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Unidade 2 - Obrigaçao de dar 2018.1

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Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
DIREITO CIVIL – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 
Aula 2 Obrigações de Dar 
Profª Msc Alice Soares 
 
Unidade 2 Classificação das obrigações: obrigação de dar 
 
1. Breve nota introdutória 
 
É bom lembrar que qualquer classificação observa um determinado critério. No direito obrigacional, 
não é diferente! 
As obrigações são classificadas de diversas formas, em razão de vários critérios. 
Iniciaremos o estudo das modalidades de obrigações pela categorização básica, organizada segundo o 
tipo de prestação que é objeto da obrigação. Também é por estas categorias que o legislador começou o livro 
I da Parte Especial do Código Civil. 
Observe que a maior preocupação do legislador reside no cumprimento e no inadimplemento das 
obrigações. Há diversos dispositivos legais acerca da forma de cumprir e, principalmente, qual o efeito do 
descumprimento nos mais variados casos. 
As regras sobre estes efeitos poderiam ser resumidas em duas regras básicas: 
a) Obrigação tornou-se impossível por culpa do devedor = este responderá pelo 
equivalente mais perdas e danos. 
b) Obrigação tornou-se impossível sem culpa do devedor = o ônus será do dono da 
coisa. A obrigação se resolverá sem perdas e danos (res perit domino) 
 
Você poderá identificar estas duas regras em vários dispositivos que explicarei a seguir. 
 
Mas o que é culpa???? 
 
Sem aprofundar muito a explicação, basta explicarmos que a culpa em sentido amplo se 
expressa no comportamento negligente, imprudente, imperito (não conhecedor de técnica pertinente 
ao caso) ou intencional (doloso) do devedor. 
Outro ponto que merece explicação prévia reside no pagamento de “perdas e danos”. Tecnicamente, 
o devedor culpado não paga “perdas e danos”, mas sim indenização por perdas e danos, ok!? E é claro 
que só terá que indenizar o credor quanto aos danos morais, materiais e estéticos efetivamente sofridos. Se, 
no caso concreto, não houve danos (é improvável, mas possível), não há indenização a ser paga. 
 
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2. Esclarecimento necessário: execução específica e execução genérica das obrigações 
 
 Ao analisar os dispositivos do Código Civil relativos às obrigações, podemos chegar à equivocada 
conclusão de que, diante do inadimplemento de uma obrigação, de duas, uma solução: ou a obrigação se 
resolve sem ônus, se não houver culpa do devedor ou a o devedor, se foi culpado pelo inadimplemento, 
deverá responder por perdas e danos. 
 Em verdade, não é tão simples. 
 Se duas pessoas, por força de lei ou vontade, são parte em uma obrigação, isso quer dizer que uma 
tem que dar algo para a outra, em determinado momento. Se, no momento combinado, o devedor não faz a 
entrega da coisa devida, o que acontecerá????? 
 Imagine o seguinte exemplo: João tem que entregar um sofá para Fernando, no dia 15. O dia 15 passa 
e João não entrega. Normalmente, o que Fernando faria? Primeiro, ele vai tentar contato pessoal, por 
telefone, por email etc... para saber o que aconteceu e obter o sofá. Não tendo sucesso, ele pensará nas 
soluções judiciais. 
 Aqui se abrem duas grandes opções: 
1) O devedor não teve culpa no inadimplemento: a única que poderá ser exigida será a devolução de 
algum valor que Fernando tenha pago pela entrega do sofá. 
2) O devedor teve culpa: caberá indenização pelas perdas e danos que Fernando sofreu por não ter 
recebido o sofá (Fernando vai ter que argumentar que danos foram estes que ele sofreu), MAS 
TAMBÉM ------ (e é aqui que existe uma sutil diferença do que foi dito no primeiro parágrafo deste 
item): 
2.1) Fernando, o credor, poderá pedir ao Poder Judiciário: 
a) entrega do sofá MAIS indenização por perdas e danos correspondentes ao fato que não houve a 
entrega no momento devido; 
b) indenização pelas perdas e danos somente, correspondentes ao total inadimplemento das 
obrigações. 
 
