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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA unidade I unidade II unidade III NEUROPSICOPEDAGOGIA: ESTRUTURA NEUROLÓGICA E APRENDIZAGEM Prof. Me. Weslei Jacob o cérebro e a aprendizagem aprendizagem: dimensão interna do desenvolvimento humano neurológico cérebro: o poder de se reprogramar e formar memórias O CÉREBRO E A APRENDIZAGEM DESENVOLVIMENTO DA MENTE E DO COMPORTAMENTO FORMAÇÃO DE MEMÓRIAS Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualida- de, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsa- bilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – assume o compromisso de democra- tizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promo- ver a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cida- dãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas Reitor Wilson de Matos Silva palavra do reitor Direção UniceSUMar reitor Wilson de Matos Silva, Vice-reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-reitor de administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-reitor de eaD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. neaD - núcleo De eDUcação a DiStância Direção de operações Chrystiano Mincoff, coordenação de Sistemas Fabrício Ricardo Lazilha, coordenação de Polos Reginaldo Carneiro, coordenação de Pós-Graduação, extensão e Produção de Materiais Renato Dutra, coordenação de Graduação Kátia Coelho, coordenação administrativa/Serviços compartilhados Evandro Bolsoni, Gerência de inteligência de Mercado/Digital Bruno Jorge, Gerência de Marketing Harrisson Brait, Supervisão do núcleo de Produção de Materiais Nalva Aparecida da Rosa Moura, Design educacional Nalva Moura, Diagramação José Jhonny Coelho, revisão textual Yasminn Zagonel, Fotos Shutterstock. neaD - núcleo de educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desen- volvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento aca- dêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição univer- sitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de com- petências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão univer- sitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e adminis- trativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a edu- cação continuada. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância: Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem. Weslei Jacob. Publicação revista e atualizada, Maringá - PR, 2014. 100 p. “Pós-graduação Núcleo Comum - EaD”. 1. Neuropsicopedagogia. 2. Neurológica. . 3. EaD. I. Título. CDD-22 ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a UNICESUMAR tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, de- mocratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da edu- cação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informa- ção e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a co- nhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas fer- ramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da UNICesumar se propõe a fazer. Pró-Reitor de EaD Willian Victor Kendrick de Matos Silva boas-vindas sobre pós-graduação a importância da pós-graduação O Brasil está passando por grandes transformações, em especial nas últimas décadas, motivadas pela estabilização e crescimento da economia, tendo como consequência o aumento da sua impor- tância e popularidade no cenário global. Esta importância tem se refletido em crescentes investimentos internacionais e nacionais nas empresas e na infraestrutura do país, fato que só não é maior devido a uma grande carência de mão de obra especializada. Nesse sentindo, as exigências do mercado de trabalho são cada vez maiores. A graduação, que no passado era um diferenciador da mão de obra, não é mais suficiente para garantir sua emprega- bilidade. É preciso o constante aperfeiçoamento e a continuidade dos estudos para quem quer crescer profissionalmente. A pós-graduação Lato Sensu a distância da UNICESUMAR conta hoje com 21 cursos de especialização e MBA nas áreas de Gestão, Educação e Meio Ambiente. Estes cursos foram planejados pensando em você, aliando conteúdo teórico e aplicação prática, trazendo informações atualizadas e alinhadas com as necessida- des deste novo Brasil. Escolhendo um curso de pós-graduação lato sensu na UNICESUMAR, você terá a oportunidade de conhecer um conjun- to de disciplinas e conteúdos mais específicos da área escolhida, fortalecendo seu arcabouço teórico, oportunizando sua aplicação no dia a dia e, desta forma, ajudando sua transformação pessoal e profissional. Professor Dr. Renato Dutra Coordenador de Pós-Graduação , Extensão e Produção de Materiais NEAD - UNICESUMAR “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” Missão apresentação do material Prezado(a) acadêmico(a), é com enorme sa- tisfação que apresento a você nosso material de estudo, para que sirva de apoio peda- gógico para o componente curricular de Neuropsicopedagogia: Estrutura Neurológica e Aprendizagem, referente ao curso de pós- graduação em Psicopedagogia Institucional, oferecido pela Unicesumar. Permita-meuma breve apresentação. Sou graduado em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, mestre em Atividade Motora e Educação pela Universidade de Barcelona - Espanha e Doutorando em Atividade Física, Educação Física e Esporte, com a linha de pesquisa: Treinamento Esportivo, pela Universidade de Barcelona-Espanha. Atualmente, sou Professor na União de Faculdades Metropolitanas de Maringá - FAMMA, Professor convidado em módulos de Pós Graduação pelo Instituto Dimensão e pela Troposphera Soluções Empresariais e Educacionais e Professor de capacitações voltadas à Educação Infantil. Professor Mestre Weslei Jacob O desafio aqui é levar a você de forma simples, conhecimentos relacionados ao cérebro da maneira mais usual possível, para que você tenha a possibilidade de desfrutar ao máximo as informações abordadas por expertos da área, sem que perca o interes- se por essa disciplina e, consequentemente, pela especialização em desenvolvimento. Buscaremos apresentar os conteúdos atuais de forma que você compreenda importância deles, sua aplicabilidade e possibilidade de intervenção dentro ou fora da escola, permi- tindo assim, que o docente tenha condições de aplicar os conteúdos diários de modo que os alunos tenham maior probabilidade de alcançar o objetivo inicialmente traçado, elu- cidando todos os aspectos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Comumente, situações adversas e com- plicadas surgem em nosso cotidiano de trabalho, fazendo com que professores, pedagogos, psicólogos e tantos outros pro- fissionais que contribuem para educação em nosso país fiquem de mãos atadas, sem com- preender ou, muitas vezes, encontrar uma saída para solucionar todos os problemas que emergem de uma realidade social bem maior que apenas a escola. Será proposto um conhecimento biológico, científico e com caráter social para que seja possível encon- trar novas estratégias as quais possibilitem que o cérebro reaja bem aos novos estímu- los proposto por você, consequentemente, alcançando a mudança acadêmica que tanto esperamos em nossos alunos. Ao longo das três unidades propostas neste livro, discutiremos as bases cerebrais que interferem de modo positivo ou nega- tivo na aprendizagem humana, uma vez que tudo que sabemos ou conhecemos está ar- mazenado dentro de sofisticadas estruturas plásticas dentro de nosso cérebro. Tais com- ponentes neurológicos permitem uma vasta comunicação e integração entre todo nosso encéfalo e organismo por meio de estímu- los neurais. Na unidade I, serão abordados diferentes aspectos sobre o cérebro e discutiremos de qual forma é maior a possibilidade de se apren- der. Diante das diferenças entre os indivíduos, faz-se necessário compreender minimamente que uma atividade bem elaborada e direcio- nada, quando pautada em e preocupada com a maneira que o cérebro aprende, apresenta uma possibilidade de êxito, dentro do proces- so pedagógico, muito maior. Assim, sugere-se um alicerce para o aprendizado, tentando elucidar as principais preocupações que se deve ter ao elaborar um planejamento, para se ensinar de forma mais propícia a se chegar ao sucesso docente e discente. Ao longo de toda a unidade II, serão dis- cutidos os aspectos cognitivos relacionados ao nosso intelecto, nossos pensamentos, e uma breve entrada à memória. Aqui será relacionada a maneira pela qual ocorre aprendizagem do ponto de vista das bases neurológicas e todas as dimensões internas que promovem o desenvolvimento. Nesse momento, serão explanados aspectos desen- volvimentistas, principalmente ao longo das duas primeiras décadas de vida e os quais se prolongam, de modo mais simplista, até a terceira idade, apontando e esclarecendo aspectos relacionados ao cérebro e sistema nervoso, desenvolvimento da mente e do comportamento. Nessa segunda etapa, será bastante discutida a integração entre am- biente interno do ser humano, relacionado ao cérebro e sua ligação com o ambiente externo, diante do meio em que estamos inseridos e como