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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 1 Facilitação Gráfica como gênero jornalístico: estudo de caso da série de vídeos “2 Minutos para entender Izabel Marques Meo1 Resumo: Este artigo tem o objetivo de explicar o que são e como se fazem facilitações gráficas e também sua viabilidade no jornalismo. Vamos abordar o uso das facilitações gráficas em ví- deo em reportagens por veículos de imprensa. Como exemplo e objeto de análise teremos a série “2 Minutos para Entender” da revista Superinteressante. Abordaremos os gêneros do jornalis- mo, do professor José Marques de Melo, as Sete Características do webjornalismo, reunidas por Canavilhas. Palavras-chave: Webjornalismo; Facilitação gráfica; Gêneros jornalísticos; infografia 1. Introdução Contrariando Lailton Costa em “Gêneros Jornalísticos” parece que em 2016 chegamos ao ponto que um editor de revista chega para sua equipe de repórteres e designers e pede uma “história colorida” sobre algum tema. Foi quase assim que uma dupla de jornalistas da Revista Superinteressante conseguiu convencer seu editor a usar um “vídeo desenha- do” para uma pauta mais complexa: o zika vírus. Começou assim a série de vídeos “2 minutos para entender” que estão disponí- veis no Youtube e no site da revista, sendo a fanpage da Superinteressante no Facebook o principal canal de divulgação do material. Até dezembro de 2016, período da análise, 1 Jornalista, graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo (2009). Especializada em Design Editoral pelo Centro Universitário Senac (2014) e possuo experiência na área de Comunicação, com ênfase em comunicação visual, mídias sociais, comunicação comunitária, produção de conteúdo online e offline, marketing, mobilização e facilitação gráfica. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 2 foram produzidos oito vídeos. O mais acessado fora publicado em novembro e aborda a desigualdade racial no Brasil. Todos os vídeos seguem o mesmo modelo, duram em média 2 minutos, são nar- rados pela mesma voz, que inclusive é da mesma profissional responsável pelo roteiro e edição do material - Thaís Zimmer - e são desenhados. O desenho é usado como suporte à narração que de fato explica o tema em dois minutos. Existem muitos exemplos de vídeos no estilo na internet, mas essa é a primeira série jornalística, que se tem registro no Brasil, de vídeos em facilitação gráfica. Facilitação gráfica é uma técnica de registro onde um facilitador usa a imagem para que o conteúdo falado em alguma palestra, aula, curso, oficina, seja melhor com- preendido e lembrado. Segundo o facilitador gráfico e autor, David Sibbet, se grupos de trabalho conseguem ver padrões diferentes em seus pensamentos, eles ficam mais inte- ligentes. Esta é a importância da linguagem e do pensamento visual para esta técnica. A facilitação gráfica faz uso de ferramentas do desenho e do design para com- partilhar conhecimento. Originalmente ela é feita ao vivo por um profissional, ou mais, enquanto outras pessoas ministram palestras ou participam de reuniões. Atualmente po- demos encontrar na internet um sem número de exemplos de facilitações gráficas feitas em vídeo, seja com canetas ou com outras ferramentas, como tablets próprios para de- senho. Neste artigo, vamos abordar o uso das facilitações gráficas em vídeo em repor- tagens por veículos de imprensa. Como exemplo e objeto de análise teremos a série “2 Minutos para Entender” da revista Superinteressante. Discutiremos como as caracterís- ticas do webjornalismo e os gêneros jornalísticos podem refletir sobre este tipo de narra- tiva. 2. Desenhando para explicar Estima-se que 67% das pessoas aprendem visualmente e que a combinação de textos e imagens aumenta em 40% a retenção de informações. (SANTANA, 2015) Nos- sa sociedade contemporânea está mais exposta a telas e mídias do que nunca. Em 2015 o número de smartphones ultrapassou o número de computadores pessoais no Brasil. Segundo o 27º Relatório Anual de Tecnologia da Informação, realizado pela FGV SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 3 (Fundação Getúlio Vargas) em 2016, contamos com cerca de 350 milhões de dispositi- vos conectados à Internet - smartphones, computadores desktop, notebooks e tablets. Ao mesmo tempo, o Brasil tem 27% de sua população entre 15 e 64 anos de analfabetos funcionais. Em 2001 e 2002, esse número era de 39%. Na zona rural são 41%. Essa característica não impede que a população altamente conectada consuma conteúdo, seja ele noticioso e entretenimento. O Youtube, maior e mais famosa plata- forma de conteúdo em vídeo do mundo tem mais de um bilhão de usuários, quase um terço dos usuários da Internet no mundo. Ele atinge mais adultos de 18 a 49 anos que qualquer rede a cabo nos EUA. Mais da metade das visualizações - 6 bilhões de horas ao mês - são feitas em dispositivos móveis. A cada minuto 100 horas de conteúdo são adicionadas ao site. Além de comprovar o quão conectados vivemos, esses dados explicam um pou- co o sucesso da comunicação visual no compartilhamento de informações atualmente. A ideia não é nova, a infografia existe há décadas para provar como é possível é trans- formar uma notícia em imagens, em gráficos. Elementos gráficos reforçam as narrativas jornalísticas desde o século XVII, com o jornal "Nieuwe Ty Dirigen" de Amberes (Bélgica), fundado em 1.605. No conti- nente americano, o diário mais antigo que utilizou imagens (gráficos e desenhos) foi o "New York Mirror", em 1.823, nos Estados Unidos. Lima Junior analisa: Buscando desde os primórdios, que começaram com os relatos de Heródoto há 2.500 anos, o jornalismo avança na incorporação de técnicas para melho- rar o entendimento da informação noticiosa. (...) O desenho jornalístico pode aumentar o valor da informação sempre que é bem concebido. Não somente um simples instrumento da comunicação, sendo também que influi na condu- ta do leitor. É uma mensagem visual, estética e psicológica. (LIMA JUNIOR, 2014, p.2 ) Desse modo, além das fotografias e das ilustrações, de acordo com Charaudeau, Lo- chard e Boyer (apud LUCAS, 2009, p.1) , observamos que o uso do recurso infográfico pode fazer parte do universo das estratégias discursivas de credibilidade, as quais visam apontar provas de veracidade dos fatos expostos e da pertinência das explicações expos- tas. A infografia, tem exercido papel significativo como forma de expressão, pois atua na articulação de diversos aspectos da in- formação que não teriam o mesmo alcance e entendimento se SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 4 não combinados em uma relação indissociável entre texto e imagem, aliados a uma narrativa que constitui um todo infor- mativo (SILVA, 2012, p. 3). No jornalismo online o infográfico já foi utilizado para explicar literalmente de tudo, de crimes a crescimento econômico, passando por dicas de beleza e popularidade online. Porém, observar “ao vivo” a construção de um conceito ou história diante de seus olhos tem um efeito diferenciado para o entendimento e identificação com uma informação, seja jornalística ou não. Neste Universo entre a notícia desenhada e qualquer conteúdo desenhado está a Facilitação Gráfica, técnica criada nos anos 70 nos Estados Unidos por David Sibbet, um administrador e empreendedor que buscou na rotina dos designers uma maneira de resolver os problemas das empresas e seus administradores. Fazendo uso de desenhos, palavras-chave e post-its (pequenos pedaços de papel auto-adesivos que podem ser co- locados e re-colocados diversas vezes numa superfície), Sibbet criou uma ferramenta versátil e de fácil entendimento que poderia ser aplicada em diversas áreas, sempre com o objetivo de registrar e explicar melhor alguma coisa. (MEO, 2014). Brandy Agerbeck é facilitadora gráfica e já escreveu três livros sobre a técnica. Ela promove eventos e realiza workshops para capacitar outras pessoas e distribui con- teúdo gratuitamente online. Os chamados “vídeos desenhados” vem ganhando espaço nas produções de con- teúdo multimídia. Seja para economizar na hora de fazer uma animação, seja porque as pessoas envolvidas no projeto desenham melhor do que lidam com softwares de anima- ção, ou porque os envolvidos já viram um conteúdo similar e desejam construir o pró- prio. A facilitação gráfica não está completamente difundida no Brasil o que mostra di- ficuldades em classificar e nomear profissionais, produtos e técnicas que envolvem a facilitação gráfica (MEO, 2014). 