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ARTIGO O SURGIMENTO DO ENSINO JURÍDICO NO BRASIL

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SANDRO MARCOS GODOY
Especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil pela Associação Educacional Toledo de Presidente Prudente;
Professor do Curso de Direito das Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo de Presidente Prudente;
Mestrando em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro Universitário Eurípides – UNIVEM – mantido pela Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha de Marília;
Advogado da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP.
TEMA: O SURGIMENTO DO ENSINO JURÍDICO NO BRASIL
RESUMO: O presente artigo busca traçar um panorama da evolução histórica dos cursos jurídicos no Brasil, fixando aspectos próprios das Faculdades de Direito de São Paulo e Olinda, posteriormente transferida para o Recife. Ressalta a importância da criação dos cursos jurídicos para uma evolução social e o manejo de uma nova visão ao povo brasileiro através de uma reflexão crítica que culminou em profundas mudanças políticas. Busca-se proporcional ao cientista do direito conhecer as raízes da criação do curso jurídico pátrio e sua importância capital na constituição de uma nação democrática que almeja alcançar cada vez mais os ideais de justiça e igualdade, ainda muito distantes para a maioria dos brasileiros.
PALAVRAS CHAVE: SURGIMENTO DOS CURSOS JURÍDICOS NO BRASIL. SUA IMPORTÂNCIA NO CONTEXTO SOCIAL, POLÍTICO E JURÍDICO ATUAL.
SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 As Escolas de Primeiras Letras; 3 O Início dos Cursos Jurídicos no Brasil; 4 A Faculdade de Direito de São Paulo; 5 A Faculdade de Direito de Olinda; 6 A Mudança da Faculdade de Direito de Olinda para Recife; 7 O Dissenso entre as Faculdades de São Paulo e Recife; 8 Conclusão; 9 Bibliografia.
1 INTRODUÇÃO
Busca-se através do presente trabalho reavivar a história da criação dos cursos jurídicos no Brasil, quase sempre desconhecido aos acadêmicos e operadores do direito, cuja maioria não teve presente na sua grade curricular o surgimento e evolução do curso que escolheu para o apostolado.
É importante que conheçamos o passado para entender os acontecimentos presentes, mormente quando o ensino jurídico muito contribuiu para a própria estruturação do estado democrático de direito, bem como exerceu manifesta influência no status social e político que hoje vivenciamos.
Após uma rápida leitura deste texto, certamente poderemos concatenar idéias antes incompreendidas e descompassadas que se nos revelam atuais e importantes para compreensão do contexto social e político que vivemos.
2 AS ESCOLAS DE PRIMEIRAS LETRAS
Após a infeliz tentativa de ocupação do Brasil pelas capitanias, que culminou com morte do bispo Dom Fernão Sardinha devorado pelos índios antropófagos, viu-se Portugal obrigado a estreitar mais, ainda, seus laços com a Igreja Católica de forma a possibilitar a colonização desta vasta terra, hoje conhecida como Brasil.
Bem verdade que naquela época nem todos tiveram a mesma sorte que Hans Staden, jovem aventureiro alemão que prisioneiro dos tupinambás, conseguiu fugir a ser servido como prato indigesto pelos índios. (AGUIAR, 1998)
Os Jesuítas logo compreenderam que não seria possível converter os índios à fé católica sem, ao mesmo tempo, ensinar-lhes a leitura e a escrita. 
Por isso, ao lado da catequese organizavam nas aldeias escolas de ler e escrever nas quais também se transmitiam o idioma e os costumes de Portugal.
Os primeiros colégios e aulas de ensinar a ler e contar foram inaugurados em Salvador e eram mantidos com esmolas e donativos especiais, e a mão-de-obra nas construções que faziam incluía o esforço físico dos próprios religiosos ajudados por índios e poucos colonos. 
Nas terras anexas, desenvolviam uma cultura de subsistência e Portugal procurava atender aos pedidos de cadernos e livros, porém, o auxílio oficial para manter o colégio da Bahia somente deu-se em 07 de novembro de 1564, data da fundação do primeiro colégio oficial do Brasil. 
Quanto aos colonos, opunham-se a tudo o que estivesse fora dos seus planos de enriquecimento, e investir em educação era jogar dinheiro fora.
Nas escolas primárias, pelo ensino da gramática, os índios reforçavam o aprendizado do português que praticavam com os filhos dos colonos, com os próprios padres e com órfãos vindos de Portugal na companhia de outros jesuítas e, objetivava-se atrair os filhos para daí conquistar os pais.
No ensino das primeiras letras, os jesuítas mostraram grande capacidade de adaptação e penetravam com igual facilidade na casa grande dos senhores de engenho, nas senzalas dos escravos e nas aldeias indígenas. 
