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1 ÍNDICES DE PRODUTIVIDADE DA PECUÁRIA DE CORTE * Aristeu Mendes Peixoto INTRODUÇÃO Bastaria um exame rápido nos dados estatísticos dos levantamentos e relatórios apresentados nos últimos dez anos pelas entidades internacionais preocupadas com a produção de alimentos no mundo, para se constatar que o aumento da produtividade constitui a grande prioridade nas recomendações sugeridas pelos estudiosos do assunto. De fato, a população do mundo continua a se expandir em ritmos assustadores, em particular nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. É geralmente aceito, também, que são poucas as esperanças de se reduzir substancialmente esses acréscimos populacionais neste final de século. Por outro lado, é pouco provável que a expansão da área agricultável do planeta possa atingir aumentos superiores a 1% ao ano. Por conseguinte, parece fora de dúvida que aumentar a produtividade agropecuária representa a chave para solucionar o problema da desnutrição e inanição das futuras gerações nas próximas décadas. A experiência universal do homem moderno tem mostrado que, ao se aumentar o poder aquisitivo das populações, a preferência do consumidor se altera, movendo-se em direção de maior proporção de produtos animais em sua dieta diária. É o que mostram, com muita evidência, os resultados apresentados na Tabela 1, sobre o consumo de proteínas em países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Embora os dados se refiram a 1968, e o Brasil esteja classificado como país subdesenvolvido, as comparações são ainda a grande atualidade. Estimativas recentes obtidas em países em desenvolvimento revelam que os produtos animais contribuem com 12 a 35% da proteína dietética (12). Estas cifras podem ser consideradas razoavelmente precisas para as grandes camadas da população da zona rural, mas superestimam o consumo dos habitantes das zonas urbana e suburbana. O aumento demográfico nos grandes centros urbanos, segundo estatísticas publicadas pela FAO, desde 1972, vem se verificando numa taxa média que é cerca de 4 a 5 vezes maior do que na população dos países como um todo (10). Como decorrência está se observando uma nova tendência para mudança nos hábitos de aquisição e consumo de alimentos pelo povo, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, com expressivo incremento de produtos não amiláceos, especialmente o leite, as hortaliças e as chamadas carnes vermelhas. * Trabalho publicado nos Anais do 3º Simpósio sobre Manejo de Bovinos no Trópico, 1978, sob patrocínio da Fundação Cargill. 2 Tabela 1. Consumo de proteínas em países desenvolvidos e sub-desenvolvidos (gramas/pessoa/dia). Proteína Proteína Países animal vegetal Total Argentina 48 43 91 Canadá 65 31 96 Estados Unidos 65 27 92 França 52 46 98 Nova Zelândia 75 35 110 Média 61 (63%) 36 (37%) 97 Brasil 19 48 67 China Nacionalista 14 42 56 Filipinas 15 34 49 México 20 68 88 Rodésia 16 65 81 Média 17 (25%) 51 (75%) 68 Fonte: World Conference on Animal Production, 1968. Os numerosos estudos sobre o problema levam à inevitável conclusão de que o nível nutricional atual pode ser considerado francamente baixo em muitos países. Calcula- se que, no mínimo, 40% da população mundial sofre de desnutrição, cuja causa principal reside na carência de proteínas de qualidade superior, como são as de origem animal. Já em 1963, a FAO estima que, em relação ao ano 2000, a produção total de alimentos deveria aumentar em cerca de 174%, ao passo que a de origem animal deveria fazê-lo aproximadamente 208%, a fim de garantir suprimento alimentar adequado (6). Nos países em desenvolvimento, onde as necessidades são mais urgentes e prioritárias, e a população cresce mais rapidamente, a cifra correspondente ao acréscimo da produção animal deveria ser da ordem de 483%, tendo em vista alcançar dietas ao nível de 2.450 calorias e 21 gramas de proteína animal por pessoa e por dia. O problema básico reside, pois, em produzir mais alimentos para nutrir uma população sempre crescente, utilizando áreas físicas cujas produções são limitadas e condicionadas por uma série de fatores, não apenas de ordem tecnológica, mas também cultural, social, e inclusive política. 3 CONCEITO DE PRODUTIVIDADE ANIMAL O sentido da palavra produtividade evoluiu muito ao longo do tempo. Ao que parece, o vocábulo foi empregado pela primeira vez por volta de 1500, mas somente a partir do século 18 a noção de produtividade começou a se tornar mais precisa. No século passado, a produtividade era simplesmente definida como a faculdade de produzir (20). O conceito hoje em voga se deve aos economistas franceses, que estabeleceram ser a produtividade uma relação mensurável entre o produto e os fatores de produção. A produtividade é, pois, o resultado da divisão da produção física, obtida num determinado período de tempo, por um dos fatores empregados na atividade produtiva. A produtividade agrícola apresenta uma característica peculiar, pois a produção pressupõe a existência de um transformador dotado de vida, a planta ou o animal, que transforma a energia em produto. Assim, a produtividade a ser alcançada depende em grande parte das condições ambientes, nas quais vive o transformador e que incluem não apenas os fatores físicos, mas ainda os fatores econômicos e sócio-culturais. No caso particular dos animais, as interações entre essas três categorias de fatores assumem, às vezes, aspectos inusitados, especialmente devido às produções que dependem do desempenho dos indivíduos em atributos repetíveis, no tempo como é o caso da produção de leite, ovos, lã etc. É fato conhecido que a produtividade animal é sempre menos eficiente que a das plantas. As observações comparativas a respeito mostram que os vegetais cultivados são capazes de produzir mais proteína e energia por unidade de área do que qualquer forma de produção animal. Os dados de VOHRA, ROBINSON & CARTER (19), resumidos na Tabela 2, revelam que até as batatas podem produzir, aproximadamente, de 2 a 10 vezes mais proteínas e 2 a 30 vezes mais energia por hectare do que os animais. Além disso, a eficiência alimentar em diferentes tipos de produção animal pode sofrer grandes variações, segundo a espécie ou classe considerada, conforme os dados de HOLMES em 1970, incluídos na Tabela 3, citados por MAESO (6). Como se pode comprovar nos dados de ambas as Tabelas 2 e 3, os animais não são muito eficientes para transformar os alimentos recebidos em proteínas ou energia. As proteínas animais são ainda de produção mais cara, como revelam os dados da Tabela 4, extraída do trabalho de JASIOROWSKY (5). Estes fatos e mais a alegação de que os animais domésticos estariam cada vez mais competindo com o homem na utilização dos alimentos disponíveis levaram alguns estudiosos a preconizar uma solução extremada de eliminação completa do gado, e à utilização de todos os grãos produzidos no mundo para consumo humano. Esta paradoxal proposta se alicerceia ainda na espetacular diferença verificada quanto aos rendimentos obtidos nas produções animal e vegetal no mundo. Segundo dados da FAO de 1974 (21), no período de 1950-1971, os rendimentos médios na produção de carne bovina, leite e produtos avícolas acusaram incrementos da ordem de 13, 42 e 117%, os quais devem ser considerados medíocres quando comparados ao acréscimo médio de 168% experimentado pelos cereais de consumo humano. 