 No caso de ser exigida a entrega do sofá, estaremos diante da EXECUÇÃO ESPECÍFICA da 
obrigação porque o credor está exigindo o objeto combinado. 
 No caso de ser exigida a indenização, estaremos diante da EXECUÇÃO GENÉRICA da obrigação, 
porque o credor terá que se satisfazer não com o objeto específico (o sofá), mas com um “substituto”, que é 
a indenização por perdas e danos (chamada de obrigação genérica = obrigação de indenizar). 
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 As regras detalhadas sobre a execução das obrigações de dar, fazer e não fazer estão no Código de 
Processo Civil e serão estudadas em outros semestres. 
Feitos estes esclarecimentos, vamos à nossa primeira classificação então! 
Em razão da prestação, as obrigações são: 
* de dar 
* de fazer 
* de não-fazer 
 
3. Obrigação de dar 
 
Trata-se prestação de coisa, pois cumprirá ao devedor transferir a propriedade do objeto (compra e 
venda), ceder a sua posse ao credor (comodato, locação) ou meramente restituir a coisa (depósito). 
São obrigações positivas em que o credor está interessado na tradição da coisa. Dessa forma, a 
expressão dar é empregada em um sentido geral, exprimindo a obrigação de transferir, seja para outorgar um 
novo direito (obrigação de entregar), seja para restituir uma coisa a seu dono (obrigação de restituir). 
A obrigação de dar envolve, portanto, prestação de coisa. Divide-se em entregar e restituir. 
Entregando, o devedor transfere a propriedade, a posse ou a detenção sobre a coisa; Restituindo, o 
devedor devolve ao credor a posse ou a detenção da coisa. 
Exemplos: trata-se de entrega quando o devedor vende um computador para o credor, ficando então 
de entregar o aparelho na residência deste. Trata-se de restituição, quando o devedor toma emprestada uma 
roupa para ir a uma festa e tem que devolvê-la no dia seguinte. 
As obrigações de dar classificam-se, ainda, em obrigação de dar coisa certa e obrigação de dar 
coisa incerta. 
Para entendermos melhor a obrigação de entregar, faz-se necessário explicar o que é tradição. 
A tradição é a entrega da coisa com intenção de transferir a propriedade, posse ou detenção. 
No direito brasileiro, a tradição transfere a propriedade sobre os bens móveis e imóveis, sendo que 
neste caso chama-se tradição solene, porquanto é necessário levar o título translativo do Registro de imóveis 
competente: “Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no 
Registro de Imóveis.” e “Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes 
da tradição.” 
Portanto, antes da tradição, na obrigação de entregar, a coisa pertence ao devedor. 
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Outro ponto a destacar: a obrigação de pagar dinheiro enquadra-se na categoria obrigação de dar, 
embora haja autores que defendem esta como categoria à parte, ao lado da obrigaçãode dar, fazer ou não-
fazer. 
 
3.1 Obrigação de dar coisa certa 
 
Comecemos pelo conceito de coisa certa: é aquele individualizada, é a coisa específica, com atributos 
que a tornem determinada. 
Exemplos: 
• Obrigação de entregar o carro GOL, quatro portas, 1.0, placa tal, chassi tal.... Não se trata da 
entrega de qualquer carro gol, quatro portas, 1.0; é O carro gol com as referidas características e 
não outro parecido. 
• Obrigação de entregar o bovino da raça tal, cor tal, registro nº tal, de nome tal. Novamente, não 
se trata da entrega 
 
Definido o que é coisa certa, vamos interpretar os artigos da seção que trata desta modalidade de 
obrigação. 
Assim prevê o art. 233, CC: “A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não 
mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.” Temos aqui a aplicação 
do princípio de que o acessório segue o principal: CHAMA-SE PRINCÍPIO DA GRAVITAÇÃO 
JURÍDICA. Por ex.: Se uma pessoa pretender vender uma casa, incluem-se nela as benfeitorias 
realizadas, salvo previsão contratual expressa. 
Não confunda os bens acessórios com as pertenças, que de regra não seguem o principal (art. 94, 
CC). 
São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao 
uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. 
Portanto, a obrigação de entregar um campo de golfe não abrange, a princípio, os carros utilizados no 
transporte dos jogadores. 
O art. 234, CC traz a regra do res perit domino, explicada antes. Vejamos sua redação: 
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da 
tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a 
perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. 
 
