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1 2 3 1 Introdução A significação de resíduos entende-se como sendo todo o material, substância, objeto ou bem que já foi descartado, mas que ainda comporta alguma possibilidade de uso seja por meio da reciclagem ou do reaproveitamento. Segundo a ABNT NBR 10004/2004, os resíduos sólidos são classificados de acordo com sua origem, características físicas, composição química e possíveis riscos gerados ao meio ambiente. Os resíduos são categorizados como sendo Perigosos (Classe I) e Não Perigosos (Classe II). Os pertencentes à Classe II se subdividem tanto quanto inertes, como sendo aqueles que se mantenham inalterados por um longo período de tempo, ou os nãos inertes, por sua vez apresentando serem os materiais biodegradáveis, comburentes ou solúveis em água. Dentre os diversos resíduos gerados pela sociedade estão os resíduos de serviços da saúde, os quais são pertencentes á Classe I. Devido á grande geração de resíduos de serviços da saúde e seu elevado risco oferecido, é de suma importância promover um correto controle dos mesmos, que por seu lado, pode ser feito por meio de gerenciamento. Tal gerenciamento, feito por meio de bases científicas e técnicas, normativas e legais, é constituído por uma série de procedimentos capazes de diminuir a produção de resíduos e providenciar á aquilo que foi gerado um destino seguro. Feito de forma certa, o objetivo é alcançado de forma a visar à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente. De modo a abordar parâmetros descritivos relacionados ao controle eficaz referente aos resíduos citados, o presente trabalho apresenta por objetivo demonstrar as técnicas empregadas relativas ao gerenciamento dos resíduos de serviços da saúde desde a sua produção ao descarte, segundo estabelecido por regulamentos normativos, e abordar exemplos de localidades que desenvolvem este tipo de gestão. 4 2 Resíduos dos serviços de saúde Os Resíduos dos Serviços de Saúde (RSS) são considerados como sendo os resíduos originados por meio das atividades produzidas em unidades de serviços de saúde. Dessa maneira, destacam-se a sua geração em hospitais, drogarias, consultórios médicos e odontológicos, laboratórios de análises clínicas, clínica veterinária, dentre outros estabelecimentos que prestam serviços semelhantes a estes (Fig.1). Figura 1- Resíduos de serviço de saúde Fonte: Afreen 2.1 Legislações regentes Com o objetivo de minimizar e/ou eliminar os danos causados pelos resíduos de serviço de saúde á saúde dos trabalhadores, sociedade e ao ambiente, criaram-se normas e resoluções como instrumentos de orientação, fiscalização e exigência de práticas adequadas para o manejo de tais resíduos. 5 Diversas orientações técnicas e regulamentos existentes que auxiliam um controle geral dos RSS podem ser consultados por meio de variados órgãos. Em direção á tal assistência, pode-se citar o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) apresentando suas respectivas resoluções; a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) bem como elaborando as NBRs; a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear); O Ministério da ciência e tecnologia, saúde e do trabalho e emprego, e bem como também a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com as resoluções da Diretoria Colegiada. De forma a contemplar o estudo do presente trabalho, é necessário aderir as diretrizes referentes á Resolução RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004 da Anvisa e a Resolução Conama nº 358, de 29 de abril de 2005. De modo a tratar a respeito da gestão dos RSS, a RDC Anvisa n° 306 concentra sua regulação no controle dos processos de segregação, acondicionamento, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final dos mesmos, assim como estabelecendo procedimentos operacionais em função dos riscos envolvidos, e concentrando seu controle na inspeção dos serviços de saúde. Por outro lado, a Resolução Conama n° 358 trata do gerenciamento sob o ponto de vista da preservação dos recursos naturais e do meio ambiente, além de estabelecer as competências aos órgãos ambientais estaduais e municipais para fixarem critérios para o licenciamento ambiental dos sistemas de tratamento e destinação final dos RSS. Sustentando-se nos dois presentes regulamentos citados, em 2006 a Anvisa e o Ministério do Meio Ambiente criaram o manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde com o objetivo de minimizar os problemas decorrentes do manejo dos RSS, favorecendo a reciclagem, redução dos riscos na área de saneamento ambiental e da saúde pública. 