4Tabela 2. Produção anual de animais e plantas nos Estados Unidos. Calorias Proteínas Produtos Mcal/ha x 103 kg/ha x 103 Trigo 69,5 2,5 Milho 185,9 4,6 Batatas 227,3 3,8 Soja 68,1 6,4 Laticínios 37,2 1,9 Carne bovina 7,3 0,5 Carne ovina 8,0 0,4 Suínos 31,5 0,8 Aves 16,0 1,2 Ovos 19,2 1,5 Fonte: Feedstuffs, 47: 19-25, 1975. Tabela 3 Eficiência alimentar em distintos tipos de produção animal (segundo HOLMES, 1970). Espécies 1 (%) 2 (%) 3 (%) 4 (g) 5(9) e classes Vacas leiteiras 21 12 23 10 5,4 Gado de leite e corte 20 11 20 9 4,7 Gado de corte 7 4,5 6 2,6 1,5 Ovinos 3 1,7 3 1,3 0,8 Suínos 23 17 12 6 4,0 Frangos de corte 13 10 20 11 7,7 Galinhas poedeiras 15 11 18 11 8,0 (1) Energia líquida x 100/Energia metabolizável consumida. (2) Energia líquida x 100/Energia bruta consumida. (3) Proteína fixada x 100/Proteína bruta consumida. (4) proteína fixada x 100/Energia metabolizável consumida (Mcal). (5) Proteína fixada x 100/Energia bruta consumida (Mcal). Os defensores de Uma agricultura somente de plantas e grãos, todavia, parecem ignorar que, mesmo nos países desenvolvidos, cerca de 65% das unidades alimentares consumidas pelo gado (18) são derivados de forragens volumosas de pastagens artificiais, campos naturais e subprodutos do processamento industrial de alimentos, que são considerados impróprios ou não desejados para o consumo humano. Em verdade existe uma gama muito ampla de resíduos agrícolas e industriais, inaceitáveis ou indigestíveis para o homem, que podem ser incorporados às rações animais, com repercussão mínima sobre a disponibilidade de recursos alimentares para a humanidade. 5 Tabela 4. Custo comparativo de 1kg de proteína líquida utilizável de diferentes fontes, animais e vegetais, em 1974. Proteína US Carne bovina 7,17 Carne de frango 5,43 Arroz 3,76 Farelo de algodão 3,45 Leite desnatado em pó 1,74 Feijões 1,43 Trigo 0,90 Farinha de soja 0,68 Fonte: JASIOROWSKY (1975). The developing world as a source of beef for world markets. FAO, Rome. Além disso, esses pesquisadores de soluções simplistas desconhecem o imenso potencial de recursos ainda inexplorados pela produção animal que se encontra nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Segundo JASIOROWSKY (5), os países em desenvolvimento contam com 70% da população de bovinos e búfalos do mundo, mas produzem somente 34% da carne bovina e 21% do leite consumidos pelos povos civilizados. Portanto, mais uma vez, a solução para o problema de maior disponibilidade de alimentos para o homem deve consistir muito mais no aumento da produtividade de plantas e animais e nunca na eliminação desses últimos, deixando de aproveitar o rico potencial que representam. Segundo BYERLY (1), seria possível estimar o potencial de subprodutos e forragens volumosos de várias regiões no mundo utilizáveis na produção de proteína animal na forma de leite, carne ou ovos. A Tabela 5 demonstra que, se um pleno uso fosse realizado desses subprodutos e forragens disponíveis, eles suportariam a produção de uma enorme quantidade de proteína animal para o consumo animal, sem determinar qualquer competição entre o homem e os animais quanto ao suprimento alimentar. Cabe ainda lembrar que as plantas, embora de eficiência de transformação mais alta e barata, apresentam limitações de ordem climática que restringem seu aproveitamento às áreas em que hoje se desenvolvem. Com os animais tal não sucede, pois, em sua grande maioria, as espécies domésticas são adaptáveis a todas as zonas climáticas, fazendo uso de vastas áreas onde as plantas de elevada produção jamais poderiam ser exploradas economicamente. 6 Tabela 5. Estimativas da produção de subproduto e forragens volumosas para alimentação animal em várias regiões. Unidades alimenta- Unidades animais Proteína alimentar diária res em subprodutos possíveis de por cabeça a ser Regiões e forragens alimentar à base obtida através de: de 2,45t cada (milhões de toneladas) (milhões) Leite Carne ou ovos (g) (g) Estados Unidos 198 81 75 40 Canadá 30 12 33 15 Europa 201 82 103 60 URSS 273 111 105 57 América Latina 189 76 54 30 Ásia Comunista 314 128 22 12 África 320 130 78 43 Oceania 157 64 600 330 Fonte: BYERLY, C.T. J. Animal Science, 25: 552, 1976. Ao discutir os conceitos de produtividade, não se deve esquecer que existe sempre um claro limite fisiológico ou econômico para melhoria da produção. De fato, estando na dependência do transformador, a produtividade animal fica condicionada à sua capacidade genética de aproveitar os alimentos, adaptar-se ao meio em que vive, e apresentar os desempenhos compatíveis. Por outro lado, toda produtividade agrícola deve passar por um teste econômico, para verificar se a tecnologia ou o sistema de manejo empregados estariam levando a custos compensadores de produção. Por esses motivos, não parece justa a análise comparativa pura e simples de índices de produtividade obtidos em diferentes regiões ou países, sem levar em conta os fatores determinantes ou condicionantes do tipo de produção em estudo. Um exemplo claro, lembrado por MAESO (7), é o da produção de leite. No momento atual, em vários países desenvolvidos se obtêm quantidades elevadíssimas de leite por animal, ou por hectare, graças à administração maciça de concentrados, sistema este que, para muitas áreas do mundo, está se tornando cada vez mais oneroso. Do ponto de vista exclusivamente econômico, pode ser preferível produzir menos leite por animal ou por hectare, isto é, alcançar uma produtividade menor, porém a custos mais baixos. ÍNDICES DE PRODUTIVIDADE DA PECUÁRIA DE CORTE A importância relativa da carne bovina pode ser avaliada pelo fato de ser esta a mais consumida de todas as carnes com uma larga vantagem sobre as demais, exceto no Extremo Oriente e no Oriente Médio. 7 Na Tabela 6, extraída de JASIOROWSKY (5), observa-se que o consumo de proteína animal apresenta valor médio de 24 gramas/pessoa/dia, todavia com variação muito ampla entre as vária regiões do globo, desde 9,1 a 69,0 gramas. Quando se considera o consumo de proteína de carne, a variabilidade é maior ainda, com amplitude de mas de 10 vezes e com contribuição da ordem de 42% para carne de vaca. Tabela 6. Importância relativa das quatro classes de carnes vermelhas no suprimento de proteína animal para o consumo humano (segundo JASIOROWSKY, 1975). Gramas por pessoa/dia % da proteína de carne de Região Proteína Proteína Vaca Carneiro Porco Frango Outras animal de carne Extremo Oriente 9,1 3,3 22 7 45 15 11 África 10,8 5,5 50 16 3 7 24 Oriente Médio 13,4 5,7 36 42 0 4 18 América Latina 23,4 12,9 64 4 13 6 13 Europa 41,6 18,3 39 6 34 9 12 América do Norte 69,0 36,9 50 2 22 20 6 Mundo 24,0 9,4 42 5 29 13 11 Fonte: Committeeon Agriculture, COAG, 1974. O consumo de carne bovina, ainda segundo o autor citado, cresceu cerca de 3,1% ao ano, na última década, porém, as estimativas de consumo futuro, até 1980, são pessimistas, uma vez que se espera o acréscimo anual de apenas 1,1%, e ainda mais o decréscimo da ordem de 1,0% nos países em desenvolvimento. A Tabela 7, elaborada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (23), permite analisar a população mundial de bovinos, zebuínos e bubalinos, bem como a produção de carne de vaca e de vitela em várias regiões do mundo, em 1972. A produção mundial, excluída a China Comunista e a Índia, sobre as quais não existem dados sobre abate, é da ordem de 33,5 milhões de toneladas métricas e que correspondem aos seguintes índices de produtividade média: 50kg de carcaça/animal do rebanho e 13,0% de desfrute. 