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Brasília - DF. Filosofia e educação Autores Estrella BOHADANA Sérgio SKLAR Revisto por Robson Rodrigues de PAULA Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do caderno de estudos e pesquisa ..................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Aula 1 Introdução à Filosofia e Educação.......................................................................................................................... 9 Aula 2 A filosofia como uma produção cultural grega ................................................................................................17 Aula 3 A Filosofia Clássica e formação do homem grego ..........................................................................................27 Aula 4 A Filosofia e a educação no Medievo I: passagens e rupturas ..................................................................40 Aula 5 A Filosofia e a educação no medievo II: a escolástica e o renascimento ...............................................53 Aula 6 Filosofia e Educação: teóricos modernos e considerações finais ..............................................................75 Referências ..........................................................................................................................................................................89 4 Organização do caderno de estudos e pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 5 Organização do caderno de estudos e pesquisa Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 6 Introdução A disciplina Filosofia e Educação tem como principal objetivo promover uma reflexão sobre os sentidos e os fins da educação, por meio de uma análise das principais correntes filosóficas, desenvolvidas entre os períodos clássicos e medieval. Busca-se também, a partir desta incursão histórica, indicar alguns sistemas de ideias mais contemporâneos que, por caminhos distintos, investigaram as relações existentes entre o conhecimento filosófico e a educação. O conteúdo desta disciplina está dividido em seis grandes blocos temáticos. O primeiro bloco apresenta as singularidades da Filosofia, em relação aos outros tipos de conhecimento – Senso Comum e Ciência – e discuti as associações possíveis entre esta disciplina e a educação. No segundo bloco, analisaremos os aspectos históricos e culturais que contribuíram para o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga. Também, nesta aula, apresentaremos as principais características da primeira escola filosófica, a Pré-socrática. No terceiro bloco, serão apresentados alguns conceitos e ideias básicas, os quais estão na base dos pensamentos dos principais pensadores da Filosofia Clássica. Daremos relevo, à visão sobre a educação na Grécia, a qual se constitui entorno da noção de Paideia; ao método maiêutico, formulado por Sócrates; e a discussão sobre o conhecimento, proposta por Platão, na Alegoria da Caverna, apresentada em seu livro, A República. Nos blocos quarto e quinto, refletiremos sobre as ideias referentes a educação, desenvolvida pelos principais filósofos da Patrísticas e Escolásticas, escolas filosóficas desenvolvidas na Idade Média, que articularam a Filosofia à Religião. Para finalizar discutiremos Objetivos Este caderno de estudos tem como objetivos: » Compreender as especificidades da Filosofia em relação aos demais conhecimentos. » Compreender os pontos de contato entre educação e filosofia. » Perceber a importância da formação da Pré-socrática. » Entender a noção de Paideia e a sua utilização para uma problematização acerca do papel da escola e do professor na transmissão de valores. 7 Introdução » Saber utilizar a maiêutica para uma reflexão sobre as questões socioculturais na contemporaneidade. » Compreender a teoria do conhecimento de Platão, apresentada na Alegoria da Caverna. » Compreender as continuidades e descontinuidades entre cultura greco-romana e o medievo a respeito dos objetivos da educação. » Compreender a maneira como os pensadores da escolástica conjugaram os termos filosofia e religião; fé e razão. » Saber relacionar as discussões filosóficas ocorridas no final da Idade Média com a formação das primeiras universidades. 9 Apresentação Nesta aula, serão apresentadas as principais características da Filosofia. Você irá observar que a Filosofia se distingue dos demais tipos de conhecimentos – Senso Comum e Ciência – , por refletir, de maneira racional e sistemática, acerca do mundo. Vemos que, justamente por ter este propósito, a Filosofia é uma ferramenta de suma importância para o profissional da educação, uma vez que possibilita uma reflexão mais aguçada sobre sua prática, bem como acerca dos fins e dos sentidos do educar. Objetivos Após a leitura desta aula, você será capaz de: » Compreender as características dos tipos de conhecimento. » Entender as singularidades da disciplina Filosofia. » Perceber que a Filosofia se aproxima da Educação por levantar questões sobre o estar do homem no mundo. » Refletir sobre os possíveis encontros existentes entre Filosofia e Educação. Antes de começarmos a estudar as aproximações que existem entre as disciplinas Filosofia e Educação, torna-se necessário compreendermos as especificidades do conhecimento filosófico. Em outras palavras, primeiramente, temos que entender as diferentes maneiras pelas quais os humanos concebem e experimentam a “realidade”. Portanto, iniciaremos a primeira aula de nossa disciplina realizando uma distinção entre o Sendo Comum, o Conhecimento Filosófico e a Ciência. 1 AulA IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO 10 AulA 1 • IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO A filosofia como um dos tipos de conhecimento humanosSenso comum Grosso modo, podemos entender o Senso Comum com um conhecimento espontâneo, uma primeira apreensão do mundo, resultante da herança de uma coletividade e das experiências individuais realizadas em sociedade. Dessa maneira, podemos dizer que as tradições, as crenças e o aprendizado do cotidiano constituem o Senso Comum. O imaginário popular está cheio dessas concepções e dessas práticas apreendidas na vida cotidiana, no dia a dia. O tratamento de doenças através da utilização de ervas é um bom exemplo disso. Vejamos: por muito tempo, mesmo sem ter o conhecimento dos princípios ativos (substância química responsável pela cura) do boldo, muitos de nossos antepassados já o utilizava para a cura de problemas hepáticos (males do estômago). Nesse caso, a associação entre a referida erva e a doença não era feita a partir da realização de um estudo mais sistemático ou de uma pesquisa empírica, mas pelo conhecimento popular, passado de geração a geração. Dessa forma, por ser assistemático e ametódico - já que não existe um rigor ou critério para observação de um determinado fato – o Senso Comum não é valorizado na produção do Conhecimento Científico. A Ciência, por sua vez, busca compreender o funcionamento da natureza, usando, sobretudo, um conhecimento objetivo, formulado através de métodos cuidadosamente pré-estabelecidos, como veremos mais adiante. O conhecimento filosófico: uma postura reflexiva diante do mundo “A filosofia não é uma doutrina, mas uma atitude” (Ludwing Wittgenstein) Entre os filósofos há um debate muito efervencente a respeito da própria definição do termo filosofia. Uns, inclusive, evitam conceitua-la por acreditarem que qualquer investida neste sentido seja insuficiente para desiguar o ato de filosofar. Numa análise a respeito da origem desta palavra, constataremos que ela vem do grego φιλοσοφία e que é a junção de duas outras palavras: “philia” (φιλία) - cujo significado pode ser “amizade”, “amor fraterno” ou “respeito entre os iguais”- e “sophia” (φιλία), a qual significa, em português, “sabedoria” ou “conhecimento”. Portanto, filosofar significaria o amor pelo conhecimento ou a busca da sabedoria. Contudo, tal apresentação é por demais vaga, uma vez que não indica os modos e as formas como se busca esta virtude, assim como as singularidades deste conhecimento em relação aos demais. Debates e discurssões teóricas a parte, segue uma consideração de Marilena Chaui a respeito da Filosofia. Observe que a pensadora, num exercício reflexivo, nos apresenta a filosofia indicando justamente aquilo que é ela não é: 11 IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO • AulA 1 A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é sociologia nem psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos da sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é história, mas interpretação do sentido dos acontecimentos enquanto inseridos no tempo e compreensão do que seja o próprio tempo. Conhecimento do conhecimento e da ação humanos, conhecimento da transformação temporal dos princípios do saber e do agir, conhecimento da mudança das formas do real ou dos seres, a Filosofia sabe que está na História e que possui uma história. (CHAUI, 2000, 16) Na história do pensamento ocidental, cronologicamente, a Filosofia surgiu na Grécia por volta do século VI (ou VII) a.C., tendo como um de seus principais expoentes o filósofo pré-socrático Tales de Mileto (623-546 a.C.). Este pensador foi um dos primeiros a buscar uma explicação do mundo através de uma perspectiva mais racional e sistemática. Como será ressaltado na próxima aula, até então na Grécia, tanto a origem do universo como os acontecimentos sociais (nascimentos, pestes, guerras, doenças, mortes etc.) eram explicados a partir da ação sobrenatural dos seres divinos e mitológicos. Sendo assim, diferente do senso comum, a filosofia genuinamente é racional e reflexiva. De acordo com Chauí (2000), as indagações filosóficas podem ser reunidas em três grupos, que expressam questionamentos distintos realizados, por nós, humanos, acerca do que sentimos, falamos e agimos. Tais reflexões ocorrem a respeito: » Das motivações e das razões. 