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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Aula 1: Introdução à História da Educação e a Educação Difusa: tradição oral
A História da Educação compõe o conjunto de saberes fundamentais no desenvolvimento da formação do futuro pedagogo. Permite a esse professor-pesquisador compreender:
O processo educacional experimentado nas diferentes sociedades humanas;
Como os vários grupos sociais, em diferentes contextos históricos, estruturaram o ensino;
Quais as teorias pedagógicas praticadas;
Os projetos que conceberam as instituições escolares, lócus privilegiado para a educação. 
A História da Educação no Brasil é uma disciplina muito recente que vem se constituindo ao longo do tempo, conquistando sua autonomia e identidade, construindo suas características e especificidades.
Surgiu como parte da Filosofia da Educação e manteve-se dessa maneira até por volta dos anos de 1960. Os cursos de formação de professores, não possuíam essa cadeira, cujos temas eram trabalhados nas aulas de Filosofia da Educação.
Os programas da matéria, na primeira metade do século XX, quando ainda não se apresentava de forma autônoma, continham uma estreita orientação religiosa, especialmente católica. (Miriam Warde, 2000) 
Histórico:
Até 1950: Os programas curriculares da área, em seus conteúdos, destacavam, até os anos de 1950, os modelos de formação do homem praticados pelas diferentes sociedades até o período medieval, quando então eram trabalhados os pensadores que se sobressaíam nas Idades Moderna e Contemporânea.
Década de 50: Surgiu, entre os educadores da Universidade de São Paulo (USP), uma preocupação pela organização da cadeira de História da Educação Brasileira, desatrelada da Filosofia. Tinha como objetivos o estudo do sistema escolar no Brasil e buscava definir os limites da nova disciplina, e seu contato com a Filosofia e a Sociologia, que também ganhava importância nos cursos de magistério.
1970 a 1980: A disciplina consolidou-se como uma importante área do conhecimento humano, mas ainda vinculada apenas aos cursos de Pedagogia. Os temas se diversificam e se aprofundam, com a intensificação das pesquisas. 
Nóvoa debate a questão historicamente:
Não se escreve hoje a História da educação como se escrevia nas décadas anteriores. Há que dizê-lo. Mas não basta dizê-lo: há que assumi-lo, na prática. Temos que ser audaciosos. E ousar produzir um outro conhecimento histórico no domínio educativo.
Nos dias atuais: Nos dias de hoje, percebe-se que a História, em suas pesquisas e áreas de interesse, começou a dirigir seu olhar para os temas educacionais, entretanto ainda carecendo de uma maior organicidade nesse campo. Nesse sentido, os estudos ainda estão muito ligados ao âmbito da História Cultural. Há ainda muito ainda a se construir nessa área. Como explica Tambara (idem, p.86):
No caso específico da História da Educação, é forçoso reconhecer que ainda não há uma massa de produção, apesar do muito que se fez, capaz de tornar essa área efetivamente autônoma tanto da História como da Educação. Vive-se em uma espécie de limbo. Muito da indefinição teórico-metodológica decorre da ausência de parâmetros próprios (...).
Ainda há muito a se debater, de maneira a se distanciar de outros campos de estudo, evitando algumas aproximações que podem levar à descaracterização da área em questão, enfim fortalecendo essa área do saber acadêmico. 
Zaia Brandão pesquisadora da História da Educação comenta o assunto, afirmando que:
"Se por um lado carecemos de tradição disciplinar, por outro, a construção de objetos de pesquisa pertinentes aos desafios enfrentados pelos educadores requerem o acompanhamento do que vem ocorrendo nas configurações concretas das práticas educacionais de onde emergem as “questões próprias”, a que se refere o texto acima."
Apesar de constituir-se em um campo de investigação relativamente recente, a História da Educação já comprovou sua importância para o conhecimento humano, sobretudo no que tange os debates pedagógicos. Para aprofundar esse debate, segue a sugestão de um filme que debate o sentido da História. Aproveite e reflita…
“Os Narradores de Javé” direção de Eliane Caffé. 
Moradores de uma pequena cidade do interior nordestino se vêem diante da construção de uma barragem que irá destruir todo o povoado. Na perspectiva de resistir à chegada da hidrelétrica, os habitantes se organizam para enfrentar a situação. O tema apresentado no filme permite discutir a importância da História.
Nesta aula, vamos estudar as sociedades tribais. Esta forma de organização social está presente no mundo em que vivemos, inclusive no nosso país. 
Reconhecer a sua existência e respeitar a sua cultura, é entender que convivemos neste planeta com povos diferentes e não inferiores ou superiores. 
Antes de prosseguir, leia o texto Educação Difusa: a tradição oral. Esta leitura vai ajudá-lo a ampliar sua compreensão sobre a Educação. 
A tradicional divisão do processo histórico em Pré-História e História, pertence à concepção positivista, que considera, apenas, os documentos escritos como verdadeiras fontes de pesquisa, entendendo que os povos que não conhecem a escrita estariam no estágio anterior à História, ou seja, não possuiriam História. 
Concepção Positivista:
Pré-história: Povos que não conheciam a escrita.
História: Povos que nos legaram documentos escritos.
É importante para o estudo dessas sociedades, o auxílio das ciências naturais e sociais que ampliam a possibilidade de maior conhecimento sobre esses povos. Sendo assim, necessitamos dentre outras, dos seguintes saberes:
Química: Possibilita medir, aproximadamente, o tempo do objeto encontrado.
Geologia: Estuda a constituição da terra.
Arqueologia: Revela através dos objetos encontrados nas escavações, a cultura material desses grupos humanos.
Paleontologia: Examina o aparecimento das diversas formas de vida, de acordo com os períodos do tempo geológico.
Sítio arqueológico é o local onde se encontra e se estuda o vestígio deixado pelos habitantes do passado. Os sítios mais conhecidos e estudados encontram-se na Europa, principalmente na França, no norte da Espanha e em Portugal. No Brasil, também encontramos importantes sítios arqueológicos, porém pouco estudados, como a Chapada Diamantina. 
Segundo as descobertas da Geologia e da Paleontologia, os ancestrais do Homo sapiens (todos nós pertencemos a essa espécie) surgiram no paleolítico inferior e pertenciam a espécies diferentes.
Os Primeiros Colonizadores:
A evolução do homem é objeto de estudo de inúmeros autores. Veja o que diz Guarinello: “Todos os homens que existem sobre a terra, independentemente de sua raça, de sua cor ou de sua aparência física, fazem parte de uma mesma espécie, que os cientista denominam Homo sapiens sapiens. 
Nossa espécie é, na verdade, o resultado final de uma longa evolução, que parece ter se iniciado na África, há milhões de anos, quando começamos a nos diferenciar de nossos primos afastados, os macacos superiores. Acredita-se, hoje, que os momentos finais dessa evolução ocorreram na Europa e no norte da África, há uns 70 mil anos.
Era uma época muito fria, quando boa parte do nosso planeta estava ocupado por grandes massas de gelo, como é a Antártida ainda hoje. Esses primeiros homens já sabiam elaborar diferentes instrumentos de pedra e sobreviviam caçando grandes animais, como os mamutes ou o terrível tigre dente-de-sabre. 
Aos poucos, esses nossos ancestrais foram se espalhando pelo globo terrestre e ocupando todas as regiões possíveis, adaptando-se aos mais variados ambientes naturais: florestas, desertos, planícies, montanhas e praias(...).”
O ser humano, diferente de outros animais, não possui defesa corporal suficiente para enfrentar as condições do meio ambiente. Porém, a sua complexidade cerebral, associada à necessidade de sobrevivência fez com que essa espécie desenvolvesse a capacidade de transformar a natureza e assim produzir os objetos necessários à sua condição de vida. 
Para modificar a natureza, homens e mulheres
observaram e experimentaram ao longo de milhares de anos. Aos poucos, foram criando e desenvolvendo armas, ferramentas, utensílios, moradias, vestimentas, ou seja, foram produzindo conhecimento e criando cultura.
O trabalho proporciona ao ser humano a capacidade de pensar e de criar com o coletivo e para o coletivo. Percebemos nesse processo que ele se torna humano através do trabalho, ou seja, de um trabalho que tenha significado para ele e para o grupo.
Entretanto, cada cultura desenvolve sua maneira de ser e de pensar, e homens e mulheres em cada sociedade se constituem por esses padrões culturais e históricos do grupo. 
Aula 02: A origem da Escola Ocidental na Antiguidade Grega e a Educação no Mundo Romano
Você percorreu o longo trajeto histórico dos primórdios da civilização humana, na aula anterior. Vamos continuar a caminhar parando agora no período da antiguidade grega que nos legou inúmeros tesouros, como: os conceitos de democracia e ética; os filósofos; as olimpíadas, entre outros.
A Democracia ateniense
A cidade de Atenas é considerada como o exemplo de democracia para as sociedades modernas, mesmo levando-se em conta que apenas uma pequena parcela da população tivesse seus direitos políticos assegurados. Somente os cidadãos, homens livres atenienses, podiam votar e serem votados. A polis ateniense possuía a seguinte estrutura de poder em sua administração:
Estrategos: Eram dez cidadãos que governavam a cidade, executavam as decisões, discutidas e aprovadas pela Eclésia.
Eclésia: Constituída por todos os cidadãos, que aprovava as leis, decidia sobre a paz ou a guerra, elegia os magistrados mais importantes e votava o ostracismo
Bulé: O conselho composto por quinhentos cidadãos, sorteados entre as tribos que tinha como finalidade a elaboração das leis que seriam aprovadas (ou não) pela Eclésia
Helieu: Tribunal composto por 6000 cidadãos, que julgava os casos de não cumprimento das leis da cidade.
