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Filosofia e educacao

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Brasília - DF.
Filosofia e educação
Autores
Estrella BOHADANA
Sérgio SKLAR
Revisto por Robson Rodrigues de PAULA
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do caderno de estudos e pesquisa ..................................................................................................... 4
Introdução ............................................................................................................................................................................. 6
Aula 1
Introdução à Filosofia e Educação.......................................................................................................................... 9
Aula 2
A filosofia como uma produção cultural grega ................................................................................................17
Aula 3
A Filosofia Clássica e formação do homem grego ..........................................................................................27
Aula 4
A Filosofia e a educação no Medievo I: passagens e rupturas ..................................................................40
Aula 5
A Filosofia e a educação no medievo II: a escolástica e o renascimento ...............................................53
Aula 6
Filosofia e Educação: teóricos modernos e considerações finais ..............................................................75
Referências ..........................................................................................................................................................................89
4
Organização do caderno de 
estudos e pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, 
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com 
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais 
agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos 
com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de 
fortalecer o processo de aprendizagem do aluno.
5
Organização do caderno de estudos e pesquisa
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
6
Introdução
A disciplina Filosofia e Educação tem como principal objetivo promover uma reflexão sobre 
os sentidos e os fins da educação, por meio de uma análise das principais correntes filosóficas, 
desenvolvidas entre os períodos clássicos e medieval. Busca-se também, a partir desta incursão 
histórica, indicar alguns sistemas de ideias mais contemporâneos que, por caminhos distintos, 
investigaram as relações existentes entre o conhecimento filosófico e a educação. O conteúdo 
desta disciplina está dividido em seis grandes blocos temáticos.
O primeiro bloco apresenta as singularidades da Filosofia, em relação aos outros tipos de 
conhecimento – Senso Comum e Ciência – e discuti as associações possíveis entre esta disciplina 
e a educação. No segundo bloco, analisaremos os aspectos históricos e culturais que contribuíram 
para o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga. Também, nesta aula, apresentaremos as principais 
características da primeira escola filosófica, a Pré-socrática. 
No terceiro bloco, serão apresentados alguns conceitos e ideias básicas, os quais estão na base 
dos pensamentos dos principais pensadores da Filosofia Clássica. Daremos relevo, à visão sobre 
a educação na Grécia, a qual se constitui entorno da noção de Paideia; ao método maiêutico, 
formulado por Sócrates; e a discussão sobre o conhecimento, proposta por Platão, na Alegoria 
da Caverna, apresentada em seu livro, A República. 
Nos blocos quarto e quinto, refletiremos sobre as ideias referentes a educação, desenvolvida 
pelos principais filósofos da Patrísticas e Escolásticas, escolas filosóficas desenvolvidas na Idade 
Média, que articularam a Filosofia à Religião.
Para finalizar discutiremos
Objetivos
Este caderno de estudos tem como objetivos:
 » Compreender as especificidades da Filosofia em relação aos demais conhecimentos.
 » Compreender os pontos de contato entre educação e filosofia.
 » Perceber a importância da formação da Pré-socrática.
 » Entender a noção de Paideia e a sua utilização para uma problematização acerca do 
papel da escola e do professor na transmissão de valores.
7
Introdução
 » Saber utilizar a maiêutica para uma reflexão sobre as questões socioculturais na 
contemporaneidade.
 » Compreender a teoria do conhecimento de Platão, apresentada na Alegoria da Caverna.
 » Compreender as continuidades e descontinuidades entre cultura greco-romana e o 
medievo a respeito dos objetivos da educação.
 » Compreender a maneira como os pensadores da escolástica conjugaram os termos 
filosofia e religião; fé e razão.
 » Saber relacionar as discussões filosóficas ocorridas no final da Idade Média com a 
formação das primeiras universidades.
9
Apresentação
Nesta aula, serão apresentadas as principais características da Filosofia. Você irá observar que 
a Filosofia se distingue dos demais tipos de conhecimentos – Senso Comum e Ciência – , por 
refletir, de maneira racional e sistemática, acerca do mundo. Vemos que, justamente por ter este 
propósito, a Filosofia é uma ferramenta de suma importância para o profissional da educação, 
uma vez que possibilita uma reflexão mais aguçada sobre sua prática, bem como acerca dos fins 
e dos sentidos do educar.
Objetivos
Após a leitura desta aula, você será capaz de:
 » Compreender as características dos tipos de conhecimento.
 » Entender as singularidades da disciplina Filosofia.
 » Perceber que a Filosofia se aproxima da Educação por levantar questões sobre o estar 
do homem no mundo.
 » Refletir sobre os possíveis encontros existentes entre Filosofia e Educação.
Antes de começarmos a estudar as aproximações que existem entre as disciplinas Filosofia e 
Educação, torna-se necessário compreendermos as especificidades do conhecimento filosófico. 
Em outras palavras, primeiramente, temos que entender as diferentes maneiras pelas quais os 
humanos concebem e experimentam a “realidade”. Portanto, iniciaremos a primeira aula de 
nossa disciplina realizando uma distinção entre o Sendo Comum, o Conhecimento Filosófico 
e a Ciência.
1
AulA
IntROduçãO à 
FIlOSOFIA E EduCAçãO
10
AulA 1 • IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO
A filosofia como um dos tipos de conhecimento humanosSenso comum
Grosso modo, podemos entender o Senso Comum com um conhecimento espontâneo, uma 
primeira apreensão do mundo, resultante da herança de uma coletividade e das experiências 
individuais realizadas em sociedade. Dessa maneira, podemos dizer que as tradições, as crenças 
e o aprendizado do cotidiano constituem o Senso Comum. 
O imaginário popular está cheio dessas concepções e dessas práticas apreendidas na vida cotidiana, 
no dia a dia. O tratamento de doenças através da utilização de ervas é um bom exemplo disso. 
Vejamos: por muito tempo, mesmo sem ter o conhecimento dos princípios ativos (substância 
química responsável pela cura) do boldo, muitos de nossos antepassados já o utilizava para a cura 
de problemas hepáticos (males do estômago). Nesse caso, a associação entre a referida erva e a 
doença não era feita a partir da realização de um estudo mais sistemático ou de uma pesquisa 
empírica, mas pelo conhecimento popular, passado de geração a geração.
Dessa forma, por ser assistemático e ametódico - já que não existe um rigor ou critério para 
observação de um determinado fato – o Senso Comum não é valorizado na produção do 
Conhecimento Científico. A Ciência, por sua vez, busca compreender o funcionamento da natureza, 
usando, sobretudo, um conhecimento objetivo, formulado através de métodos cuidadosamente 
pré-estabelecidos, como veremos mais adiante. 
O conhecimento filosófico: uma postura reflexiva diante do mundo
“A filosofia não é uma doutrina, mas uma atitude”
(Ludwing Wittgenstein)
Entre os filósofos há um debate muito efervencente a respeito da própria definição do termo 
filosofia. Uns, inclusive, evitam conceitua-la por acreditarem que qualquer investida neste 
sentido seja insuficiente para desiguar o ato de filosofar. Numa análise a respeito da origem 
desta palavra, constataremos que ela vem do grego φιλοσοφία e que é a junção de duas outras 
palavras: “philia” (φιλία) - cujo significado pode ser “amizade”, “amor fraterno” ou “respeito entre 
os iguais”- e “sophia” (φιλία), a qual significa, em português, “sabedoria” ou “conhecimento”. 
Portanto, filosofar significaria o amor pelo conhecimento ou a busca da sabedoria. Contudo, 
tal apresentação é por demais vaga, uma vez que não indica os modos e as formas como se 
busca esta virtude, assim como as singularidades deste conhecimento em relação aos demais. 
Debates e discurssões teóricas a parte, segue uma consideração de Marilena Chaui a respeito da 
Filosofia. Observe que a pensadora, num exercício reflexivo, nos apresenta a filosofia indicando 
justamente aquilo que é ela não é:
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IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO • AulA 1
A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e conceitos 
científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e formas das 
crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das 
formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é sociologia 
nem psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos 
da sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão 
e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é história, mas 
interpretação do sentido dos acontecimentos enquanto inseridos no tempo e 
compreensão do que seja o próprio tempo. Conhecimento do conhecimento e 
da ação humanos, conhecimento da transformação temporal dos princípios do 
saber e do agir, conhecimento da mudança das formas do real ou dos seres, a 
Filosofia sabe que está na História e que possui uma história. (CHAUI, 2000, 16)
Na história do pensamento ocidental, cronologicamente, a Filosofia surgiu na Grécia por volta 
do século VI (ou VII) a.C., tendo como um de seus principais expoentes o filósofo pré-socrático 
Tales de Mileto (623-546 a.C.). Este pensador foi um dos primeiros a buscar uma explicação 
do mundo através de uma perspectiva mais racional e sistemática. Como será ressaltado na 
próxima aula, até então na Grécia, tanto a origem do universo como os acontecimentos sociais 
(nascimentos, pestes, guerras, doenças, mortes etc.) eram explicados a partir da ação sobrenatural 
dos seres divinos e mitológicos. Sendo assim, diferente do senso comum, a filosofia genuinamente 
é racional e reflexiva. 
De acordo com Chauí (2000), as indagações filosóficas podem ser reunidas em três grupos, que 
expressam questionamentos distintos realizados, por nós, humanos, acerca do que sentimos, 
falamos e agimos. Tais reflexões ocorrem a respeito:
 » Das motivações e das razões. 