Na obrigação de dar coisa certa, se a coisa se perder (perecer), antes da sua entrega ou ainda 
enquanto pendente condição suspensiva, a obrigação se resolver, sem perdas e danos. Em outras palavras, o 
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devedor, que iria entregar a coisa, transferindo-a ao credor, sofre a perda, porque ela é seu dono até a 
tradição. O credor “ficará na mesma”, pois não receberá o bem, mas fará jus à devolução de algum valor que 
tenha pago ao devedor. 
Se, no entanto, a coisa se perder por culpa do devedor, nasce para o credor o direito de reclamar, 
além do valor econômico do bem, indenização por perdas e danos. Veja que a configuração da culpa do 
devedor é relevante para determinar a responsabilidade do devedor: provada esta, ele deve indenizar as 
perdas e danos. 
Para terminar a análise deste dispositivo, cumpre lembrar o que é condição suspensiva: evento 
futuro e incerto que subordina a produção de efeitos de um negócio jurídico: “Art. 125. Subordinando-se a 
eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o 
direito, a que ele visa.” Lembrou? 
Portanto, se a coisa perece, sem culpa do devedor, enquanto pendente condição suspensiva (ou seja, 
ela ainda não se realizou), a obrigação se resolver sem perdas e danos. Enquanto não acontece o evento que 
foi estabelecido como condição suspensiva, a exigibilidade da obrigação está suspensa. 
Vejamos agora o art. 235: “Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor 
resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.” 
Ocorre a deterioração da coisa quando esta perde parcialmente suas qualidades essenciais ou sofre 
diminuição de seu valor econômico, ou ainda que se destrói parcialmente. Não havendo culpa do devedor, 
tem o credor duas opções: receber o bem, descontado proporcionalmente do preço o valor perdido, ou 
resolver a obrigação, fazendo com que as partes voltem ao status quo ante. 
O art. 236, CC trata da deterioração por culpa do devedor: “Sendo culpado o devedor, poderá o 
credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou 
em outro caso, indenização das perdas e danos.” 
Neste caso, o credor também tem duas opções: exigir o equivalente da coisa ou recebê-la mesmo 
deteriorada. A diferença é que poderá cobrar reparação por perdas e danos em qualquer caso, não 
importando qual a alternativa escolhida. 
No art. 238, CC, encontramos regra sobre restituição da obrigação, quando a coisa perece sem culpa 
do devedor: “Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da 
tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.” 
Note que aquele regra do res perit domino se mantém aqui, pois o dono da coisa na obrigação de 
restituição é o credor. Não havendo culpa do devedor, o credor sofrerá, ficando sem ela e sem poder exigir 
indenização por perdas e danos. No entanto, o legislador ressalvo os direitos do credor até o dia da perda. Os 
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frutos da coisa pertencem ao credor: se a coisa era um animal, sua cria; se se tratava da locação de um bem, 
o credor fará jus aos alugueis até a data da perda, etc. 
No art. 239, CC, temos a culpa do devedor: “Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá 
este pelo equivalente, mais perdas e danos.” É exatamente o contrário da regra anterior: se o devedor 
promover culposamente o perecimento da coisa restituível, ele deverá indenizar o credor. 
Seguindo com o art. 240, CC: “Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á 
o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no 
art. 239”. O art. 240, CC não trata de perda de coisa, mas de sua deterioração. Se há deterioração sem culpa, 
o credor deverá recebê-la assim mesmo e sem indenização, ou seja, sofre este ônus sozinho. Se, contudo, 
houve culpa do devedor, este deverá indenizar o credor pelo valor equivalente à coisa mais perdas e danos. 
Embora o Código Civil não fale, poderá o credor aceitar a coisa deteriorada, mas fará jus à indenização. 
Os dois últimos artigos da seção sobre obrigação de dar coisa certa tratam dos melhoramentos, 
acréscimos e frutos da coisa restituível. Vejamos os dois artigos para depois interpretá-los: 
Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou 
trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização. 
Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se 
regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de 
má-fé. 
Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste 
Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé. 
Os dois dispositivos legais, em primeiro lugar, distinguem o tratamento conferido ao devedor em 
razão de ele ter promovido ou não os melhoramentos etc. 
Se os benefícios se agregaram à coisa sem ônus para o devedor, o credor nada lhe deve. Imagine que: 
a coisa é um imóvel alugado, sendo o locatário o devedor, e o imóvel se valorizou em razão de obras 
realizadas pelo Poder Público. No caso,o credor nada deve ao devedor. 
Ao contrário, se o melhoramento, acréscimo ou frutos resultaram do esforço, do trabalho, e/ou dos 
recursos financeiros do devedor, o credor poderá dever-lhe indenização. Dizemos “poderá” porque não é 
certo que deverá. Dependerá da qualidade da posse do devedor. Se o devedor tinha a posse da coisa de boa-
fé, o tratamento será mais favorável; se a posse era de má-fé, a lei conferirá menos direitos. 
Ter a posse de boa-fé significa que o devedor obteve a coisa sem violência, clandestinidade ou abuso 
de confiança. Ou então, não conhecia de fato a origem ilícita da coisa. 
Se estava de boa-fé, o devedor terá direito aos aumentos e melhoramentos necessários e úteis. Os 
voluptuários, se não for pago o respectivo valor, poderá o devedor levantá-los, desde que não haja 
detrimento da coisa. Terá, ainda, direito de retenção, ou seja, pode manter a coisa melhorada até que seja 
indenizado das despesas e acréscimos que fez. Se estava de má fé, só terá direito à indenização pelos 
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acréscimos necessários, não devendo ser ressarcido pelos melhoramentos úteis, nem podendo levantar os 
acréscimos voluptuários (Art. 1.220). 
Podemos assim resumir: 
1. O devedor de boa-fé tem direito aos frutos percebidos, mas não terá direito aos frutos colhidos 
antecipadamente (ver regras dos arts. 1.214 e 1.215, CC). 
2. O devedor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como, pelos que, 
por culpa sua, deixou o credor de receber. 
3. Quanto aos melhoramentos e acrescidos em que houve dispêndio ou trabalho do devedor, estando ele 
de boa-fé, terá direito à indenização e à retenção quando úteis ou necessários (vide arts. 1.219 e 
1.220, CC). 
4. Quanto aos melhoramentos e acrescidos, em que não houve dispêndio ou trabalho do devedor 
estando o devedor de má-fé, só terá direito à indenização dos necessários (art. 1.222, CC). 
5. Quanto aos melhoramentos e acrescidos em que não houve dispêndio ou trabalho do devedor lucra o 
credor sem dever de indenizar (art. 241, CC). 
 