8 Tabela 7. População de bovinos, zebuínos e bubalinos, e produção de carne de vaca e de vitela em várias regiões, em 1972. Milhões de cabeças Produção de carne Região Total Excluindo Chi- Mil tons Excluindo kg car- Des- na Comunista métricas China Com. caça p/ frute* e Índia (%) e Índia (%) animal* (%) América do Norte e Central 156,6 23,5 11.864 35,4 76 35,0 América do Sul 180,7 27,2 5.289 15,6 29 13,5 Europa 121,7 18,2 7.835 23,3 64 32,0 URSS 102,4 15,4 5.363 16,0 52 25,0 África 38,4 5,7 946 2,6 22 3,4 Ásia 360,2 4,6 594 1,9 19 0,7 Oceania 36,2 5,4 1.742 5,2 48 21,5 TOTAL 996,2 100.0 33.533 100,0 50 13,0 Fonte: Foreign Agriculture Circular, Livestok and Meat, USDA-FAS, 1975. *Estimados excluindo-se os dados da China Comunista e Índia. Até 1972, considerados os últimos 20 anos (5), as taxas de crescimento da produção nos países em desenvolvimento, cerca de 2,3%, foram sempre mais baixas do que nos países desenvolvidos. O pequeno crescimento verificado se deu mais em função do aumento do número de cabeças, pois a produção por animal permaneceu mais ou menos constante durante aquele período, ao redor de 14kg de carcaça por cabeça e por ano. Dentre os países classificados como em desenvolvimento, 86% localizam-se inteiramente ou quase que inteiramente dentro das latitudes de 30% ao norte e ao sul do Equador, na faixa tropical do globo. Esses países, segundo McDOWELL (9), possuem, em efetivos animais, aproximadamente 55% da população bovina do mundo, 80% da de búfalos, 67% da de caprinos e 34% da de suínos, porém produzem menos de 20% do total de produção de carne atribuível àquelas espécies. Este fato, associado aos baixos índices de produtividade, tem levado muitos observadores a apoiar a hipótese de que esforços devem ser feitos para intensificar a produção de carne bovina nos trópicos. Duas áreas mundiais têm chamado a atenção dos estudiosos: a América Latina e África, onde significativamente são encontrados, segundo HODGSON (4),60% da população de ruminantes do mundo, vastas áreas de pastagens naturais, e grandes agrupamentos humanos crescendo a taxas muito altas e enfrentando sérios déficits alimentares. Na América Latina, a situação da pecuária de corte e leite foi descrita por MIRANDA (11) em trabalho apresentado no Seminário sobre o potencial da produção de gado de corte na América Tropical, na Colômbia, em 1974. Dele extraímos os dados constantes da Tabela 8, por onde se pode observar que os índices de produtividade, além de baixos, se caracterizam ainda por grande amplitude de variação. Somente as grandes 9 extensões de terras exploradas pelos produtores podem explicar a manutenção da pecuária em níveis tão fracos, por animal e por hectare. Tabela 8 Índices de produtividade do gado e sua variação na América Latina. Amplitude Índices de variação Taxa de abate (%) 7,2 -26,5 Peso médio da carcaça. (kg) 164 - 220 Carcaça por animal em pé (kg) 13 - 50 Carcaça por hectare de pasto (kg) 14 - 52 Idade de abate (anos) 4 - 5 Mortalidade de adultos (%) 5 - 6 Natalidade (%) 40 - 60 Leite por vaca de lactação (1kg) 720 - 1920 Fonte: MIRANDA, R.M. Seminário sobre Potencial de Produção do Gado de Corte na América Tropical, CIAT, Colômbia, 1974. Segundo estimativas do CONDEPE, apresentadas por MATOSO & FRANCO (8), o Brasil possuía, em 1975, rebanho bovino de 90.011.037 cabeças, correspondendo, portanto, a praticamente 50% dos efetivos bovinos encontrados na América do Sul (ver Tabela 7). A taxa de crescimento do rebanho, observada entre 1950 e 1970, da ordem de 2,78% ao ano, aumentos ligeiramente para 3,0% no período de 1970-1976. Todavia, este aumento de efetivos não foi acompanhado por melhoria dos índices de produtividade, como se pode verificar pelo exame da Tabela 9. Este fato vem comprovar a observação já mencionada para os países em desenvolvimento, de que o aumento da produção de carne bovina vem sendo obtido à custa de crescimento vegetativo do rebanho. Tabela 9. Evolução da pecuária bovina de corte no Brasil (1970-1976). Rebanho Abates Taxa de Peso médio Produção Nº de bo- kg de car- (1000 (1000 abate da car- carcaças vinos do caça/ca- Anos cabeças) cabeças) (%) caça (kg) (1000 rebanho/t beça do ton.) carcaça rebanho 1970 78.528 9.576 12,2 198 1.896 41,6 24 1971 80.397 9.366 11,6 193 1.817 45,5 22 1972 83.770 10.410 12,4 194 2.020 41,6 24 1973 86.702 10.870 12,5 194 2.110 41,6 24 1974 89.736 11.340 12,6 194 2.200 41,6 24 1975 90.011 10.817 12,0 195 2.119 43,5 23 1976 95.520 11.118 12,0 195 2.172 43,5 23 Fonte: Censo - Fundação IBGE (1970) Estimativas do Ministério da Agricultura e CONDEPE (1971.76). 10 Num confronto com outros países produtores de carne bovina, o Brasil se revela em flagrante inferioridade, quanto aos índices de desempenho dos animais, como se pode facilmente constatar numa comparação dos resultados da Tabela 10, que incluem os maiores abatedores do mundo. As taxas de abate (12,0%) e de desfrute (15,0%) são as mais baixas entre os 10 países selecionados, e isto significa que o Brasil precisa manter 43 cabeças no rebanho para produzir urna tonelada de carcaça, ao passo que a Alemanha Ocidental, os Estados Unidos e o Canadá alcançam a mesma produção com 11, 12 e 14 animais, respectivamente. É significativa a situação da Nova Zelândia e da Austrália, países de pecuária de corte extensiva, como no Brasil, que apresentam valores médios para o peso da carcaça inferiores ao do nosso País, porém com taxas de abate e desfrute bem mais elevadas. Tabela 10. Produtividade do rebanho bovino de alguns países produtores de carne bovina (média do período 1972-1974). Rebanho Abate Taxa de Taxa de Peso mé- Nº de kg de car- Países 1000 1000 abate desfrute dio da bovinos caça/cab. cabeças cabeças (%) (%) carcaça do reb/t do re- (kg) carcaça banho 1º Alemanha Ocid. 13.965 3.048 36,1 36,9 246 11,2 89,3 2º Est. Unidos 122.355 38.723 31,6 35,3 266 11,9 84,03º Canadá 12.703 4.059 32,0 35,3 225 13,9 72,0 4º Reino Unido 14.377 3.893 27,1 33,0 244 15,1 66,2 5º Nova Zelândia 9.092 2.997 33,0 35,4 141 21,5 46,5 6º Austrália 29.10,4 7.229 24,8 33,0 180 22,3 44,8 7º Polônia 12.223 4.203 34,4 40,0 124 23,4 42,7 8º Argentina 54.524 9.983 18,3 22,6 220 24,9 40,2 9º Uruguai 9,974 1.303 13.1 20.5 229 33,6 29,8 10º Brasil* 90,011 10.817 12,0 15,0 195 42,6 23,5 Fonte: FAO - Production Yearbook (1973, 74, 75). * Estimativa do CONDEPE (1976). A disponibilidade de carne por habitante constitui um parâmetro geralmente utilizado para se avaliar a produtividade de maneira indireta. Ele mede a eficiência com que a produção poderia atender às necessidades da população no mercado interno. No Brasil, a disponibilidade por habitante e por ano, em termos de carcaças produzidas, tem se mantido mais ou menos constante, ao redor da média de 20,1kg, ou seja, aproximadamente 55 gramas/pessoa/dia, conforme se deduz dos resultados obtidos no período 1970-76 e resumidos na Tabela 11. Esta cifra parece refletir a conclusão dos observadores do problema (5) de que o consumo de carne bovina deverá crescer muito pouco até 1980, nos países em desenvolvimento, sendo a principal razão disso a baixa renda da população. Segundo dados fornecidos pelo CONDEPE (2) há fortes evidências de que, se o rebanho bovino brasileiro continuar crescendo com os baixos índices atuais 11 de produtividade, haverá um "déficit" crescente de carne no mercado interno, que em 1985 estará próximo de 1 milhão de toneladas. Tabela 11. Disponibilidade de carne bovina no Brasil e relação bovino/habitante no período 1970-76. População Rebanho Relação Produção kg Ano (1000 (1000 bovino/ de carcaças carcaça/ hab.) cab.) hab. (1000 t) ano 1970 94.508 78.528 0,83 1.896 20,1 1971 95.993 80.937 0,84 1.817 18,9 1972 98.690 83.770 0,85 2.020 20,5 1973 101.432 86.702 0,85 2.110 20,8 1974 104.243 89.736 0,86 2.200 21,1 1975 107.145 90.011 0,84 2.109 19,7 1976 110.123 95.520 0,87 2.172 19,7 Fonte: Censo - Fundação INGE Fundação IBGE (1970.76). Estimativas do Ministério da Agricultura e CONDEPE (1971-76). No período de 1970 a 1976, o rebanho bovino brasileiro expandiu-se de 78,5 para 92,5 milhões de cabeças o que permitiu elevar a relação bovino/habitante até 0,87: 1 (Tabela 11). Esta situação está ainda muito longe de nos assegurar auto-suficiência na produção de carne bovina, e permitir a condição de regular exportador do produto, tal como acontece com a Austrália (2,31:1), a Argentina (2,31:1) e o Uruguai (3,51:1). No entender dos estudiosos do assunto (4), a melhoria da produtividade dos ruminantes explorados nos países em desenvolvimento poderia ser facilmente alcançada, desde que se adotassem medidas destinadas a obter os seguintes objetivos: 1) - aumento das taxas de reprodução e de desmama; 2) - aumento das taxas de crescimento; 3) aumento da produção de leite. De fato, atingir o primeiro objetivo mencionado significa, em última análise, a elevação do número de bezerros nascidos, criados e recriados e, em decorrência da redução na taxa de mortalidade dos animais nos três primeiros anos de vida, deve-se esperar maiores índices de desfrute dos rebanhos. Por outro lado, a melhoria nas taxas de crescimento deverá propiciar redução nas idades de abate dos novilhos e da 1ª parição das fêmeas, trazendo