1. Por que sentimos determinados sentimentos? 2. Por que dizemos o que dizemos? 3. Por que agimos de uma determinada maneira e não de outra? » Dos conteúdos de nossos sentimentos, palavras e ações. 1. Qual o sentido dos nossos sentimentos, verbalizações e atos? » Das intenções ou das finalidades. Noutros termos: quais os propósitos e os fins de nossos sentimentos, palavras e atuações? Torna-se necessário dizer que tais reflexões, além de serem racionais, também são realizadas de modo sistemático. Uma vez que a filosofia: trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentos 12 AulA 1 • IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. Não se trata de dizer “eu acho que”, mas de poder afirmar “eu penso que ”. (CHAUI, 2000, p. 13) A filosofia como fundamentação do conhecimento científico Como foi ressaltado, ainda que na Antiga Grécia, os filósofos da phisis – os pré-socraticos – Socrátes e Platão tenham formulado e defindo conceitos, seja na explicação mais racional acerca da existência e do funcionamento dos fenômeno naturais, ou no entendimento da vida civica na pólis, a ciência, como a conhecemos, só foi desenvolvida a partir final da Idade Moderna. Neste período, no âmbito da filosofia, alguns pensadores estabeleceram formas mais sistemáticas e metódicas para o desenvolvimento de suas investigações, formando assim, um outro tipo de conhecimento sobre os entes e o mundo: a ciência. Gradativamente, a partir daí, em razão aos objetos determinados pelos estudiosos, surguiram distintos campos científicos. Este processo de formação das ciências tomou força principalmente com contribuições de Galileo Galilei (1564- 1642), a partir do século XVII. A apresentação mais detalhada acerca dos campos da ciência será realizada na disciplina Sociologia da Educação. Por hora, de acordo com os objetivos desta aula, segue uma definição sobre o conhecimento científico: Um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Assim, podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado contéudo foi construído, possibilitando a reprodução da experiência. Dessa forma, o saber pode ser transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido. (BOCK et at, 2000:15) Portanto, em síntese, o conhecimento científico: » valoriza a razão; » recomenda a observação empírica dos fenômenos analisados; » opera a partir de métodos e técnicas científicas; » formula teorias e leis gerais. Para uma maior entendimento das caracaterísticas do Senso Comum, da Filosofia e da Ciência, observe atentamente o quadro a seguir: 13 IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO • AulA 1 Compare Senso Comum Filosofia Ciência Conhecimento assistemático e ametódico, resultante da herançade uma coletividade e das experiências individuais em sociedade. um modo de pensar, que não se constitue a partir de um conjunto de conhecimentos pré-estabelecidos e fechados. Antes de tudos, a filosofia é uma postura diante do mundo que procura entender os acontecimentos além de sua aparência. nessa perspectiva, a filosofia parte do que existe, critica e coloca em dúvida. Conhecimento objetivo, metódico, sistemático e controlável dos fenômenos naturais, das obras humanas, dos fatos sociais e do comportamento humano. Filosofia e educação: aproximações e distanciamentos a educação problematizadora, respondendo à essência do ser da consciência, que é sua intencionalidade (...) identifica-se com o próprio da consciência que é sempre ser consciência de, não apenas quando se intenciona a objetos, mas também quando se volta sobre si mesma (...) a consciência é consciência de consciência. (FREIRE, 1983, p.77) Os termos Filosofia e Educação possuem histórias e desenvolvimentos específicos, mas, apesar de suas características particulares, são também compreendidos em torno de uma questão, tentando incessantemente encontrar uma resposta para a mesma: quais são os objetivos gerais que determinam o modo pelo qual o ser humano adquire novas formas de compreensão do mundo que o rodeia (educa-se, assim)? Em outras palavras, para que serve a educação, ou numa linguagem própria dos estudiosos da Filosofia, quais são os “fins” próprios do processo educativo? Fornecer instrumentos para que possamos resolver satisfatoriamente as dificuldades a que se referem esta indagação é o eixo sobre o qual iremos refletir nas aulas que se seguirão. Tarefa demasiadamente ampla: ela envolve o entendimento de certas ideias básicas, tais como a da definição de que ser humano falamos (ocidental, oriental?), qual o seu lugar no mundo e de qual período histórico estamos tratando quando determinamos por tarefa encontrar uma resposta para esta interrogação. Em acréscimo a este conjunto de questões iniciais, formula-se a pergunta se existe ou não uma “faculdade” no ser humano que se destaca, direcionando-o para o conhecimento e tornando-se, por isto, indispensável para o desenvolvimento do tema que aqui nos propomos a analisar: o poder de abstrair e de refletir sobre o que existe no mundo, sob a vontade de controlar o universo tão enigmático no qual os homens estão incluídos. Para iniciarmos nossa jornada teórica, devemos lembrar que os problemas lançados pela Educação podem ser divididos em gerais e técnicos. Os primeiros se voltam, na maior parte dos casos, para a reflexão sobre as diversas “finalidades” (ou “sentidos”) em vista das quais se dirige o processo educativo. Os segundos se referem aos procedimentos que exigem conhecimentos específicos 14 AulA 1 • IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO das situações concretas e dos meios que podem ser empregados em função daquelas. Estas duas abordagens estão intimamente ligadas, dependendo uma da outra. E esta implicação foi justamente considerada por autores que não se limitaram à elaboração concreta de “métodos” e “técnicas” de aprendizagem. Educadores como Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Georg Michael Kerschensteiner (1854-1921) privilegiaram uma reflexão sobre os fins da educação em detrimento dos vários procedimentos técnicos. Já Johann F. Herbart (1776-1841), iniciador de uma pedagogia entendida sob parâmetros de uma ciência, e o filósofo John Dewey (1859-1952), numa outra via de análise, se detiveram fundamentalmente na formulação e análise de métodos, a partir de fins previamente estabelecidos. Dito em outras palavras, para os primeiros, a questão básica gira em torno do que é educar, para que e para quem se dirige o processo de educação. Para os segundos, em oposição, a questão central se resume em como educar. Destacamos que o primeiro olhar (PESTALOZZI; KERSCHENSTEINER) se tornou consensual entre muitos filósofos, uma vez que é próprio do pensamento filosófico formular indagações que versam sobre o estar do homem no mundo. Justamente por este motivo, afastamo-nos de uma perspectiva que favorece a centralização de uma discussão apenas em torno de métodos e técnicas pedagógicas, adotando, ao longo deste curso, a linha teórica que visa privilegiar, na educação, o debate em torno dos fins, aproximando, assim, os campos da Filosofia e da Educação. Este debate será aprofundado na aula seis, por hora torna-se necessário entendermos o significado do verbo educar. “Educar” é um termo latino composto do prefixo “e”, de ex- que indica “movimento para fora”, e da partícula “duc”, proveniente de ducere, que significa “conduzir, guiar”. Educar (educere) é primordialmente um ato de conduzir, introduzir, guiar. Assim, educar é a ação que provoca o movimento capaz de deslocar o outro em direção a um fim estipulado. Nessa ação, o educador não só é o provocador, mas também o guia. Como Guia é também responsável pelo processo de comunicação – e humanização, como decorrência – de um “ser” com um outro ser, pois o “se tornar” humano não ocorre de maneira aleatória nem solitária. É necessário que alguém assuma a responsabilidade de conduzir e introduzir o infante e o jovem no mundo. A educação não deve ficar alheia a esse processo 1. Neste processo de compartilhamento de conhecimentos e saberes, a Educação e a Filosofia, enquanto disciplinas, têm uma fundamental importância, como podemos observar a seguir: Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma sociedade, a Filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes jovens e esta sociedade. (...) O educando, que é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela (LUCKESI, 1994, pp. 31-32). 