3. O que é facilitação gráfica Facilitar graficamente algo consiste em registrar em alguma plataforma (papel, tela, caderno, painel, lousa) por meio de palavras chave, cores, formas e metáforas visu- ais o que de mais essencial é discutido ou transmitido a uma ou mais pessoas. Trata-se de uma prestação de serviço, ou atribuição de alguém específico em uma empresa. Um facilitador gráfico é um repórter visual, um elemento silencioso em reuniões, debates, SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 5 palestras e apresentações, que registra com frases pontuais e desenhos, geralmente me- táforas visuais, usando muita cor, síntese e organização, tudo que vem sendo discutido, demandado, sugerido, aprovado e definido. (MEO, 2014) Brandy Agerbeck é facilitadora gráfica e já escreveu três livros sobre a técnica. Ela promove eventos e realiza workshops para capacitar outras pessoas e distribui con- teúdo gratuitamente online. Agerbeck assim define sua atividade: Facilitação gráfica é servir a um grupo, escrevendo e desenhando sua conver- sa ao vivo e de forma grande para ajudá- los com seu trabalho. É uma pode- rosa ferramenta para ajudar as pessoas a se sentirem fortes, para desenvolver um conhecimento compartilhado enquanto grupo e disponíveis para sentir e tocar de uma forma que não poderiam antes” (AGERBECK, 2014) Para Sibbet (2012) se os grupos conseguem ver padrões diferentes em seus pensamen- tos, eles ficam mais inteligentes. Essa é a importância da linguagem e do pensamento visual para a facilitação gráfica. Os benefícios e as dificuldades da Facilitação Gráfica são praticamente os mes- mos. Enquanto é proveitoso que exista o registro de alguma atividade, é necessária toda atenção, foco e respeito ao que é dito. Ao mesmo tempo em que o facilitador gráfico colabora com o grupo - e com a sociedade - ele é também um filtro. Como um livro, uma música, uma notícia, o produto que uma facilitação gráfica é uma peça de comuni- cação. Não existe uma carreira acadêmica, associação ou sindicato que regule e oriente a profissão, ainda, mas existem algumas práticas que estão difundidas e são de senso comum para quem desenvolve a atividade. (MEO, 2014) Por exemplo, podemos identificar que algo que vemos é uma facilitação gráfica observando: • seu produto final: um painel, uma folha de caderno, uma anotação em um tablet; • se faz uso de meios artesanais de produção: papel, caneta, giz, pincel, ou alterna- tivas digitais, mas que mantenham o mesmo estilo; • se referencia de onde as informações vieram: palestra, curso, filme, livro, reuni- ão de uma empresa ou uma notícia; SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 6 • se faz uso dos “8 essenciais” elementos do desenho classificados por Agerbeck como essenciais para o trabalho: tipografia, cores, formas, linhas, símbolos ou ítens, representação de pessoas e sombreamento. Além dos já clássicos paineis de papel feitos ao vivo, com o passar dos anos podemos observar no material compartilhado pelos profissionais online o quanto a facilitação grá- fica evoluiu. Os vídeos da série “2 Minutos para Entender”, analisados neste trabalho, aten- dem aos requisitos listados acima, com a diferença que em vez de referenciar seu conte- údo em algo ou alguém, eles explicam uma realidade. Explicam o tema de maior desta- que, para os produtores, na Revista naquele mês. Seria a facilitação gráfica aplicada ao jornalismo online. 