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AULAS 02 E 03 Conflito de Jurisdição e Competência Internacional

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AULAS 02 E 03 – Direito Internacional Privado
Professora Laura Magalhães
CONFLITO DE JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
CONFLITO DE JURISDIÇÃO 
Introdução 
O Direito Internacional Privado (DIPr), que, apesar da nomenclatura, é composto por normas de Direito Público interno, oferece aos processualistas diversas situações que exigem grande rigor conceitual, uma vez que põem em questão os próprios fundamentos do sistema. 
Ademais, no caso dos conflitos de jurisdição, o debate se aproxima até mesmo da Teoria Geral do Estado, na medida em que envolve a própria soberania estatal, determinando os limites da função de cada Estado Soberano. Desta forma, o estudo do DIPr se apresenta como um rico campo para se testar os fundamentos teóricos de outros ramos do Direito, como o Direito Processual Civil, na medida em que exige que solucionem, através de normas de direito interno, situações que envolvem outros ordenamentos jurídicos. 
1. Conceito de jurisdição 
A jurisdição é uma das formas de expressão da soberania dos Estados. Trata-se da atividade, tomada com exclusividade pelo Estado Moderno, de fazer atuar o Direito no âmbito do território estatal. Para o Direito Internacional Privado, a importância de conceituar a jurisdição envolve atualmente duas questões: 
a) O princípio da divisão dos poderes do Estado como legitimador das constituições modernas, 
b) O conceito de Ação, com a delimitação de suas fronteiras, em face do caráter eminentemente inerte da jurisdição. 
Para DINAMARCO a jurisdição é:
“Ao mesmo tempo, poder, função e atividade. Como poder, é a manifestação do poder estatal, conceituado como capacidade de decidir imperativamente e impor decisões. Como função, expressa o encargo que têm os órgãos estatais de promover a pacificação de conflitos interindividuais, mediante a realização do direito justo e através do processo. E como atividade ela é o complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a lei lhe comete.”
Desta forma, a conceituação de jurisdição é fundamental para atribuí-la a um poder independente, fixando sua função e seus limites, de tal modo que ela não os ultrapasse, nem venha a ser absorvida pelos demais em detrimento da liberdade e das garantias dos cidadãos. 
A administração da justiça é função essencial do Estado Moderno. A jurisdição seria, assim, o “poder de aplicar a lei ao caso concreto”. Como se sabe, em razão do princípio da tripartição das funções do Estado, a função jurisdicional é atribuída ao Poder Judiciário, que deve exercê-la dentro dos seus limites, limites estes que devem ser reciprocamente respeitados pelos Poderes Executivo e Legislativo, observando a harmonia e a independência entre eles previstas na Constituição Federal. O conceito de jurisdição seria, assim, a função do Estado de certificar, preservar, satisfazer ou integrar direitos, aplicando, de forma coercitiva, o direito objetivo ao caso concreto. 
2. Características 
Para melhor compreensão do tema proposto, faz-se necessária a enumeração de algumas características da jurisdição, conforme a doutrina processualista. São elas: a substitutividade, a imparcialidade, o monopólio do Estado, a inércia, a unidade e a aptidão para fazer coisa julgada. 
A Substitutividade refere-se ao fato de o Estado tomar para si o poder de decidir em lugar do cidadão, substituindo-o na expressão da sua vontade. 
A Imparcialidade não se confunde com a ideia de neutralidade, pois não é possível a ninguém se desvestir de seus valores ao julgar um determinado fato. A imparcialidade impõe que o órgão decisório não tenha interesse nas alegações de qualquer das partes. 
O Monopólio da jurisdição pelo Estado encontra-se atualmente mitigado para aqueles que consideram o juízo arbitral como jurisdição, como a própria lei de arbitragem brasileira. No âmbito do direito internacional, o CPC também estabelece o monopólio absoluto nos casos em que a jurisdição brasileira se considera competente para julgar. 
Outra característica que se encontra reduzida atualmente é a Inércia. Encontramo-la em duas fases: O início do processo (com exceção da jurisdição de ofício) e a determinação do objeto da demanda, que não pode ser alterada ex officio pelo juiz. Para os demais atos, o juiz é quem determina o passo do processo. 
Considera-se a jurisdição como uma Unidade, enquanto atividade do poder estatal. O fato de encontrar-se distribuída em razão de competências não lhe retira o caráter uno, mas apenas otimiza a sua aplicação. A decisão de qualquer órgão jurisdicional, em qualquer instância, representa a expressão da jurisdição estatal. 
No que tange à aptidão para fazer coisa julgada, é de se ressaltar que embora haja decisões jurisdicionais que não fazem coisa julgada, é preciso pontuar que somente as decisões jurisdicionais são capazes de adquirir esta qualidade. 
Pode-se apontar três fins da jurisdição: um escopo jurídico, representando a jurisdição a atuação da vontade da lei; um escopo social, através do qual a jurisdição pretende promover o bem comum, pacificação, justiça, etc.; e um escopo político, que se configura na afirmação do poder do Estado, além de viabilizar a participação democrática e a preservação do valor liberdade. 
3. Jurisdição no âmbito internacional 
No âmbito internacional, as limitações da jurisdição de cada Estado são ditadas por normas internas do mesmo, levando em conta a necessidade de coexistência dos Estados e pelos critérios de conveniência e viabilidade. Vale observar que nem sempre há coincidência de extensão entre a legislação e a jurisdição (duas funções do Estado), isto é, a vontade do Direito nem sempre é atuada por autoridade do mesmo Estado que a editou e mesmo nem sempre é atuada através de um Estado qualquer. 
A extensão da legislação é variável na medida em que pode ser aplicada por um juiz de outra jurisdição ou pode deixar de ser aplicada pelo juiz de sua própria jurisdição, em conformidade com uma regra de conexão de Direito Internacional Privado. Já a jurisdição tem extensão estática, não podendo ir além dos limites previstos. Reafirme-se, o estabelecimento dos limites da jurisdição de um Estado leva em conta duas ponderações ditadas pela experiência e pela necessidade de coexistência com outros Estados soberanos. 
As ponderações são os critérios da conveniência e da viabilidade. De acordo com o critério da Conveniência, o interesse é do próprio Estado em exercer o seu poder e oferecer a tutela jurisdicional. Excluem-se, assim, os conflitos irrelevantes para o Estado. O seu poder deve ser exercido para promover a pacificação no seio de sua própria convivência social. 
Já o critério da Viabilidade refere-se à efetividade dos julgados. Excluem-se, portanto, os casos em que não será possível a imposição coercitiva do cumprimento da sentença. Com base nestes critérios, só se justifica excluir a jurisdição nacional quando: a) O ato judicial aqui realizado não tiver como se impor alhures (sempre que, por algum motivo, o Estado destinatário lhe negue reconhecimento ou execução); b) O conflito a dirimir não envolver membros da população do país, nem porção do seu território ou as suas instituições – não teria utilidade alguma para o país movimentar a sua jurisdição para promover a pacificação e a eliminação dos conflitos que não lhe digam respeito. 