Aerópago: Tribunal que julgava crimes religiosos e de morte e era constituído por antigos arcontes
Arcontes: Dez cidadãos sorteados entre os atenienses, responsáveis pelas questões religiosas
O regime democrático em Atenas trouxe importantes modelos e práticas para as sociedades posteriores: preenchimento dos cargos políticos através de eleições ou por sorteio; duração limitada desses cargos; participação dos cidadãos na vida política.
A política ateniense instituiu a lei do ostracismo, que significava a expulsão e ou o exílio do cidadão que fosse punido politicamente. Ele era condenado à expulsão ou ao exílio por dez anos, caso houvesse elaborado projetos públicos em proveito próprio.
Todas as assembleias, debates e votações aconteciam na praça central da cidade chamada de Ágora. Era um espaço livre, ladeada por prédios públicos e por mercados, onde, também, ocorriam as trocas o comércio, as feiras. Era o espaço da cidadania.
A educação das crianças e dos jovens:
As crianças atenienses que iriam tornar-se cidadãos eram preparadas para o debate e a deliberação. Tinham um dia de estudos e formação para a cidadania. 
As crianças se encaminhavam para a palestra, local onde estudavam, duas vezes ao dia: de manhã quando aprendiam música e ginástica, e à tarde, após o almoço em casa, para o ensino da leitura e escrita, que era acompanhado por um escravo chamado de pedagogo (aquele que conduz), termo que deu origem à palavra Pedagogia.
A educação das crianças e dos jovens:
A formação integral era a finalidade da educação grega, sobretudo em Atenas. Para tal utilizavam o conceito de Paideia, que Platão explicava assim: "(...) a essência de toda a verdadeira educação ou paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento"
A educação ateniense propiciou o surgimento e o desenvolvimento da Filosofia, que pode ser dividida em três fases: o período pré-socrático, quando buscavam explicar as questões da natureza e a origem do mundo; em seguida vem o período socrático cuja reflexão residia sobre o homem, em que se destacaram Sócrates, Platão e Aristóteles; e por fim, o período helenístico, em que a filosofia ficou marcada pela visão cristã, e por soluções individuais em detrimento do coletivo. 
Já em Esparta, a educação estava voltada para a formação militar, era obrigatória, estava sob os cuidados do Estado e era chamada de agogê. Os meninos desde pequenos eram afastados da família, e permaneciam nas casernas até envelhecerem. Eles eram levados a treinar saltos, natação, corrida e lançamentos de dardo e de disco. 
As mulheres também se preparavam fisicamente, eram criadas para viverem de maneira saudável com o objetivo de conceberem filhos sadios. 
A educação sexual também fazia parte da instrução feminina. Esta acontecia a partir da puberdade, e era de responsabilidade da mãe. 
Em torno dos vinte anos, a moça recebia autorização do governo para casar e procriar, sendo estimulada sua gravidez, pois quanto mais filhos mais soldados para a cidade.
A religiosidade na antiguidade grega:
A Mitologia grega apresenta os mitos, as lendas e os deuses que constituíam a base da religiosidade do povo grego. O estudo da religiosidade permite uma maior compreensão dessa sociedade.
As divindades eram figuras que aparentavam a imagem humana, sentiam amor, ódio, ciúmes e raiva, por exemplo, mas que tinham o dom da imortalidade. Cada uma possuía um atributo próprio. 
Os mitos e as lendas, que eram transmitidos por tradição oral, afirmam que os deuses e deusas viviam no Monte Olimpo, de onde observavam os humanos. 
Os deuses representavam as forças da natureza e também os sentimentos humanos. Havia, ainda, algumas divindades que eram considerados semi-deuses. Porém os doze principais eram:
Hermes: Divindade que representava o comércio e as comunicações;
Zeus: Deus de todos os deuses, senhor do Céu;
Afrodite: Deusa do amor, sexo e beleza;
Dionísio: Deus do teatro, do vinho e das festas;
Hera: Deusa dos casamentos e da maternidade;
Hefesto: Deus do fogo e da metalurgia;
Atena: Deusa da sabedoria e da serenidade. Protetora da cidade de Atenas;
Poseidon: Deus dos mares;
Hades: Deus dos mortos, dos cemitérios e do subterrâneo;
Ares: Divindade da guerra;
Artemis: Deusa da caça;
Apolo: Deus da luz e das obras de artes.
A civilização greco-romana influenciou a sociedade ocidental. Essa aula abordará o modelo civilizatório romano, período em que ocorreu o surgimento do Cristianismo.
A Antiguidade romana pode ser dividida em três períodos:
Realeza (de 753 a 509 a.C.): da fundação de Roma à queda do último rei etrusco;
República (de 509 a 27 a.C.): período marcado inicialmente pelas lutas entre patrícios e plebeus e posteriormente pela expansão militar;
Império (de 27 a 476 a.C.): da instauração do Império à sua queda.
A história do Império romano teve início na Península Itálica, no segundo milênio a.C., quando povos, provavelmente, de origem indo-europeia ocuparam a parte centro-sul da Península. Esses povos, denominados italiotas ou itálicos, possuíam línguas e costumes diferentes e praticavam agricultura ou pastoreio. 
Esses povos ocupavam as colinas do Lácio, onde por volta de 753 a.C. supõe-se que fora fundada a cidade de Roma. Eles se organizavam em clãs, sendo a terra de uso coletivo e não propriedade de poucos. 
O paterfamilias era considerado a autoridade máxima desse grupo que rendia culto aos antepassados.
No final do século VII a.C., os gregos iniciaram a colonização do sul da península itálica que foi denominada de Magna Grécia. 
Ao mesmo tempo, os etruscos, que viviam no norte da península, iniciaram sua expansão e conquistaram a região do Lácio, que nesse momento encontrava-se com sua organização social, política e econômica em transformação. 
Passava da pequena agricultura familiar e do pastoreio para a cultura de cereais, em propriedades privadas, o que gerou a divisão da sociedade entre patrícios e plebeus dando lugar a Realeza.
A República
iniciou com a queda do último rei Etrusco, nesse período apenas os patrícios tinham poder político. Mas, com a expansão do comércio, uma parte da plebe, que, sobretudo, exercia essa atividade econômica se enriquece e passa a lutar, também, por direitos políticos e civis. 
Nos séculos V e IV, os plebeus enriquecidos conquistaram a criação da Tribuna da Plebe, o direito ao casamento misto e a Lei das Doze Tábuas, que representou o primeiro código escrito romano.
A política expansionista romana provocou o empobrecimento dos camponeses e artesãos, uma vez que intensificou o trabalho escravo proveniente das regiões conquistadas, provocando assim, a perda de pequenas propriedades gerando desemprego e pobreza para aqueles plebeus que viviam do trabalho no campo ou do artesanato.
O expansionismo romano no século I a.C. já dominava todo o Mediterrâneo. Em 27 a.C. o Império foi implantado por Otávio que recebeu a alcunha de Augusto (filho dos deuses) e promoveu um grande: desenvolvimento cultural e urbano, são construídos templos, aquedutos, termas, estradas e edifícios públicos. As artes são incentivadas,(...)”.
O comércio obteve uma forte expansão, o latifúndio se especializou e o trabalho escravo cada vez mais se tornava a base do processo econômico. 
No século II d.C., a intensa expansão do Império provocou a formação de uma complexa máquina burocrática para administrar, controlar e  arrecadar impostos das províncias. Assim como a instituição do Direito Romano para dar conta das complicadas questões de justiça.
Uma questão marcante nesse período foi o surgimento do cristianismo, doutrina  que se espalhou para além da Palestina e provocou intensos embates entre cristãos e representantes do Império, principalmente porque pregava a desobediência aos preceitos romanos e atingia os pobres e os escravos. 
A perseguição aos cristãos teve início em 64, até que Constantino concedeu em 313 a.C. liberdade de culto e no final do século IV, o cristianismo se tornou religião oficial  do Império Romano, porém não representava mais os ideais das camadas mais pobres, já estava hierarquizada  e aderida pelas elites.
A partir do século II, a crise na administração e manutenção, aliada aos altos impostos e  corrupção, provocaram o início do desmantelamento do Império, dando início ao colonato. Essas questões fragilizaram o Império que se dividiu em 395 em Ocidental e Oriental. Isso possibilitou o enfraquecimento da defesa de suas  fronteiras, o que facilitou a invasão dos bárbaros e sua fragmentação no início do século V. 
A Igreja desempenhou um papel de guardiã da cultura greco-romana e lentamente foi fazendo alianças com os povos invasores, o que lhe permitiu conquistar poder e riquezas.
Aula 3: A Educação na Idade Média e a Origem dos Colégios e o Humanismo Pedagógico
A periodização:
A Era Medieval se inicia com a decadência do mundo romano e a intensificação do processo de migrações dos povos nômades. Essas invasões contribuíram para o aprofundamento da crise do Império Romano. 
Os vários povos (ostrogodos, visigodos, burgúndios vândalos, francos, anglo-saxões e lombardos) se movimentavam, invadindo o Império Romano.
O feudalismo:
O mundo medieval se define pela conjugação de fatores econômicos, sociais e políticos que caracterizam o contexto histórico. A ausência de unidade política caracteriza o feudalismo. 
Não havia a figura do Estado que centralizasse o poder, nem a ideia de nação. O poder concentrava-se no feudo que ao mesmo tempo era a unidade econômica e social do período.