essas influências ambien- tais podem produzir respostas satisfatórias para difundir, modificar e variar a aquisição de novos conhecimentos. Por fim, na unidade III, serão abordados, brevemente, os estudos sobre a evolução cerebral até os dias atuais, a capacidade de organização ou reorganização do cérebro, conseguida por um evento denominado neuroplasticidade. A explanação sobre a for- mação de memórias fecha nossa discussão, abordando suas fragmentações e como elas interagem entre si para realizar associações referentes aos conhecimentos repassados ou experimentados. Aqui, também, é direciona- do um pequeno fragmento de informações referentes à aquisição dos conhecimentos coordenativos relacionados à aprendizagem motora por meio de feedbacks. Esperamos que não se torne aqui um experto em Bases Neurológicas e Aprendizagem, mas que a utilização desse material, permita-lhe, de forma autônoma, alcançar o êxito em sua intervenção profis- sional. Espero que você desfrute e obtenha sucesso nessa longa caminhada em busca de novos e palpáveis conhecimentos. su m ár io 01 14 cérebro e aprendizagem 25 alicerce para o aprendizado 30 potenciais de membrana e ação 39 considerações finais O cérebrO e a aprendizagem 02 03 46 neurociência cognitiva 50 bases neurológicas e aprendizagem 53 dimensão interna do desenvolvimento 61 o cérebro e o sistema nervoso 66 desenvolvimento da mente e do comportamento 70 considerações finais 78 evolução do estudo do cérebro 81 neurônios em Rede 82 neuroplasticidade cerebral 86 formação de memórias 89 função e duração das memórias 90 feedback e aprendizagem 94 considerações finais aprendizagem: dimensãO interna dO desenvOlvimen- tO HumanO neurOlógicO cérebrO: O pOder de se reprOgramar e fOrmar memórias 1 O cérebrO e a aprendizagem Professor Mestre Weslei Jacob Plano de estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estu- dará nesta unidade: • O cérebro e a aprendizagem • Alicerce para o aprendizado • Potenciais de membrana e potenciais de açãoobjetivos de aprendizagem • Elucidar o processo de aprendizagem. • Conhecer os alicerces do aprendizado. • Conhecer o funcionamento do cérebro. Iniciamos, nesse momento, uma viagem pelo nosso cérebro, ou pelo menos buscaremos entender algumas situações que nele acontecem. Você já se perguntou como nos transformamos de um bebê frágil, indefeso, sem nenhum controle corporal ou in- telectual em um adulto, um médico, um engenheiro, professor e tantas outas profissões? O que você mais gosta de fazer? Prefere café ou achocolatado? Hoje, já é possível entender de qual forma o cérebro aprende, como ele se motiva e se modifica. É eviden- te que não precisamos ser neurocientistas para vivermos de uma forma satisfatória, sermos felizes ou aproveitarmos a vida, contudo, quanto mais conhecemos esse magnífico campo, mais compreen- demos os processos de amadurecimento e evolução da espécie humana. Quando falamos em cérebro, no contexto educacional, podemos sugeri-lo como sinônimo de aprendizagem, ou, pelo menos, um co- nhecimento adquirido que possibilitará desenvolvermos estratégias mais eficazes para o transcorrer do processo de ensino-aprendiza- gem. Para tanto, existem inúmeras estruturas especializadas que podem ser moldadas e remoldadas por nossa estimulação diária, por exemplo, os neurônios, dentro das suas características individu- ais podem aprender ou se adaptar a qualquersituação, desde que o mediador das atividades leve em consideração os caminhos para melhorar a atenção, a motivação e a prática, utilizando métodos diferentes e oportunizando a todos o acesso ao conhecimento. O aprendizado, o movimento motor, o controle dos olhos para ler, das mãos para escrever, estão não apenas armazenados em nosso cérebro, são dependentes das células nervosas que produzem energia dentro do nosso organismo, perfazendo, assim, a melhoria das nossas funções cognitivas e também motoras. A discussão nesse momento aponta a estreita relação do funcionamento físico-quí- mico cerebral e a estimulação para levar um aluno ao aprendizado. Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 14 Atualmente, existe uma nova ciência, a qual abarca todas as demais linhas de estudo que envolvem o Sistema Nervoso. Tendo sua base dentro da biologia e comumente chamada de neurociência, essa ciência se for- taleceu na década de 90, conhecida como “a década do cérebro”, principalmente nos Estados Unidos (EUA), onde o governo de- cretou um período de estudo, investindo e contribuindo para a formação de laboratórios e, consequentemente, no desenvolvimento de pesquisas relacionadas com o funciona- mento do cérebro. Desse modo, falar nessa nova ciência é falar de bases neurológicas e aprendizagem, ou seja, de qual forma nosso cérebro aprende mesmo? Responda mental- mente. Isso mesmo, todos que disseram pela prática acertaram, porém, logo esclarecere- mos mais essa condição de aprendizagem. Aprendizagem nada mais é do que a mudança do cérebro pela experiência, é a maneira na qual ele se adapta e responde melhor, faz diferente na próxima vez. Na apren- dizagem, simplesmente é aprimorada uma determinada resposta cerebral a um problema. Ainda parece um pouco nebulosa essa informação, não é? Bem, façamos um teste: saia da sua casa, escritório ou qualquer lugar que esteja agora e vá até a avenida mais movimentada próxima de você. Ao chegar nesse local, vá até o meio da rua, deite-se no chão e espere um carro, caminhão ou ônibus passar... Esperou tempo suficiente? Alguns devem estar pasmos agora e dizendo que estou louco, estou errado? Bem, vamos tentar de novo, não precisa mais sair do local em que está, apenas vá até uma cozinha, acenda o fogão e espere por volta de três Cérebro e AprendizAgem Pós-Graduação | Unicesumar 15 minutos. Ao passar esse tempo, desligue a boca do fogão e coloque sua mão por sobre a “boca” desse eletrodoméstico, colocou? Já está feita a experiência? Novamente, muitos devem estar se perguntando, o que esse pro- fessor maluco está querendo? Simples, tenho absoluta certeza que hoje, com a maturida- de de cada um, as duas sugestões parecem absurdas, pois, na primeira, você poderia ser atropelado e até mesmo vir a óbito e, na segunda, você certamente iria se queimar. Estou certo? Pois bem meu(inha) amigo(a), isso é aprendizagem. Um dia você aprendeu que, para atravessar a rua, deve olhar para os dois lados e jamais, parar, sentar ou deitar em uma avenida, onde o risco é grande. Aprendeu também que, quando uma su- perfície está muito quente, você pode se queimar em níveis diferentes, mas qualquer tipo de queimadura agride muito nosso or- ganismo, sendo muito lesiva e gerando um desconforto muito grande. Assim, com essas duas experiências, exemplos, você já descobriu ou compre- endeu o que é aprendizagem. Em algum momento da sua vida você aprendeu o que essas situações supracitadas podem ocasio- nar. Resumindo, você aprendeu pela vivência, como experimentando, sentindo o que gera prazer ou dor, incômodo ou satisfação, nada mais nada menos do que seu cérebro res- pondendo a mesma situação diferentemente e quanto mais o tempo passa, quanto mais amadurecemos, mais se especializa essa fasci- nante estrutura que aprende a todo instante, do princípio da vida até a morte. Então como a neurociência pode ajudar na compreensão do aprendizado? Essa ciência pode nos ensinar muitas coisas atualmente, iniciando com o que é aprendizado, identifi- cando inúmeros fatores que podem interferir nesse processo, dentre outras possibilidades. Usar o cérebro muda o cérebro, a experiên- cia reorganiza algumas estruturas internas do nosso Sistema Nervoso Central, permitindo, assim, que o cérebro faça diferente. Em nosso corpo, acontecem inúme- ras “tempestades elétricas” (será explicada como elas ocorrem ainda nesse capítulo) que levam e trazem as diferentes informa- ções do nosso corpo, por exemplo, a dor devido a um beliscão, ou uma mordida, gera uma perturbação em receptores específi- cos para a dor localizados internamente, logo abaixo da nossa pele. Tais receptores são sensíveis somente para isso, não perce- bendo outras variações, como a de úmido, áspero ou gelado, para essas situações existem outros receptores. Pois bem, suponhamos que você, sem perceber, bateu o dedinho do seu pé na cadeira, e isso gerou uma dor bastante Uma criança superprotegida, que não tem a vivência de brincar, correr, pular e experimentar o mundo, aprenderá tanto ou tão bem como outra criança que passa por uma boa estimulação motora? Fonte: Autor. Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 16 forte, que fez com que até desse pulinhos. De forma simplificada, os receptores de dor situados nos dedos de seu pé perceberão a situação e devem obrigatoriamente informar o cérebro. Como isso não é possível por tele- patia, a informação deve ir por uma estrada que é constituída por inúmeros neurônios que ligam os dois locais, os dedos dos pés e cérebro. Por essa estrada, passam potenciais de ação (eletricidade), fazendo com que as informações cheguem ao cérebro, conheci- das como informações aferentes, e depois de decodificadas, saiam do Sistema Nervoso como resposta, conhecidas como informa- ção eferente. O problema é que temos aproximada- mente 100 bilhões de neurônios em nosso corpo, os quais se comunicam entre si. Essa comunicação também acontece por meio de potenciais de ação, isso mesmo, por ele- tricidade. Antes que alguém me pergunte se é como um fio de energia que temos em nossa casa, que liga o interruptor da tomada à lâmpada presa ao teto, sim! É quase a mesma coisa, depois de um comando, a eletricidade é liberada, permitindo que a lâmpada acenda. A diferença é que dentro de nossa cabeça tudo é um pouco mais complexo e depende de muitas outras coisas. Se abrirmos nosso crânio e olharmos nosso encéfalo, nada, simplesmente nada irá acontecer; se colocarmos a mão por sobre nossa cabeça agora. Você também não tomará nenhum choque, nem sentirá nada, mas isso não quer dizer que nosso cérebro está desligado ou descansando, apenas não podemos ver. Para isso, foram criadas má- quinas que analisam a atividade cerebral, ou simplesmente a atividade elétrica em nossa cabeça. O problema é que temos diferentes tipos de neurônios, alguns mais finos e longos, outros menores e mais calibrosos, alguns re- vestidos com uma estrutura denominada bainha de mielina que faz com que o es- tímulo elétrico viaje por nosso corpo mais rapidamente, devido a uma condução de- nominada saltatória. Isso mesmo, o estímulo salta por partes desses neurônios, diminuin- do o trabalho e o tempo de transmissão da informação. Por essas estruturas que formam essa “estrada” serem diferentes, elas jamais se tocam, jamais encostam umas nas outras. Diante disso, pergunto: como faz para essa informação passar deum neurônio a outro? Como ele é levado à outra estrutura? Apenas lembrando que não vale condução saltató- ria, pois o estímulo não pode pular de um neurônio para outro. Claro que sempre pode ficar mais difícil... Vamos por partes, se essas estruturas não se tocam, teríamos em nossa “estrada” uma falha de construção, como uma ponte que passa sobre um rio que não foi constru- ída, certo? Então como eu chego até meu destino se não tem ponte, a estrada acaba? Para aqueles que disseram vai de barco, nadando, quase acertaram... A resposta é sinapse, isso mesmo, esse nome difícil, mas elegante. Já pensaram em nomear um filho assim? ...Brincadeira pessoal, mas, seguin- do com nossa ideia, sinapse é o nome do Pós-Graduação | Unicesumar 17 processo que leva a informação para o outro lado do rio, que transmite a informação de um neurônio para o outro. Como é mesmo que isso ocorre? Eletricidade, não é? Não! Agora, por mediadores químicos conhecidos como neurotransmissores (podem ser exci- tatórios ou inibitórios). Aí alguém já pensou, mas professor, eu tenho que decorar tudo isso? Eu respondo sim, você não precisa saber de todos os detalhes, mas tem de saber dife- renciar o que é potencial de ação e sinapse. Ambos estão intimamente ligados e, em consequência, ligados ao conhecimento ad- quirido pelo ser humano ao longo da vida. Vamos lá, quem nunca brincou de tele- fone sem fio na infância? Aquela brincadeira que cochichávamos no ouvido do colegui- nha e ele no do outro amiguinho, até chegar ao final de uma fila, de um círculo etc. O en- graçado é que nunca a informação chegava ao final perfeitamente, não é verdade?! Voltamos ao corpo humano, um potencial de ação é propagado por uma fibra nervosa (neurônio) e tem que levar a informação de jogar uma pedra no lado. Essa informação sai do sistema nervoso em direção aos braços, mãos e dedos do indivíduo, mas ao longo do caminho que a leva até o seu destino, o qual fará a pedra ser lançada, muitas vezes, essa in- formaçãoestará incompleta, quebrada, com um rio passando entre dois neurônios. Então, uma sinapse ocorrerá até o movimento ser executado (existem estruturas que contro- lam e corrigem o movimento para que ele seja executado perfeitamente). Mas o que tem a ver a brincadeirinha citada no início do parágrafo? Pense que os neurotransmis- sores que são liberados em uma sinapse são os “fofoqueiros”, são mediadores químicos que retransmitem a informa- ção que a eles chegam adiante. Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 18 Um resumo de como ocorre a sinapse, de forma mais científica, poderia ser explicado assim: (1) Chega o potencial de ação; (2) Abertura dos canais vol- tagem-dependentes de cálcio; (3) Ativação das vesículas secretórias que contêm neuro- transmissores (exemplo. ACH - acetilcolina) em direção a membrana pré-sináptica; (4) Exocitose, liberação do neurotransmissor na fenda sináptica; (5) Neurotrasmissor se liga às proteínas situadas no botão pós-sináptico; (6) Enzima acetilcolinesterase atua sobre a ACH (se for esse neurotransmissor), quebrando-a em acetil e colina; (7) Abrem-se os canais de NA+; (8) Início de um novo potencial de ação; (9) Acetil e colina voltam para o botão pré-si- náptico para serem reaproveitadas; (10) Fim. Uma criança já nasce com muitas cone- xões sinápticas (conexão entre neurônios, atividade elétrica entre eles). Aos 12 meses de vida ela tem praticamente o dobro de sinap- ses que um cérebro adulto, com isso tem-se um maior gasto de energia. Acreditava-se que, com passar dos anos, iríamos aumentan- do cada vez mais o número dessas sinapses, no entanto, isso acontece basicamente nos primeiros anos de vida. Depois nosso cérebro se adapta, estabiliza e reorganiza essas si- napses, fazendo com que elas aconteçam de maneira direta e utilizando o menor caminho possível, economizando energia e trabalhando de maneira objetiva, ou seja, se as conexões servem para algum objetivo elas são fortalecidas, caso contrário elas são eliminadas. Esse é um processo natural no desenvolvimento humano. Diante dessa informação, podemos pressupor que um recém-nascido seja mais inteligente que um adulto, bem como sua capacidade de controlar o copo como um todo, desde o intelecto até o recurso motor mais com- plexo? E podemos afirmar, como muito se diz, que uma criança é um adulto em mi- niatura, estou certo? O que você acha? Para a primeira pergunta, aqueles que concorda- ram estão errados, pois façamos a seguinte analogia, quando você compra um copo, uma roupa, uma obra de arte ou até mesmo um carro, todos esses produtos para o seu gosto serão maravilhosos, lindos, bem aca- bados etc., mas eles sempre foram perfeitos assim? Boa parte de tudo o que consumimos passa por uma produção, onde a matéria-pri- ma bruta será lapidada até ficar exuberante como se deve, mesmo que para isso tenha de ser queimada, engraxada, banhada quimi- camente, destruída e remoldada. Pois bem, para uma criança, esse excesso de sinapses nada mais é do que matéria prima para o aprendizado, é a matéria bruta que deve ser lapidada, construída, moldada, e tudo isso só é conquistado pela experiência. Quem nunca escutou algumas histórias ou viven- ciou dentro da própria casa uma criança Por que um recém-nascido tudo que segura leva até a boca? Fonte: Elaborado pelo Autor. Pós-Graduação | Unicesumar 19 que estava em cima do sofá, olhando pela janela, ou mexendo na gaveta de facas, ou ainda quietinha, aprontando algo? Impossível nunca termos escutado ou visto essas situ- ações, mas porque crianças novinhas fazem isso mesmo? Responda essa indagação. Já chegou a resposta? Perfeito! Pela experiên- cia! Basicamente o que ela estava fazendo quando estava sobre o sofá, explorando o ambiente, nem que para isso ela tenha de se cortar na gaveta de facas, e não, não adianta falar que ela vai cair ou se cortar. Esse pequeno humano ainda não sabe pela sua própria vi- vência o que é a dor, a queda, o corte etc, ele tem de conhecer isso por conta própria. Então, se não quer que ele mexa na gaveta de facas, troque ela de lugar, se não quer que ele faça algo, esconda, pois certamente esse bebê irá, assim que possível, mexer, fuçar, co- nhecer e aprender pela experiência. Lembre-se, para a maioria, no início da vida, a boca é o lugar onde se conhece e se explora esse magnífico meio onde vivemos. Voltamos lá para o início do texto, você colocou a mão na chapa quente do fogão? Deitou na rua? Não, é claro que não, você sabe o que é cair, bater e se machucar, você sabe o que signi- fica e como dói o queimar do fogão, então se antecipa para que isso não aconteça. A criança deve e tem que aprender por conta própria, não estou aqui dizendo que tem que deixar ela se queimar ou cair de algum lugar muito alto, mas ela deve aprender também pela experiência, pela exploração do ambien- te. Não estamos aqui entrando em teorias Vygotskianas ou Piagetianas, apenas estou dizendo que a criança é curiosa por nature- za e buscará conhecer o mundo pelas suas próprias mãos ou pela própria boca. Quanto à segunda informação apontada lá atrás, uma criança é um adulto em minia- tura? Não! Uma criança é uma criança, bem diferente de um adulto, ela ainda está bus- cando, por tentativa e erro, a adaptação, o amadurecimento das conexões sinápticas, aprendendo um pouco sobre tudo que a cerca. Não se esqueça, você sabe que o fogão pode queimar e o que é queimar.A criança ainda tem de aprender isso, então nunca mais comparem uma criança