4. Conflito de jurisdição 
O direito processual civil internacional trata do conflito entre as normas processuais de vários Estados, fixando preceitos alusivos à competência, à jurisdição, à tramitação dos juízos e à execução das sentenças estrangeiras, com o intuito de assegurar aos particulares, no âmbito do Direito Internacional Privado, a preservação dos seus direitos. 
Na vida internacional, não será possível determinar a competência do tribunal de qualquer país relativamente àqueles dos outros. Não se poderá falar tecnicamente em norma de competência internacional, pois o que há realmente é o direito de um Estado recusar sua competência quando um determinado fato não tiver qualquer relaçãocom a jurisdição local ou quando, pelo domicílio das partes litigantes ou situação dos bens, o tribunal verifique que não terá meios para executar sua decisão. Portanto, as normas atinentes à delimitação da competência internacional são as locais, de cada jurisdição, determinando, ante os fatos, se essa jurisdição é, ou não, a competente para apreciá-los. Consequentemente, cada jurisdição é autônoma, uma vez que cada país terá seu próprio direito sobre a competência de seus juízes e tribunais, sem qualquer ligação ou subordinação com outro Estado. 
A diferenciação de critérios de determinação de competência internacional poderá gerar conflitos de jurisdição. Jurisdição é o poder de julgar considerado na relação entre o Estado e os litigantes, e competência é o poder de julgar considerado relativamente aos juízes e tribunais, uns com os outros. 
O conflito de jurisdição se dará, portanto, quando mais de um Estado se julgar competente para decidir um determinado litígio. Portanto, os conflitos de jurisdição constituem o problema da delimitação do domínio do poder jurisdicional de um país em oposição ao domínio de outro Estado, pois cada país contém norma sobre competência internacional. 
A noção de conflito de jurisdição é distinta da de conflito de leis. No conflito de autoridade procurar-se-á determinar qual a jurisdição chamada para decidir a demanda, ou seja, a competência ratione materiae ou ratione personae do tribunal a que se deve dirigir. No conflito de leis delimitar-se-á a lei aplicável ao caso vertente. O conflito de jurisdição diz respeito ao forum, e o de leis, ao jus. 
5. Limites da jurisdição 
Os limites no Brasil são delineados nos artigos 21 a 24 do novo Código de Processo Civil (correspondente aos arts. 88 a 90 do CPC anterior). O art. 21 determina a competência concorrente da jurisdição nacional. Veja-se a seguir: 
Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:
I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.
A despeito de falar em competência, a norma regula na verdade a jurisdição brasileira para julgar as causas que enumera. É competência (ou jurisdição) concorrente porque não exclui a competência da autoridade judiciária estrangeira. Havendo competência concorrente, o autor poderá escolher entre a tutela jurisdicional brasileira ou estrangeira. Optando pela estrangeira, e consentindo o réu em submeter-se a ela, por acordo expresso ou renúncia tácita à jurisdição brasileira, será homologável a sentença estrangeira. 
ARMELIN define com precisão o que vem a ser competência concorrente à luz do princípio da soberania:
A competência internacional concorrente disciplinada no art. 88 do Código comporta a atuação paralela de jurisdição estrangeira sobre a mesma causa sujeita à jurisdição brasileira. Evidentemente, esta admissão de paralelismo de atividades jurisdicionais por parte de tribunais alienígenas diz respeito à aceitação do resultado de tais atividades pelo ordenamento jurídico nacional. A admissão ou vedação daquelas atividades, enquanto tais, não teria sentido eis que, em se tratando de funcionamento normal de um dos poderes inerentes à qualquer pretensa proibição emergente de outra rejeição dessa atividade, consubstanciada na repulsa ou incorporação do resultado da mesma, ao ordenamento jurídico nacional.
Há ainda competência concorrente com relação aos alimentos e às relações de consumo, sendo uma inovação trazida pelo novo CPC, art. 22, in verbis:
Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:
I - de alimentos, quando:
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil;
III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional.
Quanto à cláusula de eleição de foro (art. 22, III), ela é válida no Brasil de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal. Contudo, não se pode afastar a competência internacional da autoridade brasileira, mesmo que as partes tenham elegido o foro estrangeiro como competente em clausula contratual. Quando se tratando de bens imóveis situados em território nacional, somente a autoridade brasileira está apta a decidir o conflito (art. 23, I) e, nesse caso, a decisão estrangeira não teria nenhuma eficácia.
Em regra, deve ser respeitada a eleição do foro acordada pelas partes no negócio jurídico. Porém, essa regra é flexível de acordo com o caso concreto. Devem ser levados em conta os princípios constitucionais e a forma mais eficiente, rápida e barata de conduzir o processo. Nos casos que a aceitação da clausula ferir algum principio ou decorrer de fraude ou lesão, ela será afastada.
Na questão da cláusula de eleição do foro, portanto, cabe analisar a possibilidade de as partes elegerem a jurisdição que preferirem. Seria então, a vontade das partes do negócio jurídico de adotar a jurisdição competente para a solução dos conflitos. Essa cláusula tem como objetivo evitar decisões com duplicidade e contraditórias. Para as decisões estrangeiras serem homologadas é necessário que preencha os requisitos da LINDB, devendo, a decisão, provir de um juiz competente internacionalmente.
O art. 23 do novo Código de Processo Civil (equivalente ao art. 89 do CPC/1973) determina a competência exclusiva da jurisdição brasileira:
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: 
I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 
II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
A sentença estrangeira que fixa as prescrições do art. 23 não pode ser homologada pela justiça brasileira. Quanto ao inciso I, é irrelevante o tipo de ação relativa a imóveis situados no Brasil; a regra incidirá na espécie, seja a ação declarativa, constitutiva, condenatória, mandamental ou executiva. O Supremo Tribunal Federal, entretanto, consolidou entendimento de que essas ações só abrangem as de cunho real. As fundadas em obrigações não estão no rol do art. 23. Sobre o inciso II, a Suprema Corte tem entendido como aceitável a partilha realizada no exterior, de bens aqui situados, quando for relativo ao divórcio, porque o artigo se destina à sucessão mortis causa. 
Nos casos do art. 23 não há que se falar, portanto, em conflito de jurisdição, pois ainda que outro Estado se considere competente para julgar, nenhum efeito poderá ter este julgamento no Brasil. 
Complementa a disciplina civil da jurisdição brasileira o art. 24 do novo CPC (antigo art. 90), que versa:
Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil.
Trata-se do princípio da prevalência da competência (jurisdição) brasileira no âmbito internacional. “Enquantoa autoridade brasileira for competente, arts. 21 e 23, e não houver homologação da sentença estrangeira no Brasil, remanesce para o Estado brasileiro o poder de julgar a causa já ajuizada (1) ou já julgada (2) em outro país”.
Litispendência (1) – a justiça brasileira é indiferente que se tenha ajuizado ação em país estrangeiro, que seja idêntica a outra que aqui tramite. O juiz brasileiro deve ignorá-la e permitir o regular prosseguimento da ação. 
