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Este documento trata-se de uma tradução não-profissional do artigo “A Compassion Focused Approach to Anxiety Disorders”, de Mary Welford. A tradução foi realizada por Carlos Alberto Dorneles Nonnenmacher, estudante de Psicologia da Universidade Feevale. A tradução visa apenas a divulgação do conhecimento científico e da TCC. Qualquer consideração: carlosdornelesn@gmail.com. International Journal of Cognitive Therapy, 3(2), p. 124-140, 2010 UMA ABORDAGEM FOCADA NA COMPAIXÃO PARA TRANSTORNOS DE ANSIEDADE Mary Welford Greater Manchester West Mental Health NHS Foundation Trust Todos os animais precisam de sistemas de p rocessamento que permitem a detecção de perigos e então a tomada rápida de ações defensivas para enfrentar e/ou evitá-los. A ansiedade é um mecanismo evoluído que facilita tais estratégias protetivas e defensivas e, assim, é parte de um sistema normal, altamente evoluído para a detecção de ameaça e defesa. Formas problemáticas de ansiedade podem ocorrer quando mecanismos evoluídos são ativados inapropriadamente, com muita intensidade e pervasividade. As razões para a ansiedade se tornar “problemática” têm sido atribuídas a uma interação complexa entre genética, fatores ambientais e avaliações pessoais. Este artigo explorará as dificuldades de ansiedade de uma posição teórica focada na compaixão, na qual se argumenta que a regulação da ansiedade ocorre tanto dentro quanto fora do sistema de ameaça. Em particular, o sistema que evoluiu para processos de apego pode ser um grande regulador do processamento da ameaça. Assim, os transtornos de ansiedade podem representar problemas em diferentes sistemas, além do sistema de ameaça (e.g., sistema de soothing), e uma atenção a estes é necessária para a recuperação. Este artigo sublinha a base racional e os componentes-chave da abordagem da Terapia Focada na Compaixão (TFC) para a compreensão e melhora das condições da ansiedade. Um exemplo de caso, salientando seus principais pontos, é fornecido. O DSM-IV (APA, 1994) assinala a existência de 12 diferentes transtornos de ansiedade, variando de simples fobias a transtornos obsessivo-compulsivos e de ansiedade generalizada. Com prevalências ao longo da vida de 30% e aproximadamente 18% ao longo de doze meses (Kessler, Chiu, Demler, Walters, 2005), os transtornos de ansiedade são umas das condições psiquiátricas mais prevalentes na população geral. A visão da TCC sobre os transtornos de ansiedade foi primeiro descrita em 1985 por Beck, Emery e Greenberg. Eles propuseram que as experiências de vida e o desenvolvimento de crenças nucleares e esquemas sensibilizam a atenção do indivíduo e as competências interpretativas para certos tipos de ameaças, ativando sistemas de ameaça inatos e evoluídos (por exemplo, luta, fuga, congelamento e desmaio). As experiências de ansiedade e medo podem sensibilizar os sistemas atencionais, criar crenças nucleares (e.g., “Eu sou vulnerável”, “Os outros são rejeitadores”) e levar ao desenvolvimento de uma gama de comportamentos de segurança para lidar e evitar as ameaças. Esses comportamentos de segurança tipicamente aumentam a percepção de ameaça ou previnem o aprendizado de enfrentamento adaptativo ou engajamento e dessensibilização (Thwaites & Freeston, 2005). Nas últimas três décadas, contudo, muito mudou e avançou em nossa compreensão dos mecanismos que subjazem e regulam a ansiedade (LeDoux, 1998; Panksepp, 1998). Um menu de protocolos com modelos específicos que buscam a reavaliação de pensamentos específicos e/ou interpretações catastróficas, via reatribuição verbal e experimentos comportamentais, têm se saído muito bem para uma série de grupos, como aqueles que sofrem com ansiedade social (Fedoroff & Taylor, 2001), transtorno de estresse pós-traumático (Ehlers et al., 2003, Ehlers, Clark, Hackmann, McManus, & Fennel, 2005) e transtorno de pânico com ou sem agorafobia (Clark et al., 1994, 1999). As terapias cognitivo-comportamentais (TCC) para transtornos de ansiedade têm demonstrado boa performance, mas com o reconhecimento da necessidade de maiores pesquisas e melhorias (NICE, 2004). Mais recentemente, modelos clássicos de TCC têm sido incrementados com intervenções que, em vez de focar no conteúdo dos pensamentos, direcionam-se à relação do indivíduo com os seus pensamentos e sentimentos. A Redução de Estresse Baseada em Mindfulness (Kabat-Zinn, 1990), a Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (Segal, Williams, & Teasdale, 2002), a Terapia de Aceitação e Compromisso (Hayes, Strosahl e Wilson, 1999) e a Terapia Meta- cognitiva (Wells, 1995) também demonstraram resultados positivos com esse grupo de clientes (veja Baer, 2006; Cullen, 2008; Wells, 2008 para revisões). A pesquisa e a prática clínica indicam que uma área à qual talvez devemos prestar atenção para a melhoria das abordagens focadas em ansiedade é a que envolve indivíduos que são altamente autocríticos e experienciam vergonha. Tais fenômenos psicológicos têm sido considerados altamente associados entre si (Andrews, 1998; Gilbert, 1998; Gilbert & Miles, 2000; Tangney & Dearing, 2002), altamente prevalentes naqueles que sofrem com dificuldades como ansiedade social (Cox et al, 2000) e transtorno de estresse pós-traumático (Brewin, 2003; Lee, 2005). Há evidências de que indivíduos com altos níveis de autocriticismo e vergonha podem se beneficiar menos com terapias padrão (Rector, Bagby, Segal, Joffe, & Levitt, 2000). Sendo assim, pode haver uma necessidade de focar no desenvolvimento das terapias tradicionais e focadas para resolver essas dificuldades. Um segundo grupo de indivíduos que parecem se beneficiar menos com as abordagens tradicionais de TCC são aqueles que concordam, em princípio, com uma maneira alternativa de pensar sobre as situações, mas alegam não se sentir nada diferentes. Nas sessões, eles podem dizer coisas como “Eu sei que é altamente improvável que algo vá acontecer com meu filho, mas eu não sinto isso, não me sinto amparado