1. Por que sentimos determinados sentimentos? 
2. Por que dizemos o que dizemos? 
3. Por que agimos de uma determinada maneira e não de outra?
 » Dos conteúdos de nossos sentimentos, palavras e ações. 
1. Qual o sentido dos nossos sentimentos, verbalizações e atos?
 » Das intenções ou das finalidades. Noutros termos: quais os propósitos e os fins de 
nossos sentimentos, palavras e atuações?
Torna-se necessário dizer que tais reflexões, além de serem racionais, também são realizadas de 
modo sistemático. Uma vez que a filosofia:
trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos 
entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentos 
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AulA 1 • IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO
de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado 
e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa 
experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de 
si mesmas. Não se trata de dizer “eu acho que”, mas de poder afirmar “eu penso 
que ”. (CHAUI, 2000, p. 13)
A filosofia como fundamentação do conhecimento científico
Como foi ressaltado, ainda que na Antiga Grécia, os filósofos da phisis – os pré-socraticos – 
Socrátes e Platão tenham formulado e defindo conceitos, seja na explicação mais racional acerca 
da existência e do funcionamento dos fenômeno naturais, ou no entendimento da vida civica na 
pólis, a ciência, como a conhecemos, só foi desenvolvida a partir final da Idade Moderna. Neste 
período, no âmbito da filosofia, alguns pensadores estabeleceram formas mais sistemáticas e 
metódicas para o desenvolvimento de suas investigações, formando assim, um outro tipo de 
conhecimento sobre os entes e o mundo: a ciência. Gradativamente, a partir daí, em razão aos 
objetos determinados pelos estudiosos, surguiram distintos campos científicos. Este processo de 
formação das ciências tomou força principalmente com contribuições de Galileo Galilei (1564-
1642), a partir do século XVII. A apresentação mais detalhada acerca dos campos da ciência 
será realizada na disciplina Sociologia da Educação. Por hora, de acordo com os objetivos desta 
aula, segue uma definição sobre o conhecimento científico:
Um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso 
por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira 
programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Assim, 
podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado 
contéudo foi construído, possibilitando a reprodução da experiência. Dessa forma, o saber pode 
ser transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido. (BOCK et at, 2000:15)
Portanto, em síntese, o conhecimento científico:
 » valoriza a razão;
 » recomenda a observação empírica dos fenômenos analisados;
 » opera a partir de métodos e técnicas científicas;
 » formula teorias e leis gerais.
Para uma maior entendimento das caracaterísticas do Senso Comum, da Filosofia e da Ciência, 
observe atentamente o quadro a seguir:
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IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO • AulA 1
Compare
Senso Comum Filosofia Ciência
Conhecimento 
assistemático e 
ametódico, resultante 
da herançade uma 
coletividade e das 
experiências individuais 
em sociedade. 
um modo de pensar, que não se constitue a 
partir de um conjunto de conhecimentos 
pré-estabelecidos e fechados. Antes de tudos, 
a filosofia é uma postura diante do mundo que 
procura entender os acontecimentos além de sua 
aparência. nessa perspectiva, a filosofia parte do 
que existe, critica e coloca em dúvida.
Conhecimento objetivo, 
metódico, sistemático e 
controlável dos fenômenos 
naturais, das obras humanas, 
dos fatos sociais e do 
comportamento humano.
Filosofia e educação: aproximações e distanciamentos
a educação problematizadora, respondendo à essência do ser da consciência, 
que é sua intencionalidade (...) identifica-se com o próprio da consciência que 
é sempre ser consciência de, não apenas quando se intenciona a objetos, mas 
também quando se volta sobre si mesma (...) a consciência é consciência de 
consciência. (FREIRE, 1983, p.77)
Os termos Filosofia e Educação possuem histórias e desenvolvimentos específicos, mas, apesar 
de suas características particulares, são também compreendidos em torno de uma questão, 
tentando incessantemente encontrar uma resposta para a mesma: quais são os objetivos gerais 
que determinam o modo pelo qual o ser humano adquire novas formas de compreensão do 
mundo que o rodeia (educa-se, assim)? Em outras palavras, para que serve a educação, ou numa 
linguagem própria dos estudiosos da Filosofia, quais são os “fins” próprios do processo educativo? 
Fornecer instrumentos para que possamos resolver satisfatoriamente as dificuldades a que se 
referem esta indagação é o eixo sobre o qual iremos refletir nas aulas que se seguirão.
Tarefa demasiadamente ampla: ela envolve o entendimento de certas ideias básicas, tais como 
a da definição de que ser humano falamos (ocidental, oriental?), qual o seu lugar no mundo e 
de qual período histórico estamos tratando quando determinamos por tarefa encontrar uma 
resposta para esta interrogação. Em acréscimo a este conjunto de questões iniciais, formula-se a 
pergunta se existe ou não uma “faculdade” no ser humano que se destaca, direcionando-o para 
o conhecimento e tornando-se, por isto, indispensável para o desenvolvimento do tema que 
aqui nos propomos a analisar: o poder de abstrair e de refletir sobre o que existe no mundo, sob 
a vontade de controlar o universo tão enigmático no qual os homens estão incluídos.
 
Para iniciarmos nossa jornada teórica, devemos lembrar que os problemas lançados pela Educação 
podem ser divididos em gerais e técnicos. Os primeiros se voltam, na maior parte dos casos, para 
a reflexão sobre as diversas “finalidades” (ou “sentidos”) em vista das quais se dirige o processo 
educativo. Os segundos se referem aos procedimentos que exigem conhecimentos específicos 
14
AulA 1 • IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO
das situações concretas e dos meios que podem ser empregados em função daquelas. Estas 
duas abordagens estão intimamente ligadas, dependendo uma da outra. E esta implicação foi 
justamente considerada por autores que não se limitaram à elaboração concreta de “métodos” e 
“técnicas” de aprendizagem. Educadores como Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Georg 
Michael Kerschensteiner (1854-1921) privilegiaram uma reflexão sobre os fins da educação em 
detrimento dos vários procedimentos técnicos. Já Johann F. Herbart (1776-1841), iniciador de 
uma pedagogia entendida sob parâmetros de uma ciência, e o filósofo John Dewey (1859-1952), 
numa outra via de análise, se detiveram fundamentalmente na formulação e análise de métodos, 
a partir de fins previamente estabelecidos.
Dito em outras palavras, para os primeiros, a questão básica gira em torno do que é educar, 
para que e para quem se dirige o processo de educação. Para os segundos, em oposição, a 
questão central se resume em como educar. Destacamos que o primeiro olhar (PESTALOZZI; 
KERSCHENSTEINER) se tornou consensual entre muitos filósofos, uma vez que é próprio do 
pensamento filosófico formular indagações que versam sobre o estar do homem no mundo. 
Justamente por este motivo, afastamo-nos de uma perspectiva que favorece a centralização de 
uma discussão apenas em torno de métodos e técnicas pedagógicas, adotando, ao longo deste 
curso, a linha teórica que visa privilegiar, na educação, o debate em torno dos fins, aproximando, 
assim, os campos da Filosofia e da Educação. Este debate será aprofundado na aula seis, por hora 
torna-se necessário entendermos o significado do verbo educar.
“Educar” é um termo latino composto do prefixo “e”, de ex- que indica “movimento para fora”, 
e da partícula “duc”, proveniente de ducere, que significa “conduzir, guiar”. Educar (educere) é 
primordialmente um ato de conduzir, introduzir, guiar. Assim, educar é a ação que provoca o 
movimento capaz de deslocar o outro em direção a um fim estipulado. Nessa ação, o educador 
não só é o provocador, mas também o guia. Como Guia é também responsável pelo processo 
de comunicação – e humanização, como decorrência – de um “ser” com um outro ser, pois o “se 
tornar” humano não ocorre de maneira aleatória nem solitária. É necessário que alguém assuma 
a responsabilidade de conduzir e introduzir o infante e o jovem no mundo. A educação não deve 
ficar alheia a esse processo 1. 
Neste processo de compartilhamento de conhecimentos e saberes, a Educação e a Filosofia, 
enquanto disciplinas, têm uma fundamental importância, como podemos observar a seguir:
Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas 
gerações de uma sociedade, a Filosofia é a reflexão sobre o que e como devem 
ser ou desenvolver estes jovens e esta sociedade. (...) O educando, que é, o que 
deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel no 
mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação 
pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos 
povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos 
para aquela (LUCKESI, 1994, pp. 31-32).
15
IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO • AulA 1
Na Grécia Antiga, a “noção de educar” era expressa pelo termo “Paideia”, que designava um 
conjunto de conteúdos que incluía desde a perspectiva histórica da vida de uma nação até o 
universo espiritual do homem – este ponto será desenvolvido na próxima aula. Assim, o ato 
de educar jamais esteve apartado das várias expressões culturais e existenciais da pessoa. Sua 
manifestação, por meio de ação participativa, interfere na dinâmica exterior, interior e espiritual 
de uma sociedade. Como fenômeno social, a educação independe de instituições, mas não de 
laços sociais e, portanto, de normas e valores. 
Tendo como referência esta visão mais ampla a respeito dos sentidos da educação, surgi na 
interface entre Filosofia e a Educação a disciplina Filosofia da Educação, a qual tem como 
proposta refletir sobre:
(...)as condições reais da educação, tais como se desenham a cada momento 
histórico, e o recurso às referências históricas só se justifica quando se precisa 
estabelecer algumas balizas contextuais ou quando se trata de evidenciar a 
historicidade das manifestações lógico-conceituais do pensamento humano. 