15 IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO • AulA 1 Na Grécia Antiga, a “noção de educar” era expressa pelo termo “Paideia”, que designava um conjunto de conteúdos que incluía desde a perspectiva histórica da vida de uma nação até o universo espiritual do homem – este ponto será desenvolvido na próxima aula. Assim, o ato de educar jamais esteve apartado das várias expressões culturais e existenciais da pessoa. Sua manifestação, por meio de ação participativa, interfere na dinâmica exterior, interior e espiritual de uma sociedade. Como fenômeno social, a educação independe de instituições, mas não de laços sociais e, portanto, de normas e valores. Tendo como referência esta visão mais ampla a respeito dos sentidos da educação, surgi na interface entre Filosofia e a Educação a disciplina Filosofia da Educação, a qual tem como proposta refletir sobre: (...)as condições reais da educação, tais como se desenham a cada momento histórico, e o recurso às referências históricas só se justifica quando se precisa estabelecer algumas balizas contextuais ou quando se trata de evidenciar a historicidade das manifestações lógico-conceituais do pensamento humano. Trata-se, pois, de uma reflexão analítica e crítica sobre a problemática da educação, com o propósito de tentar decifrar o seu sentido possível. Entretanto, por outro lado, é também oportuno lembrar que, embora precise considerar os conhecimentos produzidos pelas Ciências da Educação e pelas Ciências Humanas, a perspectiva filosófica é diferente dessas ciências, dada sua intenção de buscar fundamentos, entendidos estes como nexos conceituais explicativos. Isso justifica a démarche filosófica como exercício mais autônomo da subjetividade em relação a procedimentos metodológicos e técnicos e a abordagens empíricas dos fenômenos, objetosdas ciências. A questão fundamental que cabe à Filosofia da Educação responder é aquela do sentido e da finalidade da educação. Em assim sendo, sua perspectiva é diferente daquela da Sociologia da Educação, da Psicologia da Educação, da História da Educação, da Economia da Educação etc., encarregadas de estudar os fatos educativos sob os diversos aspectos de suas manifestações concretas. (SEVERINO, 2006, p. 623) Tomando por base esta orientação, nosso curso irá esclarecer quais elementos históricos permitem tanto a compreensão do surgimento da Filosofia no mundo ocidental, quanto a constituição de um enfoque geral da educação nos quadros das filosofias grega, romana, medieval e renascentista. Nesse quadro histórico-filosófico, aprofundaremos algumas considerações sobre o lugar e a importância do “humanismo”, entendido como uma “doutrina que tem por objeto o desenvolvimento das qualidades do homem”, com vistas a fornecer um instrumental teórico básico para uma compreensão mais adequada do que é pertinente, neste momento de nossa história atual. 16 AulA 1 • IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO Resumo Nesta aula, tivemos a oportunidade de: » Entender as características dos tipos de conhecimento- Senso Comum, Filosofia e Ciência. » Compreender as principais características do Pensamento Filosófico. » Conhecer o significado da palavra educar. » Refletir sobre as aproximações existentes entre a Filosofia e a Educação. » Saber os objetivos da disciplina. 17 Apresentação Nesta aula, faremos uma reflexão a respeito das condições socioculturais que contribuíram para o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga. Veremos que o advento do conhecimento filosófico está intimamente relacionado ao desenvolvimento das cidades-estados, ao aprimoramento artístico e ao surgimento da democracia na Grécia. Além disso, faremos uma apresentação das principais características da primeira escola da Filosofia, a Pré-socrática. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: » Compreender o contexto sociocultural no qual surgiu a Filosofia. » Perceber a proeminência da oratória na Cultura Grega. » Reconhecer as diferenças existentes entre a narrativa mítica e a Filosofia. » Entender as principais características da Pré-socrática. A formação do povo grego1 Sabemos que a nossa civilização nasceu na Grécia. Mas a sua cronologia nos leva a uma grande viagem pelo tempo antigo, revendo alguns traços essenciais do mundo grego, base, sem dúvida, da mais importante civilização encontrada na Antiguidade. Como ponto de partida desta volta, destacamos a sua localização geográfica. Consultando um pequeno mapa da região grega do século XII a.C, compreendemos melhor o alcance desta afirmação: 1 O texto que vamos apresentar tomou como base a introdução do livro de A. Souto Maior, História Geral (SOUTO MAIOR, A. História Geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973). 2 AulA A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA 18 AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA Fonte: www.suapesquisa.com/grecia/mapagrecia.gif Em uma primeira visada, verificamos que a Grécia é uma península localizada ao sul dos Balcãs, apresentando um litoral bastante recortado ao lado de um alto relevo montanhoso, o que dificulta as comunicações entre os seus vales. Um outro dado nos chama a atenção a este respeito: o solo grego era infértil, obtendo da imensidão de suas costas o que não era extraído da agricultura. Pelo mar, então, suas diversas regiões internas entravam em contato, facilitando simultaneamente o estabelecimento de vínculos externos com povos distantes. Antes de invadirem esta península, os gregos se confrontaram com três culturas que já haviam ali se instalado: cretense, egípcia e fenícia. Julgando-se os legítimos habitantes da região, porém, eles acreditavam terem sido descendentes diretos de Heleno, filho de Deucalião, que conseguira escapar a um dilúvio provocado por Zeus, pai dos deuses. Surge, a partir de então, os primeiros e mais importantes vestígios da cultura grega: a proximidade e tutela dos deuses ou o que chamamos há pouco de percepção mítica. Destacamos que a Grécia é conhecida pelo nome de Hélade e os seus habitantes de helenos. Supõe-se que estes invasores fossem provavelmente de origem indo-europeia e, divididos em tribos, alastraram-se pela Hélade, não sem deixar de assimilar características culturais das diversas populações ali já instaladas, dentre as quais se colocavam em evidência os cários, que dominavam técnicas voltadas para a utilização dos metais. Os aqueus tornaram-se, então, uma das primeiras tribos gregas a fixar-se no território helênico. Deles provém o impulso para a fundação de várias cidades, dentre as quais se destacam Micenas e Tirinto. Logo a seguir, aprendendo a construir navios, espalharam-se pelas ilhas egeias para atacarem e se apoderarem de Creta. A superioridade dos vencidos, no entanto, não diminuiu em força e importância diante dos invasores. A cultura cretense sobreviveu com algumas modificações, adaptando-se aos novos tempos. Dessa sobrevivência formou-se uma civilização que reunia as características de Creta às de Micenas, a mais importante cidade dos aqueus: a “civilização creto-miceniana”. A herança 19 A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA • AulA 2 mítica predomina ainda nesse tempo, quando descobrimos que enormes construções de blocos de pedra apoiados uns sobre os outros eram atribuídas aos gigantes de um só olho, os ciclopes, conforme narram os poemas de Homero. Micenas, apesar da forte influência culural de Creta, manteve características arquitetônicas próprias e o forte desenvolvimento de seu comércio, atingindo a Espanha a Oeste, o Danúbio ao Norte e o Egito ao Sul, só respeitou a área de influência da rica cidade de Tróia. Os avanços dos aqueus, o confronto estabelecido com as culturas cretense, egípcia e fenícia e o fato de se apoderarem de Creta, impulsionando o surgimento da civilização creto-miceniana, não são suficientes para explicar os acontecimentos mais marcantes da Grécia desde o século XX a.C. Para um retrato mais amplo, cabe mencionar o papel e a importância que desempenhou nesse período a invasão dórica. Dominando o solo grego pelo istmo de Corinto, os dórios conquistam todo o Peloponeso no segundo milênio a.C. Logo em seguida, apossam-se de Creta. Para se defenderem dessa avalanche de destruição e saque, os aqueus buscaram novas terras para se estabelecerem, ocupando as ilhas e as costas da Ásia Menor. Supõe-se que, quando os aqueus e cretenses fugiram, tenham se constituído aqueles que passaram a ser conhecidos como “povos do mar”, os quais lutaram contra os faraós egípcios, dando origem aos filisteus que dominavam os hititas. Apesar de hábeis guerreiros, os dórios possuíam uma cultura inferior à dos povos conquistados, o que provocou um retrocesso cultural na Grécia. Embora adorassem a um Deus Supremo, admitiam que astros e seres de aspecto humano pudessem interferir continuamente na vida dos homens. Eram monogâmicos e, apesar de belicosos, desconheciam manobras táticas que os guiassem nos campos de batalha. A fixação dos dórios na Grécia acarretou o desaparecimento da brilhante civilização creto-miceniana. As três rainhas, afresco no palácio de Cnossos Fonte: http://sapereaude10.blogspot.com.br/2013/01/os-primordios-do-mundo-egeu.html A civilização grega surgiu neste cenário caracterizado por contribuições e compartilhamentos culturais entre diferentes povos e sua história pode ser dividida nos seguintes períodos: » A dos primeiros gregos, conhecidos como aqueus – posteriormente divididos em jônios e eólios – que ocuparam lentamente a Grécia Continental, o Peloponeso e as ilhas do 20 AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA marEgeu, do século XX a.C. ao século XII a.C. Cresce em importância, nesse