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Resenha de A América Latina: Males de Origem

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Marina Middendorf RA: 21060314; 
História do Brasil nos Processos de Integração Sul-Americana, 
Profº. Roberto Marinoni. 
 Resenha de A América Latina: Males de Origem, 
 de Manoel José Bomfim, 1905. 
 
Resenha de A América Latina: Males de Origem 
 
Livro publicado em 1905, A América Latina: Males de Origem foi escrito pelo autor Manoel 
José Bomfim. Escritor e estudioso, Manoel começou a redigir seu texto sobre os processos de 
formação da américa latina em Paris, em 1903, após longo período de pesquisas sobre o assunto, 
inclusive já tendo publicado sua opinião sobre outra obra em 1899. 
O que chama atenção nesta obra é claramente seu ponto de vista em defesa da cultura e dos 
povos latinos e sul-americanos, uma vez que, outros pensadores e estudiosos da época, em 
contrapartida, vinham por escrever obras críticas e que atribuíam atrasos no desenvolvimento político 
e econômico desses países por conta da miscigenação decorrente do período de colônias. 
Manoel Bomfim, traz logo em seu primeiro capítulo do livro o tipo de imagem distorcida que 
há na Europa sobre a América Latina e do Sul, e seus povos. Neste capítulo, destacando a América do 
Sul, o autor descreve a imagem que se tem de um povo preguiçoso e "burro" que não compactua com 
o estilo de desenvolvimento europeu e não trabalha a favor das potencias europeias da época. 
Sobre o olhar depreciativo da Europa, Manoel expôs sua preocupação quanto a possibilidade 
de uma invasão motivada pela ignorância e interesses econômicos e que ainda não havia acontecido 
em detrimento da Doutrina Monroe. Os Estados Unidos, que prometera proteção aos demais países do 
Continente Americano não tinha essa postura por questões sociais, uma vez que este nunca teve olhos 
de igualdade perante os povos latinos e sul-americanos. 
Bomfim defende então, que não apenas uma invasão oferecia risco à autonomia dos Estados, 
mas também quando sua imagem é denegrida e seus povos perdem o amor e o respeito honroso pelo 
país. Sendo assim, trazia uma ideia bastante idealizadora das lutas e resistências dos povos, 
convocando à Historiografia para trazer de volta o amor à pátria, lembrando os colonizadores como 
"parasitas conservadores" . 
Esta obra, traz consigo uma ideia muito inovadora, onde há uma crítica as produções 
historiográficas feitas até então. Bomfim deixa claro em seu livro seu ponto de vista sobre autores e 
 
 
 
 
publicistas da época em relação à América Latina e do Sul, considerando-os conservadores e de uma 
opinião eurocentrista, mais precisamente de Portugal e Espanha. 
O tipo de escrita utilizada por Manoel denota um tom apaixonado e entusiástico, sugerindo ao 
leitor uma nova perspectiva de apreciação do presente e não cultuando o passado, mas sempre com 
olhar crítico e questionador. Ele então, relaciona claramente os males existentes na América do Sul e 
Latina devido sua origem, composta por abusos e relações hierárquicas impostas desde seu princípio. 
Posteriormente, Manoel Bomfim faz alusão à biologia do parasitismo, explicando a forma 
como esse sistema leva ao atrofiamento dos órgãos não mais utilizados, para expor como os males da 
América foram causados pela sociedade e, que afligiam seus povos no presente da sua escrita. É 
comum encontrar outros trechos no livro que tomam termos da ciência para dar exemplificações dada 
à formação do autor em Medicina. 
O autor via como modo de entender e atuar no presente o estudo pedagógico do passado. 
Passa então a trabalhar o passados dos colonizadores europeus na América e antes da América. 
Destacando a Espanha, Manoel critica a forma como estava presa as ideias do período da Inquisição, 
enquanto o renascentismo ascendia ao seu redor, por conta do "parasitismo" que exercia sobre suas 
sociedades coloniais. 
A estagnação dos colonizadores no pensamento conservador é atribuído por Bomfim à sua 
política de exploração, ou como o autor prefere denominar, "parasitismo". Nesse sistema, qualquer 
modificação social e política, poderia significar danos ao modo de exploração e, sendo assim, os 
europeus buscavam estagnação como forma de estabilidade econômica. 
Justifica ainda, com o parasitismo colonial, a não evolução das relações de trabalho pois de 
certa forma, a relação senhor- escravo é vista como tão prejudicial para as colônias quanto a 
exploração e exportação de riquezas americanas para a Europa, no sentindo em que causa enorme 
deficiência na evolução da economia para a alto suficiência. 
Podemos ainda destacar em relação aos povos espanhóis, sua busca por riquezas fáceis, sendo 
acostumados a navegar em busca da exploração de outros povos e nunca em vantagem a sua fé. 
Quanto à Portugal, não há severas diferenças, trabalhando sobre conquistas e piratarias, o 
desenvolvimento ético deste povo havia sido comprometido, porém com caráter muito mais religioso, 
os portugueses buscavam "civilizar" outros povos, trazendo-lhes a luz de sua religião. 
Temos que, para o autor, a visão de supremacia fez com que os portugueses buscassem não só 
explorar as riquezas naturais e fortunas de suas colônias, mas também transformar seu habitantes 
nativos em mão de obra, ou seja, num primeiro momento da escravidão na América do Sul, temos um 
"parasitismo" inovador, onde se aproveita da cultura não europeia para inferiorizar e explorar seus 
nativos, pois viam-se, os portugueses, como dignos de melhores trabalhos do que os braçais. 
 