Trata-se, pois, de uma reflexão analítica e crítica sobre a problemática da 
educação, com o propósito de tentar decifrar o seu sentido possível. Entretanto, 
por outro lado, é também oportuno lembrar que, embora precise considerar 
os conhecimentos produzidos pelas Ciências da Educação e pelas Ciências 
Humanas, a perspectiva filosófica é diferente dessas ciências, dada sua intenção de 
buscar fundamentos, entendidos estes como nexos conceituais explicativos. Isso 
justifica a démarche filosófica como exercício mais autônomo da subjetividade 
em relação a procedimentos metodológicos e técnicos e a abordagens empíricas 
dos fenômenos, objetosdas ciências. A questão fundamental que cabe à Filosofia 
da Educação responder é aquela do sentido e da finalidade da educação. Em 
assim sendo, sua perspectiva é diferente daquela da Sociologia da Educação, 
da Psicologia da Educação, da História da Educação, da Economia da Educação 
etc., encarregadas de estudar os fatos educativos sob os diversos aspectos de 
suas manifestações concretas. (SEVERINO, 2006, p. 623)
Tomando por base esta orientação, nosso curso irá esclarecer quais elementos históricos 
permitem tanto a compreensão do surgimento da Filosofia no mundo ocidental, quanto a 
constituição de um enfoque geral da educação nos quadros das filosofias grega, romana, medieval 
e renascentista. Nesse quadro histórico-filosófico, aprofundaremos algumas considerações sobre 
o lugar e a importância do “humanismo”, entendido como uma “doutrina que tem por objeto 
o desenvolvimento das qualidades do homem”, com vistas a fornecer um instrumental teórico 
básico para uma compreensão mais adequada do que é pertinente, neste momento de nossa 
história atual.
16
AulA 1 • IntROduçãO à FIlOSOFIA E EduCAçãO
Resumo
Nesta aula, tivemos a oportunidade de:
 » Entender as características dos tipos de conhecimento- Senso Comum, Filosofia e Ciência.
 » Compreender as principais características do Pensamento Filosófico.
 » Conhecer o significado da palavra educar.
 » Refletir sobre as aproximações existentes entre a Filosofia e a Educação.
 » Saber os objetivos da disciplina.
17
Apresentação
Nesta aula, faremos uma reflexão a respeito das condições socioculturais que contribuíram para 
o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga. Veremos que o advento do conhecimento filosófico 
está intimamente relacionado ao desenvolvimento das cidades-estados, ao aprimoramento 
artístico e ao surgimento da democracia na Grécia. Além disso, faremos uma apresentação das 
principais características da primeira escola da Filosofia, a Pré-socrática.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Compreender o contexto sociocultural no qual surgiu a Filosofia.
 » Perceber a proeminência da oratória na Cultura Grega.
 » Reconhecer as diferenças existentes entre a narrativa mítica e a Filosofia.
 » Entender as principais características da Pré-socrática.
A formação do povo grego1
Sabemos que a nossa civilização nasceu na Grécia. Mas a sua cronologia nos leva a uma grande 
viagem pelo tempo antigo, revendo alguns traços essenciais do mundo grego, base, sem dúvida, 
da mais importante civilização encontrada na Antiguidade. Como ponto de partida desta volta, 
destacamos a sua localização geográfica. Consultando um pequeno mapa da região grega do 
século XII a.C, compreendemos melhor o alcance desta afirmação:
1 O texto que vamos apresentar tomou como base a introdução do livro de A. Souto Maior, História Geral (SOUTO MAIOR, A. 
História Geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973).
2
AulA
A FIlOSOFIA COMO uMA 
pROduçãO CultuRAl gREgA
18
AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA
Fonte: www.suapesquisa.com/grecia/mapagrecia.gif
Em uma primeira visada, verificamos que a Grécia é uma península localizada ao sul dos Balcãs, 
apresentando um litoral bastante recortado ao lado de um alto relevo montanhoso, o que dificulta 
as comunicações entre os seus vales. Um outro dado nos chama a atenção a este respeito: o solo 
grego era infértil, obtendo da imensidão de suas costas o que não era extraído da agricultura. Pelo 
mar, então, suas diversas regiões internas entravam em contato, facilitando simultaneamente o 
estabelecimento de vínculos externos com povos distantes.
Antes de invadirem esta península, os gregos se confrontaram com três culturas que já haviam 
ali se instalado: cretense, egípcia e fenícia. Julgando-se os legítimos habitantes da região, porém, 
eles acreditavam terem sido descendentes diretos de Heleno, filho de Deucalião, que conseguira 
escapar a um dilúvio provocado por Zeus, pai dos deuses. Surge, a partir de então, os primeiros 
e mais importantes vestígios da cultura grega: a proximidade e tutela dos deuses ou o que 
chamamos há pouco de percepção mítica. Destacamos que a Grécia é conhecida pelo nome de 
Hélade e os seus habitantes de helenos. 
Supõe-se que estes invasores fossem provavelmente de origem indo-europeia e, divididos em 
tribos, alastraram-se pela Hélade, não sem deixar de assimilar características culturais das diversas 
populações ali já instaladas, dentre as quais se colocavam em evidência os cários, que dominavam 
técnicas voltadas para a utilização dos metais. Os aqueus tornaram-se, então, uma das primeiras 
tribos gregas a fixar-se no território helênico. Deles provém o impulso para a fundação de várias 
cidades, dentre as quais se destacam Micenas e Tirinto. Logo a seguir, aprendendo a construir 
navios, espalharam-se pelas ilhas egeias para atacarem e se apoderarem de Creta. 
A superioridade dos vencidos, no entanto, não diminuiu em força e importância diante dos 
invasores. A cultura cretense sobreviveu com algumas modificações, adaptando-se aos novos 
tempos. Dessa sobrevivência formou-se uma civilização que reunia as características de Creta 
às de Micenas, a mais importante cidade dos aqueus: a “civilização creto-miceniana”. A herança 
19
A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA • AulA 2
mítica predomina ainda nesse tempo, quando descobrimos que enormes construções de blocos 
de pedra apoiados uns sobre os outros eram atribuídas aos gigantes de um só olho, os ciclopes, 
conforme narram os poemas de Homero. Micenas, apesar da forte influência culural de Creta, 
manteve características arquitetônicas próprias e o forte desenvolvimento de seu comércio, 
atingindo a Espanha a Oeste, o Danúbio ao Norte e o Egito ao Sul, só respeitou a área de influência 
da rica cidade de Tróia.
Os avanços dos aqueus, o confronto estabelecido com as culturas cretense, egípcia e fenícia e o 
fato de se apoderarem de Creta, impulsionando o surgimento da civilização creto-miceniana, não 
são suficientes para explicar os acontecimentos mais marcantes da Grécia desde o século XX a.C. 
Para um retrato mais amplo, cabe mencionar o papel e a importância que desempenhou nesse 
período a invasão dórica. Dominando o solo grego pelo istmo de Corinto, os dórios conquistam 
todo o Peloponeso no segundo milênio a.C. Logo em seguida, apossam-se de Creta. Para se 
defenderem dessa avalanche de destruição e saque, os aqueus buscaram novas terras para se 
estabelecerem, ocupando as ilhas e as costas da Ásia Menor.
Supõe-se que, quando os aqueus e cretenses fugiram, tenham se constituído aqueles que 
passaram a ser conhecidos como “povos do mar”, os quais lutaram contra os faraós egípcios, 
dando origem aos filisteus que dominavam os hititas. Apesar de hábeis guerreiros, os dórios 
possuíam uma cultura inferior à dos povos conquistados, o que provocou um retrocesso cultural 
na Grécia. Embora adorassem a um Deus Supremo, admitiam que astros e seres de aspecto 
humano pudessem interferir continuamente na vida dos homens. Eram monogâmicos e, apesar 
de belicosos, desconheciam manobras táticas que os guiassem nos campos de batalha. A fixação 
dos dórios na Grécia acarretou o desaparecimento da brilhante civilização creto-miceniana.
As três rainhas, afresco no palácio de Cnossos
Fonte: http://sapereaude10.blogspot.com.br/2013/01/os-primordios-do-mundo-egeu.html
A civilização grega surgiu neste cenário caracterizado por contribuições e compartilhamentos 
culturais entre diferentes povos e sua história pode ser dividida nos seguintes períodos:
 » A dos primeiros gregos, conhecidos como aqueus – posteriormente divididos em jônios 
e eólios – que ocuparam lentamente a Grécia Continental, o Peloponeso e as ilhas do 
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AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA
marEgeu, do século XX a.C. ao século XII a.C. Cresce em importância, nesse período, a 
cidade de Micenas, formando o que passou a ser conhecido como “civilização micênica”.
 » Do século XII a.C. ao século VIII a.C, período em que são construídos os alicerces da 
civilização grega propriamente dita, tendo como maior expoente a figura de Homero, 
vivido possivelmente na Jônia do século IX a.C, o que nos leva a compreender a 
denominação de “tempos homéricos” para esse momento da história antiga.
 » Do século VII a.C. ao século VI a.C, o “período arcaico”, em que o desenvolvimento da 
economia mercantil e alterações sociais e políticas levam ao aparecimento de colônias 
(bases das Cidades-Estados, ou “póleis”) que geravam produtos agrícolas e a compra e 
venda de mercadorias com outros povos.