Em todos os ambientes procuravam orientar na fé os jovens e adultos e ensinar as primeiras letras às crianças, adaptando-se às condições específicas de cada grupo. 
Por outro lado, nesse tocante, os jesuítas também contribuíram para a “desintegração de valores dos nativos”: os índios aprenderam uma nova língua, adotaram um novo Deus e adquiriram novos hábitos.
A extensão alcançada pela língua portuguesa foi tamanha que mais tarde, para alguns, atribui-se a tal fato a expulsão dos jesuítas.
Verifica-se a fundação de algumas escolas jesuítas assim que estes aportaram no Brasil: em Pernambuco já em 1550 iniciaram-se as aulas para meninos; em São Vicente, em 1551, iniciou-se uma espécie de seminário onde se ensinava a falar português, a ler e escrever; em Ilhéus as aulas de ler e escrever foram inauguradas em 1565; em Porto Seguro e Espírito Santo, a primeira escola funcionou em 1551; no Rio de Janeiro, em 1565. 
A expansão jesuítica no século XVI com suas igrejas e estabelecimentos de ensino alcançou, além das referidas localidades, a Paraíba (1587), o Rio Grande do Norte (1597), Sergipe (1575), Laguna (1553), afora os locais atingidos pelas entradas, até o Rio São Francisco (1553 a 1598) e o Paraguai (1586).
Saliente-se que através do trabalho agrícola e artesanal, os padres jesuítas produziam com auxílio dos nativos, grande lucro para a Companhia, que o reinvestia na expansão das obras de catequese e aldeamento. 
Os jesuítas, além da oposição dos próprios colonos e muitas autoridades, e da hostilidade dos próprios índios, tiveram problemas de outras naturezas. 
Noticia-se que bandeirantes interessados no tráfico e escravidão dos índios, atacaram as reduções jesuíticas do sul do país e depois, com a invasão holandesa, estabelecimentos mantidos pelos jesuítas foram vítimas de furtos e vários padres presos e deportados para a Holanda. 
3 O INÍCIO DOS CURSOS JURÍDICOS NO BRASIL
Com a chegada da Família Real em nosso país, ocorreu o seu engajamento com a realidade ainda precária da cultura nacional e, em 1808, Dom João VI criou as escolas especiais de medicina na Bahia e, no Rio de Janeiro, a cadeira de artes militares. 
Tal medida amenizou, apenas parcialmente, a carência nacional, pois, não se constituíam em faculdades, quiçá, universidades.
A sociedade brasileira continuava a depender de Portugal no tocante à cultura jurídica e somente as classes mais privilegiadas da Monarquia podiam usufruir os estudos superiores. 
O direito nacional, quase então inexistente, senão pelo esforço de alguns poucos brasileiros que se dirigiam a Coimbra na busca do ensino jurídico, estava impossibilitado de desenvolver suas pesquisas, vez que se encontrava atrelado aos ensinamentos e doutrinas estudados além mar.
Era neste precário panorama nacional que encontrava o país após a Independência e, ao estudarmos as relevantes questões de natureza pedagógica, metodológica e curricular, percebemos que somente em tempo recente transformaram-se em situações centrais para o ensino jurídico e de sua implementação organizacional.
Tal fato se deu, principalmente, porque ampliou-se a produção de conhecimentos, se comparada com o século passado, como também, houve uma inserção mais intensa do Estado legislando, em sentido amplo, sobre a matéria.
Assim, falar-se em ensino jurídico no Brasil engloba, também, a própria existência da universidade brasileira de maneira especial, pois a historicidade e origem desta está afeta à origemdo curso de direito no país. 
Em outra dimensão, a história dos cursos jurídicos nos revela o desenvolvimento e consolidação curricular dos direitos civis e de cidadania no Brasil.
Os cursos jurídicos surgiram e se consolidaram quando do advento do imperial brasileiro, possuindo assim não muitos anos de existência se comparado a Universidade de Bolonha. 
Neste sentido, foi de grande valia as inúmeras intervenções dos brasileiros diplomados em Coimbra em meados de 1.800, contribuindo decisivamente com textos para a Constituição Imperial de 1824 e o arejamento de idéias liberais e democráticas. 
Como visto, antes do século XIX a única forma dos brasileiros buscarem o estudo e conhecimento profissional, principalmente nas áreas médicas e jurídicas era lançarem-se à Europa. 
Os que visavam uma preparação no curso de direto iam, na grande maioria, para Coimbra, pois não inexistia aqui um curso no qual pudessem freqüentar sem a necessidade de sair do país. 