2.2 Classificação Conforme designado no Anexo 1 da Resolução Conama n° 358/2005, os resíduos de serviços de saúde são classificados quanto aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública. Tal distribuição é dividida em cinco grupos. 6 2.2.1 Grupo A São os resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. 2.2.1.1 A1 Considerados como sendo os resíduos de fabricação de produtos biológicos, exceto os hemoderivados; descarte de vacinas de microrganismos vivos ou atenuados, microrganismos com relevância epidemiológica e risco de disseminação ou causador de doença emergente que se torne epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido; bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeitadas por contaminação ou por má conservação, ou com prazo de validade vencido, e aquelas oriundas de coleta incompleta; sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos, recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos corpóreos na forma livre; etc. 2.2.1.2 A2 Considerados como sendo carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais submetidos a processos de experimentação com inoculação de microorganismos, bem como suas forrações, e os cadáveres de animais suspeitos de serem portadores de microrganismos de relevância epidemiológica e com risco de disseminação, que foram submetidos ou não a estudo anátomo-patológico ou confirmação diagnóstica. 2.2.1.3 A3 Considerados como sendo peças anatômicas (membros) do ser humano; produto de fecundação sem sinais vitais, com peso menor que 500 gramas ou estatura menor que 25 cm ou idade gestacional menor que 20 semanas, que não 7 tenham valor científico ou legal e não tenha havido requisição pelo paciente ou familiares. 2.2.1.4 A4 Considerados como sendo kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores, quando descartados; filtros de ar e gases aspirados de área contaminada; membrana filtrante de equipamento médico hospitalar e de pesquisa, entre outros similares; resíduos de tecido adiposo proveniente de lipoaspiração, lipoescultura ou outro procedimento de cirurgia plástica que gere este tipo de resíduo; recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, que não contenha sangue ou líquidos corpóreos na forma livre; Bolsas transfusionais vazias ou com volume residual pós-transfusão; etc. 2.2.1.5 A5Considerados como sendo órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais perfurocortantes ou escarificantes e demais materiais resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais, com suspeita ou certeza de contaminação com príons. 2.2.2 Grupo B São os resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Entre os pertencentes do grupo B podem-se citar os produtos hormonais e antimicrobianos; citostáticos; antineoplásicos; imunossupressores; digitálicos; imunomoduladores; anti-retrovirais, quando descartados por serviços de saúde, farmácias, drogarias e distribuidores de medicamentos ou apreendidos; resíduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; resíduos contendo metais pesados; reagentes para laboratório, inclusive os recipientes contaminados por estes. 8 2.2.3 Grupo C São quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de isenção especificados nas normas do CNEN e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista. Enquadram-se neste grupo os rejeitos radioativos ou contaminados com radionuclídeos, proveniente de laboratórios de análises clinica, serviços de medicina nuclear e radioterapia, segundo a resolução CNEN-6.05. 