 » Do século V a.C. ao século IV a.C, período conhecido como “clássico”, no qual se verifica 
um autêntico impulso nos domínios das artes, da literatura e da filosofia. A cidade de 
Atenas atinge seu mais alto grau de desenvolvimento; nessa época viveram os sofistas, 
Sócrates, Platão e Aristóteles.
 » Do século III a.C. ao século II a.C, período conhecido como helenístico, fase em que se 
inicia uma profunda decadência política na Grécia, a princípio, provocada pela expansão 
do Império Macedônico e, posteriormente, pela ascensão do Império Romano.
Situados no tempo, então, podemos apresentar as principais características que marcam o 
período histórico conhecido sob o nome de Antiguidade Grega, bem como o surgimento nessa 
época do domínio próprio da Filosofia no Ocidente. Iniciaremos nossa travessia do século XX 
a.C. até o século V a.C., momento em que surgem os sofistas.
Aspectos culturais da grécia antiga
A constituição do teatro grego 
pintura localizada sobre uma cratera grega (século IV a.C.) Museu arqueológico nacional, nápoles, Itália. 
Retrata um ator segurando uma máscara e vestindo o figurino.
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A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA • AulA 2
O teatro foi uma das mais belas manifestações da cultura grega. Segundo Souto Maior (1973) 
ele se confundiu primitivamente “com os festejos populares e as cerimônias religiosas em 
homenagem a Dionísio”, evoluindo “até constituir um instrumento de alto valor educativo”. O 
termo “tragédia” deriva do grego trag-odia que significa “canto do bode”. Já o vocábulo “trágico” 
era atribuído tanto àquele que cantava para receber como prêmio um bode, quanto àquele que 
cantava durante o ritual de sacrifício do bode. Assim, as tragédias ou “cantos do bode” – animal 
que fazia parte do culto dionisíaco, pois representava os faunos – tomaram como temática inicial 
as aventuras de Dionísio, agregando, posteriormente, temas mais variados.
Fauno: Divindade campestre, caprípede (tem pés de cabra), cabeluda e que possui um corno.
Em Atenas e em outras cidades gregas, então, apareceram grandes teatros. De formato semicircular, 
sem teto, localizava-se nas encostas de pequenas ele vações, de maneira que as galerias superiores 
fossem cavadas na própria rocha. Souto Maior lembra que:
Junto à primeira fila de espectadores situava-se a orquestra, pista circular para 
as danças efetuadas pelo coro. Por trás, erguia-se uma pequena construção de 
madeira (skene), que servia de cenário, representando um palácio, um templo 
ou uma residência. Era também usado um aparelho mecânico (mechane), que 
com cordas e pesos levava ao palco os atores que representavam as divindades, 
dando a impressão de que teriam vindo do Céu
(SOUTO MAIOR, 1973, p. 106).
A estrutura do teatro grego era constituída de um ator e do coro dionisíaco. A cena teatral ocorria 
inicialmente com um único ator (masculino) que, usando diferentes máscaras, representava as 
várias personagens. As máscaras eram providas de um ressonante bocal de cobre e os atores 
usavam altos sapatos chamados coturnos para realçar a estatura e possibilitar maior visibilidade 
por parte dos espectadores. Os espetáculos iniciavam-se pela manhã, muito cedo, e prosseguiam 
até o anoitecer. As representações, frutos de competições, duravam três dias.
A importância da palavra no exercício político.
A eloquência também se destaca na Grécia do século V a.C., visto que a arte de falar em público 
tornava-se um recurso importante para a organização democrática de algumas cidades gregas. 
Ela era estudada e praticada como um meio para se alcançar fama e prestígio social ou político. 
O nome de Péricles (495 a.C. – 429 a.C.) deve ser lembrado a este respeito:
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AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA
Péricles (495 a.C. – 429 a.C.)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/p%C3%A9ricles
Eloquência: Capacidade de falar e exprimir-se com facilidade.
É considerado o maior orador ateniense de seu tempo. Destacou-se como o mais importante dirigente da democracia 
de Atenas, tendo sido reeleito durante mais de trinta anos e chefiado o Estado de 443 a.C a 429 a.C. Adotou uma política 
expansionista, com o monopólio do comércio marítimo. Provocou a guerra do Peloponeso contra os espartanos. Lutou pela 
supremacia ateniense sobre os Estados Gregos, criou uma poderosa confederação de cidades, mas os desastres da Guerra do 
Peloponeso levaram à sua queda em 430 a.C. Embora reintegrado ao poder, morreu logo depois, sob o efeito de uma peste 
que assolou a região. O período de seu governo marca o clímax da cultura grega da Antiguidade e ficou conhecido como “o 
Século de Péricles”.
Nasceu em Atenas por volta de 384 a.C. De família abastada, Demóstenes perdeu o pai aos sete anos e teve os bens 
dilapidados pelos tutores. Estudou oratória e tentou recuperar a fortuna processando os antigos tutores. Logo, se tornou um 
bem sucedido logógrafo (escritor profissional de discursos) e teve alguns dos mais ricos atenienses como clientes. Começou 
a tratar de assuntos de interesse público a partir de 354 a.C. Seus discursos na Assembleia diziam respeito, principalmente, à 
política externa ateniense. Por ser gago desde a adolescência, conta-se que enchia a boca com seixos e declamava diante do 
mar para corrigir este defeito.
Souto Maior destaca vários trechos que mostram a eloquência de Péricles, entre os quais o 
seguinte elogio à democracia:
A constituição que nos rege nada tem a invejar à de outros povos; não imita 
nenhuma, ao contrário, serve-lhes de modelo. Seu nome é democracia, porque 
não funciona no interesse de uma minoria, e sim em benefício da maioria. Tem 
por princípio fundamental a igualdade. Na vida privada a lei não faz nenhuma 
diferença entre os cidadãos. Na vida pública, a consideração não se ganha 
pelo nascimento ou pela fortuna, e sim, unicamente, pelo mérito; e não são 
as distinções sociais, mas sobretudo a competência e o talento que abrem o 
caminho da fama. Em Atenas, todos entendem a política e com ela se preocupam, 
e quem se mantém afastado dos assuntos públicos é considerado como um ser 
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A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA • AulA 2
inútil. Reunidos na Assembleia, os cidadãos sabem julgar sabiamente, porque 
não acham que a palavra prejudique a ação e desejam, pelo contrário, que da 
discussão faça nascer a luz (SOUTO MAIOR,1973, 107-108)
O pensamento grego: o surgimento da filosofia
Entre os séculos VII a.C. e VI a.C., o período arcaico na Grécia, surge a “Filosofia” ou o “pensamento 
ocidental”. Ela resultou do estabelecimento de um tipo de organização política, econômica e 
administrativa que caracterizou a civilização grega nesse período: a pólis (“Cidade-Estado”). 
A vida em sociedade passa a preponderar nesse período. Como decorrência, discussões em 
assembleias (substituindo a estrutura de poder em torno da realeza que dominou o período 
homérico) tornaram-se necessárias, destacando-se, então, o ideal de cidadania, isto é, a 
participação pública do cidadão nos destinos da cidade. A discussão de uma ordem humana 
aparecia, traduzidaem formas acessíveis à inteligência. O universo deveria ser explicado sem 
mistérios, e a sua compreensão deveria fazer parte daquilo que era debatido publicamente; o 
conhecimento mítico, marcado pela predominância do que estava acima do mundo humano, 
não mais sustentava a nova apreensão da realidade em sociedade. 
Até então na Grécia, tanto a origem do universo como os acontecimentos sociais (nascimentos, 
pestes, guerras, doenças, mortes etc.) eram explicados a partir da ação sobrenatural dos seres 
divinizados. Para exemplificar, a seguir, podemos observar uma das narrativas míticas gregas a 
respeito da formação do cosmo: 
O destino era uma divindade cega, inexorável, nascida da Noite e do Caos. Todas 
as outras divindades estavam subordinadas a seu poder. Os céus, a terra, o mar e 
os infernos faziam parte do império do Destino. O que ele resolvia era irrevogável. 
O Destino era por si mesmo essa fatalidade, segundo a qual tudo acontecia no 
mundo. Zeus, o mais poderoso dos deuses, não pôde aplacar o Destino, nem 
a favor dos outros deuses nem a favor dos homens. As leis do Destino eram 
escritas, desde o princípio da Criação, num lugar em que os deuses pudessem 
consultá-las. Os ministros do Destino eram as três Parcas, encarregadas de 
executar suas ordens. Representam-no tendo sob os pés o globo terrestre, e 
agarrando nas mãos a urna que encerra a sorte dos mortais. Dão-lhe também 
uma coroa recamada de estrelas e um cetro, símbolo de seu poder soberano. Para 
demonstrar que ele era inflexível, os antigos o representavam por uma roda que 
prende uma cadeia. (COMMELIN, 1997:23)
Com o advento da Filosofia, buscou-se explicar, de maneira racionalizada, os fenômenos a partir 
de causas naturais e, conforme indicando anteriormente, o desenvolvimento da pólis constituiu 
um fator fundamental para o nascimento deste novo tipo de conhecimento. As concepções 
filosóficas que se desenvolveram nesse período formaram o que é conhecido como “pensamento 
pré-socrático” (filósofos que viveram antes de Sócrates). A primeira escola nasceu em Mileto, uma 
24
AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA
das principais cidades da Jônia (Ásia Menor). Seus principais pensadores foram Tales de Mileto, 
Anaximandro e Anaxímenes, que eram materialistas e admitiam a existência de uma substância 
elementar que servia de “princípio” (ou “arché”) para todas as coisas existentes na natureza: a 
água (Tales); uma substância “não gerada e imperecível” (Anaximandro); o ar (Anaxímenes).