Coisa Julgada (2) – mesmo que uma ação já tenha sido decidida no país estrangeiro, com trânsito em julgado, tal circunstância deve ser ignorada pelo juiz brasileiro, fazendo-se necessária a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça. Se a ação no exterior iniciar-se simultaneamente à do território nacional, como não há litispendência internacional, a justiça brasileira dar-se-á por competente, independentemente do que vier a ocorrer na justiça estrangeira. 
A decisão estrangeira não poderá ser homologada depois de resolvida a questão no foro brasileiro, porque a proposição da ação perante o juiz estrangeiro concorrentemente competente não prorroga a sua competência, nem previne a competência do juiz nacional (não há prevenção internacional). 
No que se refere às hipóteses não previstas nos arts. 21, 22 e 23, uma corrente entende que as situações fora destes artigos estão excluídas da justiça brasileira. Para esta corrente doutrinária, sendo a jurisdição uma atividade onerosa, não deve ser exercida desnecessariamente, não interessando o julgamento nestes casos. Seria o caso de incompetência do juiz brasileiro (consideração da norma em sentido negativo), pois o propósito dessas regras é de fixar uma autolimitação à jurisdição.
Outra corrente defende que, havendo um qualquer “elemento de fixação de competência”, o juiz brasileiro deve reconhecer-se competente, observando sempre a eficácia de suas decisões. Se a eficácia se der no estrangeiro, deve considerar a possibilidade de aceitação naquele foro; se a eficácia se der no Brasil, o elemento de fixação de competência basta, mesmo que não incidam as hipóteses dos arts. 21, 22 e 23.
A lista do art. 21 não pode ser considerada exaustiva, pois há casos de jurisdição voluntária, em que não há réu, nem ação, caso de separação consensual de cônjuges, arrecadação de bens de ausentes, etc. Essas lacunas devem ser supridas por normas de competência interna. Como há previsão expressa das competências nestes casos, não parece ser este o problema mais grave. A maior lacuna a ser preenchida é a das hipóteses fáticas que configurem ação, com autor e réu, mas estes não estejam enquadrados nos róis dos arts. 21, 22 e 23 da lei processual. Nestes casos, o juiz deverá valer-se dos mesmos critérios utilizados pelo legislador para estabelecer na legislação os limites da jurisdição, ou seja, a conveniência e a viabilidade. 
Analisando o caso concreto, o juiz decidirá se o litígio não previsto nas hipóteses normativas tem relevância para o meio social do Estado e se será possível a imposição coercitiva do determinado no julgamento. Como o Brasil não adota o princípio do fórum non conveniens, usual nos países do Common Law, e estando o juiz nacional adstrito ao princípio da inafastabilidade da jurisdição, não se pode interpretar as hipóteses dos arts. 21, 22 e 23 do CPC como exclusões da apreciação do Poder Judiciário das questões que não estiverem ali inseridas. 
Nestes casos, deverá o juiz, caso a caso, e com base nos critérios de conveniência e viabilidade, decidir se é ou não circunstância que mereça o exercício da tutela jurisdicional. Entendendo que não o seja, deverá motivar sua decisão, fundamentando-a com as devidas ponderações, com o que restará atendido o preceito constitucional. 
Conclusão 
Como se viu, o tema do conflito de jurisdição é espinhoso, levantando sérios questionamentos acerca do sistema processual do Estado e com implicações no âmbito da própria Teoria do Estado, na medida em que atinge uma das faces da soberania. Resta claro que é um ato da soberania do próprio Estado estabelecer os limites de sua jurisdição, pois não é dado a nenhum Estado ignorar a existência dos demais e, por conseguinte, os poderes que estes exercem sobre seus respectivos territórios. 
Ao estabelecer estes limites, o Estado assegura a legitimidade e a eficácia de sua jurisdição, ainda que admita concorrer em competência com outras jurisdições. Louvável a postura do legislador brasileiro ao admitir a possibilidade de execução de sentenças estrangeiras no país, observado o juízo de delibação (apreciação), reconhecendo a eficácia da jurisdição de Estados estrangeiros. 
Entretanto, os limites da jurisdição brasileira não podem ser considerados fechados nas hipóteses normativas dos arts. 21, 22 e 23 do Código de Processo Civil. Ora, é mais que sabido que não é possível ao legislador regular todas as expectativas normativas da sociedade, mormente em uma época que se fala em sistema aberto até mesmo na codificação civil. 
Assim, é de se remeter ao juiz que analise, caso a caso, os litígios que lhe chegam às mãos para decidir, com ponderação, se oferece ou não a tutela jurisdicional. Observe-se que se se entender que é competente a autoridade judiciária brasileira, a competência será concorrente com outras jurisdições com as quais possua conexão. Se, de maneira diversa, a decisão for pela declinação da competência, a motivação fundada nos critérios de conveniência e viabilidade se faz imprescindível, sob pena de violação do princípio da inafastabilidade da jurisdição.
A COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
INTRODUÇÃO
O reconhecimento da personalidade jurídica do estrangeiro é uma característica da Idade Moderna. Por muito tempo o contexto se caracterizou pelo protecionismo nacional em litígios com estrangeiros, até como demonstração de força perante as demais nações. Aqueles que se arriscavam com negócios fora de seu território estavam sujeitos a seguir as regras do Estado estrangeiro, sem a possibilidade de pleitear o reconhecimento de seus direitos. Não se reconhecendo direitos ao estrangeiro, não havia o problema da competência internacional. Foi com o desenvolvimento do comércio que surgiram os primeiros conflitos sobre o tema.
No Brasil, desde os tempos coloniais, a competência judiciária baseava-se no territorialismo, sem distinção entre nacionais e estrangeiros. Aos poucos foram surgindo normas, decretos e leis que dispunham sobre a noção de competência internacional e a inseria em nosso ordenamento jurídico.[1: Havia uma exceção quanto aos cidadãos britânicos, instituída por ‘Alvará’ datado de 04.05.1808, que criou cargos de ‘juiz conservador da Nação Britânica’, encarregado de julgar causas em que tivessem interesse os vassalos britânicos. Tais juízes eram brasileiros, escolhidos pelos súditos ingleses no local da jurisdição, e nomeados, até a declaração de independência, pelo Rei Britânico. (GASPARETTI, Marco Vanin. Competência Internacional, coleção Direito e Processo: técnicas de direito processual, página 37; São Paulo, 2011, Saraiva.]
Já no contexto atual, com o advento da globalização e a consequente diminuição das distâncias, aumenta a incidência de relações internacionais, assim como os próprios litígios dessa mesma natureza. Portanto, a questão dos limites da jurisdição dos Estados se torna de suma importância, já que será o fator que determinará o alcance judiciário daquele Estado no plano internacional.
A determinação do direito aplicável à situação concreta é um meio para alcançar a pacificação social, eliminando os conflitos através da aplicação de uma solução justa dada pelo Estado, sendo, no Direito Processual Civil brasileiro, a fixação da competência de âmbito interno marcada por expressivo rigor.