2.2.4 Grupo D São os resíduos que não apresentem risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Enquadram-se neste grupo o papel de uso sanitário e fralda, absorventes higiênicos, peças descartáveis de vestuário, resto alimentar de paciente, resíduos de varrição, flores, podas e jardins, resto alimentar de refeitório, etc. 2.2.5 Grupo E São os materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como: lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas; tubos capilares; micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; e todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de Petri) e outros similares. 2.3 Programa de Gerenciamento Segundo a RDC nº 306/2004 da Anvisa, os serviços de saúde, sejam eles público ou privado, são os responsáveis pelo correto gerenciamento de todos os RSS por eles gerados, atendendo às normas e exigências legais, desde o momento de sua geração até a sua destinação final. Os estabelecimentos de serviços de saúde são os responsáveis pelo correto gerenciamento de todos os RSS por eles gerados, cabendo aos 9 órgãos públicos, dentro de suas competências, a gestão, regulamentação e fiscalização (ANVISA, 2004). Compete a todo gerador elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), este sendo um documento que aponta e descreve as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, observando suas características e riscos, no âmbito dos estabelecimentos, contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final, bem como as ações de proteção à saúde pública e ao meio ambiente. Tal elaboração deve obedecer a critérios técnicos, legislação ambiental e ser compatível com as normas locais relativas à coleta, transporte e disposição final dos resíduos gerados nos serviços de saúde, estabelecidas pelos órgãos locais responsáveis por estas etapas. Ao passo em que os geradores são os responsáveis pelo gerenciamento adequado dos RSS, cabem aos órgãos públicos, dentro de suas competências, a gestão, regulamentação e fiscalização. A prefeitura é responsável pelas ações e custos referentes à coleta, transporte, tratamento e destinação apenas dos RSS gerados pelos órgãos municipais, ou seja, quando é o poder público local o gerador. 2.3.1 Manejo dos RSS O manejo dos RSS é entendido como a ação de gerenciar os resíduos desde a geração até a disposição final por meio de várias etapas. Os procedimentos á serem adotados são respaldados segundo estabelecido pela RDC Anvisa n° 306/2004. 2.3.1.1 Segregação Consiste na separação dos resíduos no momento e local de sua geração, de acordo com as características físicas, químicas, biológicas, o seu estado físico e os riscos envolvidos. 10 2.3.1.2 Acondicionamento Consiste no ato de embalar os resíduos segregados, em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e resistam às ações de punctura e ruptura. A capacidade dos recipientes de acondicionamento deve ser compatível com a geração diária de cada tipo de resíduo. Os resíduos sólidos devem ser acondicionados em saco constituído de material resistente a ruptura e vazamento, impermeável, baseado na NBR 9191/2000 da ABNT, respeitados os limites de peso de cada saco. E os resíduos líquidos devem ser acondicionados em recipientes constituídos de material compatível com o líquido armazenado, resistentes, rígidos e estanques, com tampa rosqueada e vedante (Fig.2). Figura 2 – Acondicionamento dos RSS Fonte: Naime (2012) 2.3.1.3 Identificação Consiste no conjunto de medidas que permite o reconhecimento dos resíduos contidos nos sacos e recipientes, fornecendo informações ao correto manejo dos RSS. A identificação deve estar aposta nos sacos de acondicionamento, nos recipientes de coleta interna e externa, nos recipientes de transporte interno e externo, e nos locais de armazenamento, em local de fácil visualização, de forma 11 indelével, utilizando-se símbolos, cores e frases, atendendo aos parâmetros referenciados na norma NBR 7.500 da ABNT, além de outras exigências relacionadas à identificação de conteúdo e ao risco específico de cada grupo de resíduos. 