período, a cidade de Micenas, formando o que passou a ser conhecido como “civilização micênica”. » Do século XII a.C. ao século VIII a.C, período em que são construídos os alicerces da civilização grega propriamente dita, tendo como maior expoente a figura de Homero, vivido possivelmente na Jônia do século IX a.C, o que nos leva a compreender a denominação de “tempos homéricos” para esse momento da história antiga. » Do século VII a.C. ao século VI a.C, o “período arcaico”, em que o desenvolvimento da economia mercantil e alterações sociais e políticas levam ao aparecimento de colônias (bases das Cidades-Estados, ou “póleis”) que geravam produtos agrícolas e a compra e venda de mercadorias com outros povos. » Do século V a.C. ao século IV a.C, período conhecido como “clássico”, no qual se verifica um autêntico impulso nos domínios das artes, da literatura e da filosofia. A cidade de Atenas atinge seu mais alto grau de desenvolvimento; nessa época viveram os sofistas, Sócrates, Platão e Aristóteles. » Do século III a.C. ao século II a.C, período conhecido como helenístico, fase em que se inicia uma profunda decadência política na Grécia, a princípio, provocada pela expansão do Império Macedônico e, posteriormente, pela ascensão do Império Romano. Situados no tempo, então, podemos apresentar as principais características que marcam o período histórico conhecido sob o nome de Antiguidade Grega, bem como o surgimento nessa época do domínio próprio da Filosofia no Ocidente. Iniciaremos nossa travessia do século XX a.C. até o século V a.C., momento em que surgem os sofistas. Aspectos culturais da grécia antiga A constituição do teatro grego pintura localizada sobre uma cratera grega (século IV a.C.) Museu arqueológico nacional, nápoles, Itália. Retrata um ator segurando uma máscara e vestindo o figurino. 21 A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA • AulA 2 O teatro foi uma das mais belas manifestações da cultura grega. Segundo Souto Maior (1973) ele se confundiu primitivamente “com os festejos populares e as cerimônias religiosas em homenagem a Dionísio”, evoluindo “até constituir um instrumento de alto valor educativo”. O termo “tragédia” deriva do grego trag-odia que significa “canto do bode”. Já o vocábulo “trágico” era atribuído tanto àquele que cantava para receber como prêmio um bode, quanto àquele que cantava durante o ritual de sacrifício do bode. Assim, as tragédias ou “cantos do bode” – animal que fazia parte do culto dionisíaco, pois representava os faunos – tomaram como temática inicial as aventuras de Dionísio, agregando, posteriormente, temas mais variados. Fauno: Divindade campestre, caprípede (tem pés de cabra), cabeluda e que possui um corno. Em Atenas e em outras cidades gregas, então, apareceram grandes teatros. De formato semicircular, sem teto, localizava-se nas encostas de pequenas ele vações, de maneira que as galerias superiores fossem cavadas na própria rocha. Souto Maior lembra que: Junto à primeira fila de espectadores situava-se a orquestra, pista circular para as danças efetuadas pelo coro. Por trás, erguia-se uma pequena construção de madeira (skene), que servia de cenário, representando um palácio, um templo ou uma residência. Era também usado um aparelho mecânico (mechane), que com cordas e pesos levava ao palco os atores que representavam as divindades, dando a impressão de que teriam vindo do Céu (SOUTO MAIOR, 1973, p. 106). A estrutura do teatro grego era constituída de um ator e do coro dionisíaco. A cena teatral ocorria inicialmente com um único ator (masculino) que, usando diferentes máscaras, representava as várias personagens. As máscaras eram providas de um ressonante bocal de cobre e os atores usavam altos sapatos chamados coturnos para realçar a estatura e possibilitar maior visibilidade por parte dos espectadores. Os espetáculos iniciavam-se pela manhã, muito cedo, e prosseguiam até o anoitecer. As representações, frutos de competições, duravam três dias. A importância da palavra no exercício político. A eloquência também se destaca na Grécia do século V a.C., visto que a arte de falar em público tornava-se um recurso importante para a organização democrática de algumas cidades gregas. Ela era estudada e praticada como um meio para se alcançar fama e prestígio social ou político. O nome de Péricles (495 a.C. – 429 a.C.) deve ser lembrado a este respeito: 22 AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA Péricles (495 a.C. – 429 a.C.) Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/p%C3%A9ricles Eloquência: Capacidade de falar e exprimir-se com facilidade. É considerado o maior orador ateniense de seu tempo. Destacou-se como o mais importante dirigente da democracia de Atenas, tendo sido reeleito durante mais de trinta anos e chefiado o Estado de 443 a.C a 429 a.C. Adotou uma política expansionista, com o monopólio do comércio marítimo. Provocou a guerra do Peloponeso contra os espartanos. Lutou pela supremacia ateniense sobre os Estados Gregos, criou uma poderosa confederação de cidades, mas os desastres da Guerra do Peloponeso levaram à sua queda em 430 a.C. Embora reintegrado ao poder, morreu logo depois, sob o efeito de uma peste que assolou a região. O período de seu governo marca o clímax da cultura grega da Antiguidade e ficou conhecido como “o Século de Péricles”. Nasceu em Atenas por volta de 384 a.C. De família abastada, Demóstenes perdeu o pai aos sete anos e teve os bens dilapidados pelos tutores. Estudou oratória e tentou recuperar a fortuna processando os antigos tutores. Logo, se tornou um bem sucedido logógrafo (escritor profissional de discursos) e teve alguns dos mais ricos atenienses como clientes. Começou a tratar de assuntos de interesse público a partir de 354 a.C. Seus discursos na Assembleia diziam respeito, principalmente, à política externa ateniense. Por ser gago desde a adolescência, conta-se que enchia a boca com seixos e declamava diante do mar para corrigir este defeito. Souto Maior destaca vários trechos que mostram a eloquência de Péricles, entre os quais o seguinte elogio à democracia: A constituição que nos rege nada tem a invejar à de outros povos; não imita nenhuma, ao contrário, serve-lhes de modelo. Seu nome é democracia, porque não funciona no interesse de uma minoria, e sim em benefício da maioria. Tem por princípio fundamental a igualdade. Na vida privada a lei não faz nenhuma diferença entre os cidadãos. Na vida pública, a consideração não se ganha pelo nascimento ou pela fortuna, e sim, unicamente, pelo mérito; e não são as distinções sociais, mas sobretudo a competência e o talento que abrem o caminho da fama. Em Atenas, todos entendem a política e com ela se preocupam, e quem se mantém afastado dos assuntos públicos é considerado como um ser 23 A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA • AulA 2 inútil. Reunidos na Assembleia, os cidadãos sabem julgar sabiamente, porque não acham que a palavra prejudique a ação e desejam, pelo contrário, que da discussão faça nascer a luz (SOUTO MAIOR,1973, 107-108) O pensamento grego: o surgimento da filosofia Entre os séculos VII a.C. e VI a.C., o período arcaico na Grécia, surge a “Filosofia” ou o “pensamento ocidental”. Ela resultou do estabelecimento de um tipo de organização política, econômica e administrativa que caracterizou a civilização grega nesse período: a pólis (“Cidade-Estado”). A vida em sociedade passa a preponderar nesse período. Como decorrência, discussões em assembleias (substituindo a estrutura de poder em torno da realeza que dominou o período homérico) tornaram-se necessárias, destacando-se, então, o ideal de cidadania, isto é, a participação pública do cidadão nos destinos da cidade. A discussão de uma ordem humana aparecia, traduzidaem formas acessíveis à inteligência. O universo deveria ser explicado sem mistérios, e a sua compreensão deveria fazer parte daquilo que era debatido publicamente; o conhecimento mítico, marcado pela predominância do que estava acima do mundo humano, não mais sustentava a nova apreensão da realidade em sociedade. Até então na Grécia, tanto a origem do universo como os acontecimentos sociais (nascimentos, pestes, guerras, doenças, mortes etc.) eram explicados a partir da ação sobrenatural dos seres divinizados. Para exemplificar, a seguir, podemos observar uma das narrativas míticas gregas a respeito da formação do cosmo: O destino era uma divindade cega, inexorável, nascida da Noite e do Caos. Todas as outras divindades estavam subordinadas a seu poder. Os céus, a terra, o mar e os infernos faziam parte do império do Destino. O que ele resolvia era irrevogável. O Destino era por si mesmo essa fatalidade, segundo a qual tudo acontecia no mundo. Zeus, o mais poderoso dos deuses, não pôde aplacar o Destino, nem a favor dos outros deuses nem a favor dos homens. As leis do Destino eram escritas, desde o princípio da Criação, num lugar em que os deuses pudessem consultá-las. Os ministros do Destino eram as três Parcas, encarregadas de executar suas ordens. Representam-no tendo sob os pés o globo terrestre, e agarrando nas mãos a urna que encerra a sorte dos mortais. Dão-lhe também uma coroa recamada de estrelas e um cetro, símbolo de seu poder soberano. Para demonstrar que ele era inflexível, os antigos o representavam por uma roda que prende uma