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Dinah Campos Psicologia da Aprendizagem

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PSICOLOGIA
DA APRENDIZAGEM
Professora Adjunta da Universidade do Brasil,
Livre-Docente da Universidade
do Estado da Guanabara
Campos, Dinah Martins de Souza
Pslcologla da aprendlzagem, por Dinah Martins
de Souza Campos. 4.ed. rev. e amp!. Petr6polis,
Vozes, 1972.
288p.
Bibllografla.
1. Psicologia da aprendizagem. I. Titulo.
~\. V4/~.
~' ~ \
T ~\
Q T••J I 22.0188 'p \
Com6rcl~ de I Iv ,I
Rue Esp/rlt. S . r&. 4::j''Me ~S/ 1703'
Balo ~forlzon~. "
Min.. G~r~/a
..•
EDITORA VOZES L1MITADA
Petr6polis, RJ
1972
Copyright © 1971, by
EDITORA VOZES LiMITADA
Rua Frei Luis, 100
Petr6polis - RJ
Brasil
PARECE que, atualmente, a aprendizagem vem ocupando 0
lugar que, na realidade, merece na prepararao de profes-
sores, .educadores, psic6logos e de todos ,os profissionais,
cuja atuarao se relaciona com modificaroes a serem ope-
radas na personalidade humana. Tanto a crianra que se
acha na fase de aquisiraoda linguagem, ,como 0 adoles-
cente com dificuldade de ajustamento ou oa:dulto na dis-
tribuirao de seu salario para as despesas domesticasou 0
pai na administraf;ao equilibrada ,de carinho a seus filhos,
todos acham-seenvolvidos com 0 processo de aprender as
comportamentos adequados para a solurao de ,seus problemas
de vida.
Assim, a Psicologia da Aprendizagem vem aparecendo
nos curriculos de varios tipos de cursoe ao ministrar :minhas
aulas, nesse campo da psicologia, senti a necessidade de um
livro, em lingua portuguesa, des!inado a oferecer ao estu-
dante ;um panorama inicial do !enomeno da aprendizagem.
Um volumoso tratado ou um livro estudando 0 assunto, apenas
de um ponto de vista, nao parece satisfazer a esse obje-
!ivo, porque visa mais a formarao de pesquisadores e espe-
clalistas ,em Psicologia da Aprendizagem, ou serve aos prin-
clpiantes apenas como obra de consulta.
Visando atender, portanto, a ,exigencias didaticas, isto
e, facilitar aos alunos a estudo e aos professores 0 ensino
das primeiras noroes relativas a Psicologia da Aprendiza-
gem, foi ,que decldi reunir neste despretensioso livro as su-
marios que preparei para a orientarao ,do trabalho ique .venho
realizando, no ensino desse ramo da psicologia. Trata-se,
assim, de uma tentativa deoferecer uma modesta contribuiflio
para aqueles que se inidam Oll ,que militam, 110 campo da
psicologia, sendo benvindas todas as erWcns, flO sentido
de contribuir para .Q aprimoramento desta obra.
As 110{;oesabrangidas pelos diversos capltulos visam ,
especialmente, conduzir 0 leitor a perceber a importiincia da
aprendizagem na transforma~ao do ser Iwmano em uma
pessoa integrada ao ambiente socio-cultural, no qual tera
que viver e colaborar. Paralelamente, procuram informa-Io
sobre 0 conceilo, caracteristicas, tipos, fatores, produtos e
processos pelos quais 0 individuo aprende, desde as pri-
meiras coordenar;oes motoras, como a anteposi~ao do po-
legar aos demais dedos ate a leitura, a ,escrita e a aquisiriio
das habilidades especificas, peculiares ao homem. E, ainda,
em uma ultima tentativa para motivar a estudante, a fim
de analisar e pesquisar os varias problemas relalivos aos
processos e fatos da aprendizagem, serao apresentadas as
diversas teorias formaladas, tratando-se mais especificamente
de algumas delas.
Nao I/Ouve a preoeupafao de citar;oes ou explorar;/io
teoriea minuciosa dos varios temas tratados, porque a fi-
nalidade precipua deste livr.o e a iniciariio ao estudo da
Psieologia da Aprendizagem, apresentando-se, par esta
raziio, uma bibliografia extensa, em lingua portuguesa e
estrange ira, para que 0 estudanie sob a orientar;ao do pro-
fessor se aprofunde nos estudos e reexamine os temas
tratados.
Em suma, a plano deste livro nao e realizar um estudo
exaustiv.o ,de Psic.ologia da Aprendizagem ,e nem mesmo re-
capitular a vasta messe de pesquisas realizadase ja en-
contradas em diversas obras traduzidas para 0 .[Jortugues.
Uma de suas caracteristicas ,distintivas e a ,estorfo delibe-
rado, no intuito de organlzar e sistematizar, em uma
perspectiva global, os principais aspectos reladonadoscom
a estudo dos processos e {atos da aprendizagem, des-
pertand.o no prlnciplante a desej.o de buscar em outras
obras os resultados dos experimentos, para obter a com-
provar;6.o das nor;oes releridas.
o prop6slto destes Sumarios, portanto, e deixar ao
professor a trabalho de ilustrar, com suaexperienciae ca-
pacidade diddtica, os aspectos abordados, como, tambem,
a tarefa de conduzir oestudante a consulta bibliogrdtica
de material :especlalizado, a observariioe a pesquisa dos
fatos referentes a aprendizagem, que, ainda, estiio a re-
querer multa investigariio dentifica.
Vlsando atender aos proprios principios de aprendiza-
gem, que preconizam uma visiio global iniclale uma re-
visao final do tema estudado, grupos de dais ou de tres
capitulos deste livro, Ide acordo com aextenstio do c.onteudo
dos mesmos, serao precedidos de quadros sinoticos, que
apresentam os principals t6picos de cada um dos capitulos
a que se referem.
Meus agradecimentos ao DR. JOSE LINO MUNIZ VIEIRA,
pela colaborariio prestada na revlsiio da linguagem deste
livro.
Guanahara, Brasil.
PRINCIPAlS TOPICOS
DOS CAP1TULOS I, II, III E IV
IMPORTANCIA DA APRENDIZAGEM E NOTICIA HIST6RICA
DA PSICOLOGJA DA APRENDlZAOEM
II. Noticia Hist6rica da PsicoJogia da Aprendizagem.
A) Concepr;oes sobre a Aprendizagem, na Antiguidade: J. So-
crates, 2. Platao, 3. Aristoteles, 4. Santo Agostinho, 5. San-
to Tomas de Aquino, 6. Juan Luis Vives.
B) Contribuir;oes Modernas para a Conceituar;ao da Aprendi-
zagem: 1. l:0cke, 2. Herbart, 3. Lloyd Morgan.
C) No Brasil: Rui Barbosa.
D) Outras Contribuir;5es Atuais: Binet, Dewey, Thorndike, Cla-
parecte, Piaget, Pavlov, Bechterev, Watson, Lashley, Koffka,
Kljhler, Wertheimer, Freud, Adler, Jung etc. etc.
I. Reflexos.
II. Instintos.
Ill. Estampagem.
IV. Primeira Experiencia.
V. Aprendizagem.
VI. Implicar;oes Praticas.
I. Conceito de Aprendizagem.
II. Concelto Academico e Conceito Falso ou Pseudo.aprendizagel11.
III. Caracteristicas da Aprendizagem: 1. ProceRRo dinamico, 2. Pro-
cesso continuo, 3. ProceRso global ou «comp6sito», 4. ProcesRo
pessoal, 5. Processo gradativo, 6. Processo cumulativo.
IV. Criterios de Conceitua~ao da Aprendizagem, segundo A. Garcia.
METOD05 E TECNICAS DE ESTUDO DA PSICOLOGIA
DA APRENOIZAGEM
I. Medida Cientifica na Psicologia da Aprendizagem.
n. Tipos de Metodos de Pesquisa Empregados: 1. Metoda da obser-
va<;?o, 2. Metodo da experirnenta<;ao, 3. Metodo dos grupos
eqUlvalentes e 0 rnetodo de urn grupo unico ou de rota<;iio,
4. Metodo dos testes, 5. Metodos de estudo individual ou do
h~st6rico de caso, 6. Metodos de informes (questionarios, entre-
vIstas, escalas graduadas, «check lists» etc.) 7. Metodo hi-
potetico-dedutivo. . ,
IMPOH,TANCIA
DA APRENDIZAGEM
E NOTtCIA HISTORICA
DA EVOLUGA..O DA PSICOLOGIA
DA APRENDIZAGEM
A importancia da aprendizagem na vida do individuo ~ari~,
enormemente, de uma especie para outra. Entre os al11malS
inferiores, as atividades aprendidas constituem, apenas: uma
proporc;ao relativamente pequena das reac;i5es totals ~o
organismo. A aprendizagem e lenta, de pequena extensao
e sem grande importancia na vida animal. Os protozO<lrios,
por exemplo, ja nascem como organismos praticamente ama-
durecidos. Nao possuem infancia, propriamente, tem escassa
capacidade para aprender, seu periodo de retenc;ao c curto
e os efeitos da aprendizagem quase nao exercem influencia
em suas vidas. Sell equipamento de respostas inatas C'
suficiente para satisfazer suas necessidades.