2.3.1.4 Transporte Interno Consiste no traslado dos resíduos dos pontos de geração até local destinado ao armazenamento temporário ou armazenamento externo com a finalidade de apresentação para a coleta. O transporte interno de resíduos deve ser realizado atendendo roteiro previamente definido e em horários não coincidentes com a distribuição de roupas, alimentos e medicamentos, períodos de visita ou de maior fluxo de pessoas ou de atividades. Deve ser feito separadamente de acordo com o grupo de resíduos e em recipientes específicos a cada grupo de resíduos. Os recipientes que auxiliarão para tal tarefa devem ser constituídos de material rígido, lavável, impermeável, provido de tampa articulada ao próprio corpo do equipamento, cantos e bordas arredondados, e serem identificados de acordo com o risco do resíduo contido. 2.3.1.5 Armazenamento temporário Consiste na guarda temporária dos recipientes contendo os resíduos já acondicionados, em local próximo aos pontos de geração, visando agilizar a coleta dentro do estabelecimento e otimizar o deslocamento entre os pontos geradores e o ponto destinado à apresentação para coleta externa. Não poderá ser feito com disposição direta dos sacos sobre o piso, sendo obrigatória a conservação dos sacos em recipientes de acondicionamento. 2.3.1.6 Registro para controle É etapa que assegura o rastreamento dos resíduos químicos perigosos e rejeitos radioativos, como também dos materiais recicláveis e dos resíduos orgânicos destinados para alimentação animal e compostagem. Os registros devem 12 ser atualizados sistematicamente, para fins de monitoramento dos indicadores e fiscalização. As planilhas devem ser específicas para cada tipo deresíduo monitorado. 2.3.1.7 Tratamento De modo abrangente, entende-se por tratamento de resíduos o método, processo ou técnica que modifique (desinfete ou esterilize) os resíduos por processos químicos, biológicos, físicos, mecânicos ou manuais, resultando em alteração de suas características de forma a neutralizar, reduzir ou eliminar os agentes nocivos à saúde ambiental, humana e animal. O tratamento dos RSS pode ser realizado no estabelecimento no qual foi gerado ou em outra localidade, sendo neste segundo caso meramente observadas as condições de segurança do transporte dos resíduos do estabelecimento gerador ao local de tratamento. Os sistemas para tratamento são passíveis de monitoramento e vigilância pelos órgãos de meio ambiente e vigilância sanitária. De acordo com a Resolução Conama 238/2005, os sistemas para tratamento de RSS devem ser objeto de licenciamento ambiental. 2.3.1.7.1 Métodos de tratamentos As tecnologias de desinfecção mais conhecidas são a autoclavagem, o uso do microondas e a incineração. Estas tecnologias alternativas de tratamento de resíduos de serviços de saúde permitem um encaminhamento dos resíduos tratados para o circuito normal de resíduos sólidos urbanos (RSU), sem qualquer risco para a saúde pública. A descontaminação com utilização de vapor em altas temperaturas (autoclavagem) é um tratamento que consiste em manter o material contaminado em contato com vapor de água, a uma temperatura elevada, durante período de tempo suficiente para destruir potenciais agentes patogênicos ou reduzi-los a um nível que não constitua risco. Esse sistema de tratamento deve estar licenciado pelo órgão ambiental competente. Após processados, esses resíduos sólidos tratados devem 13 ser encaminhados para disposição final licenciada pelo órgão ambiental competente. Os efluentes líquidos gerados pelo sistema de autoclavagem devem ser tratados, se necessário, e atender aos limites de emissão dos poluentes estabelecidos na legislação ambiental vigente, antes de seu lançamento em corpo de água ou rede de esgoto. O tratamento com utilização de microondas de baixa ou de alta frequência é uma tecnologia relativamente recente de tratamento de resíduos de serviços de saúde e consiste na descontaminação dos resíduos com emissão de ondas de alta ou de baixa frequência, a uma temperatura elevada (entre 95 e 105ºC). Os resíduos devem ser submetidos previamente a processo de trituração e umidificação. Esse sistema de tratamento deve estar licenciado pelo órgão ambiental competente. Após processados, esses resíduos tratados devem ser encaminhados para aterro