1.2.1) Escrito: prevalece no I.P a forma documental, pois até mesmo os atos produzidos oralmente 
serão reduzidos a termo conforme dispõe o art. 9º do CPP. 
Art. 9o – Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou 
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. 
1.2.2) Sigiloso: o art. 20 do CPP prevê o sigilo na condução das investigações, até porque este sigilo 
depende de eficiência da investigação. 
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo 
interesse da sociedade. 
Entretanto, o art. 7º, XIV da Lei nº. 8.906/94 concede como prerrogativa aos advogados o livre acesso 
aos autos do I.P, o que traduz uma aparente contradição entre esses dispositivos. Em verdade, a 
Súmula Vinculante nº 14 do STF deu ao advogado a mesma prerrogativa prevista no EOAB (Estatuto 
da Ordem dos Advogados do Brasil – Lei nº 8.906/94) esclareceu que o acesso do advogado somente 
se dará depois de documentada a investigação, incluindo-se nesta hipótese, inclusive, a interceptação 
telefônica. 
1.2.3) Dispensável: o I.P não é uma peça imprescindível para o oferecimento da ação penal, até porque 
os arts. 12 e 39, §5º, ambos do CPP, revelam que este procedimento investigatório poderá ser 
P á g i n a | 7 
 
7 
dispensado. É bem verdade que a ausência do I.P não desonera que a ação penal venha acompanhada 
com outros elementos que comprovem a existência do crime e indícios suficientes de autoria. Dito isto, 
constata-se que nada impede que a ação penal inicie sem prévia realização doI.P, desde que os indícios 
de autoria e materialidade (justa causa) estejam presentes nas outras peças de informação. 
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. 
 
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes 
especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade 
policial. 
 § 1o A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do 
ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade 
policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida. 
 § 2o A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria. 
 § 3o Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá a inquérito, ou, 
não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for. 
 § 4o A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será remetida à autoridade 
policial para que esta proceda a inquérito. 
 § 5O O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DISPENSARÁ O INQUÉRITO, SE COM A REPRESENTAÇÃO FOREM OFERECIDOS 
ELEMENTOS QUE O HABILITEM A PROMOVER A AÇÃO PENAL, E, NESTE CASO, OFERECERÁ A DENÚNCIA NO PRAZO DE QUINZE 
DIAS. 
1.2.4) Discricionário: esta característica está traduzida no art. 14, CPP pois a lei processual penal 
autoriza o delegado a conduzir as investigações da forma que melhor lhe aprouver, adequado ao 
próprio delito investigado. 
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será 
realizada, ou não, a juízo da autoridade. 
1.2.5) Inquisitorial: característica marcante na investigação, pois a fase pré-processual não se verifica 
o contraditório e a ampla defesa seja porque não há acusado na investigação e muito menos processo, 
não se aplicando nessa hipótese o art. 5º, LV, CF. 
1.2.6) Indisponibilidade: uma vez instaurado o I.P o procedimento investigatório não pode mais ser 
arquivado pela autoridade policial, notadamente porque todo inquérito iniciado deve ser concluído e 
remetido à autoridade competente (arts. 17 e 18, CPP). 
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. 
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para 
a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. 
1.3) Formas de instauração do Inquérito Policial 
 
1.3.1) Ação penal pública: 
 
 Art. 5º, I, CP (de ofício): por portaria da autoridade policial. Dá-se a instauração em vista da notitia 
criminis (notícia do crime), que pode ser de conhecimento direto ou através de petição ou delatio 
criminis por parte da vítima do fato em tese delituoso, determinará a instauração do inquérito 
através de portaria, que se trata de peça singela com resumo da notitia criminis, circunstâncias do 
fato e classificação penal do mesmo, elencando desde já as primeiras diligências a serem realizadas. 
 
P á g i n a | 8 
 
8 
Notitia Criminis 
Conceito: é o conhecimento pela Autoridade Policial, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente 
criminoso. 
 
Espécies: 
 
1. Notitia criminis de cognição imediata (direta): ocorre quando a Autoridade Policial em seu gabinete toma 
conhecimento de fato aparentemente criminoso por meio de suas atividades rotineiras, através de revistas, jornais, 
televisão, BO, rádio, pela vítima que comparece na Delegacia e deseja assinar o termo de representação ou por 
meio da delatio criminis (que é a comunicação verbal ou por escrito feita por qualquer do povo em crimes de ação 
penal pública incondicionada). Neste caso o IP se inicia por PORTARIA. 
 
2. Notitia criminis de cognição mediata (indireta): ocorre quando a Autoridade Policial sabe do fato por meio de 
requerimento da vítima ou de quem possa representá-la (acompanhada de eventual representação, se o crime 
for de Ação Penal Pública Condicionada a representação do ofendido ou seu representante legal), requisição da 
Autoridade Judiciária ou do órgão do MP. Nesta hipótese o IP se inicia com requisição do juiz; requisição do MP 
ou requerimento do ofendido ou de seu representante legal. 
 
Diferença entre requerimento e requisição: o requerimento da vítima pode ser indeferido quando o fato punível 
encontra algum obstáculo jurídico (fato atípico, prescrição, fato irreal, fato impunível etc.). Já a requisição do juiz 
ou do Ministério Público não pode ser indeferida pela autoridade policial. Quando houver algum obstáculo jurídico 
(requisição desarrazoada, infundada etc.) cabe à autoridade policial pedir mais informações ao requisitante. 
 
3. Notitia criminis coercitiva: ocorre no caso de prisão em flagrante, onde a notícia do crime se dá com a 
apresentação do autor. Nesse caso o IP se inicia com o AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO. 
 
Em todos os casos citados, exceto na cognição mediata por requerimento da parte, a Autoridade Policial é obrigada 
a instaurar o IP, sob pena de crime de prevaricação (corrente majoritária), crime de desobediência às requisições 
do MP ou da Autoridade Judicial (corrente minoritária) e por fim, responsabilização administrativa. Isso se justifica 
por causa dos princípios da legalidade e oficiosidade do IP. 
No que concerne a qualquer espécie de infração penal, o inquérito poderá ser instaurado mediante o auto de prisão 
em flagrante (CPP, art. 8º). Exceções a esta regra: art. 69 da Lei 9.099/95 (juizados criminais - nas infrações de 
menor potencial ofensivo não se imporá prisão em flagrante [leia-se: não se lavrará o auto de prisão em flagrante], 
salvo se o capturado não quiser assumir o compromisso de ir a juízo), a nova lei de entorpecentes, para usuários 
e dependentes (Lei 11.343/06). 
 