Após concluírem seus estudos e retornarem à nação, encontravam muitos obstáculos, mostrando-se visivelmente insatisfeitos e desanimados por não saberem onde poderiam fomentar seus conhecimentos jurídicos, sendo que o apoio buscado somente seria encontrado em Coimbra e não aqui, em seu país. 
Esta situação provocou muitas discussão e indagação, no entanto, perdurou até o início do século XIX sem qualquer modificação. 
José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu, homem com visão voltada a estas dificuldades, aproximadamente em 1808 usou sua influência para que houvesse a abertura dos portos às nações amigas, acreditando em uma economia mais liberal para o progresso da nação, e destacou-se por ter sido um dos primeiros a demonstrar verdadeira preocupação com o sistema educacional superior, relacionando como se processaria a educação no Estado, e fez observações indispensáveis pensando na caracterização doutrinária e curricular. 
A preocupação em formar cursos jurídicos começou ser uma constante e a busca de soluções deste flagrante resultou no Projeto de Lei da Comissão de Instrução Pública, indicado por José Feliciano Fernandes Pinheiro (futuro Visconde de São Leopoldo), que proposto na Assembléia Constituinte, na sessão de agosto de 1823, que sugestão à abertura de cursos jurídicos nas cidades de São Paulo e Olinda. 
Foi o primeiro passo dado no caminho que levaria à criação dos cursos jurídicos em 1827.
O dispositivo constitucional que permitia a posterior criação dos cursos jurídicos era o artigo 179, inciso XXXIII, assim expresso:
Art.179 – A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte:
(...) XXXIII – Colégios e Universidades, aonde serão ensinados os elementos da Ciência, Belas Letras e Artes. (BASTOS, 2000, p. 04)
No entanto, o insucesso da constituinte representou de certa forma o insucesso da primeira tentativa de instalação dos cursos jurídicos no Brasil. 
Em 9 de janeiro de 1825 houve um decreto do Imperador visando a criação do curso jurídico no Império, indicando para sê-lo na cidade do Rio de Janeiro onde residia a corte portuguesa, o que representaria proteção à elite imperial que ali residia.
No entanto, como esse decreto não atingiu seu objetivo, publicou-se posteriormente, em 2 de março de 1825, um estatuto elaborado por Luís José de Carvalho Melo - o Visconde da Cachoeira, que se transformou em um marco na história da formação dos cursos jurídicos no Brasil.
Posteriormente, em sessão legislativa em 1826, retomada a questão da instalação dos cursos jurídicos nas cidades de São Paulo e Olinda como pretendia o Visconde de São Leopoldo, contra a proposta de instalar os cursos jurídicos em São Paulo apontou-se desde sua localização distante das províncias do norte, até a dificuldade em importar livros, pela distância do porto, passando até mesmo pela crítica ao sotaque paulista.
A favor de São Paulo foram levantados argumentos como, o clima ameno, o baixo custo de vida e até mesmo a ausência de diversões na cidade, o que era visto como um fator positivo para se evitar que o futuro aluno se distraísse dos estudos.
Sobre a localidade dos possíveis cursos jurídicos, muitas emendas foram enviadas, porém, em 8 de agosto de 1826 Francisco de Paula Souza e Melo apresentou uma indicando definitivamente as cidades de São Paulo e Olinda e, colocada em discussão, foi aprovada a chamada emenda Paula e Sousa, decidindo-se pela criação dos cursos jurídicos, um em São Paulo e outro na cidade de Olinda, sendo que esta posição foi confirmada pela Lei de 11 de agosto de 1827, que criou os dois cursos jurídicos no Brasil e que passaram a ser regidos pelo estatuto do Visconde de Cachoeira.
Os cidadãos formados nesses cursos seriam, mais tarde, os grandes fomentadores de uma conscientização crítica a respeito da política imperial e que viabilizariam os movimentos pró-independência, rebelando-se contra as pressões políticas e contradições teóricas impostas pela colônia.
A criação dos cursos jurídicos não se fez sem dificuldade e durante todo o período imperial houve carência de professores, e muitos nomeados para a função ausentavam-se constantemente, por problemas de saúde ou por exercerem altos cargos no governo.
Nem todos o professores tinham a erudição e os conhecimentos necessários e havia falta de obras atualizadas.
Segundo lição do professor Wander Bastos, verifica-se neste período que a metodologia não existia e vigorava o ensino sem método: (BASTOS, 2000, p. 34)
Apesar da afirmação de José Clemente Pereira, em sessão da Câmara dos Deputados de 31 de agosto de 1826 ‘Nas aulas não se adquirem ciência, mas somente se aprende a marcha e o método para as alcançar’ – não existem indicadores acadêmicos suficientes da absorção curricular desta sugestão, permitindo que a história do ensino jurídico no Brasil mais se aparente como efetivo desvio de seus propósitos preliminar.