4. “2 Minutos para Entender” 2 Minutos para Entender é uma série de vídeos pela internet produzida pela Re- vista Superinteressante feita pelos profissionais da própria publicação. Como o nome já diz, os vídeos têm em média 2 minutos e pretendem explicar um tema complexo e/ou polêmico por mês. Apesar de a equipe confessar, por meio de entrevista por e-mail, que não conhe- cia formalmente a técnica de facilitação gráfica, muitos elementos podem ser observa- dos: desenho como suporte direto à imagem, uso de palavras-chave, linhas, caixas, for- mas e metáforas visuais. A experiência, que começou em abril, já rendeu muitos acessos para a revista, com 5,5 milhões de usuários, o site da Revista Superinteressante bateu, em junho, o seu recorde histórico de audiência. Os números foram impulsionados por esta série e tam- bém por uma nova estratégia da marca, que passou a investir mais fortemente na produ- ção de conteúdos em vídeo. O vídeo sobre a Cultura do Estupro chegou a 2 milhões de visualizações apenas no Facebook, somando ainda 30 mil likes, dois mil comentários e 42 mil compartilhamentos. Devido ao seu caráter multimídia e multiplataforma, convém analisar o conteú- do de cada vídeo , sua data de postagem e local de compartilhamento. Na tabela a seguir SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::7 podemos observar como as visualizações dos vídeos no Facebook são maiores que no site e no canal da Revista no Youtube. Tabela 1: TEMA DATA PUBLI- CAÇÃO VIEWS NO FA- CEBOOK VIEWS NO YOU- TUBE E SITE Desigualdade Racial no Brasil Novembro 3.080.858 12.149 Pec 241 Outubro 1.620.651 132.301 O que faz um vereador Setembro 705.698 13.922 Política em 2016 Agosto 631.226 18.659 Olimpíadas Rio 2016 Julho 212.677 9.030 Cultura do Estupro Junho 2.036.401 43.107 Congresso Nacional Maio 2.647.761 16.332 Zika Vírus Abril 92.107 4.198 5. Os Gêneros Jornalísticos e as sete características do jornalismo onli- ne Seguindo a cartilha do professor José Marques de Melo, são cinco os gêneros jornalísticos: informativo, opinativo, interpretativo, diversional e utilitário. (COSTA, 2010). São sete as características do webjornalismo organizadas por João Canavilhas no livro “Web Jornalismo: sete características que marcam a diferença”: hipertextuali- dade, multimedialidade, interatividade, memória, instantaneidade, personalização e ubi- quidade, cada uma delas descrita no livro por um autor diferente e de nacionalidade di- ferente. O texto seria o elemento fundamental para o webjornalismo (CANAVILHAS, 2014), por questões históricas (os jornais já são baseados em textos, então nada mais natural que importar e expandir o produto do jornal para sua versão digital - agora apa- SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 8 rentemente sem o limite de espaço), por questões tecnológicas ( no início a internet não tinha a qualidade de hoje e carregar um texto, por maior que fosse, sempre foi mais “fá- cil” que carregar uma imagem) e também por questões econômicas (tanto receptores quanto emissores têm de lidar com os altos custos da conexão para acessar e comparti- lhar conteúdo na rede. Contudo na web o usuário/ leitor pode navegar pelo conteúdo de forma não line- ar, por meio da hipertextualidade, que na definição de Salaverria, citado por Canavilhas (2014) trata-se da capacidade de ligar textos digitais entre si. Vídeos jornalísticos em facilitação gráfica, por outro lado, oferecem uma linearidade na narrativa e constroem instantaneamente ligações entre o que está sendo contato e o repertório do lei- tor/usuário/espectador. Salaverria defende que toda a comunicação humana é multimídia, afinal, rece- bemos informações por diversas vias (oral, escrita, imagética). Na linha do autor, três pontos definem o conceito de multimídia: 1) como multiplataforma “ casos em que dis- tintos meios coordenam as suas respetivas estratégias editoriais e/ou comerciais para conseguir um melhor resultado conjunto” (2014, p.27), 2) como polivalência (profissio- nal, midiática, temática e funcional - o mesmo jornalista trabalha para diversos meios, em diversos temas e o produto de seu trabalho será veiculado em diversas plataformas) 3) como combinação de linguagens (texto, imagem, som e vídeo). O objeto de estudo deste artigo enquadra-se nestas características, os vídeos são produzidos pelas mesmas três pessoas. Duas escrevem o roteiro, uma desenha. Uma das roteiristas é também a narradora e editora do material. Os mesmos vídeos são hospedados no Youtube, depois linkados no site da Revista Superinteressante e então hospedados novamente na página oficial da Revista no Facebook. Por isso que para ter o número total de visualizações de cada vídeo precisamos somar os acessos via site e Youtube com os acessos via Facebo- ok. Além das três características, 11 elementos – texto, fotografia, iconografia e ilus- tração, gráficos, vídeos, animação digital, discurso oral, música e efeitos sonoros, vibra- ção – compõem o conjunto de formatos através dos quais é possível produzir conteúdos multimédia. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 9 Se antes os vídeos e animações para sites jornalísticos eram destino somente de pautas frias, com a facilitação gráfica e a possibilidade de construir uma narrativa en- quanto se grava o vídeo, há um frescor na produção de notícias. O vídeo na internet adquire características que o distinguem dos conteúdos audiovisuais elaborados para outras plataformas, sobretudo para a televisão. Enquanto o vídeo em televisão é elaborado para ser contemplado de forma longa e passiva, o ví- deo num computador proporciona um visionamento relativa- mente curto e mais ativo. (SLAVERRÍA, 2014) Rost (2014) recupera os diferentes tipos de interatividade ao longo da história dos meios de comunicação. No jornal impresso é o leitor que dá o ritmo da leitura e po- de ou não se manifestar por meio de cartas - ou e-mail - na televisão o controle remoto é uma grande batuta, nas palavras do próprio Rost; já no rádio existe a dificuldade de não se conseguir voltar para ouvir novamente algo que tenha pedido, porém, a interação está ao alcance de uma ligação telefônica. Em tempos de Whatsapp, muitos repórteres de rua e trânsito perderam espaço para seus próprios ouvintes que passaram a informar as rá- dios por mensagens de texto e voz sobre a situação das ruas e avenidas da cidade. Os temas escolhidos para ganharem um vídeo na série “2 Minutos para Enten- der” precisam ser destaque na Revista ou em seu site nos dias da “pré-produção”. Isso comprova o quanto a interatividade e a opinião do usuário/leitor conta no processo de produção de conteúdo para webjornalismo. A memória e a instantaneidade no web jornalismo, explicadas por Marcos Pala- cios e Paul Bradshaw. Respectivamente, nos fazem refletir sobre o que produzimos de material e como. Entendendo que o tempo irá passar e que “os múltiplos registros des- tes nossos tempos, até pela simples imensidão de material produzido, não vão simples- mente desaparecer como a água que escorre por um ralo” (PALACIOS, 2014) é tão im- portante construir algo com significado e responsabilidade. Animações no jornalismo tem um sabor de reportagem a moda antiga. Apuração cuidadosa, pesquisa de fontes, testes de formatos, redação, alteração, finalização. Mas estamos falando de webjornalismo, estamos falando do crime da hora do almoço que já está apurado, escrito, comentado e super compartilhado uma hora depois de acontecer. Além disso, os jornais locais estão cada vez mais deixando de ser locais para se torna- rem globais, uma vez que os leitores acompanham suas notícias e compartilham com o SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 10 mundo por meio de suas redes como o jornalismo nunca sonhou que seria possível (BRADSHAW, 2014). As reportagens facilitadas graficamente analisadas neste trabalho oferecem um aprofundamento do tema da reportagem. Por mais que apresentem dados e fatos, os mais novos que puderam ser apurados, ela não fica só no fato e no dado. Vai além, posicionando causas, efeitose remédios para males da sociedade da atualidade. Esse posicionamento, que será abordado mais adiante, é o que coloca numa en- cruzilhada no momento de classificar os vídeos em facilitação gráfica nos gêneros de Marques. Seriam informativos, opinativos ou interpretativos? Lailton Alves da Costa escreve sobre os gêneros jornalísticos, e o que o autor coloca como como “texto”, são os vídeos analisados neste artigo. Lailton resgata uma expressão de Marques, entrecruza- mentos, para colocar que um texto opinativo, carrega dentro de si a função de informar e interpretar o fato sobre o qual opina. O jornalismo puramente informativo teria que comprometer-se