3.2 Obrigação de dar coisa incerta 
 
Em primeiro lugar, cumpre saber o que é coisa incerta. 
O art. 243, CC nos responde: “A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela 
quantidade.” A coisa é determinável. Ex: venda de dois cavalos da raça árabe puro-sangue. Não se sabe, de 
início, se será entregue o cavalo X ou o cavalo Y ou o cavalo Z. 
Nesta espécie de obrigação a coisa não é única, singular, exclusiva e preciosa como na obrigação de 
dar coisa certa, mas sim é uma coisa genérica determinável pelo gênero e pela quantidade. 
É claro que se na criação da obrigação faltar também a referência ao gênero ou a quantidade, a 
indeterminação será absoluta, não gerando obrigação. 
Salta aos olhos que, para o cumprimento da obrigação, a escolha das coisas a serem entregues terá de 
ser feita. Por isso, dizemos que o estado de indeterminação/incerteza do objeto é transitório, porquanto, para 
o adimplemento da obrigação, será preciso determinar o objeto. Este fenômeno se chama concentração da 
obrigação ou do débito ou da prestação devida. 
A escolha recai no devedor, se não for estabelecido de forma diversa (o título da obrigação pode 
atribuir a escolha ao credor ou a terceiro): “Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela 
quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá 
dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.” 
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O devedor, ao escolher, deve guardar o meio-termo entre os congêneres da melhor e da pior 
qualidade (PRINCÍPIO DO MEIO-TERMO OU DA QUALIDADE INTERMEDIÁRIA). A lei não estipula 
em que momento a escolha deve ser realizada e este momento não precisa coincidir necessariamente com o 
do cumprimento da prestação. Então, não havendo expressa previsão contratual, poderá a escolha ser 
realizada a qualquer tempo até o momento do cumprimento da prestação. 
A maior parte da doutrina não enfrenta uma discussão que se impõe a partir desta previsão: se a 
escolha couber ao credor, poderá ele escolher o melhor????? Ou também ele deve optar pelo meio-termo??? 
Para responder, nos socorreremos do posicionamento de Gustavo BIRENBAUM (in TEPEDINO 
(Coord.), 2005, p. 130/131): 
E justamente por isso discordamos de Silvio Rodrigues, quando este sustenta que, se a escolha couber 
ao credor, este terá o “direito de exigir a nata do gênero”. Para que isso seja possível, deverá o credor 
especificar essa condicionante no título, ao invés de preferir a indeterminação da coisa. 
De imediato se pode constatar que, quando da incidência dessa segunda parte do artigo 244, 
necessariamente se estará diante de uma forma de concretização da cláusula geral de boa-fé 
(objetiva). 
 