4 A FACULDADE DE DIREITO DE SÃO PAULO
A inauguração das “arcadas”, como ficou conhecida a Academia de Direito de São Paulo após assim ser chamada por Lúcio de Mendonça, escritor e Ministro do Supremo Tribunal que lá se formou em 1877, se deu em 1° de março de 1828, mas sua instalação, entretanto, ocorreu de forma precária; primeiro porque o país era carente de quadros humanos; segundo pela falta de equipamentos e instalações adequadas, sem esquecer as dificuldades de espaço físico.
A solenidade de inauguração ocorreu as quatro horas da tarde no Convento de São Francisco, tendo comparecido o Presidente da Província, Conselheiro Garcia de Almeida, o Bispo Diocesano Dom Manoel Joaquim Gonçalves de Andrada, funcionários civis, militares e eclesiásticos, além de grande concurso do povo paulista.
Segundo VENANCIO FILHO, um recorte do jornal de São Paulo Farol Paulistano registrou: (1982, p. 359)
“...a sala destinada à aula, que mede noventa palmos de comprimento, estava apinhada de gente; até muitas das principais senhoras da cidade, tendo sido convidadas, assistiram este ato brilhantíssimo. O lente (Avelar Brotero) um bem traçado discurso. Finda a oração, dirigiram-se todos à Igreja, onde o Padre Mestre Guardião fez cantar um ‘Te Deum’, em ação de graças. Depois foram todos convidados pelo ilustre diretor para servirem-se de doces e refrescos, e para isto estava preparada uma esplêndida mesa, a qual estava franca a todo o povo. Ali se recitaram algumas odes e cantou-se um hino composto para solenizar o ato”.
No discurso inaugural, o Dr. Lourenço José Ribeiro destacou a importância social do curso jurídico para o progresso do país, as facilidades trazidas para os que desejassem aprender, sem ter mais necessidade de ir buscar na Europa instituto científico, o que nem todos podiam fazer, perdendo-se, assim, nas famílias desprovidas de riquezas, muitos talentos.
Os estudantes, transformando-a num verdadeiro reino da mocidade, deram vida e agitação ao burgo paulista, o qual, ainda com ares coloniais, era,segundo ZALUAR “triste, monótono e quase desanimado”, que chegou também a escrever em 1860: “tirem a Academia de São Paulo e esse grande centro morrerá inanimado”. (ZALUAR, E. apud PAULO FILHO, 1997, p. 21)
À época da criação da Faculdade de Direito de São Paulo não existia o Largo de São Francisco e o Convento de São Francisco que a abrigou, foi construído por volta do ano de 1640 para acolher os sacerdotes da Ordem de São Francisco. 
O Convento de São Francisco habitado somente por seis franciscanos, era um dos três existentes na cidade de São Paulo, porém, o mais adequado à instalação do curso. 
O general paulista José Arouche de Toledo Rendon foi o primeiro diretor da Academia, tendo sido nomeado por decreto de 13 de outubro de 1827. 
Exercente da advocacia, da magistratura e da carreira militar, onde alcançou a patente de tenente-general, e Doutor em Leis pela Universidade de Coimbra em 1779, antes de falecer em 1834 escreveu e publicou “Elementos de Processo Civil”.
A vida acadêmica detinha-se mais em estudos políticos e literários e o estudo das cadeiras jurídicas foi objeto de severas críticas, o que propiciava a muitos acadêmicos adquirir a prática dos combates sociais que se mostraria latente na história do país que estava por vir.
A Carta de 11 de agosto de 1827, sancionada por Dom Pedro I diploma fundador do ensino jurídico no Brasil propunha a conclusão do curso em cinco anos e que seriam ministrados nove cadeiras com as seguintes matérias:
1° Ano – 1ª Cadeira. Direito natural, público, análise da Constituição do Império, direito das gentes e diplomacia.
2° Ano – 1ª Cadeira. Continuação das matérias do ano antecedente. 2ª Cadeira. Direito público eclesiástico.
3° Ano – 1ª Cadeira. Direito pátrio civil. 2ª Cadeira. Direito pátrio criminal, com a teoria do processo criminal.
4° Ano – 1ª Cadeira. Continuação do direito pátrio civil. 2ª Cadeira. Direito mercantil e marítimo.
5° Ano – 1ª Cadeira, Economia política. 2ª Cadeira. Teoria e prática do processo adotado pelas leis do Império.
A primeira turma da Academia paulista freqüentou as aulas no período de 1828 a 1832, e, em 1831, houve a colação de grau de seis bacharéis, oriundos da Universidade de Coimbra, que concluíram o curso em São Paulo.