Delatio criminis (art. 5º, §3º DO CPP) 
Conceito: é a notícia do crime levada à Autoridade Policial por qualquer um do povo desde que a infração penal 
seja de ação penal pública incondicionada. 
Em regra a delatio criminis é facultativa, sendo obrigatória quando a pessoa que tomar conhecimento da infração 
penal exercer uma função ou cargo público. Ex.: art. 66, I e II, LCP; art.45 da Lei 6.538/78; art. 4º da Lei 6.368/76 
(diretor de escola que presencia tráfico nas suas dependências); art. 269 do CP (médico que é obrigado a delatar 
doença contagiosa); Estatuto do Idoso – Lei 10.741/03, arts. 3º; 4º, § 1º; 5º; 6º e 19. 
Quando a delatio criminis é levada ao conhecimento da Autoridade Policial, o IP será iniciado por PORTARIA. 
A denúncia anônima pode ser considerada como delatio criminis? 
A denúncia anônima deve ser recebida com reservas, pois pode acontecer que uma pessoa inescrupulosa delate 
outra por sentimento de ódio, raiva ou inveja, devendo a Autoridade Policial em caso de duvida da informação, 
realizar algumas diligências prévias. 
No mundo atual, inclusive com aparelhos bina, essa forma de delatio criminis tem surtido muito efeito na esfera 
policial que usa o sistema do “DISQUE ‘DENÚNCIA’”, principalmente no caso de tráfico de entorpecentes, onde o 
medo impera. 
De qualquer forma, sendo inverídica a notícia ou delação apresentada, o nosso CP pune a falsa comunicação de 
crime ou contravenção, no seu art. 340, devendo a Autoridade Policial, através do bina identificar o falsário; do 
contrário, deve preservar a fonte, se não houver outra forma de apurar o crime. 
 
P á g i n a | 9 
 
9 
 Art. 5º, II, CP (requisição do MP ou requerimento da parte ou de seu representante legal): 
REQUISIÇÃO É DIFERENTE DE REQUERIMENTO. Requerimento é um pedido (que pode ser acolhido ou 
indeferido), requisição é uma determinação (o delegado não faz juízo de valor). Seo requerimento 
for indeferido, cabe recurso administrativo ao Chefe de Polícia conforme dispõe o art. 5º, §2º, CPP. 
ART. 5O – NOS CRIMES DE AÇÃO PÚBLICA O INQUÉRITO POLICIAL SERÁ INICIADO: 
 I - DE OFÍCIO; 
 II - MEDIANTE REQUISIÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA OU DO MINISTÉRIO PÚBLICO, OU A REQUERIMENTO DO OFENDIDO 
OU DE QUEM TIVER QUALIDADE PARA REPRESENTÁ-LO. 
 § 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível: 
 a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; 
 b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de 
presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; 
 c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. 
 § 2O DO DESPACHO QUE INDEFERIR O REQUERIMENTO DE ABERTURA DE INQUÉRITO CABERÁ RECURSO PARA O CHEFE 
DE POLÍCIA. 
 § 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba 
ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a 
procedência das informações, mandará instaurar inquérito. 
 § 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela 
ser iniciado. 
 § 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a 
requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. 
Segundo o art. 5º, § 1º, do CPP, o requerimento conterá, sempre que possível: a) a narração do fato, com todas as 
suas circunstâncias; b) a individualização do investigado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou 
de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos da impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das 
testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. 
O art. 5º, § 2º, do Código de Processo Penal dispõe que tal requerimento pode ser indeferido pela autoridade e 
que, do despacho de indeferimento, cabe recurso para o chefe de polícia (para alguns, o delegado-geral e, para 
outros, o secretário de segurança pública). Havendo deferimento, estará instaurado o inquérito, sem a necessidade 
de a autoridade baixar portaria. 
O requerimento para instauração de inquérito policial pode ser feito em crimes de ação pública ou privada. No 
último caso, o requerimento não interrompe o curso do prazo decadencial, de modo que a vítima deve ficar atenta 
a este aspecto. 
Estabelece expressamente o art. 5º, § 4º, do CPP, que, nos crimes em que a ação pública depender de 
representação, o inquérito não poderá sem ela ser iniciado, ou seja, é necessária a prévia existência da 
representação para a instauração do inquérito. 
De acordo com o art. 5º, § 5º, do CPP, nos crimes de ação penal privada o inquérito só poderá ser instaurado se 
existir requerimento de quem tenha a titularidade da ação (ofendido ou seu representante legal, ou, em caso de 
morte, o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão). A hipótese abrange tanto os casos em que o ofendido 
apresenta petição à autoridade requerendo formalmente a instauração do inquérito como aqueles em que a vítima 
comparece ao distrito policial para noticiar o fato (elaborar boletim de ocorrência) e solicitar providências, hipótese 
em que a autoridade baixa portaria para apurar o crime de ação privada. 
O texto legal não exige que esse requerimento seja feito por meio de advogado — ao contrário do que ocorre com 
o oferecimento de queixa-crime que exige procuração com poderes especiais, nos termos do art. 44 do CPP. É 
evidente, contudo, que o requerimento também pode ser feito por meio de advogado contratado ou defensor 
público. Lembre-se, ademais, que se tiver sido nomeado defensor público (para o ofendido que se declarou pobre, 
P á g i n a | 10 
 
10 
nos termos do art. 32 do CPP), o requerimento de instauração de inquérito por parte do defensor pressupõe a 
juntada de procuração, nos termos do art. 16, parágrafo único, b, da Lei n. 1.060/50. 
 
 Auto de Prisão em Flagrante (APF): é uma modalidade de prisão provisória, também chamada de 
prisão cautelar. 
 
➢ Art. 301, CPC: “Qualquer do povo poderá...” – flagrante facultativo (exercício regular do 
direito)/”... e os autoridades policiais e seus agente deverão...” – flagrante obrigatório ou 
compulsório (estrito cumprimento do dever legal). 
 