O feudo constituía-se na unidade territorial, onde as relações econômicas e sociais aconteciam. Tinha como centro o castelo, uma fortaleza murada, que geralmente localizava-se em um terreno elevado, de maneira a facilitar a observação de possíveis invasores, e que em caso de ataques protegia a família e os dependentes do senhor feudal. 
Havia ainda a área reservada às atividades econômicas. 
O pastoreio e a agricultura eram as principais atividades da época, que se caracterizavam pela busca de auto-suficiência do feudo, pois as atividades comerciais eram praticamente inexistentes. 
As moedas caíram em desuso e, quando havia excedentes, as trocas eram realizadas com as próprias mercadorias. 
Como as cidades tornaram-se perigosas, a partir da ação de bandoleiros e assaltantes, os artesãos também se concentravam no interior do feudo. 
Nos feudos viviam a maior parte da população da época: o senhor feudal e sua família, os cavaleiros, os artesãos, os camponeses e famílias.
Os camponeses trabalhavam nas terras dos senhores feudais, e eram os responsáveis pelas atividades agropecuárias. Eles deviam obrigações como trabalho obrigatório nas terras do senhor, com o qual alimentavam todos aqueles que não trabalhavam. 
A cavalaria era responsável pela defesa da unidade feudal. Os cavaleiros medievais, em troca por sua bravura e conquistas, dividiam o resultado dos saques efetuados, além de receber parte, também, do feudo do senhor, que dessa maneira garantia a ampliação do número de seus guerreiros, sempre necessário em função das constantes expedições e ataques de invasores. 
A Igreja era a única instituição centralizada e que se consolidou, também, como um importante “senhor feudal”, pois era detentora de grande extensão territorial. 
Isto se expressava através das ordens religiosas e de seus representantes clericais. Mantinha um forte poder sobre a mentalidade e consequentemente, sobre os processos educacionais.
A Inquisição, tribunal que julgava homens e mulheres considerados como hereges; a tortura; e a fogueira, para onde eram levados os condenados, tornaram-se símbolos desse momento de terror.
Como vimos, esse é um período de muitas transformações sociais e econômicas. Novas formas de organização social e, por decorrência, novos modelos escolares subordinados ao mundo espiritual, surgiram no feudalismo.
Focalizamos nessa aula o início da Idade Moderna. O marco é a conquista de Constantinopla, importante cidade na rota para o Oriente. 
A invasão e conquista da cidade pelos turcos otomanos, no ano de 1453, desestabilizou os negócios obrigando os comerciantes europeus a buscarem um caminho marítimo para o Oriente em busca dos produtos exóticos e das especiarias.
A busca por uma rota marítima para alcançar os centros comerciais na Índia e China, estimulou as navegações e as pesquisas sobre a questão. Era a Europa alcançando novas regiões do planeta, irradiando-se e conquistando novos territórios. 
O historiador Pierre Chaunu analisou esse momento da História e cunhou a expressão do desencravamento planetário, tentando explicar que os descobrimentos não apenas ampliaram o mundo sob o ponto de vista territorial, mas nas condições das comunicações. 
“Eram chamadas os grandes descobrimentos. Uma História apaixonante, que foi sempre escrita no presente, de um ponto de vista inconscientemente europocêntrico. Essa história, procuramos, outrora, desencravá-la, colocar a História dos grandes descobrimentos numa História mais geral da entrada em comunicação”.
As mesmas condições históricas que propiciaram as “grandes navegações” , permitiram o surgimento do renascimento, que teve nas cidades italianas - importantes áreas comerciais da época - como Veneza, Gênova, Florença Milão e Roma, centros difusores desse movimento cultural-artístico. Este foi um fenômeno essencialmente urbano, pois se fundava na sociedade.
Costuma-se chamar de “Renascimento” ao período de emancipação intelectual que se produziu nos séculos XV e XVI, sob a dupla influência do aumento do saber no espaço e no tempo. Os descobrimentos realizados na China e no Extremo Oriente por venezianos, na África e nas Índias por portugueses, depois no Novo Mundo pelos espanhóis e todos os navegantes da Europa Ocidental ampliaram os limites do horizonte terrestre ao tempo que se aumentou o vôo da imaginação e da audácia do pensamento; ocorreu o mesmo com a erudição pela reaparição da literatura antiga que unia os séculos presentes aos séculos passados por cima
das origens mesmas da Igreja. A humanidade se engrandeceu duplamente: por um lado tomou posse de todo seu domínio terrestre sobre a redondeza completa do globo e por outro apoderou-se de sua herança greco-romana desde as origens de sua história. Semelhante época bem merece ser designada de uma maneira especial na sucessão das idades. 
O Renascimento:
O renascimento das cidades, surgidas em consequência da recuperação dos negócios e do comércio, e de uma nova classe social – a burguesia - exigiram a presença de novos profissionais e o aparecimento dos colégios. 
Essas instituições nascem desvinculadas da Igreja e dos conceitos religiosos voltadas para formar esse novo homem, que busca explicação para fenômenos além das respostas religiosas.
Todas essas mudanças conjugadas permitiram o advento do renascimento, movimento de renovação intelectual, cultural e artístico iniciado no século XIV que redescobriu os padrões clássicos greco-romanos, sobretudo na literatura e na filosofia. O ser humano tornava-se o foco principal em contraste com o divino do mundo feudal.
A preocupação com o ser humano se refletia inclusive nas artes, demonstrando que os artistas buscavam conhecer o homem, seus sentimentos e sua conformação física, estudando e reproduzindo o corpo humano.
As características mais importantes do movimento renascentista são:
Antropocentrismo: Em contraste com a postura medieval em que prevalecia o teocentrismo, o renascimento coloca o homem como o centro do universo.
Hedonismo: A busca pela felicidade humana, na medida em que o ser humano readquire importância frente às questões religiosas.
Individualismo: A expressão de preponderância do indivíduo sobre o coletivo prevalecer.
Racionalismo: O conhecimento deve ser explicado à luz da razão, que se sobrepõe às explicações divinas e religiosas.
Classicismo: Revalorização da cultura greco-romana, buscando romper com os padrões medievais. Os valores da antiguidade se expressam nas pinturas, na arquitetura, nas esculturas, na filosofia e na literatura.
François Rabelais em Pantagruel (1532) explica o renascimento assim: Todas as disciplinas são agora ressuscitadas, as línguas estabelecidas: Grego, sem o conhecimento do qual é uma vergonha alguém chamar-se erudito, Hebraico, Caldeu, Latim (...). O mundo inteiro está cheio de acadêmicos, pedagogos altamente cultivados, bibliotecas muito ricas, de tal modo que me parece que nem nos tempos de Platão, de Cícero ou Papinianos, o estudo era tão confortável como o que se vê a nossa volta. (...) Eu vejo que os ladrões de rua, os carrascos, os empregados do estábulo hoje em dia são mais eruditos do que os doutores e pregadores do meu tempo.
Na escultura renascentista, novamente despontam os trabalhos de Michelangelo, que vemos a seguir, e que demonstram a perfeição do trabalho, do ponto de vista técnico e que são exemplares significativos do movimento em questão. Destacam a figura humana e valorizam as expressões e sentimentos humanos.
O Renascimento científico:
Os novos tempos também estimularam o espírito investigativo, provocando descobertas e novas teorias. Morte.
A teoria do geocentrismo, que afirmava que a Terra era o centro do Universo, foi superada por estudos de Nicolau Copérnico que levantou a tese do heliocentrismo, ou seja, de que a Terra girava em torno do Sol. 
Galileu Galilei também foi um adepto do heliocentrismo, e como consequência de suas ideias, foi torturado pela Inquisição, sendo obrigado a renunciar e negar suas convicções para fugir da morte.
A Reforma Religiosa:
A Igreja de Roma, durante alguns séculos, constituiu-se na instituição de maior força na Europa. Esse momento correspondeu ao período medieval, como já estudamos. Toda essa força política distanciou os membros da Igreja dos temas espirituais. Muitas irregularidades de ordem moral e várias denúncias de corrupção se intensificaram. 
O alto clero se envolvia em disputas políticas por cargos eclesiásticos e por prestígio, esquecendo-se dos cuidados aos fiéis. As vendas de indulgências se avolumavam criando um clima profundamente desfavorável à Igreja e aos seus representantes.
Os religiosos Lutero e Calvino contestaram as práticas da Igreja de Roma, aproximando adeptos às suas críticas e fazendo aparecer, como consequência, novas religiões. Esse movimento ficou conhecido como Reforma Religiosa.
Surgiram, então, o luteranismo no Sacro Império Romano Germânico – a atual Alemanha, o calvinismo na Suíça, e ainda, o anglicanismo na Inglaterra.
Aula 4: Razão, indivíduo e sociedade e Reformas Educacionais na Europa do Final do Século XVIII
A Formação dos Estados Nacionais:
Durante a Idade Média, o poder político se manifestava na figura dos senhores feudais, e não se submetia a autoridade real.
O processo de unificação dos Estados Nacionais, em alguns casos, ocorreu no século XIV, como foi o caso de Portugal; enquanto em outras áreas, os Estados se concretizaram mais tardiamente, nos séculos XV e XVI, como aconteceu na Espanha e na França.
Uma conjugação de fatores internos propiciou que Portugal se tornasse o primeiro Estado Nacional, absolutista e mercantilista, a se constituir.
A centralização do poder nas mãos dos monarcas interessava tanto à realeza quanto à burguesia. Os reis fortaleceram seu poder submetendo os poderes locais de senhores feudais à sua autoridade absoluta. Para a burguesia, esse processo permitiu a unificação de pesos e medidas e de moedas, facilitando as atividades comerciais e financeiras. 