 
 
 
Para Bomfim, a vaidade portuguesa era tamanha que os que aqui chegavam, cuidavam de 
tomar pra si títulos de nobreza falsos, adornos e posses, a fim de, se aproveitando da mão de obra 
escrava, enriquecer e ter prestígio pela corte. O livro tem certo humor a relatar sobre os nobres 
eruditos da colônia, que nada mais faziam do que redigir textos e livros de outros autores em suas 
próprias palavras, e sendo assim, mantendo somente as aparências sem nunca produzir nenhum 
conteúdo original sequer. 
Não havia aqui, segundo Manoel, produção de uma ciência aplicável à sociedade colonial nem 
à terra, pois os que aqui estudavam traziam conhecimentos externos e não faziam observações, nem 
constatações sobre o que se encontrava neste continente. Soluções ineficientes eram então colocadas 
em prática, sem qualquer legitimidade, via de regra, reproduziam os modelos europeus, até mesmo na 
constituição. 
Tratando particularmente das miscigenação dos povos latinos e sul-americanos, tem-se uma 
visão polêmica de Manoel Bomfim para a época, contrariando muitos estudiosos no que se dizia 
quanto ao atraso das sociedades coloniais em relação às Europeias e Norte-americana. Para outros 
historiadores a questão da miscigenação dava margem à falta de intelecto, e atrasos nas colônias, mas 
para nosso autor em questão a mesma miscigenação não traziam frutos, uma vez que estes povos, os 
indígenas e os africanos, eram de comportamentos simples, incapazes de influenciar outros povos e, 
diz ainda, que estes eram unicamente influenciados pelos europeus. 
Manoel, conclui então de forma polêmica, que a ideia de supremacia racial era na verdade 
uma questão inteiramente política e não biológica, usada para justificar a dominação no Novo Mundo 
e a escravidão dos africanos. 
Partindo para a conclusão final desta resenha, abordo o modo como este médico e historiador, 
natural do Aracajú no Sergipe e nascido em 1868, apesar da forte influência de outros trabalhos 
críticos produzidos no exterior, trouxe luz a uma visão inovadora da Formação da América Latina e 
do Sul como sociedade política e econômica. Excelente trabalho. 
Destaca-se nesta obra, sua paixão pela cultura e amor à sua pátria , mas sem nuncaferir sua 
análise critica do processo de desenvolvimento. Um belo trabalho historiográfico do começo ao fim, 
tal analise é de valor inestimável para o presente e futuro, podendo sempre ser uma referencia de 
qualidade no que se diz ao estudo da miscigenação, parasitismo europeu, visão eurocêntrica da 
américa e desenvolvimento político e econômicos das colônias americanas.

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