A medida em que se ascende na escala animal, 0 pe-
rfodo da infancia, a capacidade para aprender e a importan-
cia da aprendizagem na vida do organismo aumentam,
regularmente, com um correspondente decrescimo dos com-
portamentos inaf()s, denominados instintivos. De todos os
animais, 0 homempossui 0 menor n\lmero de rl:ac;i5es inatas,
fix as e invariaveis. Sua infallcia 6 mais IOllga C posslli
maior capacidade para tirar proveito da experH~ncia. Sell
repert6rio de rear;i5es e quase todo constituido de respostas
adquiridas, isto e, aprendidas.
Na vida humana a aprendizagem se inicia com 0, ou
ate antes, do nascimento e se prolonga ate a marte. Ex-
periencias varias tem demonstrado que e possivcl obter rea-
r;i5es condicionadas em fetos.
Logo que a erianC;a nasee, eomeC;a aprender e continua
a faze-Io durante toda sua vida. Com poueos dias, aprende
a ehamar sua mae com seu chora. No fim do primeiro ano,
familiarizou-se com muitos dos objetos que formam seu novo
mundo, adquiriu cerio controle sobre suas maos e pes
e, ainda, tornou-se perfeitamente iniciada no processo de
aquisivao da linguagem falada. Aos cinco ou seis anos,
vai para a escola, on,de, por meio de aprendizagem dirigida,
adquire os habitos, as habilidades, as informac;oes, os co-
nheeimentos e as atitudes que a sociedade considera essen-
ciais aD born eidadao.
Quando se consideram todas as habilidades, os interes-
ses, as atitu,des, os conhecimentos e as informavoes adqui-
ridas, dentro e fora da escola, e suas relac;oes com a conduta,
a personalidade e a maneira de viver, pode-se conduir que
a aprendizagem acompanha toda a vida de cada um. Atra-
yes dela, 0 homem melhora suas reaIiza<;oes nas tarefas
manuais, tiraparti,do de seus erros, aprende a conhecer a
natureza e a compreender seus companheiros. Ela capacita-o
a ajustar-se adequadamente a seu ambiente ffsico e social.
Enfim, a aprendizagem leva 0 individuo a viver melhor
ou pior, mas, indubitavelmente a viver de acordo com 0
que aprende.
Portanto, quando 0 equipamento de respostas inatas
nao e satisfat6rio, 0 homem s6 consegue 0 ajustamento
adequa,do atraves da aprendizagem. Supondo-se que um
adulto nao mais dispusesse dos resultados da aprendiza-
gem, ter-se-a que imagina-Io reduzido ao nivel de uma
crianc;a, na primeira infancia. Assim, por exemplo, teria
fome e sede, mas nao saberia 0 que comer e beber e nem
saberia encontrar os meios para satisfazer estas necessi-
dades; nao poderia usar a palavra; nao saberia 0 nome
das coisas e das pessoas; perderia 0 pr6prio nome; e nem
mesmo coordenaria as ideias, como habitualmente faz, porque
nao saberiaexpressar os conceitos atraves de palavras e
perderia as noc;oes de tempo e espac;o. Cada individuo e 0
que e, em grande extensao, pelo que aprendeu e ainda pelos
modos segundo os quais, em novasemergencias de ajusta-
mento, pO,dera aprender, integrando seu comportamento e'
experiencia em novos padr5es.
A aprendizagem e, afinal, urn processo fundamental da
vida. Todo individuo aprende e, atraves da aprendizagem,
desenvolve os comportamentos que 0 possibilitam viver.
\ Todas as ativida,des e realizac;5es human as exibem os resul-
tados da aprendizagem. Quando se considera a vida em
termos do povo, da comunidade, ou do individuo, por todos
os lados san encontrados osefeitos da aprendizagem.
Atraves dos seculos, par meio da aprendizagem, cad a
gera<;~o foi capaz ,de aprove~tar-se das experie,ncias e des-
cobertas das gerac;oes antenores, como tambem, p~r ~s~a
vez, ofereceu sua contribuiC;ao para 0 crescente patnmonlO
do conhecimento e das tecnicas humanas. Os costumes, as
leis, a religiao, a linguagem e as instituic;oes sociais t~m-se
desenvolvido e perpetrado, como urn resultado da capacldade
do homem para aprender.
Podem-se observar os produtos ,da aprendizagem nas
hiibeis realizac;oes dos engenheiros, dos cirurgioes, dos
artistas etc. Sao evidenciados nas espetaculares descobertas
e invenc;oes da ciencia moderna, no pensamento do fil?s~fo
e nas decisoes dos estadistas. 0 comportamento rotmeIrO
po homem do povo, suas crenvas, seus receios e sua submis-
san as tradivoes sao, grande mente, determinadas pelas ten-
dencias e predisposic;oes adquiridas atraves da aprendizagem.
A~g~9i~.~g~~ e. um processo tao importante ~ara 0
sucesso era sobrevlvencla do homem que foram orgaOlzados
meios e,ducacionais e escolas para tornarem a aprendizagem
mais eficiente. As tarefas a serem aprendidas san tao com-
plexas e importantes que nao podem ser deixadas para obra
do acaso. As tareias que os seres humanos SaD solicitados
a aprender, como por exemplo, somar, multiplicar, ler, usar
uma escova de dente, datilografar, demonstrar atitudes
socia is etc., nao podem ser apren,didas naturalmente.
Se se pretende entender 0 comportamento e as ativi-
dades os interesses e as atitudes, os ideais e cren<;as, as,
habilidades e conhecimentos que caracterizam qualquer ser
humano, e essencial compreender 0 processo de aprendiza-
gem, porque ele e a maturavao constituem as duas maiores
influencias que afetam 0 comportamento humano.
o estudo ,da aprendizagem, sua natureza, suas caracte-
risticas e fatores que nela influenciam constitui, portanto, um
dos problemas mais importantes para a psicologia e para
o educador, seja· ele pai, professor, orientador ou adminis-
trador de institui~6es educativas. Explicar 0 mecanismo da
aprendizagem e esclarecer a maneira pela qual 0 ser humano
se desenvolve, toma conhecimento do mundo em que vive,
org~niza a sua cOl1,dutae se ajusta ao meio fisico e social.
E', pois, pela aprendizagem que 0 homem se afirma como
ser racional, forma a sua personalidade e se prepara para
o papel que the cabe no seio da sociedade.
Especialmente no setor da teoria e da pratica educa-
tiva, nao pode ser dispensada a contribui~ao da psicologia
da aprel1,dizagem. Da solu~ao dos problemas desta vai de-
pender, nao s6 a cscolha do l11etodo didatico, C0l110tambcm
a organizar;ao dos program as c curriculos e ate a formulac;ao
dos objetivos da educacao.
Desde a antiguidade, filasofos e pens adores preocupa-
ram-se com os fatos ,da aprendizagem do tipo «verbal»
ou «ideativo».
Daf a razao por que as primeiras teorias se confun-
diram com as explicac6es dos processos l6gicos e com as
teorias do conhecimento.
A n09ao de aprender se confundia Com a ac;ao de
captar ideias, fixar seus nomes, rete-los e evoca-los. Isto
seria, a um tempo, conhecer e aprender.
Assim, vejamos algumas das principais concepc;6cs
antigas da aprendizagern.
1. S6CRATES- 0 conhecimento preexiste no espirito
do homem e a apren,dizagem consiste no despertar esses
conhecimentos inatos e adormecidos. Para ele, 0 metodo
da «maieutica» ou partejamento das id6ias e que discipli-
naria 0 espirito e revelaria as verdades universais.
2. PLATAO- Formulou uma teoria dualista que sepa-
rava 0 corpo (au coisas) da alma (ou ideias). Expos as
ideias ,de seu mestre S6crates, elaborando-as com a formu-
lac;ao de sua doutrina das «reminiscencias». A alma esta
sujeita a metempsicose e guarda a lembran~a das ideias
contempladas na encarnac;ao anterior que, pela percepc;ao,
voItam it consciencia. Assim, a aprendizagem nada mais e
do que uma reminiscencia.
3. ARIST6TELES- Apresenta UI11ponto de vista, de-
finidamente cientffico, ensina que to,do conhecimento comec;a
pelos sentidos, rejeitando a preexistencia das id6ias em
nosso espirito. Lan~ou, portanto, 0 fundamento para 0 ensino
intuitivo.
Utilizou 0 metodo dedutivo, caracteristico de seu sistema
logico, e 0 metodo indutivo, aplicando-o em suas obscrvac;ocs,
cxperiencias e hip6tes,es.
Infelizmente, por seculos, suas conclusoes foram aceitas
como irrefutaveis, mas foi esquecido 0 fa to de que AmsT6-
TELES acreditou e utilizou os procedimentos cientificos da
observac;ao ,e experimentac;ao.