cadeia. (COMMELIN, 1997:23) Com o advento da Filosofia, buscou-se explicar, de maneira racionalizada, os fenômenos a partir de causas naturais e, conforme indicando anteriormente, o desenvolvimento da pólis constituiu um fator fundamental para o nascimento deste novo tipo de conhecimento. As concepções filosóficas que se desenvolveram nesse período formaram o que é conhecido como “pensamento pré-socrático” (filósofos que viveram antes de Sócrates). A primeira escola nasceu em Mileto, uma 24 AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA das principais cidades da Jônia (Ásia Menor). Seus principais pensadores foram Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes, que eram materialistas e admitiam a existência de uma substância elementar que servia de “princípio” (ou “arché”) para todas as coisas existentes na natureza: a água (Tales); uma substância “não gerada e imperecível” (Anaximandro); o ar (Anaxímenes). De acordo com Danilo Marcondes (2005), a Filosofia Pré-socrática tinha como principais características: A noção de physis (natureza). Por meio da contemplação, os filósofos da Pré-socrática investigaram o mundo natural, os nexos e relações de causa e efeito entre os fenômenos naturais. A busca das causalidades Para os pré-socráticos, as causas dos fenômenos seriam, por excelência, naturais e não de ordem mítica. Na visão da primeira vertente da filosofia, a causalidade de um fenômeno poderia ser explicada por outro, que por sua vez, tinha origem num terceiro, e assim sucessivamente. Dessa maneira, a explicação assume um caráter regressivo, na medida em que, a cada vez mais, busca-se uma causa anterior, até o infinito. Para uma melhor compreensão desse movimento filosófico de busca pela causalidade dos fenômenos, observe o quadro a seguir: BuSCA DAS CAuSAlIDADES arqué (causa) (causa) (efeito) Fenômeno A (causa) (efeito) Fenômeno B (efeito) O conceito de arqué ou elemento primordial Para resolver o problema de não se chegar a lugar nenhum a partir da explicação causal de caráter regressivo, os filósofos pré-socráticos definiram, cada um a seu modo, um elemento primordial, que seria a causa primeira de tudo. Sendo assim, por exemplo, para Tales de Mileto, a água (hydor) seria o elemento fundamental, a partir da qual os fenômenos decorreriam; já Heráclito acreditava que seria o fogo, o princípio explicativo; e Demócrito, por sua vez, dizia que era o átomo. O cosmo O termo Kosmos - para os gregos do período em que a filosofia se constitui na Grécia - está associado às ideias de ordem, harmonia e beleza. O cosmo, portanto, se contrapunha ao caos (falta de ordem). O universo, de acordo com esta noção, seria um complexo racionalmente organizado e estruturado por fenômenos e leis naturais. 25 A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA • AulA 2 logos (discurso racional) Em termos de narrativa, os pré-socráticos também estabeleceram uma ruptura com o pensamento mítico. » Mythos – Na Grécia, os feitos dos deuses eram narrados de forma poética. » Logos – Os pré-socráticos se preocuparam em produzir logos (discursos) voltados para a explicação dos fenômenos. O logos é fundamentalmente uma explicação, em que razões são dadas. É nesse sentido que o discurso dos primeiros filósofos, que explica o real por meio de causas naturais, é um logos. Essas razões são fruto não de uma inspiração ou revelação, mas simplesmente do pensamento humano aplicado ao entendimento da natureza. O logos é, portanto, o discurso racional, argumentativo, em que as explicações são justificadas e estão sujeitas à crítica e à discussão. (MARCANDES, 2005, 26). O caráter crítico Por execelência, a Filosofia Pré-socrática tem como embasamento a reflexão, uma vez que se contituiu em discordância do mito, num periodo histórico, que como vimos, se caracterizou por uma preocupação maior dos gregos com a vida cívica, nas pólis. No trecho a seguir, Karl Popper faz uma consideração sobre a perspectiva crítica adotada pela Filosofia Pré-socrática: O que é novo na Filosofia Grega, o que é acrescentado de novo a tudo isso, parece-me consistir não tanto na substituição dos mitos por algo de mais "científico", mas sim em uma nova atitude em relação aos mitos. Parece-me ser meramente uma consequência dessa nova atividade o fato de que seu caráter começa então a mudar. A nova atitude que tenho em mente é a atitude de crítica. Em lugar de uma transmissão dogmática da doutrina (na qual todo o interesse consiste em preservar a tradição autêntica) encontramos uma tradição crítica da doutrina. Algumas pessoas começam a fazer perguntas a respeito da doutrina, duvidam de sua veracidade, de sua verdade ( POPPER apud MARCONDES, 2005, 27). A filosofia, desde o seu surgimento entre os pre-socrático, se caracteriza, fundamentalmente, por ser um saber crítico. As teorias não são apresentadas de maneira dogmática e conclusivas. Diferentemente das concepções religiosas que se constituem como “verdades”, o conhecimento filosófico valoriza e estimula o diálogo, a divergência de opiniões e a refutação das ideias. 26 AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA Resumo Vimos até agora: » Um pouco de História (da Grécia Antiga). » Breve visão da Antiguidade Grega e o surgimento da Filosofia Ocidental: a formação do povo grego. » A constituição do Teatro Grego. » A oratória na Grécia. » O Pensamento Grego e o surgimento da Filosofia. » Os Pré-socráticos. 27 Apresentação Nesta aula, partindo do estudo da noção de Paideia, estudaremos o método maiêutico, desenvolvido por Sócrates, e a teoria do conhecimento de Platão, ilustrada na Alegoria da Caverna. Por meio da apresentação destas noções, busca-se indicar como a Filosofia Clássica pensou a formação do cidadão na pólis. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: » Compreender o sentido da Paideia na formação do homem grego. » Conhecer as principais críticas feitas por Sócrates aos sofistas. » Reconhecer a forma de ensinar no método pelo diálogo, com Sócrates, no qual predomina uma conversa dirigida com um interlocutor. » Entender o significado da alegoria da caverna. » Refletir sobre o programa formuladoem dois ciclos, por Platão, para a educação. Etica, moral e a valorização do discurso na formação do homem grego O sentido cultural da paideia na grécia Antiga Na pólis do séc. IV a.C. o conceito de “Paideia” supera a vinculação limitada à instrução da criança. Trata-se de uma REFLEXÃO SOBRE A FORMAÇÃO DO HOMEM PARA A VIDA RACIONAL NA “PÓLIS”. Aplica-se à vida adulta, à formação e à cultura, à sociedade e ao universo espiritual da condição humana. A construção histórica deste mundo da cultura atinge o seu apogeu no momento em que se chega à ideia consciente de educação. (JAEGER, 1986, 244-246). 3 AulA A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO 28 AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO Neste sentido: A Paideia é entendida como uma formação geral que dará ao homem a forma humana, ou seja, que o construirá como homem e como cidadão. Assim, ela significou a educação do homem de acordo com a verdadeira forma humana e que brota da ideia. O termo Paideia não pode ser traduzido simplesmente como educação, significa muito mais que isso, significa também cultura, instrução e formação do homem grego. Este termo começou a ser utilizado no séc. IV a.c. e nesta época significava apenas a criação dos meninos. Mas o seu significado se alargou e passou a designar também o conteúdo e o produto dessa educação. (LOBATO, 2001, 24) A ideia de que a vida de uma nação cria um lugar na história, a “Paideia grega”, pressupõe que o ser humano tenha uma chave para se orientar de modo consciente sobre aquilo que é virtuoso e bom: a compreensão de que há um meio de se usar as palavras, segundo um caminho orientado, ou “aquilo que está de acordo com uma via que se toma como meio de comunicação de um ser humano a outro” – um “diálogo”. Devemos, portanto, compreender o sentido geral da afirmativa de que educar é uma noção que nos obriga a rever, em alguns instantes do Pensamento no Ocidente, a abordagem de uma “Paideia grega”, envolvendo tanto o que leva determinada nação a ter um lugar na história, quanto à existência de valores que marcam o que chegamos a denominar, há pouco, de “o universo espiritual do homem”. A importância da oratória na formação do homem grego. (...) a arte da palavra, o brilho da oratória e o manejo da dialética para a discussão adquirem grande importância em um povo (...) amante do bem dizer. A retórica convertia-se em uma formidável arma política, assegurando os mais brilhantes êxitos àqueles que sabiam servir-se dela na praça pública e diante dos jurados. (FRAILLE, 1965, 224) A oratória, a dialética e a retórica possuem sentidos precisos nesse momento da História Grega. É entendida nessa época em termos de um “sentido pedagógico do ensino através da discussão”, “arte do diálogo e da discussão”, ou “habilidade para discutir por perguntas e respostas”. Para Guilherme Fraille (idem), a educação no período clássico grego, limitada ao ensino da música, rítmica e ginástica, não fornecia elementos suficientes para aqueles que queriam participar de modo ativo nos debates concernentes à vida própria da sociedade. Um melhor domínio da linguagem tornava-se necessário: com a oratória, ampliava-se o horizonte para o início de um debate público; com a dialética, aprendia-se a arte de discutir ideias que se opõem; já com a retórica, tornava-se possível persuadir alguém no curso de uma discussão. 