sanitário licenciado pelo órgão ambiental. Já o tratamento térmico por incineração é um processo de tratamento de resíduos sólidos que se define como a reação química em que os materiais orgânicos combustíveis são gaseificados, num período de tempo prefixado. O processo se dá pela oxidação dos resíduos com a ajuda do oxigênio contido no ar. A incineração dos resíduos é um processo físico-químico de oxidação a temperaturas elevadas que resulta na transformação de materiais com redução de volume dos resíduos, destruição de matéria orgânica, em especial de organismos patogênicos. Após a incineração dos RSS, os poluentes gasosos gerados devem ser processados em equipamento de controle de poluição (ECP) antes de serem liberados para a atmosfera, atendendo aos limites de emissão estabelecidos pelo órgão de meio ambiente. 2.3.1.8 Armazenamento Externo Consiste na guarda dos recipientes até a realização da coleta externa. 2.3.1.9 Coleta e Transporte Externo Consistem na utilização de técnicas que garantam a preservação das condições de acondicionamento e a integridade dos trabalhadores, da população e 14 do meio ambiente a fim de remover os RSS do abrigo de resíduos até a unidade de tratamento ou destinação final. 2.3.1.10 Disposição Final Consiste na disposição definitiva de resíduos no solo ou em locais previamente preparados para recebê-los. Pela legislação brasileira a disposição deve obedecer a critérios técnicos de construção e operação, para as quais é exigido licenciamento ambiental de acordo com a Resolução Conama nº 238. 2.3.1.10.1 Métodos de disposição final Segundo a ANVISA (2006) as formas de disposição final dos RSS atualmente utilizadas são: aterro sanitário, aterro de resíduos perigosos classe I (para resíduos industriais), aterro controlado, lixão ou vazadouro e valas. 2.3.1.10.1.1 Aterro Sanitário O aterro sanitário tem por objetivo dispor os resíduos no solo de forma segura e controlada, garantindo a preservação ambiental e a saúde. É um processo utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo de forma segura e controlada, garantindo a preservação ambiental e a saúde pública. Este método consiste na compactação dos resíduos em camada sobre o solo devidamente impermeabilizado e no controle dos efluentes líquidos e emissões gasosas. Seu recobrimento é feito diariamente com camada de solo, compactada com espessura de 20 cm, para evitar proliferação de moscas; aparecimento de roedores, moscas e baratas; espalhamento de papéis, lixo, pelos arredores; poluição das águas superficiais e subterrâneas. 15 2.3.1.10.1.1.1 Aterros de resíduos perigosos – Classe 1 Técnica de disposição final de resíduos químicos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública, minimizando os impactos ambientais e utilizando procedimentos específicos de engenharia para o confinamento destes. 2.3.1.10.1.2 Valas Sépticas Esta técnica, com a impermeabilização do solo de acordo com a norma da ABNT, é chamada de Célula Especial de RSS. Consiste no preenchimento de valas escavadas impermeabilizadas, com largura e profundidade proporcionais à quantidade de lixo a ser aterrada. A terra é retirada com retroescavadeira ou trator que deve ficar próxima às valas e, posteriormente, ser usada na cobertura diária dos resíduos. Os veículos de coleta depositam os resíduos sem compactação diretamente no interior da vala e, no final do dia, é efetuada sua cobertura com terra, podendo ser feita manualmente ou por meio de máquina. 2.3.1.10.1.3 Aterro controlado No aterro controlado os resíduos são descarregados no solo, com recobrimento da camada de material inerte, diariamente. Essa forma não evita os problemas de poluição, pois é carente dos sistemas de drenagem, tratamentos de lixo, gases, impermeabilização, dentre outros (ANVISA, 2006). 2.3.1.10.1.4 Lixão ou vazadouro São caracterizados pela simples descarga de resíduos sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente e à saúde. É altamente prejudicial à saúde e ao meio ambiente, devido ao aparecimento de vetores indesejáveis, mau cheiro, contaminação das águas superficiais e subterrâneas, presença de catadores, riscos de explosões, devido à geração de gases (butano – CH4) oriundos da degradação do lixo (ANVISA, 2006). 