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TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO • Conceito: trata-se da parte da teoria greal do direito que examina a possibilidade [do direito] ser concebido e aplicado como um sistema. Em todo o campo do conhecimento humano, verifica-se a utilização de sistemas: construções racionais do intelecto humano que permite ordenar uma realidade complexa e caótica. • A noção do sistema jurídico: no âmbito da teoria do direito, muitas formulações de sistema foram oferecidas. Ainda hoje a proposta de sistema jurídico que melhor atende as necessidades da comunidade jurídica é aquela oferecida por Hans Kelsen: a pirâmide normativa estruturada através de laços de validade. Indubitavelmente a proposta piramidal se revela extremamente didática e útil para o jurista, não obstante revele fragilidades. Dentre elas destacam-se a ausência dos costumes jurídicos e o papel tímido conferido a jurisprudência (inadequação ao common law). • O problema da completude - lacunas jurídicas e a integração do direito: o problema da completude consiste na exigência racional de que o sistema jurídico possa oferecer respostas para todos os problemas da vida social. Nesse sentido, duas grandes correntes se revelam possíveis; De um lado, nós encontramos os defensores da completude e, consequentemente, da inexistência de lacunas (visão positivista). De outro lado, nós encontramos os defensores da incompletude do sistema jurídico e da consequente existência de lacunas (visão pós-positivista). • Argumentos em prol da completude: • O direito seria completo pois prevaleceria o raciocínio lógico de que "tudo que não esta juridicamente proibido, esta juridicamente permitido" (Hans Kelsen). • O direito é completo porque a maioria das legislações prevê instrumentos de integração do direito (analogia, princípios gerais do direito, costumes e equidade). • O direito seria completo pois o julgador esta sempre obrigado a decidir, mesmo diante de casos complexos e inéditos, sendo portanto a decisão judicial a resposta normativa uma dada situação social. • Argumentos em prol da incompletude: • O direito é incompleto porque a sociedade se transformaria sempre num ritmo mais celere que a ordem jurídica, surgindo assim os espaços para as lacunas. • O direito seria incompleto pois a previsão dos instrumentos de integração reforça a ideia da existência de lacunas. • O direito seria incompleto pois a perfeição racional da ordem jurídica só seria atingida através de um legislador dotado de conhecimento oracular. • Embora não seja algo unânime, entendemos que o direito é incompleto, pois as lacunas jurídicas fazem parte do cotidiano forense. • Lacunas jurídicas - conceito e tipologias: • Entende-se por lacuna jurídica qualquer imperfeição que compromete a completude normativa fática e valorativa da experiencia jurídica. • Existem 3 tipos de lacunas: ↳ Lacunas normativas: ocorrem toda vez que inexiste norma capaz de regular diretamente uma dada situação social (ex.: ausência de lei que regule o modo de exploração da inteligencia artificial no mundo econômico). ↳ Lacunas fáticas: ocorrem toda vez que a norma jurídica vigente não se revela capaz de atender as exigências da realidade social (perda de efetividade) (ex.:prática do jogo do bicho e a lei das contradições penais). ↳ Lacunas Valorativas (ou Axiológicas): consiste na perda da legitimidade de uma norma jurídica vigente, que deixa de ser considerada justa pelo grupo social num dado contexto histórico- cultural. (ex.: a obrigatoriedade do voto no Brasil, art. 14 CF/88). • Integração do direito: • A integração do direito nada mais é do que o processo de preenchimento das lacunas jurídicas, que procura reestaurar a completude da ordem jurídica. • Existem 4 mecanismos de integração, que podem ser usados de modo isolado ou em conjunto. O direito brasileiro os prevê em diversas leis: LINDB, código civil, código de processo civil, etc. ↳ Analogia: trata-se da aplicação de norma jurídica que trata de determinadas situações socias para outras situações sociais semelhantes que não estão reguladas de modo expresso pela normtividade jurídica (ex.: aplicação das normas sobre habeas corpus e legislação ambiental em face dos presos políticos + AI-5). ↳ Costumes Jurídicos: são práticas socias repetidas que oferecem elementos para a integração das lacunas jurídicas (ex.: a possibilidade de interpretação dos contratos com base nos usos e costumes do lugar). ↳ Princípios Gerais do direito: são normas que aproximam o direito da moral, potencializando a realização da justiça (ex.: aplicação do princípio da insignificância penal nos chamados crimes de bagatela). ↳ Equidade: é a aplicação do juízo de justiça do aplicador do direito diante de uma caso concreto na fronteira do direito com a subjetividade moral. • O problema da coerência - antinomias jurídicas e os críterios de solução: trata-se da exigência racional de que o sistema jurídico não apresente contradições ou ofereça mecanismos para a correção desses conflitos normativos. Denomina-se de antinomia jurídica o conflito entre normas que permitem e normas que proibem um dado comportamento humano. • Critérios de solução das antinomias jurídicas: existem 4 critérios de solução das antinomias (Hierarquico, cronológico, especialidade e a ponderação de bens e interesses). Os três primeiros são usados no conflito entre regras, enquanto que o último, a ponderação de bens e interesses, é utilizado para o conflito entre princípios jurídicos. • Críterio hierarquíco: havendo conflito entre uma norma jurídica superior e uma norma jurídica inferior prevalece a norma jurídica superior. (Ex.: o princípio constitucional da igualdade prevalece sobre editais de concurso público que discriminam candidatos com tatuagem). • Críterio cronológico: havendo conflito entre norma jurídica posterior e norma jurídica anterior, ambas da mesma hierarquia, prevalece a norma jurídica posterior. (Ex.: o código civil/1916, o código de defesa do consumidor/1990 e os contratos de consumo). • Críterio da especialidade: havendo conflito entre uma norma jurídica geral e uma norma jurídica especial, ambas de mesma hierarquia, prevalece a norma jurídica especial. (Ex.: código de defesa do consumidor, estatuto do idoso e o direito ao transporte público). ➢ OBS.: denomina-se antinomia de segundo grau o conflito entre uma norma jurídica anterior e especial com uma norma jurídica posterior e geral, sendo ambas da mesma hierarquia. Nessa hipótese, verifica-se contradição entre o críterio da especialidade e o críterio cronológico, não havendo uma única resposta correta para a situação. • Ponderação de bens e interesses: trata-se de técnica hermeneutica utilizada para a solução dos conflitos entre príncipios constitucionais, tendo em vista a impossibilidade de utilização dos críterios tradicionais. Ponderar significa estabelecer uma relação de prioridade concreta entre os princípios em disputa, a partir de uma investigação zetética dos fatos e valores envolvidos no caso concreto. (Ex.: conflito em relação aos princípios de igualdade e de liberdade religiosa em face dos cantidatos adventistas dos concursos públicos.
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