Organizou a teoria da associac;ao com os principios de
sernelhan~a, de contraste e de contigiiidade.
Combatendo a preexistencia das ideias, formulou a
celebre afirma~ao de que «na,da esta na inteligencia que
nao tenha primeiro estado nos sentidos».
4. SANTO AOOSTINHO- Poucos tentaram reviver 0
metodo indutivo, como Santo Agostinho, que adotou a in-
trospecc;ao, para registrarsuas pr6prias experiencias mentais
e esposou a teoria das faculdades mentais.
5. SANTOTOMAs DE AQUINO- Distinguill as verda-
des cientificas, baseadas na pesquisa e experimenta~ao, e as
verdades religiosas, basea,das na autoridade divina. Para
de, 0 principal agente da aprendizagem e a atiVidade de
quem aprende. Considerava a aprendizagem como urn pro-
cesso inteligente dinamico e auto-ativo.
6. JUAN LUIS VIVES - Insistill nos metodos indutivos,
el1l psicologia e filosofia.
Contudo, atraves ,de toda a Idade Media e no comec;o
dos tempos modernos, homens com ideias, como as de Scmto
Tomas de Aquino e Juan Luis Vives eram exce~6es, porque
a enfase na educac;ao permaneceu teol6gica e te6rica. Havia,
apenas, a explicac;ao do pens amen to, das icteias e da me-
m6ria verbal ou dialetica, elaborada segundo a filosofia ,das
concepc;6es antigas.
B. Contribui~oes Modernas
para a Conceitua~ao da Aprendizagem:
Alguns pioneiros que lanc;aram os fundamentos da cii~ncia
modern a como COPERNICO, BACON, GALILEU, DESCARTES,
LOCKEetc., volta ram a usar 0 metodo indutivo de ARIST6-
TELES, exigindo as provas experimentais e a evidencia
empfrica, para justificar as generalidades sobre 0 homem
e a natureza.
BACON,DESCARTES,e LOCKEpropagaram uma nova f6
no conhecimento, baseado no senso-percepc;ao e no racio-
dnio 16gico.
Assim, 0 meto,do cientifico de analisee de predic;ao
de eventos estabeleceu-se, requerendo a observa~ao e a
experimenta~ao, como tambem a medida e a classifica~ao
da experiencia.
Afinal, neste clima de progresso cientifico, yao sur:-
gindo as modern,a~ concepc;6es de aprendizagem.
1. LOCKE - No seculo XVII, retoma 0 principio aris-
totelico: «Nada esta na inteligencia que nao tenha est ado
primeiro nos sentidos».
Combate a concep~ao das i,d6ias inatas de Platao e
insiste em que 0 espirito seria uma «tabula rasa».
Combate tamb6m a ideia da «discipliria formal» ou a
cren~a de que 0 espfrito se pudesse formar por simples
exerdcio de suas «faculdades».
Admitiu ja a transferenciae a generaliza~ao dos
conhecimentos.
Suas ideias tiveram enorme influencia direta e indireta
sobre a compreensao psicol6gica ,daeduca~ao, na Inglaterra,
na Alemanha e nos Estados Unidos da America do Norte.
Em certo senti do, Locke fez trabalho precursor para
Comenius, Frobel e Pestalozzi.
A sistel11atiza~ao de muitas de suas ideias veio a ser
i'eita por Herbart.
2. HERBART(1776-1841) - Estabeleceu a cloutrina cia
«apercepc;ao» e os «Passos Formais» do ensino (preparac;ao,
apresenta~ao, associa~ao, sistematiza~ao e aplicac;ao).
Embora combatesse a cloutrina das «faculclades» e cle-
senvolvesse a icleia claeducac;ao como fundamental na for-
mac;ao human a, ainda 0 fazia tocado pela influencia das
id6ias intelectuaHstas cia traclic;ao grega e medieval - «a
educac;ao pel a instruc;ao».
A influencia de Herbart foi muito grande e aincla c
patente nos trabalhos relativamente recentes de MACMURRAY,
MORRISON (autor do Plano de Unidades Didaticas) e
DECROLY.
Em toda a segunda metade do seculo passado, a pe-
dagogia aceitava com entusiasmo 0 chamado «metodo in-
tuitivo» cle ensino com coisas ou das «lic;6es de coisas».
Este movimento provinha de PESTALOZZI,mas foi fortalccido
por HERBART.
3. LLOYDMORGAN- No fim do seculo, forI11ulava sua
~eoria d.e «ensaio-e-erro», aceita logo por SPENCER que
mtrocluzlU 0 darwinismo na psicologia, acontecimento de
grande importancia nas teorias moclernas de aprendizagem.
Assim, ao inves ,do exercicio intelectual, ou das id6ias
colhidas pela impressao clas coisas (sensac;6es~ imagens,
generalizac;6es, ideias, juizo, raciocinio), comec;ava-se a
admitir a ac;ao, os comportamentos como base da apren-
dizagem.
C. No Brasil: Rui Barbosa - 0 movimento do «me-
todo intuitivo» refletiu-se com a traducao clo livro de
CALKINS,«Lic;oes de Coisas», feita por R~i Barbosa c com
as icleias de seus «Pareceres» sobre 0 ensino apresentados
a Camara dos Deputados, em 1882. '
D. Outras Contribui~oes Atuais - Foi, sobretudo, a
contribuic;ao dos criadores da psicologia pedag6gica moder-
na, como HERBART,BINET (um dos pioneiros da medida em
psicologia), DEWEY, THORNDIKE,CLAPAREDEe PIAGET,bem
como ados reflexologistas como PAVLOV e BECHTEREV,
PSicologia - 2
ados behavioristas, como WATSON e LASHLEY, ados ges-
taltistas, como KOFFKA, KOHLER e WERTHEIMER, que mais
influiu sobre a formula<;ao das novas teorias da aprendizagem,
que serao tratadas em capitulo especial destes sumarios.
Sem pretender organizar uma teoria da aprendizagem,
tambem 0 psic6logo de campo K. LEWIN ofereceu apreciaveis
contribui<;oes para 0 estudo dos fatos da aprendizagem.
E' interessante assinalar tambem a influencia que ja
come<;aram a exercer sobre as teorias contemporaneas da
aprendizagem as teses da psicanalise de FREUD, ADLER, JUNG,
FROMM; da fenomenologia de HUSSERL, SCHELER e MERLEAU
PONTY; e do existencialismo de HEIDEGGER,JASPERSe SARTRE.
Outra realiza<;ao a repercutir na aprendizagem, que se
pode mencionar e a instru<;ao programada, baseada na si-
hia<;ao do condicionamento operante proposta pOI' B. F.
SKINNER, psic6logo norte-americano, neobehaviorista e autor
de uma das teorias modern as da aprendizagem.
Ainda as novas perspectivas dos estudos sobre a Psi co-
lingiiistica e a Teoria da Informa<;ao tern oferecido substan-
cial contribui<;ao a psicologia da aprendizagem, como e 0
caso de j. S. BRUNER, que nao esta relacionado de modo
algum com 0 movimento da Teoria da Informa<;ao.
CLASSES DE COMPORTAMENTO
E APRENDIZAGEM
Tendo em vista a caracteriza<;ao da aprendizagem, sera
interessante introduzi-la com uma rapida apresenta<;ao das
diversas classes de comportamento, que possibilitam distin-
guir os efeitos dos fatores geneticos ou hereditarios eda
experiencia no desenvolvimento do comportamento.
Assim, poderao ser encontradas as seguintes classes de
comportamentos, distintos da aprendizagem: ref1exos, ins-
tintos, estampagem e primeiras experiencias.
Trata-se de comportamentos ou respostas especificas a
estfmulos especificos, nao suscetiveis it modifiea<;ao prove-
niente de experiencia anterior. Sao peculiares a cada especie
de organismo vivo, portanto SaG advindos de fatores gene-
tieos. Como exemplos podem ser citados 0 reflexo rotular
no ser humano ou os reflexos de Babinski e de Darwin
nas crian<;as ate cerca de 180 dias.
Enquanto que 0 reflexo e urn comportamento simples,
o instinto refere-se a comportamento complexo que, entre-
tanto, parece desenvolver-se sem os beneffcios da apren-
dizagem.
o reflexo ocorre em um grupo especifico de efetores
e e evocado pel a estimula<;ao de uma superficie sensorial
especifica. 0 comportamento instintivo nao clepencle, em
geral, de qualquer receptor especifico e envolve, de forma
caracteristica, grande parte dosefetores do corpo inteiro, ao
inves de se limitar a uma s6 glandula ou a urn s6 grupo
muscular.
Como todo comportamento complexo, 0 comportamento
instintivo envolve elementos reflexos, pois a sua segunda
fase, a consumat6ria, e consideravelmente reflexa. Na pro-
cura de alimento, pelo animal, por exemplo, a procu'ra e
obten<;ao do alimento SaD preparat6rias, enquanto que a
mastiga<;ao, saliva<;ao e degluti<;ao SaG consumat6rias.