Cabe lembrar o conceito de jurisdição mencionado na aula anterior: Para Dinamarco, a jurisdição é ao mesmo tempo poder, função e atividade. Como poder, é a manifestação do poder estatal, a capacidade de impor decisões e decidir imperativamente. Como função, diz respeito ao encargo que têm os órgãosestatais de promover a pacificação de conflitos por meio de processo e com a realização do direito justo. Por fim, como atividade, a jurisdição é o complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a lei lhe comete.
Competência internacional ou geral se refere ao exercício do poder jurisdicional do Estado em relação a uma controvérsia que apresente de qualquer maneira um elemento estrangeiro, o envolvimento de mais de um país. Logo, quanto ao seu conteúdo, a jurisdição, como conceito, não sofre, e nem deveria sofrer, diferenciações buscando um conceito a parte só pela inclusão do âmbito internacional na equação.
Quando tratamos de tal inclusão do fator ‘âmbito internacional’, faz parte da pauta de muitos estudiosos do direito a elaboração de normas que formem um verdadeiro direito processual internacional para facilitar a aplicação envolvendo diferentes jurisdições internacionais; tarefa árdua, uma vez que encontra inúmeras barreiras nas diferenças sociais, econômicas e culturais de cada país.
O tema da competência internacional é permeado por tantas dúvidas e divergências de opiniões, que as encontramos logo na classificação da matéria que a rege.
A tradição de ensinar o Direito Processual Civil Internacional como disciplina do Direito Internacional Privado é característica da Escola Anglo-Americana, que insere a matéria dentro do chamado ‘conflict of laws’, reafirmada também pela Alemanha.[2: Para alguns doutrinadores brasileiros, o termo preferido pelos anglo-americanos, ‘Conflict of Laws’, atribuída ao holandês Ulrich Huber é, em relação à ‘Direito Internacional Privado’, um termo muito mais apropriado para definir o objeto tratado por tal ciência.]
A análise e aplicação do Direito Processual Civil Internacional devem ser feitas ‘de dentro para fora’, e não ao reverso, mesmo porque as normas do mesmo pertencem ao direito interno de um determinado Estado, em virtude da própria natureza dos problemas causados por tais normas.
Cabe inclusive frisar a diferença que se deve observar quanto à denominação de ‘Direito Processual Civil Internacional’ e ‘Direito Internacional Processual Civil’ na presente realidade, entende-se de forma geral que a primeira opção é a mais correta, por atribuir maior importância as normas internas de processo em relação ao conflitos internacionais, evitando uma padronização que ignoraria aquelas diferenças econômicas, sociais e culturais que se apresentam como barreiras para os que vêm buscando uma unificação.
Fato que concordam todos é a existência da dificuldade de enquadrar as normas que tangenciam o Direito Processual Civil e o Direito Internacional Privado.
Diz o posicionamento tradicional que cabe ao Direito Internacional Privado reger as normas gerais envolvendo litígios transnacionais. Mas também na delimitação do objeto do próprio direito internacional privado encontramos controvérsias.
A concepção clássica francesa, representada por Antoine Pillet identifica cinco matérias: nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro, conflito de leis, conflito de jurisdições e os direitos adquiridos em sua dimensão internacional; o espanhol Adolfo Miaja de la Muela acredita que o único ponto pacífico quanto tal delimitação é o conflito de leis; na doutrina nacional, vem prevalecendo o entendimento de que o objeto do Direito Internacional pode ser resumido em conflito de leis e conflito de jurisdições, sendo as demais matérias apenas reflexos naturais. 
Há também os que pensam como Amílcar de Castro e entendem que “vários autores, inadvertidamente, atribuem ao direito internacional privado a função de resolver conflitos de jurisdição, totalmente deslembrados de que, na hora atual, não podem haver conflitos de jurisdição na ordem internacional. É certo que, a respeito da competência geral, o direito processual internacional de um Estado pode dispor de um modo, enquanto o de outro disponha em sentido contrário, mas nem essas divergências importam conflito de jurisdição, nem é função do direito internacional privado remediar os inconvenientes delas resultantes".[3: CASTRO, Amílcar de. Direito Internacional Privado, página 47; 6. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.]
Atribuir a uma mesma ciência o estudo, no plano internacional, do conflito de normas e do conflito de jurisdições pode ser uma técnica perigosa por misturar conceitos e acabar empregando os mesmos princípios para a resolução de tais conflitos, o que pode levar a soluções incorretas ou cientificamente imprecisas. A universalidade da jurisdição causaria vários problemas de ordem prática, impondo, portanto, a necessidade de se considerar outros elementos como a existência de outras jurisdições, a soberania territorial de cada país e o próprio interesse em conhecer de conflitos absolutamente estranhos à vida social de um país. 
Nesse sentido, a jurisdição internacional estará sujeita a regras e princípios que lhe imponham um grau de limitação suficiente para afastar o caráter universal e eventuais desproporcionalidades a caracterizar uma tutela desconectada com valores constitucionais como o acesso à justiça. A função de limitar o exercício da jurisdição nesse sentido cabe às chamadas normas sobre competência ou jurisdição internacional.
II -‘COMPETÊNCIA INTERNACIONAL’ COMO TERMINOLOGIA
Como visto até agora, os termos que circundam o tema em questão são seguidos de dúvidas, questionamentos e posicionamentos distintos. Portanto, não é de se espantar que sobre o próprio termo ‘ competência internacional’ incidam diferentes visões doutrinárias.
As críticas ao termo provêm do fato de ‘competência’ ser uma repartição interna da jurisdição em que o próprio Estado, orientado por princípios gerais e adotando seus próprios critérios, elabora regras para fixação dos limites jurisdicionais. Como não existe um órgão supra estatal regulamentador da competência internacional dos Estados, conclui-se teoricamente que não poderia existir uma ‘competência internacional’.
Entende MORELLI, porém, que a expressão não é equivocada, já que não se confunde com competência interna, apesar de poder conduzir a ideologias errôneas com as normas internas.
As normas de competência própria objetivam distribuir entre os órgãos, individualmente considerados, as lides submetidas à jurisdição do Estado, e estas, por sua vez, são determinadas com base na competência internacional.
Ainda segundo os entendimentos de MORELLI, não seria possível a diferenciação de competência concorrente e exclusiva, no sentido que um Estado não poderia interferir na determinação jurisdicional de outro. Não há como afirmar, por exemplo, que um país tem competência exclusiva em dada matéria, já que nada impede que jurisdições estrangerias conheçam e julguem referida matéria.
Mesmo nas demandas envolvendo partes nacionais e versando sobre fatos ocorridos no próprio país, pode vir a ser necessário que a sentença produza efeito fora dos limites de sua jurisdição (por exemplo, se o vencido na demanda se mudar para o exterior e, não havendo cumprimento espontâneo da sentença, o autor precisar executar bens situados no estrangeiro).