➢ Art. 302, I, CPP: flagrante próprio. Funda-se na imediatidade visual da prática da infração. O 
agente está na cena do crime, ou cometendo o delito, e neste caso, na maior parte das vezes, 
resultará em tentativa, pois a prisão evitará a consumação (porém, em se tratando de crime 
permanente, já se deu a consumação), ou acabando de cometê-lo. 
➢ Art. 302, II, CPP: idem. 
➢ Art. 302, III, CPP: “é perseguido” – flagrante impróprio ou quase-flagrante. É preciso que a 
perseguição se dê de imediato, assim que o fato tenha acabado de ser praticado, devendo, 
ainda, ser contínua, mesmo que alternando os perseguidores. 
➢ Art. 302, IV, CPP: “é encontrado” – flagrante presumido. Não há imediatidade visual do 
agente, pois este é encontrado, logo depois do fato, em circunstâncias que levam a presunção 
de que seria o autor do fato. 
 
➢ Art. 303, CPP: infração penal permanente – flagrante próprio. 
 
➢ Flagrante preparado e flagrante esperado: para haver flagrante provocado, a atuação da 
autoridade deve ser tal que acabe transformando o ato delituoso em uma verdadeira peça 
teatral, sendo manipulada a vontade do agente, que passa a ser mero ator do fato criado, de 
molde que, sem a intervenção policial não se daria a prática delituosa. Aplica-se, assim, o art. 
17 do CP (crime impossível) segundo a Súmula 145 do STF. 
No caso de haver a intervenção prévia do policial, mas se a consumação era possível, ou 
correria de qualquer modo, tratar-se-á de mero flagrante esperado, e não provocado, não 
sendo caso, assim, de aplicação da Súmula 145 do STF. 
 
➢ Art. 304, CPP: instaura-se o inquérito policial. 
➢ Art. 306, CPP: nota de culpa (§2º) – não vincula o promotor. 
➢ Flagrante diferido ou postergado: 
 
 Ação penal pública condicionada: estabelece expressamente o art. 5º, § 4º, do CPP, que, nos 
crimes em que a ação pública depender de representação, o inquérito não poderá sem ela ser 
iniciado, ou seja, é necessária a prévia existência da representação para a instauração do inquérito 
(art. 39, CPP). 
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes 
especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade 
policial. 
 
CAPÍTULO II 
DA PRISÃO EM FLAGRANTE 
 Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem 
quer que seja encontrado em flagrante delito. 
 Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: 
P á g i n a | 11 
 
11 
 I - está cometendo a infração penal; 
 II - acaba de cometê-la; 
 III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que 
faça presumir ser autor da infração; 
 IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele 
autor da infração. 
 Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a 
permanência. 
 Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, 
sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à 
oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é 
feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. 
(Redaçãodada pela Lei nº 11.113, de 2005) 
 § 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-
lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou 
processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja. 
 § 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, 
com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do 
preso à autoridade. 
 § 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em 
flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste. (Redação 
dada pela Lei nº 11.113, de 2005) 
 Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada pela autoridade lavrará 
o auto, depois de prestado o compromisso legal. 
 Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente 
ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. (Redação dada 
pela Lei nº 12.403, de 2011). 
 § 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente 
o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a 
Defensoria Pública. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). 
 § 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela 
autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. (Redação dada pela Lei nº 
12.403, de 2011). 
 
1.3.2) Ação penal privada: De acordo com o art. 5º, § 5º, do CPP, nos crimes de ação penal privada o 
inquérito só poderá ser instaurado se existir requerimento de quem tenha a titularidade da ação 
(ofendido ou seu representante legal, ou, em caso de morte, o cônjuge, ascendente, descendente ou 
irmão). A hipótese abrange tanto os casos em que o ofendido apresenta petição à autoridade 
requerendo formalmente a instauração do inquérito como aqueles em que a vítima comparece ao 
distrito policial para noticiar o fato (elaborar boletim de ocorrência) e solicitar providências, hipótese 
em que a autoridade baixa portaria para apurar o crime de ação privada. 
O texto legal não exige que esse requerimento seja feito por meio de advogado — ao contrário do que 
ocorre com o oferecimento de queixa-crime que exige procuração com poderes especiais, nos termos 
do art. 44 do CPP. É evidente, contudo, que o requerimento também pode ser feito por meio de 
advogado contratado ou defensor público. Lembre-se, ademais, que se tiver sido nomeado defensor 
público (para o ofendido que se declarou pobre, nos termos do art. 32 do CPP), o requerimento de 
instauração de inquérito por parte do defensor pressupõe a juntada de procuração, nos termos do art. 
16, parágrafo único, b, da Lei n. 1.060/50. 
P á g i n a | 12 
 
12 
 
1.4) “Procedimento” da investigação (art. 6º, CPP): o art. 6º do CPP descreve uma série de atividades que 
a autoridade policial deve realizar no curso da investigação. Entretanto, não existe uma ordem a ser 
seguida pelo delegado de polícia, que por força do art. 14 do CPP tem toda discricionariedade na 
condução do inquérito policial. 
Entretanto, o fato de não existir um procedimento próprio previsto em lei não autoriza ao delegado 
ficar eternamente na investigação, inoperante, até porque o art. 10 do CPP prevê um prazo para 
encerramento do I.P, que é de 10 dias para o indiciado preso e de 30 dias para o solto. Nunca é PE 
demais lembrar que a legislação extravagante prevê outros prazos para o término do I.P, como por 
exemplo: art. 51 da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06). 
Os prazos para a conclusão do inquérito policial encontram algumas exceções importantes em 
legislações especiais: 
 
a) O art. 51, caput, da Lei n. 11.343/2006 (Lei Antitóxicos) estipula que, para os crimes de tráfico, o 
prazo será de 30 dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 dias, se estiver solto. Tais prazos, ademais, 
poderão ser duplicados pelo juiz mediante pedido justificado da autoridade policial, ouvido o 
Ministério Público (art. 51, parágrafo único). 
b) Nos crimes de competência da Justiça Federal, o prazo é de 15 dias, prorrogáveis por mais 15 (art. 
66 da Lei n. 5.010/66). Veja-se, todavia, que o tráfico internacional de entorpecentes, apesar de 
competir à Justiça Federal, segue o prazo mencionado no tópico anterior, uma vez que a Lei de Tóxicos 
é especial e posterior. 
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: 
 I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até 
a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) (Vide Lei nº 5.970, de 1973) 
 II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; 
(Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) 
 III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; 
 IV - ouvir o ofendido; 
 V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, 
deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a 
leitura; 
 VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; 
 VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; 
 VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos 
autos sua folha de antecedentes; 
 IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua 
condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer 
outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. 
 