O curso foi iniciado com trinta e três alunos e, o primeiro matriculado foi Antônio Paes de Camargo, nascido em São Paulo; o segundo Manuel Dias de Toledo, natural de Porto Feliz; o terceiro, que futuramente se revelaria um dos maiores processualistas brasileiros foi José Antônio Pimenta Bueno, nascido em São Paulo. 
Àquele que concluísse o curso em cinco anos concedia-se o grau de bacharel e, o de doutor, se aprovado, defendesse tese-título, pré-requisito indispensável para o desempenho da docência.
Muitos dos docentes eram portugueses, dado à precariedade em conseguir docentes nacionais, ou então clérigos, o que demonstra uma patente proximidade, não somente física que havia entre as Arcadas e a Igreja Católica, conforme acentua VENÂNCIO FILHO (1982, p.43):
Dos dez primeiros lentes catedráticos de São Paulo, apontava Almeida Nogueira que quatro, com certeza, e talvez cinco eram clérigos (...). Assim não era apenas a localização física na sede dos conventos que ligava os cursos jurídicos e o poder eclesiástico, mas também a origem dos professores. Em São Paulo, ademais, a entrada para os cursos se fez, durante muitos anos, pelo adro da Igreja de São Francisco.
O primeiro lente do Largo de São Francisco foi José Maria Avelar Brotero que inaugurou a aula de Direito Natural e acumulou as funções de secretário do curso. 
Assim como era na Universidade de Bolonha tradição posteriormente absorvida pela Universidade de Coimbra o início e o fim das aulas eram assinalados com o toque dos sinos, utilizando-se os da própria Igreja de São Francisco.
O curso não tinha custo muito elevado, o que tornavam os custos do ensino para os estudantes ali residentes acessível, mas, para os que residiam longe, havia despesa de transporte e permanência, o que encarecia muito. 
Uma solução, ainda atual foi utilizada e os estudantes passaram a residir em conjunto nas famosas “repúblicas”, nome já consagrado em Portugal à época e que são um símbolo da vida acadêmica daqueles tempos.
A indisciplina, em dado instante, passou a ser motivo de preocupação para o diretor da Faculdade que através do ofício datado de 1° de setembro de 1831, se queixa da incúria e desleixo de alguns acadêmicos e da concorrência de alguns professores nas aprovações não merecidas.
A má qualidade do ensino nos primeiros anos da Faculdade era fato, tanto que em 5 de agosto de 1831, o Ministro do Império José Lino Coutinho, baixou um aviso sobre o descaso de alguns lentes indiferentes à falta de freqüência dos seus alunos e fazendo aprovações imerecidas conforme noticia. (VENANCIO FILHO, 1982, p.49)
As Faculdades de São Paulo e de Olinda apresentavam feições próprias, mesmo diante dos currículos idênticos e os lentes eram escolhidos sem preferência de região. 
Enquanto a faculdade nordestina mostrava características mais filosóficas, preparando cientistas do direito, dela surgindo, anos após, o movimento conhecido na história das idéias como a Escola de Recife, a Faculdade de São Paulo assumiu uma fisionomia mais prática e política e menos jurídica, sempre preocupada com o futuro político do nosso país, tanto que por ela passaram não menos que sete presidentes da República Velha (1889-1930), último deles Jânio Quadros.
Ambas as faculdades eram dotadas de um curso jurídico-social onde era dada ênfase às novas ciências sociais, como o Direito das Gentes e Diplomacia, Direito Mercantil e Marítimo, Economia Política, Direito Público e Análise da Constituição do Império.
Os primeiros iniciados, dado à precariedade dos cursos pouco aprenderam, mas por si próprios, conforme demonstraram tempos depois destacando-se no cenário jurídico brasileiro.
Os alunos das “arcadas” desde o início mostraram-se dispostos a lutarem por ideais clamados pela sociedade brasileira, jamais se curvando às imposições burguesas que os açoitavam.
Bastante interessante é a famosa e misteriosa sociedade secreta fundada por Júlio Frank, que passou a existir a partir de 1831 na Faculdade de Direito de São Paulo. 
Trata-se da “Bucha” ou “Burschenschaften”, que significa sociedade de moços ou simplesmente sociedade, instituição que pertencia exclusivamente às “arcadas”, cujos iniciados quase sempre ingressavam na maçonaria. 
A “Bucha” apesar de não ter sido a única sociedade secreta da Faculdade de Direito de São Paulo, seus membros eram, e ainda são chamados de “bucheiros” e teve em seus quadros importantes nomes, como Rui Barbosa, Pedro Lessa, Barão de Rio Branco, Campos Sales, Venceslau Brás, Artur Bernardes, Afonso Arinos, Washington Luís, dentre muitos outros. 