De acordo com Danilo Marcondes (2005), a Filosofia Pré-socrática tinha como principais 
características: 
A noção de physis (natureza). 
Por meio da contemplação, os filósofos da Pré-socrática investigaram o mundo natural, os nexos 
e relações de causa e efeito entre os fenômenos naturais. 
A busca das causalidades
Para os pré-socráticos, as causas dos fenômenos seriam, por excelência, naturais e não de 
ordem mítica. Na visão da primeira vertente da filosofia, a causalidade de um fenômeno poderia 
ser explicada por outro, que por sua vez, tinha origem num terceiro, e assim sucessivamente. 
Dessa maneira, a explicação assume um caráter regressivo, na medida em que, a cada vez mais, 
busca-se uma causa anterior, até o infinito. Para uma melhor compreensão desse movimento 
filosófico de busca pela causalidade dos fenômenos, observe o quadro a seguir:
BuSCA DAS CAuSAlIDADES
arqué (causa)
(causa)
(efeito)
Fenômeno A
(causa)
(efeito)
Fenômeno B
(efeito)
O conceito de arqué ou elemento primordial
Para resolver o problema de não se chegar a lugar nenhum a partir da explicação causal de caráter 
regressivo, os filósofos pré-socráticos definiram, cada um a seu modo, um elemento primordial, 
que seria a causa primeira de tudo. Sendo assim, por exemplo, para Tales de Mileto, a água (hydor) 
seria o elemento fundamental, a partir da qual os fenômenos decorreriam; já Heráclito acreditava 
que seria o fogo, o princípio explicativo; e Demócrito, por sua vez, dizia que era o átomo.
O cosmo
O termo Kosmos - para os gregos do período em que a filosofia se constitui na Grécia - está 
associado às ideias de ordem, harmonia e beleza. O cosmo, portanto, se contrapunha ao caos 
(falta de ordem). O universo, de acordo com esta noção, seria um complexo racionalmente 
organizado e estruturado por fenômenos e leis naturais.
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A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA • AulA 2
logos (discurso racional)
Em termos de narrativa, os pré-socráticos também estabeleceram uma ruptura com o pensamento 
mítico. 
 » Mythos – Na Grécia, os feitos dos deuses eram narrados de forma poética. 
 » Logos – Os pré-socráticos se preocuparam em produzir logos (discursos) voltados para 
a explicação dos fenômenos.
O logos é fundamentalmente uma explicação, em que razões são dadas. É nesse 
sentido que o discurso dos primeiros filósofos, que explica o real por meio de 
causas naturais, é um logos. Essas razões são fruto não de uma inspiração ou 
revelação, mas simplesmente do pensamento humano aplicado ao entendimento 
da natureza. O logos é, portanto, o discurso racional, argumentativo, em que as 
explicações são justificadas e estão sujeitas à crítica e à discussão. (MARCANDES, 
2005, 26).
O caráter crítico
Por execelência, a Filosofia Pré-socrática tem como embasamento a reflexão, uma vez que se 
contituiu em discordância do mito, num periodo histórico, que como vimos, se caracterizou por 
uma preocupação maior dos gregos com a vida cívica, nas pólis. No trecho a seguir, Karl Popper 
faz uma consideração sobre a perspectiva crítica adotada pela Filosofia Pré-socrática:
O que é novo na Filosofia Grega, o que é acrescentado de novo a tudo isso, parece-me 
consistir não tanto na substituição dos mitos por algo de mais "científico", mas 
sim em uma nova atitude em relação aos mitos. Parece-me ser meramente uma 
consequência dessa nova atividade o fato de que seu caráter começa então a 
mudar. A nova atitude que tenho em mente é a atitude de crítica. Em lugar de 
uma transmissão dogmática da doutrina (na qual todo o interesse consiste em 
preservar a tradição autêntica) encontramos uma tradição crítica da doutrina. 
Algumas pessoas começam a fazer perguntas a respeito da doutrina, duvidam 
de sua veracidade, de sua verdade ( POPPER apud MARCONDES, 2005, 27).
A filosofia, desde o seu surgimento entre os pre-socrático, se caracteriza, fundamentalmente, 
por ser um saber crítico. As teorias não são apresentadas de maneira dogmática e conclusivas. 
Diferentemente das concepções religiosas que se constituem como “verdades”, o conhecimento 
filosófico valoriza e estimula o diálogo, a divergência de opiniões e a refutação das ideias.
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AulA 2 • A FIlOSOFIA COMO uMA pROduçãO CultuRAl gREgA
Resumo
Vimos até agora:
 » Um pouco de História (da Grécia Antiga).
 » Breve visão da Antiguidade Grega e o surgimento da Filosofia Ocidental: a formação 
do povo grego.
 » A constituição do Teatro Grego.
 » A oratória na Grécia.
 » O Pensamento Grego e o surgimento da Filosofia.
 » Os Pré-socráticos. 
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Apresentação
Nesta aula, partindo do estudo da noção de Paideia, estudaremos o método maiêutico, desenvolvido 
por Sócrates, e a teoria do conhecimento de Platão, ilustrada na Alegoria da Caverna. Por meio 
da apresentação destas noções, busca-se indicar como a Filosofia Clássica pensou a formação 
do cidadão na pólis.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Compreender o sentido da Paideia na formação do homem grego.
 » Conhecer as principais críticas feitas por Sócrates aos sofistas.
 » Reconhecer a forma de ensinar no método pelo diálogo, com Sócrates, no qual predomina 
uma conversa dirigida com um interlocutor.
 » Entender o significado da alegoria da caverna.
 » Refletir sobre o programa formuladoem dois ciclos, por Platão, para a educação.
Etica, moral e a valorização do discurso na formação do 
homem grego 
O sentido cultural da paideia na grécia Antiga 
Na pólis do séc. IV a.C. o conceito de “Paideia” supera a vinculação limitada à instrução da criança. 
Trata-se de uma REFLEXÃO SOBRE A FORMAÇÃO DO HOMEM PARA A VIDA RACIONAL NA 
“PÓLIS”. Aplica-se à vida adulta, à formação e à cultura, à sociedade e ao universo espiritual 
da condição humana. A construção histórica deste mundo da cultura atinge o seu apogeu no 
momento em que se chega à ideia consciente de educação. (JAEGER, 1986, 244-246).
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AulA
A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO 
dO hOMEM gREgO
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AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO
Neste sentido:
A Paideia é entendida como uma formação geral que dará ao homem a forma 
humana, ou seja, que o construirá como homem e como cidadão. Assim, ela 
significou a educação do homem de acordo com a verdadeira forma humana e 
que brota da ideia. O termo Paideia não pode ser traduzido simplesmente como 
educação, significa muito mais que isso, significa também cultura, instrução e 
formação do homem grego. Este termo começou a ser utilizado no séc. IV a.c. e 
nesta época significava apenas a criação dos meninos. Mas o seu significado se 
alargou e passou a designar também o conteúdo e o produto dessa educação. 
(LOBATO, 2001, 24)
A ideia de que a vida de uma nação cria um lugar na história, a “Paideia grega”, pressupõe que o 
ser humano tenha uma chave para se orientar de modo consciente sobre aquilo que é virtuoso e 
bom: a compreensão de que há um meio de se usar as palavras, segundo um caminho orientado, 
ou “aquilo que está de acordo com uma via que se toma como meio de comunicação de um ser 
humano a outro” – um “diálogo”.
Devemos, portanto, compreender o sentido geral da afirmativa de que educar é uma noção 
que nos obriga a rever, em alguns instantes do Pensamento no Ocidente, a abordagem de uma 
“Paideia grega”, envolvendo tanto o que leva determinada nação a ter um lugar na história, quanto 
à existência de valores que marcam o que chegamos a denominar, há pouco, de “o universo 
espiritual do homem”.
A importância da oratória na formação do homem grego. 
(...) a arte da palavra, o brilho da oratória e o manejo da dialética para a discussão 
adquirem grande importância em um povo (...) amante do bem dizer. A retórica 
convertia-se em uma formidável arma política, assegurando os mais brilhantes 
êxitos àqueles que sabiam servir-se dela na praça pública e diante dos jurados. 
(FRAILLE, 1965, 224)
A oratória, a dialética e a retórica possuem sentidos precisos nesse momento da História Grega. 
É entendida nessa época em termos de um “sentido pedagógico do ensino através da discussão”, 
“arte do diálogo e da discussão”, ou “habilidade para discutir por perguntas e respostas”.
Para Guilherme Fraille (idem), a educação no período clássico grego, limitada ao ensino da música, 
rítmica e ginástica, não fornecia elementos suficientes para aqueles que queriam participar 
de modo ativo nos debates concernentes à vida própria da sociedade. Um melhor domínio da 
linguagem tornava-se necessário: com a oratória, ampliava-se o horizonte para o início de um 
debate público; com a dialética, aprendia-se a arte de discutir ideias que se opõem; já com a 
retórica, tornava-se possível persuadir alguém no curso de uma discussão.