A unificação territorial permitia a unificação de tributos e impostos contribuindo para estimular os negócios, além de trazer segurança e melhoria às estradas. 
A aliança entre burgueses e reis propiciou a unificação dos Estados. Para concretizar essa realidade era necessário organizar uma máquina administrativa que desse conta das necessidades governamentais, mas também exércitos nacionais, em lugar das cavalarias feudais, que pudessem impor a autoridade monárquica e zelar pela nova ordem social e econômica. 
O Absolutismo:
A partir do processo de unificação dos Estados Nacionais, com o passar do tempo, o poder do monarca foi se concentrando, tornando-se absoluto. Reinava sobre tudo e sobre todos.
Há alguns exemplos que ilustram os monarcas absolutistas que marcaram a História da Humanidade, como Luís XIV. 
Ele concentrou tanto poder que era conhecido como o Rei Sol. Para expressar sua força dizia que “o Estado sou Eu”.
O Iluminismo:
O pensamento racionalista desde o século XV e XVI ganhou espaço e força no mundo europeu. Vai exercer profunda influência sobre o mundo da época, sobretudo nos aspectos político, social e intelectual.
No século XVIII, na França o Iluminismo atingiu seu apogeu na luta contra a monarquia absolutista, no movimento que ficou conhecido como a Revolução Francesa. 
Nesse momento o debate acerca dos direitos humanos se fortaleceu, e se concretizou através do texto da Declaração dos Direitos do Homem, apresentada na ilustração. 
O lema dos revolucionários franceses era: Liberdade, fraternidade e igualdade.
As principais características do iluminismo eram: Valorização da razão; Valorização da investigação; A crítica ao absolutismo, e aos privilégios da nobreza e do clero; A defesa da liberdade política e econômica e da igualdade de todos perante a lei. 
Alguns Pensadores Iluministas: Locke, Montesquieu, Jean-Jaques Rosseau, Voltaire, Francis Bacon.
Alguns monarcas europeus e seus ministros adotaram princípios iluministas e promoveram reformas importantes em seus países, sem abrir mão do próprio absolutismo. Essa combinação entre absolutismo e iluminismo ficou conhecida como Despotismo esclarecido.
Conheça mais sobre o despotismo esclarecido:
Para Falcon (1986) a expressão mais adequada deveria ser absolutismo Ilustrado, pois demarca a diferença entre este processo e a ilustração política, que seria segundo ele, a verdadeira herança política do Iluminismo, presente, ainda hoje nas correntes políticas e ideológicas do século XIX, tais como: liberalismo,
democratismo e socialismo. 
O despotismo esclarecido pode ser considerado uma política reformista inaugurada pela adoção de princípios iluministas nos reinos absolutistas. Para Touchard (1959), no entanto, o importante para o historiador é distinguir entre a teoria e a prática do despotismo esclarecido e entre os diferentes estilos do despotismo esclarecido. 
Principais déspotas esclarecidos:
O rei filósofo e discípulo de Voltaire, Frederico II (1740-1786) da Prússia foi um exemplo clássico de despotismo esclarecido. 
País pequeno, pobre, pouco povoado e dominado por uma nobreza semifeudal. A burguesia era pouco importante econômica e socialmente, porém possuía um poderoso exército.
Estimulou o ensino básico, baixando o princípio de instrução primária obrigatória para todos. 
Atraiu os jesuítas para a Prússia por causa de suas qualidades como educadores. Considerava-os bons e baratos. 
A tortura foi abolida e um novo código de justiça foi organizado. 
Exigia obediência total às ordens, mas permitia liberdade de expressão e de culto. 
Estimulou a economia adotando medidas protecionistas, contrárias às ideias iluministas. 
Preservou a ordem social existente. Os servos permaneceram sujeitos à classe dominante dos proprietários chamados junkers.
Principais déspotas esclarecidos:
Catarina II (1762-1796) da Rússia atraiu os filósofos franceses à sua corte e mantinha com eles correspondência regular. Estes lhe serviram de instrumento, pois muito prometeu e pouco realizou de prático. 
Anunciou grandes reformas que jamais realizou. É verdade que deu liberdade religiosa e preocupou-se em desenvolver a educação das altas classes sociais.
O essencial permaneceu como era, ou melhor, foi agravado. A servidão não foi abolida e os direitos dos proprietários sobre os servos da terra foram aumentados, inclusive o de condenar à morte. 
José II (1780-1790) da Áustria, realizou numerosas reformas ditadas pela razão: 
Aboliu a escravidão; deu igualdade a todos perante a lei e os impostos; liberdade de culto e direito de emprego aos católicos. Acreditava que o fortalecimento do Estado estava intimamente ligado à redução dos privilégios da nobreza. 
Uniformizou a administração em todo o Império. 
Foi contrário à interferência da Igreja católica nos assuntos de Estado. 
Na educação, a rainha Maria Teresa, em 1774, já organizara um sistema nacional e centralizado.
Tanto para ela quanto para José II, a educação era um assunto de Estado. As escolas primárias passaram a aceitar crianças de todos os credos e foram supervisionadas por funcionários do governo.
foram criadas escolas normais e técnicas, além de ginásios em cada distrito, de cunho mais humanístico, sendo todo esse nível de ensino fiscalizado em Viena.
Os estudos de administração pública marcaram o ensino superior, especialmente na Universidade de Viena. O alemão passou a ser a única língua moderna, além do tcheco, utilizada nas aulas.
Na Espanha, o ministro Aranda era inimigo dos jesuítas e defensor da tolerância religiosa. O despotismo esclarecido na Espanha se preocupou muito mais com medidas econômicas do que administrativas, com destaque para a agricultura além do comércio e das manufaturas. 
As reformas não atingiram o patrimônio da nobreza e pouco comprometeram o patrimônio do clero, deixando intactos o seu poder e influência.
Em Portugal, o Marquês de Pombal, ministro de D. José I, fez numerosas reformas:
Aumentou o controle do Estado sobre a economia.
Incentivou o comércio e as manufaturas.
Expulsou os jesuítas de Portugal e de suas colônias, procurou desenvolver uma educação leiga, sem a influência da Igreja. 
Redefiniu o direito à luz do direito natural e reformou o ensino jurídico. 
Reformou a inquisição, transformada em tribunal do Estado e aboliu algumas discriminações, que ainda vigoravam, contra os cristãos-novos.
Aula 5: A Educação na Sociedade do Trabalho e os Fundamentos da Escola Nova 
O sistema capitalista se desenvolveu a partir da revolução industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII. No final do século XIX, esse sistema de produção já era dominante na Europa e na América do Norte. A consolidação da ordem burguesa, industrial e capitalista na Europa do século XIX produziu profundas transformações no mundo do trabalho. 
A burguesia segundo Eric Hobsbawn:
“Uma das principais características da burguesia como classe era que consistia num corpo de pessoas com poder e influência, independente do poder e influência derivados de nascimento ou status. Para pertencer a ela um homem tinha que ser “alguém”; uma pessoa que contasse como indivíduo, por causa da sua riqueza, capacidade de comandar outros homens, ou de influenciá-los de alguma forma”.
“Apoiava-se em pressupostos comuns, credos comuns, formas de ação comuns. A burguesia de nosso período era esmagadoramente “liberal”, não  necessariamente num sentido partidário ( embora como já vimos, os partidos liberais prevalecessem ), mas num sentido ideológico. Acreditava no capitalismo, empresa privada competitiva, tecnologia, ciência e razão. Acreditava no progresso, numa certa forma de governo representativo, numa certa qualidade de liberdades e direitos civis, desde que esses fossem compatíveis com a regra da lei e com o tipo de ordem que mantivessem os pobres no seu lugar”.
As precárias condições de vida dos trabalhadores, as longas jornadas de trabalho, a exploração do trabalho feminino e infantil, os baixos salários, o surgimento de bairros operários sem conforto e higiene, representaram as contradições geradas pela nova sociedade capitalista.
De modo geral, as populações urbanas aumentaram significativamente, mas as estruturas e os serviços das cidades não conseguiram acompanhá-las, assim como não havia controle nesse crescimento. Nem todos, portanto, podiam usufruir plenamente os avanços e benefícios dos serviços urbanos. 
A concentração de uma grande massa de desempregados nas cidades, associada à carência de moradias, à ausência de saneamento básico nos bairros pobres, à fome e aos baixos salários, começou a preocupar os poderes públicos, em virtude de seu enorme potencial explosivo.
A nova organização econômica e social baseada na industrialização acentuou os conflitos de classe e gerou a proletarização, o que provocou a reação da população em diferentes países europeus, com explosões de protestos contra essa nova ordem econômica. 
As primeiras manifestações operárias se deram na Inglaterra, no final do século XVIII, pela quebra e destruição de máquinas e fábricas. Os operários viam na máquina uma inimiga, por ser capaz de realizar o trabalho de vários operários e assim fazê-los perder o emprego. No início, quebraram máquinas ao identificá-las como responsáveis por sua miséria: foi o movimento ludista.
Os trabalhadores começaram a fazer greves exigindo melhoria nas condições de trabalho e reconhecimento do direito de associação, se unindo e formaram as trade-unions e os sindicatos nacionais operários para lutar por melhores condições de vida.
A partir da década de 1830 surgiram as primeiras organizações e movimento de operários ingleses, como o movimento cartista. A pressão do movimento alcançou algumas conquistas, como a proteção do trabalho infantil (1833), a regulamentação do trabalho da criança e da mulher (1842), a jornada de trabalho de dez horas (1847) e a regulamentação das associações políticas (1846).