Do trecho transcrito, percebe-se que a doutrina mais moderna (quanto comenta o assunto), atendendo 
à visão civil-constitucional, entende que deve prevalece um tratamento igualitário para ambas as partes 
obrigacionais, ao contrário da doutrina mais tradicional. 
Como acabamos de afirmar, a escolha realizada e conhecida do credor transformará o objeto da 
obrigação em coisa certa. Portanto, faz sentido a regra do art. 245, CC: “Cientificado da escolha o credor, 
vigorará o disposto na Seção antecedente.” Sendo a coisa certa, aplicam-se as regras, a partir daí, da 
obrigação de dar coisa CERTA!!!! 
Por último, vamos ver a regra mais polêmica desta seção: “Art. 246. Antes da escolha, não poderá o 
devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito.” 
A interpretação literal da norma nos remete ao brocardo latim genus nunquam perit, ou seja, o gênero 
nunca perece. 
Considerando somente a letra da lei, significa que o devedor de coisa incerta não pode alegar que 
houve perecimento por caso fortuito ou força maior (de forma, geral, eventos imprevisíveis e/ou inevitáveis) 
para se eximir da responsabilidade pelo descumprimento da obrigação. Ele teria que cumpri-la de qualquer 
jeito ou arcar com os ônus do inadimplemento (indenização, multa, etc). 
A doutrina nos informa, no entanto, que se se tratar de gênero limitado, ou seja, circunscrito a coisas 
que se acham em determinado lugar (animais de determinada fazenda, cereais de determinado depósito etc.) 
o devedor estará liberado. (GONÇALVES, 2011, p. 83) 
Novamente, para abordarmos outras exceções, vamos recorrer a Gustavo BIRENBAUM (in 
TEPEDINO (Coord.), 2005, p. 132/133): 
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Pense-se na hipótese em que uma determinada mercadoria, objeto de obrigação genérica, 
deixa de ser fabricada num momento entre a celebração do negócio e a concentração (por exemplo: a 
obrigação de dar um determinado disco de vinil que deixa de ser fabricado ou a de entregar uma 
mercadoria estrangeira, proveniente de um país com o qual o país destinatário cortou relações 
comerciais) [...] De fato, nesse caso, a impossibilidade daprestação se passa de modo quase idêntico à 
impossibilidade da prestação na obrigação de dar coisa certa, porquanto não soa justo o devedor ser 
obrigado a prestar o impossível. [...] salvo culpa do devedor, a obrigação nesta hipótese excepcional, 
fica resolvida sem perdas e danos. 
 Assim, sobre o art. 246, CC, conclui-se que a regra é a responsabilização do devedor pelo 
inadimplemento fortuito; nas exceções, ele não responderá. 
 
3.3 Obrigação de dar dinheiro ou obrigações pecuniárias 
 
Nas obrigações de dar dinheiro, por óbvio, o objeto é a entrega ou restituição de dinheiro. Para tanto, 
devemos observar uma grande regra: a obrigatoriedade do pagamento em moeda corrente nacional 
(GAGLIANO E PAMPLONA FILHO, 2016, p. 88). 
 Sobre o cumprimento das obrigações pecuniárias, estudaremos na apostila sobre Extinção das 
Obrigações e Pagamento Direto as regras dos arts. 315 e seguintes. 
 
Fontes: 
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. 12 ed. São 
Paulo: Saraiva, 2011. 
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. 17 ed. São 
Paulo: Saraiva, 2016. 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 
Idem, 8 ed. Idem, 2011. 
BIRENBAUM, Gustavo. In TEPEDINO, Gustavo (Coord.). Obrigações: estudos na perspectiva civil-
constitucional. São Paulo: Renovar, 2005.

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