pela evidência”, “Eu sei que não vou perder o controle, mas ainda sinto como se fosse” ou “Eu sei que não sou mau, mas eu ainda sinto isso”. Beck, Rush, Shaw e Emery (1979, p. 302) sugerem que “o terapeuta pode dizer ao paciente que uma pessoa não acredita em nada ‘emocionalmente’. (...) Quando o paciente diz que acredita ou não emocionalmente, ele está falando sobre o grau da crença”. Gilbert (1989, 1993) argumentou que as crenças podem ser motivadas e texturizadas por sistemas inatos e nucleares que regulam as avaliações de ameaça e segurança, e que o processamento cognitivo e o processamento emocional interagem, mas não deveriam ser confundidos. Evidências neurofisiológicas demonstram também que os mecanismos subjacentes à emoção e aqueles subjacentes às cognições são separados e possuem interações complexas (Panksepp, 2007). Para complementar o problema, os terapeutas cognitivos às vezes utilizam o conceito de processamento da informação e cognição intercambiavelmente, como se fossem equivalentes, quando na verdade não são. “Cognição” não é apenas processamento de informação. Um computador e o DNA são processadores de informação, mas não possuem cognições (Gilbert, 2009a). De fato, dentro das tradições cognitivas, a complexidade da interação entre o processamento emocional e cognitivo tem sido abordada. Por exemplo, Teasdale e Barnard (1993) propuseram dois níveis de significado, que contam como crença intelectual e emocional ou “saber na cabeça” versus “saber no coração”. Como Teasdale (1997, p. 146) aponta, no nível proposicional, pensamentos como “Eu não valho nada” são simplesmente constatações de crença – proposições sobre as propriedades do self como um objeto.No nível implicacional, contudo, essa constatação representa uma rica ativação de afeto e memórias associadas com experiências de estar assustado, ser rejeitado ou envergonhado. Stott (2007) também aborda essa questão, a qual chama “dissociação entre emoção e cognição”, de maneiras importantes e úteis. Comportamentalistas, utilizando modelos de condicionamento clássico, sempre argumentaram a favor da importância de novas aprendizagens em contextos afetivos. O que a Terapia Focada na Compaixão (TFC) acrescenta é que esse afeto às vezes precisa ser positivo, especialmente associado com afiliação e reasseguramento. Além disso, a TFC argumenta que alguns indivíduos têm medo de certos tipos de afeto positivo, especialmente aqueles ligados a compaixão, ajuda, encorajamento e perdão. A inabilidade de experienciar certos tipos de afetos positivos mantém o sistema de ameaça pobremente regulado. A TFC de Gilbert (2000, 2005, 2009b) e o Treino em Mente Compassiva (TMC) têm suas raízes científicas e teóricas em modelos neurocientíficos das emoções e nos modelos da psicologia evolucionista sobre a motivação humana – especialmente a pesquisa sobre apego (Gilbert, 1989, 2009b) e pertencimento (Baumeister e Leary, 1995). A proposição básica desse modelo, com detalhes sobre três sistemas de regulação do afeto que são importantes para a TFC, são descritos por Gilbert (este volume). As especificidades da terapia foram originalmente desenvolvidas como um antídoto para a vergonha e o autoataque. A teoria não apenas atribui níveis problemáticos de ansiedade a um sistema de ameaça hiperativo ou hipersensível e avaliações subsequentes, mas, em muitos casos, ao subdesenvolvimento da regulação deste por outros sistemas, especialmente aquele de apaziguamento (soothing) ligado a endorfinas e oxitocina. Ela propõe que, se o sistema de soothing não está funcionando particularmente bem ou não está acessível, então métodos como exposição e intervenções cognitivas podem ser difíceis, pois a pessoa não possui o sistema emocional necessário para experienciar alternativas, especialmente aquelas de natureza verbal, como a calma, apaziguamento e reasseguramento. Em termos de formulação, o terapeuta primeiro desenvolve uma compreensão compartilhada das origens das dificuldades e sofrimento da pessoa, como esforços compreensíveis para a regulação da ansiedade, utilizando psicoeducação sobre como nossos sistemas de ameaça funcionam. Para indivíduos experieciando altos níveis de vergonha, em particular, isso é realizado como uma normalização, despatologização, desestigmatização e desenvergonhamento. Em segundo lugar, o terapeuta fornece uma clara racionalização e método direcionados para “calibrar” o sistema de regulação de afeto de soothing e afiliação, para que este possa ser recrutado na regulação dos sistemas de ameaça e drive. Esse componente é claramente distinto de muitas outras formas de terapia para a ansiedade, nas quais a ênfase recai em apenas “descalibrar” as emoções problemáticas associadas com a ativação do sistema de ameaça, como a ansiedade, raiva, medo e tristeza, através de desafios verbais e comportamentais de pensamentos, crenças, etc. PLANO DE FUNDO DA ABORDAGEM DA TFC PARA ANSIEDADE A TFC localiza muitas de nossas dificuldades emocionais na maneira como nossos cérebros evoluíram e agora interagem com ambientes muito diferentes daqueles nos quais evoluíram. Mais do que pensar em patologias, a TFC encara muitas condições como falhas e dificuldades compreensíveis associadas com nosso cérebro complicado (tricky brain). Ela pontua que todos nós simplesmente nos encontramos no mundo com um cérebro que não projetamos e experiências de vida que nos moldaram e que também não escolhemos. Essa é a base filosófica para a instância terapêutica, que não apenas impacta o bem-estar psicológico do cliente, mas também o do terapeuta. Essa instância diferencia culpa (fault), remorso (guilt) e vergonha (shame) (nós não escolhemos nossos cérebros ou nossas experiências primárias que dão origem a comportamentos de segurança e dificuldades emocionais) e responsabilidade (apenas através de nossos próprias ações e esforços a mudança ocorrerá), é aceitadora, validante e encorajadora. Mais especificamente, a terminologia que enfatiza a “humanidade comum” e uma perspectiva evolucionista