Seu objetivo sempre foi filantrópico, político, liberal, abolicionista e republicano e seus membros eram recrutados entre pessoas que revelassem grande caráter, espírito de filantropia e amor aos estudos e à liberdade.
Foi fundada pelo professor Júlio Frank, querido e aclamado entre os alunos, tendo sido considerado um dos mais importantes padrinhos dos acadêmicos.
Seu maior destaque é ter sido enterrado no pátio das “arcadas” onde jaz num monumento com um obelisco de quatro metros de altura no topo ainda preservado, após uma frustrada tentativa de enterrá-lo no cemitério local por ser protestante, tendo a Igreja Católica negado seu descanso em solo sagrado.
Lá estudaram personalidades como Castro Alves, Álvares de Azevedo e Fagundes Varela que embora não tenham concluído o curso, pelo seu destaque tiveram seus nomes gravados nos pórticos das arcadas quando recebeu uma nova fachada, tendo lá permanecido até os dias atuais.
A primeira mulher titular das Arcadas foi Nair Lemos Gonçalves, nascida em São Paulo, galgou um a um, os degraus da carreira docente nas Arcadas.
Ligados aos maiores movimentos libertários do país, principalmente a abolição em 1888 e a Proclamação da República em 1889,alunos e professores da Faculdade de São Paulo se uniam em torno dos mesmos ideais de justiça. 
Assim foi na Revolução Constitucionalista de 1932, na luta contra a ditadura de 1945, nos movimentos pró-anistia e diretas-já mais recentemente. 
Juntamente com a Faculdade de Direito de Olinda, as Arcadas é o marco do nascimento da consciência jurídica e política no Brasil a partir do século XIX.
Para PAULO FILHO, “seus bacharéis acenderam os primeiros archotes que iluminaram, no altar da nacionalidade brasileira, o culto da Lei, o amor à Justiça e o sentimento da brasilidade”. (1997, p. 159)
Os estudantes de direito, grandes baluartes do Brasil, que se destacaram nessa época foram: Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Castro Alves, Álvares de Azevedo e Fagundes Varella, entre outros, sendo que os três últimos não chegaram, sequer, a terminar o curso de direito, no entanto, se tornaram inesquecíveis por seus atos e poemas.
5 A FACULDADE DE DIREITO DE OLINDA
Era sonho dos brasileiros possuírem dentro do Brasil estabelecimento de ensino superior, onde pudessem desenvolver suas faculdades naturais em harmonia com a cultura e o tempo.
Os ideais nordestinos de 1817 surgiram por intermédio de um jurista e economista chamado Azeredo Coutinho que quando bispo e governador interino da capitania de Pernambuco em 1800, fundou um seminário modelar no qual ensinavam-se as disciplinas de latim, grego, francês, geografia, entre outras. 
O seminário transformou as condições intelectuais da capitania, porque constituiu vários sacerdotes além de uma escola leiga, porém não prosperou como deveria, tendo em vista as paixões políticas da época e, embora tenha preparado o advento do curso jurídico, não foi possível criar uma universidade naquela ocasião, lançando-lhe somente as idéias semeadoras.
A criação da Faculdade de Olinda somente se deu anos depois com o diploma criador das Faculdades de Direito no Brasil por iniciativa de José Feliciano Fernandes Pinheiro, o Visconde de São Leopoldo através da Lei de 11 de agosto de 1827, que votada pela Assembléia Geral, foi sancionado pelo imperador D. Pedro I.
Em Olinda o curso jurídico foi instalado no dia 15 de maio de 1828, no Mosteiro de São Bento sendo nomeado diretor interino o Dr. Lourenço José Ribeiro, sendo diretor efetivo do cargo o Dr. Pedro de Araújo Lima. 
O prédio para instalação da Faculdade de Direito de Olinda, da mesma forma que ocorreu no curso instalado meses antes em São Paulo, foi cedido pela Igreja Católica por meio dos religiosos do Mosteiro de São Bento. 
Prédio este que mereceu críticas ferrenhas do Bispo Tomás de Noronha pela imprópria acomodação do curso jurídico, tão importante para a comuna de Olinda.
Entretanto, a inauguração do curso revestiu-se de grande solenidade onde compareceram autoridades civis e eclesiásticas, a tropa formou-se dando salvas e artilharia e a cidade foi iluminada por três dias, enchendo de intenso regozijo a pitoresca cidade cheia de tradições. 
Matricularam-se quarenta e um alunos, sendo que alguns foram mais tarde brilhar nas letras, na política, ou na magistratura. 