16 2.3.1.10.2 Detalhamento da disposição final de cada Grupo 2.3.1.10.2.1 Grupo A Os resíduos do Grupo A1 após serem submetidos a processos de tratamento que faça sua redução de carga microbiana compatível com nível III de inativação e são encaminhados em seguida para aterro sanitário licenciado ou local devidamente licenciado para disposição final dos resíduos de serviços de saúde. Assim como no Grupo A1, os resíduos do Grupo A2 são submetidos ao mesmo processo de tratamento, o que difere é a sua disposição final que além de poder ir para o aterro sanitário ou local devidamentelicenciado, pode também ser encaminhado para sepultamento em cemitério de animais. Os resíduos do Grupo A3 caso não haja mais valor científico ou legal e se não houver requisição por parentes e familiares, pode ser encaminhado para sepultamento em cemitério, desde que autorizado por um órgão competente pelo Município, Estado ou Distrito Federal. Outro método é através do tratamento térmico por incineração ou cremação, realizado com equipamentos para este fim. Já os resíduos do Grupo A4, podem ser encaminhados sem um prévio tratamento para um local licenciado a fim de dispor os resíduos de serviços de saúde. Os resíduos do Grupo A5 são sujeitos a tratamento específico conduzido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. De forma geral, os resíduos do Grupo A segundo a Resolução do Conama nº 358, não podem ser reciclados, reaproveitados ou reutilizados, nem mesmo para consumo animal, por poder apresentar um grande risco de infecção. 2.3.1.10.2.2 Grupo B No Grupo B, os resíduos são separados em resíduos com características de periculosidade e resíduos sem periculosidade. Os que possuem periculosidade quando não forem submetidos a processo de reutilização, recuperação ou reciclagem, devem ser submetidos a tratamento e disposição finais específicos. Os resíduos no estado sólido, quando não tratados devem ser dispostos em aterro de 17 resíduos perigosos – Classe 1. Quando no estado líquido não devem ser dispostos em aterros. Entretanto, os resíduos sem periculosidade não necessitam de tratamento prévio. Estes resíduos quando no estado sólido podem ser dispostos em aterros licenciados, ora em estado líquido, podem ser lançados em corpo receptor ou na rede pública de esgoto, desde que atendam as diretrizes estabelecidas pelos órgãos ambientais, gestores de recursos hídricos e de saneamento competentes. 2.3.1.10.2.3 Grupo C Os rejeitos radioativos (Grupo C), não podem ser considerados radioativos até que seja decorrido o tempo de decaimento necessário ao atingimento do limite de eliminação. Quando atingido o limite de eliminação, passam a ser considerados resíduos das categorias biológica, química ou de resíduo comum, devendo seguir a determinação do grupo ao qual pertence. 2.3.1.10.2.4 Grupo D Quando não forem passíveis de reciclagem, reutilização ou reaproveitamento, o Grupo D deve ser encaminhado para o aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos, devidamente licenciados pelo órgão ambiental competente. Aqueles que forem passíveis de reciclagem, reutilização ou reaproveitamento, devem atender as normas legais de higienização, descontaminação e a Resolução CONAMA nº 275. 2.3.1.10.2.5 Grupo E Os resíduos pertencentes ao Grupo E, devem ter tratamento específico de acordo com a contaminação química, biológica ou radiológica. Eles devem ser apresentados para coleta acondicionados em coletores estanques, rígidos e hígidos, resistentes à ruptura, à punctura, ao corte ou à escarificação. Os que possuem contaminação radiológica deve seguir o tratamento do Grupo C e os quem contemplam medicamentos devem se submeter ao Grupo B. 18 2.3.2 Critérios De maneira especificada para cada espécie de resíduo segundo sua classificação, o capítulo VI da RDC Anvisa 306/2004 apresenta os processos que devem ser adotados para realizar o manejo dos RSS nas fases de acondicionamento, identificação, armazenamento temporário e destinação final. Alguns estabelecimentos prestadores de