com a imparcia- lidade, veracidade e objetividade (Lage, apud COSTA, 2010, p. 48), contudo, assim como na facilitação gráfica, o jornalista ao produzir uma reportagem dirige um processo de escolhas e eliminações que resulta em uma mensagem frente a tantas outras descar- tadas. O facilitador gráfico e o jornalista são filtros da realidade, eles que dão o trata- mento à informação para que ela assuma algum formato. Nos vídeos da série, e principalmente naquele cujo tema é a Cultura do Estupro, existe um viés. O veículo, por meio de um vídeorreportagem produzido por sua equipe, dá todas as pistas e características da atualidade que comprovam a manutenção dessa cultura. Além de repudiar o crime do estupro, vai além de informar e dizer que existe uma “cultura do estupro” no Brasil - por meio de músicas, hábitos e até propagandas contemporâneas - ele diz que isso é errado e mostra o porquê, com dados de violência contra a mulher nos últimos anos. Levando-se em consideração os gêneros jornalísticos e seus formatos, os vídeos analisados enquanto Informativos, assemelham-se a reportagens, “relato ampliado de acontecimento que produziu impacto no organismo social”. Além disso, aprofunda os fatos e é produzido em equipe. Enquanto texto jornalístico Opinativo, o formato que mais se assemelha aos vídeos é a charge, pois combina texto e imagem para fazer críti- cas (ao gasto das Olimpíadas, à Cultura do Estupro, à Política em 2016, etc). SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 11 “...a ilustração editorial, cuja definição é uma ‘obra visual/ grá- fica relacionada, necessariamente, a um texto que a precede’ e, portanto, não pode ser definida sem a existência do texto.” (RIANI-COSTA apud COSTA, 2010, p.62) Dentro da gênero Interpretativo, os vídeos em facilitação gráfica assemelham-se a dos- siês, pois são uma forma de “‘aprofundar a informação’ com fim principal de relacional a informação da atualidade com seu contexto temporal e espaci- al’, tendo um ‘sentido conjuntural’ não se limitando a ‘dar con- ta do que acontece, já que o jornalista interpreta o sentido dos acontecimentos’”( DIAS ET AL, 1998, P.8 apud COSTA, p.66) O dossiê caracteriza-se pela tentativa de facilitar a compreensão dos fatos noti- ciosos, apresentação dos fatos em ‘boxes’, presença de gráficos e ilustrações, mapas ou tabelas. Seria uma matéria cujo objetivo é complementar a narrativa principal de uma edição. (COSTA, 2010). Considerações finais Este artigo procurou introduzir o tema da facilitação gráfica aplicada ao jorna- lismo e trouxe como exemplo uma série de vídeos produzida pela equipe da Revista Su- per Interessante. Buscamos autores que fundamentam a prática da facilitação e também a discussão de gênero jornalístico. Afinal, essa produção se encaixa al alguma classifi- cação existente? Apesar da questão do gênero jornalístico não estar completamente de acordo no Brasil (COSTA, 2010), o que fomenta o diálogo e a evolução das ideias, podemos iden- tificar alguns formatos nos vídeos da série analisada de acordo com a classificação de Marques de Melo como produto informativo, divercional, devido aos temas e à aborda- gem. Assim como encaixam em mais de um gênero jornalístico, as facilitações gráficas podem assumir mais de uma característica do webjornalismo, reforçando sua vocação para conteúdo noticioso digital. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 12 Bem particular, as facilitações gráficas ainda carecem de uma classificação que con- temple sua diversidade no Brasil e no mundo. Para não reforçar o “achismo” e desco- nhecimento, encerramos este artigo com algumas imagens retiradas dos vídeos analisa- dos que reforçam o que discutimos até aqui. Figura 1: frame vídeo série 2 minutos para entender Figura 2: frame vídeo série 2 minutos para entender SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 13 Figura 2: frame vídeo série 2 minutos para entender SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 14 Figura 3: frame vídeo série 2 minutos para entenderReferências Referências ABRIL. Post no facebook. 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