compartilhada serve para unir, mais do que diferenciar, o terapeuta e o cliente, e pode ter um efeito significativo e profundo na mensagem veiculada na terapia em muitos níveis. Declarações como “nós temos um cérebro complexo, não é um defeito nosso que nós...” ou “é compreensível/faz sentido sentir... nessa situação” são comumente ouvidas e oferecidas repetidamente pelo terapeuta. Isso é feito de uma maneira acalentadora (soothing manner) por toda a jornada compartilhada. Ajudar o indivíduo a conectar-se emocionalmente com essa mensagem é parte do trabalho terapêutico. Para engajar emocionalmente, o terapeuta ensina o indivíduo a se envolver com uma “mente compassiva” através da prática de vários exercícios comportamentais e de imagens mentais. Da mesma forma que podemos ativar a ansiedade, o terapeuta também pode ajudar o indivíduo a ativar uma compaixão sábia – como o envolvimento com ritmos respiratórios de soothing (soothing breathing rhythm) e imaginar a si mesmo como uma pessoa compassiva, imaginar-se como sua melhor versão e como alguém que realmente gostaríamos de ser. Essa, então, se torna a postura a lentamente refletir-se no processo de terapia. O terapeuta tenta criar um estado cerebral com capacidades conscientes de empatia e reflexão (veja Tirch, este volume) antes de começar trabalhos mais complexos. A criação destes estados cerebrais pode primeiro facilitar o funcionamento da terapia. A TFC também se foca na relação terapêutica e nas micro-habilidades dessa relação – como ritmo, tom de voz, sensibilidade emocional, irreverência, apoio, encorajamento, estabelecimento de limites e assim por diante. O SISTEMA DE AMEAÇA A ansiedade, é claro, tem a ver com o processamento de ameaças. Os tipos de transtornos de ansiedade que a TFC está especialmente interessada são aquelas associadas com vergonha, autocriticismo e medo de envolvimento. Tais indivíduos podem ter dificuldades com a TCC tradicional. Na TFC, a grande ênfase é localizada no esclarecimento fornecido ao indivíduo sobre o papel incrivelmente importante do sistema de ameaça. A compreensão das respostas emocionais, cognitivas, comportamentais e fisiológicas do sistema de ameaça é fundamental. Mais especificamente, ele evoluiu como um sistema de autoproteção, não é nosso inimigo, tampouco algo a ser eliminado, mas sim algo a ser trabalhado e equilibrado com nossos outros sistemas. Então, o terapeuta explica que o sistema de ameaça existe porque sem ele os seres vivos (incluindo nós) não sobreviveríamos. Seu papel é detectar e alertar sobre ameaças potenciais e nos capacitar para responder rapidamente. Nós experienciamos reações fisiológicas automáticas, uma rápida ativação de emoções (por exemplo, ansiedade, raiva), comportamentos (por exemplo, congelar, lutar, fugir, submeter-se) e processos cognitivos (por exemplo, atenção seletiva, raciocínio em preto e braço, conclusões precipitadas). Essas reações são chamadas de processamento de “melhor prevenir do que remediar” (better safe than sorry) (Gilbert, 1998). O terapeuta normaliza as tendências a essas reações. Por exemplo, se um animal comendo calmamente em um campo ouve um som às suas costas, ele ficará alerta e possivelmente fugirá. Em nove de dez vezes, não havia necessidade de correr e acabar perdendo momentos agradáveisde alimentação. No entanto, ele ficou salvo. Na décima vez pode realmente haver um predador. Então, a sua hipervigilância, o pensamento de “melhor prevenir do que remediar” esteve incorreto em nove de dez vezes, mas ele sobreviveu. O animal que decidiu ter uma abordagem mais relaxada com a vida e ignora o som poderia ficar OK em nove de dez vezes, mas na décima estaria morto. Discutir com os indivíduos de que esse sistema é programado para catastrofizar e aprender a identificar “pensamentos de melhor prevenir do que remediar” ajuda a normalizar suas experiências. Além disso, o terapeuta pontua, por exemplo, que as emoções de ameaça são programadas para desativar emoções positivas, possibilitando o foco na ameaça. Isso pode ser útil para pessoas que têm dificuldades com uma comorbidade depressiva. Para muitos indivíduos, o sistema de ameaça pode ser extremamente sensível. Podemos detectar essa sensibilidade utilizando várias medidas fisiológicas (por exemplo, fMRI) e podemos detectar mudanças (por exemplo) na atividade da amígdala (LeDoux, 1998). Isso pode ser atribuído a fatores independentes ou inter-relacionados. Primeiro, o indivíduo pode ter crescido e experienciado um ambiente no qual ameaças físicas, sociais e/ou psicológicas eram comuns. Assim, a necessidade de detectar e reagir à ameaça é elevada. Alternativamente, ele pode ter crescido em um ambiente ansioso, onde figuras significativas modelaram e reforçaram altos níveis de processamento de ameaça, transmitindo isso à criança via aprendizagem e genética. Pais ansiosos, por exemplo, podem tentar impedir que suas crianças se sintam ansiosas encorajando comportamento evitativo. Isso pode ser parcialmente devido ao fato de que uma criança ansiosa e estressada é aversiva a muitos pais e eles podem, por exemplo, acreditar que o ato de impedir suas crianças de experienciar ansiedade é uma coisa gentil de se fazer. Então, se a criança fica ansiosa sobre ir a uma festa, por exemplo, e os pais dizem “tudo bem, você pode ficar comigo”, a criança nunca aprende como tolerar a ansiedade, tampouco as habilidades sociais de conhecer pessoas novas nesse tipo de situação. Assim, o pai modela e ensina à criança o “melhor prevenir do que remediar” e uma gama de comportamentos de segurança que possuem consequências involuntárias – falta de aprendizagem sobre como tolerar e enfrentar a ansiedade, falta de oportunidades para aprender que festas podem ser divertidas e não apenas ameaçadoras, falta de oportunidades para desenvolver habilidades de relacionamento social, fazer amigos e de compartilhamento nesses contextos. Claramente, é importante que os terapeutas diferenciem entre sensibilidades advindas de um ambiente traumático