Inciso I: o dispositivo trata da chamada preservação do local do crime, cuja finalidade é evitar que alterações feitas 
pelos autores do crime ou por populares possam prejudicar a realização da perícia. 
Inciso II: o art. 11 do CPP estabelece que tais objetos deverão acompanhar o inquérito, salvo se não mais 
interessarem à prova, hipótese em que serão restituídos ao proprietário. Veja-se que a própria lei determina a 
realização de perícia nos objetos apreendidas para ser contestada sua natureza e sua eficácia (art. 175, CPP). 
Inciso III: trata-se de permissão genérica dada pela lei à autoridade, no sentido de admitir que esta produza 
qualquer prova pertinente não elencada nos demais incisos. Ex.: ouvir testemunhas, realizar a avaliação de objetos 
etc. é evidente, todavia, que a lei não permite a produção de provas ilícitas ou obtidas com abuso de poder. 
P á g i n a | 13 
 
13 
Inciso IV: cuida-se de providência extremamente importante, pois, na maioria dos casos, é a vítima quem pode 
prestar os esclarecimentos mais importantes em relação à autoria do ilícito penal. 
Inciso V: o dispositivo se refere ao interrogatório do indiciado (pessoa a que se atribuiu a autoria do delito na fase 
do inquérito policial. 
Inciso VI: ao término das providências mencionadas pelo inciso, a autoridade deverá lavrar o respectivo termo. 
Inciso VII: o exame de corpo de delito, nos termos do art. 158, CPP, é indispensável para a prova da materialidade 
dos delitos que deixam vestígios. A sua ausência é causa de nulidade da ação (art. 564, III, b, CPP). 
Inciso VIII: veja-se, entretanto, que o art. 5º, LVIII, da CF estabelece que a pessoa civilmente identificada não será 
submetida a identificação criminal, salvonas hipóteses previstas em lei. Esse dispositivo proíbe, portanto, a 
identificação datiloscópica sempre que o indiciado apresentar documentação válida que o identifique. A própria 
Constituição, contudo, permite que, em hipóteses expressamente previstas em lei especial, seja utilizada tal forma 
de investigação. 
Inciso IX: esse dispositivo é de suma importância para que o juiz tenha dados para fixar a pena-base do réu (em 
caso de condenação), uma vez que o art. 59 do CP dispõe que a referida pena-base deve ser fixada de acordo com 
a conduta social, a personalidade, os antecedentes do agente, as circunstâncias do crime etc. 
Na prática, entretanto, em razão da exiguidade de tempo para apuração das inúmeras ocorrências, as autoridades 
policiais limitam-se a fazer um questionário ao próprio indiciado acerca dos tópicos mencionados no inciso, de tal 
sorte que o valor das respostas dadas é praticamente nenhum. 
Art. 10. O INQUÉRITO DEVERÁ TERMINAR NO PRAZO DE 10 DIAS, SE O INDICIADO TIVER SIDO PRESO EM FLAGRANTE, OU 
ESTIVER PRESO PREVENTIVAMENTE, CONTADO O PRAZO, NESTA HIPÓTESE, A PARTIR DO DIA EM QUE SE EXECUTAR A ORDEM 
DE PRISÃO, OU NO PRAZO DE 30 DIAS, QUANDO ESTIVER SOLTO, MEDIANTE FIANÇA OU SEM ELA. 
 § 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. 
 § 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, 
mencionando o lugar onde possam ser encontradas. 
 § 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao 
juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. 
1.5) O inquérito policial e a Lei nº 9.099/95: ler art. 61 da Lei nº 9.099/95. Trata-se do termo 
circunstanciado (art. 69 da Lei). 
O inquérito policial é instaurado para apurar infrações penais que tenham pena superior a 2 anos, já 
que, no caso das infrações de menor potencial ofensivo, determina o art. 69 da Lei n. 9.099/95 a mera 
lavratura de termo circunstanciado. As infrações de menor potencial ofensivo são os crimes com pena 
máxima não superior a 2 anos e as contravenções penais (art. 61 da Lei n. 9.099/95). De ver-se, todavia, 
que, se a infração de menor potencial ofensivo cometida revestir-se de alguma complexidade, 
inviabilizando sua apuração mediante termo circunstanciado, será, excepcionalmente, instaurado 
inquérito policial que, posteriormente, será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. Além disso, nos 
termos do art. 41 da Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), todas as infrações que envolvam 
violência doméstica ou familiar contra a mulher se apuram mediante inquérito policial, ainda que a 
pena máxima não seja superior a 2 anos. 
1.6) Arquivamento e desarquivamento do inquérito policial: é o juiz quem ordena o arquivamento, 
através de uma decisão. 
A autoridade policial não pode arquivar e nem requerer o arquivamento do Inquérito Policial (art. 17, 
CPP). 
Somente o Ministério Público é quem tem legitimidade para pedir o seu arquivamento, mas somente 
o juiz é quem manda arquivar. 
Tecnicamente este ato do juiz é uma decisão, e conforme o fundamento para o arquivamento transita 
em julgado, fazendo coisa julgada. Ex.: Fato Atípico faz coisa julgada material. 
Se o juiz discordar do Ministério Público, ele enviará os autos ao Procurador Geral da Justiça que no 
caso oferecerá a denúncia, designa um promotor para fazê-lo ou insiste no arquivamento, o qual 
vincula o juiz a fazê-lo. 
Por fim, de acordo com o art. 18 do Código de Processo Penal, mesmo após ter sido determinado o 
arquivamento do inquérito por falta de base para a denúncia, a autoridade policial pode realizar novas 
diligências a fim de obter provas novas, se da existência delas tiver notícia. Caso efetivamente sejam 
P á g i n a | 14 
 