Urn atributo especial do comportamento instintivo e nao
ter necessidade de ser ensinado ou de ser adquirido pela pra-
tica, embora possa incluir elementos da aprendizagem, 0 que
nao ocorre com os reflexos puros ou nao-condicionados.
E' interessante referir, porem, que a designa<;ao «com-
portamento instintivo» tern sido empregada com uma sign i-
fica<;ao aproximada, porque vem impregnada deuma serie
de conota<;6es que the afetaram 0 uso preciso.
Em resumo, 0 comportamento instintivo caracteriza-se
como complexo, previsivel de acordo com a especie, inflexivel,
automatico e mecanico, revelando muito pouca variabilidade
ou possibilidade deaprendizagem, isto e, nao requerendo
condi<;6es especiais de aprendizagem para seu aparecimento.
Quando contrariado, 0 instinto parece cego e estupido. Em
suas experj(~ncias com os peixes esgana-gata, Tinbergen men-
ciona que os mesmos, em seu comportamento de acasa-
lamento, atacavam 0 caminhao do correia que passava, por
ser vermelho, como seus rivais machos.
autra categoria de comportamento na qual a variabili-
dade e a aprendizagem sao minimas e a estampagem
(imprinting) .
Urn comportamento resultante da estampagem e fixado
pela liga<;ao estabelecida entre urn padrao complexo de com-
portamento exibido e urn estimulo presente no momento
apropriado.
Na estampagem sao encontradas quase todas as carac-
teristicas do comportamento instintivo, porem depende tam-
. de certa experiencia do organismo, implicando apren-
bem ~ t t d d'dizagem. Entretan.to, n~o .se ra a e apren lzagem comurn,
mas de tipo espeCIal e ltmltado.
Depois da publica<;ao de Lorenz sobre a estamp~gem. em
'ssaros tem sido realizados numerosos estudos eVldenclan-pa , . . ~ d . tdo tal comportamento em especles que vaG os 1l1seos aos
mamiferos.
.Muitas especies de aves estudadas apresentaram a es-
tampagem, isto e, uma liga<;ao socia~ d~ravel com membros
da especie com a qual travaram 0 prtmelro contato, portanto
elementos de outra especie tornaram-se seus pais. Quando
uma aye sai do ovo, 0 primeiro objeto que ve, torna-se
normal111enteurn de seus pais. a patinho vendo uma galinha,
desde que saiu da casca, passara a segui-Ia, como sua mae.
Nas primeiras 24 horas da cria, esta visao tern urn efeito
duravel e e muito importante para algumas especies, como
determinante do comportamento na maturidade.
A estampagem constitui urn tipo de aprendizagem muito
especial, tambem chamada aprendizagem. primitiva, e que
apresenta as seguintes caracteristicas:
1. S6 se da em urn periodo critico, sendoem geral
constituido das primeiras 12 a 24 horas de vida, dependendo
da especiej
2. Nao requer refor<;o primario, como por exemplo 0
alimentoj
3. Uma simples experiencia nao parece suficiente para
que haja a estampagemj
4. Tem a sua maior eficiencia quando uma experiencia
de treinoe reduzida a urn intervalo relativamente curto de
tempo, sendo ,enta~ result ante de pratica mais maci<;a, d.o
que distribuida, contrariamente ao que ocorre na aprendl-
zagem;
5. a compodamento a ser estampado e a propria es-
tampagem SaD ambos acelerados por urn estimulo nocivo
(choque, porexemplo), apresentado durante 0 processo de
estampagem, enquanto que tem efeito desorganizador na
aprendizagem j
6. E' eliminada por certas drogas, como os tranquili-
zantes, 0 que nao ocorre na aprendizagemj
7. Na estampagem, a primeira experiencia com uma
situac;ao e a mais importante.
Assim caracterizada, pode-se definir a estampagem como
a associac;ao entre urn padrao complexo de comportamento
e urn cornplexo padrao de estirnulos presente, por acaso na
primeira, ou nas primeiras ocorrencias deste comportamento.
Embora, em certo sentido, possa ser considerada como uma
forma primitiva de aprendizagem, a estampagem desta se
diferencia, portanto.
Em sua forma mais profunda, a estampagem e urn feno-
meno caracteristico das aves. Entretanto, 0 mesmo tipo de
efeito pode aparecerentre mamiferos, embora 0 periodo de
aprendizagem requerido seja muito maior. 0 carneiro ali-
mentado na maoe mantido afastado de outros carneiros
durante 0 crescimento nao se junta ao rebanho, quando
colocado no campo e, se permitido, aproximar-se .•a do pastor.
A estampagem vem sendo objeto de especulac;oes em
relac;ao ao comportamento humano.
A expressao «primeira experiencia» e usada para de-
signar urn comportamento que faz parte do equipamento
genetico do organismo, mas que jamais ocorreu anterior-
mente, nao podendo entao receber a denominac;ao de com-
portamento aprendido.
Tecnicamente falando, a experiencia pode ser definida
como 0 padrao de estirnulac;ao de urn 6rgao dos sentidos: as
combinac;6es e seqiiencias de estimulos que afetam 0 orga-
nismo, sem mencionar a questao dos possiveis processos de
consciencia que surgem daf.
Assirn, se pode tratar das primeiras experiencias de urn
peixe ou de urn recern-nascido, sem que isso implique que
qualquer desses organismos tenha processos nervosos sufi-
cienternente elaborados para que essas experiencias envolvam
«consciencia» ou «conhecimento».
Do nascirnentoem diante, a complexidade de estimulac;ao
de urn recern-nascido aumenta, grandernente. 0 bebe nao
parece ser afetado por essa estimulac;ao e costumava-se
pensar que se trataria apenas de urn periodo de crescimento.,
durante 0 qual 0 meio ambiente era importante apenas para
fornecer alimento e manter temperatura adequada.
Sabe-se agora que a situac;ao e bem diferente e que
as teorias da· personalidade e do desenvolvimento vem atri-
buindo grande importancia as primeiras experiencias do or-
aanisrno individual.
b As estimulac;6es sensoriais do meio "ambiente, a fim de
deterrninar as primeiras experiencias, sac necessarias para a
manutenc;ao de algumas estruturas neurais, que seriam de
outra forma degeneradas, e para a ocorrencia da aprendi-
zagemessencial para 0 desenvolvimento normal do orga-
nismo.
A falta das primeiras experiencias parece restringir a
capacidade ulterior de aprendizagem e limnic', desta maneira,
o desenvolvimento normal.
D. Hebb chega mesrno a falar daexistencia de dois
tipos de mecanismos neurofisiol6gicos que subjazem aos
dois tipos de aprendizagem:
1. Prirneira experiencia - Trata-se de uma primeirissima
aprendizagem que consiste na formac;ao de assembleias de
celulas (neuronios), que constituem as unidades mais funda-
mentais do comportamento.
Assim, quando uma crianc;a aprende a identificar urn
objeto, a sua identificac;ao envolve uma estrutura neural
especifica ou assembleia de celulas, que se. organiza atraves
de urna experiencia repetida com aquele mesmo objeto. Nas
primeiras experiencias, a formac;ao de assembleias de celulas
se da lentamentee envolve experiencias reiteradas, permitindo
mesmo a estimulac;ao subliminar de neuronios que posterior-
mente virao a participar de alguma assembleia de celulas.
2. Aprendizagem ulterior - Consiste principalmentena
formac;ao de seqUencias de fases, isto e, as assembJeias de
celulas se encadeiam para produzir urn comportamento
completo e dotado de sentido.
Se, por exemplo, as assembleias de celulas subjazem a
Compreensao mas palavras, individualmente, 0 encadeamento
das palavras na linguagem significativa poderia representar
a formac;ao de seqiiencias de fases.
Enquanto que a primeira aprendizagem e lenta e as
assembleias de celulas apresentam uma relativa estabilidade,
as seqiiencias de fases sao aprendidas mais rapiclamente e
modificam-se com facilidade.
Vem sendo realizadas pesquisas com animais, como cacs,
macacos etc., submetendo-os it priva~ao de uma estimulac;ao
normal durante a fase de desenvolvimento. Esta falta das
prirneirasexperiencias pr6prias cia especie cleterrninou 0
aparecirnento cle animais, apresentando, em comparac;ao com
irmaos cia mesma idade, caracteristicas tais como: pouca
inteligencia, deficiencia na capacidade de aprender, deficii~n-
cia na tendencia normal a sadar a curiosidacle, alterac;oes
na emotiviclade e provaveis deficiencias na capacidade de
perce bel' a dol'.
A restric;ao precoce produziu animais que podem per-
manecer imaturos para sempre, isto e, cuja capacidacle para
aprencler parece destorcida e diminuida de maneira penna-
nente. Sem duvida, cOriseqiiencias semelhantes no comporta-
menta humano vem sendo objeto de pesquisas, face ils
repercussoes no plano educacional.
A aprendizagem c uma classe de comportarnento que
consiste em uma modificaC;ao sistematica de conduta, advinda
da repeth;ao de uma mesma situac;ao e que sera examinada
em capitulo it parte.