ou assustador (relacionados a traumas) e aquelas advindas de faltas de oportunidades para aprender a tolerar e lidar com a ansiedade. Então, a TFC dedica muito tempo a ajudar as pessoas a reconhecerem que seus cérebros estão programados para serem capazes de gerar altos níveis de ansiedade e, por vezes, cometer erros – o que, é claro, não é sua culpa. COMPREENDENDO ESTRATÉGIAS DE SEGURANÇA A TFC localiza o desenvolvimento de estratégias de segurança, em uma ampla gama de contextos, como uma chave para a compreensão das origens daquilo que pode ser tradicionalmente descrito como “psicopatologia”. Por exemplo, as crianças que temem seus pais hostis podem desenvolver estratégias de segurança ligadas ao monitoramento de seu próprio comportamento, tentativas de garantir que não vão ativar a raiva de seus pais e de culpabilização de si caso isso aconteça. Assim, o automonitoramento, o comportamento submisso e a autoculpabilização no contexto de outros poderosos e ameaçadores pode ser visto como estratégias de segurança muito compreensíveis (Gilbert, 2007, 2009b). Apesar de esses pensamentos e comportamentos, quando levados para a vida adulta, poderem ser encarados como uma distorção, na TFC a ênfase está localizada na compreensão da sua função de “melhor prevenir do que remediar” e no seu valor protetivo, mais do que em qual medida são um reflexo da realidade. É claro, como todos comportamentos de segurança, podem existir consequências imprevistas e involuntárias, que, por si só, tornam-se fonte de dificuldades. Dessa forma, indivíduos ansiosos e autoculpabilizadores podem não aprender a serem assertivos ou resolverem conflitos com outras pessoas. REGULAÇÃO DO SISTEMA DE AMEAÇA VIA SISTEMA DE SOOTHING Com a evolução dos mamíferos, o sistema de apego permitiu que os pais e indivíduos significativos agissem como reguladores da ameaça e apaziguadores (soothers) frente a excitação e sofrimento de sua prole (Bowlby, 1969). Isso significa que o cérebro evoluiu mecanismos especiais para ser sensitivo ao cuidado e gentileza de outros e responder através da calma e da redução na sensitividade à ameaça (Gilbert, 2009b). Um pai que está regularmente capaz de apaziguar uma criança em sofrimento está estimulando circuitos no cérebro da criança que estão disponíveis para serem ativados por auto- apaziguamento (self-soothing) posteriormente na sua vida. Mais especificamente, as conexões entre o sistema límbico (lar do processamento rápido, automático e inconsciente da ameaça) e o córtex pré-frontal são fortalecidas. Uma criança de um contexto seguro e afetivo ainda se tornará sensível a certas ameaças e rápida para perceber e reagir, mas isso também será acompanhado pelo recrutamento do córtex pré-frontal, bem como outras áreas do cérebro, para avaliar e regular essa reação sob a luz de uma gama mais ampla de informação. Até na ausência de outros, um indivíduo que foi beneficiado por um bom apego primário pode se auto-apaziguar e autorregular – e isso está ligado a resiliência. Indivíduos que tiveram menos oportunidades para o desenvolvimento de um sistema de soothing/segurança social (soothing/safeness system) podem não ter aprendido e não serem capazes de regular ou “acalmar” a tendência natural para reações a grandes ameaças. Então, uma mensagem-chave é que os seres humanos evoluíram um cérebro muito complexo, e é importante reconhecer quão complicado ele é. Isso é especialmente verdadeiro sobre o sistema de ameaça (Gilbert, 2009b). As pessoas que trabalham com transtornos de ansiedade mais complexos devem estar familiarizadas com essas complexidades. Por exemplo, no sistema de ameaça, as emoções podem conflitar (por exemplo, as pessoas podem ficar ansiosas por estarem com raiva ou com raiva por estarem ansiosas), há diferentes sistemas de memórias que codificam o trauma (por exemplo, memória amigdaliana corporal e memória episódica), a ansiedade pode advir de conflitos de aproximação-evitação (por exemplo, querer deixar um casamento abusivo, mas sentir- se assustado e incerto sobre isso – ou assustado de reconhecer a raiva direcionada a um dos pais). A TFC pontua que diferentes estados cerebrais (por exemplo, o estado da depressão) alteram os padrões de processamento da informação, tornando o processamento da ameaça muito mais proeminente. A TFC enfatiza o desenvolvimento de estratégias de segurança como formas de autoproteção cuja função deve ser claramente compreendida e delineada em toda sua complexidade – não como patologias. Primeiramente descrita em 1892 por Santiago Ramón y Cajal, mas amplamente esquecida no século seguinte, a teoria da neuroplasticidade descreve a habilidade de todas áreas do cérebro, não apenas áreas como o hipocampo e o giro denteado, constantemente evoluir e mudar. Apesar de certamente ser verdade que esse desenvolvimento é mais eficiente durante a infância e a puberdade, há um crescente e claro campo de evidências de queo cérebro pode se desenvolver em qualquer parte de nossas vidas, até mesmo em idade avançada. Dessa forma, a questão é onde desejamos concentrar nossos esforços e desenvolver novos potenciais. Certamente, com muitos indivíduos nós proporíamos que o trabalho de desenvolvimento do sistema de soothing é altamente importante. Analogias com a psicoterapia são úteis aqui – o modelo dos sistemas oferece uma fundamentação racional do porquê precisamos nos concentrar na “calibração” do sistema de soothing, enquanto o conceito de neuroplasticidade nos permite demonstrar que esse foco para os nossos esforços vale a pena, que os cérebros mudam (Begley, 2007). COMPAIXÃO E ANSIEDADE A compaixão significa coisas diferentes para pessoas diferentes, individualmente e culturalmente, logo é importante que tanto o terapeuta quanto o cliente desenvolvam uma compreensão compartilhada do termo. Esse artigo não pode discutir diferentes definições de compaixão, mas um bom ponto de partida é a visão do Dalai Lama, que diz que a compaixão está associada a uma sensibilidade ao sofrimento em si e outros