14 
obtidas provas novas relevantes, a ação penal poderá ser proposta com fundamento nelas, 
desarquivando-se o inquérito policial. Nesse sentido, a Súmula n. 524 do Supremo Tribunal Federal: 
“Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não 
pode a ação penal ser iniciada sem novas provas”. 
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. 
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para 
a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. 
2) DIRETAMENTE PELO MINISTÉRIO PÚBLICO: Há controvérsia sobre a possibilidade de realização de investigação 
criminal diretamente pelo Ministério Público. 
Os opositores da tese argumentam que o disposto no art. 144, § 1º, IV, e § 4º, da Constituição Federal 
teria deferido às polícias federal e civil a exclusividade da titularidade da tarefa investigatória. 
A correta análise do conteúdo do dispositivo em questão e, sobretudo, seu cotejo com outras regras 
constitucionais, no entanto, revelam o equívoco dessa interpretação. 
Ressalte-se que o legislador constituinte fez clara distinção entre as atividades de apuração de infrações 
penais (art. 144, § 1º, I, da CF) e as de exercício de funções de polícia judiciária (art. 144, § 1º, IV, da CF), 
atribuindo exclusividade à polícia federal somente no que se refere ao segundo caso. A suposta 
exclusividade para realização de investigação criminal advinda do dispositivo, por outro lado, jamais 
poderia se estender às polícias civis, já que, em relação a elas, não há menção, no texto constitucional, ao 
termo exclusividade (art. 144, § 4º, da CF). 
A interpretação sistemática das regras constitucionais, por sua vez, revelam que, ao conferir exclusividade 
à Polícia Federal para o exercício das funções de polícia judiciária da União, pretendia o constituinte, tão 
somente, interditar a outras polícias a realização de investigações penais mencionadas no art. 109, incisos 
IV, V, VI, IX e X, da Constituição Federal. 
Averbe-se que a faculdade de realizar investigações criminais decorre, logicamente, da titularidade 
exclusiva da ação penal pública conferida ao Ministério Público (art. 129, I, da CF). 
Essa conclusão, além de afinada com o senso comum, decorre da aceitação da doutrina dos poderes 
implícitos (inherent powers), que se reveste de inegável solidez e tem trânsito no direito comparado: não 
se pode admitir que o ordenamento constitucional tenha privado o titular da ação penal dos instrumentos 
necessários para obtenção das informações de que necessita para desincumbir-se da alta missão que lhe 
foi confiada. 
No plano infraconstitucional, além da autorização genérica para que outras autoridades procedam a 
investigações, estampada no art. 4º, parágrafo único, do CPP, há diversos dispositivos legais que preveem, 
expressamente, a possibilidade de o Ministério Público conduzir, diretamente, procedimentos 
investigatórios: art. 26 da Lei n. 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); art. 29 da Lei n. 
7.492/86 (crimes contra o Sistema Financeiro Nacional); art. 356, § 2º, do Código Eleitoral; art. 201, VI e 
VII, do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
O Conselho Nacional do Ministério Público, por sua vez, editou a Resolução 13/2006, que disciplina a 
instauração e a tramitação de procedimento investigatório criminal presidido por membro do Ministério 
Público. 
3) Juizado de instrução: presente em Estados em que vigora o sistema processual misto. 
 
AÇÃO PENAL 
É o procedimento judicial iniciado pelo titular da ação quando há indícios de autoria e de materialidade a fim de 
que o juiz declare procedente a pretensão punitiva estatal e condene o autor da infração penal. Durante o 
transcorrer da ação penal será assegurado ao acusado pleno direito de defesa, além de outras garantias, como a 
estrita observância do procedimento previsto em lei, de só ser julgado pelo juizcompetente, de ter assegurado o 
contraditório e o duplo grau de jurisdição etc. 
 
Classificação 
O Estado, detentor do direito e do poder de punir (jus puniendi), confere a iniciativa do desencadeamento da ação 
penal a um órgão público (Ministério Público) ou à própria vítima, dependendo da modalidade de crime praticado. 
Portanto, para cada delito previsto em lei existe a prévia definição da espécie de ação penal — de iniciativa pública 
ou privada. Por isso, as próprias infrações penais são divididas entre aquelas de ação pública e as de ação privada. 
P á g i n a | 15 
 
15 
 
Ação penal pública é aquela em que a iniciativa de seu desencadeamento é exclusiva do Ministério Público (órgão 
público), nos termos do art. 129, I, da Constituição Federal. Em razão disso, havendo indícios de autoria e 
materialidade colhidos durante as investigações, mostra-se obrigatório o oferecimento da denúncia (peça inicial 
neste tipo de ação). 
A ação pública apresenta as seguintes modalidades: 
 
a) Incondicionada — o exercício da ação independe de qualquer condição especial. 
É a regra no processo penal, uma vez que, no silêncio da lei, a ação será pública incondicionada. 
b) Condicionada — a propositura da ação penal depende da prévia existência de uma condição especial 
(representação da vítima ou requisição do Ministro da Justiça). 
A titularidade é ainda do Ministério Público que, todavia, só pode oferecer a denúncia se estiver presente no caso 
concreto a representação da vítima ou a requisição do Ministro da Justiça, que constituem, assim, condições de 
procedibilidade. 
Nesse tipo de ação penal a lei, junto ao próprio tipo penal, necessariamente deve mencionar que “só se procede 
mediante representação ou requisição do Ministro da Justiça”. 
 
Ação penal privada é aquela em que a iniciativa da propositura da ação é conferida à vítima. A peça inicial se chama 
queixa-crime. Subdivide-se em: 
 
a) Exclusiva — a iniciativa da ação penal é da vítima, mas, se esta for menor ou incapaz, a lei permite que a ação 
seja proposta pelo representante legal. Em caso de morte da vítima, a ação poderá ser proposta por seus sucessores 
(cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão) e, se a ação já estiver em andamento por ocasião do 
falecimento, poderão eles prosseguir na ação. 
Nesse tipo de delito, a lei expressamente menciona que somente se procede mediante queixa. 
b) Personalíssima — a ação só pode ser proposta pela vítima. Se ela for menor, deve-se aguardar que complete 18 
anos. Se for doente mental, deve-se aguardar eventual restabelecimento. 
Em caso de morte, a ação não pode ser proposta pelos sucessores. Se já tiver sido proposta na data do falecimento, 
a ação se extingue pela impossibilidade de sucessão no polo ativo. 
Nesse tipo de infração a lei esclarece que somente se procede mediante queixa do ofendido. 
c) subsidiária da pública — é a ação proposta pela vítima em crime de ação pública, possibilidade que só existe 
quando o Ministério Público, dentro do prazo que a lei lhe confere, não apresenta qualquer manifestação. 
 