Tanto os comportamelltosaprelldidos como os nao
aprendidos sao da maior importancia no desenvolvimento
dos organismos vivos. Parece claro que 0 comportamento
superior do adultodepellde, fundamentalmente, da experiellcia
na infancia.
o comportamento reflexo ou 0 instintivo nao exige
expcrH~ncia anterior, mas a motivac;5.o normal, a percepc;ao
e a inteligencia requerem primeiras experiencias em condic;ocs
normais.
Entrctanto, 0 comportamento inato, como tambcm 0
comportamento superior que esta sujeito as primeiras expe-
riencias, dependem da hereditariedade e. clos processos de
crescimellto, garantidores dos 01h08, ouvld08, recept?re8 da
ele e urn sistema nervoso no qual ocorre a aprendlzagem.
p Atualmente, nao se cogita mais se determinado compor-
tamento advem da hereditariedade ou da aprenclizagem, mas
de que maneira ambas colaboram para pro,duzi-Io. Apenas
o reflexo nao-condicionado prescinde da aprendizagem para
desenvolver-se, enquantoque todos os outros tipos de com-
portamento, incluindo mesmo a major parte dos illstintivos,
envolvem a aprendizagem determinada pelas experiencias da
infancia. Grande parte clo comportamento nao e adquirida,
mas ainda assim depende da existencia de outra aprendizagem
anterior.
Tais conclusoes sao de grande relevancia para 0 psic6-
logo que prol11ove investigac;oes sobre 0 desenvolvil11cllto do
ser humallo, como tal11bcm podera colaborar clillicamellte
nesse processo, tal como para 0 educador cuja missao e
procurar propiciar todos os meios a seu alcance, para 0
aproveitamento mais adequado e cficielltc de todo 0 poten-
cial hereditario de cada individuo.
A APRENDIZAGEM: CONCEITO
E CARACTERtSTICAS
E' evidente que 0 estudo de Psicologia da Aprendizagem
precisa ser iniciado pela compreensao do fenomeno da
aprendizagem. 0 que e a aprendizagem e quais sao suas
caracteristicas? Os estudos e pesquisas cientificas empreen-
c1idas pelos psic610gos, visando responder a estas perguntas,
resultaram no aparecimento de diferentes conceitos e defi-
ni<;oes de aprendizagem, conforme as diversas teorias de
aprendizagem que se foram organizando, na base dos fatas
investigados.
Em capitulos posteriores destes sumarios, serao apre-
sent adas algumas das teorias ,cia aprendizagem ja formuladas
e se podera verificar como os especialistas divergem no
que se refere a natureza dos processose mecanismos par-
ticulares em jogo na aprendizagem. Entretanto, visando
oferecer uma ideia inicial da complexidade doestudo, da
necessidade de maiores investiga<;oes sobre os fatos da
aprendizagem, que ainda estao a requerer muitas pesquisas,
serao referidas algumas das formas pelas quais diversos
psic610gos abordam 0 fenomeno da aprendizagem. Assim, a
aprendizagem tern sido considerada como:
- um processo de associa<;ao entre uma situa<;ao esti-
muladora e a resposta, como se verifica na teoria conexionista
da aprendizagem;
- 0 ajustamento ou adapta<;ao do individuo ao am-
biente, conforme a teoria funcionalista;
_ urn processo de refor<;o do comportamento, segundo
a teoria baseada em urn sistema dedutivo-hipotetico, for-
mulada pOl' Hullj
_ urn condicionamento de reac;5es, realizado pOl' di-
versas formas, tal como se veri fica, pOl' exemplo, no con,..
dicionamento contiguo de Guthrie ou no condicionamento
operante de Skinner;
- urn processo perceptivo, em que se da uma mu-
dan<;a na estrutura cognitiva, de acordo com as proposic;5es
das teorias gestaltistas.
Face a estas formas de considerar a aprendizagem, aqui
apresentadas a titulo de exemplificar e sem a intenc;ao de
transcrever todas as ja formuladas, pode-se conduir da
dificuldade para conceituar a aprendizagem de forma intei-
ramente satisfat6ria.
Da analise, porem, dos estudos realizados pelos espe-
cialistas se pode conceituar a aprendizagem, de urn ponto
de vista funcional, como a modificac;ao sistematica do com-
portamento, em caso de repeti<;ao da mesma situac;ao estimu-
lante ou na dependencia da experiencia anterior com dada
situac;ao. Esta noc;ao implica 0 reconhecimento dos seguintes
fatos:
- existencia de fatores dinamicos, como os da moti-
vac;ao, sem 0 que nenhum exercicio, treino ou pratica se
torn a possivel, po is se 0 individuo nao for impulsionado a
agir, nao podera exercit:ar-sej
- possibilidade de modificac;ao funcional dos indivi-
duos, segundo certas caracteristicas do ambiente, que se
tornam seletivas para dirigir suas reac;6es aos estimulos
ambientaisj
- aparecimento de resultados cumulativos ou continua-
dos da pratica.
De urn ponto de vista estritamente operacional bastam
dois dos caracteres mencionados - modificac;ao sistematica
do comportamento e efeito da pratica - para se conceituar
, a aprendizagem.
Hilgard assinala que certos problemas nas defini<;oes
podem, geralmente, ser resolvidos recorrendo-se a definic;:ao
de termos e, freqilentemente, e satisfat6rio definir a apren-
dizagem como aquilo que esta de acordo como significado
usual, socialmente aceito e que constitui parte de nossa
heran\a comurn. Quando devem ser feitas ,distin\oes, com
maior precisao, devem se-las at raves de tipos de inferencias
cuidaclosamente especificadas, extrafdas da experimenta\ao.
Assim, a aprendizagem pode ser definida como uma
modificat;ao sistematica do comportamento, porefeito cla
pratica ou experiencia, com um sentido de progressiva adap-
ta\ao ou ajustamento. «Comportamento», aqui, nao e tomado
apenas no sentido de rea<;oes explfcitas ou de a\ao direta
sobre 0 ambiente fisico, como manipular, locomover-se,
juntar coisas, separa-Ias, construir; mas, tambem, no de
rea<;oes simbolicas, que tanto interessam a compreensao da
vida social, observadas em gestos, na fala, na linguagem
grafica, como, ainda, no de comportamentos implicitos, que
as rea<;oes simbolicas vem a permitir, como perceber, com-
preencler, imaginal' e pensar de modo coerente.
POI' outro lado, 0 termo «pratica» nao significa a exata
repetir;ao cle uma rea<;ao qualquer, mesmo porque repeti<;oes
dessa especie jamais oconem no transcurso da aprendizagem:
pratica significa a reitera<;ao dos esfor<;os de quem aprende,
no sentido de progressiva adapta<;ao ou ajustamento a uma
, nova situar;ao que se ofere<;a.
Desta maneira, foram salientados dois aspectos de suma
importancia: a atividade propria de quem aprende e a
integra<;ao clos modos de ajustamento em paclroes graclati-
vamente mais complexos.
E' interessante enfatizar que definir "a aprendizagem
como «uma mudan<;a de comportamento» nao se pretende
significar qualquer tipo de mUdanr;a, porque, neste caso,
poder-se-ia confuncli-Ia com outras mudan<;as resultantes de
crescimento, maturat;ao, fadiga etc., que se podem ciaI' com
a repetir;aoe 0 progresso, ou nao.
Hilgarcl apresenta a seguinte defini\ao, que consiclera
como satisfatoria para despertar a aten<;ao sobre os pro-
blemas envolvidos em qualquer definir;ao de aprendizagem:
«Aprendizagem 'e 0 processo pelo qual uma atividade tem
origem ou e modificada pela rear;ao a uma situa\ao encon-
trada, desde que as caracterfsticas da mudan<;a de atividade
nao possam ser explicadas pOl' tendencias inatas de respostas,
matura<;ao OUestados temporarios do organismo (pOI' exelll-
plo, fadiga, drogas etc.) ».
Uma analise exaustiva das definir;oes de aprendizagcl11
dos diversos auto res conduzira a conclusao de que a Illais
aeral das defini<;oes, abrangendo 0 pensamento da maioria
deles, podera resumir-se no seguinte: Aprendizagem e uma
modifica<;ao sistematica do comportamento ou da conduta,
pelo exercicio ou repeti<;ao, em fun<;ao de condi<;oes ambien-
tais e condi<;oes organicas. Nesta definir;ao, verifica-se que
a modificar;ao do comportamento e uma variavel dependente
das condi<;oes ambientais e organicas, enquanto que estas
ultimas constituem as variaveis independentes, isto e, que
ocorrem com 0 nosso controle ou nao. Podemos, entao,
clizer: e a relar;ao entre variaveis dependentes(modifica<;ao
do comportamento) e variaveis independentes (ambientais-
organicas) supondo-se a atua<;ao de variaveis intervenientes
ou constructos entre essas duas categorias de variaveis.