Para o exercício do magistério naquele estabelecimento, podem ser lembrados os seguintes professores:
Pedro Autran da Mata e Albulquerque que começou lecionando aos 27 anos a cadeira de Direito Natural após escrever sua própria obra, tendo sido aprovada pela Congregação.
Lourenço Trigo de Loureiro lecionou a cadeira de francês do Curso Anexo; Francisco Paula Batista escreveu dois compêndios que publicou para o uso de seus alunos que foram: Teoria e Prática do Processo Civil e a Hermêutica Jurídica; Joaquim Vilela de Castro Tavares com vinte e cinco anos de idade entrou para o corpo docente muito estimado pelos estudantes, foi homenageado com inscrições de palavras afetuosas em sua lápide funerária, em testemunho de respeito e reconhecimento.
Jerônimo Vilela de Castro Tavares teve ingresso na Congregação da Faculdade de Direito em 1844, foi preso e condenado à prisão perpétua após o movimento insurreicionista ter sido sufocado, tendo sido destituído do seu cargo de lente e remetido para o presídio de Fernando de Noronha onde alcançou o perdão em 1851, sendo reintegrado ao posto de professor. 
Publicou em 1853 o Compêndio de Direito Público Eclesiástico o qual foi utilizado pelas faculdades de Olinda e de São Paulo onde estudaram todas as gerações que passaram pelos cursos até que a República aboliu o estudo do direito regulador das relações entre a Igreja Católica e o Estado.
Zacarias Góes e Vasconcelos foi nomeado lente substituto em 1841, catedrático em 1855 e em 1859 jubilou-se e durante muitos anos lecionou na faculdade de Direito de Olinda e Recife. 
6 A MUDANÇA DA FACULDADE DE DIREITO DE OLINDA PARA RECIFE
A escolha de Pernambuco para sediar a Faculdade de Direito teria se dado em função de um certo espírito revolucionário e intelectual existente no local ou seria um meio de punir e controlar a intransigência republicana do Recife? 
A verdade é que Pernambuco carregava o mesmo orgulho republicano, o mesmo ideal de liderar a região setentrional do país que havia caracterizado em anos anteriores.
O curso que se instala em 1828 no mosteiro de São Bento não correspondeu, ao menos em seus primeiros momentos, aos anseios de autonomia tão estimados naquela época e local. 
Ao contrário, Olinda representou para os cursos jurídicos do Brasil a penetração direta das velhas idéias portuguesas, uma vez que, em vista do isolamento da província, tudo vinha de Portugal: os costumes, a maioria dos professores e mesmo parte dos alunos. 
Em Olinda tudo se assemelhava à metrópole portuguesa que se buscava combater e a estrutura do curso era igual à da escola de Coimbra, assim como os hábitos.
O curso contava com todos os problemas de uma escola inaugurada às pressas e sem o pessoal capacitado e o período olindense ficou marcado, sobretudo, pela pouca importância de sua contribuição e pela pronunciada influência da Igreja Católica ao lado do Estado, que ofereceu o Mosteiro de São Bento como sede e participou de forma ativa dos primeiros cursos.
Fora os clérigos que ministravam aulas, os demais professores, muitos residentes no Recife, encontravam dificuldade quanto à distância, revelando-se mais ausentes que presentes como o professor Francisco de Paula que em um ano não chegou a ministrar doze aulas sequer, sem dizer da má remuneração que não os animava.
Por conta de tais dificuldades, houve pouca importância intelectual e baixa produção discente na Faculdade de Olinda e o que restou foram, sobretudo, as estruturas rígidas dos cursos, as reproduções de obras jurídicas do estrangeiro, as profundas raízes e influências dos mestres religiosos e do jus-naturalismo católico. 
Trata-se de uma ciência católica, comprometida com a revelação divina e com a defesa do caráter imutável da monarquia.
A mudança para Recife em 1854 foi inevitável e assinalou uma guinada tanto geográfica como intelectual e só a partir de então, pôde-se falar em uma produção original e na existência de um verdadeiro centro criador de idéias e aglutinadores intelectuais engajados em problemas de seu tempo e de seu país.
É neste cenário que surgem professores como Tobias Barreto, autor de profunda doutrina, conhecido por suas particularidades e acontecimentos, muitos deles desprovidos de sorte, como quando chegando em Recife, ao descer do barco, levou um coice de um burro e posteriormente viu sucumbir na mesma noite suas roupas chamuscadas pelo incêndio na pensão que dormia.
Das convicções de Tobias Barreto de que “fé não se discute”, narra-se que numa banca de argüição de Direito Eclesiástico, sobre a infalibilidade do Papa, indagando se o examinando acreditava que o Papa era infalível, tendo como resposta uma afirmação reperguntou se o aluno afirmava isto por convicção ou por fé.