com um adulto, no que se refere a esse aspecto, criança é uma criança. Em termos gerais e bastante abrangen- tes, toda essa tempestade elétrica que se tem na cabeça de uma criança é a matéria bruta que deve ser lapidada para se chegar ao conhecimento, ao aprendizado. É evidente que, para isso, podemos percorrer caminhos diferentes, errar, voltar e recomeçar até alcan- çarmos o êxito. Pense que essas conexões devem chegar a um objetivo final. Acredito que todos já tenham jogado ou praticado um labirinto, seja em uma folha de papel ou um labirinto dentro de um jardim ou parque de diversões. Muitas vezes, temos várias possi- bilidades de sair (objetivo) desse labirinto e sempre buscamos fazer isso de forma mais rápida. Isso não quer dizer que aquele in- divíduo que encontrou outro caminho, um pouco mais longo, não tenha aprendi- do. Sim, ele aprendeu, apenas encontrou outra forma de chegar ao aprendizado. À Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 20 medida que nosso cérebro, pela experiência, encontra uma resposta satisfatória a uma de- terminada situação ou problema. Por meio da ligação entre dois pontos, é identifica- do esse caminho sináptico como a principal via de acesso àquela informação requerida, passando assim a ser utilizada mais vezes, pouco a pouco, reforçando essa estrada de ligação para um significado ou objeti- vo específico. Em suma, quanto mais se usa o mesmo caminho, mais fácil será para en- contrar essa estrada em um momento futuro. Em nosso cérebro, isso sempre acontecerá, ou pelo menos deverá acontecer, na busca pelo caminho mais curto. Por esses motivos, é extremamente im- portante esse excesso de sinapses no início da vida, pois permite ao cérebro não só uma riqueza de conexões, mas sim uma riqueza de possibilidades que irão ser explora- das por uma criança em desenvolvimento. Evidentemente que o cérebro adulto pode tomar várias formas, dependendo do que se aprendeu, do que foi vivenciado na infância, ou seja, depende dessa remodelagem do cérebro que é ocasionada pelas experiên- cias de vida que cada um de nós passamos. Diante de tudo o que foi abordado até agora, você deve estar se perguntando: como faço para aumentar o número de sinapses, não é? Na verdade, você não quer muitas sinapses, mas sim as sinapses corretas, elas podem ser poucas, desde que façam sentido. Então, certamente, seu cérebro irá esculpir todo aquele emaranhado de conexões perdidas e sem lógica transformando-as em algo coerente, lógica e que tenha alguma finalidade real. Para isso, ocorrerá um enfraquecimento daquelas conexões que não fazem o menor sentido ou são pouco usuais e ocorrerá um fortalecimento daquelas que realmente servem para alguma coisa, para algum objetivo que seja importante para você, que, por exemplo, permita realizar um movimento certo, processar a informação de maneira significativa, encontrar uma respos- ta matemática eficaz, dentre outras tantas “esculturas” alcançadas pelo nosso cérebro. Diante do exposto até aqui, o ato de aprender trabalha simultaneamente em duas bases, fortalecer aquilo que é utiliza- do e enfraquecer ou até eliminar aquilo que não usamos. Caso ocorra alguma anomalia na forma- ção gênica do indivíduo, pode-se ocorrer um “congelamento” nessa readaptação ce- rebral, fazendo com que o cérebro desse indivíduo permaneça sempre em um estado infantil, com muitas possibilidades, mas sem nenhuma concretização das sinapses, sem nenhuma significação, o que, certamente, dificultará o aprendizado. Acredita-se que existe, nas crianças de modo geral, uma janela de aprendizado, um momento no qual devemos aproveitar ao máximo e ensinar o máximo possível a uma criança. Isso não quer dizer que devemos entupir uma criança de conteúdo ou afa- zeres, mas sim, embasar nossas práticas pedagógicas tanto dentro da escola, como professor, pedagogo, psicólogo, quanto simplesmente como pais, tias e irmãos, Pós-Graduação | Unicesumar 21 aproveitando esse momento no desenvol- vimento infantil que ocorre por volta dos 10 anos de idade, permitindo que uma criança, quando bem estimulada, aprenda mais facil- mente gramática, por exemplo. Daí surge à ideia de que quanto mais jovem, mais fácil se aprende um segundo idioma. Antes que você questione algo relacionado ao aprendi- zado de outra língua, pense comigo, alguém já viu o nascer de um bebê? O médico, a mãe ou alguém muda um botão na nuca da criança, para que ela aprenda o português, inglês, árabe, dentre tantos outros idiomas. Resumindo, podemos aprender qualquer tipo de gramática, fonética, escrita ou fala, tudo dependerá de qual lugar do mundo se irá nascer ou crescer. Talvez por esse motivo um adolescente que muda de país tenha mais dificuldade de aprender o novo idioma, devido à mudança de localidade ter ocorri- do após a primeira década de vida. Posto isso, é extremamente interessante a mudança no currículo escolar, a qual permita que o ensino de um segundo idioma ocorra ainda nas séries iniciais e não mais após os 11 anos, lá na fase final do ensino fundamen- tal, leva a perder, em partes, essa janela de aprendizagem. João, aluno do terceiro ano do ensino Fun- damental I com 8/9 anos. Ele é um aluno mediano, com aprendizado satisfatório para sua idade, comportamento normal, com relacionamento interpessoal bom com os colegas e professores, durante todo o ano de 2013 e início de 2014. A partir do fim do primeiro bimestre, o aluno começou a faltar, tornou-se agressivo, fechado para os ami- gos e perdeu o interesse para os estudos. A escola buscou a família para saber se estava acontecendo algo em casa e descobriu que o irmão mais velho é um usuário de drogas e contrabandista, e que a mãe é submissa a ele. Há desconfiança de que esse aluno também está usando drogas. Diante de tal situação, a professora tenta conquistar a confiança de João, para trazê -lo de volta à escola e proporcionar suporte emocional. Haverá uma tentativa de encami- nhá-lo a um psicólogo, a fim de solucionar ou amenizar o problema, uma vez que também cabe ao docente encontrar soluções inteli- gentes para proporcionar o melhor processo de ensino-aprendizagem possível. Fonte: Elaborado pelo Autor. O nome é fictício, mas o conteúdo do caso é real, com adaptações. Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 22 Na adolescência, diferentemente do que se acreditava, ocorre uma nova fase de formação de muitas conexões sinápticas. Essa fase de exuberância sináptica proporciona ao adoles- cente um mundo de possibilidades que pode ser desenhado ou firmado em aprendizado. Agora, isso não quer dizer que perder essas janelas de aprendizagem, ou não ser influen- ciado a aprender outro idioma na primeira década de vida, torne impossível a aquisição desses conhecimentos na idade adulta. É pos- sível sim aprender tudo ou tão bem como uma criança, porém, fica claro, por nossa vivência e observação em nosso cotidiano, que com o avançar da idade algumas coisas ficam mais difíceis de serem adquiridas, armazenadas em nossa cabeça como novo conhecimento. Você já se deu conta de que nossos anciões, avós, pais, amigos ou qualquer pessoa que tenha uma idade mais avançada, em grande parte, têm uma dificuldade significativamente maior para compreender e aprender algo que gira em torno da tecnologia? Vamos lá, suponhamos que comprásse- mos um computador, lindo e novo.Quando tentássemos abrir um arquivo, página ou qualquer coisa, normalmente ele de modo rápido, dar-nos-ia as respostas que desejásse- mos por meio de um clique, correto? Agora, após dois anos de uso, esse computador já não é tão novo e, provavelmente, levará mais tempo para responder aos mesmos coman- dos. Comparar uma criança a um adulto ou a um ancião é a mesma coisa que fazer essa analogia com um computador ou até mesmo com um carro. Não quer dizer que é impossível se aprender depois de certa idade, mas com toda a certeza esse aprendizado demandará mais tempo. Talvez por isso torna-se compli- cado ensinar gramática, um segundo idioma ou a mexer em um computador, smartpho- ne, tablets etc. Dislexia em iDaDe De pré-alfabetização A criança com dislexia possui características que podem ser percebidas desde a Educação Infantil, tais como: atraso na linguagem, dificuldade de nomear objetos, cores etc., utilizar palavras incon- clusas (“tipo”, “coisa”...) ou alguns vícios de linguagem presentes na sociedade atual ou dependentes da localidade em que vive. Possui vocabulário pobre, dificuldade de aprender rimas, memorizar músicas ou não consegue expressar uma história dentro de uma sequência lógica. Existem ainda, as características motoras, como tropeçar com frequência, apresentar dificuldades para abotoar uma calça ou uma camisa, amarrar os cadarços em outras palavras, acabam por ser desastrados. As características apresentadas acima antecedem o período de alfabetização e se as intervenções pedagógicas forem efetivadas nessa fase (Educação Infantil) a dislexia poderá ser amenizada ou até superada logo. As intervenções envolvem a assimilação de fonemas (na alfabetização e letra- mento desde a Educação Infantil), trava-línguas, rimas, desenvolvimento do