Todas as modalidades de ação penal serão detalhadamente analisadas adiante. 
Observação: Não existe em nosso ordenamento jurídico nenhuma hipótese de ação penal popular em que a lei 
confira a todo e qualquer cidadão o direito de dar início a uma ação para apurar ilícito penal, ainda que contra 
representantes políticos. Eventual aprovação de lei nesse sentido seria taxada de inconstitucional por ofensa ao 
art. 129, I, da Constituição, de modo que apenas por Emenda Constitucional seria possível tal providência. 
 
P á g i n a | 16 
 
16 
 
 
 Condições da ação: legitimidade das partes, interesse processual de agir, possibilidade jurídica do 
pedido. No processo penal há uma condição especialíssima ou “sui generis”, que é a justa causa. Se 
faltar uma dessas condições, o juiz não irá receber a ação penal, conforme o art. 395, II do CPP. 
 
➢ Legitimidade das partes: pode ser ordinária (alguém em nome próprio defende direito 
próprio) ou extraordinária (alguém em nome próprio defende direito alheio). 
Se a ação for pública, deve ser proposta pelo Ministério Público, e, se for privada, pelo ofendido 
ou por seu representante legal. 
O acusado deve ser maior de 18 anos e ser pessoa física, pois, salvo nos crimes ambientais, 
pessoa jurídica não pode figurar no polo passivo de uma ação penal, pois, em regra, não comete 
crime. 
Os inimputáveis por doença mental ou por dependência em substância entorpecente podem 
figurar no polo passivo da ação penal, pois, se provada a acusação, serão absolvidos, mas com 
aplicação de medida de segurança ou sujeição a tratamento médico para a dependência. 
➢ Interesse processual de agir: verificar o binômio necessidade-adequação. A sentença tem que 
ser útil, necessária e adequada. 
Para que a ação penal seja admitida é necessária a existência de indícios suficientes de autoria 
e de materialidade a ensejar sua propositura. Além disso, é preciso que não esteja extinta a 
punibilidade pela prescrição ou qualquer outra causa. 
➢ Possibilidade jurídica do pedido: o pedido deve ser juridicamente possível, ou seja, o fato 
relatado tem que constituir uma fato criminoso. 
No processo penal o pedido que se endereça ao juízo é o de condenação do acusado a uma 
pena ou medida de segurança. Para ser possível requerer a condenação é preciso que o fato 
descrito na denúncia ou queixa seja típico, ou seja, que se mostrem presentes todas as 
elementares exigidas na descrição abstrata da infração penal. 
Observação: Além dessas condições gerais, algumas espécies de ação penal exigem condições 
específicas, como a ação pública condicionada, que pressupõe a existência de representação 
da vítima ou de requisição do Ministro da Justiça. 
➢ Justa causa: são os elementos probatórios mínimos que demonstram a existência do crime e 
os indícios suficientes de sua autoria. 
 
 Ação penal pública 
 
a) Titularidade: o art. 129, I da constituição Federal (ver art. 5º, LIX, CF – flexibilização) concede 
ao Ministério Público a privatividade no oferecimento da ação penal pública, sendo certo que 
a própria carta federal, no art. 5º, LIX autoriza o ofendido a promover ação penal privada 
subsidiária da pública quando o “parquet” não observar o prazo que alude o art. 46 do CPP. 
Ação Penal
Pública
Incondicionada Condicionada
Representação 
da vítima
Requisição do 
Ministro da 
Justiça
Privada
Exclusiva Personalíssima
Subsidiária da 
pública
P á g i n a | 17 
 
17 
 
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
I - PROMOVER, PRIVATIVAMENTE, A AÇÃO PENAL PÚBLICA, NA FORMA DA LEI; 
 
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal; 
 
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em 
que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto 
ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o 
prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. 
b) Veículo processual: o art. 24 do CPP descreve que o Ministério Público promove a ação penal 
oferecendo a denúncia, que deve observar fielmente as regras estabelecidas no art. 41 do CPP, 
sob pena da mesma ser considerada inepta e, consequentemente, não recebida pelo juiz na 
forma do art. 395, I, CPP. 
TÍTULO III 
DA AÇÃO PENAL 
 Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas 
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou 
de quem tiver qualidade para representá-lo. 
 
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fatocriminoso, com todas as suas circunstâncias, a 
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, 
quando necessário, o rol das testemunhas. 
 
 Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). 
 I - FOR MANIFESTAMENTE INEPTA; (INCLUÍDO PELA LEI Nº 11.719, DE 2008). 
 II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 
11.719, de 2008). 
 III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). 
 Parágrafo único. (Revogado). (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). 
c) Espécies: o §1º do art. 100 do CP, assim como o art. 24 do CPP descrevem as espécies de ação 
penal pública, que podem ser: incondicionada ou condicionada, seja por representação do 
ofendido ou por requisição do Ministro da Justiça. 
TÍTULO VII 
DA AÇÃO PENAL 
P á g i n a | 18 
 
18 
Ação pública e de iniciativa privada 
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - A AÇÃO PÚBLICA É PROMOVIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, DEPENDENDO, QUANDO A LEI O EXIGE, DE REPRESENTAÇÃO 
DO OFENDIDO OU DE REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA. (REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 7.209, DE 11.7.1984) 
§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade 
para representá-lo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não 
oferece denúncia no prazo legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, o direito de 
oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
TÍTULO III 
DA AÇÃO PENAL 
 Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas 
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou 
de quem tiver qualidade para representá-lo. 
 