29 A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3 Estes recursos próprios do discurso falado foram absorvidos integralmente por uma escola de “professores ambulantes de retórica”, os sofistas, que, por um grande conhecimento do mundo, adquirido por viagens que realizavam constantemente, passaram a ensinar meios de persuasão pelas palavras. Sabe-se que eles eram dotados da arte de construir discursos brilhantes, tendo sido recebidos com entusiasmo em Atenas, a qual, em pleno apogeu na Grécia desse período, convertia-se no centro de confluência de várias abordagens filosóficas até então distanciadas das discussões correntes na vida pública. Fraille menciona que a palavra sofista foi utilizada em um sentido elogioso por escritores pertencentes ao século V a.C. Píndaro chegou a designar os sofistas como “poetas”; Heródoto estendeu essa designação aos Sete Sábios, a Pitágoras e a Sólon. No entanto, a partir da Guerra do Peloponeso, este termo ganhou uma perspectiva obscena. Embora não possamos afirmar que os sofistas chegaram a constituir uma escola filosófica, uma vez que adotam visões variadas e até mesmo opostas entre si, possuem afinidades suficientes para que sejam agrupados sob uma rubrica comum, criando um movimento com características próprias bem diferentes dos filósofos pré-socráticos citados anteriormente. A sofística estaria marcada, assim, pelo: » relativismo – isto é, a formulação de princípios e valores que mudam e se diferenciam. Neste quadro, ela descobre infinitos elementos constituintes (“essências”) para cada coisa existente; » subjetivismo – ou seja, as diversas percepções que os homes têm das coisas, o que leva à recusa de um critério objetivo (único) de verdade; » ceticismo – os sofistas percebem o conhecimento como fundamentalmente incerto, adotando uma postura crítica e negativa com relação a um conhecimento tomado como verdadeiro; » indiferenciação moral e religiosa – partindo do pressuposto de que as coisas são como aparecem a cada um, consideram a inexistência de valores morais bons ou ruins próprios a cada coisa, vinculando-se esta atitude a um comportamento religioso de caráter ateísta (não crença nos deuses); » convenções jurídicas – os sofistas marcam uma distinção entre lei e natureza, segundo a qual as leis são consideradas meras convenções humanas e não provêm nem dos deuses, nem do mundo natural. A sofística conheceu um forte adversário, que nasceu, também, sob o esplendor da Atenas de Péricles do século V a.C: Sócrates. 30 AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO Sócrates e a maiêutica Fonte: http://kids.Britannica.Com/elementary/art-189075/socrates-was-a-philosopher-in-ancient-greece Biografia resumida Sócrates (470.Ac/469 a.C- 399 a.C), filho de um escultor e de uma parteira, presenciou a decadência de sua cidade natal na Guerra do Peloponeso, que conferiu a vitória aos espartanos. Refletindo sobre a derrota dos atenienses, Sócrates concluiu que ela foi precipitada também pela atitude de alguns filósofos e pela influência cética exercida pelos sofistas. Tanto uns quanto os outros levaram o ceticismo a ser um escudo contra a fé a e a religião tradicional já o cosmopolitismo que defendiam debilitava o respeito às leis e aos costumes e instituições básicas da sociedade. Diante das ocorrências que culminaram com a ruína de Atenas, Sócrates julgava secundárias as especulações sobre os “princípios” das coisas, bem como o relativismo dos valores: preocupado com o futuro de sua cidade e com os meios que levassem à solução dos problemas políticos que ela enfrentava, ele se dedicou refletir sobre o homem. Não um homem abstrato, mas concreto, o cidadão ateniense. Sócrates e a crítica à sofística Para a realização desse objetivo, Sócrates menosprezou a retórica “oca” dos sofistas, adotando o diálogo direto, a controvérsia pública, a conversação que é habilmente orientada, tornando saliente seus talentos admiráveis como dialético. Esforçando-se, assim, para despertar a consciência dos atenienses com relação aos graves problemas que enfrentavam nesse período, seu percurso foi marcado por uma intensa atividade educadora. Ganhou interlocutores, mas colecionou adversários que julgavam sua atividade um meio de corromper a juventude. Estes conseguiram levá-lo a um julgamento, no qual foi condenado a beber a cicuta em 399 a.C. Diferentemente dos sofistas, que utilizavam meios para triunfar nos negóciossem se preocuparem com a legitimidade de suas atividades, Sócrates concentrava esforços para ensinar uma prática que conduzisse os diversos cidadãos a adotarem uma vida virtuosa. Assim, conduziu sua 31 A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3 reflexão para questões concernentes ao domínio da moral, rompendo, como decorrência, com o subjetivismo, o relativismo e o ceticismo. Acreditou na estabilidade das leis, dos princípios verdadeiros e universais das normas, a elas conferindo um valor intrínseco, independente das convenções e opiniões dos homens. Desta forma, formulou um método, baseado no diálogo, que se contrapõe à retórica adotada pelos sofistas. O método maiêutico Utilizando o diálogo como fundamento para a elaboração de seu “método”, Sócrates cria também uma nova forma de ensinar, na qual predomina uma conversa dirigida com um interlocutor. A partir dessa perspectiva, o método socrático está dividido em dois momentos: o primeiro, a “ironia”, e o segundo, a “maiêutica”. A ironia gira em torno de um jogo de perguntas e respostas, no qual Sócrates desempenha o papel de alguém que lança questões e instiga o seu interlocutor – tratando-o como aprendiz – a fim de que este se volte para si mesmo em busca de respostas verdadeiras. O conhecimento assim obtido não resultaria da transmissão de um conjunto de regras já estabelecidas, mas do reconhecimento da ignorância do aprendiz em face das perguntas formuladas. Logo, o ato de aprender exigia que este descobrisse os erros que portava referentes ao tema a ser conhecido: confrontar-se com o não-saber, seria o caminho para que ele pudesse atingir o verdadeiro conhecimento. Uma vez chegado a esse ponto, preparava-se o início do segundo momento do método socrático, a maiêutica. Esta, ocorrendo também por intermédio do diálogo, levaria o aprendiz a descobrir os conhecimentos que parecia portar dentro de si – em sua própria alma. Neste sentido, ele retirava de si um conhecimento que preexistia, o qual transcendia a existência humana, sendo, portanto, universal. No trecho a seguir, de forma objetiva e clara, Pileti e Pileti nos apresenta a maneira como a Maiêutica foi usada por Sócrates: A primeira parte do método de Sócrates – fazer perguntas para obter a opinião do interlocutor – é a ironia. Ironia, do grego eironeia, significa perguntar, fingindo ignorar, para rir-se dos outros. A segunda parte = fazer outras perguntas para levar o interlocutor a descobrir a verdade é a maiêutica, que significa parto ou partejamento (do grego maieutikós). Maiêutica é a arte de fazer nascer as ideias. (PILETI; PILETI, 2003) 32 AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO platão e a alegoria da caverna Fonte: http://www.pucsp.Br/pos/cesima/schenberg/alunos/renatafonseca/ Biografia resumida Platão nasceu em Atenas no ano de 429 a .C. E morreu em 348 a.C. De origem nobre, torna-se discípulo de Sócrates. Inicialmente, envolve-se com a política, mas após a morte de Sócrates rompe com a prática política, dedicando-se apenas a temas políticos, sem qualquer envolvimento prático. A obra platônica conserva-se quase completa, constituindo-se, junto com a de Aristóteles, o que há de mais importante na Cultura Grega. Ressalta Julian Marías que é incalculável a contribuição da Filosofia Platônica para a formação da linguagem filosófica. Platão escolheu como gênero literário para exprimir seu pensamento o diálogo, o que mantém uma estreita vinculação com o seu método filosófico: a dialética. Sua obra divide-se em: diálogos de juventude, fortemente marcados pelo pensamento socrático, sendo considerados, por isso, diálogos socráticos; diálogos da maturidade e diálogos de velhice. A ontologia nos pensamentos de Sócrates e platão Duas partes interligadas que formam, de um momento a outro, uma estrutura rigorosamente demarcada: exatamente por meio delas, Sócrates, conforme menciona Aristóteles, consegue encontrar o domínio dos conceitos universais, ao passar dos fatos particulares às suas definições2. Xenofonte torna-se uma referência importante a este respeito. Ele demonstra como Sócrates preocupava-se centralmente em encontrar definições que pudessem servir de fundamento para o diálogo estabelecido com seus interlocutores. Definir algo, sob este quadro teórico, era o meio pelo qual se expressava a essência de uma “coisa”, tal como ela está contida no conceito universal. Para alcançá-la, era preciso suprimir os diversos significados do objeto colocado em discussão – a “sabedoria”, por exemplo (trecho citado), sob os sentidos de “medida”, “rapidez”, 2 FRAILLE, Guilherme. Historia de la Filosofia I – Grecia y Roma. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1965. p. 252. 