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A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3
Estes recursos próprios do discurso falado foram absorvidos integralmente por uma escola de 
“professores ambulantes de retórica”, os sofistas, que, por um grande conhecimento do mundo, 
adquirido por viagens que realizavam constantemente, passaram a ensinar meios de persuasão 
pelas palavras. Sabe-se que eles eram dotados da arte de construir discursos brilhantes, tendo 
sido recebidos com entusiasmo em Atenas, a qual, em pleno apogeu na Grécia desse período, 
convertia-se no centro de confluência de várias abordagens filosóficas até então distanciadas 
das discussões correntes na vida pública.
Fraille menciona que a palavra sofista foi utilizada em um sentido elogioso por escritores 
pertencentes ao século V a.C. Píndaro chegou a designar os sofistas como “poetas”; Heródoto 
estendeu essa designação aos Sete Sábios, a Pitágoras e a Sólon. No entanto, a partir da Guerra 
do Peloponeso, este termo ganhou uma perspectiva obscena.
Embora não possamos afirmar que os sofistas chegaram a constituir uma escola filosófica, uma 
vez que adotam visões variadas e até mesmo opostas entre si, possuem afinidades suficientes 
para que sejam agrupados sob uma rubrica comum, criando um movimento com características 
próprias bem diferentes dos filósofos pré-socráticos citados anteriormente.
A sofística estaria marcada, assim, pelo:
 » relativismo – isto é, a formulação de princípios e valores que mudam e se diferenciam. 
Neste quadro, ela descobre infinitos elementos constituintes (“essências”) para cada 
coisa existente;
 » subjetivismo – ou seja, as diversas percepções que os homes têm das coisas, o que leva 
à recusa de um critério objetivo (único) de verdade;
 » ceticismo – os sofistas percebem o conhecimento como fundamentalmente incerto, 
adotando uma postura crítica e negativa com relação a um conhecimento tomado 
como verdadeiro;
 » indiferenciação moral e religiosa – partindo do pressuposto de que as coisas são como 
aparecem a cada um, consideram a inexistência de valores morais bons ou ruins próprios 
a cada coisa, vinculando-se esta atitude a um comportamento religioso de caráter ateísta 
(não crença nos deuses);
 » convenções jurídicas – os sofistas marcam uma distinção entre lei e natureza, segundo 
a qual as leis são consideradas meras convenções humanas e não provêm nem dos 
deuses, nem do mundo natural.
A sofística conheceu um forte adversário, que nasceu, também, sob o esplendor da Atenas de 
Péricles do século V a.C: Sócrates.
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AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO
Sócrates e a maiêutica
Fonte: http://kids.Britannica.Com/elementary/art-189075/socrates-was-a-philosopher-in-ancient-greece
Biografia resumida
Sócrates (470.Ac/469 a.C- 399 a.C), filho de um escultor e de uma parteira, presenciou a decadência 
de sua cidade natal na Guerra do Peloponeso, que conferiu a vitória aos espartanos. Refletindo 
sobre a derrota dos atenienses, Sócrates concluiu que ela foi precipitada também pela atitude 
de alguns filósofos e pela influência cética exercida pelos sofistas. Tanto uns quanto os outros 
levaram o ceticismo a ser um escudo contra a fé a e a religião tradicional já o cosmopolitismo 
que defendiam debilitava o respeito às leis e aos costumes e instituições básicas da sociedade. 
Diante das ocorrências que culminaram com a ruína de Atenas, Sócrates julgava secundárias as 
especulações sobre os “princípios” das coisas, bem como o relativismo dos valores: preocupado 
com o futuro de sua cidade e com os meios que levassem à solução dos problemas políticos que 
ela enfrentava, ele se dedicou refletir sobre o homem. Não um homem abstrato, mas concreto, 
o cidadão ateniense.
Sócrates e a crítica à sofística
Para a realização desse objetivo, Sócrates menosprezou a retórica “oca” dos sofistas, adotando o 
diálogo direto, a controvérsia pública, a conversação que é habilmente orientada, tornando saliente 
seus talentos admiráveis como dialético. Esforçando-se, assim, para despertar a consciência 
dos atenienses com relação aos graves problemas que enfrentavam nesse período, seu percurso 
foi marcado por uma intensa atividade educadora. Ganhou interlocutores, mas colecionou 
adversários que julgavam sua atividade um meio de corromper a juventude. Estes conseguiram 
levá-lo a um julgamento, no qual foi condenado a beber a cicuta em 399 a.C.
Diferentemente dos sofistas, que utilizavam meios para triunfar nos negóciossem se preocuparem 
com a legitimidade de suas atividades, Sócrates concentrava esforços para ensinar uma prática 
que conduzisse os diversos cidadãos a adotarem uma vida virtuosa. Assim, conduziu sua 
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A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3
reflexão para questões concernentes ao domínio da moral, rompendo, como decorrência, com 
o subjetivismo, o relativismo e o ceticismo. Acreditou na estabilidade das leis, dos princípios 
verdadeiros e universais das normas, a elas conferindo um valor intrínseco, independente das 
convenções e opiniões dos homens. Desta forma, formulou um método, baseado no diálogo, 
que se contrapõe à retórica adotada pelos sofistas.
O método maiêutico
Utilizando o diálogo como fundamento para a elaboração de seu “método”, Sócrates cria também 
uma nova forma de ensinar, na qual predomina uma conversa dirigida com um interlocutor. 
A partir dessa perspectiva, o método socrático está dividido em dois momentos: o primeiro, a 
“ironia”, e o segundo, a “maiêutica”. A ironia gira em torno de um jogo de perguntas e respostas, 
no qual Sócrates desempenha o papel de alguém que lança questões e instiga o seu interlocutor 
– tratando-o como aprendiz – a fim de que este se volte para si mesmo em busca de respostas 
verdadeiras. O conhecimento assim obtido não resultaria da transmissão de um conjunto de 
regras já estabelecidas, mas do reconhecimento da ignorância do aprendiz em face das perguntas 
formuladas. Logo, o ato de aprender exigia que este descobrisse os erros que portava referentes 
ao tema a ser conhecido: confrontar-se com o não-saber, seria o caminho para que ele pudesse 
atingir o verdadeiro conhecimento. Uma vez chegado a esse ponto, preparava-se o início do 
segundo momento do método socrático, a maiêutica. Esta, ocorrendo também por intermédio 
do diálogo, levaria o aprendiz a descobrir os conhecimentos que parecia portar dentro de si – 
em sua própria alma. Neste sentido, ele retirava de si um conhecimento que preexistia, o qual 
transcendia a existência humana, sendo, portanto, universal.
No trecho a seguir, de forma objetiva e clara, Pileti e Pileti nos apresenta a maneira como a 
Maiêutica foi usada por Sócrates:
A primeira parte do método de Sócrates – fazer perguntas para obter a opinião do 
interlocutor – é a ironia. Ironia, do grego eironeia, significa perguntar, fingindo 
ignorar, para rir-se dos outros. A segunda parte = fazer outras perguntas para 
levar o interlocutor a descobrir a verdade é a maiêutica, que significa parto ou 
partejamento (do grego maieutikós). Maiêutica é a arte de fazer nascer as ideias. 
(PILETI; PILETI, 2003)
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AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO
platão e a alegoria da caverna
Fonte: http://www.pucsp.Br/pos/cesima/schenberg/alunos/renatafonseca/
Biografia resumida
Platão nasceu em Atenas no ano de 429 a .C. E morreu em 348 a.C. De origem nobre, torna-se 
discípulo de Sócrates. Inicialmente, envolve-se com a política, mas após a morte de Sócrates rompe 
com a prática política, dedicando-se apenas a temas políticos, sem qualquer envolvimento prático. 
A obra platônica conserva-se quase completa, constituindo-se, junto com a de Aristóteles, o que 
há de mais importante na Cultura Grega. Ressalta Julian Marías que é incalculável a contribuição 
da Filosofia Platônica para a formação da linguagem filosófica. Platão escolheu como gênero 
literário para exprimir seu pensamento o diálogo, o que mantém uma estreita vinculação com 
o seu método filosófico: a dialética. Sua obra divide-se em: diálogos de juventude, fortemente 
marcados pelo pensamento socrático, sendo considerados, por isso, diálogos socráticos; diálogos 
da maturidade e diálogos de velhice.
A ontologia nos pensamentos de Sócrates e platão
Duas partes interligadas que formam, de um momento a outro, uma estrutura rigorosamente 
demarcada: exatamente por meio delas, Sócrates, conforme menciona Aristóteles, consegue 
encontrar o domínio dos conceitos universais, ao passar dos fatos particulares às suas definições2.
Xenofonte torna-se uma referência importante a este respeito. Ele demonstra como Sócrates 
preocupava-se centralmente em encontrar definições que pudessem servir de fundamento 
para o diálogo estabelecido com seus interlocutores. Definir algo, sob este quadro teórico, era 
o meio pelo qual se expressava a essência de uma “coisa”, tal como ela está contida no conceito 
universal. Para alcançá-la, era preciso suprimir os diversos significados do objeto colocado em 
discussão – a “sabedoria”, por exemplo (trecho citado), sob os sentidos de “medida”, “rapidez”, 
2 FRAILLE, Guilherme. Historia de la Filosofia I – Grecia y Roma. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1965. p. 252.
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A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3
“coisa bela”, “energia e velocidade” –, passando desse modo do que é particular, para se elevar 
às “espécies” e “gêneros”.