III - LATERALIDADE DAS NORMAS DE COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
Uma vez disposto que a competência internacional é definida pelas normas do próprio ordenamento interno de cada Estado, ou seja, que para que um tribunal nacional afirme ou negue sua competência internacional, deve se valer, em regra, unicamente do predeterminado legalmente em seu próprio ordenamento jurídico, fica clara a assertiva que tais normas são reflexos da soberania de cada Estado e, portanto, têm caráter unilateral. O juiz nacional não irá tomar como base uma norma estrangeira sobre competência para verificar sua própria posição.
Todavia, não podemos desdobrar do período acima que ocorre um total isolamento da competência internacional de cada Estado em relação ao ambiente internacional e as normas alheias sobre fixação de competência, já que tal isolamento comprometeria a harmonia e a própria efetividade das sentenças deum país.
Um reflexo processual prático dessa unilateralidade existe na situação em que uma parte apresenta exceção declinatória de competência internacional perante o órgão jurisdicional que conheceu a demanda. Se procedente, o órgão declarará sua incompetência, mas nunca poderá indicar impositivamente a Tribunais de outros Estados a competência de receber a demanda em questão.
Há casos de exceção em que as normas apresentam caráter bilateral ou multilateral; quando de fonte convencional, firmadas em tratados internacionais, bastando, para a eficácia, que o Estado tenha firmado, ratificado e positivado os instrumentos internacionais.
Esses dois casos diferenciam a competência autônoma da convencional. A primeira, elaborada de maneira livre e soberana por cada um dos Estados, com base em seu contexto político, social, cultural, econômico, etc. Enquanto a segunda tem origem em um convênio ou tratado internacional, com sua elaboração condicionada aos termos do acordo, não apresentando uma realidade única, mas um acúmulo de características que diluem as delimitações particulares.
IV – PRINCÍPIOS DO MODELO BRASILEIRO DE COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
IV.1 – Princípio da Efetividade
Para o legislador, o Estado brasileiro é interessado quando i) o réu for domiciliado no Brasil; ii) o Brasil for local de cumprimento da obrigação; iii) a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil; iv) a ação versar sobre imóveis situados no Brasil; e, v) quando se tratar de inventário, a partilha de bens aqui situados.
A extensão desse interesse é definida pelo principio da efetividade, que atua no sentido de excluir da competência de um estado as causas que a lei nacional nela incluiu. Defende Botelho de Mesquita, serem essas causas que, mesmo inseridas nas hipóteses dos artigos 21 a 23 do NCPC, poderiam ser recusadas pelo Juiz brasileiro, pelo fato de ser o Brasil juridicamente indiferente perante as mesmas. É o caso:
das causas cuja decisão demande a aplicação do Direito Nacional, mas cuja sentença só possa ser utilmente executada no exterior, em território de Estado que, em geral ou no caso particular, não reconheça eficácia à sentença estrangeira; 
das causas cuja decisão demande a aplicação do direito estrangeiro e sua sentença não tenha que produzir efeitos dentro do território nacional; 
as execuções de sentença ou título executivo que devam versar sobre bens situados, ou pessoas domiciliadas, fora do território nacional, bem como as execuções de títulos executivo extrajudicial que não indicarem o Brasil como local de cumprimento de obrigação.
IV.2 – Princípio da Submissão
O pressuposto de existência do princípio de submissão é o desinteresse do Estado. O mesmo se aplica, então, nas hipóteses que não se achem expressamente incluídas legalmente entre os casos de sua competência internacional exclusiva ou concorrente. Sua validade constitucional, por sua vez, provém da combinação dos princípios da duração razoável do processo, da instrumentalidade das formas e da autonomia da vontade, já que se resume ao ato voluntário de uma pessoa submeter-se à jurisdição de tribunal que não estava sujeita. De certa forma, podemos fazer uma aproximação do conceito, de direito interno, de prorrogação de competência na competência territorial.
IV.3 – Princípio da Não Denegação de Justiça
Este princípio estabelece uma garantia fundamental de todo indivíduo, não somente enquanto cidadão de determinado país, mas enquanto, simplesmente, habitante, não necessitando ter residência, podendo até estar de mera passagem.
Nesse diapasão, fato é que o Estado, enquanto ente soberano, pode estabelecer certos privilégios para os seus nacionais. Porém, este privilégio não pode exceder os limites impostos pelas garantias e direitos fundamentais, devendo estes, ser assegurados a todos os indivíduos, incluindo aqui os estrangeiros.
Isto posto, o Princípio da Não Denegação da Justiça impõe o acesso, de todos, a um provimento jurisdicional. Este princípio está intimamente ligado à questão da inafastabilidade do poder judiciário, onde este, enquanto possuidor do poder de julgar, não pode se abster de conceder um provimento jurisdicional para aquela pretensão que rompera a sua inércia, pretensão provinda tanto de nacional, quanto de estrangeiro.
Contudo, apesar do exposto, cumpre esclarecer que a ideia de provimento jurisdicional não se limita, apenas, ao direito de ação que os indivíduos, nacionais ou estrangeiros, se utilizam para ter satisfeita sua pretensão. Este princípio é muito maior que isso, pois engloba as questões de que todos têm o direito, além do de ação, de defesa, de ser ouvido e de ter a sua causa examinada e julgada por um juiz imparcial.
IV.4 – Princípio da Cooperação Judicial
Trata-se de um princípio do Direito Internacional como ciência geral que tem papel delimitador quanto à liberdade dos Estados no exercício de fixação de suas regras de competência internacional. Diz respeito a atos, práticas e regras de boa vontade, amizade e cortesia no intercâmbio mútuo entre os Estados soberanos. Num mundo juridicamente dividido, se apresenta como exigência fundamental para prestação de tutela jurisdicional efetiva.
Há entre os povos uma obrigação de assegurar o que seria o objetivo geral de todas as sociedades, a consecução da justiça. Justamente aí que encontram base o respeito de imunidades, o reconhecimento de sentenças estrangeiras, além da própria cooperação entre jurisdição dos diferentes Estados. Case ressaltar inclusive que o dever de cooperação entre os Estados encontra-se refletido na própria Carta das Nações Unidas, na definição de seus propósitos.[4: Article 1 The purposes of the United Nations are: 2. To develop friendly relations among nations based on respect for the principle of equal rights and self-determination of peoples, and to take other appropriate measures to strengthen universal peace. 3. To achieve international co-operation in solving international problems of an economic, social, cultural, or humanitarian character, and in promoting and encouraging respect for human rights and for fundamental freedoms for all without distinction as to race, sex, language, or religion...]
Caso as autoridades deixem de observar e considerar os princípios e valores que guiam a comunidade nacional que lhes delegou dada jurisdição, surge o risco de transformar as leis em uma espécie de manifestação ditatorial e mesmo usurpadora da autoridade originária.