O movimento operário e sindical se fortaleceu e se expandiu pelo mundo industrial a partir dessas ações. As lutas reivindicatórias em torno dos direitos trabalhistas e as que demandavam a transformação da sociedade receberam influências políticas de diversas correntes interessadas na sua emancipação.
A expansão do movimento deu origem às organizações internacionais, como a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), ou apenas Internacional, que vigorou de 1864 até 1872, quando ocorreu a separação entre marxistas e anarquistas. 
Em 1889 foi fundada a II Internacional, também conhecida como Internacional socialista,
e, no final do século, as Centrais Gerais dos Trabalhadores (CGTs).
O crescimento e organização do movimento operário em torno de melhores condições de trabalho e melhores condições de vida, possibilitou a formulação, por parte dos trabalhadores, de projetos de organização da sociedade que rompessem com o modelo capitalista. 
Dessa maneira, também o projeto hegemônico de educação passa a ser questionado, defendia-se que as massas populares tivessem acesso à educação que não priorizasse apenas a formação profissional, mas também tivessem acesso ao conhecimento integral para formação de cidadãos críticos que pudessem contribuir para as transformações sociais.
Veja como a literatura da época retratava esse contexto histórico: “Étienne deixou o caminho de Vandame e pegou a estrada asfaltada. À direita, via Montsou; à sua frente estavam os escombros da Voreux, o buraco maldito onde três bombas trabalhavam sem parar. Em seguida avistava as outras minas no horizonte — Victoire, Saint-Thomas e Feutry-Cantel —, enquanto ao norte as chaminés dos altos-fornos soltavam fumaça no ar transparente da manhã. Se não quisesse perder o trem das oito horas devia se apressar, pois ainda tinha seis quilômetros pela frente”. 
O período que se estende da metade do século XIX até a Primeira Guerra Mundial, foi um período de intensas transformações históricas. Alguns países da Europa Ocidental e Estados Unidos, deram início a uma nova etapa do capitalismo, o imperialismo, intensificando o colonialismo e a partilha do mundo entre si. 
A Revolução Científico-Tecnológica, no final do século XIX, com a descoberta de novos procedimentos técnicos, fontes de energia e materiais, proporcionou o aumento da produção e a necessidade de ampliar os mercados fornecedores de matérias-primas, como também consumidores das mercadorias e do capital produzidos nos países industrializados.
A ciência, mais utilitária e voltada para a pesquisa tecnológica, deu condições para que as descobertas nessa área fossem aplicadas aos processos produtivos, acarretando o crescimento da produção. A ciência associada à tecnologia, passou, então, a desempenhar um importante papel na história do capitalismo e da sociedade mais recente. 
Por volta de 1860/70 a economia capitalista ganha um novo impulso, o que possibilita a progressiva superação do capitalismo liberal pelo capitalismo monopolista. Nesse momento, a necessidade de ampliar os mercados, fez os países industrializados lançarem-se à conquista de mercados externos, desenvolveu-se assim um processo de ocupação e partilha da África e da Ásia, denominado Neocolonialismo.
O Neocolonialismo foi a principal expressão do Imperialismo. O domínio das potências europeias não foi apenas econômico, mas também militar, político e social, impondo à força um novo modelo de organização do trabalho, que pudesse garantir, principalmente, a extração de minérios, para as indústrias da Europa. 
A repartição da África e a divisão do mundo inteiro em esferas de influência dos diferentes países industrializados completaram o quadro da expansão do capitalismo, na fase denominada Imperialismo.
Do ponto de vista ideológico, o neocolonialismo foi justificado por uma teoria que julgava que os povos asiáticos e, principalmente africanos, não poderiam, sozinhos, atingir o progresso e o desenvolvimento, cabendo ao europeu levar-lhes essa possibilidade.
As raças superiores possuem um direito sobre as raças inferiores. Eu mantenho que elas têm um direito porque também têm um dever. O dever de civilizar as raças inferiores.
A características que compõem o quadro de exploração afro-asiático, refletiam a nova ordem da economia a partir do século XIX, quando a burguesia tornou-se hegemônica em alguns países. A classe proprietária, que possuía o poder econômico, passou a servir de modelo social e, por último, conquistou o poder político.
A hegemonia burguesa e a rápida industrialização deram origem aos grandes conglomerados empresariais e ao capitalismo monopolista, que passou a buscar mercados monopolizados.
É importante destacar que o processo de resistência ao Imperialismo exercido pelos movimentos nacionalistas foram ativos em todo o período. Assim como os atritos entre os países europeus foram frequentes, em razão de disputa por fronteiras ou luta por hegemonia de determinada região. 
Paralelamente aos problemas internos do continente europeu, encontramos a formação de nações industriais não europeias, como Estados Unidos e Japão que estavam também disputando mercados. Apesar disso, o poder econômico, político internacional continuava concentrado na Europa. Mesmo demonstrando certo declínio, os países da Europa Ocidental ainda constituíam os maiores exportadores de produtos industrializados e de capital, além de serem consumidores de matérias-primas.
Entretanto, a industrialização e expansão imperialista da Bélgica, Alemanha e Itália que tentavam um espaço no mundo já partilhado por potências europeias, provocaram uma série de conflitos que rompeu o equilíbrio europeu e culminou na Primeira Guerra Mundial.
“O mundo está quase todo parcelado e o que dele resta está sendo dividido, conquistado, colonizado. Pense nas estrelas que vemos à noite, estes vastos mundos que jamais poderemos atingir. Eu anexaria os planetas, se pudesse; penso sempre nisso. Entristece-me vê-los tão claramente e ao mesmo tempo tão distantes”.
Que mudanças ocorreram na passagem do século XIX para o século XX? 
Crescimento populacional; Demanda por moradias, água encanada, saneamento básico, iluminação pública, transporte coletivo; Surgimento das cidades industriais; Poder público direcionando.
O poder público nesse período de transição de século: Aumento da oferta de empregos; Demanda por cargos de professores, médicos sanitaristas; Admissão de mais funcionários públicos.
A vida nas cidades transformou o ser humano e suas relações sociais. O trabalho, o lazer, os comportamentos, as relações com a natureza, a política, a literatura, o tempo, enfim, o mundo material e cultural dos indivíduos foi profundamente afetado pela urbanização.
Consequências da urbanização:
Aumento da população urbana;
Estruturas e serviços criados não conseguiram acompanhar a demanda;
Parte da população não usufruiu dos avanços e benefícios dos serviços urbanos;
Grandes contrastes entre cidades de diferentes continentes;
Pobreza e a miséria convivendo com fartura.
O avanço tecnológico, o crescimento industrial e a urbanização fizeram com que, lentamente, as pessoas que morassem nas cidades adquirissem novos hábitos, ritmos mais acelerados e necessidades de consumo que passaram a caracterizar o novo homem e a nova mulher desta sociedade. 
Novos hábitos e necessidades de consumo:
(...) os veículos automotores, os transatlânticos, os aviões, o telégrafo, o telefone, a iluminação elétrica e a ampla gama de utensílios eletrodomésticos, a fotografia, o cinema, a radiofusão, a televisão, os arranha-céus e seus elevadores, as escadas rolantes e o sistemas metroviários, os parques de diversões elétricas as rodas-gigantes, as montanhas-russas, a seringa, a anestesia, a penicilina, o estetoscópio, o medidor de pressão arterial, os processos de pasteurização e esterilização, os adubos artificiais, os vasos sanitários com descarga automática e o papel higiênico, a escova de dente e o dentifrício, o sabão em pó, os refrigerantes gasosos, o fogão a gás, o aquecedor elétrico, o refrigerador e os sorvetes, as comidas enlatadas, as cervejas engarrafadas, a Coca-cola, a aspirina, o Sonrisal e, mencionada por último mas não menos importante, a caixa registradora. 
Todas essas transformações refletiram na pesquisa educacional da época. As descobertas científicas, a urbanização, as mudanças econômicas e políticas influenciaram o debate pedagógico, o que proporcionou novas reflexões acerca do processo de aprendizagem que caracterizou o pensamento pedagógico denominado “Escola Nova”. 
Aula 6: A Criação da Companhia de Jesus, os Jesuítas e a Educação no Brasil Colonial
A nossa viagem pela história da educação no Brasil tem início no século XVI, na Europa, onde uma nova visão de mundo ganhava cada vez mais espaço, fruto das transformações decorrentes de um período denominado de Renascimento. 
Com a chamada crise do século XIV na qual as sociedades europeias foram fortemente abaladas pelas guerras, a fome e a Peste Negra, a estrutura social, econômica e política dominante desde o século V, que caracterizava a Idade Média, começava a ser contestada por novos grupos sociais que procuravam dar uma nova ordem tendo o homem e as necessidades humanas como centro das atenções e não mais Deus. 
Novos valores e formas de pensamento baseados em um crescente racionalismo e individualismo surgem como forma de reerguer uma Europa dividida pelos interesses comerciais e materialistas dos Estados Nacionais absolutistas em formação. 
O Rei e a nobreza, associados à burguesia comercial, buscam no mercantilismo fórmulas alternativas para a sustentação econômica de uma nova sociedade.
Na transição do século XIV para o XV, a Igreja Católica, instituição símbolo da unidade cultural e religiosa e guardiã dos valores cristãos, não consegue dar sustentação ideológica ao moderno mundo que estava emergindo dos escombros da sociedade medieval. 
Na educação, a crise do modelo escolástico permite o avanço do humanismo, o que significou a valorização do pensamento humano nas artes, na filosofia e uma maior secularização do saber. O homem desvia-se do céu para se preocupar mais com as coisas da terra. 
Com isso observa-se um aumento do número de colégios voltados à educação dos filhos, principalmente da burguesia, a fim de melhor prepará-los para a administração dos negócios da família. 