vocabulário, melhoria da compreensão e fluência da leitura. Outra maneira para ensinar as crianças disléxicas poderia ser pela utilização das vias táteis, identificando o traçado das letras, bem como a escrita em caixas de areia e tatearem letras escritas em lixas (folha de lixa). Fonte: Elaborado pelo autor. Pós-Graduação | Unicesumar 23 alguém poderia indagar o seguin-te: mas e uma pessoa com dislexia, por exemplo, ela não aprende como todas as outras pessoas, não é verdade? Exato, mas junto da pergunta já temos a resposta, é uma situação diferente, uma pessoa que tem algum distúrbio que interfere no pro- cessamento de informações, podendo ser hereditário, como é o caso da dislexia, mas isso não quer dizer que seu portador é incapaz de aprender. Esse indivíduo apenas tem di- ficuldade e sempre irá requerer ainda mais atenção de todos aqueles que trabalham com ele. Posto isso, nunca devemos dizer a uma criança, ou qualquer aprendiz, que ela não consegue aprender, que é “burra” ou algo do gênero, pelo contrário, devemos sempre trabalhar com incentivo, por exemplo, você consegue, continue tentando etc. Ante essa informação, devemos sempre incentivar, mas, se possível, evitar o incentivo utilizando a palavra inteligente, por exemplo, seu aluno acertou um cálculo matemático, e você o elogia, “nossa muito bem, como você é inteligente”, na verdade, deve incen- tivá-lo com “parabéns esse é o caminho, ficou muito bom, mas você pode melhorar”. São apenas sugestões, mas a base para a refle- xão gira em torno do seguinte: um aluno que se percebe pela fala do professor como uma pessoa inteligente, perfeita e que acertou, não arriscará perder essa imagem aos olhos do docente. Já aquele aluno que foi incen- tivado pela tentativa, pelo esforço, sempre tentará melhorar em uma busca incessan- te pelos elogios advindos do professor, pois isso massageia o ego, melhora a autoestima e a confiança, além, obviamente, de incluir em sua conduta a motivação extrema, com o intuito de se alcançar o aprendizado. É comum escutar, em nosso cotidiano, que meninas aprendem mais que meninos ou, ao menos, mais rápido. Você concorda com isso? Falamos em termos gerais, até agora, de processos superiores que possi- bilitaram o aprendizado, no entanto, não foi mencionado, em nenhum momento, sobre diferenças de aprendizado em cérebro mas- culino ou feminino, isso é mito. Os cérebros aprendem da mesma maneira, independen- temente se estão na cabeça de um homem ou uma mulher. O que muda é a motivação de cada um para aprender uma coisa ou outra, podendo obviamente estar relacio- nada diretamente por uma pré-disposição individual, por exemplo, ter maior facilida- de em matemática, quando comparada à gramática, sendo a primeira aquela que se aprende facilmente e normalmente é mais agradável. Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 24 Diferenças no tamanho Do cérebro masculino e feminino Atualmente, sabe-se que um homem tem um cérebro 10% maior quando compara- dos ao do sexo feminino, no entanto, isso não representa que os homens sejam mais inteligentes ou apresentem um maior de- sempenho. O cérebro feminino atinge a ma- turidade por volta dos 11 anos e o masculino somente aos 14 anos, aproximadamente. Por outro lado, algumas regiões cerebrais envolvidas em raciocínio mecânico, concen- tração visual e raciocínio espacial amadure- cem até oito anos antes nos meninos. Talvez seja essa a explicação para que homens se- jam muito mais aptos para áreas de exatas, apresentam habilidades esportivas em dife- rentes modalidades, por exemplo, corridas automobilísticas. Mulheres, por outro lado, amadurecem mais rapidamente áreas que controlam a fluência verbal, escrita e reco- nhecimento fácil dos familiares. Estudos que utilizaram imagens de ressonân- cia magnética concluíram volumes diferentes do cérebro entre homens e mulheres, apre- sentando resultados que colaboram muito para a área da educação, uma vez que com- provam a diferença cerebral entre meninos e meninas, na escola ou no ensino superior. As imagens coletadas mostram que mulhe- res tem um volume 23% maior na área de Broca, no córtex pré-frontal dorsolateral e 13% maior na área de Wernicke, no córtex temporal superior, quando comparado aos homens. Assim, os estudos demonstram que mulheres tem maior habilidade na leitura e na fala. Fonte: Texto baseado no livro Relvas, M. P. Neuro- ciência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula. 2 ed. Rio de Janeiro: Wak Ed. 2010. 160 p. o intelecto entre homens e mulheres Existem diferenças intelectuais entre ho- mens e mulheres? As mulheres, imagino, sorriram e disseram que sim, que são mais inteligentes que os homens. O desempenho masculino é maior em raciocínios matemáti- cos, testes de manipulação de objetos diver- sos, testes de habilidades motoras com alvo e até de navegação de rotas. Já mulheres tem a capacidade de lembrar-se de palavras específicas, são melhores em tarefas manu- ais ou em um simples jogo de memória com cartas viradas, onde devemos lembrar-nos da localização dos pares. Estudos nessa li- nha de discussão comprovam que homens aprendem um caminho para chegar a algum local mais rapidamente que o sexo oposto, por outro lado, as mulheres têm a habilida- de de demarcar pontos estratégicos para a orientação espacial. Apesar das diferenças entre gêneros se- rem pequenas, podemos encontrar uma variação cognitiva bastante grande entre homens e mulheres e, ao contrário do que sempre se imaginou, tais diferenças iniciam- se por volta de 3 anos de idade, muito antes da puberdade. Fonte: Texto baseado no livro Relvas, M. P. Neuro- ciência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula. 2 ed. Rio de Janeiro: Wak Ed. 2010. 160 p. Pós-Graduação | Unicesumar 25 Diante do exposto até o presente momento,conseguimos traçar parâmetros e adquirir informações que nos propiciassem um alicerce para começarmos a en- tender ou compreender o aprendizado. Tome um papel e uma caneta, escreva a palavra APRENDIZADO no centro da folha, a partir daí iniciaremos nossa discussão da seguinte maneira, pense no que é importante para o aprendizado. Alguns provavelmente levantaram a repe- tição, isso está inteiramente correto, mas, dando um pequeno espaço, vá a folha de papel e escreva acima da palavra aprendizado um novo tópico denominado PRÁTICA. Posto isso, você, quando está em seu tempo livre, gosta de fazer o que? Sei que pensará em milhões de coisa, então permita que eu refaça a indagação, para realizar algo que goste, o que é necessário? Isso mesmo, prazer, então volte a folha e abaixo da palavra aprendizado escreva MOTIVAçãO. Para se ensinar qual- quer coisa, o que é necessário obter em sua conduta como docente, para facilitar o aprendizado de seu aluno? Quem disse estratégia também acertou. Volte a folha e escreva MÉTODOS ao lado esquerdo do aprendizado. Por fim, para fecharmos alicerce para o aprendizado Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 26 nossa estrutura que auxiliará na promoção do aprendizado, pense: adianta obter as melhores estratégias, os métodos mais atuais para ensinar se o aluno não quer aprender? Não, é claro que não. Então, fica evidente que esse alicerce se completa pela ATENçãO. Vá à folha e escreva essa palavra ao lado direito da palavra apren- dizado. Pronto, temos em nosso guia a palavra aprendizado ao centro, rodeada pelos nossos alicerces que propiciaram o ato de aprender. Abaixo a palavra mo- tivação, acima prática, à esquerda métodos e a direita atenção. Seguindo com nossa ideia, trace uma flecha da palavra prática até motivação e outra no sentido inverso, cruzando a palavra aprendizado. Todos devem con- cordar que aprendemos quando praticamos, devemos repetir e repetir quantas vezes forem necessárias até firmar aquilo que pretendemos em nossa memória e, para isso, devemos estar motivados, não existe prática sem motivação, ou você vai a academia de ginástica sem um objetivo? Você estuda sem que tenha que realizar uma prova? Pois bem, para aprender, devemos estar motivados, com vontade de praticar tal ação até que ela fique retida em nosso cérebro. Só recor- dando, temos em nosso cotidiano um tempo significativamente curto. Sendo assim, não podemos praticar muitas coisas ao longo de um dia. Sendo assim, devemos voltar nossos esforços a algumas coisas específicas, tornando-nos es- pecialistas em algo, por isso, também, é impossível ser ótimo em tudo. A motivação é fundamental por uma série de fatores, como encorajamento, a sinalização positiva que gera a perspectiva de que estamos no caminho correto, de que estamos fazendo certo e devemos continuar praticando, é ela quem nos proporciona um feedback sobre nossos atos, permitindo o querer melhorar in- dividual. A motivação também depende do nível de dificuldade, fácil demais é ruim e difícil de mais também é ruim. Inicia-se a partir daí um ciclo vicioso, quanto mais motivado, mais horas de prática, maior a motivação e assim por diante. É bem verdade que sem essa tal motivação não conseguimos aprender e o grande responsável por isso é o nosso cérebro. Todos nós temos estruturas intrín- secas