Em vista da necessidade de coexistir, surgem limites à vontade do Estado. Ao restringir sua jurisdição e reconhecer a existência de outros ordenamentos jurídicos independentes, o Estado admite que pode ter de recorrer a esses outros ordenamentos, como procedimento necessário para o exercício de sua própria função jurisdicional. Como não pode por si assegurar o cumprimento de notificações, produção de provas ou mesmo efetivação de sentenças fora de suas fronteiras, o Estado, para cumprir seu papel, terá que se socorrer da cooperação das autoridades de outros Estados.
A cooperação internacional é uma necessidade à ideia de soberanias que convivem pacificamente numa comunidade internacional, o que revela uma importante diretriz ao processo civil internacional, em especial a competência internacional. No Brasil, o princípio da cooperação é objeto de disposição constitucional expressa, artigo 4º, IX da CF, de modo a influenciar de forma substancial as normas sobre competência internacional, condicionando-as a uma pacífica convivência, buscando evitar conflitos ou desproporcionalidades.
IV.5 – Princípio da Inconveniência do Foro
Quando ocorrer que duas justiças, uma nacional e uma estrangeira, forem declaradas igualmente competentes, será necessário analisar qual delas é mais adequada ao caso, ou seja, qual a lei mais conveniente para que haja a perfeita realização do princípio da justiça.
Quando uma ação é proposta em determinado foro, de determinado país, aquela lei será aplicável, mas poderá haver situações em que, dependendo da matériatratada, a lei daquele país tenha competência concorrente com a de outro. Nesses casos, o juiz deverá analisar se a lei estrangeira será melhor aplicável ao caso e, se o for poderá declarar de ofício ou a requerimento da parte, sua incompetência para julgar a causa em razão da competência de outro país.
Mas, para que possa haver a determinação da competência de outro país por ser mais convenientemente aplicável, será necessário que se analise três pontos, fundamentais para a determinação da matéria em questão: I) se as justiças são concorrentemente competentes e se não existe competência exclusiva de uma ou outra justiça; II) o processo não seja extinto, em razão da incompetência do país que se trava a demanda, por foro não conveniente, seja apenas suspenso até que o outro país declarado competente de manifeste; III) a inconveniência deve ser significativa, de forma que, se não decretada, prejudicará a eficiência da prestação jurisdicional.
Portanto, acima de tudo, este princípio visa a consecução da justiça na sua amplitude, na medida em que, através do direito comparado, aplica a lei mais conveniente, de forma a fazer com que a prestação jurisdicional seja proporcionada da melhor maneira possível.
IV.6 – Princípio da Territorialidade
As normas de Direito Processual Civil que têm como objeto um elemento estrangeiro são, em todos os países, de disposição interna, uma vez que todos eles possuem soberania e usufruem de liberdade e independência, decorrentes da autonomia inerente à ideia de Estado soberano. Em sendo assim, nenhum país pode interferir e impor regras de processo civil, e nem de qualquer outra matéria, a outros países, sob pena de menoscabo da soberania.
Esta regra pode sofrer exceções, como ocorre quando é firmado um tratado ou uma convenção a respeito de determinada matéria. Entretanto, essa exceção é relativa, uma vez que não há uma imposição de regras de um Estado a outro, e sim uma avença entre eles, caracterizando o Princípio da Cooperação Judicial.
Portanto, em territórios alheios, um Estado estaria, em princípio, impedido de exercer qualquer poder no território de outro Estado, salvo com a concordância da ordem política ali instituída ou por meio do uso abusivo da força.
O poder/dever de conceder a prestação jurisdicional, nos limites de seu território, é pleno e ilimitado, assim proclamado como regra geral pelo Direito Internacional, excepcionado apenas pelas limitações estabelecidas por sua própria legislação e, em alguns casos, por construção jurisprudencial.
IV.7 – Princípio da Imunidade de Jurisdição
O professor HAROLDO VALLADÃO conceitua ‘imunidade de jurisdição’ como sendo “a isenção, para certas pessoas, da jurisdição civil, penal, administrativa, por força de normas jurídicas internacionais originalmente costumeiras, praxe, doutrina, jurisprudência, ultimamente convencionais, constantes de tratados e convenções.” A imunidade jurisdicional dos Estados, em regra, não tem caráter universal, mas impede que eles sejam demandados juridicamente perante os tribunais de outro Estado por atos praticados no exercício de seu jus imperii – salvo em caso expresso de renúncia a essa imunidade. Os atos típicos da atividade civil/comercial internacional, cuja prática é irrestrita a qualquer particular, estariam excluídos da imunidade, por escaparem ao seu próprio fundamento.
Nesses casos, o Estado estaria equiparando-se a um simples particular, permitindo seu chamamento perante um tribunal estrangeiro. Nesse sentido, deixa a imunidade dos Estados de ter uma natureza meramente subjetiva (o Estado era imune por sua própria condição de Estado) para exigir que também sejam levados em conta os aspectos objetivos do ato praticado (o Estado é imune apenas na hipótese daqueles atos praticados no exercício de sua soberania). Os principais pressupostos da imunidade jurisdicional são três: a) imunidade do Estado estrangeiro e seus órgãos; b) imunidade das missões diplomáticas e consulares; c) imunidade de organismos internacionais.
IV.8 – Princípio do Acesso à Justiça
No Brasil, esse princípio foi elevado à condição de direito fundamental na Constituição da República e possui um conteúdo amplo, com bases expressas no artigo 5º, XXXV, da Constituição. Está relacionado com a necessidade de se assegurar que todos tenham acesso ao Judiciário, independentemente de sua condição econômica e que essa tutela seja efetiva.
Deve-se garantir aos litigantes estrangeiros o amplo acesso ao Judiciário e uma efetiva tutela jurisdicional. Esse princípio deve ser analisado juntamente com o da igualdade processual das partes o qual possui como um de suas diretrizes o não estabelecimento de custas ou cauções especiais para litigantes estrangeiros. Esse tipo de determinações para litigantes estrangeiros viola o princípio do acesso à justiça.
É possível que em determinadas situações, em razão da própria presença de elementos de internacionalidade da relação jurídica, um tribunal nacional não venha a se mostrar, do ponto de vista de uma das partes envolvidas, como o mais adequado para a solução do litígio pendente. Portanto, uma vez que a norma de fixação da competência, no plano internacional, funciona como uma chave de acesso aos órgãos jurisdicionais de um determinado Estado, ela deve, forçosamente, levar em consideração esses aspectos.
Contudo, essa análise do Tribunal mais adequado não significa que a lei nacional vá determinar qual o juiz competente para a apreciação da matéria, o que não lhe cabe de todo. Com mais propriedade, sua inação apenas aponta, implicitamente, para a provável existência de um outro sistema que, conforme suas próprias regras legais, estime-se, contrario sensu, em condições de melhor erigir sua competência para a matéria.