A Reforma Protestante foi um movimento religioso, no século XVI, que mudou consideravelmente os rumos da sociedade e da educação na Europa. A unidade da fé e o monopólio da interpretação das escrituras sagradas, até então sob o controle da Igreja Católica, foi rompida de forma definitiva, dando origem a diversas religiões, tais como o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo. 
Este movimento pode ser explicado por um conjunto de fatores de ordem religiosa, política, social e econômica. 
As severas críticas feitas pelo padre e teólogo alemão Martinho Lutero (1483-1546) à venda de indulgências e de relíquias religiosas e o comportamento mundano do clero tinham como alvo a hierarquia eclesiástica e a corrupção moral da Igreja de Roma.
Lutero pretendia um retorno às origens do cristianismo, das quais, segundo ele, o clero católico teria se afastado ao longo dos mil anos da Idade Média. 
Do ponto de vista político e econômico a reforma recebeu apoio da burguesia e de elementos da nobreza alemã. 
A burguesia via no movimento reformista uma maneira de se libertar do jugo da Igreja Romana, já que esta condenava diversas práticas comerciais e financeiras que impediam o acúmulo de capital. 
Da sua parte, romper com o Papa significava para a nobreza alemã maior autonomia política e o controle sobre as terras que pertenciam à Igreja. 
Qual a relação entre a reforma protestante na Europa e a história da educação no Brasil? 
Será a partir da reação da Igreja Católica à Reforma Protestante de Lutero, a chamada Contra-Reforma, que poderemos observar um impacto direto. 
Uma das consequências imediatas da disseminação das ideias de Lutero em toda a Europa foi a perda de fiéis por parte da Igreja Católica. Reunidos no Concílio de Trento (1545-1563), os representantes da Igreja tomaram importantes medidas para conter a expansão do protestantismo. Dentre elas, podemos citar a reafirmação da supremacia papal, dos princípios da fé e da doutrina católica, a criação da lista de livros proibidos (Index), o fortalecimento da atuação do Tribunal de Inquisição e o estímulo à criação de seminários para a formação de padres e de novas ordens religiosas.
Em 1534, foi criada a principal ordem religiosa: a Companhia de Jesus. 
Fundada pelo militar espanhol Inácio de Loyola, a Companhia de Jesus teve atuação destacada na propagação da fé católica e na luta contra os infiéis e hereges. 
Conhecidos como “os soldados de Cristo”, os jesuítas se espalharam pelo mundo, a fim de cumprir o seu trabalho missionário. 
Como estratégia para atingir os seus objetivos, a Companhia de Jesus optou pela criação de colégios, estabelecimentos voltados para a educação de jovens dentro do ensino das primeiras letras e da doutrina cristã. 
Os professores jesuítas eram do Colégio Romano, fundado em 1550, e encaminhados para a Ásia, América e África onde prestavam os seus serviços religiosos e pedagógicos. 
O nosso ponto de partida é o ano de 1549, na colônia portuguesa na América. Mais precisamente na Bahia, quando em terras brasileiras desembarcam os primeiros jesuítas, do navio que trouxe de Portugal o governador-geral Tomé de Souza. 
Liderados pelo padre Manuel da Nóbrega, a Companhia de Jesus iniciava um período de intensa atuação na sociedade colonial brasileira, cujo legado pode ser percebido nos dias de hoje.
Até a expulsão do Brasil por decreto do Marquês de Pombal, então primeiro-ministro do rei de Portugal D. José I, a Companhia de Jesus possuía “25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, sem contar os seminários menores e as escolas de ler e escrever, instaladas em quase todas as aldeias e povoações onde existiam casas da Companhia”. 
Quais eram os objetivos da Companhia de Jesus ao enviar seus “soldados de Cristo” para o Brasil acompanhando o governador-geral Tomé de Souza, representante do Rei português D. Manuel I? 
Recordando a aula passada, temos que ter em mente que o contexto político e religioso na Europa, no século XVI, não era favorável a Igreja Católica, que teve o seu poder contestado pelos reformistas protestantes. A perda do monopólio sobre as verdades cristãs proporcionou uma acentuada evasão de fiéis da Igreja Católica, que viam nas novas igrejas reformistas uma oportunidade maior de salvação de suas almas. 
Com isso, um dos objetivos da Companhia de Jesus ao chegar ao Brasil era conquistar um maior número de fiéis e seguidores, a fim de expandir a fé cristã e o poder de Roma. Outro objetivo da Companhia de Jesus tem relação com a aliança entre a Igreja e o Estado português. A intenção de Portugal era colonizar o Brasil. Colonizar, na visão da metrópole portuguesa, significava defender, explorar e povoar a terra. A Companhia de Jesus, por seu termo, se enquadrava no projeto colonizador do Brasil na condição de disseminadora da cultura “civilizatória” europeia entre os índios e colonos. Sem dúvida, dentre os aspectos culturais, expandir a religião e a moral católica cristã estavam entre os principais objetivos dos jesuítas. 
Ainda no papel de parceira de Portugal na colonização da América portuguesa, a Igreja tinha a importante função de garantir a unidade política, a partir da uniformização da fé e das consciências. Essa uniformização seria atingida através de um árduo trabalho pedagógico nos colégios, nas missões e nas pregações religiosas onde os jesuítas estivessem.
Nos primeiros anos de sua atuação no Brasil, a Companhia de Jesus voltou-se para a catequese e o ensino de ler e escrever para índios e filhos dos colonos que dividiam o mesmo espaço pedagógico: os colégios. 
O ensino das letras, de acordo com José Maria de Paiva, significava a confirmação da organização da sociedade. A sociedade seria hierarquizada pelo acesso às letras.
Com o decorrer do tempo, os colégios e o domínio das letras passam a ser destinados primordialmente aos filhos dos colonos. Os colégios da Companhia de Jesus tinham uma função que iam além do próprio ensino formal. O dia-a-dia intramuros formatava consciências e modelava indivíduos que acabavam por servir de agentes da ordem e da cultura europeia e cristã. Todo o comportamento desviante da moral cristão deveria ser identificado e corrigido para a purificação da sociedade. Caso fosse necessário, castigos e punições eram aplicados àqueles que insistissem em
contrariar as regras do bom comportamento. 
Havia um documento que reunia as diretrizes pedagógicas que os jesuítas deveriam seguir tanto em termos de conteúdo quanto em relação aos métodos a serem empregados: o Ratio Studiorum. 
O currículo do colégio definido pelo Ratio era composto de: a Gramática média; a Gramática superior; as Humanidades; a Retórica; a Filosofia e a Teologia, em um estágio mais avançado.
A educação dos gentios, principalmente dos curumins, prosseguia e Padre José de Anchieta foi um dos seus mais atuantes pedagogos. Utilizando entre outros recursos o teatro, a música e a poesia, Anchieta pode ser apontado como um dos nomes de maior destaque da história da educação brasileira naquele período.
O índio era alvo da disputa entre os jesuítas, que queriam convertê-lo ao cristianismo, e os colonos, que o escravizavam para a execução de trabalhos forçados. Tanto os jesuítas quanto os caçadores de escravos penetraram pelo interior da colônia portuguesa para “capturá-lo”. 
Tendo em vista a dificuldade que os jesuítas encontravam para realizar a sua obra evangelizadora nas tribos indígenas, eles acabaram por criar as chamadas missões. 
As missões eram espaços sob a administração da Companhia de Jesus, onde os gentios, além de receberem a educação religiosa, aprendiam a viver sedentariamente em unidades individualizadas por família e a executar o trabalho agrícola com divisão de tarefas, a criação de gado, a construção de templos, fabricação de instrumentos musicais etc. Estabelecendo áreas específicas para trabalhar, descansar e realizar o culto, entre outras. O jesuíta passou a controlar os índios e a substituir os hábitos considerados bárbaros (a poligamia, a antropofagia, a “ociosidade”, a “desorganização”, o andar nu etc.) por condutas mais “civilizadas”. 
Nas missões, os índios abriam mão de sua cultura original para receberem uma cultura totalmente estranha a eles. Este processo de aculturamento vai tornar o índio mais dócil e fragilizado. A perda do hábito da guerra entre tribos, por exemplo, vai permitir que os aldeamentos indígenas fossem presa fácil para aqueles que se ocupavam em aprisioná-lo e comercializá-lo como escravo. 
A educação “letrada” no Brasil Colonial era direcionada aos homens. As mulheres não tinham acesso aos colégios e eram educadas para a vida doméstica e religiosa. Como esposas dos colonos portugueses, elas deveriam servir como reprodutoras, ou seja, gerar filhos para o seu senhor e marido.
De acordo com a hierarquia familiar, dentre as famílias dos colonos portugueses o primogênito teria direito sobre todas as propriedades da família; o segundo filho era enviado aos colégios e, possivelmente, completaria seus estudos superiores na Europa; o terceiro seria entregue à Igreja para seguir a vida religiosa. 
Sobre a educação dos negros africanos no período colonial, Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves nos adverte que a ação educativa da Igreja Católica em relação ao negro restringia-se à catequização. Ao contrário dos índios, a palavra escrita lhes era inacessível. A doutrinação, segundo o mesmo autor, se deu a partir das devoções aos santos e à Virgem Maria. 
Como vimos no início dessa aula, o acesso à palavra escrita era uma forma de inserir o indivíduo na sociedade colonial brasileira. Assim, a exclusão social dos negros era notória e a sua condição de escravo justificada pela Igreja Católica.
Em 1750, com a assinatura do Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha, a confortável e estável situação usufruída pela Companhia de Jesus na América portuguesa começou a se deteriorar, até atingir um momento crucial, em 1759, com a expulsão desta ordem religiosa das terras brasileiras.