ainda como consequência a reforma anual mais baixa de matrizes, e disponibilidade mais cedo de novilhas excedentes para venda. Tendo em vista estas vantagens, os técnicos de setores governamentais ligados à produção agropecuária têm apresentado, para urna série de índices zootécnicos, a situação atual e as metas que se poderiam atingir mediante adoção de nível mais elevado de tecnologia. Os dados da Tabela 12, extraídos do trabalho de NIATOSO & FRANCO (8), ilustram as possibilidades de aumento dos índices de produtividade da pecuária de corte no Brasil, considerando a taxa de crescimento do rebanho de 2,78% ao ano. Segundo aqueles autores, as metas propostas são perfeitamente viáveis, sendo que, em 12 algumas fazendas assistidas técnica e financeiramente pelo CONDEPE, elas já foram ultrapassadas e em casos excepcionais se conseguiu índice de natalidade superior a 90%, associado a reduzida taxa de mortalidade. Tabela 12. Índices zootécnicos atuais do rebanho e metas a atingir mediante nível mais elevado de tecnologia. Índices Unidade Situação atual Meta Natalidade % 58,23* 75,00 Mortalidade: a) Reprodutores % 2,00 2,00 b) Matrizes % 4,00 3,00 c) Crias do nascimento a 1 ano % 7,00 5,00 d) Crias do nascimento a 2 anos % 10,00 8,00 e) Crias do nascimento a 3 anos % 13,00 10,00 f) Crias do nascimento a 4 anos % 15,00 - Idade das fêmeas à 1ª parição ano 4,00 3,00 Idade de abate de novilho ano 4,00 3,00 Reforma anual de matrizes % 20,00 16,70 Reforma anual de reprodutores % 25,00 2,5,00 Relação touro/vaca - 1:25 1:25 Idade de venda de fêmeas excedentes ano 3,00 2,00 Fonte: MATOSO, J. e H.H. FRANCO. Rebanho bovino nacional. Diagnóstico e Programa de Desenvolvimento, 1976. * Calculado em função da taxa de crescimento. de 2,7% ao ano. Os índices de desempenho da pecuária de corte de São Paulo servem para ilustrar as possibilidades de melhoria da produtividade mediante tecnificação mais avançada. As Tabelas 13 e 14, com dados do Instituto de Economia Agrícola do Estado (17), permitem análise comparativa muito útil, muito embora se deva reconhecer que a pecuária de corte de São Paulo esteja necessitando de maior eficiência produtiva, uma vez que sua expansão horizontal se encontra hoje seriamente limitada. Outro aspecto importante da produtividade, em geral esquecido ou relegado a posição secundária nas estatísticas, é o da produção de carcaça por área física explorada. Trata-se de indicador cuja estimativa é, geralmente, mais fácil de se obter, com razoável precisão, em nível de propriedade, ou de rebanho, do que no caso de zona, região, Estado ou país. Por outro lado, a atividade pecuária disseminada numa área nem sempre se apresenta bem definida quanto à produção de carne ou leite, de tal sorte que as informações disponíveis não permitem estimativas corretas da situação. Além disso, cabe lembrar que, conforme a estação do ano dentro da região fisiográfica, e a natureza das pastagens naturais ou artificiais, a capacidade de suporte tende a sofrer grandes oscilações, distorcendo as estimativas toda vez que se ampliam demasiado as áreas de levantamento dos dados. 13 Tabela 13 Rebanho, abate, taxa de abate, peso médio das carcaças e rendimento do rebanho do Estado de São Paulo (1960:1973). Rebanho Abate Peso médio kg de Ano (1000 da carcaça carcaça/ cab) 1000 cab % (kg) cabeça 1960 7.131 2.321 32,6 177 68,3 1962 8.048 2.183 27,1 183 59,1 1964 8.867 2.283 25,8 180 55,4 1966 8.557 1.886 22,0 188 48,8 1968 10.282 2.138 22,5 187 50,4 1970 9.356 2.563 27,4 190 60,0 1972 10.3822.295 22,1 230 50,9 1973 9.861 2.429 24,6 - - Fonte: Instituto de Economia Agrícola, SP. Tabela 14. Indicadores tecnológicos da pecuária de corte no Brasil e no Estado de São Paulo. Indicador Unidade Brasil São Paulo (%) Taxa de natalidade % 50,0 60,0 Taxa de mortalidade: a) Bezerros % 10,0 6,5 b) Geral % 4,0 2,3 Taxa de desfrute % 12,0 16,5 Idade de abate mês 48-60 45 Peso da carcaça kg 199 220 Relação touro/vaca - 1:17 1:30 Fonte: Instituto de Economia Agrícola, SP, 1973 e EAPA/SUPLAN/MA, 1972. A Tabela 15 apresenta a área das pastagens do Brasil e sua eficiência para produção de carne em 1960 e 1971, incluindo estimativas para 1976. Como se conclui, a produção de carne por hectare depende de 3 variáveis: a taxa de abate, o peso médio da carcaça e a capacidade de suporte da pastagem. Admitindo-se que o abate e o peso da carcaça se mantenham constantes por determinado período de tempo, a produtividade passa a depender da lotação dos pastos, isto é, do aumento da carga animal por hectare. Por este motivo, algumas regiões, que começaram a explorar mais intensivamente o potencial de produção de forragens nos pastos naturais e artificiais, estão conseguindo aumentos muito significativos na produtividade de carne, como é o caso da Austrália, Nova Zelândia, Hawaii, Porto Rico, Colômbia, Venezuela e outros países na faixa tropical (13). 14 Tabela 15. Área de pastagens e sua eficiência para produção de carne no Brasil (1960 e 1971). Área de pastagem (1000 ha) Rebanho Densidade kg de Ano (1000 carcaça/ Natural Artificial Total cab.) Cab./UA UA/ha ha 1960* 102.272 20.063 122.335 55.695 0,45 0,33 10,9 (83,6%) (16,4%) (100%) 1971* 106.722 40.278 147.000 84.283 0,57 0,42 12,9 (72,6%) (27,4%) (100%) 1976* 106.722 40.728 147.000 92.520 0,62 0,46 14,3 (72,6%) (27,4%) (100%) Fonte: * Fundação IBGE (1960) e CEPEN (1971). ** Estimativas deste trabalho. No Estado de São Paulo, a produção de carne e de leite acha-se regionalizada, segundo áreas tradicionais de exploração. Utilizando-se os dados apresentados por FREITAS et al. (3), em 1977, calculamos alguns índices ponderados de produção de carne por hectare, reunidos na Tabela 16, que mostram a produtividade média do Estado, mais de 4 vezes superior à do País como um todo, para a área de pastagem da ordem de 11 milhões de hectares, dos quais 68,50% em pastos artificiais (17), com capacidade de suporte média variando de 0,7 a 1,0 cabeça/hectare. Tabela 16. Produtividade de carne e leite no Estado de São Paulo (dados de FREITAS et al., 1977). Carcaça Leite Pastagens kg de Regiões t/ano % 1000 l/ano % carcaça/ 1000 ha % ha Tradicionalmente produtoras de 317,518 65,5 461.301 31,0 4.461 39,8 71,2 de carne Tradicionalmente produtoras de 77.238 15,9 768.570 51,6 3.529 31,5 21,9 de leite Rebanho 90.311 18,6 260.034 17,4 3.213 28,7 28,1 indefinido Total 485.067 100,0 1.489.905 100,0 11.202 100,0 55,4 Fonte: Instituto de Economia Agrícola (previsão em junho de 1975). 15 Embora mais elevado, o índice de produção de carne por hectare em São Paulo está muito longe de ser considerado satisfatório, quando comparado a alguns resultados obtidos em outros países (14, 15), com sistema de exploração semelhante e valores médios acima de 400kg de carne/hectare/ano. CONCLUSÕES As considerações expostas procuraram demonstrar que a produtividade da pecuária de corte brasileira, em face dos níveis até agora alcançados, deve constituir motivo de sérias reflexões para todos aqueles que, direta ou indiretamente, se preocupam com a problemática da agropecuária em nosso País. O crescimento demográfico brasileiro nas próximas décadas, segundo os estudos realizados pelo IBGE, poderá levar o País a uma população da ordem de 222 milhões de habitantes. Isto significa que um aumento substancial na produção de carne deve ser conseguido para cobrir a crescente demanda interna do produto. Mantidos os índices atuais de produtividade e admitindo-se a mesma disponibilidade de 20kg de carne por pessoa, os efetivos bovinos simplesmente deverão dobrar no ano 2.000, para atender apenas ao consumo interno. Esta meta dificilmente será alcançada se o rebanho continuar crescendo à base de 2,8% ao ano. A chave do problema reside, pois, no aumento dos índices de produtividade. Para equacioná-lo, o País já conta com os recursos necessários, quais sejam: 1) as vastas extensões de terras que não podem ser exploradas para culturas; 2) uma imensa população de bovinos e zebuínos, que nos coloca na posição de 4º país criador do mundo; 3) uma quantidade considerável de espécies forrageiras, gramíneas e leguminosas, cujo potencial ainda não foi devidamente aproveitado; 4) um material genético altamente diversificado, constituído pelo grande número de raças introduzidas no País, ao lado dos grupos étnicos nativos ainda existentes. Por essas e outras razões, só nos resta concordar com a assertiva (3) de que, "por mais que se procure, é difícil encontrar outras regiões do globo que reúnam melhores condições para a expansão, tanto vertical quanto horizontal, da produção pecuária, como o Brasil, mais especificamente o Brasil Central". CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA 1. BYERLY, T.C., 1976. The role of livestok in food production. J. Animal Science 25:552. 