Do ponto de vista estrutural e funcional ha mais ou
menos acordo em que a aprendizagem seja as Illodificar;oes
que interessam aos sistemas receptores e efetores, em suas
conexoes anatomicas e funcionais referentes ao sistema ner-
voso central e que foram retidas como pertencentes ao campo
da aprendizagem.
Entretanto, no que se refere a natureza dos processos
e mecanismos particulares em jogo na aprendiiager;n, isto e,
que intervem no estabelecimento e conserva<;ao dos sistemas
de trat;os e que so podem ser inferidos, e que surgem as
discussoes causadoras das diversas teorias formuladas sobre
a aprendizagem.
II. CONCEITO ACADEMICO E CONCEITO FALSO
OU PSEUDO-ApRENDIZAGEM
Quando se trata de principiantes no estudo de psicologia
da aprendizagem, nao parece superfluo abordar 0 problema
cia concepr;ao estreita e academica ,da aprendizagem, como
tambem da falsa aprendizagem. A pessoa, nao versada em
Psicologia, pode ter a tendencia a conceber a aprendizagem
como significando apenas adquirir habilidade em leitura,
escrita, conhecimentos de geografia, historia etc. Trata-se de
uma concep<;aoestreita de aprendizagem, quee muito mais
do que isso! As pessoas aprendem os valores culturais;
aprendem a desempenhar papeis de acordo com 0 seXOj
aprendem a amar, a odiar, a temer eater confian<;a em
si mesmaSj aprendem a ter desejos, interesses, tra<;os de
carcHer e de personalidade. Em suma, a aprendizagem nao
e apenas a aquish;ao de conhecimentos ou do conteudo dos
livros, como po de ser compreendida pOl' uma concep<;ao
estreita e academica do fenomeno, como tambem nao pode se
Jimitar apenas ao exercicio da memoria.
Toda aprendizagem resulta da procura do restabeleci-
mento de um equilibrio vital, rompido pela nova situa\ao
estimuladora, para a qual 0 sujeito nao disponha de resposta
adequada (esse equilibrio vital foi consider ado par Cannon,
sendo denominado equilibrio homeoestatico). A quebra deste
equilibrio determina, no individuo, um sentimento de desa-
justamento, ao enfrentar uma situa<;ao nova, e 0 unico meio
de ajustar-se e agir ou reagir ate que a resposta conveniente
a nova situa<;ao venha fazer parte integrante de seu equipa-
mento de comportamento adquiridos, 0 que constitui 0 que
se chama aprendizagem.
Entretanto, quando a situa\ao encontrada nao deter-
mina no individuo esse sentimento de fracasso inicial, essa
percep<;ao da existencia de urn problema, ocorrera a pseu-
do-aprendizagem. Assim, a pseudo-aprendizagem nada mais
e do que a simula\ao de que foi adquirida uma nova forma
de comportamento, uma nova maneira de reagir. N a maioria
das vezes, essa simula\ao assume a fei<;ao de uma formula
verbal, repetida acertadamente - decorada pelo individuo,
mas cessada a for<;a coercitiva que determinou esta pseudo-
aprendizagem, a mesma ja sera esquecida.
A eficiencia da aprendizagem esta condicionada a exis-
tencia de problemas, que sur gem na vida do educando,
que the .deem a impressao de fracasso e que 0 levem a
sentir-se compelido a resolve-Ios. Na busca e obten\ao dessas
solu<;oes, 0 educando aprende, cle fato, c nao apenas me-
n10riza formulas feitas, sem nennum efeito no ajustamento
de sua personalidade.
A aprendizagem envolve 0 uso e 0 desenvolvimento de
todos os poderes, capacidades, potencialidades do homem,
tanto fisicas, quanto mentais c afetivas. Isto significa que
a aprendizagem nao pode ser considcrada somentc como
urn processo de mcmorizar,;ao ou que cmprega apenas 0
conjunto das fun<;6es mentais ou unicamentc os elementos
fisicos ou emocionais, pois todos estes aspectos SaG ne-
cessarios.
As considera<;6es feitas para a conceitua<;ao da apren-
dizagem facilitaram, sem dl\vida, a compreensao de suas
caracterlsticas basicas, que serao enunciadas a seguir e
resuItam das contribui\oes das varias teorias da aprendiza-
gem, e estudadas em capitulos posteriores.
1. Processo dinamico - Como ja ficou bem claro, a
aprendizagem nao e um processo de absorc,;ao passiva, pois
sua caracteristica mais importante e a atividade daquele
que aprende. Portanto, a aprendizagem s6 se faz atraves
da atividade do aprendiz. E' evidente que nao se trata ap~nas
de atividade extern a fisica, mas, tambem, de atividade interna,
mental e emocional, porque a aprendizagem c urn processo
que envolve a participa\ao total e global do individuo, em
seus aspectos fisicos, in telectuais, emocional e social.
Na escola, 0 aluno aprende pela participa<;ao em ativi-
dades, tais como leitura de textos escolares, reda<;6es,
resoluc;5es de problemas, ouvindo as explica<;6es clo pro-
fessor, respondendo oralmente as quest6es, fazenclo exames
escritos, pesquisando, trabalhanc!o nas oficinas, fazendo ex-
periencias no laboratorio, participando de atividades de grupo
etc. Assim, a aprendizagem escolar depende nao so do
conteudo dos Iivros, nem so do que os professores ensinam,
mas muito mais da rea<;ao dos alunos a fatores, tais como
Iivros, mestres e ambiente social da escola.
as metodos de en sino cia escola modcrna tomaram-se
ativos, suscitando 0 maximo de atividade, cia parte do
aprendiz, face a caracterizac;ao da aprendizagem como Ulll
processo dinamico.
2. Processo continuo - Descle 0 inicio cia vida, a
aprendizagem acha-se presente. Ao sugar 0 seio materno,
a crianc;a enfrenta 0 primeiro problema de aprendizagem:
tenl que coordenar movimentos de succ;ao, deglutic;ao e res~
pirac;ao. As horas de sono, as de alimentac;ao, os diferentes
aspectos de criac;ao impoem, ja ao infante, numerosas e
complexas situac;oes de aprendizagem. Na idade escolar, na
adolescencia, na idade aduIta e ate em idade mais avan<;ada,
a aprendizagemesta sempre presente.
A familia, a escola e enfim todos os agentes ecluca-
cionais precisam selecionar os conteiidos e comportamentos
a serem exercitados, porque sendo a aprendizagem um pro-
cesso continuo, 0 individuo podera aprender algo que venha
prejudicar seu ajustamentoe 0 bom desenvolvimento de sua
personalidade.
3. Processo global ou «comp6sito» - Qualquer com-
portamento humano e global ou «comp6sito»; inc1ui sempre
aspectos motores, emocionais e ideativos ou mentais, que
serao estudados em capitulo a parte, como produtos da
aprendizagem. Portanto, a aprendizagem, envolvendo uma
mudanc;a de comportamento, tera que exigir a participac;ao
total e global do individuo, para que todos os aspectos
constitutivos de sua personalidadeentrem em atividade no
ato de aprencler, a fim de que seja restabelecido 0 equi-
librio vital" rompido pelo aparecimento de uma situac;ao
problematica.
4. Processo pessoal - Ninguem pode aprender por
outrem, pois a aprendizagem e intransferivel, de um indi-
viduo para outro. As concepc;6es anti gas supunham que 0
professor, apresentando 0 conteudo a ser aprendido, rea-
Iizando os movimentos necessarios, levava, obrigatoriamente,
o aluno a aprendizagem. Atualmente, a compreensao do
carater pessoal da aprendizagem levou 0 ensino a concen-
trar-se na pessoa do aprendiz, tornando-se paidocentrica (0
aluno no centro) a orientac;ao cia escola moderna.
A maneira de aprender e 0 pr6prio ritmo da aprendi-
zagem variam de .indivfduo para in,divfduo, face ao carater
pessoal da aprendlzagem.
5. Processo gradativo - A aprendizagem e um pro-
cesso que se realiza at raves de op~rac;6:s ereseenteme~te
eomplexas, porque, em cada nova sltuac;ao, envolve malOr
numero de elementos. Cada nova aprendizagem aeresce novos
elementos a experiencia anterior, sem idas e vindas, mas
numa serie gradativa 'e aseendente.
Este earater gradativo repereutiu na organizac;ao dos
programas escolares, na organizac;ao dos eursos e em sua
respectiva seriac;ao.
6. Processo cumulativo, com urn senti do de progres-
siva adaptac;ao e ajustamentosocial - Analisando-se 0 ato
de apl'ender, verifica-se que, alel11 da l11aturac;ao, a aprel1-
dizagem resulta de atividade an.terior, ou seja, da experieneia
individual. Ninguel11 aprende senao por si e em si mesmo,
pela automodificac;ao. Desta maneira, a aprendizagem cons-
titui urn proeesso cumulativo, em que a experiencia atual
aproveita-se das experiencias anteriores.