Aula 7: A Reforma Pombalina e os Impactos na Educação da Chegada da Família Real no Brasil
Desde a chegada em 1549, passando por todo o século XVIII onde ampliou e consolidou o monopólio sobre a educação, a Companhia de Jesus tornou-se uma das poderosas e influentes instituições no período colonial brasileiro. 
Com vários colégios e missões espalhadas por todo o território da América portuguesa e espanhola, os jesuítas impuseram através da educação religiosa uma determinada forma de pensar e ver o mundo baseada na fé e na moral católica.
O crescente poder da Companhia de Jesus contrasta com um certo declínio econômico e financeiro de Portugal, a partir de meados do século XVIII. A rivalidade com outras potências coloniais como Holanda, Inglaterra e França e a decadência do comércio com o Oriente podem ser apontados como alguns dos fatores que levaram Portugal à crise. 
A descoberta do ouro, em fins do século XVII, deu condições ao Rei D. João V (1706-1750) de governar com enorme luxo e ostentação. 
A assinatura do Tratado de Methuen (com a Inglaterra) foi extremamente desfavorável para a economia portuguesa, pois elevou o déficit da balança comercial e inibiu o desenvolvimento da manufatura têxtil em Portugal.
Em 1750, D. José I assume o trono português tendo Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, como o seu primeiro-ministro. 
Pombal ficou conhecido como um dos déspotas esclarecidos da Europa no século XVIII. O seu período da administração à frente do governo português ficou marcado pelo esforço no sentido de minimizar a crise econômica em seu país. 
Uma das políticas adotadas por Pombal foi tentar reduzir a dependência de Portugal dos produtos ingleses e reforçar os laços do pacto colonial com o Brasil, a colônia mais rica do já decadente Império português. 
A Europa vivia um momento de grande efervescência cultural e ideológica: o Iluminismo. 
Pensadores como Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Diderot, entre outros, produziram importantes obras centrando suas críticas na sociedade do Antigo Regime e suas estruturas políticas (o Absolutismo), econômicas (o Mercantilismo) e religiosas (o dogmatismo da igreja Católica). 
Uma nova forma de pensar e ver o mundo focado na racionalidade e nos princípios liberais vai ganhar cada vez mais adeptos em toda a Europa.
Acreditava-se que a razão seria o instrumento capaz de “iluminar” o caminho dos homens, conduzindo-os a uma era de novos conhecimentos e de progresso para as sociedades e estados.
Estava declarado, assim, o conflito entre a fé e a razão. O Estado português, ainda centralizado nas práticas mercantilistas e no absolutismo monárquico, vai entrar em choque com a Igreja Católica em função da existência de interesses econômicos e ideológicos conflitantes. A situação no Brasil na segunda metade do século XVIII exemplifica muito bem aquele contexto histórico.
A Reforma Pombalina e os Impactos na Educação da Chegada da Família Real no Brasil
Podemos resumir em duas as razões que levaram o Marquês de Pombal a expulsar os jesuítas do Brasil.
O poder econômico: Origina-se das riquezas extraídas da terra com a utilização do trabalho escravo indígena e africano. 
A Companhia de Jesus se tornou muito rica ao longo dos 210 anos de permanência no Brasil, o que conferiu aos jesuítas um enorme poder político, que em alguns momentos rivalizava com o poder do estado português, como no caso da resistência em deixar o território dos Sete Povos das Missões, na região do Prata. Após a expulsão, Portugal confiscou os bens da Companhia de Jesus.
O poder ideológico: Se dá através da educação nos colégios e nas missões, e da moral católica disseminada por toda a sociedade colonial. A Companhia de Jesus determinava o que era certo e errado em termos de comportamento e costumes. À Igreja Católica interessava formar o “homem de fé”, enquanto que para Portugal, em pleno período iluminista, já não interessava mais este tipo de educação. Após a expulsão dos jesuítas, foram destruídos muitos livros e manuscritos pertencentes àquela ordem religiosa.
A segunda metade do século XIX representou para a história brasileira um período de grandes mudanças. 
A desestruturação do sistema de ensino (ensino elementar, secundário e superior/formação de padres), devido ao fechamento dos colégios sob o controle dos padres
jesuítas.
O retorno dos índios, até então sob a tutoria dos padres jesuítas nas missões, à condição de presa para os caçadores de escravos. 
A Reforma Pombalina:
Na tentativa de suprir o espaço deixado pela ausência da Companhia de Jesus na educação no Brasil Colonial, o estado português tomou algumas medidas efetivas, a partir de 1772, que ficaram conhecidas como a reforma pombalina. 
De acordo com Maria Lúcia de Arruda Aranha, as principais medidas foram: a nomeação de professores; o estabelecimento de um plano de estudos e inspeção; a modificação do curso de humanidades, típico do ensino jesuítico, para o sistema de aulas régias de disciplinas isoladas, como ocorrera na metrópole; a instituição do “subsídio literário”, uma espécie de imposto, visando gerar recursos para o pagamento dos professores.
A implantação das medidas efetivas pelo Marquês de Pombal pode caracterizar o início do ensino público oficial no Brasil. 
Quais os efeitos das medidas tomadas por Pombal para a educação brasileira? 
De imediato, podemos supor uma queda brusca na qualidade e na organização do ensino.  Substituir a experiência e a preparação dos antigos professores (os padres jesuítas) e toda a estrutura curricular e metodológica utilizada por eles nos seus colégios em todo o Brasil não era tarefa muito simples. Os professores que foram nomeados para o Brasil, provavelmente não tinham a formação específica para atuarem na função. 
Por outro lado, as aulas régias, isoladas, dificilmente poderiam suprir o conjunto de aulas 
e disciplinas aplicadas organicamente pelos mestres jesuítas. 
Com todo este quadro, parece ficar claro que houve inúmeras perdas com o desmantelamento de um aparato educativo que já funcionava há mais de duzentos anos. 
Cabe, porém, indagar: será que o subsídio literário arrecadado regularmente e transferido em forma de salário para os professores proporcionava-lhes condições de viverem dignamente em nossas terras? 
O imperador francês representava a França e os ideais liberais e burgueses que caracterizavam a revolução de 1789. As vitórias francesas nas chamadas “guerras napoleônicas” atendiam aos interesses de expansão territorial bem como de uma nova ideologia burguesa, cujos princípios estavam delineados no documento “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”.
Napoleão Bonaparte: o nome deste general francês ecoava com força e provocava temor em muitos dos reis absolutistas na Europa nos primeiros anos do século XIX.
Bonaparte havia tomado o poder na França em 1799 e tinha como um dos objetivos, na sua escalada militar, tornar o seu país o maior Império que o mundo já tinha conhecido. Sob os símbolos da bandeira tricolor francesa, o hino revolucionário da “marselhesa” e o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” o exército napoleônico praticamente não possuía um adversário à altura que o impedisse de avançar, invadir, derrotar e dominar aqueles países que se colocavam à frente de seus planos.
Na visão de Napoleão havia um grande inimigo a ser derrotado: a Inglaterra. 
A Inglaterra foi berço da Revolução Industrial no século XVIII e era a “grande fábrica” da Europa, produzindo em larga escala produtos têxteis e comercializando uma série de outros, que os fazia economicamente a nação mais poderosa  do mundo.
Como parte da sua estratégia de enfraquecer a economia inglesa, Napoleão Bonaparte decretou o chamado Bloqueio Continental, que proibia os países do continente europeu de comercializarem com a Inglaterra. Assim, sem o seu principal mercado consumidor, a Inglaterra reduziria os seus lucros, abrindo espaço para a nascente manufatura francesa. 
Para aqueles países que desobedecessem ao Bloqueio Continental, Napoleão ameaçava com a invasão de seu exército e a destituição da dinastia absolutista até então no poder. 
Portugal e Espanha, dois tradicionais aliados comerciais da Inglaterra, se recusam a aderir ao bloqueio imposto por Napoleão e, em resposta, o imperador francês cumpre a promessa, invadindo a Península Ibérica e depondo as monarquias absolutistas que ali governavam.
No caso específico da invasão francesa a Portugal, um fato, talvez inédito, ficou marcado na história: orientado por representantes do governo inglês, o príncipe-regente D. João decidiu não enfrentar o exército francês e executou uma retirada estratégica. 
Em 1807, ao som dos canhões e das baionetas dos soldados franceses, a Família Real e a Corte Portuguesa deixaram Lisboa. Embarcados em vários navios, levaram consigo alguns mantimentos, livros e toda a riqueza que puderam carregar.
Vencendo uma longa travessia do Atlântico e uma viagem conturbada, D. João chega ao Brasil em janeiro de 1808. Começava aí, um dos capítulos mais importantes da cultura e da história da educação brasileira. 
A primeira medida de D. João no Brasil foi a abertura dos portos às nações “amigas”. 
Esta medida foi de crucial importância para reverter a condição do Brasil como colônia de Portugal, pois rompe o monopólio de comércio da metrópole portuguesa, até então existente, caracterizado no chamado Pacto Colonial. 
A partir de então, todos os países poderiam negociar livremente em portos brasileiros, desde que respeitando as alíquotas de impostos estabelecidas pelo príncipe regente D. João VI. 
As transformações econômicas e políticas vieram acompanhadas de uma série de iniciativas no campo da cultura e da educação que também tiveram um caráter de ineditismo na então estagnada sociedade colonial brasileira.
Criação da Imprensa Régia (1808): A importação de máquinas permitiu, pela primeira vez, a impressão oficial e a circulação de ideias na Corte do Rio de Janeiro. No mesmo ano, surgiu o primeiro jornal impresso no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro.