junto a uma motivação de aliviá-lo – então, a sensibilidade e motivação são chave. Gilbert (1989, 2000, 2005a, 2009b) reconhece o crédito do budismo, mas argumenta que a compaixão evoluiu do comportamento de cuidado e, para seu funcionamento pleno, requer a integração de um número de diferentes componentes da mente. Estes são descritos claramente no artigo de Gilbert neste volume. Um ponto importante para discutir com os clientes é que a compaixão não é absolutamente sobre “corações e flores”, “recompensar a si mesmo”, “abdicar da responsabilidade” e “fazer o que bem entender”. Pelo contrário, a TFC gasta uma boa parcela de tempo explorando a habilidade da pessoa de ser gentil, apoiadora e cuidadora para consigo, em contraste de ser autocrítico, subsequentemente se comportando de formas que melhoram seu bem-estar. Trata-se de gerar a força e a coragem, por exemplo, para encarar o mundo depois de ficar em casa por 10 anos, defender seus direitos frente um relacionamento difícil ou reconhecer e validar sentimentos de raiva e tristeza através da gentileza e compreensão, mais do que o auto-bullying, autocriticismo e hostilidade. CULPABILIZAÇÃO VERSUS TOMADA DE RESPONSABILIDADE A TFC faz uma clara distinção entre vergonha (shame) e remorso (guilt). A vergonha está focada em um self negativo (inferior, inadequado, mau) com autocriticismo. As emoções são ameaçadoras, com raiva, ansiedade ou nojo, e o comportamento está focado na reparação/evitação de (mais) danos ao self. Em contraste, o remorso/guilt se foca em ser aberto e tomar a responsabilidade pelo comportamento, e, se o indivíduo cometeu um mal para si ou outros, ter sentimentos de tristeza com esforços de reparação apropriada. Na vergonha, a atenção é autofocada, no remorso/guilt ela é focada no outro. A vergonha não requer muita empatia, enquanto o remorso/guilt sim (Gilbert, 1998, 2009b). EXEMPLO DE CASO: UTILIZANDO O MODELO DE TRÊS SISTEMAS PARA FORMULAR E IDENTIFICAR O FOCO TERAPÊUTICO A TFC monitora cuidadosamente os tons emocionais dos esforços pessoais no trabalho com sua ansiedade. Isso é feito em um número de maneiras, como na prática de vocalização compassiva, pensamento compassivo, uso de imagens compassivas e geração de comportamentos compassivos. Para indicar como a TFC está integrada às abordagens cognitivo-comportamentais, esse artigo agora destacará algumas características-chave de um caso. Para evitar identificação, o caso é uma síntese de um número de indivíduos. Stephen veio à terapia com níveis altos de ansiedade. Ele estava claramente frustrado por “não ter conseguido nada, mesmo sendo bastante inteligente” e porque, a despeito de seus esforços, ele não conseguia dominar sua ansiedade. Stephen teve uma infância difícil. Sua mãe esteve dentro e fora do hospital por conta de um câncer de mama desde que ele nasceu. Ela eventualmente morreu “do nada” quando ele tinha 8 anos, deixando seu pai e seus dois irmãos mais novos. Após a explicação do modelo básico dos três círculos e sobre o poder de nossos pensamentos e imagens mentais para estimular diferentes sistemas do cérebro, nós formulamos as circunstâncias de Stephen usando esse modelo em vez do diagrama de quatro colunas costumeiramente utilizado na TFC. Isso aconteceu porque Stephen achou os três círculos extremamente empoderadores e normalizadores de suas dificuldades e suas necessidades (veja Figura 1). Começando pelo sistema de soothing, discutimos e documentamos que Stephen teve oportunidades limitadas para desenvolver esse sistema extremamente importante por conta da ausência de sua mãe do lar familiar, o impacto de sua doença enquanto ela estava em casa e o papel familiar de seu pai, mais funcional do que emocional. Em contraste a esse sistema subdesenvolvido, o sistema de ameaça de Stephen foi discutido e formulado como extremamente bem desenvolvido, dadas as circunstâncias de sua infância. Ainda, achamos benéfico diferenciar entre ameaças históricas (H) e atuais (A) (veja Figura 1). Historicamente, a doença de sua mãe gerou um grande foco na doença dentro da família. Essa ansiedade compreensivamente levou a um foco mais persistente sobre ameaças em uma alta gama de coisas. A família de Stephen se mudou três vezes enquanto ele crescia, inicialmente para estar mais próxima do hospital especializado onde sua mãe estava sendo tratada. Após a morte de sua mãe, eles se mudaram para estarem próximos de outras formas de apoio social e novamente quando o pai de Stephen mudou de emprego. Stephen reportou “dificuldades” com amizades e trabalhos escolares, sendo correspondido com o criticismo de outros. Drive Devo lutar para ser como outros/atingir objetivos Devo ser uma pessoa melhor/ atingir meu potencial Ameaça Externas: Doença da mãe (H) Mãe muito focada em ameaça (H) Muitas mudanças (H) Professores e pares críticos (H) Internas: Ser diferente dos outros (H e A) Diferenças de pensamento (H e A) Devo me proteger – às vezes se isolando, defendendo, atacando (verbalmente). Frequentemente submisso, sempre “em guarda”. Soothing/ segurança social Oportunidades limitadas Consequências involuntárias Ansiedade e preocupação Exaustão Nunca atinge metas irrealistas Vergonha Não conhece pessoas Se bate o tempo todo Tristeza profunda Depressão Raiva Sentimento interno de nada MAS Conclusão: Preciso ser compassivo para com a história do porquê estou sentado aqui e agora. Preciso construir segurança porque todo ser-humano precisa disso. Figura 1. Formulação utilizando o modelo de três círculos. Stephen experienciou um mundo interno ameaçador no qual ele se percebia como “diferente”, não como os outros. Ele acreditava que pensava diferente dos outros, tinha pensamentos e emoções de raiva, levando-o algumas vezes ao isolamento e a uma postura defensiva, outras vezes ao ataque ou submissão, mas sempre “em guarda” ou vigilante por ameaças potenciais de outros ou ameaças potenciais de seu próprio mundo interno. Ele era também muito ansioso quanto a sua própria saúde mental. O sistema de drive de Stephen