Estas modificac;oes de comportamento, resuItantes da
experiencia, podem levar a frustrac;oes e perturbac;oes emo-
cionais, quando nao s'e da a in.tegrac;ao do comportamento,
isto ,e, a aprendizagem. Quando, na realidade, a aprendi-
zagem se reaIiza, surge urn novo comportamento, capaz de
solucionar a situac;ao problematica encontrada, Ievando 0
aprendiz aadaptac;ao, ou a integrac;ao de sua personalidade,
ou ao ajustamento social. A acumulac;ao das experiencias
leva a organizac;ao de novos pad roes de comportamento,
que sao ineorporados, adquiridos pelo sujeito. Daf se afirmar
que quem aprende modifiea 0 seu comportamento.
IV. CRITERIOS DE CONCEITUA<;AO DA APRENDIZAGEM,
SEGUNDO AURORA GARCIA
Aurora Garcia, baseando-se no valor atribufdo pelos
psie610gos aos fatores biol6gicos, gene.tieos - advindos da
natureza e aos fatores, que chamou de dinamicos - adqui-
Psicologia _ 3
ridos, extern os ao aprendiz, conseguiu reunir os conceitos
de aprendizagem em tres grupos.
Assim, os conceitos de aprendizagem encontrados foram
classificados em tres grupos, abedecendo ao seguinte criterio:
- 0 primeiro grupo fun de 0 aspecto genetico e 0
aspecto dinamico, resultante da experiencia, em uma unidade;
- 0 segundo grupo enfatiza as diferen9as que dis-
tinguem a aspecto genetico do dinamico;
- 0 terceiro grupo defende urn ponto de vista ,dinamico
extrema, que destaca os aspectos adquiridos.
Vejamos, em nipidas considera90es, cada um dos
grupos.
Primeiro grupo - Entre os que insistem na interde-
pendencia entre os processos de matura9ao - geneticos,
e de aprendizagem - adquiridos, pode-se mencionar E. B.
Holt e Leonardo Carmichael.
Enquanto Holt refere-se a aprendizagem como «urn
crescimento do desenvolvimento», Carmichael afirma, clara-
mente, que «em toda matura9ao ha aprendizagem e em
toda aprendizagem ha matura<;ao hereditaria». Esta mesma
tese e desenvolvida em urn artigo, citado por A. Garcia, ,do
qual foi extraido a seguinte trecho:
"Desde 0 momento em que 0 crescimento comefa no ovulo
fecundado ate a senectude ou a morte, 0 desenvolvimento consiste
na variariiodasestruturas ou funr6es existentes num organismo
vivo, situado num meio em transformariio continua. Isto quer dizer
que nao e possivel afirmar, emdeterminado momento,que o de-
senvolvimento tenha terminado e 'que a aprendizagem tenha ~ome-
rado. AnteS,devemos dizer que 0 meio ambiente participa em
todo processo ide maturarao e que, por sua vez, a maturafao par-
ticipa em toda a aprendizagem".
Segundo grupo - 0 segundo grupo de psic61ogos
insiste naexistencia de uma diferen<;a fundamental entre a
aprendizageme a matura<;ao, atribuin,do igual importancia
aos dois processos.
Assim, por exemplo, afirma G. HUMPHEY:
«Quando progride a evolurao biologica, os complexos organicos
se tornam capazes de responder, de um modo cada vez mais intimo,
as transformar6es do meio-ambiente, ate que surge 0 poder de
reaUzar uma adaptafao di~amica e uma complexa variedade mul-
tidimensional. Este poder e 0 da aprendizagem».
Semelhante e a posi<;ao defendida por ARNOLDLUCIUS
GESELL, quando ensina que:
«A aprendizagem, psicologicamente falando, pode ser conside-
rada como aquele aspecto do desenvolvimento que produz um aper-
feifoamento funrional da adaptafiio da conduta as situar6es espe-
cificas, presentes ou passadas».
«A aprendizagem representa uma modificafao do dispositivo
organismico em resposta a estimulos especificos, que atuam no
meio-ambiente, no momento da modificafao. De outro lado, a ma-
turafao e uma modificafao desse mesmo dispositivo em resposta
a estimulos que se encontram nos meios intracelulares e interce-
lulares e que, num dado momento, sao independentes das influen-
rias externas».
Terceiro grupo - No ultimo grupo de defini90es, se
manifesta a tendencia a acentuar a importancia dos fatores
dinamicos, sem tamar em considera9ao 0 aspecto evoluti-
va, here,dittirio. Basta verificar as defini<;6es de alguns
auto res :
W. S. HUNTER (1913) - «Hei aprelldizagem, cada vez que 0
comportamento acusa uma mudanfa ou uma tendencia progressiva,
quando se repete a mesma situafao estimulante e quando esta mu-
danfa nao possa ser explicada por cansaro ou certas modificaroes
no sistema sensitivo-motor ou em Ollfros meios organicos».
STEPHE~ j-t COLVIN - «A aprendizagem consiste em modifi-
car a reafao do organismo mediante a experiencia».
HENRY C. MORRISON (1926) - «Toda verdadeira aprendiza-
gem se reduz sempre numa mudanfa de atitude do individuo quer
~ela aquisifao de uma habilidade especial, quer por alguma 'forma
e destreza, na manipulafao de material OIL instrumento».
~DWARD LEE THORNDIKE (1931) - «A aprelldizagem e a for-
m!!~ao de conex6es do tipo «5-R», nas quais «5» significa SITUA-
C;Ao e «R» RESPOSTA.
_ KURT KOFFKA (1925) - «Toda aprendizagem exige a produ-
fao de estruturas».
. j. F. DASHIELL (1937) - «A aprendizagem e uma capacidade
tln~ta,nllnca e um processo passivo de absorr{jo, antes pelo con-rari . " >-,
0, e um processo mlllto ailvo de reafiio».
METODOS E T,ECNICAS
DE ESTUDO DA PSICOLOGIA
DA APRENDIZAGEM
A Psicologia da Aprendizagem, como qualquer outro ramo
da ciencia, emprega metodos e tecnicas cientificas para a
comprova~ao de suas hipoteses, ou para 0 estabelecimento
de suas leis e principios gerais.
As experiencias sistematicas com a aprendizagem co-
me~aram na ultima parte do seculo XIX e, rapidamente,
desenvolveram-se no presente seculo.
Vma das primeiras experiencias no estudo da apren-
dizagem foi realizada por Hermann Ebbinghaus, que foi urn
dos primeiros a planejar metodos para medir os produtos
da memoriza~ao.
A Psicologia da Aprendizagem aplica a resolu~ao de
seus problemas os metodos da observa~ao e experimenta-
~ao, rigorosamente cientificos. Esses problemas podem re-
ferir-se as rea~5es da crian~a no processo da aprendizagem,
a atividade do professor na dire~ao e orienta~ao desse pro-
cesso, ou a organiza<;ao escolar e aos meios usados pelo
professor.
Estudando as rea<;5es do aluno pode-se pesquisar, entre
outros aspectos, as diferen<;as de apti,dao para aprender, as
condi~5es de fadiga fisica e mental.
A atividade do professor oferece tambem muitos pro-
blemas de carater cientifico, como seja 0 fator relativo aos
processos didiiticos, a medida dos produtos da aprendiza-
gem, a motiva<;ao e dire<;ao da aprendizagem, os meios
de ensino etc.
Quase todos os problemas da Psicologia da Aprendiza-
em sao essencialmente problemas de medida e avalia<;ao.
§abe-se que nas ciencias que estudam 0 comportament? hu-
mano as medidas dependem, em grande parte, da untdade
de m~dida empregada. Assim, ,desde a cria<;ao dos labora-
torios dedicados ao estudo da crian<;a e a investiga<;ao pe-
dagogica, vem sendo aperfei<;oadas as unidades ,de medida,
como os testes, as escalas graduadas, as «check lists» etc.
as metodos de pesquisa usados na psicologia da apren-
dizagem sac muito numerosos, as vezes, nao se distinguem
entre si senao por certos processos ou tecnicas especificas.
A ma;s ampla e geral das classifica<;5es feitas quase sem-
pre e a que os ,divide em metodos de observa~ao e metodos
de experimenta<;ao. Ha ainda metodos ou tecnicas especiais,
como sejam 0 dos testes, dos grupos paralelos ou equiva-
lentes, 0 de um grupo unico, 0 de rota<;ao, 0 de inqueritos,
o de hist6rico de cas os etc.
A Psicologia da Aprendizagem pode utilizar todos os
meto,dos da psicologia experimental em suas investiga~5es,
como tambem, necessariamente, precisa empregar 0 metodoestatistico, imprescindivel na pesquisa cientifica.
1. 0 metodo da observa<;ao - Estuda os fenomenos
nas condi<;5es em que se processem espontaneamente, isto
e, sem a interven~ao do observador. Deixando a natureza
e os fenomenos atuarem com seus pr6prios recursos, 0 me-
toda da observa~ao observa, associa, registra e analisa as
coisas e acantecimentos, que se sucedem naturalmente.