2. CONDEPE/PGV, 1974. Pecuária Bovina. Bases para um programa de desenvolvimento. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. 16 3. FREITAS, L.M.M.; M. CORSI; L.F. SANTOS FILHO; A.J. ROSTON; J.S. VEIGA; E.L. CAIELLI, 1977. Exploração Leiteira. Melhor utilização de forrageiras na região geoeconômica de São Paulo. Editora dos Criadores Lt. São Paulo, 170pp. 4. HODGSON, R.E., 1971. Place of animals in World Agriculture. J. Dairy Science 54:442. 5. JASIOROWSKY, H.A., 1975. The developing world as a source of beef for world markets. Intemational aspects of beef production Bull., FAO, Rome, 27pp. 6. MAESO, E.V., 1977. La Ganaderia en el mundo. I. Evolucion y tendência de los Censos. Zootecnia, 26:227. 7. MAESO, E.V., 1978. La Ganaderia en el mundo. III. Possibilidades del desarollo ganadero. Zootecnia, 27: 39. 8. MATOSO, J. & H.F. FRANCO, 1976. Rebanho Bovino Nacional. Diagnóstico e Programa de Desenvolvimento (mimeog.). CONDEPE, 22pp. 9. McDOWELL, R.E., 1972. Improvement of Livestock Production in Warm Climates. W.H. Freeman & Company, S. Francisco, 711 p. 10. McDOWELL, R.E. & A.H. URDANETTA, 1975. Intensive systems for beef production in the tropics. J. Anim Sci, 41: 1228. 11. MIRANDA, R.M., 1975. El papel que desempeña el ganada de carne en el dearrollo de America Latina - Seminario sobre “El potencial para la producción de ganado de carne em America Tropical” - CIAT, Série CS-10, 300pp. 12. NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1977. Supporting Papers: World Food and Nutrition Study. Animal Pruductivity. Vol. I. National Academy of Sciences, Washington, 318pp. 13. PALADINES, O., 1975. El manejo y Ia utilización de las praderas naturales en el tropico americano - Seminário sobre “El potencial para la produción de carne en AmericaTropical”. CIAT, Série CS-10, 307pp. 14. PLUCKNETT, D.L, 1970. Productivity of tropical pastures in Hawaii. Proceedings of the XI Intemational GrassIand Congress, University of Queensland Press, Australia. 15. RICHARDS, J.A., 1970. Productivity of Tropical pastures in the Caribbean. Proceedings of lhe XI International GrassIand Congress, University of Queensland Press, Australia. 16. STONAKER, H.H., 1975. Beef Production Systems in the Tropics. I. Extensive production systems on infertile soils. J. Animal Science, 41: 1218. 17 17. TOYAMA, N.K; N.B. MARTIN; E.H. TACHIZAWA, 1976. A pecuária bovina de corte no Estado de São Paulo. Agricultura em São Paulo, IEA, Ano XXII: 1. 18. VAN DEMAM N.L. el al., 1976. Increased productivity from animal agriculture. Report to National Science Foundation. Comell University, Ithaca, N. York, 102 pp. 19. VOHRA, P.; D.W. ROBINSON; H.O. CARTER, 1975. World Food Balances. Feedstuffs, 47:19. 20. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL - 1976, 17:9322. 21. FAO - Production Yearbooks, 1973-1976. 22. Fundação IBGE – Anuários Estatísticos, 1970-1976. 23. USDA – Foreign Agricultural Services, 1975. 18 PRODUÇÃO DE BOVINOS NOS TRÓPICOS * Vidal Pedroso de Faria INTRODUÇÃO Na história da civilização moderna, somente alguns países fizeram grandes descobertas relativas aos processos fundamentais da natureza e conseguiram aplicar o conhecimento adquirido para o desenvolvimento da agricultura. Utilizando a tecnologia gerada através de um volume imenso de trabalhos experimentais, foram capazes de criar prosperidade, produção de alimentos suficiente para seus cidadãos e condições básicas para o desenvolvimento de outras variedades econômicas. Por outro lado, é fato bastante conhecido que a produção agrícola é pequena e bastante ineficiente nas regiões em desenvolvimento. As nações localizadas na América Latina, Ásia e África apresentam sérios problemas para a produção de gêneros alimentícios, como conseqüência de dificuldades climáticas, econômicas, sociais e, sobretudo, investimentos pequenos em trabalhos de pesquisa biológica (35). A complexidade do problema de produção de alimentos no mundo e suas implicações sociais e políticas, têm sido analisadas detalhadamente nos últimos anos (16). Entretanto, somente a partir da década de 60, com os trabalhos de BROWN (4), a situação foi estudada de maneira global e as preocupações levantadas. A problemática gerou, então, estudos mais aprofundados, culminando com o trabalho intitulado “The World Food Problem” (35), no qual cerca de 120 cientistas prepararam para o governo dos Estados Unidos um relatório completo e profundo das dificuldades da época e das previsões futuras. Na realidade, o mundo passou a tomar conhecimento das dificuldades para a produção de alimentos somente depois da segunda guerra mundial, quando os países pouco desenvolvidos passaram de exportadores a importadores de quantidades crescentes de gêneros alimentícios, para atender ao desenvolvimento econômico e social e ao crescimento vertiginoso da população (46). É fato notório que a eficiência da produção animal é muito baixa .tos países em desenvolvimento, apesar dos imensos rebanhos existentes em grande número deles. Admite-se que os fatores limitantes da eficiência sejam as taxas pequenas de reprodução, as doenças, os parasitas, o baixo potencial genético do gado e a nutrição inadequada, agravada por disponibilidades estacionais de alimentos (6). Como a grande maioria das nações pouco desenvolvidas está localizada na faixa tropical e subtropical, normalmente associa-se a baixa eficiência da produção animal com as condições reinantes naquelas regiões. Assim sendo, o clima tropical passa a ser considerado como impróprio para a * Trabalho publicado nos Anais do Simpósio sobre Manejo de Bovinos no Trópico, 1976, sob patrocínio da Fundação Cargill. 19 produção de bovinos e a ele têm sido atribuídas as dificuldades encontradas pelo homem para produzir leite e carne numa vasta região do globo terrestre. De acordo com DOMINGUES (14), “o clima, para a pecuária brasileira, cresce muito de importância, porque 4/5 do Brasil, onde a criação pode desenvolver-se, estão dentro da zona tropical”. A aceitação passiva de que o clima é o principal entrave para a produção de bovinos pode retardar ou mesmo impedir o desenvolvimento tecnológico da pecuária. O técnico, ansioso para promover mudanças nos conceitos relativos à criação de bovinos nos trópicos, deve procurar responder a algumas perguntas que têm sido levantadas por pesquisadores, pecuaristas e pelos homens preocupados com a alimentação da humanidade no dia de amanhã. 1º) Até que ponto os climas tropicais e subtropicais são limitantes para a produção de bovinos? 2º) Dos agentes climáticos considerados limitantes, quais os mais importantes e com que intensidade atuam nos processos produtivos? 