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Teoria Tridimensional do Direito


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Teoria tridimensional do 
Direito 
 
*A teoria tridimensional do direito é um arcabouço teórico 
esboçado pelo jurista e filósofo brasileiro Miguel Reale no trabalho de 
tese "Fundamentos do Direito" (1940) e elaborado em caráter 
definitivo em seu livro homônimo de 1968. Em termos gerais, ela 
prega a interpretação do direito sob três ópticas simultâneas e 
complementares - a normativa, a fática e a axiológica -, unificando três 
correntes filosófico-jurídicas até então independentes (a normativista, 
a sociologista e a moralista, nessa ordem) e se tornando, se não a 
principal, uma das mais importantes teorias gerais do direito no Brasil 
e na América Latina. 
O trabalho de Reale surgiu, em grande parte, como uma reação às 
interpretações exclusivistas do direito pelas três principais escolas de 
pensamento na área, que são: 
 a normativista, com enfoque no caráter normativo do direito; 
 a sociologista, com enfoque nos fatos e contextos; 
 e a moralista, com enfoque nos valores (axiologia) do direito. 
Embora essas três correntes não fossem totalmente isoladas, tendo 
até havido esforços de se as interpretar em conjunto antes de Reale (a 
exemplo do jurista alemão Gustav Radbruch no início do séc. XX), a 
visão dominante era de que o direito podia ser analisado com somente 
um desses três elementos, nascendo aí uma "competição" entre 
escolas para decidir qual interpretação era a mais eficiente. 
Para os normativistas, as leis deveriam ser compreendidas pelo seu 
valor intrínseco, o que se entende por normativismo. Segundo esta 
corrente, fatores culturais ou julgamentos de valor têm pouco peso na 
interpretação do direito, sendo que as leis são uma causa e um fim em 
si mesmo. Já a escola do sociologismo, acreditando que as leis são um 
produto de seu tempo e espaço, muda o foco para os fatos do direito, 
interpretando a legislação segundo sua necessidade (a sociedade 
precisa de tais leis?) e resultados (tais leis são eficazes? Se sim, 
como?). Por fim, os moralistas se concentram na ancestral dúvida de 
se uma lei é ou não justa. Para eles, o valor (axioma) do código legal 
é mais importante, devendo a lei estar em harmonia com o que aqueles 
a ela subordinados julgam ser justo ou correto. 
Segundo Reale, todas as interpretações são corretas, sendo o erro de 
cada escola excluir ou diminuir a importância das demais. Para o 
brasileiro, o fenômeno jurídico acontece simultaneamente nos âmbitos 
da norma, do fato e do valor, sendo incorreto interpretá-lo com a 
exclusão de qualquer outro. 
Tome-se como exemplo a recente Lei 13.290/2016, vulgo "Lei do Farol 
Baixo". Como se poderia defendê-la mediante a teoria tridimensional 
de Reale? Segundo a norma, a lei cumpriu com todos os procedimentos 
requeridos para sua promulgação e foi aprovada por todas as 
autoridades competentes em todas as suas etapas de análise. Segundo 
os fatos, argumenta-se que ela é necessária e eficiente para o aumento 
da segurança do transporte rodoviário, uma questão que muito 
concerne a sociedade brasileira. Segundo a valor, a medida é justa por 
considerar o bem-estar dos motoristas e a proteção do coletivo, fins 
cuja moralidade é auto-evidente. 
Claro, argumentos contrários também podem ser feitos, mas o 
fundamental é notar que, para a teoria tridimensional do direito, estes 
devem considerar cada base do tripé norma-fato-valor, não apenas 
uma ou duas, e ver como elas interagem entre si. Por essa 
consideração complementar, e não excludente, dos três elementos, a 
abordagem de Reale é formalmente conhecida como "dialética da 
complementariedade", gerando maior flexibilidade interpretativa no 
estudo das leis.