A observa<;ao e inaplicavel a fenomenas que ocorrem
COmmuita rapidez, ou aqueles que nao se sucedem com
muita freqUencia, como tambem, em certos casos, esta su-
jeita a grande numero de erros, exigindo a complementa~ao
por meio ,do usa de outros metodos. Assim, pode-se em-
pregar a filmagem, telas de observa~ao, espelhos especiais
e outras formas que possibilitam um maior exito para a
observa<;ao dos fenomenos.
2. 0 metodo da experimentalYao - A experiencia nao
e mais do que a observa~ao provocada, sob condi~6es con-
troladas. Na observa~ao, propriamente dita, os fatos ocor-
rem por si mesmos, sem que intervenha 0 pesquisador que,
ao contrario, interfere na experiencia, modificando as con-
di~6es do fenomeno, que e objeto do estudo.
A experiencia permite variar, a vonta,de, 0 fenomeno es-
tUdado e aumentar a exatidao das observa~6es. E' muHo
dificil, por exemplo, investigar por observa<;ao a mem6ria
verbal maxima de uma crian<;a. Com 0 auxilio de urn mne-
mometro (aparelho para medir a mem6ria) e de uma serie
de silabas ou palavras, convenientemente preparadas, e tacil
determinar a capacidade maxima ,de memoriza<;ao do in-
dividuo.
o metodo experimental e 0 maisexato, preciso e digno
de confian<;a, porque permite 0 controle das variaveis en-
volvidas no fenomeno estudado. Entretanto, a experimenta-
c;ao e urn dos metodos mais ,dificeis para se empregar, com
sucesso.
A verdadeira experimenta<;ao deve ser empregada, isto
e, baseada em uma teoria cientifica adequada. 0 mero fato
de que 0 plano de uma pesquisa ,e estatisticamente apro-
priado nao significa que a experienda e digna de con-
fian<;a, porque esta precis a partir ,de hip6teses originais, de
especula~ao da realidade.
Para que os resultados da experiencia possam ser con-
siderados validos, esta deve. descrever todas as circunstan-
cias em que foi realizada, os aparelhos e instrumentos em-
pregados, as caracteristicas da popula~ao investiga,da, as
tecnicas utilizadas, etc. para que a mesma possa ser sufi-
cientemente repetida.
3. 0 metodo dos grupos equivalentes e 0 metodo de
urn grupo itnico ou de rotal;ao - Em Psicologia da Apren-
dizagem, a experimenta~ao emprega com freqiiencia estes
metodos.
o metodo dos grupos paralelos ouequivalentes possi-
bilita apreciar-se, por exemplo, 0 valor de dois metodos no
ensino da aritmetica. Para a compara<;ao, escolhe-se uma
classe homogenea de terceiro grau. Come<;a-se por medir
o progresso ,dos alunos no raciocinio matemiitico, aplicando-se
urn teste estandartizado.
A medita<;ao permite atribuir a cada aluno pontos, segun-
do:'bs quais se dividira a turma em dois grupos, chamados
glliipo I e II. 0 grupo I sera composto dos alunos que ocupam
os lugares impares na ordem descendente dos pontos (1, 3,
5, 7, etc.); ,e farao parte ,do grupo II os alunos que tiverem
lugar par, na ordem referida (2, 4, 6, etc.). 0 mesmo pro-
fessor sera encarregado de dirigir a aprendizagem de ambos
os grupos, ens inando a cada grupo, de acordo com 0 metodo
escolhido, e consagrando a ambos igual zelo, habili,dade
e diligencia.
Terminado 0 tempo fixado para a aprendizagem, seis
meses, ou urn ano, por exemplo, os alunos sao de novo exa-
minados, com os mesmos testes antes usados. A diferen<;a
dos resultados totais de ambos os grupos (que se obtem
somando as notas in,dividuais de cada aluno e subtraindo as
somas 'de ambos os grupos) revelara, se apreciavel, qual 0
metodo de maior eficiencia, entre os do is que foram com-
parados.
Na aplica<;ao deste metodo de pesquisa e preciso levar
em conta as faltas dos alunos e ° auxilio recebido em casa.
Quando nao e possivel dividir uma classe em grupos
paralelos, po,de-se usar 0 metodo de um grupo unico, au de
rotafGo. Consiste em aplicar ao mesmo grupo de alunos urn
processo de ensino, urn sistema disciplinar etc. e, depois, 0
mesmo processo, ou sistema, suprimindo-se urn fator (ou
variavel) que aparecia na primeira aplica<;ao. Comparando-se
os resultados das duas ,experiencias e possivel apreciar 0
valor do elf-mento pelo qual os processos ou sistemas se
distinguem urn do outro.
A caracteristica do metodo ,de rota~ao e amudan~a de
urn fator experimental, por exemplo, a influencia do eJogio
e da censura num grupo unico de alunos. Se se trata de urn
grupo s6, pode-se ensinar aplicando ° elogio e depois a
censura, medindo, no fim, os resultados da experiencia.
Quando se trata ,de do is grupos de alunos, pode-se aplicar
o processo do elogio ao primeiro grupo e 0 da censura, ao
segundo. Inverte.-se, depois, 0 metodo empregado e numa e
noutra experiencia medem-se os resultados obtidos.
4. 0 metodo dos testes - A palavra teste vem da
lingua inglesa - «to test» - que quer dizer provar. A
palavra portuguesa «Teste» quer dizer «prova». Existem
testes na medicina, no atletismo, 11a psicologia da apren~
dizagem eem muitos campos.
. . ~m psicologia, um teste e um instrumento para apreciar,
objehva e quantitativamente, fun<;6es psicol6gicas ou aspectos
da conduta, ou da personalidade, em uma situa<;ao controlada.
Na psicologia da aprendizagem, a principal fun<;ao dos
testes mentais e diagnosticar as aptid6es dos alunos, sendo
tambem empregados na sele<;ao profissional, no ,diagn6stico
de defeitos e anomalias mentais, etc.
as testes relativos as materias constantes do curriculo
escolar, tambem chamados «testes objetivos», san emprega-
clos para avalia<;ao dos resultados cia aprendizagem ou ve-
rifica<;ao clo rendimento escolar e serao estudados, especial-
mente, n~ capitulo referente a verifica<;ao da aprendizagem.
Posslvelmente, os testes tem sido os instrumentos de
pesquisa mais empreg~dos pelos psic610gos, desde 0 advento
da psicologia cientifica, ja tendo sido padronizados testes
de personalidade, aptid6es especificas mentais ou motoras
ou artisticas etc.
Um teste para poder constituir-se como um instrumento
de medida cientifica precisa atender a varias etapas ,de um
processo de elabora<;ao complexo, que deve constituir objeto
de estuclos de um curso sobre a organiza<;ao de testes.
5. Metodos de estudo individual ou do hist6rico de
caso - Neste metodo, san empregados muitos rnetodos e
tecnicas combinadas. Para se estudar 0 comportamento de
urn unico indivi,duo importa, pois, conhecer 0 maior numero
possivel de fatos sobre 0 mesmo, a fim de que possarn ser
compreendidas as principais for9as e influcncias que orientam
seu desenvolvimento.
. 0 estudo do. caso 6 freqUentemente cmpregado pelo
onentador ,educahvo, visando ajudar os alunos problemas
a resolverem suas dificul,dades.
. ,6: Metodos. de informes - Tecnicas tais como ques~
honanos,entrevlstas, escalas graduadas, «check lists» etc.
Sao empregados no estudo e pesquisa dos problemas da
Psicologia da Aprendizagem, tal como em outros campos
da Psicologia.
7. 0 metodo hipotetico-dedutivo - Atualmente, a pes-
quisa cientifica, transpondo as etapas da observa<;ao oca-
sional, da observa<;ao sistematica, da elabora<;ao indutiva
de hip6teses particulares, come<;a a empregar 0 denomina-
do metodo hipotetico-dedutivo. Sua caracteristica distintiva
e a tentativa de formaliza<;ao sistematica do saber, isto e,
a formula<;ao de um sistema de leis que perrnita a dedu<;ao
e, portanto, urna constru<;ao dedutiva au model a a ser ve-
rificado, experirnentalmente.
. Assirn, em 1935,encontramos C. HULL trabalhando
com os «constructos hipotetico-dedutivos» e, quase na mes-
ma epoca, TOLMANintroduzindo 0 terrno «vari<:ivel-interve-
niente», na psicologia, quando tentavarn estudar os fatoscia aprendizagern. Para alguns, os dois terrnos san apenas
sinonimos, enquanto que, para outros, envolvern algurna di-
ferenC;a, cuja cornpreensao exigira uma analise rnais apro-
fundaJa da metodologia da investiga<;ao cientifica, que
transcende aos objetivos deste compendio.
Entretanto, ,e interessante referir que «coisas» tais como
motivos, impulsos, refor<;o, sinapse etc. tem sido tratadas
como constructos ou como variaveis intervenientes conforme. 'a conceltua<;ao adotada pelos experirnentalistas.
Estudando a aprendizagern, HULL construiu urn modelo
16gico-dedutivo dos mais aperfei<;oados .cia psicologia rno-
der~a, tendo conseguido sistematizar 178 proposi<;6es, das
quaIs 121 foram estudadas experimentalmente.

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