33 A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3 “coisa bela”, “energia e velocidade” –, passando desse modo do que é particular, para se elevar às “espécies” e “gêneros”. Logo, existiria uma “ciência” que não consiste na simples associação de características específicas – variáveis – mas em conceitos fixos, estáveis e imutáveis – invariáveis. É preciso ressaltar, no entanto, que o procedimento socrático reflete sobre a própria consciência humana , observando a realidade, a vida e a conduta dos homens entre si. Seguindo essa via, exatamente, é que Sócrates tenta alcançar os conceitos gerais ou comuns de piedade e impiedade, justiça e injustiça, valor e covardia, de virtude etc. Para isto, apoia-se na observação de fatos que descobre na experiência quotidiana ou até em exemplos que extrai da vida dos ferreiros, carpinteiros, sapateiros militares, entre outros. Chega a distinguir nesses domínios de fatos, o “variável do fixo, o confuso do claro, o acidental do substancial, o contingente do permanente”3. O resultado desse processo de seleção é a enunciação de um conceito comum, “capaz de superar e implicar todas as diferenças particulares e que pode ser expresso em uma definição aplicável a todos os casos concretos”. Por exemplo: a noção de justiça. Após estabelecer que ela consistiria em não mentir, não causar dano aos outros, não tornar escravos os semelhantes, conclui que ela significa dar a cada um o que lhe pertence. Um esquema esclarece melhor esse procedimento: Vale ressaltar que nos primeiros diálogos de Platão este procedimento é utilizado de modo amplo, mesmo que os as discussões ali desenvolvidas não cheguem a quaisquer conclusões sobre os temas enfocados, não se cumprindo, assim, a finalidade do procedimento socrático de atingir, pelo diálogo, a dimensão de “conceitos comuns e definições”4. Alcançá-los, em última instância, 3 FRAILLE, Guilherme. Historia de la Filosofia I – Grecia y Roma. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1965. p. 253. 4 FRAILLE, Guilherme. Historia de la Filosofia I - Grecia y Roma. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1965. p. 253 e 256. 34 AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO pode nos explicar agora um dos traços já mencionados – mas não suficientemente explicados – da doutrina socrática: a sua intensa atividade educadora. Ela se revela, justamente, no convite que Sócrates faz ao homem grego para que reflita sobre si mesmo, conduzindo-o ao conhecimento de si, pois como realça Guilhermo Fraille, ele “estimava como próximo da loucura ao ignorar-se a si mesmo, crendo que se sabe o que não se sabe”. O “convite” para esta reflexão não significa, no entanto, um meio de recolhimento interno pelo homem, levando-o a adotar um comportamento introvertido. Ao contrário, ela suscita o despertar de uma grande curiosidade voltada para o domínio dos problemas humanos e dos cidadãos, tentando encontrar meios que conduzam a razão humana em direção à ideia do bem e às normas práticas que devem reger o aperfeiçoamento da moral dentro da pólis. Daí Sócrates ter uma viva consciência de sua missão “divina” como educador,esforçando-se por comunicar aos outros as suas preocupações para participar mais dos destinos próprios da vida na “cidade”. Pelo conhecimento de si, o cidadão poderia conhecer o verdadeiro bem, de onde poderia extrair normas universais válidas para qualquer conduta. O sentido da educação no mundo grego: desenvolvimento ético e formação para a política A “função educadora” implica, no mundo grego desse período, uma formação dotada de um profundo “sentido ético e político”. Assim sendo que tal refletirmos melhor sobre os termos “ética” e “política” na filosofia: » Ética- a partir de Sócrates, o termo ética se afasta do sentido originário de “morada” e, indagando sobre as finalidades da existência humana e os meios de atingi-las, passa a se constituir num tipo de conhecimento – episteme – sobre o melhor agir. Sob a noção de episteme, a ética – como conjunto dos nomoi – deixa de ser um efeito-sem-causa, proveniente da maneira de ser do homem, para se tornar uma causa que de per si daria sentido à existência humana. Apesar de encontrarmos diferenças entre a ética socrático-platônica e a aristotélica, há nelas uma mesma preocupação: determinado um fim, estipular os meios para alcançá-lo. Em ambas as perspectivas, deveria ser estabelecido primeiro o bem que, tornado um fim, exigiria um agir, visando alcançá-lo, embora encontremos no interior de cada uma dessas duas éticas importantes diferenças. A ética socrático-platônica postula a anterioridade do conhecimento das formas – justiça, virtude, coragem etc. – Como condição de estabelecimento do bem para, a partir de então, definir a maneira de atingi-lo. Enquanto a ética aristotélica, volta-se para analisar as opiniões e comportamentos dos homens – principalmente dos homens bons – entende que os princípios éticos sejam descobertos indutivamente, sendo o bem o congregador e ordenador de toda e qualquer ação. 35 A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3 » Política- em Platão, o termo politeia guarda o sentido etimológico de “constituição”, “forma de governo” de uma polis ou cidade-estado. Refere-se à vida pública de um estado, incluindo os direitos dos cidadãos que o constituem. Por sua abrangência de significado, o termo inclui problemas de política, de educação, de estética, de filosofia, entre outros. É, justamente, essa dimensão pública e comunitária que encontramos na equivalência que os romanos conferiram ao termo politeia ao traduzi-lo pelo composto res-publica – república. Esse vocábulo designa, assim, toda e qualquer forma de governo. Neste sentido, podemos compreender o porquê de a obra de Platão, denominada politeia – a república – edicada aos problemas da polis, ter como tema central a educação. Educação que adquire papel preponderante na formação dos cidadãos. Prova disso é o livro vii, no qual é formulada uma teoria da educação, contendo um esquema de currículo de estudos superiores, além de completar a formação elementar, preconizada por Platão no livro III. Se para Sócrates, a educação pode influir nos “destinos da cidade”, segundo Platão, é dela que se pode alcançar o ideal de “comunidade social”5; sob este referencial, a classe de artesãos e comerciantes não necessitaria de qualquer educação especial, da qual não poderiam prescindir, no entanto, os encarregados das funções defensivas e de governo. Estes últimos ficariam, assim, isentos da obrigação de realizarem quaisquer ofícios manuais, voltando-se exclusivamente para o bom exercício de suas atividades, essenciais para a organização de uma cidade. Platão não restringe a educação, ainda, a um mero ensino da virtude, o qual não seria adquirido apenas pelo ato de aprender. Sua Filosofia parte do princípio de que as ideias existem de modo inato nas “almas”, as quais devem ser “despertadas”. Isto ocorreria pela “reminiscência”, fazendo com que elas recordem o que já conhecem e, ao mesmo tempo, disciplinem “tendências inferiores mediante o exercício da virtude”. Reminiscência é um termo utilizado por Platão para se referir ao processo que a alma vivencia no sentido de reconhecer as verdades contempladas antes de ela tornar-se prisioneira do corpo do homem. Logo, dotados de almas que possuem um conhecimento superior daquelas que estão restritas ao exercício de atividades manuais, os encarregados das funções defensivas e de governo receberiam uma educação compreendendo dois ciclos, um elementar ou preparatório, outro, superior. Tais etapas correspondem à concepção de graus formulados para a razão em dois momentos importantes da filosofia platônica: nas “alegorias” da “linha dividida” e da “caverna”. 5 Id. p. 398. 36 AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO Alegoria da caverna: a teoria do conhecimento de platão Resumo da alegoria da caverna Nessa alegoria, Platão imagina uma caverna, que dispõe de uma pequena abertura por onde penetra a luz do exterior. Nela, encontram-se homens, em tal posição que ficam impossibilitados de se mover e de olhar somente para o fundo da caverna. Fora desta, e nas costas dos homens, brilha o resplendor de um fogo. Entre o fogo e os homens encadeados há um caminho com um muro baixo, por onde passam outros homens que transportam objetos que ultrapassam a altura do muro. Os homens encadeados vêem as sombras dessas coisas, que se projetam no fundo da caverna. Quando os transeuntes falam, os que estão encadeados ouvem vozes como se estas procedessem das sombras que vislumbram, sombras que para eles constituem a única realidade. Em um dado momento, um dos homens encadeado se liberta e passa a contemplar a realidade exterior. No entanto, a luz provoca-lhe dores nos olhos, provocando dificuldades para ver. O sol deslumbra-o. Tenta habituar-se: primeiro, consegue ver as sombras; depois, as imagens das coisas refletidas nas águas; depois, as próprias coisas. Veria o céu de noite, as estrelas e a lua; e ao amanhecer, a imagem refletida do sol e, por último, depois de um largo esforço, poderia contemplar o próprio sol. Então sentiria que o mundo onde vivera era irreal e desprezível. Se falasse com seus companheiros desse mundo de sombras e dissesse que não eram reais, rir-se-iam dele. Se tentasse salvá-los e transportá-los para o mundo real, matá-lo-iam. Platão relaciona a alegoria da linha