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Agulhas e Fios Cirúrgicos A agulha tem como finalidade levar o material de síntese através dos tecidos, causando mínima lesão tecidual. A seleção da agulha é determinada pela acessibilidade do tecido a ser suturado; pelo diâmetro do fio de sutura e pelo tipo de tecido, levando-se em consideração sua constituição histológica, o que lhe confere maior facilidade em sua transecção (intestino delgado – agulha cilíndrica) ou maior dificuldade no afastamento dos tecidos (pele – agulha triangular cortante). As agulhas podem ser descartáveis (para uso único apenas) ou reutilizáveis. As agulhas podem ser classificadas quanto à dimensão, calibre, forma, ponta e fundo. Quanto à dimensão, existem agulhas de diversos tamanhos, cada uma se prestando para uso específico, e tendo o centímetro como unidade de medida. O calibre das agulhas também é muito variável. As mais longas não necessariamente são as mais calibrosas. Quanto à forma, podem ser curvas ou retas. As curvas são manobradas pelos porta-agulhas, e as retas, pelas mãos. As pontas das agulhas podem ser de secção transversa cilíndrica ou triangular. As de secção cilíndrica são chamadas agulhas cilíndricas, redondas, não-cortantes ou atraumáticas. As de secção triangular são chamadas triangulares, cortantes, lanceoladas ou traumáticas. Quanto ao fundo, as agulhas podem ser de fundo verdadeiro ou falso. O fundo verdadeiro é um orifício fechado, através do qual se introduz o fio cirúrgico a ser usado. O fundo falso delimita um orifício quase totalmente fechado, com uma estreita reentrância por onde se encaixa o fio no orifício. O comum é a mesma agulha, seja curva ou reta, apresentar dois fundos, sendo um falso e um verdadeiro. Tanto o fundo falso quanto o verdadeiro são mais largos do que o diâmetro da agulha, o que associado a dobra do fio, aumenta o diâmetro do orifício na pele, ao se fazer a sutura, piorando o aspecto final da cicatriz. Os fios industrializados já vem montados com as respectivas agulhas. De acordo com Cirino, 2006 e Moriya et.al, 2011, as agulhas para sutura cirúrgica, conforme o seu ângulo interno, podem ser classificadas em curvas (ângulo interno de 180º), semi-retas (ângulo interno menor que 180º) e retas. De acordo com a secção transversal de sua ponta, as agulhas podem ser classificadas em cilíndricas, prismáticas e triangulares. Normalmente, a agulha é reconhecida em termos de frações de um círculo total, ou seja, semicírculo (utilizada em sutura intestinal), três quartos de círculo, cinco oitavos de círculo (utilizada em urologia) ou semi-reta (três oitavos de círculo, utilizada em sutura de pele). O corte transversal do corpo da agulha apresenta um perfil cilíndrico, plano ou triangular. Este perfil, associado ao tipo da ponta da agulha, que pode ser cortante, romba ou plana, confere à agulha sua capacidade de ultrapassar os tecidos, causando uma mínima lesão tecidual. Para tecidos densos como a pele, devem ser utilizadas agulhas triangulares com ponta cortante. Estruturas mais delicadas, como a parede de uma artéria, necessitam da escolha de agulhas cilíndricas com ponta romba. A sutura da córnea ocular requer agulha plana com ponta também plana. A prática da técnica correta, a experiência em campo e os conhecimentos básicos permitem ao cirurgião a melhor escolha. A escolha adequada do fio de sutura deve levar em consideração suas características de comportamento físico e biológico em relação ao processo de cicatrização do tecido a ser suturado. A sutura não deve ser isquemiante devido à tensão exagerada dos fios. Desta forma, leva-se em consideração a resistência tênsil do fio frente à sua constituição físico-química, com especial destaque ao seu diâmetro transversal, permitindo ao cirurgião escolher fios finos (quatro zeros ou mais), para estruturas delicadas (intestino delgado) ou fios grossos (número 0 ou 1), inabsorvíveis, para tecidos com cicatrização lenta e acostumados a submeter-se a grandes tensões (tendões). Os fios de sutura são encontrados em comprimentos padronizados que variam de 8 a 90 cm. Deve ser lembrado que dentro da classificação dos fios de sutura, o número de zeros que vem escrito na embalagem informa o calibre do fio e também sua força tênsil. Assim, quanto maior o número de zeros na classificação dos fios, menos calibroso ele será e terá menor força tênsil, porém será mais delicado. O contrário também é verdadeiro. Fios Absorvíveis Categute Fio biológico obtido da submucosa do intestino delgado