serviço de saúde contratam empresas terceirizadas que realizam o descarte dos resíduos hospitalares, enquanto outras fazem parte do processo internamente. Todavia, é importante salientar que as entidades terceirizadas devem possuir licença ambiental para o tratamento ou disposição final dos resíduos de serviços de saúde, e documento de cadastro emitido pelo órgão responsável de limpeza urbana para a coleta e o transporte dos resíduos (Fig.3). Figura 3 – Coleta de RSS Fonte: Ecopav 2.4 Boas práticas Um bom exemplo e referência no Brasil de Tratamento de Resíduos de Serviços de Saúde é a unidade de Itaquera, zona leste de São Paulo. Em 2015 a Secretaria de Serviços, por meio da Autoridade Municipal Limpeza Urbana (Amlurb), em parceria com a EcoUrbis, concessionária responsável pela coleta de resíduos domiciliares das zonas sul e sudeste, realizaram a obra. Com o novo equipamento, a 19 Prefeitura cotou uma redução em 50% dos custos com tratamento dos materiais perigosos descartados por hospitais e clínicas médicas. Instalada em uma área de 2.811,36 metros quadrados, a primeira UTRSS de São Paulo foi construída com investimento de R$ 39.725 milhões. O local tem capacidade para tratar por dia cerca de 40 toneladas de resíduos. Lá os resíduos são descontaminados e triturados em equipamentos nacionais, mas com uma das tecnologias mais modernas do mundo (Fig.4). Figura 4 - Unidade de Tratamento dos Resíduos de Serviços de Saúde (Itaquera, São Paulo) Fonte: Arantes (2015) 20 3 Considerações Finais Os resíduos sólidos providos da área da saúde são uma das fontes de degradação ambiental, e quando gerenciados inadequadamente, oferecem risco potencial ao ambiente. Para uma primeira instância de medida a ser tomada, é fazer com que a geração de resíduos seja mantida a níveis mínimos praticáveis de volume, pois, além de minimizar os riscos de exposição a agentes perigosos presentes em algumas frações, há redução dos custos para o gerenciamento. Diante dos transtornos que os RSS possam causar, é imprescindível que as técnicas que compõem o gerenciamento sejam aplicadas. Estas, por sua vez devem respeitar as diretrizes de gerenciamento, pelo fato das mesmas considerarem princípios de biossegurança, preservação da saúde pública e do meio ambiente. Seguir o correto processo de segregação, acondicionamento, identificação, armazenamento, tratamento, transporte e disposição final dos RSS mediante declarado no PGRSS produzido pelos geradores contribuirão para a diminuição do impacto ambiental e melhoria na saúde publica. Juntamente, uma precisa avaliação e monitoramento sobre o Plano de gestão contribuirá no sucesso da redução e correto manejo dos resíduos. 21 Referências Bibliográficas AFREEN. How to Waste Medical Waste?. Disponível em: <http://www.charchaguru.com/post/223-How-to-Waste-Medical-Waste>. Acesso em: 12 dez. 2017. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/manual_gerenciamento_residuos.p df>. Acesso em: 11 dez. 2017. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC 306 de 07 de Dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Disponível em: < https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0ah UKEwj6y6XnsoXYAhUGF5AKHc2CikQFggnMAA&url=http%3A%2F%2Fportal.anvis a.gov.br%2Fdocuments%2F33880%2F2568070%2Fres0306_07_12_2004.pdf%2F9 5eac678-d441-4033-a5ab- f0276d56aaa6&usg=AOvVaw2ddI1mKq9mgUv57vEIvKEW>. Acesso em: 8 dez. 2017. ALVES, Sergiane Bisinoto. Manejo de serviços de saúde na atenção básica. Disponível em: <https://ppgenf.fen.ufg.br/up/127/o/Sergiane_Bisinoto_Alves.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2017. ARANTES, Fábio. Secretaria especial de comunicação. Prefeitura inaugura central para tratamento de resíduos da saúde. 2015. Disponível em: <http://www.capital.sp.gov.br/noticia/prefeitura-inaugura-central-para-tratamento-de>. Acesso em: 11 dez. 2017. ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E CERIMONIAL DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Resíduos de Serviços de Saúde: Quem são os responsáveis e quais são as responsabilidades. 2016. 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