3º) Haveria meios disponíveis para o homem vencer as dificuldades impostas pelo meio? PRODUÇÃO DE BOVINOS EM AMBIENTES DESFAVORÁVEIS Reconhecidamente, os trópicos apresentam alguns problemas para a produção animal. Calor, umidade, radiação solar, solos pobres, regiões semi-áridas, estacionalidade de produção de alimentos, doenças e parasitas têm sido apontados como fatores desfavoráveis ao crescimento da pecuária nos países em desenvolvimento (35). Entretanto, deve-se atentar para o fato de que dificuldades para a produção de leite e carne, impostas pelo meio ambiente, não se constituem em característica exclusiva das áreas tropicais e subtropicais. Alguns países desenvolvidos, localizados nas regiões mais frias do globo, apresentam condições extremamente limitantes para a criação de bovinos. A situação reinante nos países escandinavos pode fornecer uma idéia da adversidade do clima reinante na região. De acordo com FRANDSEN (18), a região escandinava está situada entre as latitudes 54º e 70ºN, com temperaturas médias de verão localizadas na isoterma de 12ºC e temperaturas de inverno entre zero e -14ºC. O período de crescimento das plantas forrageiras pode ser tão curto como 120 dias, ou seja, somente 33% do tempo estarão disponíveis para a produção de alimentos. Outro exemplo significativo das dificuldades impostas por um clima úmido e frio poderia ser obtido na Grã-Bretanha. HUGHES (22) deu ênfase ao fato de que naquela região o completo desenvolvimento das plantas forrageiras no início da primavera pode sofrer atrasos de cerca de 30 dias e que a produção de forragem no verão oscila bastante, como conseqüência das variações nas taxas de radiação solar. O autor relatou também que no Sudeste das Ilhas Britânicas, durante a primavera e o outono, o excesso de umidade no solo pode impedir o uso do pasto e que a incidência de doenças é grande, como conseqüência do clima úmido. 20 Além do frio e da umidade, outros fatores desfavoráveis podem ser detectados em países que apresentam pecuária evoluída. O sul dos Estados Unidos é caracterizado por climas quentes e úmidos, nas imediações do Golfo do México, e árido e quente no interior, sendo, então, de acordo com KNOLLE (27), considerado região não muito propícia à produção animal. O mesmo autor relatou que as doenças e os parasitas são problemas sérios para os bovinos criados na área e que mudanças rápidas e drásticas ocorrem no clima, como conseqüência de nevadas e fortes ventos. Israel talvez seja uma das nações menos favorecidas pelo complexo climático, no que diz respeito a condições para a criação de bovinos. O país é árido, com poucas terras férteis, as temperaturas são bastante elevadas, atingindo em algumas localidades valores de 35 a 40ºC durante a maiorparte do dia (44). No início da colonização, a região era infestada por grande número de doenças infecto-contagiosa e parasitárias, que causavam pesadas perdas para a indústria animal, e por zoonoses de grande significância (13). Desnecessário seria continuar enumerando áreas de pecuária desenvolvida que apresentam ambientes bastante desfavoráveis. Problemas relacionados com disponibilidade de alimentos, frio, calor, radiação solar, solos inférteis, sanidade etc, podem ser encontrados juntos ou separados, tanto nas regiões desenvolvidas como nos trópicos. RAUN (38), analisando a criação nas duas regiões geo-econômicas, relatou que os países mais evoluídos foram capazes de utilizar com grande eficiência os recursos existentes e de criar tecnologia para a solução dos problemas relativos à produção animal. De acordo com o mesmo autor, a situação observada nos trópicos é inversa, havendo desperdício de recursos e incapacidade de aplicação de técnicas, ou mesmo desconhecimento delas, para a solução dos problemas. A diferença fundamental entre as dificuldades climáticas encontradas nos trópicos e nas regiões desenvolvidas talvez seja somente a seguinte: no primeiro caso, são consideradas fatores limitantes e, no segundo, problemas a serem vencidos através da tecnologia existente ou a ser criada. Torna-se lógico, então, que o meio-ambiente receba um destaque todo especial nas considerações relativas à produção e produtividade dos bovinos nos trópicos e que passe despercebido, na maioria das vezes, nas outras áreas do globo terrestre. SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BOVINOS Na grande maioria dos países em desenvolvimento, os bovinos são criados em condições naturais, ou seja, ficam expostos ao meio ambiente. Assim sendo, os agentes climáticos atuam sobre eles com a máxima intensidade e recebem também os eleitos indiretos do clima. Comumente, a alimentação é baseada somente em pastos mantidos em terrenos inférteis, que apresentam acentuada estacionalidade de produção de forragem. Dependendo do microclima, os problemas do meio ambiente podem ser mais ou menos intensos, mas sempre existem e raramente são solucionados de maneira global. Geralmente, as medidas corretivas são impostas quando a morte ameaça o rebanho e, na maioria das vezes, são medidas parciais. DOMINGUES (14) relatou que "nas condições naturais em que devem viver e produzir, os animais não sofrem apenas o 21 efeito da temperatura elevada quando nos trópicos. A soma de efeitos dos fatores ambientais tropicais é que determina a incapacidade desses animais europeus conservarem o seu alto nível de produção". Como conseqüência dos sistemas de criação estabelecidos, os bovinos a serem criados nos países em desenvolvimento devem apresentar o que se convencionou chamar de tolerância ao ambiente tropical que, de acordo com DOMINGUES (14), "é encontrada naturalmente nas raças nativas nos trópicos, no gado comum de certas regiões tropicais, e que resultou nesse gado numa adaptação durante a qual os animais perderam suas qualidades produtivas". A elevada produção e a eficiente capacidade produtiva dos bovinos nas regiões desenvolvidas foram conseguidas com animais altamente especializados, através de sistemas de criação nos quais os rebanhos passaram a ser mantidos em ambientes artificiais. Condições artificiais são, de acordo com DOMINGUES (14), “aquelas estabelecidas pelo homem não só para modificar as condições naturais no que elas possam prejudicar os animais, como para tornar mais eficiente a criação e exploração”. O estabelecimento de condições artificiais talvez tenha surgido como conseqüência do clima inclemente encontrado na maioria dos países desenvolvidos pois, se os bovinos fossem expostos às condições naturais, certamente não existiriam rebanhos numa vasta área do globo terrestre. A intensidade ou a complexidade de correção do meio-ambiente depende do tipo de exploração a ser estabelecida. Para o caso de altas produções individuais de leite ou carne em algumas áreas dos Estados Unidos, foi necessário criar um ambiente bastante artificial através do confinamento e da mudança no hábito alimentar dos bovinos (3, 28). Alguns países, como a Nova Zelândia (23) e a Austrália (26), fazem, por outro lado, uso quase que exclusivo do pasto, de maneira a conseguirem índices menores de produção individual com custos mais baixos. Na Holanda, o sistema de produção de leite poderia ser considerado intermediário entre os observados nos Estados Unidos e na Nova Zelândia, já que os bovinos utilizam, com grande intensidade, as pastagens na estação de crescimento das plantas, e são confinados durante o inverno (5). Analisando sistemas de produção de leite, BUXTON & FRICK (5) relataram que diferenças existem entre os países, mas que os sistemas são econômicos e válidos, sendo adaptados às condições econômicas e sociais de cada região. Sistemas de produção de leite em regiões de clima quente têm sido adotados por alguns países evoluídos, apesar de ser o calor geralmente considerado como o fator mais importante no que diz respeito à criação de bovinos (33), chegando mesmo, na opinião de DOMINGUES (14), a ser o principal responsável pela distribuição geográfica dos animais. Nestes últimos anos, um volume muito grande de trabalhos experimentais tem sido conduzido para a determinação do efeito do calor sobre a produção de leite e a reprodução, e para o desenvolvimento de métodos para aliviar os seus efeitos (41). As pesquisas não têm se limitado à simples mensuração dos efeitos, mas englobam também os distúrbios fisiológicos provocados pelas altas temperaturas (1, 45, 40). Pesquisadores da Universidade da Flórida (20) deram ênfase ao fato de que a interpretação do efeito específico do calor pode não ser fácil de ser efetuado porque os agentes climáticos agem em conjunto com os outros fatores do ambiente. Os autores argumentaram que 22 diferenças entre meses e estações refletem, na realidade, grande