V – A COMPETÊNCIA INTERNACIONAL NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E NA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE
O Estado brasileiro tem motivos jurídicos para querer solucionar determinados litígios em que, muitas vezes, somente o interesse é suficiente para justificar a sua atuação em regime de não exclusividade com a justiça de outros países. São estas as chamadas hipóteses de competência concorrente na justiça do Brasil, nas quais, como explícito no próprio nome, existem hipóteses em que a Justiça brasileira considera-se competente para julgar uma demanda, não isolando a possibilidade de ser julgada também por um Juízo estrangeiro. Nos casos em que há competência concorrente, não cabe a prorrogação, considerando-se que é termo utilizado na competência interna.
As hipóteses de competência exclusiva, por outro lado, tem como única solucionadora do litígio a autoridade judiciária brasileira, de forma a excluir qualquer juízo estrangeiro por ineficácia no território brasileiro, já que não cabe às normas de competência internacional dizer aos Estados estrangeiros quais causas eles podem ou não processar.
V.1 – AS HIPÓTESES DE COMPETÊNCIA CONCORRENTE
As hipóteses de competência concorrente encontram-se dispostas nos Arts. 21 e 22 do CPC, como vimos na aula anterior. A partir dos artigos mencionados, é possível constatar que o Brasil não considera, portanto, a nacionalidade das partes como elemento de conexão para fixar a competência de seus Tribunais.
Tendo em vista que o primeiro critério para determinação da competência internacional da Justiça brasileira é o domicílio do réu, é necessário perceber a independência de sua nacionalidade. A regra é a de “maior amplitude e menor intensidade” no que concerne as hipóteses de determinação da competência internacional.
A função de ter a competência determinada pelo domicílio do réu é dificultar que brasileiros sejam demandados no exterior, além de deixar mais acessível para que sejam demandados aqui. Deve ser ressaltado ainda que domicílio não se confunde com residência, de forma que o local que deve ser levado em consideração é aquele em que o réu teve vontade definitiva de se estabelecer, onde presume-se que a pessoa esteja.
No caso de haver litígio envolvendo pessoas jurídicas que possuem diversos estabelecimentos,deve ser adotado cada um como domicílio para os atos nele praticados, ressaltando-se ainda que é necessário que as demandas sejam relativas a atos próprios da agência, filial ou sucursal localizadas no Brasil.
No caso de haver mais de um réu e apenas um ser domiciliado no Brasil, a Justiça brasileira será competente para julgar somente se tal réu não se insurgir. A aplicação balanceada dos princípios informativos é o que proporcionará solução adequada para conflitos de jurisdições.
Outro fator importante para a fixação da competência internacional tem como base o fato de o réu não ter nem domicílio nem residência no Brasil, fica disposto neste caso que será feita a propositura da ação no foro de domicílio do autor, que caso também resida fora do Brasil, será proposta em qualquer foro.
Ainda quanto ao domicílio do réu na fixação da competência internacional fica disposto que no caso de o réu mudar de país no curso da ação não modifica a regra de competência.
A segunda regra para fixação de competência internacional dispõe que a Justiça brasileira é competente quando no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação, sendo irrelevante o domicílio do réu, e estando disposto ainda que o local de pagamento da prestação deve seguir os seguintes critérios: 1- a vontade expressa ou tácita dos figurantes; 2- a natureza da obrigação; 3- a lei.
O local de cumprimento da obrigação abrange também as ações que versam sobre o descumprimento de obrigação a ser cumprida no Brasil, sendo necessário que pelo menos a parte do contrato que se refere à obrigação que é objeto da ação seja cumprida em território brasileiro.
A terceira e última regra para fixação de competência internacional versa a respeito de fato ocorrido ou ato praticado no Brasil, na qual está disposta a competência da autoridade judiciária brasileira para julgar; sendo que deve ser entendido como fato todo e qualquer acontecimento em território nacional, suscetível de provocar consequências jurídico-materiais.
O local onde o ato foi praticado entende-se ser aquele que, segundo a lei de direito material aplicável, considera-se que o negócio jurídico se aperfeiçoou. No caso de o fato danoso ter ocorrido fora do território brasileiro, a justiça brasileira não tem competência para processar e julgar ação indenizatória.
V.2- AS HIPÓTESES DE COMPETÊNCIA EXCLUSIVA
O CPC dispõe como primeira hipótese de competência exclusiva, as ações relativas a imóveis situados no Brasil, e que tem como critério a proteção do território nacional, uma vez que sentenças estrangeiras sobre imóveis situados nó país seria a mutilação do território, o que é vedado na CF.
Estão inclusas nas ações relativas a imóveis além das ações reais, as ações de despejo e possessórias, ficando disposto ainda que um Juiz brasileiro pode negar a sua competência para versar a respeito de ação sobre imóvel localizado no exterior, somente se a Justiça do foro em que está o imóvel seja exclusivamente competente para lidar com a causa.
A segunda hipótese de competência exclusiva disposta no inc. II do art. 23, do CPC, versa a respeito do inventário e partilha de bens situados no Brasil, tendo como base o Art. 5º, XXXI, da CF, que visa a proteção do cônjuge ou filhos brasileiros, de forma que a lei brasileira regulará a sucessão de bens estrangeiros situados no Brasil.
O CPC ao dispor a respeito de bens, inclui não apenas bens imóveis como disposto na primeira hipótese, mas inclui também bens semoventes e móveis, tornando a abrangência do dispositivo ainda maior, tendo-se em vista ainda que são bens móveis situados no Brasil as empresas brasileiras e estrangeiras com filial ou agência no Brasil, os títulos cambiários, e o dinheiro que esteja depositado no Brasil.
Além das hipóteses de competência exclusiva taxadas no Art. 23 do CPC, há que considerar-se também aquelas presentes em legislação extravagante como: Anulação de patente registrada no Brasil ou falência de comerciante domiciliado no Brasil, sendo que a primeira dispõe a respeito da proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, sendo necessário que o titular da patente registre perante o órgão federal competente, de forma que possam ser assegurados os direitos do autor ou inventor no Brasil; quanto à falência de comerciante domiciliado no Brasil, estão consagrados dois sistemas: no primeiro está disposto que a falência declarada em um país deve-se estender em seus efeitos aos outros países, de forma a atrair para só um juízo a competência para administrar a massa falida e resolução dos litígios. O segundo sistema concerne à pluralidade, de forma que a falência declarada em uma jurisdição não tem efeitos em outra.
A justiça brasileira é competente para decretar falência do devedor que tem no Brasil seu principal estabelecimento e para decretar falência de filial de empresa com sede fora do Brasil; de forma que é possível perceber que a competência da autoridade judiciária brasileira para processar a falência de devedores aqui domiciliados é concorrente, não exclusiva, no entanto, quanto aos efeitos da falência pode-se verificar competência exclusiva.
V.3- COMPETÊNCIA DIRETA E INDIRETA. HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA E CARTAS ROGATÓRIAS.