de ovelhas ou da serosa de bovinos. Conforme o tempo de absorção, os categutes podem ser simples ou cromados; aqueles apresentando absorção mais rápida, em torno de 8 dias, e estes de absorção mais lenta, ao redor de 20 dias. A espessura do fio é dada por seu diâmetro externo, crescente, a partir de 8/0, agulhados ou não, podendo as agulhas ser retas ou curvas, com diversos graus de curvatura. São muito utilizados em suturas gastrointestinais, amarraduras de vasos na tela subcutânea, cirurgias urológicas e ginecológicas. Não devem ser empregados em superfícies. Os fios de categute requerem um mínimo de quatro nós para uma fixação segura. Ácido Poliglicólico Fio sintético, multifilamentado que possui resistência maior que a do categute. A reabsorção ocorre por hidrólise entre 60 e 90 dias após sua utilização. Entretanto, a resistência tênsil efetiva de seus nós é perdida muito antes, em torno da terceira semana. Muito usado na sutura de músculos, fáscias e tecido celular subcutâneo. Ácido Poligaláctico Fio sintético que hidrolisa-se e é completamente absorvido em 60 dias. Comumente encontrado na cor violeta, pode também ser branco. É utilizado em cirurgias gastrointestinais, urológicas, ginecológicas, oftalmológicas e na aproximação do tecido celular subcutâneo. Polidioxanona Fio sintético, monofilamentado, possui absorção lenta com manutenção da força tênsil por longo período. Utilizado em sutura de tendões, cápsulas articulares e fechamento da parede abdominal. Segurança na coaptação dos tecidos, indicado para cirurgia cardiopediátrica, gastrointestinal, ginecológica e fáscia aponeurótica. Fios Inabsorvíveis Seda Fácil de ser manuseado, produz nós firmes, multifilamentar e de origem animal. Apesar de ser classificado como não absorvível, é degradado ao longo dos anos, perdendo sua resistência tênsil. Os fios de seda requerem um mínimo de três nós para uma fixação segura. Excelente manuseio e ótima corrida dos nós devido ao fato de ser impregnado de cera. Algodão Multifilamentar, fio maleável e agradável ao tato, o que propicia um nó forte. Os fios de algodão requerem um mínimo de três nós para uma fixação segura. Poliéster Sintético, multifilamentado, resistente e de grande durabilidade. Excelentes para suturas de aponeuroses, tendões e vasos. Os fios de poliéster requerem um mínimo de cinco nós para uma fixação segura. Indicado para oftalmologia, cirurgia cardiovascular, gastrointestinal e ligaduras. Nylon Caracteriza-se pela elasticidade e resistência à água. Pode ser monofilamentar ou multifilamentar. Fio de pouca reação, mas de difícil manipulação, duro e corrediço, não produz nó firme. Perde resistência ao longo do tempo, podendo ser degradado e absorvido ao longo de dois anos, apesar de ser considerado inabsorvível. Os fios monofilamentados, negros ou incolores, são os preferidos para suturas de pele. Polipropileno Sintético e monofilamentado, incolor ou azul, mantém sua resistência tênsil vários anos após sua utilização. É o material que provoca menor reação tissular. Muito utilizado em sutura vascular. Facilmente removível,ideal para sutura intradérmica. Aço Inoxidável O aço inoxidável do tipo autêntico, contem: ferro, cromo, níquel e molibdênio. Está disponível nas formas monofilamentosa ou torcida. Não promove reação inflamatória nos tecidos, possui ótima força tênsil, grande segurança nos nós e pode ser autoclavado. É pouco maleável, de difícil manuseio e incômodo para o paciente. Pode promover necrose tecidual pelo movimento dos tecidos contra as pontas não flexíveis. Usado quase exclusivamente em síntese óssea. Referências 1. Goffi FS. Técnica Cirúrgica: Bases Anatômicas, Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia. 4ª edição. São Paulo: Atheneu; 2004. p.68–70. 2. Fuller JR. Tecnologia Cirúrgica: Princípios e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.102-106. 3. Carvalho Monteiro EL de, Santana EM. Técnica Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p.313–314. 4. Cirino LMI. Tipos de Agulhas, Fios de Sutura e Nós Cirúrgicos. In: Cirino LMI: Manual de Técnica Cirúrgica para a Graduação. São Paulo: Sarvier; 2006. p.18-20. 5. Moriya T, Andrade Vicente YAMV de, Fátima G Sorita Tazima M de. Instrumental Cirúrgico. Medicina – Simpósio de Ribeirão Preto: Fundamentos de Clínica Cirúrgica. 2011;44(1):18-32. Disponível em: URL: http://www.fmrp.usp.br/revista. 6. Margarido NF, Tolosa EMC de. Técnica Cirúrgica Prática. São Paulo: Atheneu; 2001. p. 73-75.
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