número de fatores climáticos associados a alterações em práticas de manejo e de nutrição. Apesar de todos os problemas que, reconhecidamente, o calor traz para as vacas leiteiras, a observação de produções de leite em regiões de clima tropical pode revelar resultados surpreendentes. Recentemente, McDOWELL et al. (32), analisando a performance de filhas de touros provados americanos e canadenses em regiões tropicais, relataram que os conceitos tradicionais, relativos à produção de leite nos trópicos, deverão ser revistos num futuro próximo. No Brasil, em 1975, cerca de 1.600 fêmeas da raça Holandesa, controladas pelos serviços oficiais, produziram entre 3.000 e 13.000 kg de leite por lactação (9). Observações realizadas na Flórida (41), uma região considerada não muito adequada para a produção de leite, revelaram que, em 1971, a média do estado era de 4.280kg de leite/vaca, valor esse cerca de 8% mais baixo que a média do país. Tentativas têm sido realizadas no sentido de qualificar o efeito do calor sobre a performance de vacas leiteiras; a Tabela 1 mostra o resultado de estimativas sobre perda de produção de leite como conseqüência do calor durante o verão nos Estados Unidos (21). Tabela 1. Perda em Perda por Latitude ºN 122 dias dia (kg) (kg) Produção média de 13,5kg 40-45 23 a 46 0,18 a 0,37 35-40 23 a 46 0,18 a 0,37 30-35 46 a 136 0,75 a 1,11(8%) 25-30 92 a 136 0,75 a 1,11 Hawaii 25 0,20 Produção média de 23,0kg 40-45 23 a 46 0,18 a 0,37 35-40 46 a 182 0,37 a 1,49 30-35 136 a 318 1,11 a 2,61 25-30 273 a 340 2,24 a 2,79(12%) Hawaii 110 0,90 O uso de ar condicionado para rebanhosaltamente produtivos tem sido empregado nos Estados Unidos para verificar o efeito do calor sobre a produção de leite e os resultados obtidos têm mostrado que os aumentos são da ordem de 10%, onde as temperaturas diurnas permanecem constantemente acima de 30ºC (42, 21, 25). Os dados a seguir dão idéia de um dos experimentos realizados para a qualificação do efeito do calor pelo uso de ambientes controlados (42). 23 1970 - TEMPERATURA MÁXIMA 32,5ºC; MÍNIMA 20,2ºC 1971 - TEMPERATURA MÁXIMA 31,5ºC; MÍNIMA 19,1ºC TRATAMENTOS 1. CURRAL SEM SOMBRA: 24 HORAS 2. CURRAL DAS 5,30 ÀS 19,30 horas AR CONDICIONADO DAS 19,30 ÀS 5,30 horas 3. CURRAL DAS 19,30 ÀS 5,30 horas AR CONDICIONADO DAS 5,30 ÀS 19,30 horas 4. AR CONDICIONADO: 24 horas PRODUÇÃO MÉDIA: 20,9 kg/dia AUMENTO DE PRODUÇAO: 1,34 kg/dia - 9,6% Análise de trabalhos experimentais publicados permite sugerir que, sob condições adequadas de nutrição e saúde, o calor pode não afetar significativamente a produção de leite. Observou-se que tratamentos efetuados sobre os telhados de construções destinadas a estabulação livre de vacas leiteiras, capazes de reduzir de 3 ou 4ºC a temperatura e o ritmo respiratório, não mostraram resultados benéficos sobre a produção (47). Quando vacas leiteiras foram alimentadas com 125% das exigências nutricionais e receberam dieta contendo 35 ou 65% de concentrados, não foram observadas diferenças em produção de leite, consumo de energia e eficiência da utilização da energia, sendo os animais expostos ao sol de verão ou protegidos por sombra (29, 19). Vacas da raça Jersey, recebendo 115% das exigências através de concentrados e de volumosos de boa qualidade, não diminuíram a produção de leite quando expostas durante todo o dia ao sol de verão, apesar de apresentarem um ritmo respiratório mais acentuado e temperaturas corporais mais elevadas que os animais mantidos à sombra. Nesse trabalho, foi verificado que, à noite, as vacas conseguiam livrar-se do calor corporal e compensar o consumo de alimento, já que a ingestão noturna chegou algumas vezes a ser equivalente a 60% do total (24). o gráfico, a seguir, fornece um resumo do trabalho experimental. 24 Vacas de raça Holandesa Malhada de Preto foram expostas ao sol ou protegidas por sombra em um regime alimentar onde recebiam 125% das necessidades diárias, através de rações contendo 35 ou 65% de concentrados. Foi observado que as temperaturas retais e as velocidades respiratórias foram mais altas nas vacas mantidas ao sol, mas não foram observadas diferenças na produção. Os autores do trabalho (18, 37) chegaram à conclusão de que o regime alimentar afetou muito mais a produção de leite do que a exposição das vacas ao calor. A observação do desenvolvimento da pecuária em Israel pode fornecer uma indicação da importância da correção do ambiente para o estabelecimento de um sistema de produção em ambiente desfavorável. De acordo com VOLCANI (44), a média da raça Holandesa Malhada de Preto em Israel é da ordem de 6.600 kg/lactação, obtida através de confinamento, uso liberal de concentrados e mecanização. O rebanho é 100% inseminado com touros provados e os índices reprodutivos elevados, atingindo cifras de 105 bezerros por 100 vacas no ano. Entretanto, no início da colonização, a vaca leiteira, mantida em condições naturais, era pequena, tardia, e produzia de 100 a 800kg de leite em 4 ou 5 meses de lactação. Na época, admitia-se que as condições locais não ofereciam meios para a manutenção de rebanhos especializados e as tentativas de introdução de gado europeu resultaram em fracasso. Foi, então, iniciado um programa de cruzamentos com bovinos provenientes da Síria e da Europa, capazes de responder melhor às práticas de manejo, mas os resultados não foram satisfatórios. Argumentava-se que os cruzamentos para elevar a capacidade de produção das vacas fatalmente levaria à 25 perda de rusticidade e foram recomendadas práticas de voltar o sangue sírio após algumas gerações. Graças aos trabalhos desenvolvidos pela Universidade de Jerusalém, ficou mais tarde evidente que a inaptabilidade do gado era devida principalmente à ocorrência de doenças, com ênfase nas parasitárias do sangue, transmitidas pelo carrapato. Foi, também, verificado que o gado nativo não apresentava resistência mas era, na realidade, exposto muito cedo ao problema e adquiria imunidade. Foram desenvolvidas vacinas eficientes contra os parasitas do sangue e, através de um programa sério, erradicadas ou eficientemente controladas as doenças infecto- contagiosas e parasitárias (13). A partir deste ponto, com o desenvolvimento de abrigos e de técnicas de alimentação, foi possível estabelecer um dos mais sofisticados sistemas de produção leiteira, em uma área quente, árida e considerada totalmente imprópria para a criação de bovinos especializados. POTENCIAL DOS TRÓPICOS PARA A PRODUÇÃO DE CARNE E LEITE As regiões localizadas nas áreas mais quentes do globo apresentam potencialidade muito grande para a produção animal, que não tem sido explorada de maneira conveniente. A inexistência de invernos rigorosos permite a manutenção do gado o ano todo nas pastagens, o que pode contribuir para diminuir o custo de produção, como conseqüência da economia em construções (24, 5). Além desses aspectos, é possível o estabelecimento nos trópicos de sistemas de produção baseados no uso intensivo do pasto, com grande economia de concentrados (5,7, 31, 34). A principal característica dos trópicos para a produção de bovinos talvez esteja relacionada com a elevada capacidade de produção das plantas forrageiras cultivadas em climas quentes. As espécies tropicais e subtropicais apresentam evidente superioridade de produção sobre as de clima temperado, devido à maior eficiência fotossintética e disponibilidade de radiação solar. Por esse motivo, a produção de matéria seca das espécies tropicais e subtropicais é duas ou mais vezes superior (10). Analisando o potencial de produção de gramíneas tropicais adubadas, CORSI (12) propôs, para as áreas mais quentes, uma filosofia de produção diferente daquela existente nos climas temperados. De acordo com o autor, a produção animal baseada em pastos tropicais adubados mostra possibilidade de explorar o potencial das espécies através de elevada carga animal, enquanto em zonas temperadas, devido à menor capacidade de produção das plantas, a ênfase é dada à qualidade. Como conseqüência da elevada capacidade de produção