Criação de uma biblioteca: Com os quase 60 mil volumes trazidos nos navios que trouxeram a Família Real e a Corte Portuguesa para o Brasil. Aquela biblioteca daria origem à futura Biblioteca Nacional, localizada no Rio de Janeiro, hoje uma das maiores bibliotecas do mundo.
Criação do Jardim Botânico (1810): Com a sua extensa variedade de exemplares da flora tropical atraiu uma série de pesquisadores e estudiosos estrangeiros interessados no estudo da botânica. 
A Missão Cultural Francesa (1816): Teve como principal destaque o artista Jean Baptiste Debret, que através das suas telas retratou modos e costumes da vida urbana da cidade do Rio de Janeiro. 
Criação do Museu Real (1818): Mais tarde daria origem ao Museu Nacional.
Na educação, o príncipe regente D. João VI preocupou-se em criar algumas escolas de ensino superior visando atender as necessidades de instrução dos filhos da nobreza e da aristocracia brasileira. 
De acordo com Maria de Lourdes de Albuquerque de Fávaro: “Estas escolas tiveram duas características marcantes: primeiramente, apresentavam um nítido caráter profissionalizante, e, em segundo lugar, foram criadas e organizadas como um serviço público, mantido e controlado pelo Governo, visando à preparação de pessoal para desempenhar diferentes funções na Corte. Daí ter-se tornado quase lugar comum a afirmativa que as primeiras escolas superiores brasileiras nasceram e se estruturaram com um caráter nitidamente prático e imediatista”.
Bahia: 
1808 - Curso de Cirurgia
1808 - Curso de Economia
1812 - Curso de Agricultura, com estudos de Botânica 
e o Jardim Botânico
1817 - Curso de Química, abrangendo Química Industrial, Geologia e Mineralogia.
1818 - Curso de Desenho Industrial 
Rio de Janeiro:
1808 - Academia Real de Marinha Curso de Cirurgia e Anatomia
1810 - Academia Real Militar 
1812 - Laboratório de Química
1814 - Curso de Agricultura 
1816 - Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, transformada em 1820 na Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil. 
O ensino elementar ainda estava sofrendo os efeitos da reforma pombalina, ou seja, com os chamados mestre-escola ministrando aulas-régias, laicas com pouca ou quase nenhuma estruturação ou sequência lógica de conhecimentos. 
Mesmo em vista desta situação precária
na educação brasileira, segundo Fernando de Azevedo, a transmigração da Família Real portuguesa para o Brasil se constituiu um marco na história do ensino brasileiro. 
Aula 8: Império, Sociedade e Educação do Século XIX e as Ideias Pedagógicas do Período Republicano
Em 1822, o famoso “grito do Ipiranga” do Imperador Pedro I pouco repercutiu na sociedade brasileira daquela época. 
O Brasil continuava a ser um país constituído por ampla maioria de escravos, o que contrariava os princípios liberais que se espalhavam pelo mundo e influenciavam boa parte dos dirigentes políticos em nosso país. 
A constituinte de 1823 foi dissolvida pelo Imperador, entre outras razões, por apresentar um projeto de constituição onde as ideias liberais eram predominantes. 
Com isso, a outorga da Constituição de 1824 pode ser entendida como um ato autoritário e conservador por parte de D. Pedro I e do grupo de portugueses que o apoiava. 
Quais seriam os projetos da classe dirigente direcionados à educação, em um país recém liberto da sua metrópole de base agrária e escravista e uma constituição de caráter antiliberal que concentrava boa parte dos poderes nas mãos de um monarca português? 
Era necessário que o Brasil formasse o seu estado nacional e para isso precisaria articular os diversos setores da sociedade no sentido de integrar e dar uma certa unidade política, econômica e cultural ao país, constituindo um verdadeiro projeto de nação.
A determinação legal da gratuidade da instrução elementar não significou, de imediato, investimentos e estruturas suficientes em termos de espaços físicos adequados, professores bem formados, métodos e materiais didáticos. 
O que podemos observar ao longo de todo o período do Império (1822 – 1889) é que a educação pública elementar foi marcada por avanços e retrocessos, sem que houvesse a devida continuidade de esforços no sentido de atender uma enorme demanda entre as crianças em idade escolar. 
Sem dúvida, os mais prejudicados por esta instabilidade na política educacional foram os elementos das classes mais populares, já que os filhos das famílias mais abastadas eram educados por preceptores. 
A primeira lei específica sobre matéria educacional foi decretada em 15 de outubro de 1827. 
Art. 1° - Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverão as escolas de primeiras letras que forem necessárias. 
Art. 5° - Para as escolas do ensino mútuo se aplicarão os edifícios, que couberem com a suficiência nos lugares delas, arranjando-se com os utensílios necessários à custa da Fazenda Pública e os Professores que não tiverem a necessária instrução deste ensino, irão instruir-se em curto prazo e à custa dos seus ordenados nas escolas das capitais.
Art. 6° - Os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática de língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica e apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil. 
A partir da leitura dos três artigos anteriores, podemos entrever algumas características básicas do ensino elementar no Brasil Império, tais como a ênfase na educação moral e religiosa dentro dos preceitos católicos cristãos e o ensino bastante restrito baseado no ler, escrever e contar. 
Chama atenção a exigência feita aos professores pouco qualificados para o exercício do magistério, ou seja, que eles deveriam complementar a sua formação arcando com as suas próprias despesas. 
Neste ponto, o estado simplesmente se isenta de investir e direcionar a capacitação dos profissionais de ensino. Não podemos esquecer que predominavam no país os professores régios, os mestre-escola, decorrentes da reforma pombalina do século XVIII. 
A educação sofreu importantes transformações, entre os anos de 1834 e 1837.
Em pleno período regencial, ocorreu uma reforma na constituição que deixou marcas na educação. No chamado Ato Adicional, foi definido que o ensino elementar, o secundário e a formação de professores seriam de responsabilidade das províncias, e o ensino superior ficaria sob o encargo do poder central. Com isso, oficializou-se a descentralização do ensino, com consequências não muito positivas para a unidade e a organicidade da educação no país. 
A “suposta” descentralização foi desrespeitada com a criação do Colégio Pedro II, pelo Regente Araújo Lima. Este colégio era um estabelecimento padrão de ensino secundário, tinha o objetivo de atender os filhos daqueles que faziam parte da elite intelectual do país, sendo o único autorizado, segundo Maria Lúcia de Arruda Aranha, “a realizar exames parcelados para conferir grau de bacharel, indispensável para o acesso aos cursos superiores”. 
O ensino secundário ficou caracterizado no Brasil Império como propedêutico, ou seja, o ensino cujo principal objetivo era preparar os jovens para obterem uma vaga no nível de ensino seguinte, possuindo pouco compromisso com uma educação de caráter prático e geral, voltada para conhecimentos mais próximos da realidade social do país.
O ensino superior, apesar de prioritário dentro da estrutura de ensino projetada pelos políticos brasileiros, também não atingiu patamares desejáveis para um país que pretendia se tornar “civilizado”. 
Os maiores avanços em relação ao nível superior foram: A criação de dois cursos jurídicos – um em São Paulo e outro em Recife, em 1827; Transformação de alguns cursos superiores em faculdades isoladas.
Apesar dos debates e posição favorável por parte do Imperador D. Pedro II, o governo central só criaria a primeira universidade brasileira pública em 1920, no Rio de Janeiro, com a fusão dos cursos de Medicina, Engenharia e Direito. 
Mesmo diante de claras evidências do pouco interesse do Estado monárquico brasileiro no desenvolvimento de um projeto de qualidade para os três níveis de educação no país, uma iniciativa pode ser considerada como relevante e pioneira: a criação das primeiras escolas normais.
A formação de professores passou a ser uma preocupação do estado, tendo em vista a pouca qualificação dos mestres-escola e a busca por uma maior uniformidade social. 
Acreditava-se que a instrução elementar seria capaz de promover a disseminação de certas práticas sociais e sentimentos (morais e nacionalistas) que garantiriam a unidade e a elevação do país a estágios civilizatórios mais avançados. 
Neste contexto, o professor exerceria o papel de agente público, formado pelo estado, encarregado de instruir e moralizar difundindo princípios de “ordem” e uma determinada visão de mundo da classe dominante. 
Para colocar estas ideias em prática foi criada, em 1835, em Niterói (província do Rio de Janeiro) a primeira escola normal do país. Em seguida surgiram ainda as escolas normais de Minas Gerais (1835), Bahia (1836) e São Paulo (1846).
Interessante destacar que ao longo de quase cinquenta anos de existência, as escolas normais eram espaços frequentados quase que exclusivamente por homens. Hoje, quando percebemos que o magistério, no primeiro segmento do ensino fundamental, é essencialmente uma profissão feminina, uma questão surge à mente: como e por que se deu a feminização do magistério? 
Heloísa de O. S. Vilela, em seu texto “O mestre-escola e a professora”, discute esta questão e aponta algumas possibilidades interpretativas para o entendimento deste fato. Inicialmente apontava-se que a entrada da mulher no magistério teria ocorrido como “concessão dos homens que abandonariam a carreira em busca de outras mais bem remuneradas”, ou, ainda devido “à queda de prestígio da profissão e à baixa remuneração”. 
Baseada em texto de Jane S. Almeida, Vilela expande o campo interpretativo do problema afirmando que a feminização do magistério transcenderia a “questão meramente sexual, podendo ser explicado também pelo fato de que o magistério passava, cada vez mais, a ser uma profissão que atendia à população

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