Logo, existiria uma “ciência” que não consiste na simples associação de características específicas 
– variáveis – mas em conceitos fixos, estáveis e imutáveis – invariáveis.
É preciso ressaltar, no entanto, que o procedimento socrático reflete sobre a própria 
consciência humana , observando a realidade, a vida e a conduta dos homens entre si. Seguindo 
essa via, exatamente, é que Sócrates tenta alcançar os conceitos gerais ou comuns de piedade e 
impiedade, justiça e injustiça, valor e covardia, de virtude etc. Para isto, apoia-se na observação 
de fatos que descobre na experiência quotidiana ou até em exemplos que extrai da vida dos 
ferreiros, carpinteiros, sapateiros militares, entre outros. Chega a distinguir nesses domínios 
de fatos, o “variável do fixo, o confuso do claro, o acidental do substancial, o contingente do 
permanente”3. O resultado desse processo de seleção é a enunciação de um conceito comum, 
“capaz de superar e implicar todas as diferenças particulares e que pode ser expresso em 
uma definição aplicável a todos os casos concretos”. Por exemplo: a noção de justiça. Após 
estabelecer que ela consistiria em não mentir, não causar dano aos outros, não tornar escravos 
os semelhantes, conclui que ela significa dar a cada um o que lhe pertence.
Um esquema esclarece melhor esse procedimento:
Vale ressaltar que nos primeiros diálogos de Platão este procedimento é utilizado de modo amplo, 
mesmo que os as discussões ali desenvolvidas não cheguem a quaisquer conclusões sobre os 
temas enfocados, não se cumprindo, assim, a finalidade do procedimento socrático de atingir, 
pelo diálogo, a dimensão de “conceitos comuns e definições”4. Alcançá-los, em última instância, 
3 FRAILLE, Guilherme. Historia de la Filosofia I – Grecia y Roma. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1965. p. 253.
4 FRAILLE, Guilherme. Historia de la Filosofia I - Grecia y Roma. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1965. p. 253 e 256.
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AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO
pode nos explicar agora um dos traços já mencionados – mas não suficientemente explicados – da 
doutrina socrática: a sua intensa atividade educadora. Ela se revela, justamente, no convite que 
Sócrates faz ao homem grego para que reflita sobre si mesmo, conduzindo-o ao conhecimento 
de si, pois como realça Guilhermo Fraille, ele “estimava como próximo da loucura ao ignorar-se 
a si mesmo, crendo que se sabe o que não se sabe”.
O “convite” para esta reflexão não significa, no entanto, um meio de recolhimento interno 
pelo homem, levando-o a adotar um comportamento introvertido. Ao contrário, ela suscita o 
despertar de uma grande curiosidade voltada para o domínio dos problemas humanos e dos 
cidadãos, tentando encontrar meios que conduzam a razão humana em direção à ideia do bem 
e às normas práticas que devem reger o aperfeiçoamento da moral dentro da pólis. Daí Sócrates 
ter uma viva consciência de sua missão “divina” como educador,esforçando-se por comunicar 
aos outros as suas preocupações para participar mais dos destinos próprios da vida na “cidade”. 
Pelo conhecimento de si, o cidadão poderia conhecer o verdadeiro bem, de onde poderia extrair 
normas universais válidas para qualquer conduta.
O sentido da educação no mundo grego: desenvolvimento ético e 
formação para a política
A “função educadora” implica, no mundo grego desse período, uma formação dotada de um 
profundo “sentido ético e político”.
Assim sendo que tal refletirmos melhor sobre os termos “ética” e “política” na filosofia:
 » Ética- a partir de Sócrates, o termo ética se afasta do sentido originário de “morada” e, 
indagando sobre as finalidades da existência humana e os meios de atingi-las, passa a 
se constituir num tipo de conhecimento – episteme – sobre o melhor agir. Sob a noção 
de episteme, a ética – como conjunto dos nomoi – deixa de ser um efeito-sem-causa, 
proveniente da maneira de ser do homem, para se tornar uma causa que de per si 
daria sentido à existência humana. Apesar de encontrarmos diferenças entre a ética 
socrático-platônica e a aristotélica, há nelas uma mesma preocupação: determinado 
um fim, estipular os meios para alcançá-lo. Em ambas as perspectivas, deveria ser 
estabelecido primeiro o bem que, tornado um fim, exigiria um agir, visando alcançá-lo, 
embora encontremos no interior de cada uma dessas duas éticas importantes diferenças. 
A ética socrático-platônica postula a anterioridade do conhecimento das formas – justiça, 
virtude, coragem etc. – Como condição de estabelecimento do bem para, a partir de então, 
definir a maneira de atingi-lo. Enquanto a ética aristotélica, volta-se para analisar as 
opiniões e comportamentos dos homens – principalmente dos homens bons – entende 
que os princípios éticos sejam descobertos indutivamente, sendo o bem o congregador 
e ordenador de toda e qualquer ação.
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A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3
 » Política- em Platão, o termo politeia guarda o sentido etimológico de “constituição”, 
“forma de governo” de uma polis ou cidade-estado. Refere-se à vida pública de um estado, 
incluindo os direitos dos cidadãos que o constituem. Por sua abrangência de significado, 
o termo inclui problemas de política, de educação, de estética, de filosofia, entre outros. 
É, justamente, essa dimensão pública e comunitária que encontramos na equivalência 
que os romanos conferiram ao termo politeia ao traduzi-lo pelo composto res-publica 
– república. Esse vocábulo designa, assim, toda e qualquer forma de governo. Neste 
sentido, podemos compreender o porquê de a obra de Platão, denominada politeia – a 
república – edicada aos problemas da polis, ter como tema central a educação. Educação 
que adquire papel preponderante na formação dos cidadãos. Prova disso é o livro vii, 
no qual é formulada uma teoria da educação, contendo um esquema de currículo de 
estudos superiores, além de completar a formação elementar, preconizada por Platão 
no livro III.
Se para Sócrates, a educação pode influir nos “destinos da cidade”, segundo Platão, é dela que 
se pode alcançar o ideal de “comunidade social”5; sob este referencial, a classe de artesãos e 
comerciantes não necessitaria de qualquer educação especial, da qual não poderiam prescindir, 
no entanto, os encarregados das funções defensivas e de governo. Estes últimos ficariam, assim, 
isentos da obrigação de realizarem quaisquer ofícios manuais, voltando-se exclusivamente para 
o bom exercício de suas atividades, essenciais para a organização de uma cidade.
Platão não restringe a educação, ainda, a um mero ensino da virtude, o qual não seria adquirido 
apenas pelo ato de aprender. Sua Filosofia parte do princípio de que as ideias existem de modo 
inato nas “almas”, as quais devem ser “despertadas”. Isto ocorreria pela “reminiscência”, fazendo 
com que elas recordem o que já conhecem e, ao mesmo tempo, disciplinem “tendências inferiores 
mediante o exercício da virtude”. Reminiscência é um termo utilizado por Platão para se referir 
ao processo que a alma vivencia no sentido de reconhecer as verdades contempladas antes de 
ela tornar-se prisioneira do corpo do homem.
Logo, dotados de almas que possuem um conhecimento superior daquelas que estão restritas ao 
exercício de atividades manuais, os encarregados das funções defensivas e de governo receberiam 
uma educação compreendendo dois ciclos, um elementar ou preparatório, outro, superior. 
Tais etapas correspondem à concepção de graus formulados para a razão em dois momentos 
importantes da filosofia platônica: nas “alegorias” da “linha dividida” e da “caverna”.
5 Id. p. 398.
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Alegoria da caverna: a teoria do conhecimento de platão
Resumo da alegoria da caverna
Nessa alegoria, Platão imagina uma caverna, que dispõe de uma pequena abertura por onde 
penetra a luz do exterior. Nela, encontram-se homens, em tal posição que ficam impossibilitados 
de se mover e de olhar somente para o fundo da caverna. Fora desta, e nas costas dos homens, 
brilha o resplendor de um fogo. Entre o fogo e os homens encadeados há um caminho com um 
muro baixo, por onde passam outros homens que transportam objetos que ultrapassam a altura 
do muro. Os homens encadeados vêem as sombras dessas coisas, que se projetam no fundo da 
caverna. Quando os transeuntes falam, os que estão encadeados ouvem vozes como se estas 
procedessem das sombras que vislumbram, sombras que para eles constituem a única realidade. 
Em um dado momento, um dos homens encadeado se liberta e passa a contemplar a realidade 
exterior. No entanto, a luz provoca-lhe dores nos olhos, provocando dificuldades para ver. O 
sol deslumbra-o. Tenta habituar-se: primeiro, consegue ver as sombras; depois, as imagens das 
coisas refletidas nas águas; depois, as próprias coisas. Veria o céu de noite, as estrelas e a lua; 
e ao amanhecer, a imagem refletida do sol e, por último, depois de um largo esforço, poderia 
contemplar o próprio sol. Então sentiria que o mundo onde vivera era irreal e desprezível. 
Se falasse com seus companheiros desse mundo de sombras e dissesse que não eram reais, 
rir-se-iam dele. Se tentasse salvá-los e transportá-los para o mundo real, matá-lo-iam.
Platão relaciona a alegoria da linha dividida com a alegoria da caverna: a caverna seria o 
mundo sensível, com as suas sombras que são as coisas. O mundo exterior seria o análogo do 
mundo inteligível ou das ideias. As coisas simbolizam as ideias. O sol, a ideia do bem. Pode 
representar-se, de um modo gráfico, seguindo as instruções do próprio Platão, a estrutura da 
realidade a que se refere o mundo da caverna.