➢ Ação penal pública incondicionada: Esta denominação decorre do fato de o exercício do 
direito de ação pelo Ministério Público não depender de qualquer condição especial. Basta que 
o crime investigado seja de ação pública e que existam indícios suficientes de autoria e 
materialidade para que o promotor esteja autorizado a oferecer a denúncia. É evidente que 
também devem estar presentes as chamadas condições gerais da ação: legitimidade de partes, 
interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. 
Quando um tipo penal nada menciona a respeito da espécie de ação penal, o crime é 
considerado de ação pública incondicionada. Esta, aliás, é a regra no direito penal, pois a 
maioria esmagadora dos crimes se apura mediante ação pública incondicionada: homicídio, 
aborto, roubo, sequestro, extorsão, falsificação de documento, peculato, corrupção, desacato, 
falso testemunho, tráfico de drogas, tortura, dentre inúmeros outros. 
Além disso, o art. 24, § 2º, do Código de Processo Penal, com a redação que lhe foi dada pela 
Lei n. 8.666/93, estabelece que, qualquer que seja o crime, a ação será pública quando 
cometido em detrimento de patrimônio ou interesse da União, Estado ou Município. Ex.: o 
crime de fraude a execução (art. 179 do CP) apura-se mediante ação privada, contudo, se a 
execução for movida por uma das entidades de direito público mencionadas, será apurada 
mediante ação pública incondicionada. 
➢ Ação pública condicionada à REPRESENTAÇÃO do ofendido: a representação é uma 
autorização dada ao titular da pretensão acusatória para agir. Em verdade a representação 
para ser válida deve conter os elementos descritos no art. 39 do CPP, podendo ser a mesma 
direcionada ao delegado, ao juiz ou ao MP. 
 
A representação é uma manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal no 
sentido de solicitar providências do Estado para a apuração de determinado crime e, 
concomitantemente, autorizar o Ministério Público a ingressar com a ação penal contra os 
autores do delito. A titularidade da ação penal é exclusiva do Ministério Público, porém, o 
promotor só pode dar início a ela se presente esta autorização da vítima. A representação, 
portanto, tem natureza jurídica de condição de procedibilidade — condição para que o titular 
da ação possa dar causa à sua instauração. 
Alguns autores se referem à representação como delatio criminis postulatória. 
P á g i n a | 19 
 
19 
A autoridade policial só pode iniciar inquérito policial para apurar crime de ação pública 
condicionada se já presente a representação (art. 5º, § 4º, do CPP), salvo nas infrações de 
menor potencial ofensivo em que o termo circunstanciado pode ser lavrado sem a 
representação que só será colhida a posteriori na audiência preliminar. 
Nos crimes dessa natureza, a lei expressamente menciona junto ao tipo penal que “somente 
se procede mediante representação”. Exs.: crime de ameaça (art. 147, parágrafo único, do CP); 
crime de furto de coisa comum (art. 156, § 1º, do CP); crime contra o patrimônio que não 
envolva violência ou grave ameaça cometido contra irmão ou em prejuízo de tio ou sobrinho 
com quem o agente coabita, desde que a vítima não tenha mais de 60 anos (art. 182, II e 183, 
III, do CP); etc. 
Excepcionalmente nos crimes de lesão corporal dolosa leve e lesão culposa, a necessidade de 
representação encontra-se prevista em outra lei (e não junto ao tipo penal), conforme art. 88 
da Lei n. 9.099/95. Igualmente, em relação ao crime de lesão corporal culposa na direção de 
veículo automotor, a necessidade de representação encontra-se no art. 291, § 1º, da Lei n. 
9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro). Essa modalidade de ação penal ganhou ainda mais 
importância após o advento da Lei n. 12.015/2009 que transformou o crime de estupro simples 
em delito que se apura mediante ação pública condicionada à representação. 
 
Em verdade a representação não vincula o MP. 
O art. 127, § 1º, da Constituição Federal confere aos membros do Ministério Público a 
independência funcional no sentido de tomarem suas decisões, no exercício das funções, de 
acordo com a própria convicção, sendo que tais decisões só poderão ser eventualmente 
revistas pelo chefe da Instituição (Procurador-Geral) naquelas hipóteses em que a lei o 
permitir. Assim, a existência de representação da vítima não vincula o órgão do Ministério 
Público, que, portanto, pode requerer o arquivamento do inquérito ou denunciar apenas um 
dos investigados por entender que não há provas contra os demais. 
Se o juiz discordar do pedido de arquivamento do Ministério Público, aplicará a regra do art. 
28, do CPP, remetendo os autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem incumbirá dar a 
palavra final. Se o Procurador-Geral insistir no arquivamento, o juiz deverá acatar tal decisão, 
não sendo ela passível de recurso e tampouco se mostrando cabível a propositura de queixa 
subsidiária por parte da vítima. 
O autor da representação, por sua vez, não pode acionar diretamente a Procuradoria-Geral, a 
fim de que profira nova decisão sobre o caso, se o juiz, concordando com o pedido do promotor 
oficiante, determinar o arquivamento do inquérito. Somente o juiz de direito pode aplicar a 
regra do art. 28 do Código de Processo Penal. O que é possível é que a vítima, antes de o juiz 
apreciar o pedido de arquivamento do Ministério Público, apresente petição solicitando a 
aplicação da regra do art. 28, porém, se o magistrado indeferir este pedido e determinar o 
arquivamento, nenhum recurso poderá ser interposto.Em suma, a representação é uma simples autorização dada pela vítima para que o promotor, 
caso entenda que existam provas, ofereça denúncia em crime de ação pública condicionada. 
Assim, o promotor analisa o inquérito ou as peças de informação apresentadas e, se for o caso, 
apresenta denúncia contra as pessoas em relação às quais existam indícios de autoria. 
 
A representação possui natureza jurídica de condição de procedibilidade, pois sem ela ação 
penal não seria sequer apreciada. 
 
Representante legal: art. 34, CPP. 
De acordo com o art. 34 do Código de Processo Penal, a representação pode ser apresentada 
pela vítima ou por seu representante legal. 
A possibilidade de iniciativa do representante legal resume-se às hipóteses em que a vítima é 
menor de 18 anos ou incapaz em razão de doença ou retardamento mental. Se o prazo se 
exaure para o representante (que conhece a autoria do delito) enquanto a vítima ainda não 
completou os 18 anos, mostra-se presente a decadência, não podendo a vítima apresentar 
representação quando completar a maioridade. 
P á g i n a | 20 
 
20 
De acordo com a legislação civil, representantes legais são os pais, tutores ou curadores. A 
jurisprudência, todavia, tem admitido que o direito de representação seja exercido por outras 
pessoas que tenham a guarda ou a responsabilidade de fato do menor. 
Se a vítima menor de 18 anos não tiver representante legal, o juiz deverá nomear um curador 
especial para avaliar a conveniência do oferecimento da representação (interpretação 
extensiva do art. 33 do Código de Processo Penal). O curador especial deve ser pessoa da 
confiança do magistrado e não é obrigado a oferecer a representação, incumbindo-lhe, em 
verdade, avaliar se o ato trará benefícios ou prejuízos ao menor. O juiz igualmente nomeará 
curador especial, se houver colidência de interesses entre a vítima menor e seus 
representantes, por serem estes os autores da infração penal ou por outra razão relevante (art. 
33). A competência para a nomeação desse curador especial é do Juízo da Infância e 
Juventude, nos termos do art. 148, parágrafo único, f, da Lei n. 8.069/90 (ECA), que, em 
relação aos menores, alterou a redação do art. 33 do CPP. 
Se a vítima for doente mental e não possuir representante legal ou se houver colidência de 
interesses com o representante, o juiz também nomeará curador especial. Neste caso, 
entretanto, a nomeação deve ser feita pelo próprio juiz criminal. 
 