não funcionava para buscar prazer, mas sim para evitar consequências negativas e ameaças. Por exemplo, conquistar objetivos para evitar a rejeição. Ele reportou estar em constante monitoramento, tanto seus pensamentos, fantasias e emoçõesinternas e o mundo externo de outras pessoas. Ele lutou para ser como outros ou o que ele percebeu que deveria ser e tentou conquistar todos objetivos em tudo. Stephen reportou que se guiava para fazer tudo que o fizesse se sentir uma pessoa melhor e atingisse seu “verdadeiro potencial”, além de pensar que o seu autocrítico seria a melhor pessoa para ajudá-lo nisso. Assim, Stephen reportou sentir uma grande quantidade de ansiedade e preocupação. Ele se sentia exausto pelo esforço necessário para atingir seus objetivos e pela vergonha associada à maneira como ele sentia e lidava com as coisas. Stephen se sentia deslocado dos outros e hostil consigo mesmo. Tristeza profunda, depressão, ansiedade e uma sensação de “nada por dentro” eram todas experienciadas e conceitualizadas como consequências involuntárias de sua situação e de seus melhores esforços para lidar com a vida. O terapeuta discutiu com Stephen como muito do que estava acontecendo com ele era perfeitamente compreensível e uma difícil consequência da vida que teve, as dificuldades que teve que enfrentar (o câncer e a morte de sua mãe) e o que essas dificuldades causaram em seu mundo interno. Por exemplo, suas experiências estimularam medo e raiva – pois ele queria e amava sua mãe, mas também estava com raiva por ter uma mãe com câncer. Então, havia desapontamento com seu pai, que não era realmente um agente apaziguador e estava perdido em suas próprias preocupações e sofrimento. Quando ele encontrou a ansiedade e o bullying, quando tentou se encaixar nas novas escolas, não houve ninguém para ajuda-lo e ele se sentiu muito sozinho. Na medida em que Stephen compreendeu o que aconteceu com ele, gradualmente se tornou mais compassivo e cuidador com a criança que teve que passar por tudo isso – ele se tornou capaz de reconhecer os medos naturais e os comportamentos de segurança que ele desenvolveu automaticamente e como eles criaram consequências involuntárias e problemas emocionais atuais. Isso não era evidência de uma pessoa má “ficando louca”, sendo inadequada ou precisando provar algo a si mesmo. Na TFC, um componente nuclear é a análise funcional da natureza protetiva das estratégias de segurança – e o desenvolvimento de profunda compaixão para a parte do self que teve que desenvolvê-las. Vale ressaltar, a TFC não é demasiadamente focada na identificação de crenças nucleares ou esquemas – apesar de que, se surgirem e parecerem úteis, podem ser um foco de trabalho. Essa conceitualização foi experienciada como enormemente validante para Stephen. Ele também foi capaz de olhar para suas dificuldades presentes no contexto de eventos anteriores em sua vida. Foi capaz de reconhecer que algumas das coisas que agora fazia para se proteger também tinham consequências involuntárias. A curto prazo, elas eram apropriadas ou úteis, mas a longo prazo elas levavam a dificuldades posteriores. Experienciar a formulação como uma visão compassiva da história de Stephen também estabeleceu uma fundamentação racional, crível e científica aos motivos para desenvolver autocompaixão e foi importante para ajudar a regular seus sistemas bem desenvolvidos de drive e ameaça. OS MAIORES MEDOS ASSOCIADOS AO DESENVOLVIMENTO DA COMPAIXÃO Tempo de discussão foi gasto na exploração sobre o valor em desenvolver o círculo de soothing via compaixão e sobre o seu fortalecimento como uma meta terapêutica. Então, depois de Stephen desenvolver uma fundamentação racional para “calibrar” o sistema de soothing, o primeiro “exercício” no qual embarcou foi a discussão sobre seus maiores medos associados ao desenvolvimento de diferentes componentes da compaixão. Essas áreas destacadas poderiam ser bloqueios à terapia. Por exemplo, essa discussão ativou medos de que Stephen começaria a enlutar e sentir uma tristeza insuportável se começasse a desenvolver compaixão. Na medida em que essa preocupação foi normalizada como compreensível, o processo de luto foi discutido e ele foi reassegurado de que onde quer a jornada nos levasse, nós trilharíamos esse caminho juntos. Além disso, nós exploramos isso em termos de “um passo por vez”, com ele no controle – entrar em contato com o luto não precisa ser “tudo ou nada”. Apesar de dolorosas, emoções como essa e afetos e memórias não-processados precisam ser endereçados – e, nesse sentido, a TFC é similar às abordagens de TCC direcionadas ao trabalho com trauma. A habilidade de tolerar as emoções associadas com memórias é extremamente importante. A maior parte do trabalho com trauma se foca no medo, mas Gilbert destacou a importância de se focar no luto e no medo da dor do luto. No caso do luto, é um processo que pode levar algum tempo. Na TFC, o trabalho com trauma e memórias de perda pode ter um papel-chave na melhora (Gilbert & Irons, 2005). DESENVOLVENDO UM “RITMO RESPIRATÓRIO DE SOOTHING” Um aspecto-chave da TFC é a awareness dos processos corporais e, em particular, o valor de diminui-los antes de se envolver com materiais difíceis. Um elemento útil, que está ligado, mas é diferente de mindfulness, é o ritmo respiratório de soothing, no qual o indivíduo aprende como respirar levemente mais devagar e levemente mais profundamente e focar na experiência de “desaceleração do corpo”. Como uma preparação para alguns exercícios de imagens mentais, nós gastamos tempo construindo um ritmo respiratório de soothing. Como ocorre com muitos exercícios, há um número de maneiras que isso pode ser feito. Enquanto alguns indivíduos conseguem imediatamente, outros acham útil tentar métodos diferentes até que um seja considerado útil. Assim, é sempre benéfico tentar ser exploratório. Todo exercício é construído como uma oportunidade para aprendizagem e diferenciação do que é útil e do que não é. O terapeuta toma parte dos exercícios, mais