dividida com a alegoria da caverna: a caverna seria o mundo sensível, com as suas sombras que são as coisas. O mundo exterior seria o análogo do mundo inteligível ou das ideias. As coisas simbolizam as ideias. O sol, a ideia do bem. Pode representar-se, de um modo gráfico, seguindo as instruções do próprio Platão, a estrutura da realidade a que se refere o mundo da caverna. Platão distingue duas grandes regiões do real, o mundo sensível (das coisas) e o mundo inteligível (das ideias), que simboliza em dois segmentos de reta. Cada uma destas duas regiões divide-se em duas partes, que assinalam dois graus de realidade dentro de cada mundo. Há uma correspondência entre as primeiras e as segundas porções dos dois segmentos. Por último, a cada uma das quatro formas da realidade corresponde uma via de conhecimento. As duas que pertecem ao mundo sensível constituem a opinião ou doxa. As do mundo inteligível são manifestações do noûs. 37 A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3 O projeto educacional de platão No livro A República, dentre outros assuntos, Platão faz algumas considerações sobre as atividades, os saberes, bem como os conhecimentos necessários para a formação do cidadão. Tais aptidões seriam desenvolvidas durantes três ciclos de formação: » Ciclo elementar – estende-se a todos aqueles que se tornarão os futuros guardiões, selecionados entre as crianças mais bem dotadas, e ocorre desde o nascimento até os 20 anos de idade. Abrange a combinação de cultura física, intelectual e moral. Tem como objetivo a formaçãode jovens sãos, capazes de se tornarem valentes, de modo que estejam aptos para as funções de guerra. Daí a exigência de que as crianças sejam submetidas a exercícios de ginástica rítmica (para o desenvolvimento das habilidades corpóreas), os quais seriam acompanhados de música (para um aprimoramento das qualidades referentes à alma). Quando o corpo está combinado à alma, a ginástica deixa de se restringir ao desenvolvimento muscular, sob o predomínio da força bruta, não se tornando o ensino da música, assim, um meio de adormecer o espírito combativo, chegando inclusive a abranger noções superficiais de ciências propedêuticas. Uma das grandes preocupações de Platão, no que tange à educação refere-se ao tipo ideal de formação que deve ser oferecida no ciclo elementar, portanto, na primeira infância. Sob essa perspectiva filosófica, em qualquer “empreendimento, o mais trabalhoso é o começo, sobretudo para quem for novo e tenro”: pois é nessa época que o ser humano é “moldado”, nele introduzindo-se “a matriz que alguém queira imprimir”6. Compreende-se, assim, a preocupação com os conteúdos das fábulas; ao serem absorvidos pelas crianças antes de chegarem ao ginásio, deveriam ser verificados permanentemente. Por esse motivo, Platão recomenda: (...) Vigiar os autores de fábulas, (...) Selecionar as que forem boas e proscrever as más. As que forem escolhidas, persuadiremos as amas e as mães a contá-las às crianças e a moldar as suas almas por meio das fábulas, com muito mais cuidado do que os corpos com as mãos. Das que agora se contam, a maioria deve rejeitar-se. (PLATÃO, 377 b) Platão é claro quanto aos cuidados que deve existir para preservar o modo de viver que as crianças levam, afirmando que elas necessitariam “adquirir asas”, pois frente ao perigo devem “fugir voando” 7: devem aprender, assim, a arte da equitação o mais cedo possível, para que possuam tal mobilidade. Somente de posse dessa arte é que elas devem ser levadas ao: 6 Platão. A República. São Paulo: Hemus 377 b. 7 Platão. A República. São Paulo: Hemus 377 b, 467 d. 38 AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO Espetáculo (da guerra) em cavalos que não sejam fogosos nem belicosos, mas o mais velozes e dóceis ao freio que seja possível. Assim contemplarão muito bem as ações que lhes competem, e, se caso for preciso, salvar-se-ão com toda a segurança, seguindo atrás dos seus chefes mais idosos. (PLATÃO, 467 e) Durante o período de ginástica, que pode ser de dois ou três anos, Platão considera impossível fazer qualquer outra coisa, inclusive voltar-se para os estudos, pois, como ele assinala, “a fadiga e o sono são os inimigos do estudo”. Ao mesmo tempo, esta seria “uma prova e não das menores, para saber quem é que brilha na ginástica”8. » Segundo ciclo – a aprendizagem de ciências propedêuticas era vista por Platão como fundamental, uma vez que as mesmas possibilitariam o guerreiro a apreender a tática e o filósofo a atingir a essência, “emergindo do mundo da geração”. Daí ele sugerir, em função da importância conferida à arte do cálculo, que esse ensino fosse determinado por lei, a fim de que todos os cidadãos que participassem de postos governamentais pudessem se dedicar, de maneira profunda, a essa arte. Dominar a ciência de calcular seria um dos passos importantes para o cidadão chegar à “contemplação da natureza dos números unicamente pelo pensamento”; facilitava-se, assim, “a passagem da própria alma da mutabilidade à verdade e à essência” 9. Por esse meio, justificava-se a crítica feita por Platão aos comerciantes que se valiam do saber que possuíam sobre os números para “comprar e vender”. A relevância, portanto, dos números consistiria no fato de eles poderem se situar “apenas na região do entendimento”, sem manuseá-los de “nenhum outro modo” » Terceiro ciclo – todos estes conhecimentos enumerados não chegam, todavia, à categoria da ciência perfeita, permanecendo restritos à “doxa” (opinião). Esta dimensão é suficiente para os guerreiros. A verdade plena estaria reservada para aqueles que, chegados à idade de trinta anos, seriam selecionados para funções mais elevadas. Os mais bem dotados, assim, chegando aos cinquenta anos de idade, poderiam alcançar a categoria de arcontes perfeitos. Eles governariam a cidade em turnos separados, dedicando o tempo livre ao estudo da filosofia, o que não acarretaria inculcar saberes superficiais e exteriores na alma: esta, segundo Platão, voltar-se-ia para o que é essencial pelo processo de “reminiscência”. Pessoas mais velhas estariam mais aptas a realizarem tal “estudo”, por serem mais comedidas, podendo honrar suas atividades 10. Essa serenidade seria fundamental para o aprendizado da “dialética”, o qual só ocorreria através de “continuidade e aplicação”. Os mais dedicados poderiam contemplar a verdade do ser e das ideias (o que é belo, por exemplo), obtendo as condições para desempenhar adequadamente suas funções governamentais. De posse desse saber deveriam 8 Platão. A República. São Paulo: Hemus (537 b). 9 Platão. A República. São Paulo: Hemus (525 c e 526). 10 Platão. A República. São Paulo: Hemus (539 e – 540 b). 39 A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3 retornar à “caverna”, para que pudessem “exercer os comandos militares”, alternando “a vida social com o exercício da contemplação” O ideal de educação, nesse quadro, é comum para os dois sexos. As mulheres e os homens poderiam igualmente ter acesso aos cargos públicos, ambos devendo prestar o serviço militar segundo tempos diferenciados: para as primeiras, até os cinquenta anos, para os segundos, dos vinte aos sessenta anos. Resumo Vimos até agora: » O sentido mais amplo da palavra paideia: a educação para a cidadania na Grécia. » A educação na Grécia dos séculos V e IV a.C e o surgimento de um movimento de professores ambulantes de retórica: os sofistas. » A crítica formulada por Sócrates contra o relativismo sofístico. » O desenvolvimento do método maiêutico de Sócrates. » O significado da Alegoria da Caverna de Platão. » Os conceitos pelos quais a Filosofia Platônica apresenta um programa de educação centrada em ciclos. 40 Apresentação Nesta aula, indicaremos continuidades e descontinuidades entre as Culturas Greco-Romana e a Medieval, no que tange ao entendimento acerca dos fins e dos significados da educação. A partir deste objetivo, apresentaremos algumas concepções e formulações sobre a educação desenvolvidas pelos filósofos da patrística e por Carlos Magno, no movimento que ficou conhecido como “Renascimento Carolíngio”. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: » Entender como o conceito romano de instrução, calcado sobre as “artes liberais”, suscita uma ordem para a transmissão de saber durante a Idade Média. » Conhecer os dados biográficos dos principais escritores eclesiásticos, filósofos e padres que formularam considerações sobre a educação na Idade Média. » Enumerar as principais características do movimento que surge no século VIII, o “renascimento carolíngio”, compreendendo, assim, como a proposição de recuperar os valores da Antiguidade Greco-Romana culmina com a criação das universidades no século XIII. As influências ideológicas da Cultura greco-Romana no sentido de educação na Idade Média Durante vários séculos, a Idade Média Ocidental conservou do mundo antigo o programa de educação conhecido com o nome de artes liberais. A expressão “Idade Média”, conforme assinala o historiador da filosofia Guilhermo Fraille, designa o período de mais ou menos mil anos, compreendido entre o final da Idade Antiga (envolvendo ora o século III, para alguns estudiosos, ora o século IV para outros – com destaque neste último período para o ano de 476, em que o 4 AulA A FIlOSOFIA
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