Ao responder o examinando “por fé”, dispensou-lhe Tobias Barreto determinando que rezasse o Padre Nosso, e ao retruco do aluno, disse que não lhe argüiria mais porque lhe respondera convencidopor fé e a fé não se discute. (BARRETO, 1963, p. 119)
E finalizou afirmando que se a resposta adviesse de convicção do aluno, tentaria debater de modo a demonstrar o contrário e valorizar as respostas do examinando. 
Mas, enfim, para a alegria de vários membros do corpo docente que reclamavam do isolamento e da distancia a que se viam sujeitos quando a escola ficava em Olinda, em 1854 ela foi transferida para o Recife e a mudança maior não era quanto às instalações, que não resultou um aprimoramento, mas sim quanto à produção intelectual. 
Foi nesse momento que se percebeu o surgimento de um novo grupo de intelectuais, cuja produção transpôs os estreitos limites regionais.
Os exames preparatórios foram moralizados, estipulou-se de forma rígida um calendário de aulas, assim, como a duração das lições e a regularidade semanal das sabatinas.
Para controlar a violência das relações entre alunos e professores, foi instaurado um rigoroso sistema de castigos, podendo a punição ir de simples reprimenda à expulsão de aula pelo lente, ou à prisão correcional pelo diretor, que seria, em caso mais graves, de um a oito dias.
No ano de 1879 houve a reforma que estabelece o ensino livre e abole a obrigatoriedade de freqüência, dividindo o curso em duas seções distintas: ciências jurídicas e ciências sociais. 
O primeiro correspondia ao programa de: direito natural, romano, constitucional, civil, criminal, comercial, legal, teoria e prática do processo; o segundo composto pelas cadeiras: direito natural, público, universal, constitucional, eclesiástico, direito das gentes, administrativo e diplomacia, história dos tratados, ciência da administração, higiene pública, economia e política.
7 O DISSENSO ENTRE AS FACULDADES DE SÃO PAULO E RECIFE
Os dissensos entre os acadêmicos do Recife e de São Paulo nunca foram motivos de segredo ou disfarce e, logo após a fundação das faculdades as divisões entre elas foram sempre maiores que as semelhanças.
Variam em proporção e importância as dessemelhanças entre as faculdades, podendo ser encontradas nos grandes contrastes teóricos ou nos menores detalhes cotidianos. 
No exame de línguas, enquanto na Faculdade de São Paulo o candidato passaria apenas por uma prova de inglês, na Faculdade do Recife seria testada sua capacidade em inglês, alemão e italiano. 
Quanto ao exame de admissão, se em Recife se exigiam "noções de antropologia", na faculdade paulista requeria-se conhecimentos em “psicologia e lógica”, quesitos que revelam atenção diversas em cada um dos cursos.
Na academia de Recife a aproximação com os estudos de antropologia física e com ela a frenologia e o determinismo racial; na escola paulista, um acento na perspectiva filosófica e um debate mais distante das ciências biológicas. 
Quanto à organização didática, enquanto na Faculdade do Recife havia uma grade maior de cursos em direito penal, ou melhor, em Antropologia Criminal, já em São Paulo o que se nota é uma ênfase na área de direito civil.
O abismo maior na diferença das duas faculdades pode ser observado mediante a análise da imagem que cada instituição desenhou para si. 
Enquanto Recife educou e se preparou para produzir doutrinadores, "homens de ciências", São Paulo foi responsável pela formação dos grandes políticos e burocratas do Estado. 
De Recife partia todo um movimento de auto-celebração que exaltava a criação de um centro intelectual, produtor de idéias autônomas.
São Paulo ditava os rumos do País de modo a influenciar os jovens estudantes a fomentarem conhecimentos voltados para a política e direção da nação, daí a participação marcantes dos estudantes de direito das “arcadas” nos acontecimentos políticos que marcaram o Brasil.
8 CONCLUSÃO
É irrefutável que o surgimento dos cursos jurídicos no Brasil contribuiu de forma indelével para a formação de uma consciência social e política atual, mais atuante junto aos representantes parlamentares nas mais diversas esferas de atuação.
Prova disso é o movimento organizado para as eleições diretas que culminou num debate amplo e no lançamento às ruas brasileiras de uma reivindicação popular que teve como precursor os alunos e operadores do direito, em especial a Faculdade de Direito de São Paulo, popularmente conhecida como “arcadas” cujos integrantes, não decepcionando seus antigos integrantes, clamou à frente da organização popular.
Inarredável, pois, a importância dos cursos jurídicos na concepção social e política atual. 
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