do que apenas facilitá-los. Apesar de Stephen inicialmente tentar se concentrar e focar a mente no septo nasal, entre as narinas, ele descobriu que simplesmente se concentrar na respiração era um método mais útil. Ele estava inicialmente desconfortável para fechar os olhos, então nós começamos simplesmente olhando para o chão durante o tempo do exercício. Sem induções, ele começou a fechar os olhos com aproximadamente 3 semanas de prática. As instruções eram similares àquelas utilizadas em mindfulness, normalizando digressões da mente, mas, quando estava ciente delas, trazendo a atenção de volta à respiração. Stephen praticou esse exercício fora da sessão, auxiliado por uma gravação em áudio da parte específica que foi praticada durante a sessão da semana. IMAGENS COMPASSIVAS A TFC desenvolveu um vasto repertório de exercícios de imagens mentais a partir de uma gama de fontes, como meditações budistas e feedback clínico (veja Gilbert, 2009b, 2010 e www.compassionatemid.co.uk). Como no exercício anterior, Stephen praticou uma série de exercícios, concluindo que seu “self compassivo ideal” (Gilbert, 2000) era o mais produtivo para lhe fornecer um sentimento de calor e compaixão. Esse foi o foco de compaixão que nos concentramos e utilizamos através do trabalho. Esses exercícios buscam criar um estado cerebral (por exemplo, estimulando a insula, veja Tirch, este volume) que facilita o processamento de material baseado em ameaça. REGISTROS DE REAVALIAÇÕES COMPASSIVAS (RRC) Como uma adaptação dos registros de pensamentos da TCC, RRCs foram utilizados para trazer a awareness de Stephen para uma empatia com seu próprio sofrimento, atenção compassiva, pensamentos compassivos, aceitação compassiva e sentimento compassivo (veja a Tabela 1 para uma amostra do RRC preenchido durante uma sessão de terapia).Apesar de Stephen reportar benefícios do exercício de reestruturação, os sentimentos compassivos foram fortalecidos utilizando a imagem do self compassivo antes de reler o RRC. Isso ajudou Stephen a evocar sentimentos compassivos e uma perspectiva para revisar seus pensamentos alternativos. O exercício envolveu ele permanecer com cada coisa escrita até reportar que verdadeiramente se sentia reassegurado, aceitando-os e sentindo um maior significado emocional. PLANILHA DE MUDANÇA COMPORTAMENTAL COMPASSIVA Tendo prosseguido a partir do exercício anterior, Stephen relatou um aumento em sua motivação para enfrentar aquilo que frequentemente evitava. Esse era um padrão mais evidente no início da terapia, no preenchimento de RRCs antes de abordar o comportamento. Contudo, com o progresso da terapia, a mudança comportamental compassiva tornou-se um dos focos principais. Por exemplo, depois de uma situação difícil no trabalho, Stephen decidiu falar com seu chefe em vez de submeter-se e evitar. Para facilitar isso, ele completou uma planilha de mudança comportamental (Planilha 2). Em planilhas futuras, diferenciações foram frequentemente realizadas entre os comportamentos visando a ativação do sistema de drive e aqueles visando a ativação do sistema afiliativo. Assim, uma ênfase foi colocada em adquirir um “equilíbrio” que contrapusesse o impulso, frequentemente experienciado, mas menos benéfico, de centrar boa parte da terapia no sistema de afetos positivos relacionados ao drive/realizações. ESCRITA DE CARTA COMPASSIVA Por toda a terapia, Stephen foi convidado a se envolver na escrita de cartas compassivas e trazer seu trabalho para as sessões. Essas cartas podem variar. Há boas evidências de que a escrita reflexiva sobre si e suas experiências (Pennebaker, 1997) e a escrita de carta focada em compaixão (Leary et al, 2007) podem ser bastante úteis para a assimilação de eventos dolorosos e a facilitação de seu enfrentamento. As cartas de Stephen eram sobre si e para sua mãe. Isso permitiu que aprendesse a articular sentimentos e aceitá-los e tolerá-los. A escrita permitiu que ele trabalhasse e processasse memórias. Por vezes, Stephen lia a carta para o terapeuta e, em outras vezes, o terapeuta lia a carta para ele, da maneira mais compassiva e compreensiva possível. Essas sessões de “compartilhamento de cartas” foram comoventes e forneceram oportunidades para reflexão e criação de novas perspectivas fora de sessão. Isso o ajudou a praticar autocompaixão e aceitação, além de permitir a detecção de sinais de autocriticismo e hostilidade. As orientações gerais para a escrita dessas cartas podem ser encontradas no site da Compassionate Mind (www.compassionatemind.co.uk). Tabela 2. Planilha 2: Mudança Comportamental Compassiva O que eu poderia fazer hoje para me ajudar com minhas dificuldades? Pedir ao chefe um minuto de seu tempo, para falar com ele sobre o que aconteceu no outro dia. O que eu geralmente faço? Evito ele, evito até mesmo olhar para ele. Mas as consequências involuntárias são: Me sinto mal, provavelmente pareço estranho e digo a mim mesmo que sou impotente, uma piada, um capacho. O que me ajudaria a fazer a mudança? Pensar/planejar o que quero dizer, por exemplo: sinto muito que não cumpri o prazo no outro dia e sei que isso lhe afetou. Em retrospecto, era uma tarefa difícil de ser feita no prazo, mas eu vou garantir que isso não aconteça de novo – mas vou dizer de uma maneira confiante em vez de fraca, submissa. Vê-lo quando estiver bem e não parecer estressado. Praticar minha respiração e imagem compassiva com gentileza e encorajamento antes de ir. Manter a cabeça alta e pedir desculpas apropriadamente. O que pode acontecer de errado? a) Ele pode não ter tempo. b) Ele pode não querer ouvir. c) Eu posso não ter coragem. O que eu poderia fazer ou como poderia pensar sobre isso, caso acontecesse? a) Eu poderia arranjar outra oportunidade ou abordá-lo em minha próxima reunião individual com ele. b) Eu poderia aceitar e me orgulhar de não ter evitado a situação, ir para o meu carro e reler meu RRC. c) Eu preciso pensar um pouco mais sobre isso e reconhecer que mudar a maneira como eu tendo a fazer as coisas é