localizadas no cérebro que são afetadas positivamente, sendo que centros específicos de prazer produzem uma substância chamada de dopamina, um neu- rotransmissor relacionado ao prazer. Sempre que temos essa substância liberada, uma situação de bem-estar será estimulada em nosso organismo, melhorando nossa atenção e reforçando todo o comportamento corporal para o objetivo em questão. Por outro lado, tarefas demasiadamente fáceis ou difíceis demais, frus- tram o cérebro e levam a desmotivação. Pós-Graduação | Unicesumar 27 Para os métodos, também acredito que não haverá discussão, mas vamos em frente. Posso afirmar que um professor deve ter na manga vários métodos de ensino, correto? Evidente que sim, pois a forma de ensino nem sempre deve ser a mesma, ela pode variar em função da necessidade. Alguns aprendem de um jeito, mas não quer dizer que todos os demais aprendam da mesma maneira ou na mesma velocidade, e é sua responsabilidade criar estratégias e oportunizar situações para que todos aprendam. Não confunda essas palavras com a im- plicação em obter 40 métodos diferentes para a mesma aula, mas você deverá estar atento as mais diversas possibilidades, proporcionando aos discentes as mais variadas condições de ensino, pois se um aluno não aprendeu não quer dizer que nunca poderá aprender. Apenas esteja antenado para alterar o método, quem sabe assim isso facilite o aprendizado dessa criança, jovem ou adulto. Para fecharmos essa terceira ideia referente aos métodos, os quais são diver- sos, pense em uma multiplicação de cabeça, em um cálculo mental, e outra em uma folha de papel. As formas de realizar as operações matemáticas são iguais? Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 28 Não. As operações convencionais, colocando um número abaixo do outro e reali- zando o cálculo por etapas e depois somando-o, são grandes demais para nossa memória de trabalho, que consegue guardar e armazenar de 6 a 8 informações a cada instante. Então, quando você tenta realizar o mesmo cálculo que seria re- alizado no papel de cabeça, normalmente, você se perde no meio. Talvez isso não ocorra para contas menores como de dois algarismos. Vamos lá, pense em uma multiplicação de cabeça, faça o seguinte cálculo matemático, multiplique 2 x 2; agora 5 x 4; 12 x 3; todos muito fáceis não é? Agora para que você entenda melhor o que eu estava tentando explicar, continue com operações matemáti- cas e, rapidamente, calcule para mim, 2 x2 x 4 ÷ 5 x 2 – 8 +16 +13, o resultado é? Confuso, eu sei, mas veja como seu cérebro foi sobrecarregado, mesmo com contas relativamente simples, pois ele deve lembrar qual é o problema, realizar o cálculo, multiplicar 2 com 2, igual a 4 e multiplicar com mais 4, 16 e assim suces- sivamente até o final das operações. Quando concluir, o cérebro deve se lembrar de qual era o problema inicial para gerar a resposta, ou seja, ele teria de realizar muitas contas lembrando da pergunta, sem esquecer de nada. Infelizmente, nossa memória de trabalho não consegue controlar e lembrar de tanta coisa, assim você se perde no meio do cálculo. Sobretudo, mesmo que esse fosse um método per- feito, nem todas as pessoas teriam facilidade de realizar operações matemáticas dessa maneira. Somos diferentes, e encontramos caminhos para realizar tarefas, até chegar ao aprendizado diferentemente, jamais se esqueça disso. Já ao falar em atenção, podemos apontar que o aprendizado está sugerido como algo que só é adquirido mediante o foco, a atenção sobre algo específico. Você só entende um trecho de um livro ou o livro todo se estiver focado nas palavras que está lendo, caso contrário, cairá em esquecimento e, ao final da leitura, não compreende- rá nada e deverá recomeçar a ler. Quantos já não passaram por isso em seus anos de estudo? Alguns (principalmente as mulheres), vão falar que é mentira, que mulher consegue realizar inúmeras coisas ao mesmo tempo, por exemplo, cuidar das crian- ças, falar no telefone, cuidar da comida, navegar na internet e ainda fazer contas. Pois bem, meu(inha) amigo(a), a mulher tem o dom sim de alternar o foco muito rapi- damente, mas do ponto de vista biológico isso é impossível, tanto homens quanto mulheres podem manter o foco apenas em uma coisa de cada vez. Pós-Graduação | Unicesumar 29 Leandro era um menino aparentementesem nenhum tipo de problema, sen- tava sempre no fundo da sala, realizava sempre as atividades propostas e não apresentava problemas de comportamento. Foi assim até o 1º ano. Ao iniciar o 2º ano, de imediato, a professora percebeu uma mudança, Leandro passara sempre a se posicionar de frente para qualquer pessoa que viesse a falar com ele, fosse coleguinha ou quando a professora solicitava alguma atividade. Foi ficando cada vez mais evidente que, se conversasse de costas para ele, Leandro acabava por não realizar a tarefa solicitada. Com essa observação, aliada ao diagnóstico clinico, constatou-se que Leandro estava com dificuldade auditiva. A partir de então, além de profissionais específicos que passaram a trabalhar com Leandro, a professora começou a buscar novas estratégias ou métodos para continuar ensinado de forma satisfatória, por exemplo, falar de forma mais lenta e espaçada, utilizar em seus lábios, batons com cores mais “vivas”, para facilitar a leitura labial, mantê-lo a frente dos demais alunos, sempre que possível apresentando as atividades de forma escrita e integrá-lo em brinca- deiras. Devido ao esforço e boa vontade da professora, para a alegria de todos, Leandro, em seis meses, já obtinha resultados muito satisfatórios. Fonte: Elaborado pelo autor. O nome é fictício, mas o conteúdo do caso é real, com adaptações. Posto isso, fechamos nossa ideia inicial de aprendizado, a qual expõe que, para que ele aconteça, devemos nos alicerçar em quatro pilares, motiva-ção, prática, métodos e atenção, sem eles, sozinhos e ao mesmo tempo interligados diretamente não é possível aprender nada. Também devemos considerar a oportunidade como ponto mais globalizado. Como se aprende a tocar piano? A chutar a bola? A andar de bicicleta? Somente tendo a oportunidade de conhecer e manusear um piano, uma bola ou uma bicicleta. Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 30 poTenCiAiS de membrAnA e AÇÃo Potenciais de membrana são causados pela difusão de íons que passam de um lado para o outro da membrana celular. Fibras nervosas normais, como neurônios, são até 100 vezes mais permeáveis ao potássio que ao sódio. A Bomba de Sódio-Potássio transporta 3 moléculas de sódio para fora da célula e 2 moléculas de potássio para dentro da célula. Essa perda continua- da de cargas positivas pelo interior gera um grau adicional de negatividade. Pós-Graduação | Unicesumar 31 potencial de ação neural Segundo Guyton e Hall (2006), os sinais neurais são transmitidos por meio de po- tenciais de ação, que são variações muito rápidas do potencial de membrana. Cada potencial de ação começa com uma modificação abrupta do potencial de repouso negativo normal, para um potencial positivo, e em seguida, termina com a modi- ficação quase tão rápida para o potencial negativo. Para conduzir o sinal neural, o potencial de ação se desloca ao longo de toda a fibra nervosa até atingir seu término. As fases sucessivas do potencial de ação são as seguintes: Fase de Repouso: É o momento em que o potencial de membrana está, como sugerido pelo processo, em repouso. Antes de iniciar um potencial de ação. Nessa fase, diz-se que a membrana está “polarizada”. Fase de Despolarização: É o momento em que a membrana fica muito per- meável a íons de sódio, o que permite sua entrada para o interior do axônio em grande quantidade. O estado “polarizado” normal é de -90mV, quando for perdida essa tensão em repouso, com o potencial variando rapidamente na direção da positividade. Fase de Repolarização: Devido a poucos décimos de segundo após a mem- brana ter ficado permeável a íons de sódio, os canais de sódio começam a se fechar, enquanto os canais de potássio se abrem mais que o normal. Dessa forma, a rápida difusão do potássio para o exterior da célula restaura o po- tencial de membrana negativo normal do repouso. Permita-me tentar explicar rapidamente, de forma simplificada e com uma lin- guagem o mais informal possível, essa base de processos pelos quais é gerado o potencial de ação, como surge essa eletricidade dentro do nosso corpo. Somos seres vivos, e com isso obtemos várias estruturas celulares. Não caro(a) aluno(a), não quero que você aprenda biologia novamente, mas apenas que compreenda melhor alguns desses aspectos inerentes ao fenômeno denomi- nado potencial de ação. Pois bem, pense em uma célula, melhor, desenhe uma linha em um papel, uma linha espessa, feito isso, escolha um dos lados da linha e escreva a palavra INTRACELULAR e, do outro lado, a palavra ExTRACELULAR. Pense que isso é um círculo, uma célula, um lado é dentro (intra) da célula e outro fora (extra) da célula. Após isso, coloque várias letras K+ (íons de potássio) do lado Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 32 intracelular, e vários Na++ (íons de sódio) do