Platão distingue duas grandes regiões do real, o mundo sensível (das coisas) e o mundo inteligível 
(das ideias), que simboliza em dois segmentos de reta. Cada uma destas duas regiões divide-se em 
duas partes, que assinalam dois graus de realidade dentro de cada mundo. Há uma correspondência 
entre as primeiras e as segundas porções dos dois segmentos. Por último, a cada uma das quatro 
formas da realidade corresponde uma via de conhecimento. As duas que pertecem ao mundo 
sensível constituem a opinião ou doxa. As do mundo inteligível são manifestações do noûs.
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A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3
O projeto educacional de platão
No livro A República, dentre outros assuntos, Platão faz algumas considerações sobre as atividades, 
os saberes, bem como os conhecimentos necessários para a formação do cidadão. Tais aptidões 
seriam desenvolvidas durantes três ciclos de formação:
 » Ciclo elementar – estende-se a todos aqueles que se tornarão os futuros guardiões, 
selecionados entre as crianças mais bem dotadas, e ocorre desde o nascimento até 
os 20 anos de idade. Abrange a combinação de cultura física, intelectual e moral. Tem 
como objetivo a formaçãode jovens sãos, capazes de se tornarem valentes, de modo 
que estejam aptos para as funções de guerra. Daí a exigência de que as crianças sejam 
submetidas a exercícios de ginástica rítmica (para o desenvolvimento das habilidades 
corpóreas), os quais seriam acompanhados de música (para um aprimoramento das 
qualidades referentes à alma).
Quando o corpo está combinado à alma, a ginástica deixa de se restringir ao 
desenvolvimento muscular, sob o predomínio da força bruta, não se tornando o ensino 
da música, assim, um meio de adormecer o espírito combativo, chegando inclusive a 
abranger noções superficiais de ciências propedêuticas.
Uma das grandes preocupações de Platão, no que tange à educação refere-se ao tipo ideal 
de formação que deve ser oferecida no ciclo elementar, portanto, na primeira infância. 
Sob essa perspectiva filosófica, em qualquer “empreendimento, o mais trabalhoso é o 
começo, sobretudo para quem for novo e tenro”: pois é nessa época que o ser humano é 
“moldado”, nele introduzindo-se “a matriz que alguém queira imprimir”6. Compreende-se, 
assim, a preocupação com os conteúdos das fábulas; ao serem absorvidos pelas crianças 
antes de chegarem ao ginásio, deveriam ser verificados permanentemente. Por esse 
motivo, Platão recomenda:
(...) Vigiar os autores de fábulas, (...) Selecionar as que forem boas e proscrever 
as más. As que forem escolhidas, persuadiremos as amas e as mães a contá-las 
às crianças e a moldar as suas almas por meio das fábulas, com muito mais 
cuidado do que os corpos com as mãos. Das que agora se contam, a maioria 
deve rejeitar-se. (PLATÃO, 377 b)
Platão é claro quanto aos cuidados que deve existir para preservar o modo de viver 
que as crianças levam, afirmando que elas necessitariam “adquirir asas”, pois frente 
ao perigo devem “fugir voando” 7: devem aprender, assim, a arte da equitação o mais 
cedo possível, para que possuam tal mobilidade. Somente de posse dessa arte é que 
elas devem ser levadas ao:
6 Platão. A República. São Paulo: Hemus 377 b.
7 Platão. A República. São Paulo: Hemus 377 b, 467 d.
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AulA 3 • A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO
Espetáculo (da guerra) em cavalos que não sejam fogosos nem belicosos, mas o mais 
velozes e dóceis ao freio que seja possível. Assim contemplarão muito bem as ações que 
lhes competem, e, se caso for preciso, salvar-se-ão com toda a segurança, seguindo atrás 
dos seus chefes mais idosos. (PLATÃO, 467 e)
Durante o período de ginástica, que pode ser de dois ou três anos, Platão considera 
impossível fazer qualquer outra coisa, inclusive voltar-se para os estudos, pois, como 
ele assinala, “a fadiga e o sono são os inimigos do estudo”. Ao mesmo tempo, esta seria 
“uma prova e não das menores, para saber quem é que brilha na ginástica”8.
 » Segundo ciclo – a aprendizagem de ciências propedêuticas era vista por Platão como 
fundamental, uma vez que as mesmas possibilitariam o guerreiro a apreender a tática 
e o filósofo a atingir a essência, “emergindo do mundo da geração”. Daí ele sugerir, em 
função da importância conferida à arte do cálculo, que esse ensino fosse determinado 
por lei, a fim de que todos os cidadãos que participassem de postos governamentais 
pudessem se dedicar, de maneira profunda, a essa arte. Dominar a ciência de calcular 
seria um dos passos importantes para o cidadão chegar à “contemplação da natureza 
dos números unicamente pelo pensamento”; facilitava-se, assim, “a passagem da 
própria alma da mutabilidade à verdade e à essência” 9. Por esse meio, justificava-se a 
crítica feita por Platão aos comerciantes que se valiam do saber que possuíam sobre os 
números para “comprar e vender”. A relevância, portanto, dos números consistiria no 
fato de eles poderem se situar “apenas na região do entendimento”, sem manuseá-los 
de “nenhum outro modo” 
 » Terceiro ciclo – todos estes conhecimentos enumerados não chegam, todavia, à categoria 
da ciência perfeita, permanecendo restritos à “doxa” (opinião). Esta dimensão é suficiente 
para os guerreiros. A verdade plena estaria reservada para aqueles que, chegados à idade 
de trinta anos, seriam selecionados para funções mais elevadas.
Os mais bem dotados, assim, chegando aos cinquenta anos de idade, poderiam alcançar a 
categoria de arcontes perfeitos. Eles governariam a cidade em turnos separados, dedicando o 
tempo livre ao estudo da filosofia, o que não acarretaria inculcar saberes superficiais e exteriores 
na alma: esta, segundo Platão, voltar-se-ia para o que é essencial pelo processo de “reminiscência”. 
Pessoas mais velhas estariam mais aptas a realizarem tal “estudo”, por serem mais comedidas, 
podendo honrar suas atividades 10. Essa serenidade seria fundamental para o aprendizado da 
“dialética”, o qual só ocorreria através de “continuidade e aplicação”. Os mais dedicados poderiam 
contemplar a verdade do ser e das ideias (o que é belo, por exemplo), obtendo as condições para 
desempenhar adequadamente suas funções governamentais. De posse desse saber deveriam 
8 Platão. A República. São Paulo: Hemus (537 b).
9 Platão. A República. São Paulo: Hemus (525 c e 526).
10 Platão. A República. São Paulo: Hemus (539 e – 540 b). 
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A FIlOSOFIA CláSSICA E FORMAçãO dO hOMEM gREgO • AulA 3
retornar à “caverna”, para que pudessem “exercer os comandos militares”, alternando “a vida 
social com o exercício da contemplação” 
O ideal de educação, nesse quadro, é comum para os dois sexos. As mulheres e os homens 
poderiam igualmente ter acesso aos cargos públicos, ambos devendo prestar o serviço militar 
segundo tempos diferenciados: para as primeiras, até os cinquenta anos, para os segundos, dos 
vinte aos sessenta anos.
Resumo
Vimos até agora:
 » O sentido mais amplo da palavra paideia: a educação para a cidadania na Grécia.
 » A educação na Grécia dos séculos V e IV a.C e o surgimento de um movimento de 
professores ambulantes de retórica: os sofistas.
 » A crítica formulada por Sócrates contra o relativismo sofístico.
 » O desenvolvimento do método maiêutico de Sócrates.
 » O significado da Alegoria da Caverna de Platão.
 » Os conceitos pelos quais a Filosofia Platônica apresenta um programa de educação 
centrada em ciclos.
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Apresentação
Nesta aula, indicaremos continuidades e descontinuidades entre as Culturas Greco-Romana 
e a Medieval, no que tange ao entendimento acerca dos fins e dos significados da educação. 
A partir deste objetivo, apresentaremos algumas concepções e formulações sobre a educação 
desenvolvidas pelos filósofos da patrística e por Carlos Magno, no movimento que ficou conhecido 
como “Renascimento Carolíngio”.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Entender como o conceito romano de instrução, calcado sobre as “artes liberais”, suscita 
uma ordem para a transmissão de saber durante a Idade Média.
 » Conhecer os dados biográficos dos principais escritores eclesiásticos, filósofos e padres 
que formularam considerações sobre a educação na Idade Média.
 » Enumerar as principais características do movimento que surge no século VIII, o 
“renascimento carolíngio”, compreendendo, assim, como a proposição de recuperar 
os valores da Antiguidade Greco-Romana culmina com a criação das universidades no 
século XIII.
As influências ideológicas da Cultura greco-Romana no 
sentido de educação na Idade Média
Durante vários séculos, a Idade Média Ocidental conservou do mundo antigo o programa de 
educação conhecido com o nome de artes liberais. A expressão “Idade Média”, conforme assinala 
o historiador da filosofia Guilhermo Fraille, designa o período de mais ou menos mil anos, 
compreendido entre o final da Idade Antiga (envolvendo ora o século III, para alguns estudiosos, 
ora o século IV para outros – com destaque neste último período para o ano de 476, em que o 
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AulA
A FIlOSOFIA

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