das plantas forrageiras, a produção animal em pastagens tropicais é também significativa, como mostram os resultados conseguidos em diferentes regiões. Os dados da Tabela 2, relatados por PLUCKNETT (34), indicam os resultados médios de 12 anos de exploração de bovinos leiteiros no Hawaii, numa área tropical onde as principais limitações são deficiências hídricas em certas épocas do ano, baixas temperaturas de inverno e solos pobres em elementos minerais. VICENTE-CHANDLER (43) relatou que pastos de capins Colonião, Napier e Estrela, quando manejados intensivamente, revelaram grande potencial para a produção 26 de leite em Porto Rico. Trabalhos conduzidos com vacas de raça Holandesa Malhada de Preto, recebendo somente pasto, sombra, sal e farinha de ossos, permitiram a obtenção dos resultados constantes da Tabela 3. Tabela 2. Índices de Características Produtividade Carga animal 6,1 vacas/ha Produção leite/ha/ano 9.770kg Produção mais elevada/vaca 4.899kg Produção média/dia 12,5kg Produção anual/"ca 4.562kg Produção carne/ha/ano 400kg Tabela 3. Índices de Produtividade Característica 1968 1969 19701971 1972 Lotação média 2,2 vacas por hectares Produção/lactação - kg 2,744 2.895 2.169 3,485 3.968 Produção/dia - kg 10,2 10,7 8,0 12,6 14,4 Produção/ha/ano - kg 8,190 8.592 6.424 10.117 11.563 Outras observações, levadas a efeito em Porto Rico (8), mostraram que pastos tropicais intensivamente manejados são capazes de proporcionar altas produções de leite com vacas da raça Holandesa Malhada de Preto, permitindo a redução de concentrados até a relação 1kg de concentrado para 6kg de leite, como mostram os dados da Tabela 4. O Departamento de Zootecnia da E.S.A. “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba, vem trabalhando há cerca de 6 anos com manejo intensivo de pastagens de capim Napier, obtendo lotações equivalentes a 8,5 unidades animais por hectare durante o verão (11). Dados não publicados do mesmo local indicaram produções médias de cerca de 3.500kg de leite por hectare por ano, quando pastos convencionais e intensificados foram considerados em conjunto. Trabalhos conduzidos em Nova Odessa (31) com vacas mestiças revelaram que pastos dos capins Napier e Fino, bem manejados, foram capazes de manter durante o verão 3,6 vacas por hectares, produzindo cerca de 8 a 10kg de leite sem o oferecimento de concentrados. No Estado do Rio de Janeiro (2) observações experimentais revelaram que pastos de capim pangola permitiram manter durante o verão 27 2 cabeças por hectare e forneceram nutrientes para a produção de 10kg de leite por dia, por cabeça. Tabela 4. kg leite/ Período de Produção/ Produção/ Gordura 1 kg con- lactação dia-kg lactação % centrado dias kg 2 268 16,5 4.422 3,0 4 280 17,5 4.900 3,0 6 288 17,2 4.948 3,5 8 241 14,0 3.385 3,3 Os índices que têm sido conseguidos, relativos à produção de carne em pastagens tropicais, sugerem que as médias usualmente obtidas podem ser multiplicadas muitas vezes. Os dados da Tabela 5 mostram um sumário de informações referentes à exploração de bovinos de corte, mantidos em pastos bem manejados, em diferentes regiões da área tropical. Tabela 5. Região Forragem kg PV/ha/ano Fonte Porto Rico Estrela 1.514 (43) Porto Rico Pangola 1.362 (43) Porto Pico Napier 1.345 (43) Hawaii Napier 1.300 (34) Jamaica Colonião e Napier 1.300 (39) Austrália Pangola 1.200 (15) No Brasil, trabalhos de experimentação têm mostrado que a potencialidade para a produção de carne também é elevada. Em Pernambuco (17), os capins Sempre-Verde e Napier, adubados e submetidos a pastejo rotativo, produziram, como média de 4 anos, 824kg de peso por hectare por ano, com lotações de 4,2 cabeças por hectare e ganhos diários de 0,566kg. Trabalhos realizados em São Paulo (30) mostraram que ganhos de peso entre 450 e 550kg/ha podem ser obtidos por ano com garrotes de 10 meses, mantidos em lotações de 3,4 e 3,8 cabeças por hectare sobre os capins Colonião, Pangola, Napier e Bermuda. Trabalhando com o capim Colonião adubado, QUINN et al. (36) obtiveram, em Matão, São Paulo, entre 300 e 700kg de ganho de peso por hectare com novilhos zebus. 28 CONCLUSÕES O potencial de produção de leite e carne no Brasil Central, e especialmente no Estado de São Paulo, pode ser revelado em tempo relativamente curto, se medidas corretivas totais forem aplicadas sobre os fatores desfavoráveis do meio. Para tanto, seriam necessárias as seguintes providências: 1º) Ao pecuarista caberá o importante papel de aceitar mudanças no conceito tradicional de criação de bovinos em condições naturais, principalmente aquelas referentes à alimentação e sanidade; 2º) Ao zootecnista deverá ser atribuída a função de levantar os problemas limitantes para a produção e propor soluções para tornar o meio mais favorável aos bovinos; 3º) Ao médico veterinário ficará a importante missão de erradicar ou controlar eficientemente as doenças infecto-contagiosas e parasitárias, de maneira a que o potencial produtivo possa ser revelado no ambiente modificado; 4º) Ao pesquisador restará a tarefa de quantificar e revelar o potencial, trabalhando sempre à frente do pecuarista, de maneira a que novas perspectivas e rumos possam ser traçados; 5º) Aos pecuaristas, zootecnistas, médicos veterinários e pesquisadores, ficará entregue a difícil tarefa de mostrar que as dificuldades impostas pelos trópicos para a produção animal podem ser vencidas. 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Dairy Science, 58: 136. 33 MANEJO DA REPRODUÇÃO EM BOVINOCULTURA DE CORTE* Lício Velloso INTRODUÇÃO É sabido que problemas reprodutivos de toda ordem constituem a principal causa de perdas na bovinocultura dos países de clima tropical. A fertilidade normal de um rebanho pode ser definida pela produção regular de crias viáveis. Assim, a exploração econômica de bovinos de corte ou de leite, em qualquer parte do mundo, depende em larga escala da fertilidade do rebanho, segundo Brenton ("In" PAYNE, 1970). Sob as condições de manejo reprodutivo adotado nos países de clima tropical, há, em média, produção de apenas dois bezerros, quando a vaca atinge os seis anos de idade (MAULE, 1962; DE ALBA, 1963). É comum as vacas parirem em anos alternados nesses países, quando o desejável seria uma cria a intervalos regulares de doze meses. O desempenho reprodutivo de um rebanho bovino é, em última instância, função dos atributos apresentados pelos machos e pelas fêmeas. Vários fatores contribuem para o maior ou menor sucesso de um indivíduo como reprodutor, sendo que alguns deles influem sobre um sexo em particular e outros sobre os dois sexos, como mostrou REIS (1983) na Figura 1. Para as condições de clima tropical, as informações científicas sobre o comportamento reprodutivo dos bovinos são ainda muito escassas. No Brasil, em particular, há um grande vazio de dados que possam servir para orientar o melhor manejo nesta importante área da criação de bovinos. * Trabalho publicado nos Anais do 3º Simpósio sobre Pecuária de Corte, 1983, sob patrocínio da Fundação Cargill. 34 Figura 1. Esquema de fatores que podem interferir na reprodução de bovinos. Fonte: REIS, 1983. MÉTODOS USADOS PARA MEDIR A FERTILIDADE São inúmeros os métodos usados para medir a fertilidade dos bovinos; dentre eles podem ser citados os seguintes: 1. Produção percentual de bezerros nascidos vivos; 2. Produção percentual de bezerros desmamados; 3. Intervalo entre partos; 4. Período de serviço; 5. Número de serviços por concepção. 35 1. Produção percentual de bezerros nascidos vivos É o método mais adotado em todo o mundo tropical. No Brasil é seguramente o de maior uso entre os criadores pela facilidades de sua aplicação, pois além de não exigir escrituração zootécnica, pode ser determinada pela simples contagem das vacas e novilhas em idade de procriarem e também dos bezerros nascidos naquele ano, estabelecendo-se daí o valor percentual. As falhas neste método são bem evidentes; assim, as fêmeas adultas que deixam de apresentar estro regularmente
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