lado extracelular. Posto isso, come- ça-se complicar um pouco mais, toda célula, em seu interior, é muito negativa e em seu exterior muito positiva. Pergunta, se os dois íons que coloquei a vocês são positivos, como isso é possível? Exatamente, existem outras cargas negativas dentro da célula e em grandes quantidades por sinal. Esses demais íons ficam próximos à membrana do lado interno da célula e as cargas positivas próximas às membranas do lado externo. No interior do axônio, existem muitos íons com carga negativa que não podem passar pelos canais. Eles incluem moléculas de proteína, muitos compostos orgâ- nicos de fosfato, compostos sulfatados e muitos outros. Devido a não poderem sair da fibra, qualquer déficit de íons positivos no interior da membrana leva a excesso de íons negativos impermeantes. Não entrarei em aspectos moleculares da membrana celular, saiba apenas que ela é formada por duas camadas de lipídios e nela teremos as cargas negati- vas e positivas que atraíram os íons opostos para próximo dela, tanto no interior quanto no exterior da célula, isso mesmo, uma reação similar a de um imã, onde os opostos se atraem. Seguindo com o funcionamento de um potencial de ação, volte à folha e coloque muitos Na++ do lado de fora da célula, mas muitos mesmo. Feito isso, temos estruturas na membrana celular que permitem a entrada de íons específicos, pode ocorrer difusão simples, facilidade ou mediada por carreadores. Simplificando, existem estruturas que permitem a passagem de íons pela membrana da célula, tanto para dentro quanto para fora, mas não aprofundaremos esses conhecimentos para o momento. Temos uma quantidade absurda de íons de Na++ do lado extrace- lular, correto? Mas faça a seguinte analogia, se você embarcar em um ônibus que está muito lotado na parte da frente, e você visualiza que, do outro lado, ao final do ônibus, está um pouco mais vazio, o que você faria? Certamente, como lei de sobrevivência humana, buscará o ambiente mais folgado, que não esteja muito lotado, correto? Com os íons acontece da mesma maneira, tem muito Na++ do lado de fora da célula, portanto, eles buscarão um lugar um pouco mais vazio. E onde tem pouco Na++ em nosso exemplo? Isso mesmo, dentro da célula, e mesmo com aquelas estruturas que transportam esses íons pela membrana boqueando a livre passagem, alguns felizardos conseguiram ir ao lado de dentro da célula, lado mais tranquilo e vazio. Assim, com a entrada de cargas positivas no meio in- tracelular, o que acontece? Dentro da célula era muito negativo correto? Com a entrada íons positivos, teremos uma curva crescente em direção a zero. Assim, a Pós-Graduação | Unicesumar 33 célula, aos poucos, deixa de ser tão negativa e começa a ficar lentamente positi- va. À medida que muitos íons de Na++ começam a passar de fora para dentro da célula, um evento ocorrerá na membrana e as portas seletivasaos íons positivos de Na++ se abrirão e como consequência, a célula terá seu interior inundado de cargas positivas. Nesse sentido, a célula que era negativa passa a ficar positiva e evento conhecido como despolarização da célula. A ativação dos canais de sódio acontece quando o potencial de membra- na fica menos negativo que durante o período de repouso, passando de -90 mV para zero. Esse potencial passa por uma voltagem, em geral, entre -70 e -50 mV, que provoca alteração conformacional da comporta de ativação, fazendo com que ela se abra. Isso é chamado de estado ativado; durante ele, os íons de sódio podem literalmente jorrar por esses canais, aumentando a permeabilidade ao sódio da membrana de 500 a 5.000 vezes (GUYTON, HALL, 2006). Para a inativação desses canais de sódio, o mesmo aumento da voltagem que abre a comporta de ativação também fecha a comporta de inativação. Contudo, o fechamento da comporta de inativação só ocorre após alguns décimos de milési- mos de segundo de sua abertura. Isto é, a alteração conformacional que modifica o canal de inativação para a posição fechada é um processo mais lento, enquan- to a alteração conformacional que abre a comporta de ativação é muito rápida. Como resultado, após o canal de sódio ter ficado aberto por alguns décimos mi- lésimos de segundo, ele se fecha e os íons de sódio não mais podem jorrar para o interior da membrana. A partir desse momento, o potencial de membrana começa a variar em direção ao valor vigente no estado de repouso da membra- na, o que constitui o processo de repolarização (GUYTON, HALL, 2006). Característica muito importante do processo de inativação do canal de sódio é a de que a comporta de inativação não voltará a se abrir até que o potencial de membrana retorne ao (ou bastante próximo) valor do potencial de membrana de repouso inicial. Como consequência, não é possível nova abertura dos canais de sódio até que a fibra nervosa se tenha repolarizado (GUYTON, HALL, 2006). Em seu estado de repouso, a célula é negativa em seu interior e positiva em seu exterior, se a célula tem cargas positivas em excesso no meio intracelular o que deve acontecer? Lembra-se do outro íon positivo que você escreveu na folha, que fica dentro da célula? Isso mesmo, estamos falando do K+, este não suporta ficar em lugar apertado, ainda mais misturado a excessivas quantidades de sódio. Assim, ele começa a se retirar da célula, migrando para o meio extracelular. Mas pense comigo, cargas positivas saindo de dentro da célula fará com que a curva Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 34 decresça em direção a zero e, consequentemente, a negatividade, correto? Isso mesmo, com o inchaço de íons de Na++dentro da célula, ocorre uma mudança na membrana que fecha as comportas seletivas a esse íon, e conforme inicia a saída de potássio, mais portas se abrem seletivamente para esse íon, permitindo que a célula volte a ficar negativa. Esse momento é conhecido como repolarização. O canal de potássio voltagem-dependente atua em dois estados distintos: durante o estado de repouso e próximo ao término do potencial de ação. Durante o estado de repouso, o canal de potássio fica fechado, e os íons de potássio são im- pedidos de passar por esse canal para o exterior. Quando o potencial de membrana começa a aumentar, a partir de -90 mV, em direção ao zero, essa variação de vol- tagem provoca alteração conformacional, abrindo o canal e permitindo aumento da difusão do potássio por ele. Contudo, esses canais de K+ são mais lentos tanto para abrir quanto para fechar, dessa forma, a célula não só fica negativa, mas devido à lentidão no fechamento dos canais, muito potássio sai da célula, fazendo com que seu interior fique muito negativo, mais do que seu normal em repouso, evento conhecido como hiperpolarização, a qual pode ser subdividida em hiperpolariza- ção absoluta ou refratária. Na absoluta, não é possível iniciar um novo potencial de ação nunca, já na refratária se um novo estímulo perturbar a membrana celular em uma magnitude muito grande é possível iniciar um novo evento elétrico. A causa do pós-potencial positivo é, em grande parte, que muitos canais de potássio permanecem abertos após o processo de repolarização da membrana ter se completado. Isso permite que excesso de íons de potássio se difunda para fora da fibra nervosa, deixando déficit extra de íons positivos no interior, o que implica negatividade. Enquanto esse estado de hiperpolarização persistir, não ocorrerá reexcitação, mas, gradativamente, a condutância excessiva do potássio (e o estado de hiperpolarização) diminui até desaparecer, o que permite que o potencial de membrana aumente até atingir o limiar para excitação, então, subi- tamente, aparece novo potencial de ação (GUYTON, HALL, 2006). Temos apenas um pequeno problema, volte a seu papel. No interior da célula, devem estar os íons de K+ e do lado de fora íons de Na++, portanto, algo não está correto. Depois de todo o evento, a célula que ficou positiva, voltou a ser negativa, até ai perfeito, mas a ordem dos íons está incorreta, está invertida, o que fazer? Como corrigir esse erro? E lá surge outro mocinho na história, conhecido como bomba de Na++/ K+, localizada na membrana celular, a qual é responsável pela reorganização iônica, enviando três íons de Na++ de dentro para fora da célula e simultaneamen- te, colocando dois íons de K+ que estavam fora para dentro da célula. Pós-Graduação | Unicesumar 35 bomba de sódio-potássio É o processo de transporte que bombeia íons de sódio para “fora” por meio da membrana celular, enquanto, ao mesmo tempo, bombeia íons de potássio de “fora” para “dentro”. Essa bomba está presente em todas as células do corpo, é responsável pela manutenção das diferenças de concentração de sódio potássio mediante a membrana celular, além de estabelecer um potencial elétrico negativo no interior da célula (GUYTON, HALL, 2006). A proteína carreadora tem três características: 1. Contém três sítios de fixação para os íons de sódio (voltados para a face interna da célula). 2. Contém dois sítios de fixação para os íons de potássio (voltados para a face externa da célula). 