Se a vítima é maior de idade e mentalmente capaz só ela pode oferecer representação. Se, 
porventura, a vítima menor de 18 anos sabia da autoria do delito, mas não comunicou ao 
representante legal, o prazo decadencial só começará a correr quando ela fizer 18 anos. 
Havendo duas ou mais vítimas, se apenas um delas representar, somente em relação a ela a 
denúncia poderá ser oferecida. Por isso, se alguém provoca lesão culposa em duas pessoas e 
apenas uma delas representa, a denúncia só poderá ser apresentada em relação àquela que 
representou, desprezando-se, nesse caso, o concurso formal de crimes. Em caso de morte da 
vítima maior de idade, o direito de representação poderá ser exercido pelo cônjuge, 
companheiro, ascendente, descendente ou irmão. 
 
Prazo para exercício da representação: decadencial de 6 meses (art. 38, CPP). A contagem se 
dá na forma do art. 10, CP. É decadencial porquê regula direito material 
De acordo com o art. 38 do Código de Processo penal, o direito de representação deve ser 
exercido no prazo de 6 meses a contar do dia em que a vítima ou seu representante legal 
descobrem quem é o autor do delito. O prazo a que a lei se refere é para que a representação 
seja oferecida, podendo o Ministério Público oferecer denúncia mesmo após esse período. 
O prazo para o oferecimento da representação é decadencial (art. 38 do CPP), mas só corre 
após a descoberta da autoria pela vítima ou seu representante. A prescrição, contudo, corre 
desde a data da prática do delito, razão pela qual é comum que a prescrição ocorra antes da 
decadência, bastando que a vítima não descubra a autoria da infração penal contra ela 
cometida. 
Conforme já mencionado, a representação destina-se à apuração do fato criminoso, e, dessa 
forma, é óbvio que a vítima pode oferecer a representação antes mesmo de ser descoberta a 
autoria, justamente para que a autoridade policial possa instaurar o inquérito e desvendar 
quem foi o responsável pelo delito. Em tal caso, portanto, a representação foi oferecida antes 
mesmo de ter-se iniciado o curso do prazo decadencial. 
 
Retratação (art. 25, CPP c/c art. 102, CP) 
Prevê o art. 25 do Código de Processo Penal que a representação é retratável até o 
oferecimento da denúncia. A vítima, portanto, pode retirar a representação, de forma a 
impossibilitar o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público. 
Deve ser salientado, ainda, que, dentro do prazo decadencial, a representação pode ser 
novamente oferecida tornando a ser viável a apresentação de denúncia pelo Ministério 
Público. É o que se chama de retratação da retratação. 
A Lei conhecida como Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006) trata da apuração dos crimes que 
envolvem violência doméstica ou familiar contra a mulher e, especificamente no que se refere 
à representação nos crimes de ação pública condicionada, alguns pontos merecem destaque. 
Em primeiro lugar, o art. 41 da referida Lei afastou a incidência das regras da Lei n. 9.099/95 
sobre os delitos que envolvam aquele tipo de violência contra as mulheres. Por isso, ainda que 
P á g i n a | 21 
 
21 
o crime cometido contra a mulher tenha pena máxima não superior a 2 anos, enquadrando-se 
no conceito de infração de menor potencial ofensivo, deverá ser apurado mediante inquérito 
policial, e não por mera lavratura de termo circunstanciado. Ex.: crime de ameaça contra a 
esposa. 
Para a instauração de inquérito em crime de ação pública condicionada, o art. 5º, § 4º, do 
Código de Processo Penal exige a prévia existência da representação. Por isso, quando há 
inquérito instaurado para apurar crime que envolva violência doméstica ou familiar contra a 
mulher, correta a conclusão de que já existe a representação. É comum, contudo, que a mulher, 
posteriormente, se arrependa e compareça ao distrito policial ou ao cartório judicial para se 
retratar. Em tais casos a autoridade policial ou o escrevente devem elaborar certidão dando 
conta do comparecimento da vítima e de sua intenção de se retratar. O juiz, então, à vista dessa 
manifestação de vontade, caso ainda não tenha recebido a denúncia, deve observar o que 
dispõe o art. 16 da Lei Maria da Penha e designar audiência para a qual a vítima será notificada 
e na qual Ministério Público deve estar presente. A única finalidade desta audiência é 
questioná-la se ela realmente quer se retratar e se o faz de forma livre e espontânea. Deverá, 
ainda, ser alertada das consequências de seu ato caso insista na retratação. Se ela efetivamente 
confirmar sua intenção de se retratar, essa manifestação de vontade será reduzida a termo e a 
retratação será tida como renúncia à representação, de forma que, nessa hipótese, não será 
possível a retratação da retratação. 
Observe-se que no art. 16 da Lei Maria da Penha, a lei permite a retratação até o recebimento 
da denúncia, em dissonância com o que ocorre com os crimes em geral, em que a retratação 
só se mostra possível até o seu oferecimento (art. 25 do CPP). 
É de salientar que alguns juízos têm dado errada interpretação ao art. 16 da Lei Maria da Penha, 
designando a audiência em todo e qualquer caso de violência doméstica a fim de que as 
vítimas, que já ofereceram representação prévia para a instauração do inquérito, venham a 
juízo reiterar tal representação. Ora, se a vítima já ofereceu representação e não manifestou 
interesse em se retratar, não há razão para a realização da audiência, uma vez que a 
representação

Continue navegando