A competência internacional classifica-se além de como concorrente e exclusiva que dizem respeito à sua prevalência em face de outras jurisdições, como direta e indireta no que diz respeito à sua forma e momento de afirmação. A direta concerne as regras de determinação de quando os Tribunais domésticos são competentes no âmbito internacional perante um processo com conexão internacional instaurado no próprio país. A afirmação da competência internacional se dá de forma indireta no caso de litígios transnacionais julgados por juiz ou Tribunal estrangeiro, em que a competência internacional é verificada no processo de deliberação e homologação de sentença estrangeira, uma vez que, a inexistência de competência exclusiva da Justiça brasileira para causa é requisito para homologação, considerando-se que é uma questão de ordem pública.
A necessidade de verificar se a sentença estrangeira não ofende a competência exclusiva do poder judiciário brasileiro é requisito negativo para homologação, pois cabe ao STF, exercer o juízo de deliberação, analisando de quem deve ser a competência para julgar.
VI- CAUSAS DE MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
VI.1- LITISPENDÊNCIA INTERNACIONAL
O Art. 24 do CPC dispõe que “a ação intentada contra tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta que a autoridade brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas”, de forma que se deve analisar a relevância ou irrelevância da litispendência no exterior e no território nacional.
A questão da litispendência só faz sentido ao considerarem-se ambos os juízes competentes, sendo um problema de competência concorrente, uma vez que se em um dos países em que se processam as demandas idênticas, a competência para a causa é exclusiva, de forma que a existência da lide estrangeira no outro país é completamente irrelevante.
O que acontece na prática no Brasil quanto à litispendência internacional é que se a ação estrangeira se encerrar antes da brasileira e a sentença estrangeira for homologada pelo STJ, o processamento da ação brasileira será obstado, com extinção da ação em razão da existência de “coisa julgada”.
O art.24 do CPC não apresenta equívoco algum no que tange à questão de que não seria correto obstar o andamento de uma ação no Brasil devido ao simples fato de existir uma demanda idêntica tramitando perante juízo estrangeiro, no entanto tal regra não deveria ser indiscriminadamente aplicada, sem serem admitidas exceções, sendo que não é irrelevante sempre para o Juiz brasileiro o trâmite da ação estrangeira, ainda mais considerando-se situações de evidente abuso processual. A norma do art. 24, portanto, mesmo sendo uma regra geral, deve ser analisada no caso concreto.
A questão da litispendência internacional, apesar de disposta no art. 90 do CPC de forma geral, temtambém disposições mais específicas presentes em convenções e tratados internacionais. 
No que diz respeito ao Brasil, por exemplo, foi celebrado no Mercosul o Protocolo de Buenos Aires sobre jurisdição internacional em matéria Contratual, de forma a estabelecer uma série de regras a respeito do exercício da jurisdição entre as partes signatárias, o que será tema de aula específica.
VI.2- CONEXÃO E CONTINÊNCIA
A conexão e a continência podem servir algumas vezes para determinar a competência do juiz brasileiro, mesmo não estando diante das hipóteses de competência previstas nos Arts. 21 a 23 do CPC.
Na hipótese, por exemplo, de exercício de direitos processuais constitucionalmente assegurados por parte em processo tramitando no Brasil, é necessária a extensão da competência do Juiz brasileiro para uma causa que a princípio não lhe caberia, é a chamada conexão, que pode atuar também como fator de exclusão da competência do juiz brasileiro.
A verificação de ação conexa à de um juiz no Brasil, sendo concorrente a competência, pode acarretar, portanto, a exclusão da competência do juiz brasileiro. Por outro lado, não se pode atribuir a um juiz determinada causa que ordinariamente não lhe pertenceria, mesmo ocorrendo a conexidade, quando o outro país a tem por EXCLUSIVAMENTE sua.
A conexão e continência podem atuar, portanto, como critério de modificação da competência, tanto para atribuir ao juiz brasileiro causa para a qual, a princípio ele não seria competente, como para excluir sua competência para causa que, a princípio lhe caberia.
CONCLUSÃO
Nesta aula conceituamos, ainda que basicamente, os pressupostos da questão da competência internacional, explicitando seus princípios básicos e fazendo um paralelo da matéria com o direito brasileiro, visando trazer para a prática os conceitos teóricos trabalhados.
Foi visto que, dependendo do objeto da demanda, a jurisdição de um país pode ser exclusivamente competente, casos em que, se negativa, o país terá de se declarar incompetente, respeitando a questão da submissão, ou, se positiva, terá de julgar a lide, sob pena de violação do princípio da denegação da justiça; ou poderá ter competência concorrente e, nestas situações, o juiz e as partes analisarão a melhor lei a ser aplicada, levando em consideração o Princípio da Inconveniência do Foro.
Não se pode deixar de evidenciar que o estrangeiro, embora seja indivíduo estranho à sociedade nacional, deverá usufruir das mesmas garantias fundamentais dos nativos, exercendo seu direito enquanto ser humano e habitante de determinado país.
Nessa vereda, cumpre salientar que quem disciplina qualquer lei é o próprio Estado, enquanto ente soberano, usufruindo da sua independência e autonomia para delimitar os limites e conceder os direitos e deveres aos seus nacionais e estrangeiros, não podendo haver distinção entre eles quando se tratar de direitos e garantias fundamentais.
Contudo, em se tratando de relações jurídicas que tenham como parte uma pessoa, física ou jurídica, estrangeira, o Estado irá disciplinar, através de seu ordenamento jurídico, como determinado caso será examinado e julgado. E são nessas situações em que mister se faz a introdução de normas de direito internacional privado em tal ordenamento.
As normas de direito internacional privado não são normas materiais, substantivas, mas meramente indicativas, que buscam estabelecer qual o direito aplicável a determinado caso, e não resolvê-lo. É por isso que a questão da competência exclusiva ou concorrente deve ser minuciosamente analisada, de forma a evitar decisões injustas, simplesmente pelo fato de haver uma lei que poderia ter sido melhor aplicada e não o foi.
É com essa finalidade (aplicação de uma “justiça mais justa”) que cada Estado visa regulamentar matérias ligadas às relações jurídicas de direito internacional privado com conexão internacional, além das questões de competência, exclusiva ou concorrente, dos Estados participantes da lide.
No caso do direito processual brasileiro, as normas sobre competência internacional estão disciplinadas na Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (antiga Lei de Introdução ao Código Civil). Lá estão dispostas normas que versam sobre quando o Brasil possui competência exclusiva e quando possui competência concorrente, além de estabelecer os elementos de conexão das diferentes relações jurídicas de direito internacional privado, quando for verificado que uma lei estrangeira é melhor aplicável do que a lei interna.
Portanto, resta evidente que a competência internacional não é simplesmente uma questão jurídica, onde se aplicarão normas positivadas, sem que se faça uma análise mais apurada do caso concreto, levando em consideração também os elementos subjetivos que abrangem a relação jurídica.
Antes de mais nada, o direito internacional privado é uma disciplina que tem, como seu escopo principal, a consecução da justiça, verdadeira e limpa, de modo a proporcionar o melhor provimento jurisdicional possível à relação em questão. Para isso, será necessário que haja uma cooperação judicial internacional, onde os países devem se unir para que possam conceder um melhor amparo às relações jurídicas internacionais.

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