3. Próxima aos íons de fixação de sódio, existe atividade ATPase. Simplificando: A bomba de sódio-potássio impede que a célula inche até es- tourar, por isso transfere o sódio do interior para o exterior da célula, que levará juntamente com ele uma quantidade de água. Consequentemente criará um potencial negativo no interior celular e positivo em seu exterior. acomodação da membrana: falta de atividade apesar da elevação da voltagem Se o potencial da membrana se elevar de forma muito lenta durante vários milisse- gundos, em vez de em fração de milissegundo, as comportas lentas de inativação dos canais de sódio terão tempo suficiente para se fecharem ao mesmo tempo em que as comportas de ativação estiverem se abrindo. Como resultado, a aber- tura das comportas de ativação não será tão eficaz para promover o aumento do fluxo de íons de sódio, como ocorre normalmente. Portanto, o aumento lento do potencial interno de uma fibra nervosa vai exigir voltagem limiar mais elevada ou impede, completamente, a geração de potencial de ação; por vezes, até mesmo com elevações da voltagem até zero ou com voltagem positiva. Esse fenômeno é chamado de acomodação da membrana ao estímulo. Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 36 propagação do potencial de ação Nos parágrafos precedentes, discutimos o potencial de ação como se ele ocor- resse em ponto único da membrana celular. Contudo, um potencial de ação gerado em qualquer ponto de uma membrana excitávelexcita, geralmente, as regiões adjacentes da membrana, resultando na propagação desse potencial de ação. Quando uma fibra nervosa é excitada, a permeabilidade aumenta para o sódio, forma um “circuito local” do fluxo de corrente entre as regiões despolarizadas da membrana e as áreas adjacentes da membrana em repouso; cargas elétricas po- sitivas, carreadas pelos íons de sódio que se difundem para o interior, fluem para o interior da fibra, por meio da região despolarizada e, em seguida, por vários mi- límetros, ao longo da parte central do axônio. Essas cargas positivas aumentam a voltagem, por distância de 1 a 3 mm nas fibras calibrosas, até valor acima do valor limiar da voltagem para geração do potencial de ação. Por conseguinte, os canais de sódio nessas novas áreas ficam imediatamente ativados enquanto o potencial de ação se propaga. Em seguida, essas novas áreas despolarizadas pro- duzem novos circuitos locais de fluxo de corrente com pontos mais distantes da membrana, causando mais e mais despolarizações. Dessa forma, o processo da despolarização trafega ao longo de toda a extensão da fibra. A transmissão do processo de despolarização ao longo de fibra nervosa ou muscular é chamada de impulso nervoso ou muscular (GUYTON, HALL, 2006). fibras nervosas mielínicas e amielínicas Fibras mais calibrosas são fibras mielínicas, enquanto as mais delgadas são amielínicas. Um tronco nervoso típico contém cerca de duas vezes mais fibras amielínicas que mielínicas. A parte central dessa fibra é o axônio, e sua membra- na representa a verdadeira membrana condutora formando aquela “estrada” que comentamos anteriormente, que tem a função de levar e trazer as informações. O interior do axônio é ocupado pelo axoplasma, que é um líquido intracelular Pós-Graduação | Unicesumar 37 bastante viscoso. Circundando o axônio, existe a bainha de mielina a qual, muitas vezes, é bem maior que o próprio axônio e que, a intervalos de cerca de 1 a 3 mm, ao longo de toda a extensão do axônio, é interrompida pelos nodos de Ranvier. A bainha de mielina é formada, em torno do axônio, pelas células de Schwann do seguinte modo: a membrana de uma célula de Schwann, inicial- mente, circunda o axônio. Em seguida, essa célula gira em torno do axônio por muitas voltas, depositando múltiplas camadas de sua membrana celular, que contém a substância lipídica esfingomielina. Essa substância é excelente isolan- te, capaz de diminuir o fluxo iônico por meio da membrana por cerca de 5.000 vezes, ao mesmo tempo em que reduz a capacidade da membrana por 50 vezes. Contudo, no ponto de junção entre duas células de Schwann sucessivas, ao longo do axônio, persiste pequena região não isolada, com apenas cerca de 2 a 3 µm de extensão, por onde os íons podem fluir, com facilidade, do líquido extracelular para o interior do axônio. Essa região é o nodo de Ranvier e é nesse ponto que ocorrerá mais facilmente, aqueles processos do potencial de ação citados anteriormente, a despolarização e repolarização da fibra que estava em repouso, permitindo assim que apenas partes do axônio sejam despolarizadas. Antes que perguntem, isso mesmo, o estímulo praticamente ganha asas e salta por sobre a camada isolantes de lipídios (bainha de mielina), pulando de nodo em nodo de Ranvier (GUYTON, HALL, 2006). condução “saltatória” nas fibras mielínicas Muito embora os íons não possam fluir com intensidade significativa através das espessas bainhas de mielina dos nervos mielinizados, eles podem fluir com grande facilidade pelos nodos de Ranvier. Por conseguinte, os potenciais de ação só podem ocorrer nos nodos. Assim, os potenciais de ação são conduzidos de nodo para nodo, processo chamado de condução saltatória. Isto é, a corrente elé- trica flui pelos líquidos extracelulares que circundam a fibra, mas também pelo axoplasma, de nodo a nodo, excitando sequencialmente os sucessivos nodos. Assim, o impulso nervoso salta ao longo da fibra, o que deu origem à designa- ção de “saltatória”. Neuropsicopedagogia: estrutura neurológica e aprendizagem 38 a condução saltatória é importante por duas razões. Primeira, por fazer com que a despolarização salte por sobre longos trechos, ao longo do eixo da fibra nervosa. Esse mecanismo aumenta muito a velocidade da transmissão neural nas fibras mielinizadas, de 5 a 50 vezes. Segunda, a condução saltatória conserva energia para o axônio, pois apenas os nodos despolarizam, permitindo perda de íons cerca de 100 vezes menor do que a que seria neces- sária, caso não ocorresse condução saltatória e, como resultado, exigindo pouca atividade metabólica para o restabelecimento das diferenças de concentração de sódio e potássio, através da membrana celular, após uma série de impulsos nervosos (GUYTON, HALL, 2006). Outra característica da condução saltatória nas grandes fibras mielínicas é a seguinte: o excelente isolamento criado pela membrana de mielina e a redução de 50 vezes da capacidade da membrana permitem que o processo de repola- rização ocorra com transferência muito reduzida de íons. Assim, ao término do potencial de ação, quando os canais de sódio começam a fechar, a repolariza- ção ocorre de modo tão rápido que, em geral, os canais de potássio ainda não estão abertos em número significativo. Como resultado, a condução do impulso nervoso por fibra nervosa mielínica é efetuada, quase que inteiramente, pelas variações sequenciais dos canais de sódio voltagem-dependentes, com contri- buição muito pequena dos canais de potássio. velocidade de condução nas fibras nervosas A velocidade de condução nas fibras nervosas varia desde o mínimo de 0,5 m/s, nas fibras amielínicas mais delgadas, até cerca de 100 m/s (o comprimento de um campo de futebol em um segundo), nas fibras mielínicas mais calibrosas. Em termos aproximados, essa velocidade de condução aumenta em proporção direta com o diâmetro nas fibras mielínicas e com a raiz quadrada do diâmetro da fibra nas amielínicas (GUYTON, HALL, 2006). Pós-Graduação | Unicesumar 39 considerações finais Nesta unidade, conseguimos compreender alguns fundamentos importantes para a elucidação do aprendizado e de qual forma ele acontece e se prende em nosso cérebro. Vimos que ao se tratar de aprendizagem, devem-se observar inú- meros processos intrínsecos que estão simultaneamente acontecendo dentro de nosso organismo. Em verdade, nós, seres humanos, mesmo que presos a uma redoma de vidro desde o nascimento, aprenderíamos muito e com toda a certeza iríamos nos desenvolver do ponto de vista biológico. Por outro lado, foi possível também iden- tificar que a estimulação ambiental, quando bem ofertada aos aprendizes, pode possibilitar caminhos mais fáceis para se alcançar um determinado estágio de conhecimento. Evidenciamos a necessidade de se preocupar globalmente com os processos e estratégias oferecidas dentro do contexto escolar. Sendo assim, poderíamos desenvolver um melhor alicerce para que não apenas se aprenda, mas se aprenda de maneira satisfatória. Fica lançado em nossa discussão inicial que não estamos totalmente prepara- dos para trabalhar com o aprendizado, uma vez que nem todos os métodos irão funcionar igualmente para todos. Podemos afirmar, então, que nossas capacita- ções realizadas até hoje, provavelmente, também não consideravam o cérebro e seu funcionamento, ou sua possibilidade de adaptação. Capacitações ou for- mação continuada vai muito além de um curso de pós-graduação ou de uma palestra municipal, é ir a campo, identificar falhas no sistema e proporcionar ao acadêmico um aprendizado alicerçado em bases científicas, com um trabalho cirúrgico, bem estruturado e direcionado também ao prazer.
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