difícil, então eu poderia retomar isso no próximo atendimento. Se você conseguiu fazer isso, o que aconteceu? Eu não escolhi o melhor momento para falar com ele, mas ele estava OK e não pareceu aborrecido com isso. Ele apenas disse para que isso não se repetisse. Então, eu demonstrei um comportamento compassivo e coragem para abordar a questão, responsavelmente. O que eu posso dizer para mim agora? Não foi tão ruim, eu posso fazer algo em vez de evitar as coisas. AUTOCRITICISMO O autocriticismo é considerado um grande problema para muitas pessoas que preenchem critérios para “transtornos de ansiedade”. Isso pode ser trabalhado colocando o sujeito no lugar de seu “self compassivo” e, então, observar seu autocriticismo com compaixão até a mudança iniciar – o que para algumas pessoas pode levar tempo. Ao lidar com o autocriticismo “compassivamente”, as pessoas começam a reconhecer quando ele surge e, gradualmente, vê-lo como uma deixa para refocalizar no pensamento compassivo. A ideia não é desafiar ou lutar diretamente com o self autocrítico, porque isso apenas mantém o sistema de ameaça funcionando, mas sim: “notar o autocriticismo, respirar e refocalizar”, “notar o autocriticismo, respirar e refocalizar”, “notar o autocriticismo, respirar e refocalizar”. (Essa questão é levemente diferente se as vozes críticas são identificadas como as de um abusador do passado – veja Gilbert, 2010). Indivíduos, incluindo Stephen, tipicamente ficam surpresos com o quanto são autocríticos cotidianamente, mas isso também fornece a oportunidade de uma prática regular de autocompaixão. CONCLUSÃO Este artigo delineou algumas das ideias básicas que ilustram uma abordagem da terapia focada na compaixão para a ansiedade. Um princípio importante é o reconhecimento de que às vezes a tentativa de simplesmente mudar o processamento do sistema de ameaça é insuficiente. A razão para isso é porque um dos maiores reguladores do processamento da ameaça vem do “sistema de soothing” e, se ele não está funcionado apropriadamente, os indivíduos podem ter uma compreensão intelectual, mas não uma conexão emocional. A tentativa de preencher essa lacuna resultou no desenvolvimento da TFC. A compaixão permeia toda a terapia, incluindo a relação terapêutica e a formulação de caso. Quando os indivíduos desenvolvem uma formulação apropriada, eles ficam muito mais propensos a serem compassivos com seus problemas, em vez de envergonhados. Tais formulações são parte do desenvolvimento de sabedoria – a qual é usada durante o desenvolvimento do self compassivo. Em outras palavras, a sabedoria surge porque o sujeito tem melhor insight sobre as origens e funções de seus comportamentos de segurança, reconhece os elementos evolucionistas (que todos nós apenas nos encontramos aqui, nós não escolhemos nossos cérebros) e alterna para a tomada responsabilidade compassiva. Isso permite que as pessoas comecem a realizar o trabalho emocional necessário e se envolvam com materiais ou ações assustadoras (por exemplo, exposição). A TFC se baseia em e utiliza outras terapias, pois essa é a prática da ciência – nós não deveríamos continuar reinventando a roda. A TFC sempre envolve a colaboração com o indivíduo, compartilhamento de descobertas científicas e exploração sobre como usar esses modelos para trazer um melhor equilíbrio para nossas mentes. Assim, a esperança é de aprender com a ciência e uns com os outrospara promover o bem-estar. A CONCLUSÃO DE UMA CLIENTE SOBRE A TFC As palavras a seguir são uma reflexão pessoal de um indivíduo envolvido em TFC para ansiedade por mais de oito meses com a autora. Apesar de desejar contribuir ao artigo, por razões pessoais ela pediu para permanecer anônima. Eu costumava ser dura comigo mesmo e fiquei deprimida por ficar tão ansiosa sobre as coisas. Eu não conseguia aguentar, eu costumava tremer o tempo todo e evitar coisas. Eu pensava que havia algo de errado comigo, de alguma forma eu era diferente, estraga-prazeres, incapaz. Minha família ficava muito frustrada comigo e diziam que eu tinha que melhorar, me recompor e lidar com as coisas. Meu (antigo) terapeuta me disse que eu tinha que trabalhar com meus pensamentos porque eram disfuncionais e “deturpados”. Às vezes, falar com as pessoas ajudava, eles me reasseguravam de que as coisas ficariam bem... se eu apenas me esforçasse mais. Os diários de pensamentos ajudaram quando começamos a fazê-los, mas o efeito não durou. Eu sentia como se eu fosse inútil com eles. Eu costumava pensar que, se eu apenas conseguisse “entender”, as coisas poderiam ser melhores, mas eu nunca “entendia” adequadamente. Eu me sentia sozinha, diferente e peculiar. Agora (na TFC) eu sei que tinha razões para estar ansiosa e ter medo de algumas coisas. Agora, eu sei que o que eu fiz para me proteger teve consequências indesejáveis. Agora, eu tenho coragem para enfrentar as coisas, eu posso dizer “e daí se eu ficar ansiosa... Isso sou eu... Você também faria isso se tivesse experienciado o que eu experienciei”. Eu sei que eu vou ter que continuar a trabalhar, não há uma cura rápida, vai ser algo para a vida toda, porque eu não posso apenas me livrar de certas partes do meu cérebro, eu tenho que fortalecer novas partes dia após dia, semana após semana. Mas as coisas continuarão a melhorar. Os exercícios me fazem me “sentir” diferente. Às vezes, eles me põem em uma mentalidade melhor para considerar coisas positivas que as pessoas disseram, coisas que eu escrevi, mais do que desconsiderá-las. Em outros momentos, eles apenas me ajudam a pôr as coisas em perspectiva... Sentir calor, apesar de tudo... como se alguém dissesse coisas para mim. Eu não preciso me preocupar, eu sou uma pessoa OK. Ajuda saber que a Mary [terapeuta focada na compaixão] tem que praticar e eu também. Não há vergonha nisso... De fato, é realmente empolgante pensar que a jornada não acabou... Eu vou continuar a crescer e florescer. REFERÊNCIAS American Psychiatric Association. (1994). 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